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02/05/2014 1 Genética Melissa Vieira Leite Parte IX Interação gênica • Um gene não age sozinho; ele atua em conjunto com muitos outros genes do genoma; • Na análise genética direta, a dedução dessas interação complexas é um estágio importante da pesquisa; • As mutações individuais são primeiro testadas quanto às suas relações de dominância, um tipo de interação alélica; Interação de alelos de um único gene: Variações de dominância • Dominância completa e recessividade; • Dominância incompleta; • Co-dominância; • Alelos letais recessivos; • Polialelismo. Dominância completa e recessividade • Um alelo completamente dominante será expresso quando apenas uma cópia está presente, como no heterozigoto, enquanto o alelo alternativo será totalmente recessivo; • Gene é dito haplossuficiente; • Exemplo: • Grupos sanguíneos Rh humanos: – Pessoa com o genótipo DD ou Dd têm o antígeno Rh em seus eritrócitos e são chamadas de “Rh-positivo”; – Os homozigotos recessivos, com genótipo dd, não têm o antígeno Rh, são chamados “Rh-negativo”; *Produção de anticorpos anti-Rh requer estímulo do próprio antígeno Rh humano; Genótipo Tipo sanguíneo Antígenos (nos eritrócitos) Anticorpos (no plasma) DD Rh+ Rh Nenhum Dd Rh+ Rh Nenhum dd Rh- nenhum Anti-Rh* – Incompatibilidade materno-fetal: Homem Rh-positivo casa-se com uma mulher Rh-negativo; – Primeira criança incompatível: estímulo da produção de anticorpos anti-Rh pela mãe durante o parto; – Anticorpos persistem na corrente sanguínea da mãe; – Em uma segunda gravidez incompatível: destruição das hemácias do neonato; – Eritroblastose fetal ou doença hemolítica do recém- nascido (HDN); – Feto torna-se anêmico e começa a liberar muitos eritroblastos na corrente sanguínea; – A anemia pode levar ao aborto ou natimorto; 02/05/2014 2 – Mesmo que sobreviva os anticorpos da mãe permanecem na corrente sanguínea do neonato, continuando a destruição das hemácias; – Acúmulo de bilirrubina e aspecto ictérico logo após o nascimento; – Bilirrubina deposita-se no cérebro: dano cerebral e morte; – Transfusões de substituição; – Para evitar: mãe deve receber injeções de globulina Rh imune durante e após a gestação anticorpos anti-Rh destroem os eritrócitos fetais antes que eles estimulem a produção de anticorpos maternos anti-Rh; – As injeções devem ser administradas a cada gestação; Dominância incompleta • O fenótipo de um heterozigoto é intermediário ao de dois homozigotos; • Exemplo: planta maravilha (Mirabilis jalapa) Co-dominância • É a expressão de ambos os alelos de um heterozigoto; • Exemplo 1: • Herança da cor da pelagem no gado da raça Shorthon – Homozigotos R1R1 possuem pelagem vermelha, homozigotos R2R2 branca e heterozigotos R1R2 ruão. – O fenótipo com a cor ruão surge da mistura de pelos vermelhos e brancos produzidos em um mesmo animal e dispostos de forma alternada; 02/05/2014 3 • Exemplo 2: – Grupos sanguíneos ABO humanos, nos quais há co- dominância de alelos de antígeno; – São determinados por três alelos de um gene (i, IA, IB); Genótipo Tipo sanguíneo Antígenos (nos eritrócitos) Anticorpos (no plasma) IAIA, IA i A A Anti-B IBIB, IB i B B Anti-A IAIB AB AB nenhum ii O nenhum Anti-A e Anti-B • Exemplo 3: – Grupos sanguíneos MN humanos, nos quais há co- dominância de alelos de antígeno; – São determinados por dois alelos de um gene (LM e LN); – Proteínas presentes nas hemácias que não são levadas em conta nas transfusões sanguíneas; – Usa-se a letra L em homenagem a Landsteiner e Levine, que descobriram esses dois antígenos em 1927; Genótipo Antígenos (no sangue) Anticorpos (no plasma) LMLM M Anti-N LNLN N Anti-M LMLN MN nenhum Alelos letais recessivos • Algumas mutações que afetam os genes podem produzir alelos que resultam em modificações significativas em seu funcionamento; • Quem herda tais alelos mutantes podem apresentar uma ou mais vias metabólicas importantes não completadas, resultando em sua morte; • Tais variantes alélicas são chamadas de genes letais; • Os genes letais podem ser dominantes ou recessivos; • Um gene letal de efeito dominante jamais será passado para a próxima geração, uma vez que quem o herda morrerá antes ou logo após o nascimento; • Assim, qualquer gene letal dominante deve surgir por mutação em um dos gametas de um indivíduo normal e desaparece da população logo em seguida; • Por outro lado, os genes letais recessivos podem ficar mascarados nos indivíduos heterozigotos, podendo então ser passados para a próxima geração; • Acontece que, um indivíduo normal portador de um alelo letal recessivo, quando se acasalar com outro indivíduo de mesmo genótipo irá produzir uma prole com um padrão de segregação genotípica de 1:2:0, ao invés de 1:2:1. E o padrão de segregação fenotípica será alterado de 3:1 para 3:0; • Exemplo: coloração de pelos em camundongos: – Alelo K (dominante): pelos amarelos; – Alelo k (recessivo): pelos aguti; 02/05/2014 4 • Neste exemplo, também pode-se observar que esse gene apresenta dois efeitos distintos, um sobre a coloração e outro sobre o desenvolvimento do camundongo; • Genes que controlam mais de uma características são chamados de pleiotrópicos (do grego pleio = muito e tropo = mudança). • Pleiotropia se refere aos múltiplos efeitos que um gene pode apresentar sobre o fenótipo de um organismo. Assim, um gene pleiotrópico é aquele que controla diferentes características fenotípicas e que não estão necessariamente correlacionadas; Polialelismo ou alelos múltiplos • Quando há mais de que dois alelos para cada locus; • Característica comum observada em populações selvagens de animais e de plantas; • Essa diversidade genética permitiu que, ao longo do tempo, o homem conseguisse desenvolver as diferentes raças, variedades, linhagens etc, utilizadas na agropecuária; • O fato desses organismos melhorados ainda possuírem muitos alelos diferentes para uma série de características possibilita que o melhoramento genético continue sendo aplicado; • Os vários alelos de um determinado gene podem exibir diferentes formas de interação; • Exemplo 1: • Determinação da cor dos pelos em coelhos: – Há quatro alelos possíveis que ocupam o mesmo locus e, portanto, responsáveis pela determinação da cor da pelagem. – Fenótipos determinados pelos alelos: • C ou c+: condiciona pelagem selvagem ou aguti (os pelos são marrons na extremidade, amarelados na região intermediária e cinzento na base); • cch: condiciona pelagem chinchila (cinza claro); • ch: condiciona pelagem himalaia (branco com extremidades escuras); • c: determina pelagem albina (totalmente branco); – Como há apenas dois alelos, observa-se entre eles uma relação de dominância, para determinar o fenótipo, que ocorre na seguinte sequência: • C > cch > ch > c Fenótipo Genótipo Aguti ou selvagem CC, Ccch, Cch, Cc Chinchila cchcch, cchch, cchc Himalaia chch, chc Albino cc • Exemplo 2: • Grupos sanguíneos ABO humanos: – Há três alelos possíveis que ocupam o mesmo locus e, portanto, responsáveis pela determinação do grupo sanguíneo; – Relação de dominância, para determinar o fenótipo: – IA = IB > i 02/05/2014 5 Interações gênicas interferentes Epistasia • Ocorre quando um alelo mutante de um gene mascara a expressão de um alelo mutante de outro gene e expressa o seu próprio fenótipo; • Exemplo 1: de epistasia recessiva é cor de pelagem amarela de alguns cães da raça labrador: – Dois alelos B e b, para pelagens preta e marrom, respectivamente. – Os dois alelos produzem melanina preta e marrom; – O alelo e de outro gene é epistático em relação a esses alelos, dando uma pelagem amarela; – Portanto, os genótipos B_; ee e bb;ee produzem o fenótipo amarelo, enquanto B_; E_ e bb;E_ são pretoe marrom, respectivamente; – Cães amarelos podem produzir pigmento marrom ou preto, como pode ser visto no nariz e nos lábios; – A ação do alelo e é evitar a deposição do pigmento nos pelos; • Exemplo 1: de epistasia recessiva é o falso O ou Fenótipo de Bombay: – O sistema H tem dois genes, H e h e um antígeno ou substrato H, sobre o qual ocorre a ação das glicosiltransferases para a formação dos antígenos A e B, podendo ser expresso tanto no estado homozigoto (HH) como no heterozigoto (Hh); – O alelo h é considerado amorfo e nenhum produto antigênico é associado a ele, enquanto o gene hh é extremamente raro, e nessa situação nenhuma substância H é produzida e os antígenos A e B não serão formados; – Dessa forma, mesmo apresentando genótipos diferentes, serão diagnosticados como sendo do Grupo O; • IAIA;H_ Grupo A • IA i;H_ Grupo A • IBIB;H_ Grupo B • IB i;H_ Grupo B • IAIB;H_ Grupo AB • IAIA;hh Grupo O • IA i;hh Grupo O • IBIB;hh Grupo O • IB i;hh Grupo O • IAIB;hh Grupo O Fenótipo de Bombay (ou Bombaim) 02/05/2014 6 Fenótipo de Bombay (ou Bombaim) • Exemplo de epistasia dominante pode ser observada em dedaleira (Digitalis purpurea): – Dois genes interagem na via que determina a cor da pétala; – Os dois genes não estão ligados; – Um gene afeta a intensidade do pigmento vermelho na pétala; – O alelo d resulta na cor vermelho-clara visto nas populações naturais de dedaleira; – O alelo D é mutante e produz a cor vermelho-escura; – Outro gene determina em quais células o pigmento é sintetizado; – O alelo w permite a síntese do pigmento nas pétalas; – O alelo mutante W confina a síntese do pigmento a determinados pontos; – Se autofecundarmos um diíbrido Dd;Ww, a proporção de F2 será: • 9 D_;W_ branca com pontos • 3 dd;W_ branca com pontos • 3 D_;ww vermelho-escura • 1 D_;ww vermelho-clara 12 3 1 Grupos sanguíneos • Sistema Rh: dominância e recessividade; • Sistema ABO: Polialelia, co-dominância e dominância; • Sistema MN: co-dominância. Penetrância • É definida como a porcentagem de indivíduos com determinado alelo que exibem o fenótipo associado a esse alelo; – Penetrância Completa: 100% dos indivíduos com o genótipo expressam o fenótipo correspondente; – Penetrância Incompleta: nem todos os indivíduos com o genótipo expressam o fenótipo correspondente; 02/05/2014 7 • Motivos possíveis para um organismo, que apresenta determinado genótipo, não expressar o fenótipo correspondente: – Influência do meio: o fenótipo de um indivíduo mutante criado em um conjunto de circunstâncias pode corresponder ao fenótipo de um indivíduo do tipo selvagem criado em circunstâncias diferentes; – Influência de outros genes interagentes: os modificadores não-caracterizados, genes epistáticos ou supressores no resto do genoma podem agir para evitar a expressão do fenótipo típico; – A sutileza do fenótipo mutante: efeitos sutis difíceis de medir em situações de laboratório; Expressividade • Mede o grau no qual determinado alelo é expresso a nível fenotípico (mede a intensidade do fenótipo); • Exemplo: Dez graus de padrões malhados em beagles. Cada um desses cães tem o alelo SP, que é responsável pelas manchas nos cães. A diferença é causada pelas variação em outros loci. • O fenômeno de penetrância incompleta e expressividade variável pode tornar qualquer tipo de análise genética muito mais difícil, incluindo a análise de heredogramas humanos e as previsões na consulta genética; • Muito embora a penetrância e a expressividade possam ser quantificadas, elas representam situações obscuras porque raramente é possível identificar os fatores específicos causando variação sem uma substâncial pesquisa extra; A penetrância e a expressividade quantificam a modificação da expressão gênica variando o ambiente e o fundo genético; elas medem, respectivamente, a percentagem de casos nos quais o gene é expresso e o nível de expressão. “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Eduardo Galeano
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