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0 GANEP – GRUPO DE APOIO NUTRIÇÃO ENTERAL E PARENTERAL NATHÁLIA SANTOS TEIXEIRA DIETOTERAPIA NA DOENÇA CELÍACA BELO HORIZONTE - MG 2010 1 NATHÁLIA SANTOS TEIXEIRA DIETOTERAPIA NA DOENÇA CELÍACA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção de título de Especialista em Nutrição Clínica pelo Curso de Pós-graduação da Instituição GANEP – Grupo de Apoio Nutrição Enteral e Parenteral – Belo Horizonte – MG. Orientadora: Dra. Maria de Lourdes Teixeira da Silva Coorientadora: Ma. Daniela Resende de Moraes Salles BELO HORIZONTE - MG 2010 2 Dedicatória A todos que desejam informações no intuito de contribuir para o conhecimento e troca de experiências. 3 Agradecimentos A Deus, fonte de toda sabedoria, pela força e pela coragem que me concedeu, e por me permitir este momento especial de crescimento. À minha mãe pelo incentivo constante à busca do conhecimento. A orientadora Dra Maria de Lourdes pela simpatia e presteza em fornecer materiais que contribuiu com a pesquisa bibliográfica da presente monografia. Sem a sua ajuda este trabalho teria sido muito mais árduo. A coorientadora Ma. Daniela, pela gentileza de suas orientações e sugestões. 4 “A saúde depende da escolha dos alimentos” Cláudio Galeno 130 – 210 D.C 5 RESUMO Introdução - A doença celíaca (DC) é definida como enteropatia imune caracterizada por hipersensibilidade intestinal progressiva desencadeada pela ingestão do glúten, levando a graus variados de alterações na mucosa intestinal. A chave para o tratamento da doença celíaca é ao longo da vida aderência à dieta rigorosa livre de glúten, como terapia usual. O glúten está presente em cereais como trigo, centeio e cevada e deve ser excluído da alimentação. Objetivo - Contribuir ao tratamento da doença celíaca, demonstrando a importância da dietoterapia nesta patologia. Métodos - Revisão de artigos nacionais e internacionais, indexados no Index Medicus e Lilacs, pertencentes ao Medline, no período compreendido entre 2005 a 2009. Conclusão - A comunidade científica têm se esforçado na tentativa de buscar as melhores estratégias terapêuticas que culminem em melhor qualidade de vida e diminuição da morbi-mortalidade do paciente com doença celíaca. Entretanto, até o momento, o único tratamento disponível para os celíacos é a dieta isenta de glúten e requer do paciente a adesão para toda a vida já que a DC não tratada está associada a significante aumento na morbidade e mortalidade. Descritores: doença celíaca; glúten; dietoterapia. 6 ABSTRACT Introduction – Celiac disease (CD) is an immune enteropathy characterized by a progressive intestinal hypersensitivity triggered by the ingestion of gluten. It causes different degrees of alterations in the intestinal mucosa. The key to treat this disease is a severe diet free from gluten during all life, as an usual therapy. Gluten is present in grains such as wheat, rye and barley and it must be excluded from meals. Objective – To cooperate with the treatment of celiac disease showing how dietotherapy is important to this pathology. Methods – Reviewing of national and international articles indexed in Index Medicus and Lilacs, from Medline, in the period between 2005 and 2009. Conclusion – The scientific community has been working hard to discover the best therapeutic strategies to improve life quality and reduce morbimortality in patients with celiac disease. However, today, the only treatment available to these patients is a diet free from gluten during all their lives, since a non-treated CD is associated with a significant increasing in morbility and mortality. Key words: celiac disease, gluten, dietotherapy. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 08 2 OBJETIVOS.......................................................................................................... 09 2.1 Geral..................................................................................................................... 09 2.2 Específicos........................................................................................................... 09 3 MÉTODO.............................................................................................................. 10 4 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................11 4.1Definição............................................................................................................... 11 4.2 Prevalência........................................................................................................... 12 4.3 Formas de apresentação da doença...................................................................... 12 4.4 Diagnóstico.......................................................................................................... 14 4.5 Complicações....................................................................................................... 15 4.6 Dietoterapia.......................................................................................................... 16 4.6.1 Legislação......................................................................................................... 18 5 CONCLUSÃO...................................................................................................... 20 REFERÊNCIAS.......................................................................................................21 8 1 INTRODUÇÃO A doença celíaca (DC) é definida como enteropatia imune caracterizada por hipersensibilidade intestinal progressiva desencadeada pela ingestão do glúten, levando a graus variados de alterações na mucosa intestinal. Se desenvolve em indivíduos geneticamente predispostos, e possui severidade variável, apresentando amplo espectro clínico ( Morón et al., 2008). O glúten é uma substância albuminóide, insolúvel em água e dividido em duas proteínas: a gliadina, solúvel em álcool etílico, e a glutelina, solúvel em ácido ou base diluídos. A gliadina é um componente do glúten que inicia o dano da mucosa em indivíduos com uma predisposição genética. O glúten esta presente no trigo, centeio, cevada e aveia. Constitui, portanto, a massa coesiva que permanece quando a pasta de farinha dos cereais é lavada para se removerem os grânulos de amido. A doença por sensibilidade ao glúten pode ser definida como um estado de resposta imunológica, tanto celular como humoral, ao glúten dos cereais citados (Kotze, 2006; Casemiro, 2006). A DC pode ser considerada, mundialmente, um problema de saúde pública principalmente devido à alta prevalência, freqüente associaçãocom morbidade variável e não-específica e, em longo prazo, à probabilidade aumentada de aparecimento de complicações graves (Silva et al., 2006). Apesar das múltiplas características histológicas relacionadas à DC, para que se estabeleça um diagnóstico definitivo, ainda é fundamental a melhora clínica e sorológica com a dieta isenta de glúten (Casemiro, 2006). A chave para o tratamento da doença celíaca é ao longo da vida aderência à dieta rigorosa livre de glúten, como terapia usual. O glúten está presente em cereais como trigo, centeio e cevada e deve ser excluído da alimentação (Rauen, Back, Moreira, 2005). 9 2 OBJETIVOS 2.1 Geral O objetivo deste trabalho é contribuir ao tratamento da Doença Celíaca, demonstrando a importância da dietoterapia nesta patologia. 2.2 Específicos Realizar uma revisão de literatura sobre a doença celíaca. Revisar aspectos da doença destacando conceitos, prevalência, formas de apresentação da doença, diagnóstico e complicações. Capacitar o leitor a identificar recentes avanços a respeito do tratamento dietoterápico da doença celíaca. 10 3 MÉTODO Este trabalho foi conduzido a partir das informações obtidas de uma revisão de artigos nacionais e internacionais, indexados no Index Medicus e Lilacs, pertencentes ao Medline, no período compreendido entre 2005 a 2009. Também se revisaram publicações anteriores ao período, em busca de conhecimentos que contribuíssem na construção do mesmo. Os descritores utilizados para a obtenção das informações dos artigos foram: doença celíaca, glúten, dietoterapia, enfermedad celíaca, celiac disease e diet theraphy. 11 4 REVISÃO DA LITERATURA 4.1 Definição A doença celíaca (DC) é uma enteropatia imuno-mediada que ocorre pela ingestão do glúten, a palavra celíaca possui origem grega, significa “abdominal” e foi escolhida para nominar esta moléstia pela dominância dos sintomas gastrointestinais (Chand, Mihas, 2006). Na literatura, termos como enteropatia sensível ao glúten, esprue celíaco, esprue não tropical, má absorção intestinal primária, esteatorréia idiopática, também são encontrados para designar a doença, sendo que a denominação doença celíaca é a mais usual (Casemiro, 2006). A DC envolve intestino delgado, é caracterizada por processos inflamatórios, especialmente no intestino delgado proximal. Isso faz com que altere a arquitetura preservada, em indivíduos geneticamente susceptíveis, reduzindo a área de superfície de absorção resultando em deficiência de absorção de macro e micronutrientes. Caracteriza-se por variáveis graus de atrofia das vilosidades do intestino delgado e má absorção em resposta à ingestão de proteínas de cereais glúten e afins. Tradicionalmente considerada uma doença da infância, agora, cada vez mais diagnosticada na idade adulta (Freeman, 2008; Patel et.al, 2005). Glúten é uma substância albuminóide, insolúvel em água, que, junto com o amido e outros compostos, se encontra na farinha de trigo, centeio, cevada e aveia. Constitui, portanto, a massa coesiva que permanece quando a pasta de farinha dos cereais é lavada para se removerem os grânulos de amido. A doença por sensibilidade ao glúten pode ser definida como um estado de resposta imunológica, tanto celular como humoral, ao glúten dos cereais citados (Kotze, 2006). A porção antigênica da proteína do glúten para os pacientes celíacos é predominantemente a gliadina do trigo, que apresenta alto teor dos aminoácidos glutamina e prolina, bem como a hordeína da cevada e a secalina do centeio. Também há potencial antigênico da avenina da aveia, que apresenta um teor intermediário dos aminoácidos glutamina e prolina, e que pode determinar DC em casos de ingestão intensiva do cereal (Baptista, 2006). 12 4.2 Prevalência A DC é um transtorno de longa vida, afeta 0.5-1% da população mundial em geral, principalmente os adultos. Nos últimos 25 anos o surgimento de cada vez mais confiáveis marcadores sorológicos, tais como anti-gliadina, anti-endomísio, e anticorpos anti-transglutaminase permitiu o diagnóstico precoce de forma atípica, ou mesmo silenciosa da doença e muito contribuíram para o reconhecimento generalizado de que a prevalência de DC é maior do que se pensava anteriormente (Catassi et.al, 2007; Almeida et.al, 2008). Estudos têm demonstrado alta prevalência desta doença, tanto em crianças como em adultos aparentemente saudáveis. Entretanto, a sua prevalência é muito variável de país para país (Silva et al., 2006). Décadas atrás, pensava-se que na Europa tivesse uma em 1.500 pessoas, com alta prevalência na Irlanda (1:300). Nos Estados Unidos, era considerada uma doença rara, que envolveu apenas um de cada 3.000 indivíduos. Atualmente, uma prevalência estimada na Grã-Bretanha e Estados Unidos é de cerca de um por 110. A idéia corrente é que uma em cada 300 pessoas no mundo todo são portadores desta condição, o que significaria 15 milhões de pessoas afetadas no planeta (Varela, 2006). No Brasil, os dados de prevalência disponíveis são ainda escassos, mas é provável que a prevalência em nosso país não esteja muito afastada das prevalências encontradas no Velho Mundo. Estudos levam a crer que a prevalência da DC no Brasil, se não for similar à encontrada na Europa, aproxima-se em muito dela (Pratesi, Gandolfi, 2005). A alta prevalência (10%) da DC entre parentes de primeiro grau de pacientes celíacos indica importante participação de fatores genéticos na gênese da doença. Aproximadamente 98% dos pacientes celíacos apresentam os antígenos de histocompatibilidade (heterodímeros) HLA-DQ2 (codificado pelo DQA1*05 e DQB1*02) ou HLA-DQ8 (DQA1*03 e DQB1*0302), percentual elevado quando comparado com 30%, verificado nas populações caucasianas (Baptista, 2006). 4.3 Formas de apresentação da doença 13 Nas duas últimas décadas tem se observado ampla variação nas formas de apresentação clínica da DC, tornando seu diagnóstico um desafio (Baptista, 2006). O modo de apresentação difere com a idade: mais exuberante na criança e mais discreta no adulto. Raramente se apresenta por complicação, como perfuração ou linfoma (Kotze, 2006). A DC apresenta quatro padrões de apresentação clínica: clássica, não- clássica, assintomática e latente (Silva et.al, 2006). A DC clássica é o padrão mais freqüente e manifesta-se nos primeiros anos de vida, mas também pode ser encontrada no adulto. Decorrente da má absorção de nutrientes, com quadros clínicos de diarréia crônica, vômitos, irritabilidade, anorexia, emagrecimento, comprometimento variável do estado nutricional, déficit de crescimento, diminuição do tecido celular subcutâneo e palidez por anemia ferropriva (Rauen, Back, Moreira, 2005; Silva et.al, 2006). Na criança, a distensão abdominal e a intensa redução de massa glútea são dados que chamam a atenção (Kotze, 2006). A forma não-clássica ou atípica apresenta-se mais tardiamente e as manifestações digestivas estão ausentes ou, quando presentes, são pouco relevantes. Essa forma da doença pode ser de dois tipos. O atípico digestivo, com sintomas digestivos mais discretos ou constipação intestinal, e o atípico extradigestivo, onde os indivíduos acometidos podem apresentar manifestações isoladas como: baixa estatura, anemia por deficiência de ferro refratária à ferroterapia oral,artralgia ou artrite, hipoplasia do esmalte dentário, tetania, osteoporose e esterilidade (Kotze, 2006; Silva et.al, 2006). Já a forma assintomática ou silenciosa da doença ocorre entre familiares de celíacos com anticorpos positivos no soro, é a condição na qual os pacientes apresentam alterações mais ou menos graves do quadro histopatológico do intestino delgado proximal, mas número aumentado de LIE, porém sem sintomatologia (Kotze, 2006; Silva et.al, 2006). É definida DC latente ou potencial quando o paciente tem uma biópsia intestinal normal ou com alterações mínimas (Grau Marsh I), mas cuja sorologia positiva ou mucosa pode potencialmente agravar-se com uma sobrecarga de glúten, ou ao longo do tempo. A forma latente, após a recuperação da mucosa intestinal com a dieta isenta de glúten, pode persistir por anos antes do desenvolvimento de uma recidiva histológica. Estes conceitos de DC potencial e latente são relativamente 14 recentes, e ainda não há um consenso por parte dos autores quanto ao uso destes novos termos para as formas clínicas da DC (Varela, 2006; Baptista, 2006). Os pacientes com DC ativa, com manifestações de forma clássica, não clássica, assim como os portadores de formas assintomáticas, caracterizam-se por apresentar mucosa jejunal com alterações características, com atrofia subtotal das vilosidades intestinais, que revertem à normalidade com a introdução da dieta isenta de glúten (Casemiro, 2006). 4.4 Diagnóstico O diagnóstico da DC é baseado em concordância dos testes sorológicos, a biópsia do intestino delgado, e resolução dos sintomas através da retirada do glúten da dieta. O exame histopatológico do intestino delgado, preferencialmente da junção duodenojejunal, é imprescindível para o diagnóstico da DC. A microscopia revela mucosa anormal do intestino delgado proximal, com vilosidades atrofiadas ou ausentes, aumento no comprimento das criptas e no número de linfócitos intraepiteliais (Silva et.al, 2006). Houve avanço importante na investigação diagnóstica da DC, inicialmente com a identificação sorológica dos anticorpos antigliadina, e atualmente com os anticorpos anti-endomísio e anti-transglutaminase que, em conjunto, atingem praticamente 100% de sensibilidade e especificidade. A biópsia intestinal permanece imprescindível para o diagnóstico A sorologia para DC incluem anti-EMA IgA e anti-tTG IgA e IgG. Testes Anti-AGA não são recomendadas devido à sua sensibilidade e especificidade [anti-AGA IgA sensibilidade 75% -95%, especificidade de 80% -95%; anti-AGA IgG sensibilidade de 57% -100%, especificidade de 47% -94%]. O padrão-ouro para diagnóstico é o histopatológico avaliação de 4-8 espécimes da biópsia da mucosa do intestino delgado obtidas quando o paciente está em uma dieta contendo glúten (Baptista, 2006; Mikesh et.al, 2008). A DC é uma doença auto-imune que pode potencialmente afetar qualquer órgão, e não tão somente o trato gastroentérico, como previamente se supunha. A sua eclosão e o aparecimento dos primeiros sintomas podem se dar em qualquer idade. A ampla gama de possíveis sintomas varia consideravelmente entre indivíduos, 15 inclusive no mesmo indivíduo em diferentes fases da doença, o que sobremaneira dificulta o diagnóstico (Pratesi, Gandolfi, 2005). Anteriormente, acreditava-se que a doença ocorria apenas em crianças; agora, porém, têm-se conhecimento que é uma condição comum que pode ser diagnosticada em qualquer fase da vida. Pode surgir no lactente, relacionando-se com a época do desmame e/ou introdução de cereais na alimentação. Se persistir sem tratamento pode regredir parcialmente na adolescência; não é comum apresentar-se pela primeira vez nesta fase, a não ser que haja fator desencadeante. Pode aparecer ou reaparecer na idade adulta, geralmente na terceira ou na quarta década, principalmente durante gestações. Surgir na idade adulta ou geriátrica desencadeada ou não por algum fator, como cirurgias, infecções etc (Kotze, 2006). Os clínicos devem manter estado de alerta aumentado para DC também em idosos, onde a prevalência da condição parece ser ainda maior do que em pessoas mais jovens. Por causa dos sintomas sutis e um aumento do risco de complicações, a sorologia deve ser amplamente aplicada para detecção de casos da doença celíaca nos idosos. Anteriormente, Sabe-se que hoje 20% dos casos diagnosticados acometem pacientes com mais de 60 anos de idade. No entanto, os dados sobre a freqüência de detecção diagnosticada DC na população idosa são escassos (Vilppula et.al, 2008). O diagnóstico da DC é desafiador e depende, principalmente, de sua suspeita, e acima de tudo, na ausência do quadro clínico clássico, uma vez que, atualmente, as formas clínicas da doença vêm se modificando e, cada vez formas atípicas, monossintomáticas ou mesmo silenciosas são as mais freqüentemente encontradas. Portanto, percebê-las exige o envolvimento, não somente do gastroenterologista, mas também, de vários outros profissionais da saúde. (Pratesi, Gandolfi, 2005; Rauen, Back, Moreira, 2005). 4.5 Complicações Está bem documentada a associação da doença celíaca com outras enfermidades. A dermatite herpetiforme, dentre as doenças dermatológicas, é a mais intimamente relacionada à intolerância ao glúten, podendo até ser considerada como uma variante da própria DC. A quase totalidade dos casos de dermatite herpetiforme 16 apresenta anormalidades na avaliação histológica da mucosa do intestino delgado, contudo apenas 10% dos pacientes têm manifestações clínicas de má-absorção (Casemiro, 2006). A DC não tratada manifesta-se, freqüentemente, de forma monossintomática, através de anemia resistente ao tratamento, dermatite herpetiforme, que pode ser considerada a expressão dermatológica da doença, menarca tardia, hipertransaminasemia, osteoporose e hipoplasia do esmalte dentário (Baptista, 2006). Tendo em conta as prováveis complicações de uma DC não diagnosticada e tratada, é importante identificar os membros da família, principalmente aqueles com uma forma silenciosa da doença para oferecer-lhes o benefício da dieta isenta de glúten. (Almeida et.al, 2008). As manifestações clínicas da DC variam com a idade do paciente, a duração e extensão da doença e com a presença de problemas extra-intestinais. As razões pelas quais a expressão clínica da doença é tão variável, podendo ocorrer em qualquer época da vida ainda não está bem esclarecida (Catassi et.al, 2007). Existe a possibilidade de predispor o indivíduo a várias complicações quando a doença não é tratada, tais como: anemia relacionada à má absorção, osteopenia ou deficiência de ferro (decorrentes de uma ou mais de ferro, ácido fólico e deficiência de vitamina B12), e alguns associados ao processo auto-imune subjacente, como diabetes tipo 1 e tireoidite (Baptista, 2006). Outras complicações relatadas são atraso a puberdade, menopausa precoce, infertilidade, abortos de repetição, depressão, bem como distúrbios comportamentais como o autismo, e desordens neurológicas (epilepsia com calcificações cerebrais, ataxia e neuropatia periférica). No entanto, a complicação mais temida é o desenvolvimento de neoplasias do trato gastrointestinal, principalmente o linfoma não-Hodgkin, que é a razão mais provável para o aumento da mortalidade em pacientes celíacos não-tratados (Almeida et.al, 2008). 4.6 Dietoterapia O tratamento possível e eficaz para DC, em todas as formas clínicas, é o dietético, devendo-se excluir o glúten da alimentação durante toda a vida, tanto dos 17 indivíduos sintomáticos, quanto assintomáticos, o que leva à remissãodos sintomas e restauração da morfologia normal da mucosa (Rauen, Back, Moreira, 2005). O tratamento padrão da DC envolve o consumo de uma dieta completamente desprovida de proteínas do glúten, a chamada dieta sem glúten (Catassi et.al, 2007). Embora seguir uma dieta estritamente isenta de glúten possa parecer simples, na prática evidencia-se uma série de dificuldades na manutenção desta não somente por parte do paciente, como também de seus familiares, pois consiste em uma mudança radical do hábito alimentar, especialmente durante a adolescência (Silva et.al, 2006). Os objetivos do tratamento consiste em, eliminar as alterações fisiopatológicas intestinais, facilitar e favorecer a absorção dos nutrientes, normalizar o trânsito intestinal, recuperar o estado nutricional do paciente e melhorar a qualidade de vida dos pacientes (Kotze, 2006). Retirando-se o glúten da dieta, a resposta clínica é rápida, havendo desaparecimento dos sintomas gastrintestinais com restauração da morfologia normal da mucosa, dentro de dias ou semanas (Silva et.al, 2006). Já a normalização funcional e histológica da mucosa intestinal pode demorar de 6 a 19 meses, podendo ainda estar incompleta em alguns casos entre 24-48 meses. Concomitante a melhora histológica intestinal ocorre à redução dos títulos dos anticorpos antigliadina, antiendomísio e antitransglutaminase (Casemiro, 2006). Ao planejar o tratamento dietoterápico deverão ser considerados os seguintes fatores: situação fisiopatológica e necessidades nutricionais que se relacionam com a idade do paciente, etapa evolutiva da DC e estado de gravidade do doente. A ampliação da dieta deve ser progressiva e individualizada, apesar da resposta terapêutica rápida, pois há retrocessos na evolução intimamente ligados a técnicas dietéticas inadequadas. O glúten não é uma proteína indispensável e pode ser substituída por outras proteínas vegetais e animais (Kotze, 2006). O glúten deve ser excluído da dieta, evitando-se a ingestão de trigo, cevada, centeio, aveia e de grãos híbridos desses cereais, como o Triticale sp. Em relação à aveia, ainda é discutível seu efeito, já que ela não produz reações na maioria dos pacientes celíacos, e alguns estudos mostram que alguns pacientes podem tolerar seu consumo em função da estrutura de sua fração protéica e da baixa quantidade de aveninas presente no grão. (Silva et.al, 2006). 18 É importante fornecer ao paciente uma lista de alimentos que não contenham glúten. São considerados alimentos permitidos na dieta: arroz, grãos (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão de bico), gorduras, óleos e azeites, legumes, hortaliças, frutas, ovos e carnes (de vaca, frango, porco, peixe) e leite. O glúten poderá ser substituído pelo milho (farinha de milho, amido de milho, fubá), arroz (farinha de arroz), batata (fécula de batata), e mandioca (farinha de mandioca, polvilho) (Kotze, 2006). Os produtos lácteos também devem ser evitados inicialmente no tratamento pelo fato dos pacientes celíacos freqüentemente apresentarem deficiência secundária à lactose. No entanto, podem ser re-introduzidos após um período de 3 a 6 meses. Outra opção que pode ser temporariamente benéfica é, até a completa recuperação da mucosa, fazer uso de suplementação de lactase. (Casemiro, 2006). Uma grande atenção deve ser dada aos alimentos e produtos farmacêuticos que utilizam amido de trigo como ingrediente em suas formulações, o paciente celíaco deve estar atento à composição dos medicamentos prescritos para ele, pois o glúten pode estar presente como excipiente nas cápsulas, comprimidos ou suspensões orais (Silva et.al, 2006). Quanto maior o grau de conhecimento da doença e de seu tratamento por parte dos pacientes celíacos, maior a obediência à dieta isenta de glúten (Silva et.al, 2006). A exclusão do glúten da dieta não cura a alergia, mas remite a alteração intestinal e suas complicações (Baptista, 2006). Os pacientes e familiares devem ser alertados quanto a transtornos clínicos e histológicos com o consumo esporádico de glúten. O seguimento da dieta pelo paciente celíaco depende, fundamentalmente, dos familiares no que tange às substituições dos alimentos proibidos. Portanto, é extremamente importante saber educar os doentes (Kotze, 2006). 4.6.1 Legislação Uma dieta totalmente isenta de glúten de contaminação seria, evidentemente, ideal, mas hoje parece ser irrealista, mesmo naturalmente sem glúten produtos podem conter quantidades significativas de glúten (Mäki, Kaukinen, 2007). O tratamento com uma dieta sem glúten é a terapia usual para pacientes celíacos, no entanto, as proteínas dos cereais são um aditivo onipresente na maioria dos setores da indústria de alimentos preparados. Assim, um método analítico que 19 mede a toxicidade dos produtos alimentares para os pacientes de DC deve identificar a presença de peptídeos de cereais potencial. Anticorpos que reconhecem os peptídeos da fração de glúten atualmente estão no mercado, mas eles não foram especificamente concebidos para o peptídio tóxico. (Morón et.al, 2008). O limiar de glúten "é tema atualmente em avaliação pelo Codex Alimentarius, o WHO / FAO comissão que é responsável pela definição de normas alimentares a nível internacional. Estabelecer um limite seguro de consumo de glúten para pacientes celíacos é uma questão de grande importância para a saúde pública, particularmente à luz dos recentes relatórios sobre a alta prevalência (Catassi et.al, 2007). Em virtude das dificuldades para garantir a prática da dieta isenta de glúten, é lei que haja menção se o produto CONTÉM GLÚTEN ou NÃO CONTÉM GLÚTEN. Em alguns países há o símbolo característico. Foi promulgada, no Brasil, a Lei Federal número 10.674 de 16 de maio de 2003, obriga a advertência “contém glúten” ou “não contém glúten” nos rótulos de todos os alimentos comercializados. A certificação da ausência de glúten declarada nos rótulos dos alimentos, essencial para seguir uma dieta segura, requer a avaliação dos produtos supostamente livres de glúten. Assim, os portadores de DC podem identificar os alimentos que não devem consumir (Kotze, 2006; Silva et.al, 2006). 20 5 CONCLUSÃO A doença celíaca é uma condição crônica que afeta principalmente o intestino delgado, caracteriza-se por uma intolerância permanente ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, centeio, cevada e aveia. Atualmente é considerada problema de saúde pública a nível mundial devido à alta prevalência encontrada em diversas fases da vida. É uma doença de etiologia multifatorial e depende de fatores ambientais, genéticos e imunológicos para sua manifestação. A complexa interação entre estes fatores dificulta sua identificação e impõe limites à completa compreensão dos mecanismos patogênicos da doença. Os conhecimentos atuais mostram o glúten como um fator ambiental precipitante. A comunidade científica têm se esforçado na tentativa de buscar as melhores estratégias terapêuticas que culminem em melhor qualidade de vida e diminuição da morbi-mortalidade do paciente com doença celíaca. Entretanto, até o momento, o único tratamento disponível para os celíacos é a dieta isenta de glúten e requer do paciente a adesão para toda a vida já que a DC não tratada está associada a significante aumento na morbidade e mortalidade. 21 REFERÊNCIAS Almeida PL, Gandolfi L, Modelli IC, Martins RC, Almeida RC, Patresi R. Prevalence of celiac disease among first degree relatives of brazilian celiac patients.Arq Gastroenterol, jan./mar. 2008. v. 45.nº1. Baptista ML. Doença celíaca: uma visão contemporânea. Pediatria (São Paulo) 2006;28(4):262-71. Casemiro JM, Adesão à dieta sem glúten por pacientes celíacos em acompanhamento no hospital universitário de Brasília [dissertação]. Brasília: Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília; 2006. 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