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aula 7 artes

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Oh pura Safo, de violetas coroada e de suave sorriso, queria dizer-te algo, mas a vergonha me impede. (Alceu)
 Se teus desejos fossem decentes e nobres e tua língua incapaz de proferir baixezas, não permitirias que a vergonha te nublasse os olhos - dirias claramente aquilo que desejasses.
( Safo)
A Mulher e a Arte nas Expressões Femininas e Feministas
Durante a Antiguidade Clássica, a mulher era considerada escrava e a sua imagem era representada por deusas ou ninfas. Na Idade Média, embora sem a marca social de escravidão, a subalternidade continuou prevalecendo e a figura feminina ficou restringida a dois modelos distintos: a nobre, representada na figura da Dama da Corte, e a camponesa ou pastora.
As cantigas medievais (poemas cantados por homens conhecidos como trovadores ou jograis) mantinham, na arte, a mesma divisão social: às Damas era oferecido o amor sublime e espiritualizado (Cantigas de Amor) e às camponesas e pastoras, o amor carnal (Cantigas de Amigo).
A Igreja Cristã reforçou o sinal negativo que antecede a figura, associando-a ao pecado. Somente através da maternidade (como a Virgem), ela poderia salvar-se.
A condição feminina torna-se um peso ainda maior durante a Inquisição, pois qualidades inerentes à mulher ou por ela desenvolvidas, de acordo com as exigências sociais de seu tempo (percepção aguçada, sensibilidade, afeto) poderiam ser consideradas atos de bruxaria.
Na Demanda do Santo Graal, novela de cavalaria de temática religiosa cuja origem remonta ao século XIII, as mulheres aparecem como maléficas, como é caso da fada Morgana, ou pecadoras, que levariam o homem à perdição, conduta da rainha Guinevère:
— Ai, Lancelot! Tão mau foi o dia em que vos conheci! Tais são os galardões do vosso amor! Vós me lançastes neste grande sofrimento em que me vedes; e eu vos lançarei em tão grande ou maior, e pesa-me muito, porque estou perdida e condenada ao grande sofrimento do inferno; não queria que acontecesse assim a vós, antes queria que acontecesse a mim, se a Deus prouvesse.
MEGALE, Heitor. A demanda do santo graal. (org.) São Paulo: EDUSP, 1988. p. 171.
Na literatura do século XIX, a mulher está sempre vinculada a algum estereótipo: ou é idealizada pelo Romantismo ou estigmatizada e associada ao erotismo pelo vínculo com o pecado original, como aparece no Realismo/Naturalismo.
Com a evolução da sociedade e a partir de importantes fatos históricos que revolucionaram o pensamento e o comportamento humanos, as mulheres vão conquistando, aos poucos, o direito de expressar suas opiniões e reivindicar igualdade de condições com os homens.
A Revolução Francesa (1789) encorajou muitas mulheres a denunciar as sujeições a que eram submetidas, criando clubes de ativistas femininas. No séc. XIX, as mulheres reivindicaram o direito à participação política, pelo voto, e a uma especialização profissional, desejo incrementado pela Revolução Industrial (1750) e a absorção do trabalho feminino nas fábricas têxteis.
Os Estados Unidos e a Inglaterra, países mais desenvolvidos, são pioneiros na luta pelos direitos das mulheres. Com a Revolução Russa (1917), as mulheres conquistaram o direito ao voto, o que aconteceu gradativamente em diversos países da Europa; No Brasil, essa conquista se deu apenas em 1932. 
Após a Segunda Guerra Mundial, o movimento feminista ganhou fôlego com as publicações de O segundo sexo (1949), da francesa Simone de Beauvoir e de A mística feminina (1963), da americana Betty Friedan, livro que critica a ideia de que a mulher só se realiza através da criação dos filhos e de atividades domésticas. Surge o Women's Liberation (movimento de libertação da mulher), conhecido como Women's Lib (1964). Mais do que conquistar direitos civis, as mulheres almejavam descrever sua condição de oprimidas pela cultura masculina.
Relações entre Feminismo, Mulher e Literatura: As Mulheres da Literatura Brasileira
Assim como em diversas áreas do saber, a mulher foi, na literatura, definida segundo os interesses do mundo masculino. Mas, quando a mulher se torna escritora, as denúncias contra a opressão de que são vítimas se fazem notar.
Nísia Flores Brasileira (1810-1885), por exemplo, fez uma adaptação do livro da inglesa Mary Wollstocraft intitulado Vindication of the rigts of woman, que recebeu, em português, o título Direito das mulheres e injustiça dos homens, publicado em 1832. No século XX, Ercília Nogueira Cobra (1891) chocou a sociedade brasileira com sua obra Virgindade inútil – Novela de uma revoltada, cujo lançamento coincidiu com a Semana da Arte Moderna em 1922. O romance tematiza a natureza feminina, enfatizando a exploração social e sexual da mulher. Por suas ideias feministas, a autora foi presa e torturada pela ditadura Vargas.
Segundo os biógrafos de Ercília Nogueira Cobra, a autora afastou-se da família, juntamente com a irmã Estela, ambas ainda menores de idade, por divergências no campo das ideias. Depois disso, as informações que os familiares obtinham eram conseguidas por publicações de livros, ocupação como pianista em teatros ou participação em eventos culturais. Os últimos registros que se têm da autora são de 1964, em Caxias do Sul. Depois disso, nenhuma informação foi obtida sobre Ercília Cobra ou sua irmã.
Deve-se incluir, no rol das primeiras escritoras no Brasil, a figura de Teresa Margarida da Silva e Orta (1711 ou 1712-1793), que escreveu Aventuras de Diófanes (1752). No entanto, a obra dessa autora, que teria sido a primeira mulher a publicar um romance, não possui caráter feminista. Ao contrário, sua obra é de cunho moralista, muito embora Teresa Margarida, em sua biografia, registre um casamento contra a vontade do pai, o que, para a época, seria uma ousadia típica da conduta de uma feminista.
Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) dedicou-se à literatura e ao jornalismo por mais de quarenta anos. A certa altura, engaja-se na luta pela emancipação feminina, integrando o grupo da Legião da Mulher Brasileira, liderado por Bertha Lutz (1894-1976), pioneira do feminismo no Brasil.
No século XX, as mulheres escritoras já não são colocadas à parte do cenário da literatura nacional. Ao lado de figuras respeitadas nas artes plásticas como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, outras mulheres se destacam na cena cultural. Rachel de Queirós, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Adélia Padro e Hilda Hilst, entre tantas importantes autoras, marcaram a literatura brasileira com uma escrita feminina. Aos poucos, a mulher brasileira — apesar de sobre ela ainda pesar o olhar masculino severo e incrédulo de outros valores da mulher que não são aqueles por elas desejados — conquistar  seu espaço na sociedade e na arte literária.
Com licença poética: Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
─ dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.
A Livre Expressão da Arte Homoerótica
O conceito de homossexualidade surge com o advento do cristianismo; relações homoafetivas (entre pessoas do mesmo sexo), no entanto, sempre existiram na humanidade. Defini-las e estabelecer critérios morais e éticos para classificá-las depende de cada época histórica, dos ideais propostos e do exercício de liberdade permitido. É comum que, em países de forte tradição religiosa, especialmente se a procriação for um fim e não um meio para a existência humana, as relações homoeróticas sejam discriminadas e, muitas vezes, punidas por força da lei. No entanto, diversos outros países consideram um direito de todo cidadão orientar sua vida pessoal.
O Brasil concilia-se com essaproposta e, recentemente, o direito legal ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecido e abriu-se uma frente de debates que tem colocado o tema em pauta no cotidiano dos brasileiros. As leis que se fazem têm respaldo na ciência, pois há muito as práticas homossexuais deixaram de ser consideradas uma doença. No entanto, a livre expressão homoerótica não é uma realidade, visto serem os comportamentos sociais delimitados historicamente. Assim, a arte homoerótica — e no que consiste o tema de nosso estudo — é, muitas vezes, a única possibilidade de expressão homoafetiva, pois além do valor artístico, vale-se dos fundamentos básicos da arte: refletir sobre o homem e a sociedade e revolucionar os costumes. Muitas vezes, o preço da ousadia é alto demais.
Em busca da expressão e da visibilidade, artistas do mundo todo aderiram ao Queer Art ou Homo Art, movimento artístico que ganhou força na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de 90.
O cinema se destaca na discussão sobre homossexualidade, porém, quase sempre com o objetivo de discutir o tema com amplitude social. Filmes cuja estética e proposta sejam expressões únicas do mundo gay são mais raros. Dentre os grandes cineastas, o espanhol Pedro Almodóvar ganhou notoriedade especialmente por seguir uma tendência, ao mesmo tempo social e conceitual, quando o assunto é homoerotismo, o que se pode verificar em sucessos como A Lei do Desejo e Má Educação.
As artes plásticas são outro instrumento tradicional de expressão homoerótica. Tanto na Antiguidade Clássica (como já discutido nesta aula) quanto no Renascimento, o homoerotismo permeia as telas e esculturas, de forma direta ou apenas em alusão. 
Leonardo da Vinci e Michelangelo idealizaram e realizaram obras que são constantemente associadas às discussões sobre tendências artísticas homoeróticas, seja pelo caráter polêmico de sua vida e de sua obra, no caso de Leonardo da Vinci, seja por uma construção estética ambígua, caso de Michelangelo, em cuja obra as figuras humanas não têm claramente definidas as fronteiras da sexualidade: as mulheres representadas são extremamente viris (corpos musculosos e gestos incisivos) e os homens são lânguidos, quase femininos.

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