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DÍZIMO NO ANTIGO TESTAMENTO - Qual o sentido dos dízimos no Antigo Testamento (Ml.3:10) ? (Por Marcos Bittencourt) A palavra “dízimo” foi traduzida do original hebraico “ma’aser”, que significa a décima parte, ou dez por cento. O primeiro nível de contribuição encontrado na Bíblia é o dízimo, a décima parte da renda, consagrada ao Senhor. Aparece na Bíblia como prática dos patriarcas mesmo antes de ser instituído como lei em Israel; Abraão deu o dízimo a Melquisedeque (Gn.14:20) e Jacó também fez votos de dar a Deus o dízimo de tudo o que o Senhor lhe concedesse (Gn.28:22). Portanto, o dízimo não "nasceu" como uma ordenança e sim como um ato espontâneo, que depois foi instituído como lei. Geralmente quando ouvimos essa palavra pensamos logo em dinheiro e na obrigação que temos de mensalmente contribuir com 10% de toda a nossa renda para o sustento do trabalho da Igreja de Cristo. Convém lembrar que dízimo no Antigo Testamento nunca está relacionado a dinheiro. Dízimo está relacionado a comida, alimentos, produção agropecuária. Exceção ao caso de Abraão, que dizimou o despojo de guerra. Não que não houvesse dinheiro nos tempos Bíblicos. Algumas taxas para o Templo só eram aceitas em forma de dinheiro (Ex 30:14-16 e 38:24-31). O dinheiro era utilizado para comprar sepulturas (Gn 23:15-16). O dinheiro era usado para comprar bois para serem oferecidos em sacrifícios (2Sm 24:24). Era utilizado para pagar tributos vassalos (II Rs 23:33,35). Era utilizado para comprar imóveis (Jr 32:9-11). Para pagar salários (II Rs 22:4-7). Para fazer câmbios da moeda (Mc 11:15.17). O próprio Jesus foi vendido por dinheiro. Entretanto, Deus estabeleceu que as pessoas ligadas à produção agropecuária deveriam trazer os dízimos. Mas, nem todos trabalhavam plantando ou criando gado. Entretanto, a Bíblia fala de várias outras atividades profissionais não ligadas a agropecuária: Artesãos (Ex 31:3-5; 35:31-35; 2Rs 16:10); Padeiros (Gn 40:1-2; Jr 37:21; Os 7.4); Carpinteiros (II Sm 5:11; II Rs 12:11; II Cr 24:12; Ed 3:7; Is 44.13) Cozinheiros (I Sm 8:13; 9:23-24); Guardas (II Rs 22:4; 25:18; I Cr 15:23-24; Jr 35:4); Pescadores (Is 19:8, Jr 16:16; Ez 47:10) Mestres-de-Obra (Rt 2:5-6; I Rs 5:16; II Cr 2:2,18) Ourives (Ne 3:8, 31-32; Is 40:19; 41:7; Jr 10;9); Caçadores (Gn 10:9; 25:27; Jr 16:16); Mercadores (Gn 23:16; 37:28; I Rs 10:15; Ne 13:20) Músicos (I Rs 10:12; I Cr 6:33; 9:33; II Cr 5:12); Alfaiates (Ex 28:3; 35:25-26; II Rs 23:7; Pv 31:19) Coletores de impostos (Dn 11:20). Não possuímos referências bíblicas que estes trabalhadores pagavam dízimos, uma vez que os dízimos eram oferecidos somente em forma de grãos, ovelhas, gado. Também não temos referências bíblicas de que os frutos do trabalho podiam ser trocados ou compensados por ovelhas ou grãos a fim de se cumprir o procedimento dos dízimos. Seria pelo fato da nação de Israel ser de economia essencialmente agropastoril nos tempos da instituição do dízimo que regulamentação deste não focava estas outras classes de trabalhadores ou seria por serem de fato isentas do pagamento deste já que eram atividades trabalhistas perfeitamente conhecidas naquele tempo? O fato é que a Bíblia não menciona a regulamentação destas outras classes como devedoras do dízimo. Outra coisa é que nem sempre as pessoas eram pagas por sua atividade laborativa com dinheiro. Jacó trabalhou 14 anos para Labão e recebeu duas esposas como pagamento. Recebeu também ovelhas e bodes mais tarde. (Gn 29:15-30 e 30:32). Aqui o foco é mostrar que alguns profissionais recebiam seus salários em dinheiro como acontece hoje. Em II Rs 22:4-7 vemos os reparadores do Templo recebendo seus salários em dinheiro. Quem eram os reparadores do Templo? Carpinteiros, construtores, artesãos, pintores. Em I Sm 13-19:21 temos ferreiros ganhando seus honorários também em forma de dinheiro. Isto mostra que esta prática era conhecida e utilizada. E o que dizer das parábolas de Mt 20:1-2 e Lc 10:34-35 quando Jesus cita trabalhadores recebendo seus salários numa época em que os fariseus continuavam a dizimar o endro, hortelã e o cominho (alimentos, como vemos)? Sabemos que nos tempos bíblicos nem todas as pessoas tinham ovelhas, bois e grãos para dar ao Senhor. Dinheiro já existia desde os tempos de Abraão. Salário, comércio, negócios sempre existiram. Nos tempos antigos haviam variadas profissões e ocupações como hoje. Ofertas podiam ser trazidas em forma de dinheiro (II Rs 22:4-7). Mas, quando o assunto era dízimo, somente ovelhas, bois, grãos, comida. Se o israelita morasse distante do local de culto então poderia vender os produtos da terra e do campo, levando o dinheiro para comprar no local do culto o equivalente ao que vendeu em sua terra, para dizimar ao Senhor. Nesse momento de nossa argumentação convém observamos quatro textos fundamentais sobre a instituição do dízimo no Antigo Testamento: 1º) “Todos os dízimos do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor, são santos ao Senhor. No tocante a todos os dízimos de vacas e ovelhas, de tudo que passar por debaixo da vara do pastor, o dízimo (a décima parte) será santo ao Senhor. Não esquadrinhará entre o bom e o ruim, nem o substituirá. Se de algum modo o substituir, ambos serão santos, e não podem ser resgatados” (Lv 27:30-32). 2º) “Falarás aos levitas e lhes dirás: quando tiverdes dos filhos de Israel os dízimos que vou dou como herança da parte deles, separareis a parte do Senhor o dízimo dos dízimos. Essa parte tomará o lugar daquilo que é separado, a ser tomado de vós, como se fosse o trigo tomado da eira e o vinho novo tomado do lagar” (Nm.18.26-27). 3º) “Certamente darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que cada ano se recolher no campo. Perante o Senhor teu Deus, no lugar que Ele escolher para ali fazer habitar o Seu nome, comereis os dízimos do teu cereal, do teu vinho e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas, para que aprendas a temer ao Senhor teu Deus todos os dias. Mas se o caminho for longo demais, de modo que não os possas levar, por estar longe de ti o lugar que o Senhor teu Deus escolher para ali pôr o Seu nome, quando o Senhor teu Deus te tiver abençoado, então vende-os e leva o dinheiro na tua mão e vai ao lugar que o Senhor teu Deus escolher. Com esse dinheiro comprarás tudo o que deseja a tua alma, por vacas, ou ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer outra coisa que te pedir a tua alma. Come-o ali perante o Senhor teu Deus, e alegra-te tu e a tua família”(Dt 14:22:29). 4º) “Trareis a este lugar os vossos holocaustos e os vossos sacrifícios, os vossos dízimos e as vossas ofertas especiais, os vossos votos e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. Ali comereis na presença do Senhor vosso Deus e vos alegrareis com as vossas famílias por todo o bem que vos abençoar o Senhor vosso Deus. Então, ao lugar que escolher o Senhor vosso Deus... para ali trareis.... vossos dízimos” (Dt 12:6,7,11). Os textos de Levítico, Números e Deuteronômio afirmam claramente: 1) Que o dízimo deveria ser calculado sobre o fruto das semente, cereal, vinho, azeite, vacas e ovelhas. 2) Que o dizimista deveria comer seus dízimos no lugar em que o Senhor indicasse. 3) Que o dizimista poderia vender o dízimo e com o dinheiro apurado comprar o que desejasse comer e beber a sua alma. Mas, nada de levar dinheiro à presença do Senhor! Se alguém não pudesse transportar os dízimos em forma de alimentos, bois e vacas, deveria vendê-lo e com o dinheiro apurado comprar outras coisas para comer, beber e se alegrar. 4) Que o décimo animal (não o primeiro) deveria ser separado para o Senhor. Existem alguns que, tomando o texto de Pv 3:9, interpretam que devemos dar primeiro para Deus. Nada contra se fizermos isto.A Bíblia diz “ao que me honra, honrarei Eu” (I Sm 2:30). Mas, precisamos entender que biblicamente o termo “primícias” está ligado a qualidade e não a seqüência quantitativa. Tanto é verdade que A Biblia na Linguagem de Hoje traduziu este texto de Pv 3:9 assim: “Adore a Deus, oferecendo-lhe o que a sua terra produz de melhor.” 5) Que deveriam dar o dízimo “quando o Senhor teu Deus te tiver abençoado”. Dízimo na Bíblia sempre aparece numa escala crescente. De lucros, de ganhos, de bênçãos, de aumento de renda. Nunca num ambiente decrescente, de prejuízos, de recessão, de pouco dinheiro. “Todo o bem que vos abençoar o Senhor vosso Deus.” “Quando o Senhor teu Deus te tiver abençoado”. A Bíblia diz que quando um israelita era abençoado, nesta situação deveria ele trazer dízimos ao Senhor. Observamos que Abraão também deu dízimos sobre um aumento de rendas. Jacó fez um voto a Deus sob a mesma base. Se e quando fosse abençoado pagaria dízimos. 6) Que era dizimável o aumento de renda das bênçãos advindas da agropecuária. O que observamos na Bíblia e é que nenhum texto diz que lucros sobre outras atividades produtivas deveriam ser dizimadas. 7) Dízimos poderiam ser utilizados para fazer caridade. (Dt 14:28-29). 8) Números 18:27 diz que o dízimo dos grãos se contava depois de limpos na eira, e o dízimo da vinha depois que as uvas haviam sido espremidas no lagar. Isto fala do líquido, e digo que isto deve se aplicar a quem tem seu negócio próprio. No Antigo Testamento não se deve dizimar sobre o faturamento e sim sobre o lucro, sobre o ganho. Agora, é preciso entrar em uma dimensão pouco enfatizada pelos comentários sobre o dízimo do Antigo Testamento, a saber, a verdade que os dízimos seriam destinados para sustentar os levitas. Uma coisa a observar é que todos sacerdotes eram levitas, porém nem todo levita era sacerdote. Poderíamos até dizer que a maior parte dos levitas não eram sacerdotes. Alguns eram: Professores (Dt 24:8; 33:10; II Cr 35:3; Ne 8:7). Juizes (Dt 17:8-9; 21:5; I Cr 23:4; II Cr 19:8). Trabalhadores da Área de Saúde (Lv 13:2; 14:2; Lc 17:14). Cantores e Músicos (I Cr 25:1-31; II Cr 5:12; 34:12). Escritores e Bibliotecários (I Cr 2:55; II Cr 34:13). Arquitetos e Construtores (II Cr 34:8-13). Em Nm 18:23, 24, 31 lemos: “Mas os levitas farão o serviço da tenda da congregação, e levarão sobre si a sua iniquidade. Este será estatuto perpétuo pelas vossas gerações. No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor em oferta alçada, dei-os por herança aos levitas, pois eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. Vós e a vossa casa o comereis em todo o lugar, pois é vosso galardão pelo vosso serviço na tenda da congregação”. Um estatuto perpétuo que não mais existe, pois não há mais levitas (da família de Levi, filho de Jacó). O dízimo também era um estatuto. (Dt 12:1). Havia doze tribos, e a tribo de Levi foi separada para o serviço do Senhor; como não tinham herança na terra e nem podiam dedicar-se ao trabalho secular por seu ministério, os levitas viviam do dízimo das outras onze tribos. É interessante notar que os levitas também dizimavam, conforme lemos em Nm.18:26,27, o que nos ensina que mesmo os ministros de tempo integral devem fazê-lo também. Observamos também neste texto que os dízimos, destinados a sustentar os levitas, eram dados ao Senhor como oferta alçada. A explicação para isto é que a Bíblia condena a coerção nos destinos dos dízimos. (1Sm 8:16-17; Is 1:11-17; Am 5:21-25; 8:10,11). Não havia nenhuma obrigatoriedade sistemática. Havia uma beneficência sistemática. A Bíblia não afirma que o destino dos dízimos era exclusivamente para sustentar o clero. No segundo Templo, após o cativeiro, já se observa uma institucionalização acentuada conforme narrada em Ne.10:38-39; 13:10-12. Após o cativeiro Neemias faz algumas modificações. Não nos princípios da Lei de Moisés, mas na regulamentação dela. Talvez, devido a situação financeira caótica do pós-exílio ele reduz o valor da taxa do Templo que era de meio siclo (Ex 30:12-16) para um terço de siclo (Ne 10:32, 33). Ele também implementa outras regras novas. Como já vimos nem todos os levitas eram sacerdotes. Nem todos os levitas atuavam em tempo integral ao sacerdócio, por isso vemos as instruções para os levitas em Número 18 e em Deuteronômio 14, que apenas quando em atuação no Templo estavam aptos a comer dos dízimos, juntamente com os órfãos e as viúvas. Com o passar do tempo o uso dos dízimos foram deturpados tomando destino exclusivo para os levitas e sacerdotes. Mas, existe ainda algo que nos intriga sobre o dízimo. Hoje, a maior parte das igrejas investe a maior parte da entrada de seus dízimos em construções, aquisições e outras formas de investimentos igualmente importantes. Contudo, a necessidade de obreiros é enorme, e acaba faltando recursos para se ter uma equipe de trabalho maior. A prioridade de investimento de uma igreja local deve ser suprir (e bem) seus ministérios. Um dos textos que melhor esclarece o dízimo é o da profecia de Malaquias 3:8-10: "Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós benção sem medida. Por vossa causa repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. Todas as nações vos chamarão felizes, porque sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos" (Ml. 3:8-10). Encontramos alguns princípios importantes dentro deste texto que devem nos orientar quanto ao entendimento correto do dízimo: 1) O dízimo é de Deus. Não entregá-lo é roubo. Não se fazia no AT nada mais que o dever quando era entregue. 2) A entrega ou não do dízimo determinava bênção ou maldição. Entregar o dízimo era um ato espiritual, de repercussões espirituais. O profeta Ageu foi contemporâneo de Malaquias e também condenou a retenção do que pertencia a Deus. Sua geração não mais praticava o dízimo e as ofertas e foi amaldiçoada por causa disto (Ag.1:6,9-11); mas quando descobriram que não havia lucro algum em roubar a Deus, eles se arrependeram e voltaram a contribuir, o que permitiu que o templo fosse reconstruído. No dia em que lançaram os fundamentos do templo, Deus mudou a maldição em benção porque obedeceram (Ag. 2:18,19). 3) Encontramos um dos destinos deste nível de contribuição: deve ser entregue na casa do tesouro. O dízimo tem destino certo. No Antigo Testamento ele era levado ao templo "para que houvesse mantimento (para os levitas) na casa do Senhor”, no Templo. Quando Malaquias repreendeu o povo de Israel, não o fez pela retenção do dízimo apenas, mas também pela retenção das ofertas. Este é um outro nível de contribuição que precisa ser entendido e praticado dentro de seus princípios. Mesmo que dizime fielmente, o judeu no AT não podia parar aí, devia ofertar também. Mesmo antes do dízimo aparecer na revelação bíblica, as ofertas já eram entregues ao Senhor; o livro de Gênesis mostra Caim e Abel trazendo cada um uma oferta ao Senhor. Os patriarcas também sacrificavam ao Senhor. Com o tempo e o desenvolvimento de um sistema financeiro, as ofertas começaram a ser expressas principalmente por meio do dinheiro e outros bens valiosos. Quando Jesus visita o templo, senta-se diante do gazofilácio e observa como as pessoas ofertavam. O texto enfatiza ofertas dadas em dinheiro. Hoje não vivemos mais dentro de um sistema religioso que exija sacrifíciosde animais, e quase todo o nosso conceito de ofertas se relaciona ao investimento financeiro que devemos fazer. O dízimo tem seu percentual determinado. As ofertas não; elas são algo que fazemos além do dízimo. O dízimo não é um ato voluntário, é uma obrigação. As ofertas, por sua vez, são uma expressão voluntária do coração de alguém que ama ao Senhor e sua obra. As ofertas têm como destino o Reino de Deus. Não são somente destinadas à Igreja local, mas ao Reino de Deus em toda parte. Vão para missões, para ministérios para-eclesiásticos, para construções, para aquisição de qualquer coisa útil para propagação do evangelho. Sempre que um templo foi construído no Antigo Testamento, os recursos vieram de ofertas voluntárias. Uma vez que o dízimo deveria suprir os levitas, não era usado em outra coisa. As demais necessidades materiais se supriam mediante doações voluntárias. Vemos este modelo desde a construção do Tabernáculo de Moisés em Ex. 25:2-8. Da mesma forma em Esdras 2:68-69.
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