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Condução coercitiva e polícia judiciária

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22/10/2015 "Condução coercitiva e polícia judiciária"
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11/12/2014 - 10:39:57
ARTIGO
"Condução coercitiva e polícia judiciária"
Confira o artigo do Delegado de Polícia Rafael Francisco Marcondes de Moraes
JusBrasil Rafael Francisco Marcondes de Moraes
 
Foto: Arte ADPF/Norberto Lima
 
A condução coercitiva, no âmbito policial entendida como a compelida apresentação de uma pessoa para realizar
determinado ato instrutório legal, é admitida nas hipóteses de não comparecimento injustificado após regular
notificação assim como de urgência para prestar esclarecimentos, e pode acarretar eventual responsabilização
pelo delito de desobediência (Código Penal, art. 330).
 
Essa modalidade autônoma de condução coercitiva não se confunde com aquela intrínseca à captura de pessoa
“procurada” pela Justiça - com mandado prisional pendente, tampouco com a “prisão-captura”, compreendida
pela abordagem e apresentação de indivíduo surpreendido em aparente estado de flagrante delito à delegacia
para as medidas legais de polícia judiciária consoante juízo técnico-jurídico do delegado de polícia.
 
Nota-se que a condução coercitiva isolada não consiste em restrição à liberdade ou qualquer outra espécie de
segregação (a pessoa não está presa). Trata-se da imposição de cumprimento de dever legal de comparecimento.
Não há que se falar em “reserva de jurisdição” para uma providência inerente à regularidade da atividade policial,
seja por ser consectário lógico da função de investigação criminal e correlata instrução extrajudicial, seja por
invocação de poderes implícitos para viabilizar a identificação, a oitiva ou outro ato que reclame a presença da
pessoa.
 
Os dispositivos legais que cuidam da negativa de comparecimento autorizam a condução coercitiva, seja de
vítimas (CPP, art. 201, § 1º), de testemunhas (CPP, art. 218), de acusados (CPP, art. 260), de peritos (CPP, art.
278) e mesmo de adolescentes (ECA, art. 187) e são seguramente aplicáveis à etapa preliminar da persecução
penal.
 
O manto constitucional que garante a liberdade e restringe a prisão por crime comum à ordem judicial e à
situação de flagrante delito (CF, art. 5º, caput e inciso LXI) e que fundamenta o Estado Democrático na dignidade
da pessoa humana (CF, art. 4º, III) não sofre qualquer abalo em virtude da providência de compelir fisicamente a
pessoa que se recusa a comparecer na delegacia para prestar as informações as quais está legalmente obrigada.
 
Mesmo o investigado ou preso, conquanto possa se quedar silente (CF, art. 5º, LXIII), pode ser conduzido
coercitivamente para que seja, pelo menos, identificado e qualificado. O averiguado ou indiciado não pode invocar
o direito ao silêncio e tampouco o direito de não se autoincriminar para se recusar a informar dados sobre a
própria identidade ou qualificação ou mesmo para mentir sobre tais informações pessoais, porque estas não se
referem aos fatos apurados e, assim, não implicam em assumir responsabilidade penal.[1]
 
A ordem de condução coercitiva deve ser emanada do delegado de polícia presidente da investigação e utilizada
com prudência, vale dizer, evitando-se sua banalização e destinada aos casos em que o intimado se recuse
injustificadamente a atender o chamamento ou em que a urgência reclame tal medida, ainda que sem prévio
mandado de intimação.[2]
 
Nessa senda posiciona-se a jurisprudência nacional, como já decidiu o Insigne Superior Tribunal de Justiça:[3]
 
1. De acordo com os relatos e informações constantes dos autos, percebe-se claramente que não houve qualquer
ilegalidade na condução do recorrente à delegacia de polícia para prestar esclarecimentos, ainda que não
estivesse em flagrante delito e inexistisse mandado judicial.
2. Isso porque, como visto, o recorrente em momento algum foi detido ou preso, tendo sido apenas encaminhado
ao distrito policial para que, tanto ele, quanto os demais presentes, pudessem depor e elucidar os fatos em
apuração.
3. Consoante os artigos 144, § 4º, da Constituição Federal, “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
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22/10/2015 "Condução coercitiva e polícia judiciária"
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3. Consoante os artigos 144, § 4º, da Constituição Federal, “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares”, sendo que o artigo 6º do Código de Processo Penal estabelece as providências que
devem ser tomadas pela autoridade policial quando tiver conhecimento da ocorrência de um delito.
4. A teoria dos poderes implícitos explica que a Constituição Federal, ao outorgar atribuições a determinado
órgão, lhe confere, implicitamente, os poderes necessários para a sua execução.
5. Desse modo, não faria o menor sentido incumbir à polícia a apuração de infrações penais e, ao mesmo tempo
vedar-lhe, por exemplo, a condução de suspeitos ou testemunhas à delegacia para esclarecimentos.
 
É evidente que a condução coercitiva, além de se justificar somente quando escorada na recusa do intimado ou
na urgência plausível da diligência, deve ser executada com reta observância das garantias do indivíduo,
mormente a assistência de advogado que seja solicitada, assim como o emprego moderado e progressivo de
força e de algemas.[4]
 
Não se pode negar que, em situações extremas, a condução coercitiva poderá se desdobrar em representação
pela prisão temporária do indivíduo suspeito da prática de delitos graves pretéritos, justamente aqueles que
admitem a aludida medida cautelar pessoal.
 
Vale assinalar a existência de debate sobre referido ponto específico. Para uma primeira linha argumentativa, é
possível sustentar que a breve mantença de investigado aguardando a provável e iminente decretação de sua
prisão temporária supostamente seria uma “prisão para averiguação”, por não se tratar de prisão em flagrante
delito e ainda não consubstanciar plenamente prisão por ordem judicial (conquanto esta esteja prestes a ser
determinada), acompanhada da leitura superficial do parágrafo 5º, do art. 2º, da Lei nº 7.960/89: “A prisão
somente poderá ser executada depois da expedição de mandado judicial”.
 
De outro lado, há posicionamento doutrinário e jurisprudencial que considera que a hermenêutica do citado
dispositivo mais coerente e consentânea ao sistema jurídico e à realidade é no sentido de que, se o sujeito foi
surpreendido e conduzido, e estão presentes os requisitos da prisão temporária, o delegado de polícia por ela
representará instantaneamente, e o investigado aguardará em ambiente separado na repartição policial (em
cartório por exemplo e não segregado com outros indivíduos presos), realizando-se atos instrutórios afetos ao
investigado como a formalização sua oitiva ou conforme o caso de seu indiciamento[5] durante a apreciação do
pedido e, após a decisão do magistrado, será efetivamente executada a prisão, vale dizer, será o sujeito
encarcerado com outros presos temporários. Para essa corrente, até então, o suspeito não é considerado “preso”,
e o lapso temporal deve ser o indispensável para a análise e deliberação da autoridade judiciária.
 
Sobre o tema, é de bom alvitre a transcrição de ementa de julgado do Egrégio Supremo Tribunal Federal:[6]HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. CONDUÇÃO DO INVESTIGADO À AUTORIDADE
POLICIAL PARA ESCLARECIMENTOS. POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 144, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL E DO ART. 6º DO CPP. DESNECESSIDADE DE MANDADO DE PRISÃO OU DE ESTADO DE FLAGRÂNCIA.
DESNECESSIDADE DE INVOCAÇÃO DA TEORIA OU DOUTRINA DOS PODERES IMPLÍCITOS. PRISÃO CAUTELAR
DECRETADA POR DECISÃO JUDICIAL, APÓS A CONFISSÃO INFORMAL E O INTERROGATÓRIO DO INDICIADO.
LEGITIMIDADE. OBSERVÂNCIA DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIÇÃO. USO DE ALGEMAS
DEVIDAMENTE JUSTIFICADO. CONDENAÇÃO BASEADA EM PROVAS IDÔNEAS E SUFICIENTES. NULIDADES
PROCESSUAIS NÃO VERIFICADAS. LEGITIMIDADE DOS FUNDAMENTOS DA PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA
ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. ORDEM DENEGADA.
 
Como se observa e consta em trecho da decisão, a Suprema Corte entendeu que o período em que um cidadão é
mantido em dependência policial enquanto é analisada a representação por sua imperiosa segregação temporária
não é considerado prisão e essa permanência seria decorrência imanente do exercício da função constitucional de
investigação criminal (CF, art. 144, § 4º).[7]
 
Para melhor ilustração, cita-se como exemplo cenário não incomum na rotina de polícia judiciária: prática de
crime de roubo cuja autoria até então é desconhecida. Afastado o estado de flagrância delitiva, um indivíduo é
visto e reconhecido indubitavelmente por vítimas ou testemunhas presenciais como suspeito de participação no
delito e, por tal motivo, é ele abordado e conduzido coercitivamente até a delegacia de polícia, desencadeando a
imediata coleta de lastro probatório como o formal reconhecimento do agente e a redução a termo das oitivas,
com pronta representação pela prisão temporária do agente, se necessário em sede de plantão judiciário (Lei nº
7.960/1989, art.5º). Adotando a posição jurisprudencial capitaneada pelo Supremo Tribunal Federal, o juiz de
direito plantonista pode determinar que o suspeito lhe seja apresentado e, ao decretar a prisão temporária, será o
agente submetido à exame de corpo de delito cautelar como garantia que não tenha sofrido ofensa à sua
integridade física (Lei nº 7.960/1989, art. 2º, § 3º), assim viabilizando o prosseguimento das investigações com
vistas a identificar eventuais comparsas, localizar a res furtiva ou o instrumento empregado na ação criminosa
bem como para evitar que as vítimas ou testemunhas sejam colocadas em evidente situação intimidatória e de
iminente perigo. De outra banda, caso se opte pelo entendimento contrário, de que esse curto interstício
temporal e procedimental seria uma suposta prisão ilegítima (“prisão para averiguação”), o suspeito seria liberado
após a formalização dos respectivos atos de polícia judiciária e durante a avaliação judicial da representação por
sua prisão temporária e, emitida a ordem prisional, os policiais sairiam à procura do agente, o qual, ciente da
iminência da provável ordem prisional, livre estaria para empreender fuga para paradeiro desconhecido, dificultar
sua localização, avisar comparsas, destruir ou ocultar objetos e bens relacionados à prática criminosa ou até
coagir vítimas e testemunhas.
 
Oportuna a reprodução de julgado do extinto Tribunal de Alçada Criminal Paulista, que reclamava a adjacente
representação pela segregação cautelar nessas hipóteses:[8]
 
Abuso de autoridade - Delegado de Polícia que determina medida privativa de liberdade a suspeito de crime sem,
contudo, requerer a prisão temporária ou a custódia - crime caracterizado - condenação mantida. Comete crime
de abuso de autoridade o Delegado de Polícia que ordena encarceramento de suspeito de crime, sem, contudo,
representar ao Poder Judiciário, solicitando a prisão temporária que entender imprescindível à investigação
policial.
 
Impende enfatizar ainda que, independente do posicionamento ao qual se filie, caso o suspeito do cometimento
de fato delituoso grave já esteja devidamente identificado e contra ele tenham sido obtidos elementos de
convicção e suporte probatório que demandem sua prisão temporária para a investigação criminal, a ordem
prisional sempre deve ser pleiteada antes de sua captura. A condução coercitiva que possa em seu desenrolar
eventualmente culminar numa prisão temporária deve ser tratada como exceção, apenas em casos nos quais a
efetiva suspeição surja exatamente durante a abordagem e identificação do agente.
 
Destarte, de acordo com a posição jurisprudencial citada, a condução coercitiva que gere consecutiva segregação
temporária retrata legítimo procedimento apto a preceder uma “prisão para investigação”, essência da prisão
temporária, e não irregular “prisão para averiguação”, com mera captura infundada sem qualquer respeito aos
direitos do suspeito ou submissão a atos investigatórios velados despidos da garantia de defesa, acesso à
advogado ou plena ciência ao Poder Judiciário.
 
De igual modo, agindo o delegado de polícia nos termos acima expostos (pronta representação pela prisão
cautelar), não há que se cogitar em caracterização de abuso de autoridade (Lei 4.898/65, art. 4º, “a”) porquanto
não existe o imprescindível dolo de segregar indevidamente o sujeito na postura da autoridade policial (Código
Penal, art.18, p.u.). Ao contrário, a intenção é justamente exercer o poder-dever de buscar a preservação da
ordem pública e a tutela da sociedade empregando as respectivas formalidades legais, apenas aguardando a
manifestação judicial para executar ou não a prisão provisória pleiteada, cuja necessidade premente é
22/10/2015 "Condução coercitiva e polícia judiciária"
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manifestação judicial para executar ou não a prisão provisória pleiteada, cuja necessidade premente é
vislumbrada na ocasião. O suposto abuso, nesses casos, acaba fulminado, sobretudo, face à inexistência de
elemento subjetivo da infração penal.
 
Repise-se que, baseado no entendimento mencionado, não comete abuso aquele que conduz coercitivamente
pessoa sobre a qual então se descubra recair suspeita fundada de participação pretérita em determinado delito
grave enquanto é formulada sua prisão temporária à Justiça. Quem assim age, não está imbuído em perseguição,
capricho, vingança ou maldade, e sim em assegurar a devida instrução extrajudicial e proteger a sociedade pelas
vias legais adequadas. Prender, deliberada e imoderadamente, sem qualquer imputação ou fundamento idôneo, é
conduta criminosa. Conduzir coercitivamente, para a adoção imediata de medidas de ofício visando a escorreita
aplicação da lei é dever, acima de tudo, moral de todo policial.[9]
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