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História do Brasil_Configuração Territorial da América Portuguesa_Resumo: FAUSTO, B.;GOES Filho, S. S; YEDDA LINHARES, M.

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FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2008. Capítulo 2, pp. 30-90. 
GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a formação 
das fronteiras do Brasil. Capítulos V e VI, pp. 113-166. 
YEDDA LINHARES, Maria (org). História geral do Brasil. 20a tiragem. Rio de Janeiro: Campus - 
Elsevier, 2000. Capítulo 2, pp. 95-109 
 
História do Brasil 
O Brasil Colonial: configuração territorial da América portuguesa 
 
Período Pré-Colonial 
 As décadas iniciais do período pré-colonial demonstram que o interesse mercantil de 
Portugal não estava na América, mas na Ásia, e a ocupação americana tinha objetivo estritamente 
geopolítico. Os objetivos que moviam a colonização portuguesa no século XVI “não eram terra, mas o 
Império sobre o comércio marítimo”. A conquista de território era apenas um meio de assegurar a 
supremacia marítima, o controle do Oceano Atlântico, cuja rota levaria às especiarias asiáticas; estas, 
sim, objeto de cobiça mercantil lusitana. 
 Nesses anos iniciais, entre 1500 e 1535, a principal atividade econômica foi a extração do 
pau-brasil, obtida principalmente mediante troca com os índios. Era encontrado com abundância em 
todo o litoral, mas toda a produção dependeria de uma relação amistosa com os indígenas, não 
apenas para assegurar a troca, mas, sobretudo, para o abate das árvores (na escala desejada) e o seu 
aparelhamento, o que exigia a incorporação pelos nativos de instrumentos de metal e novas técnicas 
de trabalho. 
 Os tupis-guaranis estendiam-se por quase toda a costa brasileira, desde pelo menos o Ceará 
até a Lagoa dos Patos, no extremo Sul. Em alguns pontos do litoral, a presença tupi-guarani era 
interrompida por outros grupos, como os goitacases na foz do rio Paraíba, pelos aimorés no Sul da 
Bahia e no norte do Espírito Santo, e pelos tremembés na faixa entre o Ceará e o Maranhão. Essas 
populações eram chamadas tapuias, uma palavra genérica usada pelos tupis-guaranis para designar 
índios que falavam outra língua. 
 Os grupos tupis derrubavam árvores e faziam a queimada – técnica que viria a ser 
incorporada pelos colonizadores. Plantavam feijão, milho, abóbora e, principalmente, mandioca, cuja 
farinha se tornou também um alimento básico da Colônia. A economia era basicamente de 
subsistência e destinada ao consumo próprio. Cada aldeia produzia para satisfazer a suas 
necessidades, havendo poucas trocas de gêneros alimentícios com outras aldeias. 
 Como não existia uma nação indígena, mas grupos dispersos, muitas vezes em conflito, foi 
possível aos portugueses encontrar aliados entre os próprios indígenas na luta contra os grupos que 
resistiam a eles. 
 Inicialmente, o modelo de colonização seguido foi o privado. Em 1502, D. Manuel I arrendou 
a Terra de Santa Cruz a uma associação de mercadores encabeçada por Fernão de Loronha. A política 
portuguesa para o Brasil não se prendia, porém, a um modelo único, variou de acordo com as 
circunstâncias e, sobretudo, com as ameaças de franceses e espanhóis à sua supremacia. 
 
Início da Colonização 
 Considerações políticas levaram a Coroa portuguesa à convicção de que era necessário 
colonizar a nova terra. A expedição de Martim Afonso de Sousa (1530-1533) representou um 
momento de transição entre o velho e o novo período. Tinha por objetivo patrulhar a costa, 
estabelecer uma colônia pela concessão não hereditária de terras aos povoadores que trazia e 
explorar a terra, tendo em vista a necessidade de sua efetiva ocupação. 
 Há indícios de que Martim Afonso ainda se encontrava no Brasil quando Dom João III decidiu-
se pela criação das capitanias hereditárias. O Brasil foi dividido em quinze quinhões, por uma série de 
linhas paralelas ao Equador que iam do litoral ao meridiano de Tordesilhas, sendo os quinhões 
entregues aos chamados capitães-donatários. 
 Nenhum representante da grande nobreza se incluía na lista dos donatários, pois os negócios 
na Índia, em Portugal, e nas ilhas atlânticas eram, por essa época, bem mais atrativos. 
 Os donatários receberam uma doação da Coroa, pela qual se tornavam possuidores, mas não 
proprietários da terra. Isso significava, entre outras coisas, que não podiam vender ou dividir a 
capitania, cabendo ao rei o direito de modificá-la ou mesmo extingui-la. A posse dava aos donatários 
extensos poderes tanto na esfera econômica (arrecadação de tributos) como na esfera 
administrativa. A instalação de engenhos de açúcar e de moinhos de água e o uso de depósitos de sal 
dependiam do pagamento de direitos; parte dos tributos devidos à Coroa pela exploração de pau-
brasil, de metais preciosos e de derivados da pesca cabia também aos capitães-donatários. Do ponto 
de vista administrativo, eles tinham o monopólio da justiça, autorização para fundar vilas, doar 
sesmarias, alistar colonos para fins militares e formar milícias sob seu comando. 
 A atribuição de doar sesmarias é importante, pois deu origem à formação de vastos 
latifúndios. A sesmaria foi conceituada no Brasil como uma extensão de terra virgem cuja 
propriedade era doada a um sesmeiro, com a obrigação de cultivá-la no prazo de cinco anos e de 
pagar o tributo devido à Coroa. 
 Com exceção das capitanias de São Vicente e Pernambuco, as outras fracassaram em maior 
ou menor grau, por falta de recursos, desentendimentos internos, inexperiência, ataques de índios. 
As mais prósperas combinaram a atividade açucareira e um relacionamento menos agressivo com as 
tribos indígenas. A colonização na capitania de São Vicente, à diferença das demais, manteve-se 
sempre voltada para a busca de minerais e pedras preciosas, secundada pela captura e pelo 
comércio de escravos indígenas. 
 As capitanias foram sendo retomadas pela Coroa, ao longo dos anos, por meio da compra e 
subsistiram como unidade administrativa, mas mudaram de caráter, por passarem a pertencer ao 
Estado. 
 
Governo-Geral 
 A decisão tomada por Dom João III de estabelecer o Governo-Geral do Brasil ocorreu em um 
momento em que alguns fatos significativos aconteciam com relação à Coroa portuguesa, na esfera 
internacional. 
 Os protestantes holandeses consideravam ilegítima a divisão do mundo feita pelo Papa e 
pelos Habsburgos, reivindicando a livre concorrência internacional. Neste sentido, e, ao mesmo 
tempo, procurando evitar um conflito direto com os Habsburgos, os holandeses passaram a realizar 
empresas com o objetivo de conquistar as posições comerciais dos seus rivais portugueses. 
 Os franceses e os ingleses logo seguiram o exemplo holandês e, não reconhecendo os 
tratados de partilha do mundo, juntaram-se à competição comercial. Esses dois Estados 
concentraram suas atenções na Índia, onde logo suplantaram os portugueses. 
 Se todos esses fatores podem ter pesado na decisão da Coroa, o fracasso das capitanias 
tornou mais claros os problemas da precária administração da América lusitana. Assim, a instituição 
do Governo-Geral representou, de fato, um passo importante na organização administrativa da 
Colônia. 
 À diferença das Índias, onde a presença portuguesa era descontínua e convivia com 
instituições bastante heterogêneas, o objetivo básico no Brasil passou a ser o controle territorial, 
criando uma unidade entre núcleos dispersos e vulneráveis e implantando solidamente as suas 
próprias instituições políticas. O que El Rey tinha em mira era estabelecer a plena e total submissão 
da população autóctone, fazendo a guerra aos que não aceitavam o domínio português e retirando 
dos franceses qualquer respaldo para as suas iniciativas no Brasil. 
 Vinham com o Governador-Geral os primeiros jesuítas – Manuel da Nóbrega e seus cinco 
companheiros –, com o objetivo de catequizar os índios e disciplinar o ralo clerode má fama 
existente na colônia. Posteriormente, criou-se o bispado de São Salvador, sujeito ao arcebispado de 
Lisboa, caminhando-se, assim, para a organização do Estado e da Igreja. 
 Em Portugal, a Igreja encontrava-se submetida ao Estado por meio de um mecanismo 
conhecido como padroado real. O padroado consistiu em uma ampla concessão da Igreja Romana ao 
Estado português, em troca da garantia de que a Coroa promoveria e asseguraria os direitos e a 
organização da Igreja em todas as terras descobertas. 
 A Inquisição não se instalou em caráter permanente no Brasil, e suas aterrorizantes visitas, 
com exceção da realizada ao Estado do Grão-Pará em 1763-1769, ocorreram na época em que a 
Coroa portuguesa esteve nas mãos dos reis da Espanha. 
 O controle da Coroa sobre a Igreja foi, em parte, limitado pelo fato de que a Companhia de 
Jesus, até a época do Marquês de Pombal (1750-77), teve forte influência na Corte. Na Colônia, o 
controle sofreu outras restrições. As ordens obedeciam a regras próprias de cada instituição e 
tinham uma política definida com relação a questões vitais da colonização, como a indígena. Além 
disso, na medida em que se tornaram proprietárias de grandes extensões de terra e 
empreendimentos agrícolas, as ordens religiosas não dependiam da Coroa para sua sobrevivência. 
O início dos governos-gerais representou também a fixação de um polo administrativo na 
organização da Colônia. Obedecendo às instruções recebidas, Tomé de Sousa empreendeu o longo 
trabalho de construção de São Salvador, capital do Brasil até 1763. 
 Quanto às instituições e órgãos da administração portuguesa no Brasil, destacavam-se, entre 
as figuras de cúpula, os governadores de capitania. Acima deles, ficava o Governador-Geral. A partir 
de 1763, quando a sede do governo foi transferida da Bahia para o Rio de Janeiro, tornou-se comum 
a outorga ao Governador Geral, pelo Rei, do título de Vice-Rei e Capitão-General do Mar e Terra do 
Estado do Brasil. Os vice-reis representavam e encarnavam, à distância, a pessoa do monarca 
português. 
 Os demais órgãos administrativos podem ser agrupados em três setores: o Militar, o da 
Justiça e o da Fazenda. As forças armadas de uma capitania compunham-se da tropa de linha, das 
milícias e dos corpos de ordenanças. Os órgãos da Justiça, às vezes com funções administrativas, 
eram representados pelos vários juízes, entre os quais se destacava o ouvidor da comarca, nomeado 
pelo soberano por três anos. Para julgar recursos das decisões, existiam os Tribunais da Relação, 
presididos pelo Governador ou pelo Vice-Rei. Por sua vez, o principal órgão encarregado de arrecadar 
tributos e determinar a realização de despesas era a Junta da Fazenda, presidida também pelo 
governador de cada capitania. 
 Devemos, por último, fazer referência especial a um órgão de poder constituído de membros 
da sociedade: as Câmaras Municipais, com sede nas vilas e nas cidades. Nos primeiros tempos da 
colônia, Câmaras como a de São Luís, Rio de Janeiro e São Paulo tornaram-se, de fato, a principal 
autoridade das respectivas capitanias, sobrepondo-se aos governadores e chegando mesmo, em 
alguns casos, a destituí-los. Posteriormente, seu poder diminuiu, refletindo a concentração da 
autoridade nas mãos dos representantes da Coroa. 
 A tentativa de transpor a organização administrativa lusa para o Brasil chocou-se com 
inúmeros obstáculos, dada a extensão da Colônia, a distância da Metrópole e a novidade dos 
problemas a serem enfrentados. O Estado foi estendendo seu alcance ao longo dos séculos, sendo 
mais presente nas regiões que eram o núcleo fundamental da economia de exportação. Nas outras 
regiões, predominaram as ordens religiosas, especialmente a dos jesuítas, considerada um Estado 
dentro do Estado, ou os grandes proprietários rurais e apresadores de índios. 
 O bandeirismo paulista não foi uma iniciativa do Estado. Compatibilizou-se, em regra, com os 
interesses do governo português, definindo-se, porém, ao mesmo tempo, como uma iniciativa da 
sociedade local, independentemente da vontade do poder metropolitano. 
 Com a descoberta das minas de ouro e diamantes no início do século XVIII, o Estado 
aumentou seus controles, com o objetivo de organizar uma sociedade de rápido crescimento e 
assegurar a percepção dos tributos sobre as novas riquezas. 
 
O Trabalho Compulsório 
Como aconteceu em toda a América Latina, o Brasil viria a ser uma colônia cujo sentido 
básico seria o de fornecer ao comércio europeu gêneros alimentícios ou minérios de grande 
importância. A política da Metrópole portuguesa consistiu no incentivo à empresa comercial, com 
base em uns poucos produtos exportáveis em grande escala e assentada na grande propriedade. 
Ao lado da empresa comercial e do regime de grande propriedade, acrescentemos um 
terceiro elemento: o trabalho compulsório. 
No contexto em que se deu a colonização – terras abundantes, forte tributação 
metropolitana, condições comerciais, no conjunto, mais favoráveis à metrópole, necessidade de 
importar a alto custo todo o ferro consumido (até fins do século XVIII) – a tendência foi, 
naturalmente, reduzir ao mínimo indispensável os investimentos em tecnologia, o que favorecia 
formas compulsórias de trabalho. Além disso, não havia grande oferta de trabalhadores em 
condições de emigrar como semidependentes ou assalariados. 
 Por fim, o pacto colonial tendia a drenar das colônias a maior parte do metal precioso e das 
moedas cunhadas, resultando, de tal tendência, uma séria falta de dinheiro em circulação. Tal fato 
também ajudou a configurar uma situação em que o desenvolvimento de relações salariais típicas 
era forçosamente muito limitado, dada a insuficiente mercantilização e monetarização interna da 
economia colonial. 
 
A escravidão: índios e negros 
Características principais do escravo: 1) sua pessoa é propriedade de outro homem; 2) sua 
vontade está subordinada à autoridade de seu dono; 3) seu trabalho é obtido mediante coação. A 
sua situação não depende da relação que tenha com um senhor em particular, e não está limitada no 
tempo e no espaço: sua condição é hereditária e a propriedade sobre sua pessoa é transmissível por 
venda, doação, legado, aluguel, empréstimo, confisco etc. Essa característica transforma o escravo, 
legalmente, em coisa. E, no entanto, sua incapacidade jurídica não é acompanhada pela incapacidade 
penal: pelo contrário, ao escravo estão reservados os castigos mais duros e a tortura. 
O Brasil nunca pertenceu à zona nuclear do povoamento pré-colombiano. A densidade de 
sua população autóctone, no momento do contato inicial, era muito menor do que a então existente 
na Mesoamérica ou na Zona Andina Central, o que influiu na questão do trabalho colonial. 
Não tendo qualquer antecedente de trabalho agrícola intensivo – ao contrário de muitos 
africanos – e originários de uma economia dominada pelo valor de uso e não por finalidades 
mercantis, os índios resistiam fortemente às imposições de um trabalho contínuo (sendo, ainda, 
entre os índios, feminino o trabalho agrícola propriamente dito, cabendo aos homens a abertura de 
clareiras), o que lhes valeu a pecha de “preguiçosos”, atribuída pelos que tentavam escravizá-los. 
É preciso, ainda, ressaltar a ação da Igreja Católica. Os missionários tentaram, durante muito 
tempo, com sucesso variável conforme lugares e épocas, impedir a escravidão dos índios, em 
especial, daqueles que se reuniam em aldeias e em missões. Em áreas recuadas de população 
indígena parcialmente nômade, no entanto, as missões religiosas constituíram um esforço de gerar 
um campesinato indígena sedentário como base para a colonização, através da autorreprodução de 
uma mão de obra, em princípio, livre,a que teriam acesso os próprios religiosos, o governo e os 
colonos, segundo certas regras. 
As epidemias, a mortalidade ligada ao trabalho forçado, a ruptura da economia de 
subsistência indígena tradicional e a fuga de tribos inteiras mais para o interior acabaram por 
inviabilizar uma plantation açucareira baseada principalmente no trabalho dos índios, seja escravo, 
seja livre, mas compulsório. Assim, as primeiras décadas do século XVII viram a transição ao 
predomínio da escravidão negra. 
Costumava-se dividir os povos africanos em dois grandes ramos étnicos: os sudaneses, 
predominantes na África ocidental, e os bantos, da África equatorial e tropical, de parte do Golfo da 
Guiné, do Congo, Angola e Moçambique. Os grandes centros importadores de escravos foram 
Salvador e, depois, o Rio de Janeiro, cada qual com sua organização própria e fortemente 
concorrentes. Os traficantes baianos utilizaram-se de uma valiosa moeda de troca no litoral africano, 
o fumo produzido no Recôncavo. 
 O século XVII foi, de fato, aquele em que o nordeste do Brasil se transformou, 
pioneiramente, em relação a outras áreas afro-americanas, em região típica de plantations – os 
engenhos de açúcar assentados, sobretudo, no trabalho de escravos africanos. 
Seria errôneo pensar que, enquanto os índios se opuseram à escravidão, os negros 
aceitaram-na passivamente. Fugas individuais ou em massa, agressões contra senhores, resistência 
cotidiana fizeram parte das relações entre senhores e escravos, desde os primeiros tempos. Os 
quilombos, ou seja, estabelecimento de negros que escapavam à escravidão pela fuga e 
recompunham no Brasil formas de organização social semelhantes às africanas, existiram às centenas 
no Brasil colonial. 
Dentre os vários fatores, porém, que limitaram as possibilidades de rebeldia coletiva, os 
negros, ao contrário dos índios, eram desenraizados de seu meio, separados arbitrariamente, 
lançados em levas sucessivas em território estranho. Por outro lado, nem a Igreja nem a Coroa se 
opuseram à escravização do negro. 
Um dos efeitos da mineração foi o surgimento de uma rede urbana considerável nas zonas 
de minas e o crescimento do tamanho e importância do Rio de Janeiro – porto de abastecimento das 
minas e de saída do ouro, capital colonial desde 1763 e sede da corte portuguesa desde 1808. 
A escassez aguda de mulheres brancas nas regiões de mineração levou, ainda, nas primeiras 
décadas, a uma intensa mestiçagem, o que, aliada ao desenvolvimento urbano, acabou por resultar 
em uma sociedade mais complexa, com incidência maior de alforria. 
Pela força das coisas, os escravos urbanos gozavam de maior liberdade de movimentos, em 
uma sociedade que abria uma gama mais variada de atividades do que a rural aos cativos e libertos, 
que podiam ser artesãos, vendedores, carregadores, “escravos de ganho”, escravos alugados etc. 
Não somente havia maior chance de que os cativos acumulassem um pecúlio e comprassem a 
liberdade, como também há provas de maiores possibilidades econômicas e sociais para os libertos. 
 
A Sociedade Colonial 
Um princípio básico distinguia as categorias sociais na colônia: a pureza de sangue. Impuros 
eram os cristãos-novos, os negros, mesmo quando livres, os índios, em certa medida, e as várias 
espécies de mestiços. 
No alto da pirâmide social, ficavam os grandes proprietários rurais, os comerciantes voltados 
ao comércio exterior e, ao longo dos anos, os grupos concentrados no Rio de Janeiro, que se 
dedicavam, principalmente, ao tráfico de escravos, às inversões imobiliárias e à usura. Esse grupo, 
constituído majoritariamente por brasileiros, acentuou as distinções entre interesses da Metrópole e 
interesses dos setores dominantes na Colônia. 
 A condição de livre ou de escravo estava muito ligada à etnia e à cor. Os escravos eram, em 
primeiro lugar, negros, depois, índios e mestiços. Toda uma nomenclatura se aplicava aos mestiços, 
distinguindo-se os mulatos, nascidos da união de brancos e negros; os mamelucos, curibocas ou 
caboclos, nascidos da união entre branco e índio; os cafuzos, resultantes da união entre negro e 
índio. 
 Outras distinções referiam-se à nacionalidade, ao tempo de permanência no país ou à cor da 
pele. “Boçal” era o cativo recém-chegado da África, ignorante da língua e dos costumes; “ladino”, o 
que já estava relativamente adaptado, falando e entendendo o português; “crioulo” era o nascido no 
Brasil. Em geral, mulatos e crioulos eram preferidos para as tarefas domésticas, artesanais e de 
supervisão, cabendo aos escuros, sobretudo os africanos, os trabalhos mais pesados. 
 A condição dos livres ou libertos era ambígua. Considerados formalmente livres, voltavam, na 
prática, a ser escravizados de forma arbitrária. O próprio sistema de estratificação sócio-étnica serviu 
de elemento reprodutor do sistema colonial de poder e das relações de produção existentes, uma 
vez que barrava o acesso de índios, negros e mestiços a certas profissões, vantagens sociais e 
regalias. 
Se o tráfico africano foi, talvez, a mais importante corrente migratória no concernente à 
formação do mundo do trabalho na Colônia, também teve importância o fluxo de brancos pobres. 
Roceiros, pequenos lavradores, trabalhadores povoaram os campos; as poucas cidades reuniram 
vendedores de rua, pequenos comerciantes, artesãos. Na região mineira e nos centros urbanos, 
como Salvador e Rio de Janeiro, existiam burocratas e administradores, letrados e gente dedicada às 
chamadas profissões liberais, especialmente a advocacia. 
 
A Colonização do Norte 
Longe do centro principal da vida da Colônia, o Norte do Brasil viveu uma existência muito 
diversa do Nordeste. Até 1612, quando os franceses se estabeleceram no Maranhão, fundando São 
Luís, os portugueses não tinham demonstrado maior interesse por se instalar na região. Os riscos de 
perda territorial levaram à luta contra os franceses que ali se tinham instalado e, em 1616, à 
fundação de Belém. Essa foi a base de uma gradual penetração pelo rio Amazonas, percorrido na 
viagem de Pedro Teixeira (1637) até o Peru. 
A Coroa, nas mãos da Espanha, estabeleceu uma administração à parte no Norte do país, 
criando o Estado do Maranhão e Grão-Pará, com governador e administração separados do Estado 
do Brasil. O Estado do Maranhão teve existência, pelo menos formal e intermitente, até 1774. 
A Amazônia portuguesa manteve-se, durante toda a época colonial, como região pobre e 
subpovoada. Até 1750, o sistema econômico da região tinha como setor dominante a atividade 
coletora de produtos florestais (“drogas do sertão”) e as expedições para escravização de índios, em 
teoria, condenados à morte por outros índios (tropas de resgate). Havia, ainda, um setor agrário 
subsidiário, constituído por pequeno número de grandes propriedades (engenhos, fazendas de 
gado), que empregavam escravos, libertos índios e, ilegalmente, índios das missões repartidos; pelo 
setor agrário das próprias missões; por um campesinato variado; e por atividades autônomas dos 
escravos índios nas parcelas que recebiam em usufruto no interior das fazendas. 
Tal sistema econômico reproduzia sua mão de obra, através das missões e das tropas de 
resgate, o que convinha a uma região pobre, ocupada, em primeiro lugar, por motivos estratégicos 
(expulsão dos estrangeiros, proteção da retaguarda das minas de ouro), enfrentando obstáculos 
naturais enormes à colonização e carente de imigrantes e capitais. 
As tentativas de implantar uma agricultura exportadora baseada no açúcar e no algodão, em 
grande medida, fracassaram até as últimas décadas do século XVIII. Por essa época, o Maranhão 
transformou-se rapidamente em importante região produtora de algodão e o seu plantio seestendeu ao Nordeste. 
 
A Colonização do Sudeste e do Centro-Sul 
 A colonização da capitania de São Vicente começou, como a do Nordeste, pelo litoral, com o 
plantio de cana e a construção de engenhos. Essa atividade não foi muito longe. O açúcar produzido 
concorria desvantajosamente com o do Nordeste, seja pela qualidade do solo, seja pela maior 
distância dos portos europeus. 
 Por outro lado, a existência de índios, em grande número, atraiu para a região os primeiros 
jesuítas. Em 1554, os padres Nóbrega e Anchieta fundaram no planalto a povoação de São Paulo, 
convertida em vila em 1561, aí instalando o colégio dos jesuítas. Separados da costa pela barreira 
natural, os primeiros colonizadores e os missionários se voltaram, cada vez mais, para o sertão. 
 Os povoadores combinaram o plantio da uva, do algodão e, sobretudo, do trigo com outras 
atividades que os levaram a uma profunda interiorização nas áreas desconhecidas ou pouco 
exploradas do Brasil. Criadores de gado paulistas espalharam-se pelo Nordeste. No Sul, o atual 
Paraná tornou-se uma extensão de São Paulo. O gado esparramou-se por Santa Catarina, pelo Rio 
Grande do Sul e pela Banda Oriental (Uruguai). 
 A grande marca deixada pelos paulistas na vida colonial do século XVII foram as bandeiras. 
Expedições que reuniam, às vezes, milhares de índios, lançavam-se pelo sertão, aí passando meses e 
até anos, em busca de indígenas a serem escravizados e metais preciosos. Do ponto de vista da 
organização social, os paulistas construíram uma sociedade rústica, com menor distinção entre 
brancos e mestiços, influenciada pela cultura indígena. 
 As bandeiras tomaram as direções de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e as regiões onde se 
localizavam as aldeias de índios guaranis organizadas pelos jesuítas espanhóis. De um modo geral, a 
busca de metais preciosos, o apresamento de índios em determinados períodos e a expansão 
territorial eram compatíveis com os objetivos da Metrópole. Os bandeirantes serviram também aos 
propósitos de repressão de populações submetidas, no Norte e Nordeste do país. Domingos Jorge 
Velho conduziu a campanha final de liquidação do Quilombo dos Palmares em Alagoas (1690-1695). 
Missões religiosas fundadas no território do atual Rio Grande do Sul por jesuítas espanhóis 
haviam sido destruídas por caçadores de escravos índios provenientes de São Paulo no século XVII. O 
gado dessas missões proliferara em estado selvagem, sendo caçado por uma população bem pouco 
densa de mestiços. Se a carne era consumida, exportava-se o couro. 
O desenvolvimento de Minas Gerais veio a mudar as características da economia da região. 
Em primeiro lugar, criando uma demanda para o gado, que assim se valorizou. Em segundo lugar, 
gerando uma produção de mulas para o transporte entre a região das minas e a costa. A partir do 
início do século XVIII, homens de laguna e de São Paulo, soldados-criadores e outros beneficiários 
das sesmarias concedidas desde 1733 iniciaram o processo de reunir o gado selvagem em grandes 
fazendas criadoras, as estâncias. Os mestiços, que antes caçavam o gado selvagem, coletavam mate, 
bem como muitos índios, foram submetidos às estâncias como empregados. 
O ouro se alguns pontos da costa, a caça aos índios e o gado abundante das vacarías 
começaram a atrair algumas levas de paulistas: Paranaguá (1648), São Francisco (1650), a ilha de 
Santa Catarina (1675) e Laguna (1676) são os pontos sucessivamente ocupados no litoral, sempre na 
direção sul. 
Por várias razões, o Governo português tinha decidido pouco antes de 1680 fundar um 
estabelecimento na margem norte do Prata: ocupar uma área livre e concorrer com os lucros do 
próspero contrabando efetuado por portugueses em Buenos Aires parecem ter sido os alvos 
imediatos; criar condições para a ulterior conquista de Buenos Aires seria o objetivo mais remoto, 
segundo alguns autores. 
A armada de D. Mauel Lobo desembarcou na margem oposta a Buenos Aires em janiero de 
1680 e deu início às primeiras construções da Nova Colônia do Santíssimo Sacramento. Infrutíferas as 
tentativas de desalojar os portugueses por bem, os espanhóis atacaram-nos finalmente em agosto e, 
após um cerco de 23 dias, tomaram o povoado nascente. Foi a primeira ocupação espanhola da 
Colônia. 
Portugal protesta e obtém a restituição da praça em 1681. Em 1704, ocorreu o segundo 
ataque e a segunda vitória dos espanhóis de Buenos Aires, desta vez após um cerco de cinco meses. 
A permanência castelhana durou até 1715, quando o Tratado de Utrecht mandou restituir Colônia 
aos portugueses pela segunda vez. Os portugueses, em 1723, tentaram fortificar-se no sítio próximo, 
chamado Montevidéu, por sua situação privilegiada para o domínio da região e por ser um passo 
importante na ligação terrestre Colônia-Laguna. Estabeleceram-se nesse ponto, mas, meses depois, 
tiveram de abandoná-lo. Os espanhóis não demoraram em ocupá-lo, fundando definitivamente a 
cidade do mesmo nome em 1726. 
Falhando a ocupação de Montevidéu, os portugueses estabeleceram-se mais ao norte, em 
outro ponto intermediário de importância: o escoadouro da lagoa dos Patos. Desta vez, vieram para 
ficar, com a fundação de Rio Grande de São Pedro em 1737, origem do atual estado do Rio Grande 
do Sul. 
O próximo passo é a assinatura do Tratado de Madri, em 1750, pela qual Portugal trocou a 
Colônia do Sacramento pelos Sete Povos e legalizou a possa das grandes áreas ocupadas, o Centro-
Oeste e o Norte na atual divisão regional do Brasil. Mas as divergências não cessaram. Portugal não 
entregou Colônia, porque não pode, com a guerra guaranítica, pacificar os Sete Povos. Em 1762, os 
espanhóis tomam pela terceira vez Colônia, para restituí-la, no ano seguinte, conforme prescrevia o 
Tratado de paris. Em 1776, retomam Colônia, ocupam a ilha de Santa Catarina e Rio Grande. 
O Tratado de Santo Ildefonso viria a atribuir não só Colônia, mas também os Sete Povos à 
Espanha. Em 1801, tropas gaúchas reconquistarão os Sete Povos.

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