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PROCESSO Nº :8766-1/2010 UNIDADE GESTORA : PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA OLÍMPIA GESTOR : FRANCISCO SOARES DE MEDEIROS ASSUNTO : PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO N° 002/2010 RELATOR : CONSELHEIRO HUMBERTO BOSAIPO PARECER Nº 8645/2010 Tratam os autos do Processo Seletivo Simplificado nº 02/2010 realizado pela Prefeitura Municipal de Nova Olímpia/MT, submetido a esta Corte de Contas para fins de registro, sobre a legalidade do mesmo. A Secretaria de Controle Externo de Atos de Pessoal analisou a documentação encaminhada pelo gestor municipal e, ao final, manifestou-se pela notificação do Sr. Francisco Soares de Medeiros para que prestasse os esclarecimentos necessários quanto às 04 (quatro) irregularidades verificadas (fls. 67/77-TCE/MT). Regularmente citado, o Sr. Prefeito apresentou esclarecimentos (fls. 82/105-TCE/MT), os quais foram submetidos à apreciação da SECEX de Atos de Pessoal, que concluiu pela permanência de todas as impropriedades, quais foram: 1) Os documentos encontram-se intempestivos, em face do prazo regimental de 02 (dois) dias úteis, conforme previsto no art. 42 da LC 269/2007, c/c o 204 do RI/TCE; 2) Neste caso, que trata-se de contratação temporária, a previsão de prazo de 2 (dois) anos para a validade do certame Gabinete do Procurador Getúlio Moreira Filho / Tel.: 3613-7620 / e-mail:gvmfilho@tce.mt.gov.br/ / acoa 1 é considerada como irregularidade, pois descaracteriza a excepcionalidade, visto que o processo seletivo simplificado visa atender situação de caráter transitória e configura uma situação que permite planejamento antecipado e realização de Concurso Público; 3) Para a função de Médico Cirurgião não está previsto quantidade autorizada pelo PCCS, quantidade de vagas ocupadas e quantidade de vagas disponíveis no demonstrativo do lotacionograma para funções ofertadas no certame (fl. 28- TCE); 4) O edital previu em seu item 12.4 (fl. 35-TCE) que os candidatos habilitados e classificados no presente certame serão submetidos ao Regime Jurídico de Emprego Estatutário, quando deveriam ser contratados pelo regime jurídico administrativo. Em conclusão, o Auditor Público Externo, Sr. Carlos Augusto Bordieri, sugeriu o conhecimento do Processo Seletivo Simplificado n° 02/2010 e a aplicação de multa, nos termos dos incisos III e VIII do art. 289 do Regimento Interno do TCE/MT. Vieram os autos para apreciação Ministerial. É o relatório. Segue a fundamentação. A via da contratação temporária somente pode se dar em caso de necessidade temporária de excepcional interesse público, a teor do que dispõe o inciso IX, do art. 37 da Carta Política Brasileira, devendo, nessa situação, o recrutamento do Gabinete do Procurador Getúlio Moreira Filho / Tel.: 3613-7620 / e-mail:gvmfilho@tce.mt.gov.br/ / acoa 2 pessoal realizar-se mediante processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, prescindindo de concurso público. Nesse sentido há entendimento do Egrégio Supremo Tribunal Federal sobre o assunto: A regra é a admissão de servidor público mediante concurso público: CF, art. 37, II. As duas exceções à regra são para os cargos em comissão referidos no inciso II do art. 37, e a contratação de pessoal por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. CF, art. 37, IX. Nessa hipótese, deverão ser atendidas as seguintes condições: a) previsão em lei dos cargos; b) tempo determinado; c) necessidade temporária de interesse público; d) interesse público excepcional.” (ADI 2.229, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 9-6-04, Plenário, DJ de 25-6-04). No mesmo sentido: ADI 3.430, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 12-8-09, Plenário, DJE de 23-10-09. (grifo nosso). No caso em comento, a contratação temporária justifica-se em razão da necessidade de suprir a carência de profissionais da área da saúde e foi precedida da devida autorização legislativa, como se verifica da Lei Municipal n° 876/2010, às fls.20/21-TCE/MT. Passando à analise dos aspectos formais que envolvem o Processo Seletivo Simplificado n° 002/2010, em que pesem as falhas apontadas pela Equipe Técnica, emerge que o certame pautou-se pela legalidade, merecendo, portanto, ser conhecido por este Tribunal. Vale ressaltar, todavia, que os documentos necessários para subsidiar a análise do procedimento por esta Corte de Contas foram encaminhados pelo gestor municipal com 97 (noventa e sete) dias de atraso, em grave afronta ao que Gabinete do Procurador Getúlio Moreira Filho / Tel.: 3613-7620 / e-mail:gvmfilho@tce.mt.gov.br/ / acoa 3 determina o art. 204, inciso I, do RITCE/MT. Tal conduta evidencia o descaso do gestor com os imperativos legais, sendo certo que ao Administrador Público não é dado descumprir a lei, tampouco discricionariamente optar pelo seu cumprimento ou não, razão pela qual se torna necessária a imputação de multa ao responsável, como forma pedagógica punitiva de se evitar novas omissões. No que tange aos demais apontamentos realizados pela SECEX de Atos de Pessoal, vale ressaltar, inicialmente, o que pertine à previsão editalícia do prazo de 02 (dois) anos para a validade do certame, considerada como irregularidade. Há de se considerar, embora a lei não tenha previsto de forma expressa um limite de vigência para os certames destinados às contratações temporárias, analisando teleologicamente o instituto, que o caráter transitório e excepcional do mesmo não permite a duração por longos espaços temporários. Torna- se importante fixar, em vista de critérios de razoabilidade e proporcionalidade, o tempo suficiente para atendimento das necessidades emergenciais e transitórias ou a realização de concurso público para provimento efetivo dos cargos. Nesse sentido, deve ser ao gestor recomendada a observância de tais preceitos nas próximas contratações. O que importa considerar, em verdade, é o prazo em que serão as contratações realizadas, sendo imperiosa a fixação de um termo dentro dos parâmetros legais, sob pena de se dar azo a sucessivas prorrogações contratuais, circunstância esta totalmente incompatível com o caráter de excepcionalidade e transitoriedade previsto pela norma Constitucional. Nas palavras do Ministro Relator da ADI n° 890-1DF, “a necessidade temporária de excepcional interesse público não pode servir de escudo a justificar a contratação temporária ampla e irrestrita de servidores, a pretexto da permissão prevista no inciso IX, do art. 37 da Carta Federal, em evidente usurpação de cargos específicos e típicos de carreira”. Gabinete do Procurador Getúlio Moreira Filho / Tel.: 3613-7620 / e-mail:gvmfilho@tce.mt.gov.br/ / acoa 4 Outro aspecto verificado na análise formal do presente Processo Seletivo Simplificado, diz respeito à ausência de previsão do cargo de médico cirurgião no lotacionogramado Ente, embora tenha sido ofertada uma vaga para tal cargo no certame em tela. Instado a se manifestar, o gestor quedou-se inerte, deixando de apresentar qualquer justificativa para a falha apontada, o que permite a confirmação da irregularidade. A teor do que dispõe o art. 61, inciso II, alínea “a”, da CF, a criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração, depende necessariamente de disposição legal, sendo certo que um cargo não previsto na legislação específica de um órgão não pode ser arbitrariamente preenchido por meio de Processo Seletivo. Portanto, especificamente para o cargo de Médico Cirurgião, o presente certame não pode ser conhecido, devendo o contrato porventura firmado ser rescindido, como forma de restauração da legalidade. Por fim, quanto ao regime jurídico daqueles agentes públicos cujo vínculo para com a Administração Pública é temporário, nos termos autorizados pelo art. 37, IX, da CF, em que pesem as considerações apresentadas pela SECEX de Atos de Pessoal, cumpre salientar que o entendimento que prevalece no âmbito do Supremo Tribunal Federal é de que se trata de vínculo estatutário, também chamado de vínculo administrativo. Isso em contraposição ao vínculo de contrato de trabalho regido pela CLT. Gabinete do Procurador Getúlio Moreira Filho / Tel.: 3613-7620 / e-mail:gvmfilho@tce.mt.gov.br/ / acoa 5 Ilustrativas, à propósito, as manifestações do STF nos seguintes julgamentos: ADI 3395 MC/DF, ADI 2135 MC/DF e RE 573.202, Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Dessa forma, considerando que a Edital n° 02/2010 (fls. 35) prevê em seu item 12.4 que o regime será estatutário, em nada destoa dol entendimento pretoriano supramencionado, motivo pelo qual a irregularidade apontada pela SECEX deve ser desconsiderada. Diante do exposto, este Ministério Público entende que o procedimento simplificado é idôneo para seleção e investidura dos cargos de Médico PSF, Médico Ortopedista, Fisioterapeuta e Agente de Combate à Endemias, fazendo- se necessária a penalização do gestor em vista do atraso no envio da documentação relativa ao Processo Seletivo Simplificado n° 02/2010 e a recomendação para que observe nos próximos certames o prazo de duração do procedimento e a vigência dos contratos, a fim de que não seja transmudada a natureza transitória e excepcional das contratações temporárias. Quanto ao cargo de Médico Cirurgião, este certame não pode ser conhecido, em vista da inexistência de previsão do referido cargo no lotacionograma do órgão, devendo eventuais contratações ser imediatamente rescindidas. Conclusão Por todo o exposto, o Ministério Público de Contas, no exercício de suas atribuições institucionais, opina: Gabinete do Procurador Getúlio Moreira Filho / Tel.: 3613-7620 / e-mail:gvmfilho@tce.mt.gov.br/ / acoa 6 a) pelo conhecimento do Processo Seletivo Simplificado nº 002/2010 realizado pela Prefeitura Municipal de Nova Olímpia, especificamente com relação aos cargos de Médico PSF, Médico Ortopedista, Fisioterapeuta e Agente de Combate à Endemias; b) pela aplicação de multa ao gestor, Sr. Francisco Soares de Medeiros, em razão da remessa em atraso de documentos a este Tribunal, nos moldes do art. 289, inciso VIII, do RITCE/MT; c) pela recomendação ao gestor para que observe nos próximos certames o prazo de duração do procedimento e a vigência dos contratos, a fim de que não seja transmudada a natureza transitória e excepcional das contratações temporárias; d) pela determinação ao gestor para que providencia a revogação das nomeações e contratos porventuras existentes destinadas ao preenchimento da vaga de Médico Cirurgião, em vista da ausência de previsão do cargo no lotacionograma do órgão. É o parecer. Cuiabá, 12 de novembro de 2010. WILLIAM DE ALMEIDA BRITO JÚNIOR Procurador do Ministério Público de Contas Gabinete do Procurador Getúlio Moreira Filho / Tel.: 3613-7620 / e-mail:gvmfilho@tce.mt.gov.br/ / acoa 7
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