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Direito Constitucional: Habeas Data Professor: Sylvio Motta * Noções Gerais * Trata-se de uma ação constitucional de natureza civil e rito sumário, posta à disposição de pessoas físicas e jurídicas para o conhecimento de informações a seu respeito, que estejam armazenadas em registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público, e para a retificação dessas mesmas informações, quando o interessado não preferir se valer de um processo sigiloso, judicial ou administrativo, para tanto. * O habeas data alcança somente informações pessoais. Não basta, pois, que a informação seja de interesse pessoal: é indispensável que, além de ser pessoal, a informação refira-se à própria pessoa do impetrante. * Tanto o trâmite administrativo para a obtenção da informação como o processo judicial de habeas data são gratuitos, estando isentos de taxas, custas e emolumentos, em obediência ao disposto no inciso LXXVII do art. 5o da CR. A gratuidade do habeas data atinge também a sucumbência, já que não há ônus da sucumbência na ação; entretanto, não abrange os honorários do advogado contratado pelo próprio impetrante, que devem ser regularmente pagos. * De se ressaltar que o habeas data pode ser interposto a qualquer instante, inexistindo previsão de qualquer prazo decadencial ou prescricional para tanto. Habeas Data * Informações Sigilosas * É legítima a negativa de informações ao impetrante quando as mesmas estão protegidas por sigilo. * O direito a receber dos órgãos públicos informações de interesse particular, em sede de habeas data, não se reveste de caráter absoluto, cedendo passo aos dados protegidos por sigilo, em prol da segurança da sociedade e do Estado. * Assim, podemos considerar que o habeas data não abarca as informações protegidas por sigilo. Entretanto, compreende todas as demais informações relativas ao próprio requerente. Podemos, então, concluir que as pessoas físicas e jurídicas têm direito líquido e certo à obtenção de informações a seu respeito que estejam armazenadas em registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público, sendo o habeas data o instrumento judicial instituído pela Constituição justamente para a defesa deste direito líquido e certo. Habeas Data * Finalidade * Nos termos da Constituição, é dupla a finalidade do habeas data: conhecimento e retificação de informações pessoais constantes de registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público. * Num primeiro plano, presta-se o instrumento a possibilitar ao impetrante o conhecimento das informações: este é o efeito mandamental do habeas data. Eventualmente, seu interesse se limitará a tanto. * Pode ocorrer, entretanto, que a informação seja inverídica ou ultrapassada. Neste, caso, terá o impetrante interesse em retificá-la, faculdade também compreendida no habeas data: este é o seu efeito constitutivo. Poderá ocorrer também de o impetrante já ter ciência da informação e do vício nela existente, caso em que poderá se valer do habeas data para, diretamente, retificá-la. * O habeas data, portanto, poderá ser utilizado com duas finalidades diversas, admitindo-se sua cumulação: mandamental, quando o interessado busca e se satisfaz apenas com o conhecimento das informações; constitutiva, quando o interessado, já tendo ciência dos dados, busca diretamente sua retificação; e mandamental-constitutiva, quando o interessado, num primeiro momento, busca o conhecimento das informações e posteriormente, já de posse dos dados, intenta sua retificação. Habeas Data * Finalidade * A tais finalidades a Lei no 9.507, de 12/11/1997, que regulou o processo do habeas data, acrescentou mais uma, prevendo que a ação pode ser utilizada para a anotação nos assentamentos do interessado de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável, e que esteja sob pendência judicial ou amigável. * Essa ampliação do objeto possível do habeas data que, diga-se de passagem, está em plena conformidade com a Constituição, tem a nítida intenção de completar o leque de utilidades deste remédio constitucional. Além do conhecimento e da retificação da informação, abre-se ao interessado que, por seu intermédio, conteste ou explique um dado verídico, mas justificável, que esteja sendo objeto de discussão em processo judicial ou administrativo. Trata-se de mais um efeito constitutivo do habeas data, já que possibilitará alteração no registro ou no banco de dados, com relação ao próprio fato (no caso de contestação procedente da informação), ou com relação às circunstâncias em que ele ocorreu (no caso de explicação da informação). * Em todas essas hipóteses de utilização é totalmente dispensável qualquer justificativa acerca do motivo pelo qual o impetrante busca a informação, sua retificação, sua explicação ou contestação. Não é necessário ao requerente vinculá-las a qualquer interesse específico. Em primeiro lugar, porque se presume haver interesse pelo fato da informação referir-se à sua própria pessoa; em segundo, porque a Constituição não impôs qualquer justificação dessa natureza como requisito para a utilização do habeas data. Habeas Data * Legitimação Ativa * A legitimação ativa do habeas data é de simples delimitação: pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, sobre as quais registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público contenham informações. * A restrição que sempre deve ser lembrada é que o habeas data é passível de uso apenas com relação a informações de interesse pessoal relativas à própria pessoa do impetrante. Informações de interesse pessoal ou informações de interesse coletivo ou geral, quando injustificadamente negadas pelo Poder Público, justificam a propositura de mandado de segurança, desde que preenchidos seus pressupostos constitucionais. * Todavia, admite-se a possibilidade de impetração por parente próximo de de cujus a fim de salvaguardar-se a memória de ente querido que porventura esteja sendo vilipendiada em virtude de informação disponível em arquivos de caráter público ou de entidades governamentais. Esta é a única hipótese na qual, por aplicação do princípio da razoabilidade, o caráter personalíssimo do habeas data é afastado. Habeas Data * Legitimação Passiva * No polo passivo do habeas data podem figurar entidades governamentais – aí compreendidas as entidades políticas e administrativas – e entidades privadas que possuam registros ou banco de dados de caráter público. * O parágrafo único do art. 1 o da Lei no 9.507/1997 define como de caráter público “todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações”. * Pela definição legal, nenhuma dúvida resta de que, além das entidades governamentais, as entidades privadas com banco de dados público, como as entidades privadas do serviço de proteção ao crédito, também podem figurar no polo passivo de uma ação de habeas data. * Por fim, deve-se destacar que, em algumas hipóteses, a jurisprudência nega legitimidade a uma entidade administrativa para ocupar o polo passivo da ação de habeas data. O STF, no RE 165.304/MG, decidiu que o Banco do Brasil – empresa pública federal – não possui legitimidade passiva para fins de habeas data, uma vez que “não figura como entidade governamental – mas sim como explorador de atividade econômica –, nem se enquadra no conceito de registros de caráter público a que se refere o art. 5o, LXXII, a, da CR”. Habeas Data * Competência * As regras constitucionais a respeito da competência para o processamento e julgamento de habeas data podem ser assim sintetizadas: * a) é de competência do Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, o habeasdata contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Tribunal (CR, art. 102, II, d). Além disso, é o STF competente para processar e julgar habeas data contra o Conselho Nacional da Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público (CR, art. 102, I, r, acrescentado pela EC no 45, de 2004); * b) também cabe ao STF julgar, em recurso ordinário, os habeas data decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (CR, art. 102, II, a); * c) ao STJ cabe processar e julgar, originariamente, os habeas data contra atos de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ou do próprio Tribunal (CR, art. 105, I); Habeas Data * Competência * d) ao TSE cabe, em recurso ordinário, julgar os habeas data decididos pelos Tribunais Regionais Eleitorais, quando denegatória a decisão (CR, art. 121, § 4o, V); * e) aos Tribunais Regionais Federais compete processar e julgar, originariamente, o habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal (CR, art. 108, I, c); * f) compete à Justiça do Trabalho o julgamento dos habeas data quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição (CR, art. 104, IV, acrescentado pela EC no 45, de 2004); * g) aos juízes federais cabe o julgamento dos habeas data interpostos contra atos de autoridades federais, excetuados os casos de competência dos demais tribunais federais, definidos (CR, art. 109, VIII); * Em âmbito estadual, cabe a cada Estado a definição da competência para o processamento e o julgamento de habeas data, respeitadas as regras na matéria postas na Constituição Federal (CR, art. 125, § 1o). Habeas Data Art. 5º, LXXIIArt. 5º, LXXII Habeas DataHabeas Data Natureza Jurídica: Ação constitucional, de natureza civil, e de índole declaratória. Base Legal: Lei n° 9.507/97. Objeto: Assegurar o acesso, a retificação e/ou a complementação de informações pessoais do impetrante que se encontrem em bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público. Legitimidade Ativa: Trata-se de remédio personalíssimo, portanto, apenas o titular dos dados – pessoa física ou jurídica - pode impetrá-lo. Legitimidade Passiva: Qualquer entidade, pública ou privada, desde que o banco de dados tenha caráter público. Tal como o Habeas Corpus, no Habeas Data a ação judicial é gratuita (art. 5º, LXXVII). Art. 5º, LXXIIArt. 5º, LXXII Habeas Data Habeas Data (continuação)(continuação) Competência: É rationae personae, assim convém perceber os artigos 102, I d, 105, I, b; 108, I c; 109, VIII. Medida Cautelar: Em princípio é inadmissível em razão do procedimento estabelecido na Lei n° 9.507/97. Do indeferimento da petição inicial caberá recurso de apelação. Espécies: Pode ser individual ou coletivo. Coletivo quando impetrado por pessoa jurídica na busca da retificação de informações que sejam de interesse de toda a comunidade. Observações: Não cabe HD se não houver recusa de informações por parte da autoridade competente.
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