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Alongamentos, aquecimento, flexibilidade e desempenho: Mitos e verdades Autor: Felipe Nassau – Currículo e contato Dezembro / 2009 (atualizado em Maio/2014) Aquecimento e alongamento Com o surgimento dos estudos das ciências do esporte, iniciou-se a preocupação com a segurança em sua prática. Assim, surgiram fundamentos para a prática de aquecimentos prévios ao exercício. Com a importância do aquecimento vieram também as suposições sobre os alongamentos. Até hoje, para muitos praticantes e profissionais, o alongamento é indispensável à realização de qualquer esporte, inclusive após o exercício, o que se mostra mais um mito. Aquecimento é: uma prática de exercícios preparatórios que normalmente consistem de exercícios similares ao que serão realizados no treino ou prova, porém, em menor intensidade. Alongamentos são: exercícios onde o indivíduo permanece por um determinado tempo numa postura em que o músculo solicitado se mantém na sua extensão máxima, podendo ter ou não uma força externa atuando para intensificar o alongamento (alongamento passivo) O aquecimento, é importante, pois realmente prepara o indivíduo para o esforço, melhorando o desempenho e reduzindo o risco de lesões. O aumento de temperatura melhora a condução do impulso nervoso até o músculo e diminui a sua viscosidade, atenuando o atrito entre fibras musculares. Junto com a movimentação do corpo aumenta- se a liberação do líquido que lubrifica as articulações - o líquido sinovial, além de fazer com que a mente comece a se concentrar para a realização de esforços mais elevados. Ou seja, o aquecimento prepara o estado físico e psicológico para realizar a tarefa, seja um levantamento de pesos, uma corrida, salto, uma partida de futebol ou outro esporte. Pode e deve ser feito com gestos semelhantes ao da atividade a ser praticada. Em contrapartida, o alongamento antes do treino e/ou competição não promove nenhum desses benefícios, pois não eleva a temperatura do corpo, não diminui a viscosidade do músculo, tampouco faz aumentar a lubrificação das articulações. Sendo assim, não substitui o aquecimento e nem o complementa, logo não aumenta a segurança nem o desempenho esportivo pelos motivos que o aquecimento o faz. Alongamento e segurança As pesquisas sobre alongamentos apontam que uma sessão de alongamentos não aumenta a segurança do exercício e que não existem argumentos científicos que possam afirmar o contrário. (Thacker et al., 2004, Herbert et al., 2002) Concluindo: Os alongamentos não preparam o indivíduo para o exercício, não compõem nenhuma estratégia de aquecimento e não há evidência de que reduzam o risco de lesão imediata logo após sua prática. Alongamento e desempenho Outros pesquisadores que buscaram explicar a influência dos alongamentos no desempenho tiveram uma surpresa. Uma simples sessão de alongamentos leves pode levar a uma perda de força próxima a 7%. Caso os alongamentos sejam mais intensos, a força e potência podem cair até 27% por até mais de 1 hora. Isso pode ocasionar desde uma sessão de musculação com um baixo desempenho até a perda de uma medalha numa final olímpica dos 100m rasos, afinal, todo esporte depende da força e sua diminuição afeta as outras capacidades físicas (Kokkonen et al., 1998, Young et al., 2002; Fletcher et al., 2010). Há várias hipóteses para esse fato, mas acredita-se que a redução na condução dos impulsos nervosos para o músculo seja a causa da redução da força e potência (Avela et al., 1999) Alongamento e dores tardias Outra finalidade atribuída ao alongamento é a de evitar que o músculo fique dolorido no dia após o exercício, o que é chamado de dor tardia. Mais uma vez, um mito, tanto realizando os alongamentos antes dos exercícios quanto realizando-o após o treino (Buroker et al., 1989; Herbert et al., 2002; High et al., 1989). A dor tardia nada mais é que uma sensibilização a um processo inflamatório fundamental à recuperação do músculo. Sempre que é exigido do músculo um esforço elevado, ou for imposta uma alta tensão, incomum às atividades diárias, pequenas lesões ocorrerão nas fibras musculares, chamadas de microlesões. Estas podem acontecer em qualquer atividade física, até mesmo no alongamento. No período de descanso, ocorrem processos fisiológicos que regeneram as células, tornando-as “mais fortes” do que eram para, consequentemente, suportar um maior grau de esforço que dependem do processo inflamatório. O alongamento não fará com que aumente a regeneração, tampouco fará com que o processo inflamatório seja cessado. E caso, nesse momento, seja realizado um alongamento intenso, expor o músculo fadigado a uma alta tensão pode até fazer com que o atleta sinta ainda mais dor no dia seguinte e até instalar uma lesão nociva ao organismo. Concluindo: Alongamentos feitos antes do exercício, além de reduzirem a força e potência, atrapalhando toda modalidade de treino, também não são capazes de reduzir a dor do dia seguinte, uma vez que essa ocorre em resposta aos pequenos traumas ocorridos no exercício, por meios inflamatórios. Alongamento, flexibilidade e seus reais propósitos e benefícios As reais funções do alongamento são de relaxamento e de melhora na flexibilidade do corpo. Não são preparatórios para exercícios, nem impedem dores tardias. Muitas pessoas apresentam encurtamentos musculares que impedem movimentos naturais, como agachar, elevar e movimentar os braços para trás, o que pode acarretar patologias posturais, além de dores. Alongar tais músculos, junto ao fortalecimento, pode ser uma boa estratégia de tratamento onde o alongamento pode (e deve) ser utilizado. Além disso, alguns esportes exigem extrema flexibilidade, como a ginástica, corrida com barreiras, natação e capoeira, e não há outra maneira de desenvolver a flexibilidade em tal nível sem fazer alongamentos. Para o desenvolvimento da flexibilidade os resultados parecem ser melhores com alongamentos estáticos, com auxílio de força externa (alongamento passivo) inclusive quando comparado com métodos que utilizam contração isométrica antes do alongamento - método 3s ou FNP- (Davis et al., 2005). A duração de cada exercício precisa ser maior do que 30 segundos, mas ultrapassar 60 segundos parece não aumentar efetividade (Bandy et al., 1994, Feland et al., 2001). Executar mais de uma série por exercício também não traz benefícios adicionais (Bandy et al., 1997). Esses dados mostram que a regra dos treinos curtos e intensos também se aplica à flexibilidade e assim como na musculação, intensidades extremamente exageradas não parecem trazer benefícios adicionais a treinos já intensos. A grande sabedoria consiste em utilizá-los em momentos adequados, para que seus benefícios sejam obtidos sem atrapalhar outros componentes do treinamento, para que seja seguro e os ganhos de flexibilidade sejam efetivos. Deste modo, sabendo que o alongamento também danifica as fibras musculares, quanto mais intensos ou frequentes forem os demais treinos, menor deverá ser a frequência dos alongamentos. Porém, sabemos que musculação com amplitudes elevadas também podem melhorar a flexibilidade, desse modo, essa terapia combinada é a melhor indicação (Kalapotharakos et al., 2005; Bassey et al, 1995; Fratouros et al., 2002; Morton et al., 2011) Concluindo: Alongamentos são essenciais ao desempenho, tratamento de desvios posturais e dores, desde que realizados nos momentos corretos, distantes dos trabalhos de força e potência e de acordo com a carga semanal de outros treinos. 1 série de 30-60 segundos de alongamento com auxílio de força externapromovem os melhores ganhos de flexibilidade. Considerações finais Apesar de compor o senso comum de professores, esportistas e até de treinadores de atletas, o alongamento prévio não é capaz de evitar lesões durante os treinos e nem melhorar o desempenho. Pelo contrário: promove quedas de força e potência. Após treinos, também não evita dores tardias, podendo até aumentá-las. A real aplicação dos alongamentos é o relaxamento em músculos muito tensos e para o treinamento da flexibilidade. Nesse sentido, os alongamentos não devem ser feitos nem antes e nem depois do treino, mas sim como um treino específico, sendo colocados dentro do planejamento de treinamento. A flexibilidade é uma capacidade física fundamental e que deve ser trabalhada sempre, seja para o alto nível esportivo, seja para melhorar a qualidade de vida ou desvios posturais, e volumes baixos com intensidades altas, tem se mostrado mais efetivos. Para haver tais melhoras sem interferir negativamente na evolução de outras capacidades físicas, é imprescindível a prescrição e acompanhamento dos alongamentos por um profissional de Educação Física competente e atualizado sobre o assunto. Referências AVELA, JANNE, HEIKKI Kyro¨ la¨ inen, and PAAVO V. Komi. Altered reflex sensitivity after repeated and prolonged passive muscle stretching. J. Appl. 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