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NAVARRETE - [SEMI-TRADUZIDO] La conquista europea y el regimen colonial (371-405)

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A Conquista Européia e o Regime Colonial 
 Federico Navarrete Linares 
 
O Impacto da Conquista 
Tradicionalmente, a chegada dos espanhóis ao território chamado atualmente de 
“México” em 1516 e a conquista militar sobre os povos indígenas é considerada como 
um rompimento radical na historia do país. Considera-se que a queda do México, a 
capital do império mexica, marca o fim do mundo préhispânico, tal como expressou 
eloquentemente Alfredo Chavero há cem anos: “A tarde já estava acabando, 
prometendo uma tempestade, e entre as nuvens vermelhas se afundaram para sempre 
atrás das montanhas o quinto sol dos mexicas” 
Nos livros, textos, histórias gerais e até mesmo na organização institucional da 
historia do México, esse evento serve como uma fronteira que separa a época 
prehispanica da colonial, dois períodos considerados distintos. 
Muitos fatores favorecem essa periodização: a imposição do regime colonial 
espanhol na Mesoamérica e Aridamérica modificou profundamente a organização 
econômica, social e política dos povos indígenas que habitavam essas regiões; as 
epidemias dizimaram a população; a evangelização transformou a religião e a cultura 
dos povos nativos e lhes deu uma nova identidade; as formas de exploração colonial 
alteraram a vida indígena, desde seus padrões de assentamento até sua estrutura 
familiar; a chegada de novos animais e plantas modificou a paisagem e a ecologia. 
Entretanto, existem razões para questionar essa divisão na historia do México. 
Hoje sabemos que as características das sociedades indígenas em cada região foram 
fatores determinantes da rapidez e do êxito da conquista espanhola e que também 
influenciaram profundamente nas características do regime colonial. Por outro lado, o 
largo e complexo processo de colonização não consistiu unicamente na imposição da 
cultura ocidental: existiram importantes elementos da continuidade e da permanência de 
instituições, praticas e crenças indígenas. Algumas sociedades indígenas não 
desapareceram nem tampouco foram desarticuladas pelo impacto colonial, muitas foram 
capazes de resistir aos seus golpes e de encontrar respostas dinâmicas e originais aos 
desafios que enfrentaram. 
Por isso, frente às visões tradicionais que privilegiam as ações, iniciativas e 
ideias ocidentais no processo de conquista e colonização, esse capitulo tem como 
objetivo enfatizar a participação e a influencia indígena nesse processo, mostrando a 
maneira como esses povos são atores de sua historia ao longo da época colonial. 
A partir desta perspectiva será apresentada uma descrição e breve análise dos 
principais eventos da conquista militar em quatro das grandes regiões indígenas da 
Mesoamerica e Aridamérica: o planalto central, o Michoacán, a zona maia das terras 
altas da Guatemalteca e de Yucatán, e o norte, para dar lugar a uma descrição geral do 
impacto do regime colonial nas sociedades indígenas em termos demográficos, 
ecológicos, políticos, econômicos e religiosos. 
 
 
Revisão Historiográfica 
 
 
São muitas as obras que ao longo de quase 500 anos fazem referência a 
conquista e a colonização do atual território mexicano. Esta breve parte do texto apenas 
mencionará os mais importantes e influentes. 
 
Crônicas contemporâneas da conquista 
 
Por ser a Conquista um evento de suma importância política e jurídica, os 
próprios conquistadores espanhóis deixaram crônicas detalhadas de suas ações. As mais 
importantes e conhecidas são as Cartas de Relación de Herman Cortês, escritas durante 
a Conquista, e a Historia Verdadera de La Conquista de La Nueva España, escrita 
muitos anos depois por Bernal Diaz del Castillo. 
 
A elaboração nos séculos XVI e XVII 
 
Do lado espanhol, a conquista se tornou desde o século XVI um tema de 
interesse para os historiadores, que recolheram testemunhos de participantes diretos nos 
fatos e os elaboraram em visões gerais. Francisco Lopez de Gômara relatou os sucessos 
da caída do México. Diego de Landa fez o mesmo para Yacután e Francisco Antonio de 
Fuentes y Guzman para Guatemala. 
Ao longo do século XVI e inicio do século XVII muitos historiadores indigenas 
e mestiços abordaram a perspectiva indigena da Conquista. A narração indigena mais 
antiga foi encontrada nos Anales de Tlatelolco por volta de 1540. Vinte anos depois, a 
pedido de Fray Bernardino de Sahagún, informantes tlatelolcas elaboraram um retrato 
completo da queda do México a partir de sua propria perspectiva, encontrado no famoso 
livro da Historia General de las cosas de nueva España. Fray Diego Durán reuniu 
outros testemunhos Mexicas, enquanto Cristóbal del Castillo, Diego Muñoz Camargo, 
Fernando de Alva Ixtlixóchitl y Domingo Chimalpahin apresentaram as visões de outros 
povos indigenas da Bacia do México, embora de uma perspectiva já cristã. Finalmente, 
algumas comunidades reuniram a sua visão muito peculiar da chegada dos espanhóis 
nos documentos conhecidos como Titulos Primordiales. 
Em Guatemala, várias linhagens/gerações indígenas também escreveram 
crônicas da Conquista, geralmente em forma de títulos que serviam para demonstrar a 
legitimidade de seus direitos e privilégios no novo regime colonial. Destacam-se entre 
eles a Memoria de Sololã, dos cakchiqueles, assim como os Titulos de La casa Ixquin 
Nebaib, dos Quichés de Quetzaltenango e outros documentos reunidos por Adrian 
Recínos nas Cronicas Indigenas de Guatemala. 
Em Yacután, a historia da Conquista foi incorporada aos antigos livros histórico-
profeticos de Chilam Balam, que conservavam a memória histórica dos maias no âmbito 
de seu complexo sistema calendárico. Os mais conhecidos são Chilam Balam de 
Chumayel e Chilam Balam de Tizimin. 
Em Michoacán, o franciscano Jerônimo de Alcalá recolheu o testemunho do 
governador tarasco Pedro Cuiniharangari na conhecida obra Relacion de Michoacán que 
narra dramaticamente os sucessos da conquista dessa região e a morte do cazonci 
Tangaxoan. 
 
 
Historiadores modernos e contemporâneos 
Nos séculos XVIII e XIX, historiadores como Antonio de Solís e William H. 
Prescott elaboraram histórias gerais muito valiosas da conquista que deixaram o 
providencialismo cristão e espanhol dos autores anteriores e tentaram procurar novas 
explicações para esses eventos. 
No seculo XX, a preocupação para conhecer mais fundo a Conquista e a 
colonização espanhola aumentou, mas ainda assim foram elaboradas poucas 
historiografias sobre esse evento: Benedict Warren escreveu uma sobre a conquista de 
Michoacán e Hugh Thomas outra, do México. Igualmente, Tzvetan Todorov propôs 
uma nova explicação geral da conquista do méxico. 
A maioria dos historiadores ... 
 
Periodização e regionalização da Conquista e da Colonia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O avanço para o México e a confirmação do poder espanhol 
Quando os espanhóis partiram de Veracruz rumo ao México, em outubro de 
1519, Cortés havia definido uma estratégia para dominar a região: por um lado buscaria 
estabelecer alianças com os altepeme insatisfeitos com o dominio mexica; por outro 
lado, aproveitaria qualquer oportunidade para demonstrar sua força militar e assim 
intimidar seus inimigos. 
A aliança mais importante que os espanhóis estabeleceram foi com os 
tlaxcaltecas. Quando os invasores chegarem em seu território, os governantes 
independentes dessa confederação de altepeme enfrentaram o mesmo dilema que os 
mexicas em relação a sua força e optaram por uma dupla estratégia para confrontá-los: 
por umlado enfrentaram militarmente os invasores para provar seu poder, enquanto que, 
por outro lado estabeleciam contatos diplomáticoscom eles para abrir o caminho de um 
possível entendimento pacifico. Quando os espanhóis atacaram de noite a população 
civil, rompendo as regras da guerra mesoamericana, os tlaxcaltecas reconheceram a 
ameaça que significava sua força e decidiram aliar-se à eles. 
De Tlaxcala, os espanhóis partiram pra Cholula onde realizaram seu primeiro 
grande massacre. A morte de centenas de pessoas no principal centro de peregrinação de 
Altiplano enviou uma mensagem clara à toda região: os espanhóis eram capazes de 
qualquer atrocidade contra seus inimigos. Além disso, a impotência do deus 
Quetzalcoátl para proteger seu principal santuário demonstrava aos olhos indígenas que 
o deus dos espanhóis era mais forte que ele. 
O fracasso da paz entre mexicas e espanhóis 
A aliança com Tlaxcala e a matança de Cholula fortaleceram sensivelmente a 
posição dos espanhóis e também a determinação de Moteuczoma e sua meta de 
encontrar um acordo pacifico com eles. Como resultado, o tlatoani (governante) mexica 
acolheu os espanhóis em Tenochtitlan e se ofereceu a colaborar com eles, embora não 
sabemos até que ponto aceitou submeter a sua soberania. 
Moteuczoma diversas vezes foi descrito como um covarde, mas sua maneira de 
atuar foi baseada em sua avaliação da relação das forças envolvidas e buscava, 
sobretudo, evitar a destruição de seu altépetl; Além disso, foi apoiado por amplos 
setores da população do México, que apoiaram os espanhóis mesmo após o início da 
guerra. Cortés, por sua vez, procurou a subjugação de um poderoso e opulento inimigo 
sem ter que pagar o alto custo de derrotá-lo militarmente, 
A convivência pacifica entre mexicas e espanhóis na cidade durou desde 
novembro de 1519 até junho de 1520, mas foi enfraquecendo-se progressivamente pois 
se enfrentava três obstáculos. O primeiro era a ambição de metais preciosos dos 
conquistadores que os fazia aumentar constantemente suas demandas de exigências e 
impostos e ansiar pela guerra para saquear os tesouros da cidade. O segundo era o 
conflito entre a soberania do tatloani e a soberania da coroa que Cortés pretendia impor, 
conflito que se fez mais intenso conforme maiores foram as demandas espanholas. O 
terceiro obstáculo, e talvez o mais importante, era a religião, pois para os espanhóis a 
subjugação mexica deveria implicar mais cedo ou mais tarde a aceitação do 
critistianismo e o abandono de sua religião, enquanto que para os mexicas tal solução 
era inaceitável. 
Portanto, não surpreende que tenha sido precisamente uma cerimônia religiosa 
que desencadeou a guerra: em maio de 1520, enquanto os mexicas realizavam uma 
exibição ritual de números e forças na ocasião da festa de Tóxcatl, os espanhóis 
massacraram à um grande setor da juventude guerreira da cidade na praça do Templo 
Maior. 
A destruição do México 
Após o massacre do Templo Maior, a guerra era inevitável. Os mexicas 
cercaram os espanhóis e Moteuczoma morreu em vão tentando apaziguá-los. Então, a 
facção de guerra ganhou forças através do tatloani Cuitláhuac. Depois de um mês de 
cerco, os espanhóis fugiram da cidade e foram derrotados pelos mexicas na chamada 
Noite Triste. 
Muito debilitados, os conquistadores se refugiaram em Tlaxcala. O apoio que 
receberam dos tlaxcaltecas num momento tão critico, demonstrou a solidez de sua 
aliança e seria recompensado posteriormente. 
Ao final de 1520, uma vez recuperados e reforçados por novas expedições que 
haviam chegado a veracruz, os espanhóis iniciaram uma estratégia de guerra total para 
tomar a cidade do México. Por meio de ataques militares e de negociações, ordenaram 
que os altepeme da Cuenca de México e dos vales de Puebla, Morelos e Toluca se 
rebelassem contra o domínio mexica e aceitassem a supremacia espanhola em uma nova 
rede de alianças políticas. Essas alianças eram tão importantes para Cortés, que em todo 
momento ele se preocupou em cumprir suas obrigações de proteção a seus novos 
“vassalos”, ainda assim isso colocava em perigo sua própria posição. 
Os mexicas, por sua vez, foram debilitados por uma brutal epidemia de varíola 
que provocou a morte do tlatoani Cuitláhuac e de muitos outros. Alem disso, 
fracassaram suas tentativas de conservar a lealdade aos altepeme submetidos a eles 
através de promessas de redução de impostos e de um melhor tratamento, já que apenas 
pareceram mais fracos perante os espanhóis. 
Quando se iniciou o cerco do México, em maio de 1521, os mexicas haviam 
perdido o apoio de quase todos os seus domínios e aliados (incluindo o dos tetzcocanos, 
membros da Tripla Aliança), e a cidade havia sido abandonada por varios setores da 
população. Fiéis a sua ética guerreira, e colocados em uma situação sem saída, o novo 
tlatoani Cuauhtémoc e seus seguidores resistiram até o fim, apoiados unicamente em 
sua própria força e a de seu deus Huitzilopochtli. 
A destruição do México significou uma ascendência de violência e destruição 
inédita na historia mesoamericana. Nela se combinaram formas de guerra total dos 
conquistadores espanhóis e os costumes mesoamericanos, incluindo o sacrifício humano 
e a antropofagia. 
A nova legitimidade 
A noticia da destruição do México e da rendição de Cuauhtémoc aos espanhóis, 
em 13 de agosto de 1521, demonstrou aos olhos de todos os povos da região que os 
espanhóis e seu deus eram mais fortes que o mais poderoso povo indígena e seu deus, e, 
alem disso, deixou muito claras as consequências de enfrentar os invasores. Por outro 
lado, a vitoria e a distribuição do saque da capital destruída selaram as alianças entre os 
espanhóis e os altepeme que os apoiaram. Portanto, em alguns anos, uma serie de 
expedições espanholas conseguiram a submissão rápida e pacifica da maioria dos povos 
dominados pelos mexicas. 
Paradoxalmente, os grandes sucessos desses 2 anos fundaram um regime 
colonial singularmente estável. Sem chegar a compreender-lo totalmente, Cortés e os 
espanhóis agiram de acordo com um antigo padrão mesoamericano, o dos agressivos 
estrangeiros e conquistadores que dominam os nativos pela força e, assim, adquiriram 
legitimidade aos olhos dos nativos e substituiram inequivocamente os mexicas, que 
desempenharam esse papel antes deles. Essa identificação se confirmou com a decisão 
de Cortés de assentar a nova capital colonial sobre as ruínas de Mexico Tenochtitlan. 
Com tudo isso, podemos concluir que em um primeiro momento, até a 
consolidação do regime colonial na metade do século XVI, a conquista espanhola não 
significou a destruição da estrutura política posclássica, mas simplesmente mais uma de 
suas transformações periódicas. Caberia aos primeiros vice-reis desmontar boa parte 
dessa estrutura, embora conservando seu elemento fundamental, os altepeme locais, que 
foram tão responsáveis pela conquista quanto os próprios espanhóis. 
 
A conquista de Michoacán 
Foi tão forte o impacto da destruição do México em toda Mesoamérica que até 
mesmo os tarascos ou purépechas, cabeça de um império rival da Tripla Aliança, 
optaram por submeter-se pacificamente aos espanhóis. 
Antes de sua derrota final, os mexicas haviam solicitado ajuda aos seus 
inimigos tarascos, mas eles recusaram. Para sua desgraça, os embaixadores mexicas 
trouxeram consigo a epidemia de varíola que estava assolando a população indígena de 
todo o altiplano e a enfermidade matou o soberano tarasco, o cazonci Zuangua, 
provocando uma luta sucessória entre seus filhos. 
Depois da caída do México, seu sucessor, el cazonci Tzintzicha Tangaxoan, 
optou por um pacto pacifico com espanhóis, similar ao que havia buscado o infeliz 
Monteuczoma, pois se encontrava em uma posição de relativa debilidade política entre a 
classe governante tarasca e porque decidiuque suas forças militares não eram capazes 
de enfrentar os invasores. Por isso recebeu a embaixada de Cristóbal de Olid, enviada 
por Hernán Cortés à sua capital Tzintzuntzan em 1522, e logo visitou o conquistador do 
México e lá aceitou formalmente a soberania espanhola em 1524. 
Entretanto, a estratégia pacifica do cazonci encarou os mesmos problemas que 
havia enfrentado o tatloani mexica. Em primeiro lugar, as exigências espanholas de 
metais preciosos eram ilimitadas e Tangaxoan foi preso diversas vezes para ser liberado 
unicamente em troca de riquezas e benefícios no resgate. Em segundo lugar, a 
submissão aos espanhóis foi feita sem um tratado formal que especificasse os poderes 
do cazonci nem os das autoridades coloniais. Por isso, nos anos seguintes o cazonci viu 
como seu poder e seu controle sobre a sociedade tarasca eram minados continuamente 
por encomenderos, funcionários reais e missionários que queriam controlar diretamente 
a população indígena; porém, ao mesmo tempo, os espanhóis responsabilizavam o 
cazonci por qualquer ato hostil de seu povo. Finalmente, embora o cazonci e os nobres 
se converteram formalmente ao cristianismo, não deixaram de praticas sua religião, o 
que provocou conflito com os espanhóis. 
Embora a convivência pacifica entre o cazonci e os dominadores espanhóis 
parecia condenada, seu fracasso final foi provocado por excessos de Nuño de Guzman, 
que prendeu Tangaxoan e lhe julgou por organizar supostamente uma rebelião contra os 
espanhóis, razão pela qual o executou em 1530. 
A eventual execução do cazonci pôs em perigo o domínio espanhol sobre os 
tarascos e apenas o trabalho missionário de Vasco de Quiroga conseguiu curar as feridas 
e consolidar o governo colonial na zona. Esse humanista cristão era como o bispo da 
região desde 1538 até 1565, e sua gestão se caracterizou pela defesa dos indígenas e um 
esforço constante pra moderar os abusos dos encomenderos. Tal foi seu impacto sobre a 
sociedade tarasca colonial que até hoje muitos povos da região o consideram o 
fundador. 
A conquista de Guatemala 
Em contraste com os tarascos, os maias das terras altas de Guatemala optaram 
pela resistência armada contra os espanhóis, mas foram derrotados em menos de dez 
anos. 
A conquista dessa região mostra analogias interessantes com a do altiplano 
central, pois sua organização política era muito similar. Nas terras altas de Guatemala 
havia existido também uma tripla aliança, constituída pelos quiches, cakchiqueles e 
rabinales, mas foi quebrada uns anos antes e substituída por uma aberta inimizade entre 
os quiches, o povo mais poderoso, e os cakchiqueles. Por isso, assim como os 
tlaxcaltecas, os cakchiqueles viram nos invasores espanhóis a oportunidade de destruir 
definitivamente seus inimigos indígenas, e enviaram uma embaixada ao México para 
oferecer-lhes uma aliança. 
A expedição espanhola à Guatemala foi dirigida por Pedro de Alvarado e 
chegou à região no ano de 1524. Os quiches enfrentaram os invasores em Xelahuh 
(Quetzaltenango) e foram derrotados. Então, convidaram os espanhóis para sua capital, 
Gumarcaaj (Utatlán), onde prepararam uma cilada para eles. Ciente disso, Alvarado 
prendeu vários governantes quiches e lhes condenou a morte por “traição”. 
Posteriormente, com a ajuda cakchiquel,os espanhóis conseguiram sufocar a resistencia 
quiche e conquistaram os outros povos da região. 
No entanto, Alvarado demonstrou ser incapaz de sustentar suas alianças com os 
indígenas, como havia feito Cortés, pois exigiu aos cakchiqueles o pagamento de altos 
tributos em ouro e assim os motivou a uma rebelião que durou até1530. 
Apesar desse contratempo, a dominação espanhola sobre os povos maias de 
Guatemala se consolidou rapidamente, pois estes a aceitaram por razoes muito similares 
a dos indígenas de Altiplano: uma apreciação pragmática da maior força dos espanhóis 
e sua assimilação a antiga figura mesoamericana do povo estrangeiro conquistador. 
Nesse sentido, uma historia escrita pelos quiches se refere à chegada dos espanhóis 
simplesmente como “a conquista nova”. 
A conquista de Yucatán 
Se o regime político do altiplano central e das terras altas de Guatemala facilitou 
uma rápida vitoria espanhola e a consolidação do regime colonial, nas terras baixas 
maias aconteceu algo muito diferente, pois nessa região a conquista se prolongou por 
mais de 150 anos e nunca foi completamente aceita pela população indígena. 
A etapa inicial dessa demorada conquista estava no comando de Francisco 
Montejo, junto com seu filho e sobrinho homônimos, e durou desde 1527 até 1543, 
quando os espanhóis conseguiram a submissão dos senhorios maias do norte de 
Yucatán. Os Montejo organizaram três grandes campanhas de conquista nesse período: 
as dos primeras, em 1527 e 1530-1535, respectivamente, fracassaram frente a aberta 
hostilidade dos índios e a falta de espanhóis dispostos a combater para dominar um 
território que se manifestava tão pobre; a ultima, entre 1541 e 1543, triunfou graças a 
consolidação de centros estáveis da população espanhola em Campeche, Merida e 
Valladolid, ao enfraquecimento da resistência indígena após 20 anos de guerras, ao 
impacto das epidemias sobre a população e a desarticulação das redes comerciais que 
sustentavam a economia maia. No entanto, o novo regime espanhol teve que enfrentear 
uma importante rebelião em 1546. 
Durante os 150 anos seguintes, o domínio espanhol se limitou a parte norte da 
península de Yucatán, pois o sul da mesma e a região de Petén permaneceram sob o 
controle das sociedade maias independentes, entre elas o senhorio itzá de Tayasal. 
Contre esses grupos, os espanhóis organizaram diversas expecições militares que 
conseguiam uma dominação temporária, mas foram incapazes de estabelecer um 
domínio firme e duradeiro sobre eles. Por esta razão, a fronteira colonial na região foi 
sempre móvel e permeável. Nem sequer a conquista do senhorio de Tayasal, em 1697, 
permitiu aos espanhóis dominar o vasto território selvagem das terras baixas, pois 
alguns grupos de refugiados maias escaparam de seus domínios nas zonas mais remotas 
e mantiveram sua independência inclusive até meados de nosso século, no caso dos 
lacandones. 
São varias as razões que fizeram tão difícil e lenta a conquista dos maias de 
Yucatán e de Petén. Em primeiro lugar, vale ressaltar que a ausência de um regime 
político centralizado na região tornou impossível conquistar-la de uma vez como em 
México e Guatemala: os espanhóis tiveram que submeter um por um aos múltiplos 
senhorios independentes da região por meio de alianças ou guerras. Por outro lado, 
como no altiplano e em Guatemala, os conquistadores foram assimilados a anteriores 
invasores, mas isso não lhes deu a mesma aura de invencibilidade, pois a região já havia 
recebido e assimilado a muitos conquistadores estrangeiros que haviam sido capazes de 
dominar-la. 
 
 
 
 
Rodrigo
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Transformações demográficas e ecológicas 
 
Rodrigo
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Rodrigo
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Rodrigo
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Nas terras baixas, a autonomia indígena foi ainda maior. A presença espanhola 
se limitou a três ou quatro enclaves na parte noroeste da península e seu contato com a 
maioria das comunidades indígenas foi muito esporádico. Apesar da redução de seu 
poder econômico, as elites pré-hispânicas lograram manter, em muitos casos, um estrito 
monopólio das posições de podernos povos e preservaram também importantes 
elementos de sua cultura tradicional. Além disso, a existência de sociedades Maias 
independentes na selva de Petén fazia particularmente ténue e débil a dominação 
colonial sobre a região, pois permitia aos indígenas descontentes escapar para essas 
comunidades livres do controle espanhol. 
Rodrigo
Linha
Rodrigo
Linha
Rodrigo
Linha
Por todas estas razões, os Maias das terras baixas nunca aceitaram cabalmente o 
regime espanhol e conservaram sempre uma forte consciência étnica. Lentamente, ao 
longo do período colonial, foram gestando as bases pada a criação de um novo regime 
indígena independente que se centraria, como o de Cancuc, em um cristianismo Maia. 
Este regime se estabeleceu finalmente em meados do século XIX, depois da grande 
rebelião Maia conhecida como a “Guerra de Castas”, e conservou sua independência 
por mais de cinquenta anos. 
Na zona norte do México, a dominação política sobre s sociedades indígenas 
locais tomou, por necessidade, um enfrentamento diferente, pois se centrou nas missões 
religiosas. Os povos da região eram relutantes a aceitar uma regimentação estrita de sua 
vida e as autoridades coloniais tiveram que aprender a respeitar sua liberdade de 
movimento, entre outras de suas “antigas liberdades”. 
 
A exploração econômica 
Onde foi possível, os espanhóis basearam seu regime colonial na exploração 
sistemática do trabalho indígena. Se bem que a escravização dos índios rebeldes ou 
conquistados foi uma prática abolida rapidamente, se criaram instituições de trabalho 
forçado que e aplicaram em diferentes regiões do México; a encomienda, consistente na 
alocação de um grupo e indígenas (geralmente uma comunidade) a um espanhol para 
que este pudesse dispor de seu trabalho ou de seus produtos, e o repartimiento, que 
colocava a disposição dos espanhóis o trabalho obrigatório, porém remunerado, dos 
indígenas por intermédio de um sistema de turnos. 
Estes sistemas de exploração se baseavam, no entanto, na sobrevivência das 
comunidades como formas viáveis de reprodução da população indígena: os espanhóis 
buscavam explorar ao máximo o trabalho dos indígenas, mas não assumir a 
responsabilidade de sua subsistência. Além disso, a Coroa preferia ter os indígenas 
como tributários diretos, pelo que garantiu na maioria dos casos de propriedade 
comunitária sobre um mínimo de terra e protegeu aos povos frente aos colonizadores 
que queriam despojá-los de suas terras ou aumentar suas margens de exploração. 
Portanto, a articulação entre a economia comunitária indígena e a economia colonial foi 
complexa e variou de região em região. 
Para o século XVII, os povos indígenas e as propriedades espanholas haviam 
estabelecido uma relação simbiótica: as terras comunitárias garantiam aos indígenas um 
nível mínimo, porém insuficiente, de subsistência de modo que estes foram forçados a 
buscar outras fontes de renda trabalhando para os espanhóis. Portanto na Bacia do 
México se fez desnecessário o uso de repartimiento para forçar aos indígenas a 
trabalhar nas propriedades espanholas e a partir de 1630 foi abolido (salvo para as obras 
públicas e religiosas) e substituído por relações salariais, contratadas individual e 
coletivamente. 
A partir da segunda metade do século XVII, no entendo, esta relação entre as 
comunidades e os colonos espanhóis foi-se fazendo mais desfavorável as primeiras, pois 
aumentou a população indígena e cresceu o despojo das melhores terras comunitárias. 
No entanto, esta deterioração foi gradual e não significou o desaparecimento das 
comunidades, por isto que não provocou reações violentas da parte dos indígenas. 
O estabelecimento de relações contratuais diretas entre indígenas e espanhóis 
levou a um desenvolvimento do comércio local e a uma crescente integração cultural. 
Para o século XVIII era tão forte esta integração em zonas como o Vale de Toluca que 
algumas comunidades indígenas mudaram espontaneamente sua língua para o espanhol. 
A zona Maia, tanto nas terras altas como nas terras baixas, experimentaram um 
desenvolvimento radicalmente diferente ao do Altiplano central, pois nela as formas 
obrigatórias de trabalho sobreviveram muito mais tempo, até 1945 no caso da 
Guatemala. Varios fatores explicam esta sobrevivência. Em primeiro lugar, as terras 
ocupadas pelos indígenas não eram tão atrativas para o desenvolvimento de agricultura 
comercial, por isso que os espanhóis preferiram explorá-las indiretamente, substraindo 
os excedentes dos produtos tradicionais das comunidades ( milho, mel, algodão, cacau) 
por meio da encomienda. Por outro lado, tampouco havia um desenvolvimento 
comercial comparável ao do Altiplano, devido ao isolamento, a relativa pobreza das 
comunidades e o escasso desenvolvimento da economia colonial, por isso que os 
espanhóis tiveram que recorrer a formas de comércio obrigatório, como as compras 
forçadas de bens por parte dos índios. 
Pode parecer que estas formas obrigatórias de trabalho e de comércio 
constituíam um regime de exploração mais destrutivo do que aquele que imperava no 
Altiplano, porém não se pode esquecer que neste sistema os indígenas conservavam sua 
auto suficiência, enquanto que no Altiplano central foram a perdendo gradual e 
inexoravelmente. 
No norte, cabe destacar a marginalidade dos povos indígenas locais para a 
economia espanhola, pois sua força de trabalho não era explorável como a dos 
camponeses mesoamericanos. Por isso, em muitos casos o governo colonial subsidiava 
às missões com o objetivo de manter a paz e permitir o estabelecimento dos migrantes 
na região. Em outros casos mais dramáticos, a apresentação ao regime missionário fez 
com que os índios perdessem conhecimentos e técnicas tradicionais que os permitiam 
sobreviver em meios desérticos e provocou a extinção de algumas etnias como as que 
viviam na Baixa Califórnia. 
 
A evangelização e a reação indígena 
A cristianização dos indígenas era um dos principais motivos e objetivo da 
colonização espanhola. Por isso, desde os primeiros anos da colônia, a coroa dedicou 
grande parte dos recursos à evangelização dos povos conquistados. As campanhas de 
conversão ao catolicismo tiveram diferentes intensidades de acordo com a região e o 
período, mas em todos os casos foi imposto o princípio básico do governo espanhol: 
uma sistemática intolerância que proibia qualquer prática religiosa que não fosse cristã. 
Na perspectiva indígena, esta atitude significou uma novidade, pois nenhum 
Estado mesoamericano havia baseado seu domínio na intolerância religiosa. De outro 
modo, a pregação cristã com suas pretensões de universalidade e exclusividade, 
representou um desafio cultural que demandou formas de adaptação complexas. 
A região na qual a evangelização começou mais cedo, mais intensa e bem-
sucedida foi a Altiplano central e em Mechoacán. Vários fatores contribuíram para a 
chamada “conquista espiritual” do México, um caso excepcional na história da 
América. Do lado espanhol, a aliança entre missionários e Coroa, assim como o fervor e 
a convicção dos mesmos, deram a empresa evangelizadora uma força incomparável. Por 
outro lado, não resta dúvidas que religiosos como Toribio de Benavente Motolinía, em 
Tlaxcala e Vasco de Quiroga, em Michoacán, com sua grande ascendência moral entre 
os indígenas, contribuíram para consolidar o regime espanhol. 
Os indígenas da região, por sua vez, se mostraram muito abertos à nova religião: 
as conversões foram em massa e em menos de trinta anos a religião católica se 
estabeleceu. Embora os espanhóis não conseguissem entender, a atitude receptiva dos 
indígenas obedecia ao antigo costume mesoamericano de adorar deusesdos outros, 
sobretudo se mostrasse seu poder, como havia feito o deus cristão durante a conquista. 
Porém, essa aceitação não implicava, de forma nenhuma, a renúncia aos seus próprios 
deuses, mas a integração do novo deus com um culto mais amplo e mais rico, como 
explicaram os Tlaxcaltecas a Cortés: 
Diga ao capitão que quer tirar os deuses que temos e que tantas vezes servimos 
nós e nossos antepassados; que, sem removê-los ou mudá-los de seus lugares, 
ele pode colocar o seu deus entre nós. Serviremos, adoraremos e faremos uma 
casa e um templo para ele, e ele também será nosso Deus, como fizemos com 
outros deuses que trouxemos de outros lugares. 
 
Este mal entendido cultural explica porque, após o entusiasmo inicial da 
evangelização, a seguinte geração de evangelizadores, na segunda metade do século 16 
ficou desapontada e acusou os indígenas de acreditarem em superstições por conversar 
com elementos de sua antiga religião. Foi para remover a permanência desses elementos 
que monges como Dúran, Sahagún, Ruiz de Alarcón, Balsalobre e Serna sentiram a 
necessidade de conhecer mais a fundo as culturas indígenas e realizaram as obras que 
hoje em dia são nossas fontes para conhecer a religiosidade pré-hispanica e colonial. 
Por sua parte, os indígenas também tinham razões para se sentirem enganados 
pelo catolicismo, pois ao impedir que os indígenas praticassem livremente a nova 
religião, e ao impor um forte monopólio branco ou mestiço nas funções religiosas, os 
espanhóis contradiziam a pregação universal e igualitária da sua religião. 
As contradições implícitas na imposição do cristianismo são particularmente 
claras nos casos dos maias de Yucatán e Chiapas. Na primeira região, quando começou 
a pregação do evangelho, os maias aceitaram as ideias cristãs e, particularmente, a 
figura de Cristo e da cruz, pois encontraram nela muitos pontos em comum com sua 
religião. Se iniciou então um período de experimentação religiosa no qual os indígenas 
trataram de entender e apropriar-se da nova fé, realizando crucificações e outros rituais 
católicos. Contudo, estas experiências foram rechaçadas fortemente pelos espanhóis. Os 
maias interpretaram as perseguições contra qualquer tentativa de se apropriar do 
catolicismo como um “assalto” que os impedia de praticar a nova religião. Isto explica 
porque um dos elementos centrais do projeto anti-colonial maia foi a criação de um 
novo e verdadeiro cristianismo controlado diretamente pelos próprios indígenas. Por 
isso, rebeldes do século XIX em Yucatán adoravam o que consideravam a verdadeira 
santa cruz e se viam como os únicos legítimos cristãos. Uma atitude muito parecida 
explica porque as grandes rebeliões maias nas terras de Chiapas, a de Cancun em 1712 e 
de Chamula em 1867, aconteceram após um indígena ter recebido uma revelação de 
alguma divindade cristã que o conduziu a criar uma igreja própria dos índios. Entre os 
Maias se pode dizer que a pregação católica foi demasiadamente bem sucedida, na 
medida em que o cristianismo se tornou um instrumento de resistência política e cultural 
contra a ordem colonial. 
Uma apropriação parecida da religião imposta pelos colonizadores se realizou 
em quase todas as comunidades indígenas do México. Nelas, os santos patronos se 
transformavam em um elemento central da identidade comunitária e serviram de 
bandeira para defesa da terra e da comunidade; igualmente, instituições cristãs como as 
irmandades se transformaram em armas de coesão comunitária e serviram como centro 
de uma economia ritual indígena, independente do domínio espanhol e da economia de 
mercado, preservando assim um sentido de autonomia religiosa e cultural. 
 
Conclusões 
Como podemos ver nesta breve revisão, o domínio espanhol no México trouxe 
consequências variadas e complexas para as sociedades indígenas. Por um lado não se 
pode negar o impacto destrutivo que teve a conquista, o colapso demográfico e a 
subordinação politica, econômica e religiosa. As transformações foram tão profundas 
que surgiram novas culturas indígenas, as coloniais, que se diferenciavam muito das 
pré-hispânicas. 
Por outro lado, o mesmo regime colonial garantia a sobrevivência das 
comunidades indígenas como entidades organizadas e funcionais, pois esta era a 
garantia de sua própria viabilidade. Além disso, as estratégias de resistência, adaptação 
e sobrevivência adotadas pelas próprias populações indígenas os permitiram em muitos 
casos defender e reconstruir sua cultura em um contexto totalmente hostil. Nesse 
sentido, não há duvidas que muitos povos, como os mixes de Oaxaca, haviam aprendido 
a resistir os embates dos estados expansionistas zapoteca e mexica desde muito tempo 
antes da chegada dos espanhóis. 
Nesse complexo processo de adaptação cultural é difícil distinguir a mudança da 
continuidade, pois muitas vezes um se disfarça de outro: por exemplo, ao adotar os 
cargos do governo colonial dos povos (governador, cabido, fiscal) os indígenas nahuas 
pensavam que estavam continuando os antigos cargos do seu governo pré-hispânico 
(teuhctli, assembleia de anciãos, sacerdote do calpulli); igualmente o santo padroeiro 
dos povos funcionava como uma continuação dos antigos deuses dos grupos étnicos, 
porém para os indígenas era igualmente importante que esta divindade fosse de raça 
branca e estrangeira. 
Para concluir, temos que enfatizar que os processos de interação cultural entre os 
indígenas, os espanhóis e os outros grupos étnicos na colônia têm pouco a ver com a 
imagem que foi construída da historia oficial mexicana ao redor da ideia de 
miscigenação. Dessa forma, a miscigenação, esse processo de fusão racial e cultural do 
indígena e o espanhol que, supostamente construiu nossa nacionalidade desde o século 
XVI, é um fenômeno que não se sucedeu na colônia em grande escala. O regime 
espanhol buscou por todos os meios manter separadas as populações indígenas de outras 
raças. Mas essa separação nunca foi absoluta, os diferentes grupos trocaram genes, 
ideias e produtos. No final do período colonial a maioria da população que seria o 
México era indígena e viviam em comunidades claramente distintas do resto da 
sociedade. 
A mestiçagem, propriamente dita não é um fenômeno racial e sim cultural, que 
implica no abandono da identidade indígena e a adoção da língua espanhola, bem como 
a adesão de uma identidade que se identifica com a cultura nacional. Este fenômeno 
começou a ocorrer desde o século XVIII, porém se acelerou rapidamente nos séculos 
XIX e XX, com o desenvolvimento da economia capitalista, com a destruição maciça 
das terras indígenas fomentado pelo novo estado independente mexicano e com o 
fortalecimento da cultura nacional, promovida por esse estado. Porém, a sobrevivência 
dos povos e comunidades indígenas até os dias de hoje, revela que nem todos os 
indígenas foram atraídos ou oprimidos por esses fenômenos e que eles tem conservado 
uma identidade étnica própria, em condições tanto ou mais hostis que imperavam na 
colônia. 
As relações entre etnias no México são hoje tão completas como haviam sido 
nos últimos cinco séculos, por isso é tão importante conhecer e respeitar as formas que 
os indígenas sabiam defender e reinventar suas culturas.

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