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Memórias do meu tempo (vol. 3)

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João Manuel Pereira da Silva. Ilustração de S. A. Sisson, in Galeria dos Brasileiros Ilustres.
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MEMÓRIAS DO MEU TEMPO
Mesa Di re to ra
Biê nio 2002/2003
Se na dor José Sarney
Pre si den te
Se na dor Pa u lo Paim
1º Vice-Pre si den te
Se na dor Edu ar do Si que i ra Campos
2º Vi ce-Presidente
Se na dor Ro meu Tuma
1º Se cre tá rio
Se na dor Alber to Silva
2º Se cre tá rio
Se na dor He rá cli to Fortes
3º Se cre tá rio
Se na dor Sér gio Zam bi asi
4º Se cre tá rio
Su plen tes de Se cre tá rio
Se na dor João Alber to Souza Se na dora Serys Slhessarenko
Se na dor Ge ral do Mes qui ta Júnior Se na dor Mar ce lo Crivella
Con se lho Ed i to rial
Se na dor José Sarney
Pre si den te
Jo a quim Cam pe lo Mar ques
Vi ce-Presidente
Con se lhe i ros
Car los Hen ri que Car dim Carl yle Cou ti nho Ma dru ga
João Almino Ra i mun do Pon tes Cu nha Neto
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Edi ções do Se na do Fe de ral – Vol. 3
MEMÓRIAS DO
MEU TEMPO
PELO CONSELHEIRO
João Ma nu el Pe re i ra da Sil va
Intro du ção
Cé lio Ri car do Ta si na fo
Bra sí lia – 2003
EDIÇÕES DO
SENADO FEDERAL
Vol. 3
O Con se lho Edi to ri al do Se na do Fe de ral, cri a do pela Mesa Di re to ra em
31 de ja ne i ro de 1997, bus ca rá edi tar, sem pre, obras de va lor his tó ri co 
e cul tu ral e de im por tân cia re le van te para a com pre en são da his tó ria po lí ti ca,
eco nô mi ca e so ci al do Bra sil e re fle xão so bre os des ti nos do país.
Pro je to Grá fi co: Achil les Mi lan Neto
Ó Se na do Fe de ral, 2003
Con gres so Na ci o nal
Pra ça dos Três Po de res s/nº – CEP 70.168-970 – Bra sí lia – DF
CEDIT@ce graf.se na do.gov.br 
http://www.se na do.gov.br/web/con se lho/con se lho.htm
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Sil va, João Ma nuel Pe re i ra da.
Me mó ri as do meu tem po / pelo con se lheiro João 
Ma nuel Pe re i ra da Sil va ; in tro du ção Cé lio Ri car do 
Ta si na fo. -- Bra sí lia : Se na do Fe de ral, Con se lho 
Edi to ri al, 2003.
628 p. – (Edi ções do Se na do Fe de ral ; v. 3)
1. Se gun do Re i na do (1840-1889), Bra sil. 2.
Ma i o ri da de de Pe dro II, (1840). I. Tí tu lo. II. Sé rie.
CDD 981.043
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Su má rio 
Intro du ção
Cé lio Ri car do Ta si na fo
pág. 11
PARTE PRIMEIRA
Pró lo go
pág. 55
I – Ju lho de 1840 
pág. 57
II – De ju lho a de zem bro de 1840
pág. 73
III – De de zem bro de 1840 a mar ço de 1841
pág. 87
IV – De mar ço a de zem bro de 1841
pág. 101
V – De ja ne i ro a ju nho de 1842 
pág. 111
VI – De ju nho de 1842 a ja ne i ro de 1843 
pág. 125
VII – De ja ne i ro de 1843 a fe ve re i ro de 1844 
pág. 139
VIII – De fe ve re i ro de 1844 a de zem bro de 1845 
pág. 151
IX – De ja ne i ro de 1846 a mar ço de 1848
pág. 165
X – De mar ço a se tem bro de 1848
pág. 183
XI – De ou tu bro de 1848 a fe ve re i ro de 1849
pág. 201
XII – De fe ve re i ro de 1849 a de zem bro de 1850
pág. 215
XIII – De ja ne i ro de 1850 a se tem bro de 1853
pág. 231
XIV – De se tem bro de 1853 a de zem bro de 1855
pág. 245
XV – De ja ne i ro de 1856 a de zem bro de 1858
pág. 257
XVI – De de zem bro de 1858 a mar ço de 1861
pág. 269
XVII – De mar ço de 1861 a de zem bro de 1862
pág. 281
XVIII – De maio de 1862 a ja ne i ro de 1863
pág. 295
Epílogo
pág. 309
PARTE SEGUNDA
Pró lo go
pág. 313
I – De ja ne i ro a se tem bro de 1864
pág. 315
II – De se tem bro de 1864 a maio de 1865
pág. 329
III – De maio de 1865 a agos to de 1866
pág. 345
IV – De agos to de 1866 a ju lho de 1868
pág. 363
V – De ju lho de 1868 a maio de 1869
pág. 385
VI – De maio de 1869 a mar ço de 1871
pág. 401
VII – De mar ço de 1871 a maio de 1872
pág. 421
VIII – De maio de 1872 a ju nho de 1875 
pág. 435
IX – De ju nho de 1875 a ja ne i ro de 1878
pág. 449
X – De ja ne i ro de 1878 a mar ço de 1880
pág. 461
XI – De mar ço de 1880 a ja ne i ro de 1882
pág. 477
XII – De ja ne i ro a ju lho de 1882
pág. 493
XIII – De ju lho de 1882 a maio de 1883
pág. 509
XIV – De maio a de zem bro de 1884
pág. 523
XV – De ja ne i ro a agos to de 1885
pág. 537
XVI – De agos to de 1885 a de zem bro de 1886
pág. 551
ANEXOS
I – Orga ni za ções mi nis te ri a is no Se gun do Re i na do (1840–1889)
pág. 567
II – Dis so lu ção da Câ ma ra dos De pu ta dos du ran te o Se gun do Re i na do
pág. 601
Obras pu bli ca das do au tor
pág. 605
 ÍNDICE ONOMÁSTICO
pág. 607
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Intro du ção
MEMÓRIAS DO MEU TEMPO: 
POLÍTICA COMO CIÊNCIA EXPERIMENTAL
Cé lio Ri car do Ta si na fo *
“A po lí ti ca cons ti tui ciên cia ex pe ri men tal, e apli -
ca-se nos seus por me no res a oca sião e às ne ces si -
da des do mo men to ou do fu tu ro. Po dem, cons ci -
en te men te, es ta dis tas al te rar suas opi niões como o 
pra ti cam os mé di cos na es co lha de re mé di os apro -
pri a dos à si tu a ção dos do en tes. Ao en trar para o
po der, cum pre que sa cu dam à por ta seus om bros,
e não ma cu lem com o pó dos par ti dos a ma jes ta de 
go ver na ti va.”
João Ma nu el Pe re i ra da Sil va, Me mó ri as do Meu
Tem po, Ca pí tu lo XVI – “De de zem bro de 1858 a
mar ço de 1861”, Vo lu me 1. 
MEMÓRIAS do Meu Tem po foi o úl ti mo li vro pu bli ca do 
pelo po lí ti co-es cri tor João Ma nu el Pe re i ra da Sil va e re pre sen ta o pri me i ro
* Mes tre e Dou to ran do em His tó ria, pelo Insti tu to de Fi lo so fia e Ciên ci as Hu ma nas
(IFCH) da Uni ver si da de Esta du al de Cam pi nas (UNICAMP). O tra ba lho de pes qui sa,
que per mi tiu a pro du ção des te tex to, é fi nan ci a do pela Fun da ção de Ampa ro à Pes -
qui sa do Esta do de São Pa u lo (FAPESP). Qu e ro con sig nar meus agra de ci men tos à
Pro fa. Dra. Iza bel A. Mar son (IFCH – UNICAMP), ori en ta do ra de mi nhas pes qui sas
so bre a po lí ti ca mo nár qui ca des de a gra du a ção; à Pro fa. Dra. Ce cí lia He le na L. de Sa les
Oli ve i ra (Mu seu Pa u lis ta – USP) e à co le ga Eide S. de Aze ve do Abreu, com as qua is
tam bém tive o pri vi lé gio de dis cu tir pre vi a men te mu i tas das idéi as aqui enun ci a das. 
a ser re e di ta do após o seu fa le ci men to, ocor ri do em 16 de ju nho de 1898.
O qua se to tal des co nhe ci men to, nas úl ti mas dé ca das, da car re i ra pú bli ca e
da obra da que le flu mi nen se, con tras ta com o lon go pe río do em que ele es te -
ve atu an te no Par la men to do Se gun do Re i na do e com o vo lu me de li vros,
ar ti gos e dis cur sos de sua au to ria pu bli ca dos en tre 1839–1897.
Nas ci do em 30 de agos to de 1817,1 em Igua çu, Pe re i ra da
Sil va era fi lho de Mi guel Jo a quim Pe re i ra da Sil va e de Jo a qui na Rosa
de Je sus e Sil va – prós pe ros co mer ci an tes por tu gue ses, es ta be le ci dos na en -
tão pro vín cia do Rio de Ja ne i ro. Cur sou Di re i to em Pa ris, en tre 1834 e
1838; pe río do em que che gou a co la bo rar com Ara ú jo Por to-Ale gre,
Gon çal ves de Ma ga lhães e Tor res Ho mem na Re vis ta Ni te rói, onde
pu bli cou, no se gun do nú me ro, “Estu dos so bre Li te ra tu ra”. 
De vol ta ao Bra sil, em 1839, pas sou a pro du zir nar ra ti vas
fic ci o na is, mas com mar ca das am bi en ta ções his tó ri cas, como é o caso dos
fo lhe tins Re li gião, Amor e Pá tria e O Ani ver sá rio de D. Mi guel
em 1828 – am bos pu bli ca dos pelo Jor nal do Com mer cio. Ain da
na que le ano, jun to com Pe dro de Alcân ta ra Bel le gar de e Jo si no do Nas -
ci men to, fun dou a Re vis ta Na ci o nal e Estran ge i ra, que cir cu lou até
1841. Se guin do na se a ra mar ca da men te li te rá ria,pu bli cou, em 1840,
Je rô ni mo Cor te Real – Crô ni ca por tu gue sa do sé cu lo XVI e
pas sou a ela bo rar, em 1843, por en co men da da casa edi to ra La em mert,
uma co le tâ nea de po e mas do pe río do co lo ni al e ro mân ti co – co le tâ nea só
con clu í da em 1848, quan do foi pu bli ca da con jun ta men te com o seu en sa io
“Uma in tro du ção his tó ri ca e bi o grá fi ca da Li te ra tu ra Bra si le i ra”.
A par tir de 1844, con tu do, sua atu a ção só cio-po lí ti ca de i xou de 
se fa zer ape nas por meio de es cri tos de cu nho li te rá rio-fic ci o nal. Na que le
ano, Pe re i ra da Sil va che gou à Câ ma ra dos De pu ta dos, após ven cer ele i -
12 J. M. Pe re i ra da Sil va
1 O con jun to mais com ple to de in for ma ções bio-bi bli o grá fi cas so bre Pe re i ra da Sil va, 
ain da que bas tan te sin té ti co, pode ser en con tra do no site do Pro gra ma de pós-gra -
du a ção em Le tras da Pon ti fí cia Uni ver si da de Ca tó li ca do Rio Gran de do Sul, no
se guin te en de re ço: http://www.pucrs.br/le tras/pos/his to ri a da li te ra tu ra/tex tos ra -
ros/bi o gra fia.htm, aces sa do em 30 de maio de 2003. 
ções com ple men ta res re a li za das no Rio de Ja ne i ro, para pre en cher a vaga
aber ta pela re nún cia de Jo a quim José Ro dri gues Tor res (fu tu ro Vis con de
de Ita bo raí), en tão ele i to e no me a do Se na dor. Aque la se ria a pri me i ra de
uma lon ga sé rie de quin ze ele i ções que dis pu ta ria para a casa tem po rá ria
do Par la men to e tam bém a pri me i ra vi tó ria das onze que ob te ve. 
Das 17 le gis la tu ras do Se gun do Re i na do – in clu in do a ele i ta
em 1837 e que pro cla mou a ma i o ri da de de Pe dro II, em ju lho de 1840 –
Pe re i ra da Sil va to mou par te em onze de las.2 Foi tam bém in clu í do por
duas ve zes em lis tas trí pli ces, en ca mi nha das à Co roa, para a es co lha de
um novo re pre sen tan te flu mi nen se no Se na do – em 1884, foi o se gun do
mais vo ta do na pro vín cia, per den do ape nas para Pa u li no José So a res de
Sou sa Fi lho, en tão um dos mais pres ti gi a dos lí de res do Par ti do Con ser va -
dor e o es co lhi do se na dor na que la oca sião; em 1887, tam bém com vo ta ção
sig ni fi ca ti va, tor nou a fi gu rar em lis ta trí pli ce e foi no me a do para a casa
vi ta lí cia do Par la men to pela en tão re gen te, Prin ce sa Isa bel. 
Pe re i ra da Sil va foi, as sim, mem bro de um dos gru pos po lí ti cos
mais aguer ri dos e que atu ou com ma i or uni da de du ran te todo o re i na do
de Pe dro II: o do Par ti do Con ser va dor, ba se a do no Rio de Ja ne i ro. Gru po
que teve por prin ci pa is ex po en tes Pa u li no José So a res de Sou sa (Vis con de
de Uru guai) e, pos te ri or men te, seu fi lho Pa u li no So a res Fi lho, bem como
Eu sé bio de Qu e i rós e o já men ci o na do Ro dri gues Tor res – para re fe ren -
ci ar ape nas os no mes mais pro e mi nen tes, que che ga ram aos al tos pos tos
de co man do do país.3
As su ces si vas ele i ções e man da tos par la men ta res não fi ze ram 
com que Pe re i ra da Sil va aban do nas se a pro du ção e pu bli ca ção de li -
Me mó ri as do Meu Tem po 13
2 Após a sua pri me i ra ele i ção, ele só não fez par te da Câ ma ra dos De pu ta dos nas
se guin tes le gis la tu ras: Sex ta (1845–1847), Dé ci ma (1857–1860), Dé ci ma Se gun da
(1864–1866), Dé ci ma sé ti ma (1878–1881) e Dé ci ma Nona (1885). 
3 Ao fi nal des ta re e di ção de Me mó ri as do Meu Tem po, en con tra-se uma re la ção com -
ple ta dos ga bi ne tes mi nis te ri a is do Se gun do Re i na do, na qual se pode ve ri fi car o
peso des te gru po po lí ti co em vá ri os go ver nos como o que abo liu, em de fi ni ti vo, o 
trá fi co de afri ca nos para o Bra sil, em 1850.
vros e ar ti gos. Con ti nu ou a pu bli car, des ta ma ne i ra, obras fic ci o na is e
es tu dos li te rá ri os no mes mo for ma to já ex plo ra do an te ri or men te, mas
pas sou tam bém a pro du zir en sa i os his tó ri co-bi o grá fi cos e co le tâ ne as de 
seus dis cur sos fe i tos na Câ ma ra. Em 1847, or ga ni zou uma an to lo gia
de bi o gra fi as, cha ma da en tão de Plu tar co Bra si le i ro e re ba ti za da,
em 1858, de Va rões Ilus tres do Bra sil Du ran te os Tem pos
Co lo ni a is. Em 1862, pu bli cou Va ri e da des Li te rá ri as, uma re u -
nião de an ti gos po e mas e crô ni cas, acom pa nha dos de nar ra ti vas de suas 
vi a gens à Eu ro pa e de dois es tu dos poé ti cos: um so bre a obra de Lor de
Byron e ou tro so bre a de Jun que i ra Fre i re. Entre 1864–1868 es cre -
veu os três vo lu mes da obra His tó ria da Fun da ção do Impé rio
Bra si le i ro; ao mes mo tem po em que pu bli cou em 1865, na Fran ça,
Si tu a ti on so ci a le, po li ti que et éco no mi que de l’empire du
Bré sil e, em 1866, uma nova fic ção his tó ri ca, Ma nu el de Mo ra es,
crô ni ca do sé cu lo XVII. 
Atu an do de for ma con tun den te con tra o pro je to de lei que li -
ber ta va o ven tre-es cra vo, apre sen ta do du ran te a Dé ci ma Qu ar ta Le gis la -
tu ra (1869–1872), Pe re i ra da Sil va en tão pro nun ci ou a sua ma i or sé rie 
de dis cur sos; os qua is fo ram re u ni dos em dois vo lu mes pu bli ca dos em
1872, já após a trans for ma ção da que le pro je to na lei de 28 de se tem bro4
– pu bli ca ção fe i ta, ao que pa re ce, com o ní ti do ob je ti vo de di vul gar sua
14 J. M. Pe re i ra da Sil va
4 A lei de 28 de se tem bro de 1871 é co nhe ci da na his to ri o gra fia na ci o nal como Lei
do Ven tre Li vre ou Lei Rio Bran co. Esta be le cia, prin ci pal men te, que to dos os fi lhos 
de mu lher es cra va, nas ci dos a par tir da que la data, eram con si de ra dos de con di ção li -
vre, ca ben do aos se nho res de suas mães “criá-los e tra tá-los” até a ida de de oito anos,
quan do po de ri am ser en tre gues ao go ver no em tro ca de uma in de ni za ção de
600$000. Se os se nho res qui ses sem, a tí tu lo ain da de in de ni za ção, po de ri am se uti li -
zar dos ser vi ços dos “ne gros de con di ção li vre” até a ida de de 21 anos. A lei fi xa va
tam bém a cri a ção do fun do de eman ci pa ção, cu jos re cur sos se ri am des ti na dos à
com pra de al for ri as. Além dis so, le ga li za va o acú mu lo de pe cú lio pe los pró pri os ca -
ti vos para a com pra de suas li ber da des e o re cur so des tes, por meio de cu ra do res, à
jus ti ça no caso dos se nho res não con cor da rem com o va lor da in de ni za ção no mo -
men to da con ces são da car ta de al for ria. Cf. Lei nú me ro 2.040, de 28 de se tem bro de
1871, Co le ção de Leis do Impé rio do Bra sil, 1872.
atu a ção para seus ele i to res, du ran te o ple i to ele i to ral que se re a li zou na -
que le ano. Data da que la mes ma épo ca o li vro Se gun do Pe río do do Re i -
na do de D. Pe dro I no Bra sil, com o qual con fir ma uma in ten ção, ain da 
que não ex pres sa, de pro du zir uma obra com ple ta so bre toda a his tó ria
do Impé rio: da fun da ção até o re i na do de Pe dro II. Inten ção que cer ta -
men te ori en tou, na se qüên cia, a es cri ta do li vro His tó ria do Bra sil
(1831–1840), pu bli ca do em 1879. Re to man do, es pe ci fi ca men te, os es -
tu dos lin güís ti co-li te rá ri os, pu bli cou, em 1884, o li vro Na ci o na li da de,
lín gua e li te ra tu ra de Por tu gal e Bra sil. 
Com a ins ta u ra ção do re gi me re pu bli ca no, a par tir dos acon te -
ci men tos de 15 de no vem bro de 1889, Pe re i ra da Sil va aban do nou de fi -
ni ti va men te a atu a ção par la men tar. Se guiu cu i dan do ape nas de seus ne -
gó ci os pri va dos – ao que tudo in di ca, re la ci o na dos ao co mér cio fun de a do
na pra ça do Rio de Ja ne i ro – e da es cri ta das me mó ri as po lí ti cas do Se -
gun do Re i na do, no me a do como Me mó ri as do Meu Tem po e que
co bria os acon te ci men tos na ci o na is do pe río do de ju lho de 1840 a de -
zem bro de 1886.5
Me mó ri as do Meu Tem po 15
Ain daque o ga bi ne te con ser va dor, pre si di do por José Ma ria da Sil va Pa ra nhos
(Vis con de do Rio Bran co), te nha to ma do a si a ta re fa de apro var o pro je to, os
con ser va do res flu mi nen ses re pre sen ta ram uma im por tan te dis si dên cia e le van ta -
ram to dos os obs tá cu los pos sí ve is à apro va ção do mes mo. Du que-Estra da Te i xe i ra, 
Pa u li no de Sou sa Fi lho, Andra de Fi gue i ra e Pe re i ra da Sil va con si de ra vam, em
ge ral, o pro je to uma in ter fe rên cia in dé bi ta do Esta do no ge ren ci a men to da pro -
pri e da de pri va da e, por con se guin te, um ata que fron tal ao ar ti go 179 da Cons ti tu i -
ção do Impé rio, o qual es ta be le cia: “A in vi o la bi li da de dos di re i tos ci vis e po lí ti cos dos ci -
da dãos bra si le i ros, que tem por base a li ber da de, a se gu ran ça in di vi du al e a pro pri e da de...”. Cf.
Cons ti tu i ção Po lí ti ca do Impé rio do Bra sil, acom pa nha da pelo Ato Adi ci o nal de 1834 e 
pela Lei de Inter pre ta ção de 1840. Bra sí lia: Mi nis té rio do Inte ri or/Pro gra ma Na -
ci o nal de Des bu ro cra ti za ção, 1986. Em li nhas ge ra is, este foi o mes mo ar gu men to 
uti li za do con tra a abo li ção to tal da pro pri e da de es cra va, sem in de ni za ção, pe los
mes mos po lí ti cos na dé ca da de 1880. 
5 Pe re i ra da Sil va con ta va com 72 anos quan do teve iní cio o re gi me re pu bli ca no e,
ao que pa re ce, prin ci pal men te por con ta de mo lés ti as, man te ve-se dis tan te de to -
dos os even tos pú bli cos após 1889. Foi um dos trin ta mem bros ori gi na is da Aca -
de mia Bra si le i ra de Le tras, acla ma do na ses são de 28 de ja ne i ro de 1897. Con tu do,
“MAIS DIGNO FALAR À BORDA 
QUE DO FUNDO DA CAMPA”6
O pri me i ro tomo de Me mó ri as do Meu Tem po foi es cri to, 
a con si de rar mos as da tas de seu Pró lo go e Epí lo go, en tre mar ço e ou -
tu bro de 1895 e en vi a do à pu bli ca ção no fi nal do mês de fe ve re i ro do ano 
se guin te. O se gun do foi es cri to no mes mo pe río do do ano de 1896 e, como 
re ve la a “Adver tên cia” pu bli ca da ao seu fi nal, deve ter sido edi ta do em
fins de 1897 ou iní cio de 1898, em um mo men to em que Pe re i ra da Sil va 
se en con tra va im pos si bi li ta do para re ver suas pro vas ti po grá fi cas.7
Ain da que se pa ra da em dois to mos, a nar ra ti va não apre sen ta
um fra ci o na men to im por tan te de um para ou tro vo lu me; pelo con trá rio, o
16 J. M. Pe re i ra da Sil va
em ne nhu ma das atas en con tra mos re gis tro de sua pre sen ça nas re u niões da que la ins -
ti tu i ção. Na ata da ses são ina u gu ral, fi gu ra jun to com Alcin do Gu a na ba ra, Car los de
Laet, Co e lho Neto, José do Pa tro cí nio, Luís Mu rat, Me de i ros e Albu quer que, Pe dro
Ra be lo, Rui Bar bo sa e Inglês de Sou sa como um dos mem bros efe ti vos au sen tes,
sem ter en vi a do ex pli ca ções. Na ses são de 26 de se tem bro de 1898, o en tão pre si den te
da Aca de mia, Ma cha do de Assis, in for mou que pas sa dos mais de três me ses do fa le -
ci men to de Pe re i ra da Sil va, man da va o re gi men to que se pro ce des se à ele i ção de seu
subs ti tu to, que acon te ceu no dia 1º de ou tu bro da que le ano. O ele i to para a vaga, por
una ni mi da de, foi José Ma ria da Sil va Pa ra nhos Jú ni or (Ba rão do Rio Bran co), que to -
mou pos se, pou cos me ses de po is, por pro cu ra ção e de i xou as sim de apre sen tar dis -
cur so so bre o seu an te ces sor na ca de i ra. Cf. Atas da Aca de mia Bra si le i ra de Le tras,
Ses sões Pre pa ra tó ri as, Ses são Ina u gu ral e Ses são de 26 de se tem bro de 1898, in
http://www.ma cha do de as sis.org.br/atas7.htm, site aces sa do em 30 de maio de 2003.
6 Fra se do Epí lo go do vo lu me 1. 
7 Não te mos in for ma ções es pe cí fi cas so bre o seu es ta do de sa ú de no mo men to em
que o se gun do vo lu me do li vro é pu bli ca do. De qual quer for ma, fos se por pro ble -
mas da que la na tu re za (ele vi ria a fa le cer pou cos me ses de po is da pu bli ca ção do li -
vro), fos se por im pos si bi li da de de ter aces so aos ori gi na is do vo lu me, edi ta dos pela
edi to ra fran ce sa Gar ni er em Pa ris, é cer to que ele não pôde cor ri gir as pro vas do
mes mo, como cer ta men te fez com re la ção ao pri me i ro vo lu me. Assim, ao fi nal do
li vro, en con tra mos a se guin te “Adver tên cia”, tal vez es cri ta pelo edi tor quan do o li -
vro já se en con tra va pra ti ca men te pron to: “Esta obra foi im pres sa em Pa ris e o au tor não
lha re viu as pro vas. Esca pa ram ao cor re tor mu i tos er ros, sem dú vi da por não en ten der a le tra do
ma nus cri to. A ma i or par te de les con ta o edi tor que por si e pelo sen ti do cor ri gi rá o le i tor...”
pri me i ro ca pí tu lo do se gun do li vro – cor res pon den te aos acon te ci men tos do
pe río do de ja ne i ro a se tem bro, do ano de 1864 – po de ria mu i to bem ser o
dé ci mo nono ca pí tu lo do vo lu me pre ce den te. De tal for ma que, no cur to
pró lo go do tomo dois, Pe re i ra da Sil va tem ape nas a pre o cu pa ção de es cla -
re cer ao le i tor que con ti nu a va en tão a ta re fa que já ini ci a ra, quer seja a de
“es cre ver no tas, apon ta men tos, nar ra ti vas” do que vira e ou vi ra
“na con vi vên cia dos va rões que se sa li en ta vam no ser vi ço da
pá tria”.8 Ta re fa que só se com ple ta ria com um ter ce i ro li vro, não es cri to,
que cor res pon des se ao pe río do pos te ri or a de zem bro de 1886.9
A obra não re pre sen ta, con tu do, uma au to bi o gra fia, em que o
au tor se re cor da ria, ex pli ca ria e/ou jus ti fi ca ria sua atu a ção par ti cu lar,
du ran te os qua se cin qüen ta anos em que es te ve, di re ta ou in di re ta men te,
en vol vi do nas dis pu tas po lí ti co-par ti dá ri as do Se gun do Re i na do. Ela se
afi gu ra, de fato, como uma ex ten sa crô ni ca po lí ti ca, es cri ta com gê nio, de
for ma ágil, na qual seu au tor pro cu ra, en tre ou tros as pec tos, de fen der a
ex ce lên cia das ins ti tu i ções da Mo nar quia par la men tar e cons ti tu ci o nal
bra si le i ra, tal como ele en ten dia que elas fun ci o na vam ou de ve ri am fun -
ci o nar; bem como os acer tos das ad mi nis tra ções de seu gru po po lí ti co,
quan do aque le es ti ve ra à fren te do go ver no.
Sub ja cen te a toda or ga ni za ção e es cri ta das Me mó ri as
trans pa re cem, des ta for ma, as in qui e ta ções de um qua se oc to ge ná rio
com o seu pre sen te e a pre o cu pa ção em ava li ar os ru mos que le va ram o
país a subs ti tu ir a Mo nar quia pela Re pú bli ca. Isto ao par do de se jo
in con fes so de con ti nu ar a in ter fe rir, de al gu ma ma ne i ra, nas pug nas po -
lí ti cas, mes mo es tan do fora do qua dro po lí ti co-ins ti tu ci o nal en tão vi gen te
ou de qual quer or ga ni za ção ou gru po par ti dá rio dis si den te ao novo re -
Me mó ri as do Meu Tem po 17
8 Frag men to do Pró lo go do vo lu me 1.
9 Pelo me nos é o que su ge re o pró prio au tor, ao en cer rar o se gun do vo lu me com
as se guin tes pa la vras: “Fa vo re ça-me a Pro vi dên cia Di vi na com a pro lon ga ção da vida, e me
não es qui va rei à ta re fa de pros se guir na em pre sa, que en ce tei, bem que sin ta que o ge lar dos anos 
me vai alu in do a in te li gên cia.” Frag men to do Ca pí tu lo XVI, “De agos to de 1885 a de -
zem bro de 1886”, vo lu me 2. 
gi me.10 Tra ta-se, por con se guin te, de obra de com ba te que ti nha por ad -
ver sá ri os ime di a tos os re pu bli ca nos e tam bém al guns dos an ti gos po lí ti cos 
com quem ele con vi veu no Par la men to do Impé rio e que não ti nham
ade ri do ao novo re gi me – es tes, em gra us va ri a dos, de di ca dos a uma
pos sí vel res ta u ra ção, mas tam bém, e prin ci pal men te, à cons tru ção de
obras de his tó ria/me mó ria so bre a Mo nar quia, tais como Afon so Cel so
de Assis Fi gue i re do Jú ni or e Jo a quim Na bu co.1118 J. M. Pe re i ra da Sil va
10 Par ti lhan do, como to dos os his to ri a do res de sua épo ca, da cren ça na his tó ria
como ciên cia isen ta por apar te a da da po lí ti ca, Pe re i ra da Sil va se pre o cu pou em
di zer que, na es cri ta da que la obra, ti ve ra por nor te o “ju í zo re fle ti do” de quem
não se en con tra va mais no in te ri or das dis pu tas. Assim, mes mo no me an do seu
es cri to por Me mó ri as e ex pli ci tan do ao lon go do tex to um re fe ren ci al do cu men tal
ín fi mo, se ti ver mos em con ta as suas obras his to ri o grá fi cas an te ri o res, ele es cre -
veu, com o ní ti do pro pó si to de dar a mais com ple ta cre di bi li da de à sua ver são da 
his tó ria do Se gun do Re i na do: “Afas ta do ago ra dos ne gó ci os pú bli cos, re co lhi do à vida ín ti ma,
e abri gan do na re gião se re na dos es tu dos e la vo res li te rá ri os, per su a do-me que guar da rei a exa ção 
e im par ci a li da de in dis pen sá ve is à ex po si ção dos fa tos que ocor re ram, ao exa me das idéi as e dou -
tri nas que pre pon de ra ram, e à apre ci a ção dos ho mens que ocu pa ram po si ções emi nen tes na ge rên -
cia dos ne gó ci os pú bli cos, ou se dis tin gui ram nas lu tas por fi a das do par la men to. À pro por ção
que se nos vai apa gan do o fogo das pa i xões, des pren de mo-nos dos pre con ce i tos que al te ra vam
outr’ora nos so ju í zo.” Frag men to do Pró lo go, Vo lu me 1. 
11 Entre os en tão mo nar quis tas de di ca dos, mais sig ni fi ca ti va men te, à es cri ta de tex -
tos e li vros so bre o “an ti go re gi me” es tes dois pa re cem ser os prin ci pa is in ter lo -
cu to res de Pe re i ra da Sil va, no mo men to em que ele es cre via a sua obra. Bem
mais jo vens que o au tor de Me mó ri as, am bos ini ci a ram suas car re i ras po lí ti co-par la -
men ta res na dé ca da de 1880 e sem pre es ti ve ram do lado opos to ao con ser va dor 
flu mi nen se, já que fa zi am par te do Par ti do Li be ral e atu a ram, so bre tu do a par tir
de 1884, fran ca men te pela abo li ção rá pi da da es cra vi dão e sem in de ni za ção aos
pro pri e tá ri os. Os tex tos de Afon so Cel so e Jo a quim Na bu co com os qua is Pe re i ra 
da Sil va pa re cia mais dis cor dar fo ram pu bli ca dos en tre 1895–1896 no jor nal mo -
nar quis ta de pro pri e da de de Edu ar do Pra do, cha ma do O Com mer cio de S. Pa u lo ou
em pe que nas bro chu ras en tão dis tri bu í das na ca pi tal da Re pú bli ca. São des ta épo ca, 
por exem plo, os se guin tes es cri tos de Afon so Cel so: Aos Mo nar quis tas e Gu er ri lhas,
am bos es cri tos em 1895 e Con tra di tas Mo nár qui cas, de 1896 – to dos pu bli ca dos no
Rio de Ja ne i ro, pela edi to ra de Do min gos de Ma ga lhães. A obra de Jo a quim Na -
bu co ti nha ain da ma i or fô le go que a de Cel so. Além dos ar ti gos para o jor nal de
Pra do – mu i tos dos qua is, re u ni dos em 1900, de ram ori gem à au to bi o gra fia Mi -
nha For ma ção – Na bu co, con co mi tan te a Pe re i ra da Sil va, pre pa ra va tam bém uma
De i xan do trans pa re cer ce ti cis mo para com uma even tu al der -
ro ca da da Re pú bli ca,12 Pe re i ra da Sil va pa re cia ter, con tu do, ple na cer te za 
de seus êxi tos com re la ção àque le se gun do gru po de ad ver sá ri os. Nar rou,
a par tir dis to, toda a his tó ria do Se gun do Re i na do, de mons tran do o va -
lor po lí ti co, ad mi nis tra ti vo e mo ral do “an ti go re gi me”, como for ma de
res ga tá-lo “do in gra to e des de nho so ol vi do” a que os re pu bli ca nos
ti nham-no con de na do ao re a li zar so bre ele “fal sas apre ci a ções e in -
fun da dos ju í zos”.13 Per cor ren do 34 das 36 or ga ni za ções mi nis te ri a is 
que ti ve ram lu gar du ran te o re i na do de Pe dro II14 – ain da que sem pre
apon tan do os equí vo cos das que não con ta ram com o apo io po lí ti co-par la -
men tar de seu gru po – Pe re i ra da Sil va bus cou tra çar o se guin te pa no -
ra ma ge ral do re gi me mo nár qui co:
“O re gi me mo nár qui co ar ros tou, é ver da de, pe -
ri gos, so freu re ve ses, co me teu er ros, man te ve po -
Me mó ri as do Meu Tem po 19
his tó ria do Se gun do Re i na do, es cre ven do a bi o gra fia de seu pai, no me a da de Um
Esta dis ta do Impé rio. Escri to en tre 1893 e 1896, o li vro so bre o Se na dor Na bu co
teve seu pri me i ro vo lu me pu bli ca do em 1897, ain da que al guns ca pí tu los da obra
já ti ves sem sido di vul ga dos em 1895, quan do fo ram pu bli ca dos pela Re vis ta Bra si -
le i ra de pro pri e da de de José Ve rís si mo. 
12 O de sa len to para com uma pos sí vel res ta u ra ção nos pa re ce evi den ci a do no tre cho 
aba i xo, ain da do Pró lo go do vo lu me 1, es cri to jus ta men te an tes dele es cla re cer que
“as lem bran ças eram o úni co ali men to dos ve lhos” e que por isso ele se pu nha a re cor dar
os acon te ci men tos pas sa dos: “Qu an to da mo ci da de dis tan cia-se a ve lhi ce! Na que la ida de
afor tu na da tudo me sor ria, ale gra va-me, sus ci ta va-me es pe ran ças! Aca bru nham-me hoje sa u da des,
de cep ções, amar gu ras! Cada ano, que pas sa, rou ba-me uma par te do ide al que
me en can ta va o es pí ri to, des pe-me de ilu sões que me ine bri a vam o co ra -
ção, e afu gen ta o ban do de fan ta si as que me ame ni za vam a exis tên cia. Que
me vai res tan do? Cor po que de fi nha, in te li gên cia que des fa le ce.” Gri fos nos sos. 
13 Frag men to do Pró lo go do vo lu me 2.
14 Con for me já nos re fe ri mos, a nar ra ti va de Me mó ri as do Meu Tem po vai até de zem -
bro de 1886. De tal sor te que seu au tor não con tem pla as duas úl ti mas ad mi nis -
tra ções que pre ce de ram à que da da Mo nar quia: a do ga bi ne te con ser va dor de
João Alfre do, or ga ni za do a 10 de mar ço de 1888; e a do li be ral Afon so Cel so de
Assis Fi gue i re do (Vis con de de Ouro Pre to), or ga ni za do a 7 e ju nho de 1889.
Admi nis tra ções que não con ta ram com o apo io par la men tar de Pe re i ra da Sil va.
rém, con tra o vér ti ce re vo lu ci o ná rio que uma ou
ou tra vez ir rom peu, a in te gri da de do im pé rio, con -
ser vou por qua ren ta anos a tran qüi li da de pú bli ca,
fo men tou pro gres sos ma te ri a is e mo ra is da na ção e
de i xou bu ri la das nas pá gi nas da his tó ria pá tria ce nas 
glo ri o sas, que hão de ser eter na men te me mo ra -
das.”15
Pe sou em tal ba lan ço a agi ta ção e ins ta bi li da de pre do mi nan te
nos pri me i ros anos do re gi me re pu bli ca no, mar ca dos por um vi o len to jogo 
po lí ti co que le vou a duas gran des se di ções: a Re vol ta da Arma da (de -
zem bro de 1893 a mar ço de 1894), na en tão ca pi tal fe de ral; e a Re vol ta
Fe de ra lis ta (fe ve re i ro de 1893 a ju lho de 1895) no Rio Gran de do Sul 
– am bas ini ci a das du ran te o con tur ba do pe río do de go ver no do Ma re chal 
Flo ri a no Pe i xo to (23 de no vem bro de 1891 a 15 de no vem bro de
1894). A pri me i ra trans cor ri da, por tan to, quan do Pe re i ra da Sil va de -
ve ria já es tar co gi tan do da es cri ta das Me mó ri as; a se gun da ain da se
de sen ro la va quan do ele já pro du zia o li vro. 
A Re pú bli ca te ria subs ti tu í do por tru cu lên cia o es pí ri to de ca -
va lhe i ris mo e ge ne ro si da de pú bli ca que, se gun do ele, te ri am sido as gran -
des mar cas da po lí ti ca mo nár qui ca, mes mo após con fli tos ar ma dos – 
como as re vol tas li be ra is de Mi nas e São Pa u lo, em 1842, e a re vol ta
Pra i e i ra em Per nam bu co, em 1848. Mar cas im pres sas pelo ca rá ter
“cle men te” de um Mo nar ca, que não pre ten dia ver as ca u sas mais
jus tas – como a uni da de do Impé rio – “des dou ra das” pelo der ra ma -
men to de san gue. 
“A his tó ria do Bra sil, des de a in de pen dên cia,
las ti ma ape nas a tris te exe cu ção no ca da fal so de al -
guns au to res do mo vi men to re vo lu ci o ná rio de Per -
nam bu co em 1823. De en tão em dian te fo ram os
pro mo to res de se di ções con de na dos me ra men te à 
20 J. M. Pe re i ra da Sil va
15 Frag men to do Pró lo go do vo lu me 2.
pri são tem po rá ria, e sol tos pos te ri or men te em vir tu de 
de anis ti as ou per dões iso la dos. Con vém acres cen tar
que tan to os de 1825 como os pos te ri o res su bor di -
na ram-se a tri bu na is com pe ten tes, e nun ca a al ça das
ex tra or di ná ri as.
“Nun ca nas oca siões das der ro tas, e de po is das
vi tó ri as, pra ti ca ram-se as sas si na tos, de go la ções e fu -
zi la men tos, que en ver go nham a hu ma ni da de e pro -
vam a fe ro ci da de do co ra ção.
“Des dou ram-se e man cham-se as ca u sas mais
le gí ti mas e san tas com o der ra ma men to inú til e cru -
en to de san gue.
“Os pri si o ne i ros de São Pa u lo em 1842, de Per -
nam bu co em 1849, bem como os do Ma ra nhão,
Pará e Ba hia du ran te a me no ri da de, fo ram, se gun do 
a lei, su je i tos a pro ces sos, a ma i or par te ab sol vi dos
pe los Ju í zes, pou cos con de na dos à pri são, e uma
anis tia, po rém, par ti do do âni mo cle men te do
Impe ra dor nun ca fal tou-lhes para re cu pe ra rem suas 
li ber da des.”16
Com isto, Pe re i ra da Sil va su ge ria tam bém o quan to o novo
re gi me des pre za va o ár duo apren di za do que o país fi ze ra du ran te o go -
ver no de Pe dro I, no pe río do re gen ci al e nos pri me i ros anos do Se gun do
Re i na do, após os qua is “as má xi mas de re sis tên cia le gal em ca sos 
de di ver gên ci as de opi niões”, subs ti tu í ram a “luta ma te ri al sem -
pre per ni ci o sa para os po vos”.17 Mar ca va, por tan to, a ins ta u ra ção
da re pú bli ca como um re tro ces so po lí ti co gra ve para o Bra sil, pois fa vo -
re cia a per ma nên cia la ten te de um es ta do de con fli tos, sem cri ar ca na is le -
ga is/ins ti tu ci o na is para re sol vê-los. O sis te ma par la men tar da mo nar -
quia sur gia, por opo si ção, como sím bo lo de uma or ga ni za ção ra ci o nal,
Me mó ri as do Meu Tem po 21
16 Frag men to do ca pí tu lo VI, “De ju nho de 1842 a ja ne i ro de 1843”, vo lu me 1. 
17 Frag men to do ca pí tu lo V, “De ja ne i ro a ju nho de 1842”, vo lu me 1.
ca paz de man ter as pa i xões hu ma nas sob con tro le; o que ne nhum ou tro
sis te ma de go ver no con se guia fa zer efi caz men te: 
“Ne nhum sis te ma po lí ti co li ber ta-se das pa i xões, 
des pe i tos, ego ís mos e am bi ções dos ho mens. Mais
fran ca men te se apon ta o re gi me par la men tar em que
não raro ir rom pem mu dan ças de pro ce di men to e de
idéi as, trans for ma ções de ce ná rio e li gas im pre vis tas.
Embo ra se es cu re çam com nu vens car re ga das de pe -
ri gos, pro du zem, to da via, me no res ma les as bor ras -
cas que em seu seio se le van tam, do que qua is quer
ou tros sis te mas go ver na ti vos.”18
Ao re tro ces so po lí ti co cor res pon di am tam bém ou tros de or dem
“mo ral” e “ma te ri al”. Com um sis te ma re pre sen ta ti vo ine fi caz, o país
te ria se “es que ci do” dos “in te res ses ma te ri a is e mo ra is”, para se
ocu par “ex clu si va men te de con tro vér si as po lí ti cas”.19 De sa pa re ce -
ra o ce ná rio in te lec tu al de fo men to às le tras, ciên ci as e ar tes em ge ral –
“re sul ta dos ime di a tos da ci vi li za ção”20 – e os ta len tos ar tís ti cos se
“ocul ta ram”. Em um dos ra ros mo men tos ni ti da men te con fes si o na is do
li vro, o au tor se la men ta, ao com pa rar o am bi en te cul tu ral da Mo nar quia
com o da Re pú bli ca: 
“Vi via-se já por fim em um re de mo i nhar de go -
zos li te rá ri os, agra dá vel, su a ve, e aus pi ci o so; ex ci ta -
vam-se e ale gra vam-se as in te li gên ci as com a ri va li -
da de e a con cor rên cia dos ta len tos, e com os apla u -
sos do pú bli co...
“Tem pos idos, que pa re cem qua se fa bu lo sos
atu al men te! Re cor dan do-os, cor tam-me o co ra ção
22 J. M. Pe re i ra da Sil va
18 Frag men to do ca pí tu lo X, “De ja ne i ro de 1878 a mar ço de 1880”, vo lu me 2. 
19 Frag men to do ca pí tu lo XIII, “De ja ne i ro de 1850 a se tem bro de 1853”, vo lu me 1.
20 Frag men to do ca pí tu lo VIII, “De maio de 1872 a ju nho de 1875”, vo lu me 2. 
sa u da des en can ta do ras e inex pri mí ve is pra ze res do
es pí ri to...”21
A si tu a ção das ar tes, so bre tu do da li te ra tu ra, era mu i to sen sí vel 
a Pe re i ra da Sil va, ten do-se em vis ta toda a sua atu a ção na que le se tor. Po -
rém, tão ou mais sen sí vel, que isto, era para ele a si tu a ção fi nan ce i ra, do
cré di to pú bli co no país na que la pri me i ra qua dra de ad mi nis tra ção re pu bli -
ca na. Até o Go ver no Cam pos Sa les (1898-1902),22 o Bra sil pas sou pe -
los efe i tos da po lí ti ca eco nô mi ca ina u gu ra da por Rui Bar bo sa, quan do mi -
nis tro da Fa zen da en tre 1889–1891. Co nhe ci da como “en ci lha men to”,
aque la po lí ti ca se pro pu nha a de sen vol ver a in dús tria na ci o nal, por meio de 
al gu mas me di das pro te ci o nis tas e, prin ci pal men te, pela con ces são de cré di tos 
para se rem in ves ti dos no se tor. O go ver no en tão emi tiu gran de vo lu me de
pa pel mo e da, las tre a do ape nas em tí tu los da dí vi da fe de ral, além de au to ri -
zar que vá ri as ins ti tu i ções ban cá ri as fi zes sem o mes mo. Os re cur sos, pro ve -
ni en tes de tais emis sões, aca ba ram des vi a dos para a sim ples es pe cu la ção fi -
nan ce i ra e aque la es tra té gia de de sen vol vi men to fa lhou, de i xan do em seu
ras tro uma sé rie de fa lên ci as, uma mo e da na ci o nal bas tan te des va lo ri za da
e uma onda in fla ci o ná ria que atra ves sou qua se toda a dé ca da de 1890 –
as pec tos que im pe di ram a ob ten ção de no vos re cur sos no ex te ri or para dar
las tro à eco no mia na ci o nal, ao mes mo tem po em que ser vi ram como com -
bus tí vel na ma i or par te das cri ses po lí ti cas já re fe ren ci a das. 
Estes fa tos, sem dú vi da, são os con si de ra dos por Pe re i ra da Sil va
como os gran des res pon sá ve is pelo “atra so ma te ri al” do país, após o fim da 
Me mó ri as do Meu Tem po 23
21 Idem, ibi dem .
22 Jo a quim Mur ti nho, Mi nis tro da Fa zen da du ran te a ad mi nis tra ção da que le pre si -
den te, re a li zou uma am pla po lí ti ca de re or ga ni za ção das fi nan ças pú bli cas, que foi 
em sen ti do con trá rio às prá ti cas do en ci lha men to. Cor tou dras ti ca men te os gas tos 
do go ver no fe de ral, au men tou em mu i to a car ga tri bu tá ria e des va lo ri zou o câm bio.
Tal po lí ti ca foi con di ção para que o país con se guis se um em prés ti mo de 10 mi lhões 
de li bras (Fun ding Loan) e re cu pe ras se, a par tir dali, sua cre di bi li da de jun to a cre do -
res es tran ge i ros. O con tra to da que la ope ra ção de cré di to es ta be le cia o iní cio do
pa ga men to dos ju ros de 5% ao ano, dali a 3 anos; o dos ser vi ços das dí vi das após
13 anos e o pra zo fi nal para li qui dar o em prés ti mo de 63 anos. 
Mo nar quia; e o le va ram a se es ten der, em mu i tos pon tos de sua obra, em
des cri ções e aná li ses das vá ri as si tu a ções pe las qua is pas sa ram as fi nan ças
du ran te o Se gun do Re i na do – o que trans for mou Me mó ri as em um dos
mais de ta lha dos e cir cuns tan ci a dos li vros, es cri to por um ex-po lí ti co da
Mo nar quia, so bre as ad mi nis tra ções fi nan ce i ras dos vá ri os go ver nos da que le
pe río do. 
Em to das aque las aná li ses, o au tor res sal tou os acer tos ou
equí vo cos dos mu i tos mi nis tros da fa zen da de Pe dro II, a par tir dos efe i tos 
de suas di fe ren tes po lí ti cas so bre as ati vi da des co mer ci a is – ex pli ci tan do,
por con se guin te, seus vín cu los só cio-eco nô mi cos com o se tor de co mer ci an tes 
flu mi nen ses, o qual ele pa re ce ter re pre sen ta do di re ta men te du ran te todo
o lar go tem po em que es te ve no Par la mento. Câm bio os ci lan te ou des va lo -
ri za do, emis são de pa pel-mo e da, de tí tu los pú bli cos ou de ban cos pri va dos 
com pra zos de ven ci men tos cur tos e sem las tro ime di a to e, por tan to, não
con ver sí ve is em ouro: es tes eram os as pec tos eco nô mi cos mais ne fas tos
apon ta dos por ele, pois ca u sa vam a “per tur ba ção do co mér cio le gí -
ti mo, e es pe cu la ções in con fes sá ve is”.23
Não é sem en tu si as mo, por tan to, que ele men ci o na a fi xa ção do
câm bio por uma lei, apro va da “sem de ba te”, em 1846, por ini ci a ti va de 
Ber nar do Pe re i ra de Vas con ce los. Cu i da va ela de “man ter o câm bio
en tão pre do mi nan te” e foi ide a li za da para pou par “os ci la ções
dos va lo res e pre ju í zos do go ver no e do co mér cio.”24 Sis te ma
que, dez anos de po is, foi com ple ta men te aban do na do du ran te a ges tão de
Sou sa Fran co na Fa zen da, quan do do Ga bi ne te de 4 maio de 1857. A 
pos si bi li da de aber ta por aque le mi nis tro de vá ri os ban cos emi ti rem “no tas 
pro mis só ri as, des pi das de pra zos fi xos de pa ga men to e re a li zá -
ve is ape nas quan do apre sen ta das ao tro co, em pa pel mo e da”,25
24 J. M. Pe re i ra da Sil va
23 Frag men to do Ca pí tu lo XV, “De ja ne i ro de 1856 a de zem bro de 1858”, vo lu me 1. 
24 Frag men to do Ca pí tu lo IX, “De ja ne i ro de 1845 a mar ço de 1848”, vo lu me 1. 
25 Frag men to do Ca pí tu lo XV, “De ja ne i ro de 1856 a de zem bro de 1858”, vo lu me 1. 
e não em me tal, de ses ta bi li zou todo o “mer ca do mo ne tá rio na -
ci o nal”, pro du zin do os se guin tes efe i tos:
“Não tar dou a agi o ta gem em pro pa gar-se. Ansi a -
vam os ban cos au fe rir lu cros, e quan to ma i or a emis -
são sua cir cu la va, mais van ta jo sos pro ven tos lhe pro -
vi nham. O cré di to in di vi du al exa ge rou-se. Di nhe i ro
fa cil men te em pres ta do sus ci ta va a jo ga ti na. Insti tu í -
ram-se igual men te mu i tas so ci e da des mer can tis e de
in dús tria, sem es tu dos su fi ci en tes e sem cri té rio bas -
tan te, dis pos tas a ágio fic tí cio que lo gras sem tí tu los.
“Tudo eram ale gri as, ilu sões po rém tudo. Apa rên -
ci as de ven tu ra en ga na vam; em vez de ver da de i ra pros -
pe ri da de do país, pre pa ra va-se me do nha cri se fu tu ra.”26
De sor ga ni za ção eco nô mi ca, que, pelo me nos na nar ra ti va das
Me mó ri as, pa re ce ter sido a pá de cal so bre os já com ba li dos acor dos que
ti nham se la do a po lí ti ca de união dos par ti dos, a par tir do Ga bi ne te pre -
si di do por Ho nó rio Her me to Car ne i ro Leão (Mar quês do Pa ra ná), or -
ga ni za do em 6 de se tem bro de 1853. Sob a ad mi nis tra ção fi nan ce i ra de 
Sou sa Fran co, Jo a quim José Ro dri gues Tor res (Vis con de Ita bo raí) de i xou
a pre si dên cia do Ban co do Bra sil e jun to com os de ma is con ser va do res
flu mi nen ses abriu fogo, no Par la men to e na im pren sa, con tra o que ele
cha ma va de “car na val fi nan ce i ro”.27
Tan to quan to seus cor re li gi o ná ri os pro vin ci a is da que la épo ca,
Pe re i ra da Sil va se guiu, qua se qua ren ta anos de po is, con de nan do o re fe -
ri do “car na val”. Mas, no li vro, a con de na ção ga nhou o sig ni fi ca do po lí -
ti co adi ci o nal de ata que di re to ao en ci lha men to re pu bli ca no. Da mes ma
for ma que a des cri ção elo gi o sa da aus te ri da de fi nan ce i ra do su ces sor de
Sou sa Fran co na pas ta da Fa zen da, Fran cis co Sa les de Tor res Ho mem,
re ve la, em pri me i ro pla no, o con ten ta men to do gru po po lí ti co que teve, em 
Me mó ri as do Meu Tem po 25
26 Idem, ibi dem.
27 Idem, ibi dem . 
1859, seus in te res ses só cio-eco nô mi cos con tem pla dos; e, em se gun do, a
von ta de de Pe re i ra da Sil va de apon tar ca mi nhos para os res pon sá ve is
pe las fi nan ças pú bli cas em 1895.28
Von ta de ex pres sa com ma i or ên fa se, e que não fica lon ge de
as su mir a for ma de um re ce i tuá rio eco nô mi co a ser se gui do, quan do ele
nar ra a ad mi nis tra ção fi nan ce i ra do Ga bi ne te pre si di do jus ta men te por
Ro dri gues Tor res, or ga ni za do em 16 de ju lho de 1868 – após a con tro -
ver sa que da do mi nis té rio pre si di do por Za ca ri as de Góis e Vas con ce los.
Assi na lan do que os efe i tos da po lí ti ca de Sou sa Fran co se fi ze ram sen tir
até 186529 – a des pe i to dos men ci o na dos es for ços de Tor res Ho mem e
de po is de Ânge lo Fer raz30 – e que a si tu a ção fi nan ce i ra do país ti nha
26 J. M. Pe re i ra da Sil va
28 O au tor re pro duz, no Ca pí tu lo XVI – “De de zem bro de 1858 a mar ço de 1861” do
vo lu me 1, o se guin te tre cho de um dis cur so de Tor res Ho mem, fe i to quan do de fen -
dia o fim da per mis são para que fos sem emi ti dos tí tu los sem que os mes mos pu des -
sem ser con ver ti dos em ouro: “Em eco no mia po lí ti ca, há su pers ti ci o sos que acre di tam que os
ban cos cri am ca pi ta is e que o seu pa pel emi ti do mul ti pli ca os va lo res. Em toda a par te as mes mas
ca u sas pro du zem os mes mos efe i tos. O pa pel in con ver sí vel pro duz ne ces sa ri a men te a de pres são do
câm bio, a fuga dos me ta is sem es pe ran ça de vol ta, a de te ri o ra ção do va lor do meio cir cu lan te, e, por
con se qüên cia, a su bi da dos pre ços, a le são dos con tra tos, os so fri men tos das clas ses mais nu me ro sas da 
po pu la ção. O úni co va lor real do bi lhe te ban cá rio é a con ver si bi li da de. O ex pe di en te fa la ci o so de ca u -
ções ir re a li zá ve is nas oca siões opor tu nas e ur gen tes, é con cep ção de plo rá vel que ex põe a na u frá gio cer to
os in te res ses mais res pe i tá ve is do co mér cio, a for tu na par ti cu lar, e a for tu na pú bli ca.”
29 Go ver na va o país, no fi nal de 1865, o Ga bi ne te pre si di do por Fran cis co José Fur -
ta do. Sob sua ges tão se as sis tiu a uma nova cri se do sis te ma ban cá rio-fi nan ce i ro,
pela fal ta de las tro para que o go ver no co bris se os sa ques de tí tu los: “A sus pen são
de pa ga men to me tá li co das no tas do Ban co do Bra sil pro du ziu de sú bi to que da do câm bio, e em
vi cis si tu des de sas tro sas es tor ceu-se o co mér cio; su bi ram os va lo res dos gê ne ros ne ces sá ri os à vida, e 
de to dos os es pí ri tos apos sa ram-se ter ro res. Con te ve-se, to da via, a agi ta ção po pu lar nas ruas, e
mais ou me nos de sas tra da men te se fo ram li qui dan do as for tu nas dos com pro me ti dos na pa vo ro sa 
cri se. Con se qüên cia in fa lí vel do jogo e es pe cu la ções exa ge ra das, das an ti gas 
emis sões de ban cos, que abri ram vál vu las de abu so do cré di to, e de mo ra
das li qui da ções!” Frag men to do Ca pí tu lo III, “De maio de 1865 a agos to de
1866”, vo lu me 2. Gri fos nos sos. 
30 Ao ga bi ne te de 12 de de zem bro de 1858, no qual Tor res Ho mem era mi nis tro da 
Fa zen da, se guiu-se o or ga ni za do em 10 de agos to de 1859 no qual ocu pa va aque la 
pas ta Ânge lo Fer raz. Dan do con ti nu i da de à po lí ti ca de aca bar com a li ber da de
de emis são de pa péis in con ver sí ve is por ban cos par ti cu la res, Fer raz en cam pou no 
se agra va do mu i to após aque le ano, dada à ne ces si da de de re cur sos para
acu di rem às des pe sas com a Gu er ra do Pa ra guai (1865–1870), Pe re i ra 
da Sil va jul gou como bri lhan te a sa í da en con tra da pelo seu lí der po lí ti -
co-par ti dá rio de en tão: emis são ini ci al de pe que na quan ti da de de pa -
pel-mo e da para aten der a ne ces si da des ime di a tas, se gui da da trans for ma -
ção da ma i or par te das dí vi das de cur to pra zo (dí vi da flu tu an te) em tí tu -
los com ven ci men tos a per der de vis ta (dí vi da fun da da) e re a li za ção de
um em prés ti mo in ter no por meio da emis são de apó li ces es pe ci a is para
atra ir ao te sou ro “o pro du to de pe que nas eco no mi as parti cu la -
res”. Com o re sul ta do des te em prés ti mo, aten deu às de man das co muns
da ad mi nis tra ção, da guer ra e ain da, ao fi nal de sua ges tão, res ga tou pa -
pel-mo e da, ele vou o câm bio e de i xou o te sou ro com su pe rá vits. 
O tre cho aba i xo re ve la tudo o que o “co mér cio le gí ti mo”,
re pre sen ta do pelo au tor de Me mó ri as, en dos sa va do pon to de vis ta ad -
mi nis tra ti vo-fi nan ce i ro, ao mes mo tem po em que re pre sen ta um ex ce len te
re su mo do que um dos gru pos po lí ti cos mais in flu en tes do Se gun do Re i -
na do re a li za va quan do à fren te da ad mi nis tra ção:
“De vo tou-se Ro dri gues Tor res a exa me mi nu -
ci o so do es ta do do te sou ro. A guer ra exi gi ra, e exi gia 
ain da, so mas ele va dís si mas e ex tra or di ná ri as... O pa -
pel-mo e da em cir cu la ção ex ce dia a 83 mil con tos,
não in clu í da a soma de no tas do Ban co do Bra sil, e
de ou tros es ta be le ci men tos ban cá ri os em ouro já in -
con ver sí ve is. Os co fres pú bli cos não dis pu nham de
di nhe i ro para as des pe sas or di ná ri as da ad mi nis tra -
ção, quan to mais para as ex tra or di ná ri as da guer ra. 
“Urgia pa gar sa ques co ti di a nos vin dos do Rio da
Pra ta, e re me ter para ali igual men te so mas avul ta das e
Me mó ri as do Meu Tem po 27
Se na do um pro je to de lei de seu an te ces sor so bre o tema, as sim como emen das a
ele fe i tas pelo Se na dor Ro dri gues Tor res. Apro va do o pro je to, a lei fi cou co nhe ci da 
como Lei Fer raz. Cf. Ca pí tu lo XVI – “De de zem bro de 1858 a mar ço de 1861”,
vo lu me 1. 
em ouro, a fim de man ter-se o exér ci to e a ma ri nha.
Impos sí vel era sus pen der ser vi ços in ter nos, nem os
ju ros e amor ti za ção das dí vi das con tra í das em Ingla -
ter ra, e nem dis pen sar ar ma men tos já en co men da dos.
Emprés ti mos se não ob ti nham, pela ba i xa das apó li -
ces in ter nas... e ex ter nas... e pela ele va ção dos ju ros
com emis são de bi lhe tes do te sou ro, que se re for ma -
vam sem pre pela im pos si bi li da de de pagá-los. 
“Bem que de cla ra do ini mi go do pa pel-mo e da,
per ce beu Ita bo raí que lhe não so bra va ou tro re cur so, 
ao en ce tar sua ad mi nis tra ção, até que res ta be le ci da
al gu ma con fi an ça pú bli ca, pu des se lan çar mão de
me i os me nos pre ju di ci a is à na ção... Ado tou, por tan to, 
este per ni ci o so ex pe di en te... com pro me ten do-se
amor ti zá-la, ape nas me lho ras se o es ta do fi nan ce i ro,
que não re pu ta va in te i ra men te de ses pe ra do.
“Emi tiu de pron to cer ca de oito mil con tos de
pa pel-mo e da, e apres sou-se para efe tu ar no vos em -
prés ti mos por meio da dí vi da fun da da. Ansi a va re du -
zir a flu tu an te que, além de ju ros pe sa dos, rou ba -
va-lhe o sono com pra zos fa ta is, que não sa tis fe i tos,
equi va le ri am à de cla ra ção de fa lên cia do te sou ro.
“Re sol veu emi tir apó li ces amor ti zá ve is em ouro, 
ao câm bio de 27, e juro de 6%, no in tu i to de atra ir
ao te sou ro o pro du to das pe que nas eco no mi as par ti -
cu la res, ávi das de ren das ma i o res e se gu ras...
“Com a soma re co lhi da ao te sou ro, con si de -
rou-se ha bi li ta do para cor res pon der sa tis fa to ri a men te
aos ser vi ços da guer ra e da ad mi nis tra ção in ter na,
para mi no rar os ju ros dos bi lhe tes e pra zo em cir cu la -
ção, e que con se guiu re du zir ime di a ta men te, apli -
can do par te dos em prés ti mos ao seu pa ga men to.
Não me nos de oito mil con tos re ti rou da cir cu la ção.
28 J. M. Pe re i ra da Sil va
Con ven ci do ain da de que lhe con vi nha não ar ran car
re cur sos do co mér cio le gí ti mo, pa gou ao Ban co do
Bra sil não só a im por tân cia de ouro, que de suas ar -
cas ha via Za ca ri as re co lhi do, como a de onze mil
con tos que ao Ban co de via o te sou ro, pela amor ti za -
ção de pa pel-mo e da que efe tu a ra an te ri or men te.”31
Pla ne ja va Ita bo raí, se gun do Pe re i ra da Sil va, se guir uti li zan do
os su pe rá vits do te sou ro – con se gui dos à cus ta de um or ça men to bem con -
tin gen ci a do e com o fim do con fli to com o Pa ra guai – para amor ti zar
ain da mais o meio mo ne tá rio cir cu lan te e ele var o câm bio que já ti nha
su bi do sig ni fi ca ti va men te du ran te sua ges tão. Isto ao mes mo tem po em
que pre ten dia es ta be le cer am plas li nhas de fi nan ci a men to es ta tal para a
imi gra ção – me di da fun da men tal, para sua base po lí ti ca, e que, por con -
se guin te, de ve ria pre ce der a qual quer ou tra que tra tas se da re or ga ni za ção 
da mão-de-obra na ci o nal, via eman ci pa ção do ele men to ser vil. 
Con tu do, o gru po de con ser va do res flu mi nen ses per deu a he -
ge mo nia no par ti do e ao ga bi ne te de 16 de ju lho de 1868 subs ti tui efe -
ti va men te o ga bi ne te de 7 de mar ço de 1871, pre si di do por José Ma ria
da Sil va Pa ra nhos (Vis con de do Rio Bran co); isto após a pas sa gem
pelo po der do efê me ro mi nis té rio pre si di do por José Antô nio Pi men ta
Bu e no (Mar quês de São Vi cen te).32 Ten do per ma ne ci do na opo si ção
ao Go ver no Rio Bran co du ran te todo o pe río do, Pe re i ra da Sil va não
lhe faz uma aná li se li son je i ra da atu a ção. A ga ran tia da pro pri e da de
pri va da pelo Esta do, após a lei de 28 de se tem bro de 1871, te ria sido
ma cu la da – con for me o que já nos re fe ri mos na pri me i ra par te des te
tex to – e o pla no ad mi nis tra ti vo-fi nan ce i ro de Ita bo raí in ter rom pi do.
Rio Bran co pas sa ra a gas tar os sal dos do te sou ro com des pe sas su pér -
flu as ou com a ga ran tia de lu cros ju ros a ca pi ta is pri va dos, in ves ti dos
Me mó ri as do Meu Tem po 29
31 Frag men to do Ca pí tu lo V – “De ju nho de 1865 a maio de 1869”, vo lu me 2. 
32 Orga ni za do a 29 de se tem bro de 1870, este ga bi ne te fi cou à fren te do go ver no
ape nas du ran te o re ces so do Par la men to, di ri gin do o país por pou co mais de cin co
me ses. Cf. Ca pí tu lo VI – “De maio de 1869 a mar ço de 1871”, vo lu me 2. 
em em pre en di men tos de êxi to du vi do so e mal di men si o na dos, como era
o caso de al gu mas fer ro vi as. 
“Sal dos de re ce i ta so bre des pe sa em pre gou em
edi fí ci os e ajar di na men tos da ca pi tal do im pé rio, em
cons tru ções de es tra das, em sub ven ções a com pa -
nhi as que se pre pu ses sem a abrir vias ter res tres e ma -
rí ti mas de co mu ni ca ção, al gu mas sem es tu do pré vi os 
e cal cu la dos mais ou me nos ra zo a vel men te quer re la -
ti va men te a seus cus tos, quer a suas van ta gens. Fo ram 
os sal dos do te sou ro de sa pa re cen do, e ne ces sá rio tor nou-se pe dir 
em prés ti mos no in te ri or e nos pa í ses es tran ge i ros.
“Para pre ju di car ain da mais o fu tu ro, o mi nis té rio e as
câ ma ras de acor do vo ta ram au men tos de tri bu na is de
re la ção, de or de na dos da ma i or par te dos fun ci o ná ri os,
de sol dos e gra ti fi ca ções à clas se mi li tar, de no vas re -
par ti ções pú bli cas des ti na das a me lho rar o ser vi ço, com 
o que a des pe sa avo lu mou-se ex tra or di na ri a men te.
Tan to o mi nis té rio como o par la men to ilu di ram-se
com o flo res ci men to pro gres si vo das fi nan ças para re -
sis ti rem aos no vos dis pên di os de cre ta dos.”33
A par tir des te pon to de Me mó ri as, além das “im per fe i ções
po lí ti cas” e “ab sur dos” da ges tão eco nô mi ca re pu bli ca na, pa re ceu mo ver
Pe re i ra da Sil va a pre o cu pa ção de ti da em ex pli car a der ro ca da da Mo -
nar quia. Sem ris co de in cor rer em exa ge ro, po de mos afir mar que, para
ele, o fim do re gi me se deu pelo des ca la bro das ad mi nis tra ções ca pi ta ne a -
das pelo Par ti do Li be ral en tre 1878–1885, sob as qua is se per mi tiu ou 
mes mo se in cen ti vou o sur gi men to da idéia de abo lição de fi ni ti va da pro -
pri e da de es cra va sem in de ni za ção aos pro pri e tá ri os. Idéia to tal men te sub -
ver si va à or dem vi gen te e que te ria con tri bu í do, por tal mo ti vo, para le var 
os pri me i ros re pu bli ca nos ao Par la men to du ran te a Dé ci ma Nona Le gis -
30 J. M. Pe re i ra da Sil va
33 Frag men to do Ca pí tu lo VIII – “De maio de 1872 a ju nho de 1875”, volu me 2.
Gri fos nos sos.
la tu ra (1885). Assim é, de se nhan do o pe nhas co pelo qual a Mo nar -
quia se ria pre ci pi ta da, que Pe re i ra da Sil va nar rou a tra je tó ria dos go -
ver nos que se su ce de ram a par tir de ju nho de 1875. 
Orga ni za do no dia 25 da que le mês, o mi nis té rio pre si di do por
Luís Alves de Lima e Sil va (Du que de Ca xi as) e que ti nha como ho mem
for te o en tão Mi nis tro da Fa zen da, João Ma u rí cio Wan der ley (Ba rão de
Co te gi pe), ain da te ria ten ta do, na opi nião do au tor de Me mó ri as, re ver ter o 
“te ne bro so” qua dro de i xa do por Rio Bran co – que para so cor rer à
pra ça ban cá ria bra si le i ra, en cer ra ra sua ges tão emi tin do 25 mil con tos de
réis em pa pel-mo e da e pro vo can do, por con se guin te, que da do câm bio.34
Con tan do com o apo io da fac ção flu mi nen se de seu par ti do,
Co te gi pe re to ma ra as li nhas ge ra is da po lí ti ca fi nan ce i ra de Ita bo raí, ao
pro du zir uma lei or ça men tá ria (1877) que au men ta va al guns im pos tos
de im por ta ção, cor ta va des pe sas e per mi tia a con so li da ção de dí vi das flu -
tu an tes – me i os com os qua is se bus ca va con se guir su pe rá vits a se rem
em pre ga dos na amor ti za ção do pa pel-mo e da.35 Sem re fe ren ci ar que tal
po lí ti ca pro vo cou en tão mais dis sen so que con sen so nas fi le i ras con ser va -
do ras, as sim como o es cân da lo de con tra ban do de po pe li nes,36 em que o
Me mó ri as do Meu Tem po 31
34 Aque la emis são foi re a li za da para es tan car a cri se ini ci a da pela sus pen são dos pa -
ga men tos pelo Ban co Mauá e Cia., no qual o go ver no to ma ra sa ques. Pe re i ra da
Sil va as sim re su me o epi só dio: “Algu mas que bras de ne go ci an tes pro du zi ram sur tos de cri -
se imi nen te fi nan ce i ra. O te sou ro to ma ra sa ques avul ta dos so bre Lon dres, da casa ban cá ria
Mauá e Cia., con fi an do na sua ro bus tez e ga ran tia. Não fo ram ace i tos em Lon dres os sa ques
re me ti dos, pelo go ver no, e a casa ban cá ria se viu co a gi da a sus pen der pa ga men tos... O re vés su -
por ta do por Mauá e Cia. pro du ziu aba lo ater ra dor na pra ça do Rio de Ja ne i ro, e o Ban co do
Bra sil sen tiu-se em di fi cul da des, por que era cre dor das fir mas que sus pen de ram pa ga men tos, e
de po si tá rio de so mas im por tan tes em con ta cor ren te de mo vi men to.” Frag men to do Ca pí tu lo
VIII – “De maio de 1872 a ju nho de 1875”, vo lu me 2. 
35 Cf. Ca pí tu lo IX – “De ju nho de 1875 a ja ne i ro de 1878”, vo lu me 2. 
36 O es cân da lo das po pe li nes, como fi cou co nhe ci do, re per cu tiu du ran te todo o mês de
ju lho de 1877. Em abril da que le ano, a casa de Co mér cio Mas set e Cia. foi au tu a da na 
al fân de ga da Cor te, por ten tar pas sar o te ci do po pe li ne, como se fos se sim ples ris ca -
do de al go dão – o im pos to so bre as po pe li nes era cer ca de sete ve zes mais ele va do
que o im pos to so bre o ris ca do. Au tu a do, o re pre sen tan te da casa co mer ci al ace i ta ra
mi nis tro da Fa zen da es ti ve ra en vol vi do, Pe re i ra da Sil va ano tou ape nas
que a su bi da dos li be ra is ao go ver no in ter rom peu aque la ad mi nis tra ção
aus te ra, a qual não se “po de ria re ga te ar elo gi os”.37
O ga bi ne te li be ral pre si di do por João Lins Vi e i ra Can san ção de
Si nim bu, or ga ni za do a 5 de ja ne i ro de 1878, teve, ini ci al men te, como Mi -
nis tro da Fa zen da o ga ú cho Gas par Sil ve i ra Mar tins que, ao in vés de emi tir 
tí tu los do te sou ro com ven ci men tos a lon go pra zo, como pre ten dia fa zer seu
32 J. M. Pe re i ra da Sil va
pa gar o im pos to so bre a mer ca do ria que aca bou sen do li be ra da, ao in vés de apre en di -
da como pre via a lei. Ocor reu que o De pu ta do li be ral Ce sá rio Alvim, na ses são da
Câ ma ra de 13 de ju lho, di vul gou, de po is da aco i mar a casa Mas set como sen do uma
das mais afa ma das em pre sas de “co mér cio/con tra ban do” da Cor te, o con tra to da -
que la fir ma que ti nha como um dos só ci os o en tão Mi nis tro da Fa zen da, além de um
dos con fe ren tes da al fân de ga. Co te gi pe se de fen deu di zen do que se tor na ra só cio da
casa co mer ci al ape nas para aju dar o “ami go” Mas set, quan do não era ain da mi nis tro e 
que por ser um aci o nis ta mi no ri tá rio nun ca man ti ve ra qual quer tipo de con tro le so -
bre o em pre en di men to. Con se guiu um voto de con fi an ça da Câ ma ra, mas per deu
mu i to de seu pres tí gio. Sem dú vi da en fra que ci do po li ti ca men te, teve di fi cul da des para 
con du zir as ne go ci a ções du ran te a tra mi ta ção do pro je to de lei or ça men tá ria, prin ci -
pal men te quan do se tra ta va de cor tar emen das pro po si ti vas de gas tos e que fos sem
apre sen ta das por de pu ta dos de seu par ti do. Cf. Ana is do Par la men to Bra si le i ro – Câ ma ra
dos Srs. De pu ta dos, vo lu me 2 da dé ci ma sex ta le gis la tu ra. 
37 Idem, ibi dem. O pro je to de or ça men to ela bo ra do sob a égi de de Co te gi pe le vou toda 
a ses são de 1877 tra mi tan do na Câ ma ra e no Se na do. A pri me i ra pro pos ta é apre -
sen ta da pelo go ver no em 6 de fe ve re i ro da que le ano e a ver são fi nal é apro va da
ape nas em 11 de ou tu bro. Du ran te os de ba tes, vá ri os con ser va do res se pro nun ci am 
vi o len ta men te con tra o go ver no de seu par ti do e sua res pec ti va pro pos ta de or ça -
men to, pre nun ci an do a di fi cul da de da exe cu ção da lei uma vez apro va da. Na vo ta -
ção fi nal, fi ze ram ques tão de en ca mi nhar à mesa de cla ra ções de voto con tra dis po -
si ti vos fun da men ta is, como os que cri a vam no vos tri bu tos, os De pu ta dos con ser va -
do res: João Men des, Cu nha Fi gue i re do Jú ni or, Hen ri que Gra ça e Ta u nay. Mes mo
os flu mi nen ses pa re ci am pou co à von ta de com a ver são fi nal da peça or ça men tá ria, 
tan to que Pa u li no de Sou sa Fi lho, en tão pre si den te da Câ ma ra, de i xou de com pa re -
cer à ses são que foi pre si di da por Ma cha do Por te la, Vice-Pre si den te da que la Casa.
Além dele, ou tras no ta bi li da des do Par ti do Con ser va dor não com pa re ce ram para a
vo ta ção, como José de Alen car. Aspec to evi den te da cor ro são na base de apo io da -
que le ga bi ne te. Cf. Ana is do Par la men to Bra si le i ro – Câ ma ra dos Srs. De pu ta dos, vo lu me
1 da dé ci ma sex ta le gis la tu ra, pp. 11-17; e vo lu me 5, pp. 111-131. 
an te ces sor, op tou por emi tir per to de trin ta mil con tos de réis em pa pel-mo e da 
com a fi na li da de de pro ver o go ver no dos re cur sos in dis pen sá ve is para a ad -
mi nis tra ção e pa gar os con tra tos fir ma dos. Des tru ía-se as sim tudo o que os
es for ços de Co te gi pe ti nham al can ça do em ma té ria de fi nan ças. Caía o câm -
bio no va men te e as mer ca do ri as dos vá ri os gê ne ros, so bre tu do as im por ta das,
ti ve ram seus pre ços ele va dos. O au tor de Me mó ri as se en con trou en tão en -
tre os “es pí ri tos” que “ma ni fes ta ram apre en sões”: 
“... (logo após a emis são) se guiu-se a ten dên cia
gra du al de ba i xa do câmbio, e da su bi da dos va lo res
de to dos os gê ne ros. Os es pí ri tos po pu la res mais es -
cla re ci dos pela ex pe riên cia dos ne gó ci os ma ni fes ta -
ram in con ti nênti suas apre en sões”.38 
Si nal de que aque la po lí ti ca emis si o nis ta era “fa tal”, se gun do 
Pe re i ra da Sil va, foi o aban do no delapelo se gun do Mi nis tro da Fa zen da 
do Ga bi ne te Si nim bu, Afon so Cel so de Assis Fi gue i re do que “pa ten -
te ou fe bril ati vi da de no em pe nho de me lho rar as fi nan ças e
sus ten tar o câm bio”. Para tan to, o en tão de pu ta do mi ne i ro as su miu
o com pro mis so de in de ni zar os pre ju í zos que o Ban co do Bra sil te ria
para es tan car a des va lo ri za ção da mo e da na ci o nal, ao mes mo tem po em
que le vou o go ver no a com prar con si de rá vel quan ti da de de café, re me tê-lo
e ven dê-lo no ex te ri or, para que o “te sou ro não fos se co a gi do a to -
mar le tras de câm bio nas pra ças do Impé rio”.39 Esfor ços vãos,
para o au tor, por par ti rem de prin cí pi os eco nô mi cos equi vo ca dos, re pre -
sen tan do ape nas “re mé di os fic tí ci os” in ca pa zes de pro du zi rem
“efe i tos van ta jo sos” so bre “as mo lés ti as.”40
Sem so lu ci o nar os gra ves pro ble mas que seu mi nis té rio cri ou,
Si nim bu pas sou o co man do do país para o tam bém li be ral José Antô nio
Sa ra i va, or ga ni za dor do Ga bi ne te de 28 de mar ço de 1880. O novo go -
Me mó ri as do Meu Tem po 33
38 Frag men to do Ca pí tu lo X – “De ja ne i ro de 1878 a mar ço de 1880”, vo lu me 2. 
39 Idem, ibi dem.
40 Idem, ibi dem.
ver no pro ce deu à ela bo ra ção de uma lei or ça men tá ria – “pró di ga” em
gas tos, se gun do o au tor de Me mó ri as – e que se ria pror ro ga da de ses são 
em ses são le gis la ti va até 1885, gra ças à de su nião dos li be ra is que não
con se gui am se en ten der em tor no de uma nova; como ade ma is não con se -
gui ram, se gun do Pe re i ra da Sil va, se co lo ca rem em acor do em tor no de
qual quer prin cí pio ad mi nis tra ti vo fun da men tal, como adi an te nos re fe ri -
re mos. Na opo si ção, du ran te sete anos, o con ser va dor flu mi nen se re la ta
que a in ten ção dos se gui dos pre si den tes de con se lhos mi nis te ri a is do Par ti do 
Li be ral – Mar ti nho Cam pos, João Lus to sa da Cu nha Pa ra na guá e
La fa yet te Ro dri gues Pe re i ra – de “equi li brar as re ce i tas com os
gas tos pú bli cos” sem pre fora bal da da pe los seus pró pri os ali a dos que
in sis ti am em vo tar “ver bas de des pe sa”; daí o sur gi men to de vá ri os
im pas ses que im pe di ram a apro va ção de uma lei or ça men tá ria, du ran te
aque las ges tões.41
Além de de su ni das e in sen sí ve is às ne ces si da des fi nan ce i ras e
ad mi nis tra ti vas do país, Pe re i ra da Sil va ca rac te ri zou as le gis la tu ras li -
be ra is (1879–1885) como fér te is na pro pa ga ção de idéi as pro mo to ras de 
cri ses, que aba la ram de ci si va men te a Mo nar quia. De tal ma ne i ra que o
De pu ta do Afon so Cel so de Assis Fi gue i re do Jú ni or, fi lho de um ex-mi -
nis tro de es ta do, sen tiu-se à von ta de para mar car sua es tréia par la men tar 
de cla ran do so le ne men te que “com quan to abra ças se os prin cí pi os
re pu bli ca nos, dis pu nha-se a sus ten tar os li be ra is que mais se
lhe apro xi ma vam em idéi as, sem que to da via se alis tas se em
suas fi le i ras”.42 Pro ce di men to que ti nha como pre ce den te o de Jo a quim
Na bu co, tam bém fi lho de ex-mi nis tro, se na dor e con se lhe i ro de es ta do,
quan do, dois anos an tes, ti nha in sis ti do em en ca mi nhar me di das con cer -
nen tes ao ele men to ser vil to tal men te des res pe i to sas ao di re i to à pro pri e da de
34 J. M. Pe re i ra da Sil va
41 Cf. os se guin tes ca pí tu los: XII – “De ja ne i ro a ju lho de 1882” e XIII – “De ju lho
de 1882 a maio de 1884”, vo lu me 2. 
42 Pe re i ra da Sil va se re fe re ao dis cur so pro nun ci a do por Afon so Cel so Jr. quan do
da apre sen ta ção do Ga bi ne te Mar ti nho Cam pos na Câ ma ra, em 24 de ja ne i ro de
1882. Frag men to do ca pí tu lo XII - “De ja ne i ro a ju lho de 1882”, vo lu me 2. 
pri va da; pro pon do-se en tão a re sol ver abrup ta men te uma ques tão gra ve,
in de pen den te de “qua is quer que fos sem os in con ve ni en tes e sa -
cri fí ci os a que o Impé rio se ex pu ses se”.43
Nem Afon so Cel so Jr., nem Jo a quim Na bu co fo ram os pri -
me i ros a exa ra rem, na tri bu na da Câ ma ra, idéi as to ma das por seus ad -
ver sá ri os po lí ti cos como im pa trió ti cas ou da no sas a todo um re gi me só -
cio-po lí ti co; tão pou co fo ram os úl ti mos. A re fe rên cia ex plí ci ta a eles, por 
par te de Pe re i ra da Sil va, re ve la que, para além de seus ini mi gos po lí ti -
cos du ran te o “an ti go re gi me”, am bos eram ad ver sá ri os im por tan tes na
dé ca da de 1890, mo men to em que os três fa zi am ba lan ços e aná li ses do
Se gun do Re i na do – con for me o que nos re fe ri mos an te ri or men te. Su bli -
mi nar men te, a lem bran ça do pri me i ro como an ti go ade ren te das idéi as
re pu bli ca nas e do se gun do como al guém que pou co se im por tou com o
Impé rio, atu an do ir re fle ti da e pre ci pi ta da men te em fa vor da “pior so lu -
ção” para a ques tão ser vil, ti nha como ob je ti vo ques ti o ná-los como his -
to ri a do res da Mo nar quia e como “de fen so res sin ce ros” da que la for ma de
go ver no. 
Fus ti ga va com suas Me mó ri as an ti gos e no vos ad ver sá ri os e
por tal mo ti vo con si de ra va mais dig no “fa lar à bor da que do fun do
da cam pa”. Mes mo sen tin do que não tar da ria o mo men to em que pa -
ga ria “à na tu re za seu ine vi tá vel tri bu to”, o ve te ra no de tan tas li des
po lí ti cas con ti nu a va aguer ri da men te a de fen der seus pon tos de vis ta e os
in te res ses de seu clas se so ci al – os qua is, de for ma com pre en sí vel, con ce bia 
como sen do os “mais no bres” e afe i tos ao de sen vol vi men to de todo o país.
Me mó ri as do Meu Tem po 35
43 Ca pí tu lo XI – “De mar ço de 1880 a ja ne i ro de 1882”. Nes te pon to, o au tor se re -
fe re à ten ta ti va frus tra da de Jo a quim Na bu co de dis cu tir, em agos to de 1880, um
pro je to que pre via como data fa tal para a es cra vi dão o ano de 1890, além de re co -
nhe cer como ain da vi gen te a lei de 1831 que abo li ra o trá fi co de afri ca nos para o
Bra sil, de cla ran do li vre to dos os ne gros in gres sos no ter ri tó rio na ci o nal a par tir da 
sua pro mul ga ção. Nun ca cum pri da, aque la lei fi cou co nhe ci da em nos sa his tó ria
como a “lei para in glês ver”, já que foi apro va da na épo ca por for ça de tra ta dos
co mer ci a is ce le bra dos en tre o Bra sil e a Ingla ter ra.
Ven ci do por ve zes no pas sa do, es pe ra va tri un far no fu tu ro al can çan do
êxi to so bre a me mó ria das ge ra ções sub se qüen tes – como ele lem bra, a
“crí ti ca é sem pre in dul gen te para os fi na dos”. To da via, não
que ria se “es qui var” de “ne nhu ma res pon sa bi li da de” em seu pre -
sen te e não se fur tou em re gis trar, en tre tan tas ou tras po si ções, o seu des -
gos to pelo fim da es cra vi dão, como fora de fi ni do a par tir do mi nis té rio
pre si di do por Ma nu el Pin to de Sou sa Dan tas, or ga ni za do em 6 de ju -
nho de 1884.44
“COR REN DO POR UM PLA NO IN CLI NA DO”45
Mes mo após mais de cem anos de sua pu bli ca ção ori gi nal,
Me mó ri as do Meu Tem po não de i xa de ser uma obra de in te res san te
le i tu ra para qual quer pes soa que te nha o mí ni mo de cu ri o si da de para
com as co i sas da po lí ti ca e, em es pe ci al, para com a ex pe riên cia de go ver no 
mo nár qui co-par la men tar pela qual o Bra sil pas sou du ran te a se gun da
me ta de do sé cu lo XIX. 
Escri to com gran de dose de pa i xão – sen ti men to nun ca au sen te
das pro ce las pú bli cas, nas qua is seu au tor sem pre es te ve en vol vi do – o
tex to ra ra men te per de rit mo e flu i dez; isto mes mo quan do o ob je ti vo é
ana li sar as ques tões con cer nen tes às fi nan ças, tema tido, em ge ral, por
ári do. Por ou tro lado, as nar ra ti vas das prin ci pa is ba ta lhas mi li ta res
ocor ri das du rante a Gu er ra do Pa ra guai têm um tom ain da mais vi -
bran te e se du tor;46 o qual se re pe te nas des cri ções das ses sões par la men ta res 
36 J. M. Pe re i ra da Sil va
44 Os tre chos em destaque, des te pa rá gra fo, cor res pon dem a frag men tos do Epí lo go,
vo lu me 1. 
45 Fra se do De pu ta do li be ral Lou ren ço Albu quer que, pro fe ri da para ata car o pro je to 
do Ga bi ne te Dan tas so bre o ele men to ser vil e re pro du zi da por Pe re i ra da Sil va
em tre cho do Ca pí tu lo XIV – “De maio a de zem bro de 1884”, vo lu me 2. 
46 Cf., em es pe ci al, as des cri ções das ba ta lhas do Ri a chu e lo e de Tu i u ti, no Ca pí tu lo
III – “De maio de 1865 a agos to de 1866”; da “Pas sa gem em Hu ma i tá”, no Ca pí -
tu lo V – “De ju lho de 1868 a maio de 1869” e das ba ta lhas fi na is da guer ra no
Ca pí tu lo VI – “De maio de 1869 a mar ço de 1871”, vo lu me 2. 
mais cru ci a is, em que se pro ce de ram a vo ta ções re le van tes ou quan do ga -
bi ne tes mi nis te ri a is ru í ram ante à opo si ção de par ce las ma jo ri tá ri as de
mem bros da câ ma ra tem po rá ria. 
Sem som bra de dú vi das, a ex pe riên cia de Pe re i ra da Sil va
como au tor de fo lhe tins e ro man ces con tri bu iu para a for ma as su mi da pe -
las Me mó ri as. To da via, pa re ce-nos que a agi li da de da es cri ta e o in te -
res se am plo pelo tex to de vem an tes se rem tri bu ta dos à op ção dele pela se -
qüên cia ri go ro sa da cro no lo gia dos acon te ci men tos – evi den ci a da pela for -
ma como di vi de os ca pí tu los nos dois vo lu mes: sem pre ten do por pa râ me -
tro, a de pen der da oca sião, subs ti tu i ções mi nis te ri a is, pro ces sos ele i to ra is
ou iní ci os/tér mi nos das ses sões anu a is das vá ri as le gis la tu ras. Opção
que, in de pen den te das pre o cu pa ções ime di a tas de seu au tor no mo men to
da es cri ta da obra, leva a um ma pe a men to im por tan te do in trin ca do jogo
po lí ti co-par ti dá rio do Se gun do Re i na do em que os in te res ses dos gru pos
so ci a is re pre sen ta dos nas ca sas le gis la ti vas eram re la ti va men te cons tan tes, 
mas as for mas para con tem plá-los, as ali an ças com ad ver sá ri os de vés pe -
ra ou as dis si dên ci as com re la ção a com pa nhe i ros de anos sem pre múl ti -
plas, cir cuns tan ci a is e pas sí ve is de rá pi das mo di fi ca ções. Em uma pa la -
vra, o tex to é flu i do por que a ma té ria que nar ra tem esta ca rac te rís ti ca
por ex ce lên cia e nin guém me lhor do que um par ti ci pan te do Par la men to
por mais de qua tro dé ca das para dar con ta de trans mi tir isto. 
Nes te sen ti do, po dem ser to ma dos por em ble má ti cos os ca pí tu los
de XII a XV, do se gun do vo lu me, nos qua is Pe re i ra da Sil va nar ra as
ad mi nis tra ções li be ra is de 1882–1884, que cul mi na ram com a su bi da
ao po der do ga bi ne te pre si di do por Ma nu el Pin to de Sou sa Dan tas e
to dos os re ve ses por ele so fri do ao ten tar en ca mi nhar um pro je to de eman -
ci pa ção de fi ni ti va da es cra vi dão.47 Ca pí tu los im por tan tes no es co po ge ral
da obra por ser onde o au tor pro cu ra de mons trar cu i da do sa men te sua
tese so bre o fim da mo nar quia; mas tam bém ca pí tu los fun da men ta is
Me mó ri as do Meu Tem po 37
47 São res pec ti va men te os ca pí tu los: “De ja ne i ro a ju lho de 1882” , “De ju lho de 1882 
a maio de 1883”, “De maio a de zem bro de 1884” e “De ja ne i ro a agos to de 1885”. 
para os es tu di o sos de po lí ti ca em ge ral, pois ne les Pe re i ra da Sil va não
de i xa de cha mar aten ção para o fato de que não é por meio de ge ne ra li -
za ções em tor no de pro pos tas po lí ti co-ad mi nis tra ti vas, que con se gui re mos
com pre en der as di vi sões en tre e in tra gru pos só cio-par ti dá ri os. 
De fato, os li be ra is, se gun do o au tor de Me mó ri as, es ti ve ram 
de su ni dos não só quan to a me lhor ma ne i ra de se re a li zar uma lei or ça -
men tá ria que ga ran tis se o equi lí brio das con tas do Esta do. Eles não lo -
gra ram en trar em acor do so bre pon tos fun da men ta is de seu pro gra ma po -
lí ti co que de ve ria ser im ple men ta do uma vez que es ta vam no go ver no –
fato que se ex pres sa pe las cons tan tes tro cas mi nis te ri a is ocor ri das en tre
1882–1885. Por con se guin te, Pe re i ra da Sil va na que les ca pí tu los, mes mo 
que ren do atri bu ir cul pas his tó ri cas a an ti gos ad ver sá ri os, aca bou por de -
mons trar como em po lí ti ca as re a li za ções di fe ren ci am-se na for ma, nas
es tra té gi as para fazê-las: os li be ra is apre sen ta vam-se uni dos quan do tra -
ta vam ge ne ri ca men te aos prin ci pa is pon tos de seu pro gra ma par ti dá rio,
mas to tal men te di vi di dos quan do lhes cum pria de fi nir prag ma ti ca men te
as ma ne i ras para im ple men tar os tais pon tos. 
Dan tas foi o quar to pre si den te de Con se lho li be ral, du ran te a
Dé ci ma-Oi ta va le gis la tu ra (1882–1884). Tra ta va-se da pri me i ra em que 
a Câ ma ra de De pu ta dos fora ele i ta di re ta men te, após a re for ma ele i to ral
re a li za da du ran te o Ga bi ne te Sa ra i va e apre sen ta va, em 122 de pu ta dos,
75 li be ra is e 47 con ser va do res.48 Por dis si dên ci as par ti dá ri as, que não ul -
tra pas sa ram a vin te de pu ta dos, ca í ram os ga bi ne tes pre si di dos por Mar ti -
nho Cam pos (em 30 de ju nho de 1882) e por João Lus to sa da Cu nha
38 J. M. Pe re i ra da Sil va
48 Afo ra as ins tru ções ex pe di das pelo Mi nis té rio do Impé rio em 4 de maio de 1842,
com base ape nas no tex to cons ti tu ci o nal de 1824 e que ori en ta ram o ple i to da -
que le ano e o de 1843, o Se gun do Re i na do teve ou tras qua tro leis ele i to ra is an tes da 
que fora apro va da em 9 de ja ne i ro de 1881 (Lei nú me ro 3.029) e que es ta be le cia a
ele i ção di re ta, em que eram ele i to res to dos os ci da dãos bra si le i ros al fa be ti za dos, que 
ti ves sem ren da lí qui da anu al não in fe ri or a 200$ por bens de raiz, in dús tria, co mér -
cio ou em pre go. Além dis so, aque la lei di vi dia as pro vín ci as em dis tri tos ele i to ra is
que es co lhi am ape nas um re pre sen tan te e nos qua is se re a li za va um se gun do es cru -
tí nio en tre os dois mais vo ta dos, no caso de ne nhum dos can di da tos con se gui rem
Pa ra na guá (em 14 de maio de 1883). La fa i e te Ro dri gues Pe re i ra so li ci tou 
de mis são, em 4 de ju nho de 1884, após ter con se gui do bar rar uma mo ção
de des con fi an ça por ape nas 4 vo tos de di fe ren ça na ses são do dia an te ri or. 
Os três go ver nos su cum bi ram após ten ta ti vas fra cas sa das de for -
ma tar pro je tos de leis que con fe ris sem ma i or au to no mia às ad mi nis tra ções
das pro vín ci as e das mu ni ci pa li da des – um dos te mas ca ros ao Par ti do Li -
be ral e que cons ta va há mais de uma dé ca da de seu pro gra ma. Espe ci fi ca -
men te, Cam pos caiu quan do ten tou adi ar a dis cus são de um re la tó rio, pro -
du zi do por uma co mis são for ma da por re pre sen tan tes da Câ ma ra e do Se -
na do, so bre mu dan ças na lei ele i to ral na par te re la ti va à ele i ção de ve re a -
do res e de pu ta dos pro vin ci a is; Pa ra na guá re sig nou o go ver no de po is que
pas sou a ser ata ca do por ali a dos por ter re vo ga do vá ri os im pos tos es ta be le -
ci dos pe las as sem bléi as das pro vín ci as, mas ti dos por in cons ti tu ci o na is pelo
go ver no cen tral. La fa i e te se viu em mi no ria quan do, após apre sen tar pro -
pos tas fe cha das para nova lei das mu ni ci pa li da des e para o ca sa men to ci vil, 
de mi tiu o en tão mi nis tro da Guer ra para re com por seu ga bi ne te e con se guir 
os vo tos ne ces sá ri os à apro va ção das me di das – ma no bra que não teve
qual quer êxi to e abre vi ou a sua per ma nên cia à tes ta do mi nis té rio.
Me mó ri as do Meu

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