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Apostila Sociologia Rural

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2014.1 
Profª Aline De Sousa 
 
 
SOCIOLOGIA RURAL 
2 
Sociologia Rural www.ifcursos.com.br Profª Aline Sousa 
1. INTRODUÇÃO 
1.1 Conceito de Sociologia 
 
 A Sociologia é a ciência que estuda o comportamento humano, os meios de comunicação e 
os processos que interligam o indivíduo em associações, grupos e instituições. Estuda os fenômenos 
que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos diversos, e interagem 
no seu interior. É o das áreas do convívio humano, desde as relações na família até a organização 
das grandes empresas, o papel da política na sociedade até o comportamento religioso, pode vir a 
interessar, em diferentes graus de intensidade, a diversos profissionais e, também, ao homem 
comum. O maior interessado na produção e sistematização do conhecimento sociológico é o Estado, 
normalmente o principal financiador da pesquisa desta disciplina científica. 
A Sociologia ocupa-se das observações do que é repetitivo nas relações sociais, para daí 
formular generalizações teóricas, como também de eventos únicos, como o surgimento do 
capitalismo ou a gênese do Estado Moderno, para explicá-los no seu significado e importância 
singulares. 
 
1.2 O termo Sociologia Rural 
A Sociologia Rural, como a Sociologia Geral, nasceu de um momento de crise, com a 
preocupação de ter como problema sociológico fenômenos sociais do campo e, mais precisamente, 
problemas sociais, como êxodo rural, mudanças nas relações de trabalho, e a disseminação de uma 
cultura citadina, urbana. O caráter dessas mudanças é indiscutível, e está no bojo dos 
acontecimentos que fundamentaram o recrudescimento do processo capitalista de produção. Entre 
uma produção propriamente teórica com a preocupação de apenas produzir e acumular 
conhecimento, e uma outra, pautada por um engajamento, enquanto pesquisa aplicada para ações 
efetivas, é possível afirmar ter prevalecido esta última na gênese da Sociologia Rural. Saber as 
condições precárias da vida do homem do campo e, de uma certa forma, todas as outras influências 
do ponto de vista cultural desse indivíduo, foi o que parece ter motivado trabalhos como o de 
Antonio Candido, em Os parceiros do Rio Bonito, e de tantos outros. A Sociologia Rural, dessa 
forma, teria nascido por necessidade e assim incorporaria um caráter utilitarista, no sentido da 
apologia à reforma social para melhorar as condições de vida do homem do campo. No entanto, 
Aldo Solari (1979) afirma que tal pretensão seria errônea, cabendo à Sociologia apenas a 
interpretação dos fatos, assumindo um possível caráter enquanto ponto de apoio para as políticas 
públicas no âmbito do rural. A despeito de sua louvável preocupação em promover melhorias, a 
Sociologia Rural (como a Geral) deveria ter por “[...] objeto observar os fatos, descobrir leis, 
interpretar suas causas, explicá-las; ela se ocupa daquilo que os fatos são, e não do que deveriam 
ser” (SOLARI, 1979, p. 4). 
Se, enquanto ciência, a Sociologia Rural surgiu em um momento de mudança com as 
transformações ocorridas no campo, isso significa que sua gênese está na imbricação desses dois 
universos, do rural e do urbano. No entanto, segundo Solari (1979), mais do que uma dicotomia 
entre rural e urbano, o que existiria seria um “contínuo”, uma escala gradativa, haja vista as 
diferenças apontadas entre tais categorias (rural e urbano) não serem válidas permanentemente, 
podendo mudar de uma sociedade para outra. Em outras palavras, aquelas “diferenças fundamentais 
entre o mundo rural e o urbano”, apontadas por outros autores como Sorokin, Zimerman e Galpin 
(1981), não dariam conta de explicar possíveis faixas transitórias, uma vez que estas não 
apresentariam na totalidade nem características exclusivamente rurais, nem exclusivamente 
urbanas. Seria preciso considerar o grau de desenvolvimento dos centros urbanos para pensar o 
rural, o qual poderá ser mais ou menos urbanizado. 
3 
Sociologia Rural www.ifcursos.com.br Profª Aline Sousa 
Assim, o momento de crise no âmbito do campo refere-se ao início dessa sobreposição 
entre o urbano e o rural e, dessa forma, considerando que essas transformações não ocorreram (e 
nem ocorrem) de maneira homogênea, surgem diferentes graus dessa mesma sobreposição, ora 
mais acentuada, ora mais superficial. A modernização do campo é um processo sem volta no Brasil 
e no mundo, e dessa forma, considerando-se os movimentos de êxodo rural; a urbanização do 
campo pela chegada de uma infraestrutura característica das cidades; a expansão do agronegócio 
com implantação de alta tecnologia e ampliação da escala de produção; a aglutinação das pequenas 
propriedades pelas grandes companhias proprietárias de grandes latifúndios e a incorporação de 
uma cultura (no sentido das necessidades materiais) citadina pela família do campo estariam as 
característica peculiares do campo fadadas ao desaparecimento? E, mais fundamentalmente, o que 
restaria à Sociologia Rural como objeto de estudo, uma vez que o homem do campo vai se tornando 
cada vez mais parecido com o da cidade? Dessa forma, tais questões sugerem a criação de um 
grande paradoxo. Se a Sociologia Rural teria nascido de um momento de crise do campo diante do 
processo de urbanização das cidades e da modernização dos meios de produção, o recrudescimento 
desse processo estaria condenando-a a uma situação de incapacidade extrema enquanto ciência 
social, haja vista o paulatino “desaparecimento” de seu objeto de estudo: o próprio meio rural, o 
próprio campo. Em outras palavras, o processo (de urbanização, modernização) que criou condições 
para sua existência, agora estaria sufocando-a pela transformação considerável que o campo 
sofrera. 
No entanto, segundo importantes referências no estudo da Sociologia Rural, talvez o 
aparente paradoxo apontado quanto aos efeitos da sobreposição do urbano pelo rural não se 
sustente. Por ser fato a passagem do rural para o urbano, por outro lado tem-se a invasão do 
campo pela cidade, chamada por Aldo Solari (1979) de urbanização do meio rural. A intensidade de 
tais fenômenos levaria a uma crise estrutural da sociedade e ao recrudescimento da Sociologia 
Rural, por surgirem novos problemas que não estariam descolados da ruralidade por se tratarem de 
consequências da modernização no seu sentido urbano, uma vez que o lócus de sua operação seria o 
próprio campo. Dessa forma, essa situação de constante aproximação entre o urbano e o rural não 
significaria, necessariamente, a extinção do campo e, consequentemente, da Sociologia que dele 
trata. Ao contrário, apenas reforçaria ainda mais o caráter da importância do diálogo entre “rural e 
urbano” que aqui já se afirmou. Mais do que isso, o que não se pode perder de vista é o fato de que 
dentro desse “contínuo” existente numa escala em que numa extremidade ter-se-ia o rural e na 
outra o urbano, dois fatos são evidentes: em primeiro lugar, tanto um extremo como o outro seriam 
tipos ideais – categorias puras – que não se encontrariam na realidade; em segundo lugar, dada a 
diferença da intensidade com que os processos de modernização acontecem nas mais diversas 
áreas rurais do globo, essa escala permitiria uma infinidade de classificações. Isto posto, fica claro 
que tal diálogo seria sempre presente, embora variando em grau, em intensidade, mas nunca 
permitindo a sobreposição total de um (seja do rural, seja, do urbano) sobre o outro. 
 
O contraste entre a vida metropolitana e a vida em vilas ou fazendas não 
desaparecerão tão cedo [...], visto que a vida rural é algo mais amplo do que 
a ‘sociologia da ocupação agrícola’, é improvável que esse campo seja 
absorvido pela sociologia industrial. Além disso, já que todos os aspectos da 
vida grupal são caracterizadospor traços genéricos da vida rural, outras 
especialidades (tais como a demografia ou a família) continuarão recebendo 
contribuições da sociologia rural. (ANDERSON, 1981, p. 184) 
 
No tocante ao papel da Sociologia Rural, talvez mais do que a preocupação com sua extinção 
ou desaparecimento, seria interessante sugerir uma discussão sobre sua readequação para lidar 
4 
Sociologia Rural www.ifcursos.com.br Profª Aline Sousa 
com a gama de novos fenômenos sociais ou nova roupagem dos que já se faziam presentes outrora. 
Além disso, dado o nível de complexidade do sistema capitalista de produção que pressupõe uma 
relação centro periferia entre os países, na qual a produção agrícola, a agropecuária e a exploração 
da terra, de maneira geral, geram insumos para os mais diversos ramos industriais, a proximidade 
rural urbano se torna ainda mais patente. Assim, conceitos, categorias e uma terminologia que deem 
conta dessas novas realidades se fazem necessários. As mudanças econômicas, políticas e sociais 
vividas pelo campo conduziram a uma preocupação direta com a recolocação da finalidade da terra 
e da atividade do homem. 
Para exemplificar, surge dessa forma a preocupação com a questão da multifuncionalidade e 
pluriatividade. Tais conceitos são exemplos das transformações do aparato metodológico da 
Sociologia Rural para lidar com a realidade do campo. A multifuncionalidade estaria associada ao 
sentido da criação de meios (pelo poder público) para o desenvolvimento e promoção da terra, do 
território. Não se trataria do desenvolvimento setorial, isto é, do produtor rural ou do agricultor 
familiar, mas de um conceito que engloba as questões de planejamento para garantir o 
desenvolvimento local como políticas públicas, no sentido da segurança alimentar, do tecido social, 
do patrimônio ambiental, entre outras imprescindíveis ao desenvolvimento territorial. Quanto à 
pluriatividade, esta estaria remetida ao novo comportamento do homem do campo diante das 
transformações sociais ocorridas, o qual teria agregado outras funções que não apenas a de 
agricultor. Do turismo rural à produção de produtos alimentícios, característicos do campo, em 
grande escala (comumente por meio de cooperativas e pequenas empresas familiares), estariam as 
novas funções do indivíduo pluriativo do campo. Dessa forma, nas palavras de Aldo Solari (1979), o 
homem do campo vai se convertendo cada vez mais em um empresário, manejando uma organização 
de caráter econômico, através da qual deve obter um rendimento. Assim, tais conceitos e categorias 
seriam, na verdade, resultado do esforço da Sociologia Rural diante desses novos desafios. A 
criação de mecanismos de classificação e leitura desses espaços é de extrema importância para a 
formulação de políticas públicas em todas as esferas (municipal, estadual e federal). 
Embora a Sociologia tenha seu campo de estudo predeterminado – a saber, os fenômenos 
sociais erigidos da vida no campo –, talvez seja possível afirmar que ela não poderia prescindir dos 
elementos constitutivos dos fenômenos estritamente urbanos, mas, ao contrário, deveria travar um 
diálogo com estes, haja vista que o que aqui se chamou de sobreposição nada mais é do que este 
diálogo propriamente dito entre o rural e o urbano. Se há uma ruralidade na cidade, há também uma 
urbanidade no campo. Mesmo diante da complexidade das análises sociais em tempos de constantes 
mudanças, cabe à Sociologia se adequar do ponto de vista metodológico e epistemológico. Mais do 
que a preocupação com sua extinção enquanto braço da Sociologia Geral, o que importa é conseguir 
ultrapassar o desafio de continuar apontando alternativas e leituras sobre as questões do mundo 
rural de modo pertinente. O rural está se transformando, o que não significa que ele está acabando. 
Da mesma forma, isso vale para a Sociologia Rural. Nos assuntos sobre Sociologia Rural destacam-
se o agronegócio na área da economia, da agricultura local e do impacto das grandes empresas de 
produção de alimentos nas comunidades rurais. Outras áreas de estudo incluem a migração rural e 
outros padrões demográficos, a sociologia ambiental, os cuidados com a saúde rural e a educação, 
etc. 
 
2. A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA 
2.1 Origem e expansão da Sociedade Rural no Brasil 
 
O desenvolvimento econômico brasileiro tem estreita relação com a sociedade rural 
brasileira, tanto por sua influência econômica, política e cultural, e também por sua dimensão. O 
complexo açucareiro que se instalou no Brasil colonial estabeleceu condições que nortearam o 
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desenvolvimento nacional até a segunda metade do século XX. A modernização mais abrangente do 
campo brasileiro só veio ocorrer a partir dos anos de 1970, contudo, ainda hoje, nas regiões 
Nordeste e Norte encontram-se exemplos ilustrativos do modo operacional da sociedade rural não 
modernizada. Portugal chega ao século XVI, com posição importante no mercado mundial, 
principalmente por sua expansão ultramarina. Entretanto, passa a sofrer acentuado processo de 
estagnação econômica e social, em função da fragilidade da burguesia comercial diante da nobreza, 
da realeza e do clero. O capital usuário especializava-se na manutenção da caótica dívida pública 
(Oliveira, 2003). Alie-se a debilidade da base produtiva nacional. Sob este contexto o Brasil é 
inserido na economia portuguesa, através da adoção de sesmarias, para viabilizar a colonização 
mercantil, estabelecida nos moldes do Império das Índias. 
A empresa açucareira passou a fazer parte da realidade brasileira a partir do terceiro 
decênio do século XVI, por duas condições importantes: 1) ocupação efetiva pelo povoamento e 
colonização da costa do Brasil; 2) o valor comercial do açúcar, na Europa, com uma demanda muito 
maior do que a oferta. Tratava-se da mercadoria mais importante do comércio mundial, superando 
em valor aos grãos, carne, peixes, especiarias, tecidos ou metais. Para atender esse mercado era 
necessária uma produção em larga escala. Além disso, a logística desse negócio – plantio, colheita, 
transporte ao engenho, moagem, exportação e financiamento – completavam, o quadro que 
viabilizava economicamente grandes plantações. Tem-se então, a condição determinante da 
instalação da plantation açucareira no Brasil. Com a grande propriedade direcionada ao cultivo da 
cana-de-açúcar, instalou-se no Brasil o trabalho escravo, após a tentativa do silvícola como mão-
de-obra no extrativismo do pau-brasil, mas que se tornou inviável na agricultura comercial. 
Foi o negro africano quem resolveu o problema da mão-de-obra para esse tipo de 
agricultura. Solução que se estendeu até o final do século XIX, com reflexos no retardamento no 
desenvolvimento econômico do Brasil. Nessa conjuntura começa a se formar a sociedade rural 
brasileira. 
 
2.2 A família rural e a sociedade colonial 
 A atividade açucareira também foi o embrião da 
família rural, base da sociedade colonial brasileira, que se 
desenvolveu patriarcal e aristocrática, nos moldes da 
sociedade portuguesa. A família rural contava com apoio 
político do donatário da capitania e/ou do Governo Geral. A 
colonização por indivíduos praticamente não recebeu esse 
apoio e não influenciou política e economicamente o 
povoamento. Em torno dela e do seu elemento principal, o 
engenho, - polo aglutinador da sociedade que se formava, 
ordenando a propriedade e o uso do solo com a plantação 
de cana-de-açúcar, em função do grande comércio – a 
economia açucareira do período colonial estabelece o primeiro forte núcleo social e político da 
sociedade brasileira: a casa-grande (habitação do senhor),e a senzala dos escravos. Assim, a 
grande propriedade açucareira transformou-se num verdadeiro mundo em miniatura em que se 
concentrava e resumia a vida toda de uma população. 
Sua autossuficiência impossibilitava que se superasse o contexto patriarcal. Este, por sua 
liderança única estabelecida em um ambiente fechado, não permitia que as mudanças ocorressem 
impossibilitando qualquer tentativa de modernização tanto do setor produtivo como da própria 
sociedade estabelecida em função dessa economia. 
O engenho de açúcar estabeleceu no Brasil duas situações típicas da sociedade da Europa 
Ocidental, daquela época: a produção num ambiente social autosuficiente (o feudo); o comércio 
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Sociologia Rural www.ifcursos.com.br Profª Aline Sousa 
internacional do açúcar (o mercantilismo). A família rural foi um dos principais agentes na formação 
da sociedade colonial brasileira. Esta, na sua origem se pautou em dois aspectos. No político e 
econômico era considerada moderna, pois se inseria nos quadros do absolutismo e do capitalismo 
comercial. Quanto ao aspecto social e das mentalidades era arcaizante, pois se baseava em 
estruturas ibéricas medievais, africanas e indígenas pré-coloniais. 
Nesse contexto, a burguesia rural e mercantil da colônia desejava o enriquecimento não 
como um fim em si, mas como meio de enobrecimento, interrompendo o ciclo capitalista poupança-
investimento e direcionando seus recursos para a compra de títulos nobiliárquicos, cargos 
enobrecedores, terras improdutivas e palácios dispendiosos. Pertencer à nobreza de direito à 
nobreza de fato era aspiração corrente dos senhores de engenho. Para tanto, valorizavam-se muito 
mais o interesse corporativo do que o interesse individual, a família patriarcal do que a família 
nuclear, a estabilidade do que a mudança, o sobrenome do que o nome. 
 
2.3 O sistema de trabalho na agricultura brasileira 
 De 1500 a 1822, todas as terras brasileiras 
pertenciam a coroa portuguesa, que as doava ou cedia seu 
direito de uso a pessoas de sua confiança ou conveniência, 
visando a ocupação do território e a exploração agrícola. A 
coroa portuguesa controlou a posse da terra, através da 
criação das capitanias hereditárias e das sesmarias, que 
atendiam as suas necessidades de obtenção de lucro a parti 
da exportação de produtos agrícolas cultivados no sistema 
de plantation, ou seja, em grandes propriedades 
monoculturas, escravistas e cuja produção era voltada a 
exportação. 
 Entre 1822, ano da independência política, e 1850, vigorou no Brasil o sistema de posse 
livre em terras devolutas. Ao longo desse período, a terra não tinha valor de troca, possuía apenas 
valor de uso a quem quisesse cultivar e vender sua produção. Nesse período ainda vigorava a 
escravidão, a utilização da mão-de-obra servil trazida forçadamente da África, e os escravos 
negros eram prisioneiros dos latifundiários, o que os impediam de ter acesso as terras devolutas no 
imenso território brasileiro. A entrada de imigrantes livres nesse período foi muito pequena e 
restrita as cidades. Em 1850, com o aumento da área cultivada com o café e a Lei Eusébio de 
Queirós, esse quadro sofreu profundas mudanças. Dada a proibição do trafico negreiro, a mão-de-
obra que entrava no Brasil para trabalhar nas lavouras era constituída por imigrantes livres 
europeus, atraídos pelo governo brasileiro. 
 Com o claro intuito de garantir o fornecimento de mão-de-obra barata aos latifúndios, o 
governo impediu o acesso dos imigrantes a propriedade através da criação, também em 1850, da 
Lei de Terras. Com essa lei, todas as terras devolutas tornaram-se propriedade do estado, que 
somente poderia vendê-las através de leilões, beneficiando quem tinha mais dinheiro, não o 
imigrante que veio se aventurar na América justamente por não ter posses em seu país de origem. 
 Isso nos leva a concluir que essa lei, além de garantir o fornecimento de mão-de-obra para 
os latifúndios, servia também para financiar o aumento do volume de imigrantes que ingressava e, 
ao chegar ao Brasil, eram obrigados a se dirigir as fazendas, praticamente o único lugar onde se 
podia encontrar emprego. Nessa época, a posse da terra, era considerada reserva de valor e 
símbolo de poder. Nesse período se iniciou no Brasil a “escravidão por divida”. Os “gatos” (pessoas 
que contratam mão-de-obra para as fazendas) aliciam pessoas desempregadas para trabalhar nos 
latifúndios, prometendo-lhes transportes, moradia, alimentação e salário. Ao entrar na fazenda, 
porém, os trabalhadores recrutados percebem que foram enganados, já que no dia em que deveriam 
7 
Sociologia Rural www.ifcursos.com.br Profª Aline Sousa 
receber o salário são informados de que todas as despesas com transportes, moradia e salário, que 
nunca é suficiente para a quitação da divida. No inicio da década de 30, em consequência da crise 
econômica mundial, a economia brasileira, basicamente agroexportadora, também entrou em crise. 
A região Sudeste, onde se desenvolvia a cafeicultura, foi a que enfrentou o maior colapso. Na 
região Nordeste ocorreu novas crises do açúcar e do cacau, enquanto a região Sul, com produção 
direcionada para o mercado interno, sofreu efeitos menores. A crise de 30 foi uma crise de 
mercado externo, de produção voltada para a exportação. Foi nesse período que ocorreu o inicio 
efetivo do processo de industrialização brasileira. 
Outro desdobramento da crise foi um maior incentivo a policultura, e uma significativa 
fragmentação das grandes propriedades, cujos donos venderam suas terras para se dedicar a 
atividade econômica urbanas, sobretudo a industria e o comercio. Foi um dos raros momentos da 
historia do Brasil em que houve um aumento de pequenos e médios proprietários rurais. Em 1964, o 
presidente João Goulart tentou desviar o papel do Estado brasileiro do setor social. Pretendia 
também promover uma reforma agrária, que tinha como principio distribuir terras a população rural 
de baixa renda. Em oposição a política de Goulart, houve a intervenção militar e a implantação da 
ditadura. A concentração de terras ao longo da ditadura militar assumiu proporções assustadoras, e 
o consequente êxodo rural em direção as grandes cidades deteriorou a qualidade de vida de 
imensas parcelas da população, tanto rural quanto urbana. A parte da década de 70 foi incentivada a 
ocupação territorial das regiões Centro-Oeste e Norte, através da expansão das fronteiras 
agrícolas, assentadas em enormes latifúndios pecuaristas ou monocultores. 
 
2.3.1 A estrutura fundiária 
 O estado da terra é um conjunto de leis criado em novembro de 1964 para possibilitar a 
realização de um censo agropecuário. Para a sua realização, surgiu a necessidade de classificar os 
imóveis rurais por categorias. Para resolver a questão, foi criada uma unidade de medidas de 
imóveis rurais o módulo rural assim definida: “área explorável que, em determinada porção do país, 
direta e pessoalmente explorado por um conjunto familiar equivalente a quatro pessoas adultas, 
correspondendo a 1000 jornadas anuais, lhe absorva toda força e, conforme o tipo de exploração 
considerado proporcione um rendimento capaz de assegurar-lhe a subsistência e o progresso social 
e econômico”. Em outras palavras, módulo rural é a propriedade que deve proporcionar condições 
dignas de vida a uma família de quatro pessoas adultas. Assim, ele possui área de dimensão 
variável, levando em consideração basicamente três fatores que, ao aumentar o rendimento da 
produção e facilitar a comercialização, diminuem a área do módulo: 
 
1) Localização da propriedade: se o imóvel rural se localiza próximo a um grande centro 
urbano, terá uma área menor; 
2) Fertilidade do solo e clima da região:quanto mais propícias as condições naturais da região, 
menor a área do módulo; 
3) Tipo de produto cultivado: em uma região do país onde se cultiva, por exemplo, mandioca e 
se utilizam técnicas primitivas, o módulo rural deve ser maior que em uma região que produz 
morango com emprego de tecnologia moderna. 
 
Desse modo foram criadas as categorias de imóveis rurais: 
 
a) O minifúndio: esses são os grandes responsáveis pelo abastecimento do mercado interno de 
consumo, já que sua produção é, individualmente, obtida em pequenos volumes, o que 
inviabiliza economicamente a exportação; 
8 
Sociologia Rural www.ifcursos.com.br Profª Aline Sousa 
b) Os latifúndios por dimensão: são as enormes propriedades agroindustriais, com produção 
quase sempre voltada a exportação; 
c) Os latifúndios por exploração: tratam-se dos imóveis rurais improdutivos, voltados à 
especulação imobiliária. O proprietário não adquiriu a terra com a intenção de nela produzir, 
gerar emprego e ajudar o país a crescer, mas para esperar sua valorização imobiliária, 
vende-la e ganhar muito dinheiro sem trabalhar; 
d) A empresa rural: propriedade com área de um a seiscentos módulos, adequadamente 
explorada em relação às possibilidades da região. 
 
 São comuns os grandes proprietários, classificados na categoria de latifúndios por dimensão, 
parcelarem a propriedade da terra entre seus familiares para serem classificados como empresários 
rurais e, pagarem um imposto menor. Existe a grande concentração de terras em mãos de alguns 
poucos proprietários, enquanto a maioria dos produtores rurais detém uma parcela muito pequena 
da área agrícola. Essa realidade é exatamente perversa, a medida que cerca de 32% da área 
agrícola nacional é constituída por latifúndios por exploração, ou seja, de terras parada, improdutiva 
a especulação imobiliária. 
 2.3.2 As relações de trabalho na zona rural 
 A terra é o meio de produção fundamental na economia rural. O acesso a ela é condição 
indispensável para a produção agrícola. No cenário do Brasil agrário as formas de trabalho foram 
determinadas conforme o período histórico vivenciado nos espaços rurais do país. São eles: 
 
1. O Trabalho familiar: Na agricultura brasileira, predomina a utilização de mão-de-obra familiar em 
pequenas e médias propriedades de agriculturas de subsistência ou jardinagem, espalhadas pelo 
país. Quando a agricultura praticada pela família é extensiva, todos os membros se veem obrigados 
a complementar a renda como trabalhadores temporários ou boias-frias em épocas de corte, 
colheita ou plantio nas grandes propriedades agroindustriais. Ás vezes, buscam subemprego até 
mesmo nas cidades, retornando ao campo apenas em épocas necessárias ou propícia ao trabalho na 
propriedade familiar. 
2. O Trabalho temporário: são trabalhadores diaristas, temporários e sem vinculo empregatício. Em 
outras palavras, recebem por dia segundo a sua produtividade. Eles têm serviço somente em 
determinadas épocas do ano e não possuem carteira de trabalho registrada. Embora completamente 
ilegal essa relação de trabalho continua existindo, em função da presença do “gato”, um empreiteiro 
que faz a intermediação entre fazendeiro e os trabalhadores. Por não ser empresário, o “gato” não 
tem obrigações trabalhistas, não precisa registrar os funcionários. Em algumas regiões do Centro-
Sul do país, sindicatos fortes e organizados passaram a fazer essa intermediação. Os boias-frias 
agora recebem sua refeição no local de trabalho, tem acesso a serviços de assistência médica e 
recebem salários maiores que os bóias-frias de região onde o movimento sindical é desarticulado. 
 3. O Trabalho assalariado: representa apenas 10% da mão-de-obra agrícola. São trabalhadores que 
possuem registro em carteira, recebendo, portanto, pelo menos um salário mínimo por mês. 
 4. A Parceria e arrendamento: parceiros e arrendatários “alugam” a terra de alguém para cultivar 
alimentos ou criar gado. Se o aluguel for pago em dinheiro, a situação á de arrendamento. Se o 
aluguel for pago com parte da produção, combinada entre as partes, a situação é de parceria. 
 5. A Escravidão por divida: trata-se do aliciamento de mão-de-obra através de promessas 
mentirosa. Ao entrar na fazenda, o trabalhador é informado de que está endividado e, como seu 
salário nunca é suficiente para quitar a divida, fica aprisionado. 
 
 
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3. OS PROCESSOS (E AGENTES) SÓCIO-ECONÔMICOS E AS TRANSFORMAÇÕES NA ESTRUTURA 
DA SOCIEDADE AGRÁRIA 
 
3.1 A agricultura na ocupação do território brasileiro 
A agricultura é a forma mais primária através da qual o homem altera a natureza primeira, o 
espaço natural. Ao laborar o solo e criar rebanhos o homem passou a produzir o espaço geográfico. 
O desenvolvimento da agricultura (e principalmente a sua intensificação) possibilitou o surgimento 
das cidades e a construção de um espaço geográfico cada vez mais artificial. No Brasil, 
historicamente a ocupação de novas áreas tem como característica a intensificação das atividades 
agropecuárias. Com a exceção da mineração, a extração vegetal e a agricultura monocultora de 
exportação foram as atividades econômicas desenvolvidas no Brasil que determinaram 
unilateralmente a forma de ocupação do território brasileiro até o século XX, quando a 
industrialização passou a ter importância nas atividades produtivas do País. Até então as regiões 
efetivamente ocupadas estavam localizadas na costa e a ocupação do interior era bastante rarefeita. 
 A ocupação do território brasileiro nos séculos XVI e XVII se iniciou pelo litoral nordestino e 
em seguida por algumas áreas do litoral do Sudeste. O pau-brasil era encontrado na Mata Atlântica, 
vegetação que se estendia por grande parte do litoral brasileiro no descobrimento. Os portugueses 
estabeleceram a produção de açúcar também no litoral, onde surgiram os primeiros povoados e 
núcleos urbanos. Como era uma produção voltada à exportação, a dificuldade de transporte 
terrestre da mercadoria até o litoral impedia o estabelecimento da produção em regiões 
interioranas. Nos dois primeiros séculos de ocupação, com o crescimento da produção açucareira 
principalmente no Nordeste e a necessidade de maximização da produção nas áreas litorâneas, foi 
estabelecida no sertão nordestino uma pecuária extensiva baseada em grandes estabelecimentos. A 
pecuária tinha como objetivo o fornecimento de carne, força motriz e transporte para a produção 
açucareira. A pecuária também se estabeleceu em menor escala no Sudeste, também para dar 
suporte à produção de açúcar e à reduzida mineração. No sul do país, que no período ainda estava 
sob domínio espanhol, a atividade pecuarista era destinada especificamente à produção de couro. 
Neste primeiro período o vale do Amazonas também foi ocupado (de forma bastante tênue) para a 
extração das drogas do sertão. 
No século XVIII a produção de açúcar diminuiu e a expansão da mineração, com auge 
naquele século, foi a alternativa encontrada por Portugal para a exploração da colônia. A mineração 
de pedras preciosas e ouro foi estendida para o interior da Bahia, Minas Gerais, Goiás e Mato 
Grosso, o que proporcionou a ocupação do interior, mesmo que de forma pouco densa. A pecuária e 
a agricultura de gêneros alimentares acompanharam a mineração e também se intensificaram no 
interior. Na segunda metade do século o algodão ganhou importância e teve seu auge no fim do 
século XVIII e início do século XIX. Também no final do século XVIII e início do século XIX a 
pecuária no sertão nordestino decaiu devido à seca e a região Sul passou a ser importante 
fornecedora de charque. O século XIX foi marcado por um aumento significativoda ocupação do 
território brasileiro, sendo que fatos políticos e econômicos influenciaram a atual configuração da 
distribuição de densidades no território. Um evento político marcante foi a transformação do Rio de 
Janeiro, capital da colônia desde 1763, em capital do império Português com a vinda da família real 
em 1808. O segundo componente, de ordem econômica, foi o desenvolvimento da produção de café 
no sudeste. A cafeicultura teve seu ápice entre meados do século XIX e início do século XX, quando 
foi a principal atividade econômica do país. O cultivo do café foi iniciado no Rio de Janeiro na 
primeira metade do século XIX e expandido para o sul de Minas Gerais, sul do Espírito Santo e leste 
de São Paulo, no vale do Paraíba. 
 Também foi no século XIX que a extração de borracha se desenvolveu na região amazônica, 
para onde houve um grande fluxo de migração nordestina. O ciclo da borracha entrou em 
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decadência na década de 1920, com a concorrência da borracha produzida em plantações no 
sudeste asiático. No Nordeste, o cultivo do algodão passou a dividir importância econômica com a 
produção de açúcar, decaindo a partir do primeiro quarto do século. A iminência do fim da 
escravidão negra, ocorrida em 1888, incentivou a vinda para o Brasil de um grande contingente de 
população européia, seguida mais tarde pela imigração japonesa. Entre os anos de 1885 e 1934 
entraram no Brasil, através do estado de São Paulo, 2.333.217 imigrantes. A imigração européia 
também foi importante no século XIX para a ocupação da região Sul do Brasil, onde foi estabelecida 
a colonização camponesa por imigrantes italianos, alemães e eslavos. As décadas de vinte e trinta 
do século XX foram caracterizadas pelo declínio do café e a transferência de capitais desta 
atividade para o setor industrial paulista, que se desenvolveu intensamente nesse período. A partir 
de então a industrialização passou a causar alterações na agricultura pela demanda de matéria-
prima, mão-de-obra e alimentos para a população urbana. 
No Brasil, historicamente a agricultura camponesa desempenhou papel crucial para o 
desenvolvimento das grandes culturas de exportação e das atividades mineradoras, pois garantia a 
produção de alimentos para o abastecimento interno. Como descrito por Prado Jr. (1994 [1945]), 
não havia interesse do grande estabelecimento na produção de excedente de alimentos para a 
população não agrícola da colônia. Os gêneros alimentares para abastecimento dos grandes 
estabelecimentos eram produzidos no seu próprio interior, seja pela iniciativa do senhor das terras 
ou então pela concessão de terra e de um dia na semana para que os escravos produzissem seu 
próprio alimento. A população dos povoados era abastecida por uma agricultura camponesa 
baseada em pequenos estabelecimentos, que nem sempre conseguia suprir a demanda dos 
povoados, e por vezes também fornecia alimentos para os grandes estabelecimentos monocultores. 
O colonato nas lavouras de café também apresentou sistema semelhante, de forma que os 
imigrantes europeus e japoneses praticavam a agricultura camponesa de autoconsumo nas terras 
concedidas pelos patrões. Por fim, talvez o caso mais explícito da importância da agricultura 
camponesa na ocupação do território seja a colonização européia com base na agricultura 
camponesa, implantada no sul do país. 
 
3.2 O Sistema de produção e transformação social: a crise do café e sua influência na industrialização 
 Com a crise de 1929, e a consequente diversificação da população agrícola, terminou o 
ultimo ciclo monocultor. A economia mundial entrou em sério aperto, que levou ao fim do ciclo do 
café na região do Sudeste e trouxe crises na exportação de cana-de-açúcar, cacau, tabaco e 
algodão na região Nordeste. Essa queda repentina na produção se explicava pelas dificuldades de 
exportação. Da mesma forma que estava difícil exportar, estavam sendo prejudicadas as 
importações de bens de consumo duráveis e não-duráveis. 
 O ciclo do café deixou como herança uma infra-estrutura básica para a implantação da 
atividade industrial. Os barões do café eram os detentores de uma enorme quantia de capital 
aplicado no sistema financeiro, assim, os bancos funcionaram como agentes financiadores da 
instalação de novas industrias no Brasil, repassando o dinheiro depositado pelos barões aos 
empreendedores industriais. Existia também, grande disponibilidade de mão-de-obra, que foi 
liberada dos plantios de café, e boa produção de energia elétrica. Havia, também, um dos fatores 
mais importantes, o mercado estrangeiro caiu. 
 Com todos esses fatores, começou a surgir à industrialização, principalmente em São Paulo, 
depois nos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A maior parte das indústrias implantadas 
era de bens de consumo, com destaque para os de bens não duráveis, como as alimentícias e 
têxteis. O governo comandava uma política de substituição, visando um superávit cada vez maior na 
balança comercial. 
 
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3.3 Governo Getúlio Vargas 
 De 1930 a 1956, a industrialização no Brasil se caracterizou por explícita intervenção 
estatal. Na revolução de 1930, foi empossado Getúlio Vargas como presidente, assumindo o poder 
durante a crise econômica mundial de 1929. Com a crise, o pensamento capitalista de que o 
mercado deveria agir livremente para promover um maior desenvolvimento e crescimento 
econômico, foi mudado para o pensamento de que o estado poderia diretamente na economia, 
evitando novos sobressaltos. Essa prática de intervencionismo estatal na economia é conhecida por 
keynesianismo. Em 1934, Getúlio Vargas promulgou uma nova constituição, que beneficiavam o 
trabalhador, destacando-se a criação do salário mínimo, as férias remuneradas e o descanso 
semanal remunerados. Vargas, com o apoio das elites agrárias e industriais, conseguiu aprovar uma 
nova Constituição em 1937, que o manteve no poder como ditador até o fim da Segunda Guerra 
Mundial. Esse período na produção industrial, devido a falta de oposição eficiente e a manipulação 
das notícias através da forte censura aos meios de comunicação. Essa intervenção estatal ocorreu 
no setor de base da economia. E graças a essa intervenção, houve um grande crescimento da 
produção industrial. 
 Durante a segunda guerra mundial, as indústrias dos setores de metalurgia, borracha, 
transportes e minério não metálicos conseguiram grandes índices de crescimento, pois produziam 
os principais produtos que o Brasil enviava as tropas aliadas no conflito. Após a disposição de 
Vargas, em 1946, assumiu a presidência o General Eurico Gaspar Dutra, que instituiu o Plano Salte, 
dirigindo investimentos aos setores de Saúde, alimentação, transportes, energia e educação. O saldo 
positivo na balança comercial, obtido durante a Segunda Guerra Mundial, foi queimado no decorrer 
do governo Dutra, com a importação de máquinas e equipamento para a industria mecânicas e 
têxteis, havendo o requipamento do sistema de transportes. Em 1950, Vargas voltou ao poder, mas 
dessa vez eleito pelo povo. Passou a enfrentar novos empecilhos para o crescimento econômico: 
deficiências nos sistemas de transportes, comunicação, produção de energia, petróleo. Mas, apoiado 
por um movimento nacionalista popular, Getulio criou a Petrobrás, a Eletrobrás e o Banco Nacional 
de Desenvolvimento Econômico e Social, inaugurados em 1953. 
 
4. AGROPECUÁRIA: AS RELAÇÕES ENTRE A CIDADE E O CAMPO 
A produção agrícola é obtida em condições bem diversificadas no mundo. Os países 
desenvolvidos e industrializados interferiram a produção agrícola por modernizar as técnicas 
empregadas, utilizandocada vez menos mão-de-obra. Nos países subdesenvolvidos, foram 
principalmente as regiões agrícolas que abastecem o mercado externo que passaram por 
modernização na técnica de cultivo e colheita. Mas, houve o êxodo rural acelerado, que contribuiu 
para o aumento nas periferias das grandes cidades. 
 O planeta apresenta países e regiões onde os sistemas de transporte e comunicações estão 
plenamente materializados em redes ou sistemas de transportes que lhes permite parte para uma 
política agrícola e industrial de especialização produtiva. As regiões ricas e modernizadas produzem 
apenas o que lhe é mais conveniente, garantindo maiores taxas de lucros, e buscam em outras 
regiões o que não produzem internamente. Essa realidade intensificou o comercio mundial. Mas, por 
outro lado, as regiões tecnicamente atrasadas se vêem obrigadas a consumir basicamente o que 
produzem e são bem sensíveis aos rigorosos impostos pelas condições naturais. Nos países em que 
predominam o trabalho agrícola, utilizando mão-de-obra urbana e rural, o Estado assume 
importância fundamental no combate a fome. 
 As políticas modernas de reforma agrária visam a integração dos trabalhadores agrícolas e 
dos pequenos e médios proprietários nas modernas técnicas de produção. Trata-se de reformas a 
estrutura fundiária e as relações de trabalho, buscando o estabelecimento de prioridades na 
produção. Existe atualmente, uma tendência a entrada do capital agroindustrial no campo, tanto nos 
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setores voltados ao mercado externo quanto ao mercado interno. Assim, a produção agrícola 
tradicional tende a se especializar para produzir a matéria-prima utilizada pela agroindústria. Já é 
passado o tempo em que a economia rural comandava as atividades urbanas. O que se verifica hoje 
é a subordinação do campo a cidade, uma dependência cada vez maior das atividades agrícolas as 
máquinas, agrotóxicas e tecnológicas. 
 
4.1 Os sistemas agrícolas 
 Os sistemas agrícolas podem ser classificados como intensivos ou extensivos. Essa 
classificação está ao grau de capitalização e ao índice de produtividade. As propriedades que, 
através da utilização de modernas técnicas de preparo do solo, cultivo e colheita, apresentam altos 
índices de produtividades e conseguem explorar a terra por um bom período, praticam agricultura 
intensiva. Já as propriedades que utilizam a agricultura tradicional, apresentando baixos índices de 
produtividade, praticam a agricultura extensiva. 
 
4.1.1 A agricultura itinerante 
 Esse tipo de sistema agrícola é aplicado em regiões onde a agricultura é descapitalizada. A 
produção é obtida em pequenas e medias propriedades ou em parcelas de grande latifúndio, com 
utilizações de mão-de-obra familiar e técnicas tradicionais. Por falta de recursos, não há 
preocupação com a conservação do solo, as sementes são de qualidade inferior e não há 
investimentos em fertilizantes, por isso, a rentabilidade e, as produções são baixas. Depois de 
alguns anos de cultivo, há uma diminuição da fertilidade natural do solo. Quando percebem que o 
rendimento está diminuindo, a família desmata uma área próxima e pratica queimada para acelerar o 
plantio, dando inicio a degradação acelerada de uma nova área, que em breve também será 
abandonada. Daí o nome da agricultura itinerante. 
 Em algumas regiões do planeta, a agricultura de subsistência, itinerante e roça, está voltadas 
as necessidades de consumo alimentar dos próprios agricultores. Tal realidade ainda existe em boa 
parte dos países africanos, em regiões do Sul e Sudeste Asiáticos e na América Latina, mas tem 
prevalecido hoje é uma agricultura de subsistência voltada ao comercio urbano. O agricultor e sua 
família cultivam um produto que será vendido na cidade mais próxima, mas o dinheiro que recebem 
só será suficiente para garantir a subsistência de cultivo e aumentar a produtividade. Esse tipo de 
agricultura é comum em áreas distantes dos centros urbanos, onde a terra é mais barata; 
predominam as pequenas propriedades, cultivadas em parceria. 
 
4.1.2 Agricultura de jardinagem 
 Essa expressão tem origem no Sul e no Sudeste da Ásia, onde há uma enorme produção de 
arroz em planícies inundáveis, com a utilização de mão-de-obra. Tal como a agricultura de 
subsistência, esse sistema é praticado em pequenas e medias propriedades cultivadas pelo dono da 
terra e sua família. A diferença é que nelas se obtém alta produtividade, através do selecionamento 
de sementes, da utilização de fertilizantes e de técnicas de preservação do solo que permitem a 
fixação da família na propriedade por tempo indeterminado. Em países como as Filipinas, a 
Tailândia, devido a elevada densidade demográfica, as famílias obtém áreas muitas vezes inferiores 
a um hectare e as condições de vida são bem precárias. Em países em que fizeram reforma agrária, 
Japão e Taiwan, após a comercialização da produção e a realização de investimentos para a nova 
safra, há um excedente de capital que permite melhor, a cada ano, as condições de trabalho e a 
qualidade de vida da família. Na China, desde que foram extintas as comunas populares, houve um 
significativo aumento da produtividade. Devido a grande população, o excedente a modernização da 
produção agrícola foi substituída pela utilização de enormes contingentes de mão-de-obra. Em 
algumas províncias, porém, está havendo um processo de modernização, impulsionando pela 
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expansão de propriedades particulares e da capitalização proporcionada pela abertura econômica a 
parti de 1978. Sua produção é essencialmente voltada para abastecer o mercado interno. 
 
4.1.3 As empresas agrícolas 
 São as responsáveis pelo desenvolvimento do sistema agrícola dos países desenvolvidos. 
Nesses sistemas, a produção é obtida em medias e grandes propriedades altamente capitalizadas. A 
produtividade é bem alta devido ao selecionamento de sementes, uso intensivo de fertilizantes, 
elevado de mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita, utilização de silos de 
armazenagem, sistemático de todas as etapas da produção e comercialização por técnicas. 
Funciona como uma empresa e sua produção são voltadas ao abastecimento tanto do mercado 
interno como o externo. Nas regiões onde se implantou esse sistema agrícola, há uma tendência a 
concentração de terras. 
 
4.1.4 Plantation 
 É a propriedade monocultura, com produção de gêneros tropicais, voltadas para a 
exportação. Esse sistema agrícola foi amplamente utilizado durante a colonização européia na 
América. Na atualidade, esse sistema persiste em várias regiões do mundo subdesenvolvido, 
utilizando, além de mão-de-obra assalariada, trabalho semi-escravo ou escravo, que não envolve 
pagamento de salário. Trabalha em troca de moradia e alimentação. No Brasil, encontramos 
plantation em várias partes de territórios, com destaque para as áreas onde se cultivam café e 
cana-de-açúcar. Próximo das platations sempre se instalam pequenas e medias propriedades 
policulturas, cuja produção alimentar abastecer os centros urbanos próximos. 
 
4.1.5 Cinturão Verde e Bacias leiteiras 
 Ao redor dos centros urbanos, pratica a agricultura e pecuária intensiva para atender as 
necessidades de consumo da população local. Nessas áreas, produzem-se hortifrutigranjeiros e 
cria-se gado para a produção de leite e laticínios em pequenas e medias propriedades, com 
predomínio da utilização de mão-de-obra familiar. Após a comercialização da produção, o 
excedente obtido é aplicado na modernização das técnicas. 
 
4.1.6 A agropecuária em países desenvolvidos 
 A agricultura e a pecuária, no geral,são praticados de forma intensiva, com grande 
utilização de agrotóxicos, fertilizantes, técnicas aprimoradas de correção e conservação dos solos e 
elevados índices de mecanização agrícola. Por isso, a mão-de-obra no setor primária da economia é 
bem pequena. Nesses países, além do enorme índice de produtividade, obtém-se um enorme 
volume de produção que abastece o mercado interno e é responsável por grande parcela do volume 
de produtos agropecuárias que circulam o mercado mundial. Uma quebra na safra de qualquer 
produto cultivado nos Estados Unidos ou na Europa tem reflexos imediatos no comércios mundial e 
na cotação dos produtos agrícolas. 
 
4.1.7 Agropecuária em países subdesenvolvidos 
 Tanto nos países subdesenvolvidos cuja base da economia é rural , como nas regiões pobres 
dos países subdesenvolvidos que se industrializaram, há um amplo predomínio da agricultura de 
subsistência, que ocupa os piores solos, e do sistema de plantation, área de solos melhores. Essa 
situação é uma herança histórica do período em que esses países foram colônias. O setor primário 
constitui a base da economia nesses países. O percentual da população economicamente ativa que 
trabalha no setor primário é sempre superior a 25%, ou até muito mais, como a Etiópia, 77% da 
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população ativa é agrícola. É comum vigorar uma política agrícola que priorize a produção voltada 
ao abastecimento do mercado externo, mais lucrativo. 
 
4.2 Nossa produção agrícola 
 O Brasil se destaca no mercado mundial como exportador de alguns produtos agrícolas: 
café, açúcar, soja, suco de laranja. Entretanto, para abastecer o mercado interno de consumo, há a 
necessidade de importação de alguns produtos, com destaque para o trigo. Ao longo da história do 
Brasil, a política agrícola tem dirigido maiores subsídios aos produtos agrícolas de exportação, 
cultivados nos grandes latifúndios, em detrimento da produção do mercado interno,. Porém, em 
1995, houve uma inversão de rumos e os produtos que receberam os maiores incentivos foram o 
feijão, a mandioca e o milho. 
 A política agrícola tem como objetivos básicos o abastecimento do mercado interno, o 
fornecimento de matérias-primas para a industria, e o ingresso de capitais através das exportações. 
Também se pratica pecuária semi-extensiva em regiões de economia dinâmica oeste paulista, 
Triangulo Mineiro e Campanha Gaúcha, onde há seleção de raças e elevados índices de 
produtividade e rentabilidade. Nos cinturões verdes e nas bacias leiteiras, a criação de bovinos é 
praticada de forma intensiva, com boa qualidade dos rebanhos e alta produtividade de leite e carne. 
Nessa modalidade de criação, destacam-se o vale do Paraíba e o Sul de Minas Gerais. Já o centro-
oeste de Santa Catarina apresenta grande concentração de frigorífico e se destaca na criação de 
aves e suínos em pequenas e médias propriedades, que fornecem a matéria-prima as empresas. 
 
5. AS MIGRAÇÕES INTERNAS E AS FRONTEIRAS AGRÍCOLAS 
O período que compreende o final do século XIX até a década de 1950 foi caracterizado pela 
ocupação do oeste do estado de São Paulo, com o avanço da frente pioneira. A década de 1920 
marcou o avanço na ocupação do oeste e do norte do estado do Paraná, em parte como extensão da 
ocupação do estado paulista. A porção ocidental do estado de São Paulo, como analisado por Pierre 
Monbeig (1984 [1949), foi ocupada principalmente com o desenvolvimento da cultura do café, 
algodão e pecuária bovina, que davam continuidade à produção direcionada à exportação. A 
ocupação do estado de São Paulo pode ser considerada a primeira fronteira agropecuária brasileira. 
Já estabelecida no leste do estado, principalmente na região do vale do Paraíba, a produção de café 
avançou sobre o planalto paulista. 
O estabelecimento de uma rede ferroviária considerável, que contava inclusive com capitais 
dos fazendeiros, ligando o interior à capital e ao Porto de Santos, foi indispensável para a ocupação 
do estado de São Paulo. O fluxo migratório para a fronteira agropecuária era formado 
principalmente por imigrantes europeus, japoneses e de Minas Gerais. Com a crise de 1929 e a 
segunda guerra mundial o café perdeu importância, mas a demanda por algodão e carne aumentaram 
por parte dos EUA, envolvido na guerra. Nas culturas de frente pioneira, além do arroz e do milho, 
passaram a ter importância outras culturas destinadas à alimentação da crescente população urbana 
brasileira. Desta forma, mesmo com o declínio da rentabilidade da produção de café, a frente 
pioneira paulista continuou avançando, perdendo força a partir de 1940, quando os fluxos 
migratórios passaram a ter como destino principal o estado do Paraná. (MONBEIG, 1984 [1949]). 
Em relação à apropriação da terra na ocupação do interior paulista, a especulação (inclusive 
por companhias estrangeiras) e a grilagem eram práticas conhecidas, já descritas por Monbeig 
(1984 [1949]) e minuciosamente estudada por Ferrari Leite (1998) no Pontal do Paranapanema, 
última região ocupada do estado de São Paulo. Grandes glebas apropriadas por esses grileiros ou 
empresas (grileiras) foram desmembradas e vendias de forma fraudulenta. Atualmente os grilos 
mais evidentes são contestados judicialmente pelos movimentos sociais que lutam pela reforma 
agrária. A partir da década de 1920 as porções norte e oeste do estado do Paraná passaram a ser 
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novas regiões da fronteira agropecuária Brasileira. A produção de café foi muito importante na 
ocupação da região norte do estado. Após ocuparem as terras roxas da região centro-sul do estado 
de São Paulo e, em virtude de uma política paulista de taxação de novas plantações de café, os 
cafeicultores paulistas avançaram em direção ao norte do Paraná nas décadas de 1930 e 1940. 
O Estado atuou na ocupação do norte e do oeste paranaenses através da concessão e/ou 
venda de terras para companhias privadas de colonização e pela realização de projetos públicos de 
colonização. A ocupação foi realizada priorizando a pequena propriedade, com o desenvolvimento de 
extração florestal, produção de café e produção de alimentos (milho e feijão principalmente) para 
abastecer o mercado interno brasileiro. A grilagem de terras também foi prática verificada na 
apropriação da terra. A ocupação contou com contingente de migrantes do Rio Grande do Sul, 
paulistas, mineiros e dos estados do Nordeste. Os anos do final da década de 1960 e início da 
década de 1970 foram caracterizados pelo inicio de modernização da agricultura brasileira, 
promovido pelo governo militar. A eliminação dos cafezais e incentivo à produção de culturas 
mecanizáveis como a soja para atender a demanda internacional proporcionaram a expulsão dos 
pequenos proprietários e a concentração fundiária no Paraná. Os camponeses expropriados no 
estado tiveram como destino a nova fronteira agropecuária brasileira, agora localizada no Centro-
Oeste e na Amazônia. (SWAIN, 1988). 
No início da década de 1970 o Centro-Oeste brasileiro (região dos cerrados) e a região 
amazônica passaram a ser a nova fronteira agropecuária brasileira. Configurada até então pela baixa 
densidade de ocupação e grande disponibilidade de terras, a região passou a receber os 
contingentes de camponeses expropriados de outras regiões e, ao mesmo tempo, o investimento de 
capitais produtivos e especulativos. O Estado teve papel determinante na definição desta nova 
fronteira agropecuária, ainda em expansão atualmente. A ocupação dessas novas áreas de fronteira 
ocorreu a partir de projetos de colonização públicos e privados em uma parceria entre Estado e 
capital. Grandes porções de terras foramvendidas a preços irrisórios ou doadas a empresas 
privadas para o estabelecimento dos projetos de colonização ou extrativismo florestal e mineral. 
Grande parte dessas terras serviu para especulação fundiária e estratégia para obtenção ilegal de 
crédito. (OLIVEIRA, 1997). 
A ocupação de Rondônia, por exemplo, realizada por projetos públicos de colonização, foi 
baseada na pequena propriedade voltada à produção de café e recebeu principalmente camponeses 
expropriados do norte e oeste do Paraná. Já a ocupação da região dos cerrados, especialmente 
Mato Grosso, foi realizada através de colonização privada e tem como característica o 
estabelecimento do agronegócio, com uma agricultura monocultora de alta produtividade 
especializada na produção de soja, milho e algodão destinados ao mercado externo. A pecuária 
bovina também tem grande peso na produção agropecuária da fronteira e mantém sintonia com a 
agricultura, pois é estrategicamente praticada em áreas recém desflorestadas que se tornam áreas 
do agronegócio em seguida. Esta agricultura dependente de altos investimentos de capital constante 
na fronteira agropecuária só foi possível devido aos investimentos do Estado na pesquisa 
agropecuária e financiamentos. 
Além da agropecuária, a mineração e a exploração florestal têm grande importância na 
fronteira agropecuária. A ocupação do leste amazônico é caracterizada pela implantação de grandes 
projetos de extração florestal e mineral. Atualmente a floresta amazônica sofre investidas na região 
norte de Mato Grosso, Rondônia, sul e leste paraenses e norte do Maranhão. No Cerrado, o 
movimento recente da ocupação está no norte de Goiás e Tocantins. A fronteira agropecuária atual 
tem como característica o significativo processo de urbanização da população nas regiões mais 
consolidadas, com exceção da frente pioneira. O alto grau de urbanização das regiões da fronteira 
pode ser explicado por sua contemporaneidade com a modernização da agricultura. A frente 
pioneira, movimento responsável pela abertura de noras áreas, é caracterizada pelo grande 
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desflorestamento e pelo intenso conflito e violência no campo. Trata-se de uma fronteira 
agropecuária em plena expansão ainda na atualidade. Campesinato, agronegócio e latifúndio 
coexistem no processo de ocupação dessas regiões, porém os conflitos entre eles são intensos, 
assim como a violência, resultante da não solução desses conflitos. 
Com a fronteira agropecuária no Centro-Oeste e Norte chegamos à atualidade neste breve 
histórico de ocupação do território brasileiro. Na ocupação atual da fronteira agropecuária se 
repetem os fatores históricos que privilegiam o latifúndio e a grande propriedade monocultora 
voltada ao atendimento do mercado externo. Como vimos, o campesinato esteve presente em todo 
este processo histórico de ocupação do território, resistindo e sendo utilizado pelo grande 
estabelecimento e pelo capital. A fronteira agropecuária é um dos principais elementos que 
compõem a questão agrária brasileira na atualidade. 
 
5.1 Mapa do processo de migração 
O balanço da migração entre os estados brasileiros nas décadas de 1980 e de 1990 é 
semelhante. Em cada uma dessas décadas, cerca de oito milhões de pessoas mudaram de 
estado. Na década de 1990 esta população foi de 8.691.756 habitantes, sendo que em 2000 
7.626.404 pessoas residiam em áreas urbanas dos municípios de destino e 1.068.352 em áreas 
rurais. O estado de São Paulo é o que recebe os maiores fluxos migratórios, com 2.638.297 
novos habitantes provenientes de outros estados na década de 1990. O segundo estado que 
mais recebeu migrantes na década de 1990 foi Goiás, com acréscimo de 598.356 habitantes 
(gráfico 5.5). Se tomarmos somente a população que migrou na década de 1990 e residia em 
zonas urbanas do município de destino em 2000, também São Paulo é o estado que mais 
recebeu população, sendo seguido pelos estados do Pará e de Mato Grosso. Em dados relativos 
ao total da população do estado, Roraima foi aquele que recebeu mais migrantes na década de 
1990, que representavam 25,8% da população total em 2000, enquanto que em São Paulo esta 
proporção era de 7,1. Os estados do Centro-Oeste estão entre os que mais receberam 
população em valores relativos, apresentando as seguintes porcentagens em 2000: Distrito 
Federal (19,7%), Mato Grosso (14,5%), Goiás (12%) e Mato Grosso do Sul (8,5%). Na região 
Norte, além de Roraima destacam-se Amapá (19,7%), Tocantins (14,7%) e Rondônia (12,6%). 
 
Prancha 5.7 
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Os mapas da prancha 5.7 indicam que a região em que a migração tem maior importância na 
população total é aquela da fronteira agropecuária, para onde se destinaram os migrantes de todas 
as regiões principalmente a partir de 1950. Esta região compreende o sudeste do Pará, Mato 
Grosso, Rondônia e o sul de Roraima. Os mapas mostram que os migrantes provenientes da região 
Norte são significativos apenas no noroeste e nordeste do Mato Grosso, imediatamente no limite 
entre as regiões Centro-Oeste e Norte, o que indica um movimento migratório no interior da 
própria fronteira agropecuária. Os migrantes nordestinos são importantes particularmente na região 
da fronteira agropecuária, mais intensamente no Pará e no norte do Tocantins, e em menor grau em 
Rondônia, Roraima e também no Centro-Oeste. Os nordestinos também são o contingente de 
migrantes que mais tem representatividade no estado de São Paulo. 
Os migrantes do sudeste são representativos nas regiões de divisa de São Paulo com Mato 
Grosso do Sul e Paraná, de Minas Gerais com Goiás, no oeste de Mato Grosso e no estado de 
Rondônia. Os sulistas são representativos em Mato Grosso e Rondônia, resultado do grande fluxo 
de gaúchos e paranaenses para a região da fronteira agropecuária. Por fim, os naturais do Centro-
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Oeste são importantes no limite da região com o Norte, o que indica o avanço da fronteira 
agropecuária e da migração interna da fronteira. 
 
5.2 As principais abordagens teóricas sobre o rural e o urbano 
 As transformações recentes do mundo rural e da relação rural-urbano têm desafiado 
estudiosos a construírem teorias e conceitos para explicar essa nova realidade. Por essa razão, 
diversas teorias surgiram, de forma que alguns estudiosos chegaram a decretar o fim do rural. 
Outros, porém, admitem o seu “renascimento” ou então, em uma via integradora, optam por uma 
análise que considera a leitura regional mais eficiente que a dicotomia urbano-rural. 
(ALENTEJANO, 2003). Marques (2002) salienta que existiriam atualmente duas grandes abordagens 
sobre as definições de campo e cidade: a dicotômica e o continuum. Na abordagem dicotômica o 
campo se opõe a cidade; já na abordagem do continuum a industrialização seria elemento que 
aproximaria o campo da realidade urbana. A autora destaca que Sorokin, Zimmermann e Galpin 
(1986) são referências da abordagem dicotômica e enfatizam diferenças entre rural e urbano. A 
autora assim sintetiza os elementos expostos pelos autores e que contribuiriam para classificar o 
rural e o urbano: 
(1) diferenças ocupacionais ou principais atividades em que se concentra a 
população economicamente ativa; (2) diferenças ambientais, estando a área 
rural mais dependente da natureza; (3) diferenças no tamanho das 
populações; (4) diferenças na densidade populacional; (5) diferenças na 
homogeneidade e na heterogeneidade das populações; (6) diferenças na 
diferenciação, estratificação; e complexidade social; (7) diferenças na 
mobilidade social e (8) diferenças na direção da migração.(MARQUES, 
2002, p.100). 
 
 
Contrariamente, abordagem do continuum admitiria maior integração entre cidade e campo 
através de diferenças de intensidades e não de contraste. Não existiria uma distinção nítida, porém 
também seria dual por apoiar-se na idéia da existência e pontos extremos de uma escala de 
gradação. (MARQUES, 2002). Wanderley (2001) afirma que o conceito de continuum é utilizado em 
duas vertentes. A primeira seria centrada no urbano, sendo este fonte de progresso, enquanto o 
pólo rural seria expressão do atraso, estando fadado à redução pela expansão do urbano. 
Juntamente com a teoria da urbanização do campo, esta visão do continuum traduziria o fim da 
realidade rural. A segunda vertente do continuum seria aquela que aproxima o rural-urbano, pois, 
mesmo com a aproximação de suas semelhanças, suas peculiaridades não desaparecem: aqui é 
reafirmada a existência do rural. 
Seguindo a primeira vertente do continuum destacada por Wanderley (2001), Graziano da 
Silva (1999), escrevendo sobre o rural brasileiro, afirma que ele “só pode ser entendido como um 
continuum do urbano” (p.1), pois o meio rural teria se urbanizado devido à industrialização da 
agricultura e ao transbordamento do mundo urbano. A pluriatividade é uma das bases de Graziano 
da Silva (1997) para defesa da urbanização do campo. Este fenômeno seria caracterizado pelo 
desenvolvimento de atividades não-agrícolas pelos agricultores. O autor faz esta afirmação 
baseando-se na análise dos dados da PEA segundo as atividades desenvolvidas e a localização da 
área de residência. Suas principais conclusões são de que: 
O meio rural brasileiro já não pode mais ser analisado apenas como o 
conjunto das atividades agropecuárias e agroindustriais, pois ganhou novas 
funções. O aparecimento (e a expansão) dessas “novas” atividades rurais – 
agrícolas e não agrícolas, altamente intensivas e de pequena escala – tem 
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propiciado outras oportunidades para muitos produtores que não podem 
mais serem chamados de agricultores ou pecuaristas e que, muitas vezes, 
não são nem mesmo produtores familiares, uma vez que a maioria dos 
membros da família está ocupada em outras atividades não-agrícolas e/ou 
urbanas. (GRAZIANO DA SILVA, 1999, p.10). 
 
Sobre esta abordagem do continuum, Siqueira e Osório (2001) afirmam que o conceito deve 
ser utilizado com ponderação, pois esta concepção rural-urbano pode ser adequada para o campo 
em países desenvolvidos e em algumas regiões dos países subdesenvolvidos, contudo, não pode ser 
generalizada. As autoras ressaltam que os argumentos de Graziano da Silva (1996 e 1997) não são 
necessariamente desqualificáveis, porém não são aplicáveis a todo o Brasil. Esses argumentos 
poderiam ser aplicados a algumas áreas rurais próximas aos grandes centros metropolitanos. 
Outra leitura próxima à visão de continuum de Graziano da Silva (1999) é a de Grammont 
(2005), que escreve sobre o processo de urbanização do campo e a ruralização da cidade. O autor 
afirma que: 
Falamos na urbanização do campo porque foram incrementadas as 
ocupações não agrícolas no campo, os meios de comunicação em massa 
(rádio, televisão, telefone, rádio de ondas curtas) chegam até as regiões 
mais distantes, as migrações permitiram o estabelecimento de redes sociais 
e a reconstrução das comunidades camponesas nos lugares de migração 
com o qual nasce o conceito de comunidade transnacional. Porém, também 
falamos em ruralização da cidade tanto porque as cidades latino-americanas 
se parecem com “grandes fazendas” devido à falta de desenvolvimento 
urbano, como pela reprodução das formas de organização e a penetração de 
cultura de migrantes camponeses e indígenas em bairros periféricos onde se 
estabelecem. (GRAMMONT, 2005, não pag., grifo nosso) 
 
Fernandes e Ponte (2002) questionam a denominação “urbanização do campo” presente na 
tese de Graziano da Silva e ressaltam que este é um pensamento urbanóide, ou seja, que entende o 
urbano como espaço totalizante, determinante e dominante sobre o rural. Os autores afirmam que o 
urbano influencia o rural e o rural influencia o urbano com suas territorialidades distintas. “Afirmar 
que o rural se urbanizou, afirmando sua decadência a caminho de sua extinção, não é verdadeiro”. 
(p.118). Graziano da Silva (1999) e Grammont (2005) predestinam o fim do rural a partir do 
entendimento de que a mecanização, implantação de equipamentos, serviços, tecnologias e infra-
estrutura social “urbanizam” o campo por serem exclusivos das cidades. Nós, porém, 
compreendemos de outra maneira. Acreditamos que esses são elementos em princípio utilizados e 
implantados nas cidades e que agora chegam ao campo e passam a ser mais uma das características 
do rural. Não temos um rural que se urbaniza, mas sim um rural que se transforma, seja pela 
melhoria da qualidade de vida da sua população (com trabalho menos penoso, acesso a serviços 
básicos etc.), seja pela imposição de ritmos produtivos mais acelerados para atender a demanda 
crescente da população cada vez mais urbanizada. A maior participação das empresas do 
agronegócio no campo também contribui para alteração deste espaço, pois através dos 
agribusinessmen ocorre a intensificação da produção, dependência da indústria e de sistemas 
financeiros. 
A partir de análises que salientam o rural, autores como Oliveira (2004), Marques (2002), 
Fernandes (2005a) e Simione da Silva (2005) apresentam novos elementos a serem incluídos nas 
discussões sobre o rural e o urbano, principalmente no que diz respeito à compreensão do campo 
brasileiro na atualidade. Oliveira (2004) afirma que as maiores modificações no campo brasileiro 
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seriam aquelas referentes à ação dos movimentos sociais, da violência, instalação de assentamentos 
rurais e territorialização do agronegócio. Marques (2002) afirma que devido à forte presença dos 
movimentos sociais no campo “tem tornado cada vez mais evidente a necessidade de se elaborar 
uma estratégia de desenvolvimento para o campo que priorize as oportunidades de desenvolvimento 
social e não se restrinja a uma perspectiva estritamente econômica e setorial.” (p.96). Quanto aos 
movimentos sociais no campo e na cidade, Carlos (2004) entende que “a reorganização do processo 
produtivo aponta novas estratégias de sobrevivência no campo e na cidade bem como, movimentos 
sociais no campo e na cidade, questionando a existência da propriedade que marca e delimita as 
possibilidades de apropriação no campo e na cidade”. 
Fernandes (2005a), ao tratar de conflito e desenvolvimento em seu texto, afirma que alguns 
projetos de desenvolvimento territorial rural fracassam por não considerarem os conflitos e que 
“conflito agrário e desenvolvimento são processos inerentes da contradição estrutural do 
capitalismo e paradoxalmente acontecem simultaneamente”. (p.2). Ao analisar a Amazônia acreana 
Simione da Silva (2005) propõe que, para o estudo daquela região, o par rural-urbano não seria 
suficiente na explicação da realidade e o agrário seria formado pelo rural e pela floresta, o que 
justificaria a sua análise baseada na tríade campo-floresta-cidade. O autor analisa a floresta como 
espaço produzido e que se diferencia socialmente do campo e da cidade, apresentado assim 
particularidades. Essas discussões teóricas sobre o rural-urbano nos fornecem subsídios para a 
interpretação da realidade, análise das tipologias propostas e também para propormos nossa 
tipologia. Este trabalho, em função da escala de análise adotada e de nossa metodologia, não 
pretende dar conta de todas as especificidades possíveis na análise do rurale do urbano, que 
podem compreender desde visões governamentais do território até estudos sociológicos e 
antropológicos que contemplam o indivíduo. O que apresentamos é uma proposta que possa 
fornecer bases para estudos mais específicos de acordo com os objetivos de estudiosos de diversas 
áreas do conhecimento. 
5.3 As características sócio-econômicas no deslocamento da população rural 
 
Em 1950 a população rural brasileira era de 33.161.506 hab. e correspondia a 63,84% da 
população total. Vinte anos depois os habitantes das zonas rurais eram 41.037.586, porém 
correspondiam a 44% da população total. A modernização da agricultura, o extremo parcelamento 
da terra no campesinato do Sul e o avanço da fronteira agropecuária no Centro-Oeste e no Norte 
conferiram complexidade à evolução da população rural no país. A região Sudeste foi a primeira a 
apresentar diminuição da população rural, o que ocorreu já na década de 1960. Também foi o 
Sudeste que apresentou a diminuição mais intensa da população rural, com um saldo negativo de 
4.971.925 habitantes no campo entre 1950 e 2000, o que representa uma diferença de -42%. A 
modernização da agricultura e intensificação da industrialização do Sudeste a partir da década de 
1960 explica esta dinâmica populacional. A região Sul passou a apresentar uma intensa perda de 
população rural a partir de 1970, também por influência da industrialização e modernização da 
agricultura, que transbordou do Sudeste para o Sul, contemplando assim toda a região concentrada. 
Em 2000 a população rural da região Sul contava com 744.644 hab. a menos do que em 1950 
(decréscimo de 13%), embora a população total da região tenha aumentado 17.248.913 hab. no 
mesmo período. 
Em algumas regiões a diminuição da população rural não foi tão rápida e intensa, devido ao 
recebimento de fluxos migratórios no campo ou pela menor intensidade do êxodo rural, reflexo de 
uma industrialização e modernização da agricultura menos intensas. O Nordeste só passou a 
apresentar decréscimo da população rural no período 1980-1991, sendo que em 2000 a população 
rural era 11,6% maior do que em 1950. O Centro-Oeste, embora seja uma região de recebimento de 
migrantes, passou a apresentar decréscimo em sua população rural na década de 1970, antes 
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mesmo do Nordeste, sendo esta é uma tendência que se mantém. A região Norte foi a única que 
apresentou crescimento contínuo da população rural, mas mostra constância na evolução entre 1991 
e 2000. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O diferencial territorial do mapa da população rural em 2000 mostra que a distribuição da 
população rural é mais homogênea do que a da população urbana. A população rural está 
concentrada em uma extensa faixa que acompanha o desenho da costa. O mapa de evolução da 
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população rural mostra a intensa perda populacional do campo no período 1991-2000, o que segue 
a tendência das últimas décadas. A comparação dos mapas de taxa de ruralização e da evolução da 
população rural apontam regiões com alta taxa de ruralização que apresentam intensa perda de 
população rural, como a região de colonização camponesa européia na região Sul, o sul de Rondônia, 
o norte de Minas Gerais, Maranhão, Piauí e todo o Nordeste, com diferentes intensidades de perda 
de população rural. Por outro lado, regiões com baixo grau de ruralização continuam apresentando 
taxas importantes de perda de população rural, em especial no estado de São Paulo e em grandes 
áreas do Centro-Oeste. 
 
Percentual da população rural entre 1960 e 2010 
O IBGE utiliza oito classes de localização da área do domicílio nos censos. Para contabilizar 
a população rural e urbana o instituto agrupa essas classes. Segundo o IBGE a população urbana é 
formada pelos habitantes das seguintes localizações de área: 
 
1. Áreas urbanizadas de cidades ou vilas: “são aquelas legalmente definidas como urbanas, 
caracterizadas por construções, arruamentos e intensa ocupação humana; as áreas afetadas por 
transformações decorrentes do desenvolvimento urbano, e aquelas 
Reservadas à expansão urbana.” 
2. Áreas não-urbanizadas de cidades ou vilas: “são aquelas legalmente definidas como urbanas, 
caracterizadas por ocupação predominantemente de caráter rural.” 
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3. Áreas urbanas isoladas: “áreas definidas por lei municipal, e separadas da sede municipal ou 
distrital por área rural ou por um outro limite legal.” (IBGE, 2000. v.7 não pag.). 
 
A população rural é classificada segundo cinco localizações da área: 
 
1. Aglomerado de extensão urbana: são os assentamentos situados em áreas fora do perímetro 
urbano legal, mas desenvolvidos a partir da expansão de uma cidade ou vila, ou por elas englobados 
em sua expansão. Por constituírem uma simples extensão da área efetivamente urbanizada, atribui-
se, por definição, caráter urbano aos aglomerados rurais deste tipo. Tais assentamentos podem ser 
constituídos por loteamentos já habitados, conjuntos habitacionais, aglomerados de moradias ditas 
subnormais ou núcleos desenvolvidos em torno de estabelecimentos industriais, comerciais ou de 
serviços. 
2. Povoado: é o aglomerado rural isolado que corresponde a aglomerados sem caráter privado ou 
empresarial, ou seja, não vinculados a um único proprietário do solo (empresa agrícola, indústrias, 
usinas, etc.), cujos moradores exercem atividades econômicas, quer primárias (extrativismo 
vegetal, animal e mineral; e atividades agropecuárias), terciárias (equipamentos e serviços) ou, 
mesmo, secundárias (industriais em geral), no próprio aglomerado ou fora dele. O aglomerado rural 
isolado do tipo povoado é caracterizado pela existência de serviços para atender aos moradores do 
próprio aglomerado ou de áreas rurais próximas. É, assim, considerado como critério definidor 
deste tipo de aglomerado, a existência de um número mínimo de serviços ou equipamentos. 
3. Núcleo: é o aglomerado rural isolado vinculado a um único proprietário do solo (empresa agrícola, 
indústria, usina, etc.) dispondo ou não dos serviços ou equipamentos definidores dos povoados. É 
considerado, pois, como característica definidora deste tipo de aglomerado rural isolado, seu 
caráter privado ou empresarial. 
4. Outros aglomerados: são os aglomerados que não dispõem, no todo ou em parte, dos serviços ou 
equipamentos definidores dos povoados e que não estão vinculados a um único proprietário 
(empresa agrícola, indústria, usina, etc.). 
5. Área rural exceto aglomerado: são as áreas não classificadas como urbanas ou aglomerados 
rurais. 
 
6. AS TRANSFORMAÇÕES NA ESTRUTURA DE CLASSES E NAS FORMAS DE 
REPRESENTAÇÃO SOCIAL NA AGRICULTURA 
 
6.1 A luta pela terra e sua conquista 
De acordo com as discussões realizadas na seção sobre "questão agrária e campesinato", a 
luta pela terra e a conseqüente criação de assentamentos é uma forma de recriação do campesinato. 
As ocupações constituem um momento da luta pela terra. Como resposta às ações dos movimentos 
socioterritoriais, os governos criam assentamentos rurais que, em princípio, constituem a conquista 
da terra. Os assentamentos significam uma nova etapa da luta: o processo pela conquista da terra. 
Ainda é necessário conquistar condições de vida e produção na terra; resistir na terra e lutar por 
um outro tipo de desenvolvimento que permita o estabelecimento estável da agricultura camponesa. 
No Brasil, a ocupação é a principal estratégia de luta pela terra realizada pelos movimentos 
socioterritoriais camponeses. Os dados do DATALUTA 2006

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