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FRAUDE DE ENERGIA ELÉTRICA TCC INTERNET

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ASPECTOS JURÍDICOS DA FRAUDE DE ENERGIA ELÉTRICA 
 
Érika Wilza Brito de Assis
1
 
 
RESUMO 
A evasão de tributos, o comprometimento do resultado e indicadores das concessionárias, o impacto 
na tarifa, tudo isso faz com que as perdas de energia elétrica sejam uma preocupação nacional. 
Diante disso, o presente artigo busca abordar os diversos aspectos jurídicos que envolvem a fraude 
de energia elétrica, desde as formas de combate, até sua resolução no âmbito do Judiciário, 
passando por questões controversas que envolvem o tema. Também serão pontuadas as correlações 
existentes entre os diversos ramos do direito e o tema em estudo. Levantar esse debate fazer com 
que essa matéria seja difundida no meio jurídico é também uma das vigas mestras do presente 
estudo. A pesquisa desenvolve-se basicamente pela análise de diplomas legislativos e 
jurisprudências, com apoio na escassa doutrina existente sobre o tema. 
 
Palavras-Chaves: Concessão. Energia Elétrica. Irregularidade 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
As perdas não-técnicas de energia elétrica são um dos maiores desafios das empresas 
distribuidoras de energia elétrica do Brasil e do mundo. Estas perdas, que também são denominadas 
de perdas comerciais, repercutem sob os usuários de duas maneiras principais: uma quando é 
realizada a revisão tarifária
2
, na qual a ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica permite que 
um percentual das perdas das concessionárias seja remunerado na tarifa seguinte
3
; a outra quando a 
concessionária deve suportar o percentual não incluído na tarifa, o que provoca inevitável reflexo 
no serviço, uma vez que a concessionária terá que deixar de aplicar recursos na melhoria das 
atividades para direcioná-los ao combate as perdas. 
Dentre as várias origens de perdas não-técnicas destacaremos aqui o furto/fraude de 
energia elétrica. Nem sempre as variáveis que colaboram ou interferem na elevação do furto/fraude 
de energia elétrica estão associadas a fatores diretamente vinculados às concessionárias, muitas 
vezes eles são externos às organizações, tais como: baixo nível de renda da população, situação 
econômica do país, elevação da carga tributária, ocupação desordenada das cidades, taxa de 
 
1
 Concludente do Curso de Bacharelado em Direito do CEUT, Turma 2009.2. Trabalho apresentado para a obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
2
 As revisões tarifárias são feitas ordinariamente a cada 05 (cinco) anos e têm por objetivo restabelecer o equilíbrio 
econômico-financeiro da concessão. As revisões também podem ser solicitadas extraordinariamente pelas 
Concessionárias sempre que algum evento provoque significativo desequilíbrio financeiro na concessão. Nesse caso, o 
Contrato de Concessão deve ser revisto e auditado para assegurar a justa remuneração. O objetivo é manter intacto o 
equilíbrio entre a prestação do serviço e a remuneração. 
3
 Conforme Resolução 456/2000 da ANEEL. 
 
desemprego, elevação dos índices de criminalidade, inércia na ação policial, falta de agilidade da 
justiça, cultura da impunidade e percepção generalizada da população de que o furto/fraude de 
energia elétrica não é crime (cultura da fraude). 
Essa cultura, que existe em relação ao furto/fraude de energia elétrica, resulta do pouco 
conhecimento que a sociedade tem acerca dos prejuízos decorrentes dessas práticas, como: 
I- Risco de acidentes. Uma vez que, na maioria das vezes, o fraudador não possui 
conhecimento técnico e nem tampouco obedece aos procedimentos de segurança. 
II- Evasão de tributos, tais como: ICMS, COFINS, PIS, IRPJ, CSSL. O que acentua a 
falta de recursos para aplicação em educação, saúde, segurança pública, transporte, etc. A título de 
exemplo, durante o ano de 2006, somente no Estado do Maranhão, a União deixou de arrecadar R$ 
58.829.708,95 (cinqüenta e oito milhões, oitocentos e vinte e nove mil, setecentos e oito reais e 
noventa e cinco centavos); em 2007 esses valores foram de R$ 63.321.835,57 (sessenta e três 
milhões, trezentos e vinte e um mil, oitocentos e trinta e cinco reais e cinqüenta e sete centavos)
4
; 
III- Concorrência desleal no mercado, na medida em que o fraudador pode vender seu 
produto mais barato; 
IV- Elevação da tarifa, provocada pelo descompromisso do fraudador com a 
conservação e uso racional da energia elétrica, o que implica em perda de competitividade 
econômica do Estado, uma vez que os grandes empreendimentos migram para os locais onde seus 
insumos sejam mias baratos; 
V- Redução do faturamento das concessionárias, e conseqüentemente da arrecadação; o 
que implica em diminuição de recursos a serem investidos na manutenção e melhoria do parque 
elétrico. 
VI- Comprometimento dos indicadores de continuidade
5
 das concessionárias, 
considerando que as ligações clandestinas, pela sua precariedade, provocam interrupções no 
fornecimento de energia elétrica; 
VII- Comprometimento do resultado das concessionárias de energia elétrica. 
Diante dessa realidade, faz-se necessário o desenvolvimento de ações de combate ao 
furto/fraude de energia, tais como: desenvolvimento de novas tecnologias de combate às perdas; 
desenvolvimento de ações de inteligência no combate ao furto/fraude de energia, através do 
diagnóstico das perdas e de melhores estratégias de detecção e combate; troca das melhores práticas 
de combate entre as empresas, buscando sempre constantes inovações; elaboração de campanhas 
 
4
 Dados estipulados em estudo realizado pela Gerência de Recuperação de Energia da Companhia Energética do 
Maranhão - CEMAR, no ano de 2008. 
5
 Parâmetros que representam o desempenho de um sistema elétrico. São utilizados para mensuração da continuidade 
apurada e análise comparativa com os padrões estabelecidos através dos índices indicados pela ANEEL. 
 
educativas de prevenção; desenvolvimento de programas de eficiência para comunidades de baixa 
renda; ação em conjunto com a Polícia; ação em conjunto com o Judiciário; entre outras. 
Nesse diapasão, podemos dividir as ações de combate ao furto/fraude de energia elétrica 
em três grupos: 
I- Solução social; 
II- Solução técnica; e 
III- Solução legal. 
Em face de tudo o que foi acima exposto, este trabalho busca abordar os aspectos 
jurídicos da fraude de energia elétrica, desde as soluções propostas para sua erradicação, sobretudo 
as soluções legais, passando por sua “descoberta”, através das inspeções/fiscalizações, até sua 
resolução no âmbito do judiciário, envolvendo ainda questões ainda não pacíficas sobre o tema. 
 
1.1 Conceitos 
 
Para uma melhor compreensão do presente trabalho faz-se mister elencarmos alguns 
conceitos que são de fundamental importância para o tema em apreço. 
Perdas não técnicas - São aquelas que ocorrem no repasse aos usuários. 
Furto de energia elétrica - Ocorre o furto de energia elétrica quando há conexões 
clandestinas, auto-reconexões (ligado direto - LD) e desvios antes da medição
6
. 
Fraude de energia elétrica - A fraude de energia elétrica é caracterizada pela 
manipulação dos equipamentos de medição, alterando o valor correto da sua precisão para valores 
inferiores aos reais
7
. 
Inspeção - Chama-se inspeção a vistoria técnica realizada no padrão de entrada
8
 da 
unidade consumidora visando detectar a precisão e possíveis defeitos dos equipamentos de 
medição, detectar fraudes e/ou desvios de energia e verificar erros de ligação. 
Consumo não registrado - Consumo que não foi faturado e, conseqüentemente, não foi 
pago, em razão de ter sido camuflado pelo consumidor. 
Tarifa - Preço público pago pelo usuário pela prestação do serviço. É fixada pelo valor 
da propostavencedora da licitação e preservada pelas regras de revisão, previstas na lei, no edital e 
no contrato, que garantem o equilíbrio econômico-financeiro
9
 da concessionária. As tarifas poderão 
 
6
 Tipificados no artigo 155, III do Código Penal. 
7
 Cumpre ressaltar que a fraude de energia elétrica também é um tipo de furto de energia. 
8
 Conjunto de instalações composto por caixa de medição, sistema de aterramento, condutores e outros acessórios. O 
mesmo deve obedecer a normas técnicas e de segurança. 
9
 É o direito à equivalência entre vantagens e encargos estabelecidos entre o Poder Concedente e a Concessionária, 
assegurando-se uma justa remuneração pela atividade desenvolvida. Trata-se de garantia dada pelo Poder Concedente 
 
ser diferenciadas em função das características técnicas e dos custos específicos provenientes do 
atendimento aos distintos segmentos de usuários, sendo os critérios de preços correspondentes aos 
serviços prestados supervisionados e normatizados pela ANEEL. A concessão de qualquer 
benefício tarifário poderá ser atribuída a uma classe ou coletividade de usuários dos serviços, 
vedado, sob qualquer pretexto, o benefício singular. Matéria contida nos artigos 9° e 13 da lei 
8.987/95 e parágrafo único do artigo 35 da lei 9.074/95. 
Unidade consumidora - Conjunto de instalações e equipamentos elétricos caracterizado 
pelo recebimento de energia elétrica em um só ponto de entrega, com medição individualizada e 
correspondente a um único consumidor. 
 
2 DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS 
 
A princípio, realce salientarmos algumas disposições constitucionais que dizem respeito 
à competência para a exploração dos serviços de energia elétrica e a possibilidade de sua atribuição 
a terceiros, mediante concessão. 
A atividade econômica do Estado, só é admitida excepcionalmente, conforme art. 173 
da Constituição Federal, reservando-se o exercício estatal para os imperativos da segurança 
nacional ou de relevante interesse coletivo, quando a administração atua diretamente, por 
reconhecer a essencialidade e necessidade para a coletividade e para o próprio Estado. 
Nesse contexto, dispõe o art. 20, inciso VIII da nossa Carta Magna, que os potenciais de 
energia hidráulica são bens da União. Logo em seguida, autoriza a delegação de serviços. É o que 
dispõe o art. 21, inciso XII, alínea “b” da Constituição Federal. In verbis: 
Art. 21 - Compete à União: 
XII - explorar diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: 
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de 
água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos. 
 
Cumpre observarmos que a exploração da energia elétrica envolve não apenas a sua 
produção, como também sua distribuição. Com a desverticalização
10
, os serviços de energia elétrica 
foram divididos em três atividades distintas: geração, transmissão e distribuição, todas como 
atividades independentes e, por determinação legal, impedidas de serem prestadas pela mesma 
 
de que a concessão não sofrerá, por algum evento, o desequilíbrio na equação econômico-financeira, a ponto de ter a 
concessão abalada. Os reajustes tarifários oferecem à concessionária a perspectiva de que, no período entre as revisões 
tarifárias, o seu equilíbrio econômico-financeiro não sofrerá corrosão por processo inflacionário. 
10
 Conceito desenvolvido pelo RESEB (Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro), em prática pelo Órgão 
Regulador ANEEL. Rege a matéria o §5° do artigo 4°, da Lei 9.074/95, modificado pelo artigo 8° da Medida 
Provisória 144, de 10 de dezembro de 2003. 
 
pessoa jurídica. Dessa forma, podemos concluir que a distribuição da energia elétrica é serviço 
delegado pela União mediante concessão. 
Ainda sobre as concessionárias de serviços públicos e suas características, assim 
estabelece o artigo 175 da Constituição Federal. In verbis: 
Art. 175 - Incube ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de 
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. 
Parágrafo único: A lei disporá sobre: 
I- o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter 
especial de seu contrato e da sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, 
fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; 
II- os direitos dos usuários; 
III- política tarifária; 
IV- a obrigação de manter o serviço adequado. 
 
Conforme podemos deduzir do citado artigo, lei infraconstitucional irá dispor sobre o 
regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, caráter especial de seu 
contrato, condições de caducidade e fiscalização, direitos dos usuários, política tarifária, entre 
outros. É o que veremos mais adiante. 
 
2.1 Princípios Constitucionais x Fraude de Energia 
 
Sabemos que muitos são os princípios insculpidos em nossa Constituição Federal de 
1988, todavia destacaremos aqui apenas os que mais apresentam relevância para o tema em estudo. 
I- Princípio do acesso à justiça - art. 5°, inciso XXXV da Constituição Federal. Dispõe 
que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. 
De um modo geral, poucos comentários temos a tecer sobre o referido princípio. Além 
de auto-explicativo, não há grandes controvérsias envolvendo o tema. Sempre que o consumidor de 
energia elétrica busca a Justiça por considerar que seu direito foi lesionado ou ameaçado, ainda que 
seja comprovadamente um “fraudador” terá o acesso à justiça garantido. 
II- Princípio da ampla defesa e do contraditório - art. 5ª, inciso LV da Constituição 
Federal. Estabelece que aos litigantes em processo judicial ou administrativo serão assegurados o 
contraditório e a ampla defesa. 
Nesse sentido, a ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, delegatária da União 
na competência normativa técnica sobre o setor de energia elétrica, regulou o uso das inspeções 
pelas Concessionárias de Energia Elétrica, reconhecendo-lhes o direito de combater a maléfica 
prática de fraude, mas impondo-lhes uma série critérios a serem observados para a validade da 
inspeção. 
A inspeção realizada pela concessionária permite ao consumidor a ampla defesa e o 
contraditório. Destacaremos aqui alguns exemplos práticos, disponibilizados ao consumidor durante 
 
o procedimento das fiscalizações e na formatação dos processos administrativos de consumo não 
registrado. 
Durante a inspeção, o consumidor poderá solicitar o acompanhamento de um técnico 
em eletricidade particular. Dessa maneira, o mesmo terá o respaldo de um técnico com 
conhecimentos específicos em energia elétrica, que irá acompanhar os inspetores da concessionária 
na realização da fiscalização. Apesar de não ser este um procedimento necessário, uma vez que os 
inspetores da concessionária realizarão todos os procedimentos conforme determina a ANEEL, 
independente do acompanhamento ou não, de um técnico particular, representa mais uma garantia 
para o consumidor. 
Após a formatação do processo administrativo de consumo não registrado - CNR, o 
consumidor é informado acerca da existência do referido processo, dessa forma, o mesmo tem a 
possibilidade de apresentar defesa administrativa (recurso) junto à concessionária, além de ainda 
poder recorrer à própria ANEEL, conforme artigo 78, parágrafos 1º, 2º e 3º da Resolução 456 da 
ANEEL. 
Ainda nesse sentido, caso não concorde com aferição realizada pela concessionária em 
seumedidor, poderá solicitar aferição
11
 em Órgão Metrológico Oficial. É o que dispõe o §3º, do 
artigo 38 da Resolução 456 da ANEEL, in verbis: 
Art. 38- O consumidor poderá exigir a aferição dos medidores, a qualquer tempo, sendo que 
as eventuais variações não poderão exceder os limites percentuais admissíveis. 
(...) 
§3º- Persistindo dúvida o consumidor poderá, no prazo de 10 (dez) dias, contados a partir 
do recebimento da comunicação do resultado, solicitar a aferição do medidor por órgão 
metrológico oficial, devendo ser observado o seguinte: 
I- quando não for possível a aferição no local da unidade consumidora, a concessionária 
deverá acondicionar o medidor em invólucro específico, a ser lacrado no ato de retirada, e 
encaminhá-lo ao órgão competente, mediante entrega de comprovante desse procedimento 
ao consumidor; 
II- os custos de frete e de aferição devem ser previamente informados ao consumidor; e 
III- quando os limites de variação tiverem sido excedidos os custos serão assumidos pela 
concessionária, e, caso contrário, pelo consumidor. 
 
Em síntese, o contraditório é constituído por dois elementos: informação e reação. Sua 
configuração é que permite a ampla defesa. Dessa forma, atendidas as premissas estabelecidas pela 
regulação, não há que se falar que os procedimentos de inspeção realizados pelas concessionárias 
são unilaterais. 
Os direitos e garantias individuais são limitadores da atuação administrativa, uma vez 
que são automaticamente inconstitucionais todos os atos que atentem contra qualquer princípio 
previsto no art. 5° da Constituição Federal. Conclui-se, portanto, que o combate à fraude de energia 
não pode implicar em ofensa aos princípios do acesso à justiça e da ampla defesa e do contraditório, 
 
11
 Procedimento técnico realizado com a finalidade de verificar a precisão do equipamento de medição de energia 
elétrica, observando se o mesmo está em conformidade com os padrões definidos pela ANEEL. 
 
assegurados constitucionalmente. Em sentido contrário, não pode o consumidor socorrer-se destes 
princípios para agir de forma não compatível com a adequada utilização do serviço. 
 
2.2 Da Inviolabilidade do Domicílio 
 
 Exposta no artigo 5°, inciso XI da Constituição Federal, informa que a casa é asilo 
inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em 
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação 
judicial. 
 A referida garantia constitucional traz à baila alguns questionamentos quando 
analisamos os procedimentos realizados durante as fiscalizações promovidas pelas concessionárias 
de energia elétrica nas unidades consumidoras. Em uma primeira análise, parece haver notória 
violação ao referido direito fundamental, quando da realização das inspeções, todavia, para que 
possamos melhor compreender as dúvidas que comumente são apresentadas, faz-se mister detalhar 
o funcionamento das mesmas. 
 Após a seleção dos alvos, que, em síntese, podem ser aleatórios, automáticos ou 
determinados por um sistema de inteligência, os inspetores da concessionária se deslocam até a 
unidade consumidora
12
 e lá realizam uma vistoria técnica no padrão de entrada, visando detectar a 
precisão e possíveis defeitos dos equipamentos de medição, fraudes e/ou desvios de energia e 
verificar erros de ligação. Não obstante a vistoria realizada no padrão de entrada, após a autorização 
do consumidor mediante assinatura na ficha de inspeção técnica, os inspetores podem ainda fazer 
verificações internas no imóvel, visando detectar possíveis problemas nas instalações internas e/ou 
desvios embutidos
13
. 
 Nesse diapasão, o artigo 37 da Resolução 456 da ANEEL informa que o consumidor 
deve assegurar o livre acesso dos inspetores aos locais em que os equipamentos de medição estejam 
instalados. In verbis: 
Art. 37- A verificação periódica dos medidores de energia elétrica instalados na unidade 
consumidora deverá ser efetuada segundo critérios estabelecidos na legislação metrológica, 
devendo o consumidor assegurar o livre acesso dos inspetores credenciados aos locais em 
que os equipamentos estejam instalados. 
 
 Dessa forma, quando a vistoria está sendo realizada no padrão de entrada, não há que se 
falar em violação do direito fundamental da inviolabilidade do domicílio, posto que expressamente 
 
12
 Unidade consumidora é o conjunto de instalações e equipamentos elétricos caracterizado pelo recebimento de energia 
elétrica em um só ponto de entrega, com medição individualizada e correspondente a um único consumidor. 
13
 Desvios embutidos são aqueles não facilmente detectáveis, instalados antes da medição. São cabos que normalmente 
se encontram incrustados em paredes, teto ou solo. Os mesmos criam caminhos mais curtos para a passagem da 
energia elétrica, que desvia de seu percurso normal; dessa forma a mesma será consumida, mas não será efetivamente 
registrada pelos equipamentos de medição. 
 
autorizado por legislação normativa do setor. Importante ressaltar que para chegar a essa conclusão 
foi considerado que os equipamentos de medição (padrão de entrada) estejam instalados na área 
externa da residência (externalização da medição), o que é recomendado pela ANEEL e que 
veremos com maior detalhe mais adiante. 
 Por outro lado, o próprio dispositivo constitucional ressalva que ninguém poderá 
adentrar o domicílio do indivíduo, se, e somente se, não houver o consentimento do mesmo. 
Conforme anteriormente visto, os inspetores somente realizam verificações internas, quando há 
expressa autorização do consumidor. 
 Conclui-se, portanto, que apesar de alguns poucos questionamento no sentido de colocar 
em xeque a atuação dos inspetores das concessionárias durante a realização das fiscalizações, desde 
que respeitado o direito de inviolabilidade do lar, não há qualquer irregularidade nas mesmas. 
 
3 IMPLICAÇÕES NO DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
Inicialmente, faremos algumas considerações sobre serviços públicos, serviços de 
utilidade pública, e sua possibilidade de delegação. Segundo a tradicional doutrina, serviços 
públicos, propriamente ditos, são os que a Administração presta diretamente à comunidade, por 
reconhecer a sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo social, e do próprio 
Estado. Serviços de utilidade pública são os que a Administração, reconhecendo a sua conveniência 
para os membros da coletividade, presta-os diretamente ou aquiesce que sejam prestados por 
terceiros, podendo ainda se dividir em serviços uti singuli e uti universi. Os primeiros são aqueles 
prestados a usuários determinados, onde é possível dimensionar quem são os indivíduos que 
recebem os serviços e cada prestação, são os que têm por finalidade a satisfação individual e direta 
das necessidades dos cidadãos. Os segundos são aqueles onde não há possibilidade de 
individualização dos seus beneficiários, são os serviços públicos com caráter de generalidade. Os 
mesmos são prestados à coletividade, mas usufruídos apenas indiretamente pelos indivíduos. Dessa 
forma, em decorrência de sua própria natureza, os serviços uti universi são impassíveis de serem 
delegados. 
Nesse sentido, podemos concluir que a distribuição de energia elétrica é serviço de 
utilidade pública uti singuli delegado pela União mediante concessão. Neste sentido, cumpre 
salientarmos algumas características das concessões. 
Segundo doutrina majoritária, a concessão corresponde ao contrato administrativo pelo 
qual poder público concedente confere ao concessionário (particular ou outro ente público) ospoderes e deveres que legalmente lhe cabem, para que estes os exerçam em seu lugar, como a 
 
execução remunerada de serviço público, devendo fazê-lo pelo prazo e nas condições 
regulamentares e contratuais. 
A concessão de serviço público, em sua forma tradicional, é disciplinada pela lei 
8.987/95 (lei de concessões) e sua remuneração básica, decorre de tarifa paga pelo usuário. Sua 
natureza jurídica é de contrato administrativo, sujeito a regime jurídico de direito público. Diante 
disso, e em decorrência da própria natureza jurídica das concessões, as concessionárias possuem 
prerrogativas e sujeições próprias do poder público, concernentes à finalidade, procedimento, 
forma, cláusulas exorbitantes, mutabilidade, etc.. Nesse sentido, possuem normas próprias, 
adequadas à situação específica, buscando sempre o equilíbrio dos contratos (art. 37, inciso XXI da 
Constituição Federal c/c arts. 5º e 29, inciso V da Lei 8.987/95). Cumpre observar que as 
prerrogativas da concessionária sub-rogam nas prerrogativas da Administração. 
Sob esta perspectiva, os atos da concessionária possuem presunção de legitimidade juris 
tantum (presunção relativa), uma vez que emanados de um ente que, embora não pertença à 
administração, está sob seu comando direto. A idoneidade é característica indispensável do 
prestador dos serviços públicos. Além disso, o fato da atividade está sendo exercida por um 
particular não a desvirtua de seu caráter público/administrativo, uma vez que está sendo regulada 
pela própria Administração, que continua como titular da atividade, pois o poder concedente só 
transfere ao concessionário a execução do serviço, continuando titular do mesmo. Corroborando 
esse entendimento, temos as jurisprudências que seguem abaixo: 
Apelação Cível n° 012.030.129.048 
Apelante: Espírito Santo Centrais Elétricas S/A 
Apelados: Delson Luiz Barcelos e outra 
Relator: Arnaldo Santos Sousa 
Tribunal de Justiça do Espírito Santo 
PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. ENERGIA ELÉTRICA. 
FISCALIZAÇÃO. INDÍCIOS DE FRAUDE. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE 
DO ATO ADMINISTRATIVO. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. 
SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. 
1. A atuação regular da concessionária/recorrente no sentido de fiscalizar e notificar 
possíveis indícios de fraude no consumo de energia não caracteriza dano moral, já que tal 
atividade encontra respaldo na lei. 
2. Uma vez que não constam dos autos provas efetivas das irregularidades alegadas pelos 
autores/recorridos, não há como desqualificar a presunção de legitimidade que reveste o ato 
administrativo. 
3. Recurso conhecido e provido para reformar a sentença atacada, julgando improcedente o 
pedido constante da exordial e invertendo os ônus das sucumbências. 
Conclusão: À unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. 
 
Apelação com Revisão n° 1171319009 
Relator: Des. Fábio Rogério Bojo Pellegrino 
31ª Câmara de Direito Privado 
Tribunal de Justiça de São Paulo 
Pub. DJ em: 14/08/2008 
ENERGIA ELÉTRICA - SERVIÇO PÚBLICO DELEGADO - CONCESSIONÁRIA 
DE SERVIÇO PÚBLICO - AUTUAÇÃO ADMINISTRATIVA- PODER DE 
POLÍCIA - PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE E LEGITIMIDADE 
 
ADMINISTRATIVAS - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA DO CÓDIGO DE 
DEFESA DO CONSUMIDOR - INAPLICABILIDADE - PERICÍA JUDICIAL, 
ADEMAIS, QUE COMPROVA FRAUDE 
1. Os atos fiscalizatórios de concessionária de serviço público delegado gozam de 
presunção de legalidade e legitimidade administrativas. Tal presunção afasta a inversão do 
ônus da prova do Código de Defesa do Consumidor, por falta de verossimilhança. 
2. A presunção de legalidade e regularidade das autuações administrativas no exercício do 
serviço público delegado à concessionária apenas é afastada com prova inequívoca, a cargo 
do autuado, de abuso de poder ou irregularidade da concessionária, até porque ao autuado é 
atribuída a prática de ilícito com lesão a interesse da coletividade. 
3. Prova pericial judicial reforçou a presunção, tornando-a certeza, na medida em que 
comprovou a adulteração do medidor de energia, na forma do já constatado 
administrativamente pela concessionária. 
 
Não obstante essas prerrogativas, a concessionária possui algumas limitações, tais 
como: preço, condições de prestação, sujeição à fiscalização do Poder Concedente, sujeição a 
sanções e alteração unilateral dos contratos. Nesse sentido, cumpre observar que a ANEEL - 
Agência Nacional de Energia Elétrica é o ente competente para fiscalizar as concessionárias de 
energia elétrica de todo o território nacional. 
 
3.1 Relação Jurídica Concessionária x Concedente 
 
Trata-se de relação regida por um contrato administrativo, que goza de prerrogativas e 
sujeições (limitações), possuindo previsão expressa do direito de fiscalizar e aplicar sanções, 
sempre após aviso prévio. Nesse contexto, torna-se interessante a discussão acerca da prerrogativa 
do particular de exercer o poder de polícia visando à defesa do patrimônio concedido. 
Segundo a tradicional doutrina, o poder de polícia é a atividade da Administração 
consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público, dessa 
forma, pressupõe o uso da autoridade estatal para impedir ações anti-sociais e garantir a 
manutenção do interesse coletivo. 
Segundo Mello
14
: 
A atividade conhecida entre nós como polícia administrativa - hoje estudada, 
preferentemente sob a designação de “Limitações Administrativas à Liberdade e à 
Propriedade” - corresponde à ação administrativa de efetuar os condicionamentos 
legalmente previstos ao exercício da liberdade e da propriedade das pessoas, a fim de 
compatibilizá-lo com o bem estar social. Compreende-se, então, no bojo de tal atividade, a 
prática de atos preventivos (como autorizações, licenças), fiscalizadores (como inspeções, 
vistorias, exames) e repressivos (multas, embargos, interdição de atividade, apreensões). 
 
O Art. 31 das leis das concessões (lei 8.987/95) informa que é encargo da 
concessionária cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e cláusulas contratuais da concessão, 
bem como zelar pela integridade dos bens vinculados à prestação do serviço e segurá-los 
 
14
 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Serviço Público e Poder de Polícia: Concessão e Delegação. In: Revista 
Trimestral de Direito Público, n° 20. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 23. 
 
 
adequadamente. Dessa forma, não seria possível a execução dos serviços concedidos se não 
houvesse a possibilidade fática da concessionária de zelar pelos bens que lhe foram delegados. 
Conclui-se, portanto, que os atos de poder de polícia que podem ser exercidos pelo 
particular delegatário de serviço público devem estar legalmente autorizados e necessariamente 
vincular-se ao serviço que lhe foi concedido, sob pena de evidente inconstitucionalidade. 
Em contrapartida, são responsabilidades que o Poder Concedente tem perante suas 
Concessionárias, objetivando a adequação dos serviços concedidos: regulamentar o serviço 
concedido e fiscalizar permanentemente sua prestação; aplicar as penalidades cabíveis; intervir na 
prestação dos serviços; extinguir as concessões; homologar reajustes e proceder à revisão tarifária; 
cumprir e fazer cumprir as disposições regulamentares do serviço e as cláusulas contratuais da 
concessão; zelar pela boa qualidade do serviço; receber, apurar e solucionar reclamações e queixas 
dos usuários; estimular o atendimento da qualidade e produtividade; preservar e conservar o meio 
ambiente; incentivar a competitividade e estimular a formação de associações de usuários para 
defesa dos interesses relativos aos serviços. Tudo conforme disposição do artigo 29 da lei 8.987/95.Em face do que foi acima exposto, podemos concluir que ao poder concedente cabe 
legislar e fiscalizar a concessão, aplicando, quando necessário, as penalidades em que a delegatária 
incorrer. Por equivalência, à Concessionária cabe a prestação do serviço adequado e a estreita 
observância à regulação do setor. 
 
3.2 Relação Jurídica Concessionária x Usuário 
 
O contrato que rege a relação jurídica entre concessionária e usuário não goza de 
prerrogativas que lhe revista a condição de instrumento administrativo. Tal contrato é regido pelo 
direito privado, uma vez que se trata de uma relação especial de venda de energia. Dessa forma, 
algumas características são peculiares a este contrato: embora de adesão, é também sinalagmático, 
uma vez que impõe obrigações recíprocas. 
A concessionária deve prestar um serviço adequado, disponibilizar informações aos 
usuários e responsabilizar-se por possíveis danos causados, por sua vez, aos usuários dos serviços 
públicos delegados cumpre a utilização adequada dos serviços, o pagamento da contraprestação 
tarifária, bem como a repressão ao uso irregular. Também deve o usuário ser responsabilizado civil 
e penalmente pela utilização indevida da energia elétrica. 
No que tange aos deveres dos usuários, a lei de concessões públicas acabou por 
incumbir os usuários no dever de cooperar com a fiscalização da atividade concedida, impondo-lhe 
 
obrigações como a de observância às normas do poder concedente e a de contribuir para a 
preservação dos bens delegados. É o que dispõe o art. 7° da lei de concessões, in verbis: 
Art. 7°- Sem prejuízo do disposto na Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos 
e obrigações dos usuários: 
(...) 
IV- levar ao conhecimento do poder público e da concessionária as irregularidades de que 
tenham conhecimento, referentes ao serviço prestado; 
VI- contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através dos quais 
lhes são prestados os serviços. 
É bem interessante quando a própria lei de concessões estabelece como uma das 
obrigações do usuário cientificar o poder público e a concessionária, de irregularidades que tenha 
conhecimento. Quando estamos lidando com consumidores que fraudam ou furtam energia elétrica, 
é mais comum observamos no cotidiano a indiferença dos demais usuários. Estes costumam 
considerar que o problema do furto/fraude de energia é única e exclusivamente das concessionárias, 
sobretudo porque não têm conhecimento dos diversos prejuízos decorrentes dessas práticas. 
Acharmos, enquanto consumidores, que nada temos a ver com o vizinho que furta ou frauda a 
energia elétrica, é pensamento demasiadamente individualista, uma vez que, se o fraudador não 
paga pelo que consome, alguém paga. E esse alguém somos nós: eu, você e toda a coletividade. 
Ainda sobre o dever dos usuários, assim estabelece o artigo 3° da Resolução 456 da 
ANEEL, in verbis: 
Art. 3°- Efetivado o pedido de fornecimento à concessionária, esta cientificará ao 
interessado quanto à: 
I- obrigatoriedade de: 
(...) 
b) instalação, pelo interessado, quando exigido pela concessionária, em locais apropriados 
de livre e fácil acesso, de caixas, quadros, painéis ou cubículos destinados à instalação de 
medidores, transformadores de medição e outros aparelhos da concessionária, necessários à 
medição de consumos de energia elétrica e de demandas de potência, quando houver, e à 
proteção destas instalações. 
(...) 
 
Conclui-se, portanto, que é dever do consumidor de energia elétrica proteger as 
instalações (padrão de entrada) constantes em sua unidade consumidora, bem como manter as 
mesmas em locais apropriados e de livre e fácil acesso. 
Cumpre observar que a preferência por locais de livre e fácil acesso, também 
denominada de externalização da medição
15
, faz parte de uma série de medidas adotadas com a 
finalidade de facilitar o processo de leitura e faturamento dos consumidores, além de possibilitar 
uma melhor fiscalização dos aparelhos de medição. 
 
4 ASPECTOS REGULATÓRIOS 
 
15
 Vide Resolução 258/2003 ANEEL que trata especificamente do assunto. 
 
 
O serviço de fornecimento de energia elétrica é regulamentado por algumas leis e 
resoluções, que, conforme anteriormente visto, irão dispor sobre o regime das empresas 
concessionárias de serviços públicos, caráter especial de seu contrato, condições de caducidade e 
fiscalização, direitos dos usuários, política tarifária, entre outros. 
Nesse sentido, é importante destacar que as agências reguladoras são instituições criadas 
por lei, normalmente sob a forma de autarquia em regime especial, que têm como objetivo regular e 
fiscalizar serviços concedidos pelo Poder Público, visando sempre à defesa dos interesses do 
consumidor para que receba serviços adequados, eficazes e com preço justo. 
 Destacaremos aqui os dispositivos legais que são de maior relevância para o presente 
estudo. 
 
4.1 Lei de Concessões - Lei 8.987/1995 
 
A lei 8.987/95, que regulou o artigo 175 da Constituição Federal, trouxe em suas 
disposições um conjunto de preceitos que devem ser respeitados pelo particular executor do serviço 
público. A principal premissa estabelecida na lei de concessões é o conceito de que toda concessão 
ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado, em conformidade com o que rege o art. 
6°, in verbis: 
Art. 6°- Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno 
atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no 
respectivo contrato. 
§1°- Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, 
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das 
tarifas. 
§2°- A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das 
instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço. 
(...) 
Cumpre observar que o citado dispositivo encontra-se em perfeita harmonia com o 
Código de Defesa do Consumidor, o que nos leva a crer que, quando da redação do mesmo, tenha o 
legislador se voltado quase que exclusivamente ao consumidor. Não obstante isso, eles são de 
grande importância para o presente estudo, uma vez que revelam alguns dos limites a que está 
submetido o ente privado delegatário do serviço público: segurança, generalidade, cortesia, 
eficiência, etc.. Nesse sentido, será ilegal qualquer ato praticado pelo concessionário que não se 
coadune com as condições de prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários. 
De modo contrário, cabe ao usuário respeitar as normas do poder concedente e 
contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através dos quais lhes são 
 
prestados os serviços, obrigações que, conforme anteriormente visto, lhe foram impostas também 
pela Lei 8.987/95, em seu artigo 7°. 
Ainda nesse contexto, vale à pena ressaltar que a modicidade tarifária é que enseja a 
efetiva possibilidade de acesso e utilização do serviço público de energia elétrica pela população, 
concorrendo para a universalização do serviço público de energia elétrica. 
 
4.2 Resolução 456/2000 ANEEL 
 
A ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica tem natureza jurídica de autarquia 
sob regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, criada pela lei 9.427 de 26 de 
dezembro de 1996, que tem, entre outras, as atribuições de regular e fiscalizar a geração, 
transmissão, distribuição e a comercialização de energia elétrica, defendendo o interesse do 
consumidor; mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor elétrico e entre estes e osconsumidores; conceder, permitir e autorizar instalações e serviços de energia; garantir tarifas 
adequadas e justas; zelar pela qualidade dos serviços; adequar os investimentos necessários ao 
setor; assegurar a universalização dos serviços. A ANEEL substituiu o Departamento Nacional de 
Águas e Energia Elétrica - DNAEE, extinto pela lei 9.427/96. 
A lei 9.427/96, que instituiu a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, em seu 
artigo 2º assim estabeleceu: 
Art. 2º - A Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, tem por finalidade regular e 
fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em 
conformidade com as políticas e diretrizes do Governo Federal. 
 
Aí está fixada a competência da ANEEL, como único órgão governamental com 
atribuições para definir as condições gerais de fornecimento de energia elétrica. Diante dessa 
missão, a ANEEL editou algumas Resoluções com a finalidade de regulamentar o setor elétrico, 
dentre elas, a que mais se destaca é a Resolução 456 de 29 de novembro de 2000. 
Nesse sentido, destacaremos aqui os artigos da Resolução 456/2000 que representam 
maior relevância para o presente estudo e que ainda não foram comentados neste trabalho. 
Assim dispõe o artigo 36, in verbis: 
Art. 36- Os lacres instalados nos medidores, caixas e cubículos, somente poderão ser 
rompidos por representante legal da concessionária. 
Parágrafo único. Constatado o rompimento ou violação de selos e/ou lacres instalados pela 
concessionária, com alterações nas características da instalação de entrada de energia 
originariamente aprovadas, mesmo não provocando redução no faturamento, poderá ser 
cobrado o custo administrativo adicional correspondente a 10% (dez por cento) do valor 
líquido da primeira fatura emitida após a constatação da irregularidade. 
 
Extrai-se do citado dispositivo legal, que somente a concessionária está autorizada a 
violar os lacres constantes nos medidores, quando o particular assim o faz, age de forma não 
 
compatível com a adequada utilização do serviço, uma vez que deixa de observar determinações 
expressas na legislação competente. Nesse sentido, podemos caracterizar essa inobservância por 
parte do consumidor como procedimento irregular (de um modo geral, são procedimentos 
irregulares todos aqueles realizados em descumprimento de norma relativa ao setor). Cumpre 
observar que as obrigações pertinentes ao consumidor previstas na Resolução 456/2000 da ANEEL 
são transpostas ao contrato de adesão enviado ao usuário
16
. 
Quando os lacres dos medidores, caixas e cubículos são rompidos por pessoa que não 
seja representante legal da concessionária, ainda que este procedimento não provoque redução no 
faturamento do consumidor, a concessionária esta autorizada a cobrar custo administrativo adicional 
na fatura emitida após a constatação da irregularidade. Não obstante isso, se o citado procedimento 
irregular ocasionar redução no faturamento, será gerado um processo administrativo de consumo 
não registrado. 
Aduz o artigo 72, in verbis: 
Art. 72 - Constatada a ocorrência de qualquer procedimento irregular cuja responsabilidade 
não lhe seja atribuível e que tenha provocado faturamento inferior ao correto, ou no caso de 
não ter havido qualquer faturamento, a concessionária adotará as seguintes providências: 
I- emitir o “Termo de Ocorrência de Irregularidade”, em formulário próprio, contemplando 
as informações necessárias ao registro da irregularidade, tais como: 
a) identificação completa do consumidor; 
b) endereço da unidade consumidora; 
c) código de identificação da unidade consumidora; 
d) atividade desenvolvida; 
e) tipo e tensão de fornecimento; 
f) tipo de medição; 
g) identificação e leitura(s) do(s) medidor(es) e demais equipamentos auxiliares de 
medição; 
h) selos e/ou lacres encontrados e deixados; 
i) descrição detalhada do tipo de irregularidade; 
j) relação da carga instalada; 
l) identificação e assinatura do inspetor da concessionária; e 
m) outras informações julgadas necessárias; 
II- solicitar os serviços de perícia técnica do órgão competente vinculado à segurança 
pública e/ou do órgão metrológico oficial, este quando se fizer necessária a verificação do 
medidor e/ou demais equipamentos de medição; 
III- implementar outros procedimentos necessários à fiel caracterização da irregularidade; 
IV- proceder à revisão do faturamento com base nas diferenças entre os valores 
efetivamente faturados e os apurados por meio de um dos critérios descritos nas alíneas 
abaixo, sem prejuízo do disposto nos arts. 73, 74 e 90: 
(...) 
§ 2º Comprovado, pela concessionária ou consumidor, na forma do art. 78 e seus 
parágrafos, que o início da irregularidade ocorreu em período não atribuível ao atual 
responsável, a este somente serão faturadas as diferenças apuradas no período sob 
responsabilidade do mesmo, sem aplicação do disposto nos arts. 73, 74 e 90, exceto nos 
casos de sucessão comercial. 
§ 3º Cópia do termo referido no inciso I deverá ser entregue ao consumidor no ato da sua 
emissão, preferencialmente mediante recibo do mesmo, ou, enviada pelo serviço postal com 
aviso de recebimento (AR). 
§ 4º No caso referido no inciso II, quando não for possível a verificação no local da unidade 
consumidora, a concessionária deverá acondicionar o medidor e/ou demais equipamentos 
 
16
 Nos postos de atendimento da CEMAR, se encontra disponível ao consumidor, a Resolução 4456/2000 da ANEEL. 
 
de medição em invólucro específico, a ser lacrado no ato da retirada, e encaminhar ao órgão 
responsável pela perícia. 
O retrotranscrito dispositivo estabelece os critérios e requisitos que devem ser 
obedecidos pelas concessionárias para a validade das inspeções, além de critérios que devem ser 
observados durante a revisão do faturamento, para o cálculo do consumo não registrado
17
. Daí a 
extensão do artigo. 
Cumpre destacarmos o inciso III do citado artigo. Como exemplo prático de outros 
procedimentos adotados pelas concessionárias visando à fiel caracterização da irregularidade, temos 
a utilização de fotografias das irregularidades
18
. Durante a inspeção técnica, ao ser constatado 
algum procedimento irregular, este é registrado através de fotografias, o que contribui para 
comprovação material do ilícito. Estas fotografias irão compor o processo administrativo e mais 
adiante, conforme seja o caso, servir como prova em processo judicial. 
Outro aspecto importante para destacarmos no presente estudo é referente à 
denominação que comumente é dada à cobrança de consumo não registrado, qual seja multa. 
Conforme estabelece o artigo 73 da resolução 456/2000, apenas um percentual de no máximo 30% 
poderia assim ser classificado. Uma vez que, como conceitua o próprio dispositivo legal, o mesmo é 
referente a custo administrativo
19
. 
Art. 73- Nos casos de revisão do faturamento, motivada por uma das hipóteses previstas no 
artigo anterior, a concessionária poderá cobrar o custo administrativo adicional 
correspondente a, no máximo, 30 % (trinta por cento) do valor líquido da fatura relativa à 
diferença entre os valores apurados e os efetivamente faturados. 
 
Ainda sobre a cobrança de consumo não registrado realizada pelas concessionárias, 
cumpre destacarmos o período de cobrança retroativa. O mesmo poderá ser de, no máximo, cinco 
anos, conforme Ofício n° 502/2004 - DR/ANEEL (Ref. fls. 19 do Parecer nº 158/2004 - 
PF/ANEEL), que informa que nas “Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica” 
constam rotinas, critérios e providências, no âmbito administrativo, conforme art. 72 da Resolução 
456 de 2000, para a análisee caracterização “da ocorrência de qualquer procedimento irregular cuja 
responsabilidade não lhe seja atribuível”, ou seja, procedimento do consumidor (ação), mediante 
fraude, artifício, ardil (irregular), que tenha provocado (dano) e conseqüentemente faturamento 
inferior ao correto; ou não ter havido qualquer faturamento. Neste caso, o prazo máximo de 
cobrança retroativa será limitado a 05 (cinco) anos. 
 
17
 Vide anexo contendo exemplo de alguns documentos que compõem os processos administrativos de CNR das 
concessionárias de energia elétrica. Anexo A: Modelo de documentos utilizados pela CEMAR. 
18
 Vide anexo contendo exemplo de Processo de CNR. Anexo B: Modelo de Processo de CNR utilizado pela LIGHT. 
19
 Segundo a procuradoria jurídica da ANEEL, a natureza jurídica do custo administrativo é de cláusula penal, por 
trata-se de descumprimento das obrigações contratualmente assumidas pelo consumidor. No Judiciário, prevalece o 
entendimento de que o custo administrativo é multa e, por isso, necessita obedecer ao princípio do contraditório e 
ampla defesa. 
 
O referido ofício é aplicado em analogia com o estipulado no artigo 76, inciso II da 
Resolução 456, que determina prazo prescricional de cinco anos conforme estabelecido no artigo 27 
da lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Esse limitante também é utilizado em 
consonância com o Código Civil Brasileiro, que ao tratar da prescrição, limita em 05 anos o período 
de cobrança. 
Nesse sentido, recentemente a ANEEL sumulou o entendimento de que sempre que não 
for possível determinar o momento exato em que começou a irregularidade, o período de cobrança 
deve se limitar a seis meses.
20
 
 
5 IMPLICAÇÕES PENAIS 
 
Em conformidade com o Código Penal Brasileiro temos como qualificar duas formas de 
“subtração” de energia: furto simples e furto qualificado, também chamado de furto mediante 
fraude. Incorre no delito todo aquele que subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel, 
equiparando-se a energia elétrica a essa condição. 
O furto simples está previsto no art. 155, §3° do código Penal e ocorre quando há 
ausência de contrato e conexão direta. Tomemos com exemplo quando é detectada uma ligação 
direta sem passar pelo medidor de energia, a qual pode ser visualizada sem dificuldades. 
O furto qualificado ou furto mediante fraude está previsto no art. 155, §3° c/c §4°, 
inciso II do Código Penal. Na prática, ele ocorre quando há uma infração contratual, quando o 
usuário “frauda” a concessionária. Utilizemos como exemplo quando é detectado um desvio 
embutido na parede, que não pode ser detectado com facilidade, sendo necessários exames 
detalhados por parte dos inspetores. 
Nesse contexto, cumpre observar que o furto/fraude de energia elétrica, não é apenas 
um delito penal, constitui também uma infração contratual e afronta os deveres impostos ao usuário, 
uma vez que implica na utilização inadequada do serviço e na falta de pagamento da 
contraprestação devida por ele. O indivíduo que furta energia elétrica não está lesando apenas a 
concessionária, ele está prejudicando toda a sociedade. 
Corroborando esse entendimento, temos as seguintes jurisprudências do Tribunal de 
Justiça do Estado de Minas Gerais: 
Apelação Criminal nº 1.0132.05.000694-0/001 
Apelante: Roque Nunes 
Apelado: Ministério Público do Estado de Minas Gerais 
Relator: Des. Eduardo Brum 
 
20
 Súmula 09/2009 da ANEEL. Publicada no D.O. em 30.04.2009. 
 
APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA. CRIME 
CONFIGURADO. CONDENAÇÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 
O furto consiste na subtração de coisa móvel para si ou para outrem, com o fim de 
apoderar-se dela de modo definitivo. Toda energia economicamente utilizável e suscetível 
de incidir no poder de disposição material e exclusiva de um indivíduo pode ser incluída, 
mesmo do ponto de vista técnico, entre as coisas móveis. 
(...) Uma vez comprovada a alteração do relógio-medidor e a subtração, mostram-se 
despiciendas as comparações feitas pelo apelante referentes ao consumo de energia antes e 
depois da denúncia. 
(...) Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado 
de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos 
julgamentos e das notas taquigráficas, em negar provimento, à unanimidade. 
 
Apelação Criminal nº 1.0223.04.153468-4/001 
Apelante: Henrique Viana de Araújo 
Apelado: Ministério Público do Estado de Minas Gerais 
Relator: Des. Eli Lucas de Mendonça 
PROCESSO PENAL. FURTO DE ENERGIA. AUTORIA E MATERIALIDADE 
COMPROVADAS. CONDENAÇÃO MANTIDA. 
O consumo de energia elétrica desviada do medidor é subtração tipificada como ilícito 
penal nos termos do § 3º do art. 155 do CP. 
(...) Ao que se vê, o apelante praticou o crime descrito no § 3º do art. 155 do CP. Isto 
porque consumiu energia elétrica sem registro no medidor, em prejuízo da companhia 
energética. Assim procedendo, subtraiu a energia fornecida pela concessionária em proveito 
próprio e em prejuízo para a CEMIG. 
Tal conclusão se extrai da prova técnica, indispensável para o reconhecimento do delito de 
furto de energia elétrica - art. 155, § 3º, do CP, f. 10/11, que constatou ausência dos 
selos/lacres externos da tampa da caixa, bem como a adulteração dos selos/lacres de 
aferição do aparelho medidor de KWh. 
Ainda que assim não fosse, in casu, a prova pericial estaria suficientemente suprida pela 
prova oral colhida, especialmente as declarações do funcionário da CEMIG. 
(...) Vistos etc., acorda, em Turma, a 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado 
de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, em 
rejeitar preliminar e dar provimento parcial. 
 
Apelação Criminal nº 1.0290.99.004701-8/001 
Apelante: José Miguel 
Apelado: Ministério Público do Estado de Minas Gerais 
Relator: Desª. Beatriz Pinheiro Caires 
APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA ("GATO"). 
AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. CONFISSÃO. 
(...) O consumo de energia elétrica desviada do medidor é subtração tipificada como ilícito 
penal, nos termos do § 3º do art. 155, do CP. 
(...) Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado 
de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos 
julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, em negar provimento. 
 
 Diante de tais fatos, policiais de alguns estados já estão recebendo treinamento contra o 
furto de energia. O curso de capacitação integra o Programa Nacional de Combate ao Furto de 
Energia Elétrica, desenvolvido pela ANEEL. O Rio de Janeiro foi o primeiro Estado a participar do 
Programa e terá o treinamento ministrado pelo Instituto de Segurança Pública do Estado e pela 
Secretaria de Energia, Indústria Naval e Petróleo, em convênio com a ANEEL e as concessionárias 
Light e Ampla, que operam no Estado. Esperamos que em breve, policiais de todos os Estados do 
território nacional possam contar com esse treinamento, o que garantiria uma melhor estrutura na 
fiscalização e combate ao furto/fraude de energia elétrica. 
 
 
5.1 Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados - DDSD 
 
Criada em 06.02.2002 no Estado do Rio de Janeiro, a Delegacia de Defesa dos Serviços 
Delegados tem como objetivo planejar ações contra adulteração de combustíveis e fraudes de 
energia e de telecomunicações. 
A Delegacia é pioneira no país e os profissionais trabalham em conjunto com 
laboratórios técnicos e órgãos fiscalizadores. Apesar da criação da especializada, as DelegaciasDistritais continuam com a competência concorrente para atuar e proceder nos casos de registros de 
furto ou fraude de energia. 
Esperamos que a criação de Delegacias como essa seja disseminada por todo o país, o 
que possibilitará uma melhor fiscalização e conseqüente melhora dos serviços prestados ao 
consumidor. 
 
5.2 Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado - DEIC 
 
Situado no Estado de São Paulo, o Departamento possui uma Delegacia especializada 
em investigar e combater crimes contra o patrimônio; trata-se da Terceira Delegacia da Divisão de 
Investigações sobre Crimes Contra o Patrimônio. 
Dentre suas atribuições podemos pontuar o combate ao furto de fios elétricos; combate 
ao furto de energia e outros que tenham como vítimas empresas concessionárias de serviço público; 
combate a outras fraudes relacionadas à prestação de serviços públicos concedidos. 
Sua estrutura é formada por delegados, escrivães e investigadores de polícia, com apoio 
policial do GARRA, helicópteros da Polícia Civil, Distritos Policiais, Polícia Militar e demais 
unidades da Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio. 
O Departamento possui uma metodologia de trabalho que busca inserir as empresas 
vítimas no processo de combate aos ilícitos, criando, junto com as mesmas, um grupo estável de 
combate às irregularidades. Procura, ainda, inserir outros órgãos públicos no processo, além de 
direcionar esforços para os ilícitos que causam maior impacto social e oferecer treinamentos 
específicos de policiais especializados junto às empresas afetadas. 
O ideal seria a existência do DEIC, especializado no combate a crimes contra o 
patrimônio, sobretudo no combate ao furto/fraude de energia elétrica, em cada um dos estados 
brasileiros, todavia apenas o Estado de São Paulo trabalha com essa estrutura. Nesse sentido, 
cumpre ressaltar que em decorrência da política de organização judiciária e policial ser feita em 
 
nível estadual, de forma que cada Estado possui autonomia para organizar sua estrutura judiciária e 
investigativa, podemos encontrar em outros estados brasileiros órgãos com a sigla DEIC, tais como 
Rio Grande do Sul e Maranhão, todavia estes não possuem as mesmas atribuições e composição do 
Departamento de São Paulo. 
 
6 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC 
 
Criado em 1990, o Código de Defesa do Consumidor surgiu, basicamente, da 
necessidade de obtenção de igualdade entre aqueles que eram naturalmente desiguais: consumidor e 
fornecedor. 
Com a Constituição Federal de 1988, que incluiu a defesa do consumidor no plano da 
política constitucional, aparecendo no texto maior, entre os direitos e garantias fundamentais (art. 
5°, inciso XXXII da Constituição Federal), ficou evidente a preocupação do legislador constituinte 
com as atuais relações de consumo e com a necessidade de tutelar o hipossuficiente (mais fraco). 
Sendo um dispositivo recheado de valores constitucionais, o Código de Defesa do 
Consumidor é considerado uma das leis mais democráticas editadas até os dias atuais no 
ordenamento jurídico brasileiro. A imperatividade de suas normas tem por escopo proteger o 
consumidor, na tentativa de alcançar uma realidade social mais justa, em conformidade com o 
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, uma das vigas mestras do Código de 
Defesa do Consumidor. 
Nesse contexto, passaremos a analisar as relações e implicações do Código de Defesa 
do Consumidor e a fraude de energia elétrica, sobretudo no que diz respeito aos direitos e deveres 
do consumidor de energia. 
Inicialmente cumpre-nos ressaltar que o codex consumerista somente se aplica àqueles 
que se enquadram no artigo 2º do referido dispositivo legal. Dessa forma, apenas as pessoas físicas 
ou jurídicas que adquirem ou utilizam produtos ou serviços como destinatários finais estarão 
amparadas pelo Código de Defesa do Consumidor. É importante observarmos que o conceito de 
consumidor
21
 adotado pelo Código foi exclusivamente de caráter econômico, ou seja, levando-se 
em consideração tão-somente o personagem que no mercado de consumo adquire bens ou então 
contrata a prestação de serviços, como destinatário final, pressupondo-se que assim age com vistas 
 
21
 Segundo disposição da ANEEL, em seu artigo 2º, inciso III, consumidor é toda pessoa física ou jurídica, ou 
comunhão de fato ou de direito, legalmente representada, que solicitar a concessionária o fornecimento de energia 
elétrica e assumir a responsabilidade pelo pagamento das faturas e pelas demais obrigações fixadas em normas e 
regulamentos da ANEEL, assim vinculando-se aos contratos de fornecimento, de uso e de conexão ou de adesão, 
conforme cada caso. 
 
ao atendimento de uma necessidade própria e não para o desenvolvimento de outra atividade 
negocial. 
Em face do acima exposto, podemos concluir que o Código de Defesa do Consumidor 
se aplica às relações de consumo existentes entre concessionárias de energia elétrica e usuário. 
Feitos os esclarecimentos acima, passaremos a analisar algumas responsabilidades 
imputadas ao usuário de energia elétrica. Não obstante as garantias que lhe são asseguradas pelo 
CDC, o consumidor deverá cumprir com os seus deveres, sob pena de não mais fazer jus a essas 
benesses, uma vez que, conforme anteriormente visto, o contrato que rege a relação jurídica entre 
concessionária e usuário é gerido pelo direito privado e impõe obrigações recíprocas. Nesse sentido, 
a própria Resolução 456/2000 trouxe em seus artigos algumas responsabilidades do consumidor. 
Destacaremos aqui algumas delas. Artigos 104 e 105, in verbis: 
Art. 104- O consumidor será responsável por danos causados aos equipamentos de medição 
ou ao sistema elétrico da concessionária, decorrentes de qualquer procedimento irregular ou 
de deficiência técnica das instalações elétricas internas da unidade consumidora. 
 
Art. 105- O consumidor será responsável, na qualidade de depositário a título gratuito, pela 
custódia dos equipamentos de medição da concessionária quando instalados no interior da 
unidade consumidora, ou, se por solicitação formal do consumidor, os equipamentos forem 
instalados em área exterior da mesma. 
Parágrafo único. Não se aplicam as disposições pertinentes ao depositário no caso de furto 
ou danos provocados por terceiros, relativamente aos equipamentos de medição, exceto 
quando, da violação de lacres ou de danos nos equipamentos, decorrerem registros 
inferiores aos corretos. 
 
Como podemos facilmente concluir dos artigos retro transcritos, qualquer procedimento 
irregular que provoque danos aos equipamentos de medição, terá a responsabilidade imputada ao 
consumidor, por isso mesmo, o consumidor é responsável por tais equipamentos, devendo zelar 
pelo seu bom funcionamento. É importante ressaltar o parágrafo único do artigo 105, que isenta da 
responsabilidade do consumidor danos ou furtos provocados por terceiros, salvo quando tais atos 
beneficiam o consumidor fazendo com que sejam registrados consumos inferiores aos de fato 
utilizados. Essa ressalva deixa claro que, muito mais do que punir o consumidor por sua conduta 
inadequada, a cobrança de consumos não registrados é tão somente a recuperação de valores 
referentes à kW que foram consumidos sem a devida contraprestação financeira. Ainda que o 
consumidor não tenha tido uma responsabilidade direta no incorreto registro do consumo, foi 
beneficiado por tal ato. Nestes casos, não deverá ocorrer cobrança de custo administrativo. 
Ainda no campo das responsabilidades do consumidor, cumpre destacarmos o dever que 
tem o usuário com o uso racional da energia elétrica. Tema em grande destaque não apenasno 
contexto nacional, como também mundial, a conservação da energia preocupa gestores públicos e 
ambientalistas. É sabido que já se iniciou uma grande busca por fontes alternativas de energia, tais 
como a eólica e a solar, uma vez que as tradicionais fontes estão cada vez mais escassas e os 
 
potenciais hidroelétricos estão diminuindo com o passar dos anos. Nesse diapasão, quando estamos 
tratando de usuários que se utilizam de artifícios para não pagarem o que efetivamente consomem, 
facilmente podemos concluir que os mesmos não terão compromisso com a conservação e uso 
racional dessa energia, uma vez que não pagam por ela. 
Não obstante as responsabilidades imputadas ao consumidor, a Resolução 456/2000 
também trouxe alguns deveres para as concessionárias. Artigo 95, in verbis: 
Art. 95- A concessionária é responsável pela prestação de serviço adequado a todos os 
consumidores, satisfazendo as condições de regularidade, generalidade, continuidade, 
eficiência, segurança, atualidade, modicidade das tarifas e cortesia no atendimento, assim 
como prestando informações para a defesa de interesses individuais e coletivos. 
 
Tal dispositivo resume com objetividade as responsabilidades da concessionária, 
estando em perfeita harmonia com a lei de concessões e com o próprio Código de Defesa do 
Consumidor. 
 
6.1 Princípio da Boa-Fé Objetiva 
 
O princípio da boa-fé é um dever de comportar-se lealmente em todas as fases do 
negócio jurídico, ou seja, tanto nas preliminares quanto na formação e execução deste. Os 
doutrinadores, ao tratarem da boa-fé, afirmam que esta se divide em objetiva e subjetiva; esta diz 
respeito a dados psicológicos, leva em conta a intenção do agente; enquanto aquela se relaciona 
com elementos externos, isto é, um dever de agir de acordo com as normas expressas. Essa boa-fé 
objetiva decorre também dos princípios gerais do Direito. 
Cumpre observar que a boa-fé envolve o direito, abrangendo-o, traçando-lhe limites ou, 
então, impondo o dever-direito de se exercitar as pretensões e as prestações segundo os ditames 
desta. Por esse princípio, as cláusulas devem ser interpretadas segundo as normas da dinâmica do 
direito, de acordo com o que é usual e compatível com a época, com as circunstâncias e com o bom 
senso. 
No sistema brasileiro das relações de consumo, houve opção explícita do legislador pelo 
primado da boa-fé. Com a menção expressa do artigo 4º, inciso III do CDC à boa-fé e equilíbrio nas 
relações entre consumidores e fornecedores, como princípio básico das relações de consumo, além 
da proibição das cláusulas que sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade (artigo 51, IV do 
CDC), as relações de consumo estão informada pelo princípio geral da boa-fé, que deve reger toda e 
qualquer espécie de relação de consumo. 
O dever de atuar com boa-fé se dirige em primeiro lugar ao devedor, com o mandado de 
cumprir sua obrigação, atendo-se não só à letra, mas também ao sentido da relação obrigacional 
correspondente e na forma que o credor possa razoavelmente esperar. Em segundo lugar, dirige-se 
 
ao credor, com o mandado de exercer o direito que lhe corresponde, atuando segundo a confiança 
depositada pela outra parte. Por último, dirige-se de forma dinâmica a todos os participantes da 
relação jurídica em questão, para que conduzam com uma consciência proba. 
É importante ressaltar que para uma aplicação justa de normas e cláusulas contratuais 
deve-se observar a conduta do agente, a qual deve estar em consonância com o princípio da boa-fé 
objetiva que exige um comportamento de bom cidadão, razoavelmente diligente, que deve agir com 
consciência, probidade e honestidade. 
Prevalece na doutrina que o princípio da boa-fé objetiva possui como pressuposto a 
fidelidade de cada um dos contratantes à palavra dada, de modo a não corromper ou abusar da 
confiança nele depositada pela outra parte, já que esta forma a base necessária de todas as relações 
humanas e jurídicas. 
Deste modo, conclui-se que aos consumidores que fraudam a energia elétrica não 
socorre o princípio da boa-fé objetiva. Estes não mantiveram fidelidade à palavra dada, 
corrompendo a confiança neles depositada pelos fornecedores de energia elétrica. 
 
6.2 Suspensão do Fornecimento de Energia Elétrica Decorrente de Furto/Fraude de Energia x 
Continuidade do Serviço Público 
 
Quando analisamos o Código de Defesa do Consumidor em sintonia com o estudo que 
estamos desenvolvendo, um dos artigos do CDC que mais geram interpretações controversas é o 
artigo 22, que trata da continuidade do serviço público. In verbis: 
Art. 22 - Os órgãos públicos, por si ou por suas empresas, concessionárias, permissionárias 
ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços 
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. 
Parágrafo único - Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas 
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos 
causados, na forma prevista neste Código. 
 
Para que melhor possamos compreender as divergências existentes com relação ao 
tema, teceremos alguns comentários referentes à continuidade dos serviços públicos. 
A primeira dúvida a ser desfeita diz respeito ao conceito de essencialidade. É sempre 
muito complicado investigar a natureza do serviço público, para tentar caracterizar, neste ou 
naquele, o traço da sua essencialidade. Com efeito, já vimos anteriormente que a distribuição de 
energia elétrica é serviço de utilidade pública uti singuli. Não obstante isso cumpre observar que o 
mesmo passa por uma gradação de essencialidade, o que torna mais razoável sustentar a imanência 
do requisito da essencialidade em todos os serviços prestados pelo poder público, diretamente ou 
mediante concessão. 
 
 Partindo do suposto de que o serviço de fornecimento de energia elétrica é essencial, 
resta discorrer sobre a exigência legal da sua continuidade. Essa exigência, contida no artigo 22, 
deve ser entendida no sentido de que não podem deixar de ser ofertados a todos os usuários, vale 
dizer, prestados no interesse coletivo. Ao revés, quando estiverem em causa interesses individuais, 
de determinado usuário, a oferta de serviço pode sofrer solução de continuidade, se não forem 
observadas as normas administrativas que regem a espécie. 
Nesse sentido, a lei de concessões (lei 8.987/95), em seu artigo 3°, não caracteriza como 
descontinuidade do serviço público a sua suspensão ocasionada por inadimplemento do 
consumidor, ressalvado o interesse da coletividade. In verbis: 
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de 
emergência ou após prévio aviso, quando: 
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, 
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. 
 
Apesar da existência de um ou outro posicionamento doutrinário que defende que em 
obediência ao princípio da continuidade dos serviços públicos, a concessionária de energia elétrica 
estaria impedida de promover a suspensão do fornecimento de consumidores inadimplentes, 
pacifica-se na doutrina o entendimento de que a gratuidade não se presume e que as concessionárias 
de serviço público não podem ser compelidas a prestar serviços ininterruptos se o usuário deixa de 
satisfazer suas obrigações relativas ao pagamento. Do contrário, seria admitir, de um lado, o 
enriquecimento sem causa do usuário e, de outro, o desvio de recursos públicos por mera 
inatividade da concessionária. 
Ainda nesse sentido, quando se analisa a ausência de pagamento pelo fato do 
consumidor haver fraudado, além da patente irregularidade,resta configurado verdadeiro 
locupletamento ilícito do faltoso em desfavor dos demais usuários. 
Se a concessionária está vinculada pelo dever de fornecer o serviço nos termos do 
disposto no artigo 22 do CDC, impõe-se que o usuário do serviço prestado efetivamente contribua 
para a permanência das boas condições dos bens através dos quais lhe são prestados os serviços 
(artigo 7°, inciso VI da Lei 8.987/95). 
Corroborando esse entendimento, temos os seguintes posicionamentos jurisprudenciais: 
Apelação nº 035.04.0043883 
Relator: Des. Rômulo Taddei 
Terceira Câmara Cível 
Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo 
PROCESSO CIVIL. DOCUMENTO NOVO. AÇÃO ANULATÓRIA. 
CONSTATAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO A MEDIDOR DE ENERGIA 
ELÉTRICA. QUEDA ABRUPTA DO CONSUMO. ELEVAÇÃO APÓS A 
SUBSTITUIÇÃO DO MEDIDOR. IRREGULARIDADE CONFIGURADA. 
CANCELAMENTO DO DÉBITO. IMPOSSIBILIDADE DO PEDIDO. RECURSO A 
QUE SE DÁ PROVIMENTO PARCIAL. SENTENÇA PARCIALMENTE 
REFORMADA. 
 
1. É admitida a apresentação de prova documental na fase recursal, desde que não 
caracterizada a má-fé e observado o contraditório. 
2. De acordo com o art. 397, do CPC são documentos novos aqueles “destinados a fazer 
prova de fatos ocorridos depois de articulados, ou para contrapô-los aos que foram 
produzidos nos autos.” 
3. Constatada a ocorrência de violação do medidor de energia elétrica, corroborada pela 
queda abrupta de consumo em determinado período e a conseqüente elevação após a 
substituição do medidor, não se pode dar guarida à pretensão de cancelamento do débito, 
proveniente do consumo irregular de energia. 
4. O desvio de energia elétrica, seguido do inadimplemento do consumo apurado 
constituem atos lesivos à sociedade e ao bem comum, que deve ser repudiados pelo 
judiciário, pena de encorajar-lhe o ilícito e o conseqüente comprometimento dos serviços 
públicos. 
5. Recurso a que se dá provimento parcial, para reformar em parte a sentença recorrida. 
 
Apelação Cível nº 338597 
Relator: Des. Jayro dos Santos Ferreira 
Nona Câmara Cível 
Tribunal de Justiça Do Estado do rio de Janeiro 
O medidor fraudado decorre de iniciativa do consumidor, que, talvez, sufocado pelo preço 
da energia elétrica, pensa, como tábua de salvação, em recorrer a esse meio incorreto, para 
poder continuar a utilizar-se dessa fonte, que, hoje, é necessária a própria vida. 
(...) Na hipótese de fraude comprovada, pode o consumidor ser compelido a pagar a 
diferença, apurada em perícia técnica competente, durante o período provável de ilicitude. 
(...) É preciso que do julgador sejam afastados quaisquer preconceitos, quer contra o 
fornecedor, quer contra o consumidor.
22
 
 
Nesse contexto, são relevantes os comentários de Fábio Amorim da Rocha quando 
esclarece que razões de ordem técnica e de segurança, casos fortuitos e de força maior, que são 
excludentes clássicas da responsabilidade, podem justificar a interrupção do serviço do mesmo 
modo que a falta do pagamento da remuneração do usuário autoriza a suspensão da entrega da 
energia elétrica, porque afrontaria a qualquer mente civilizada a idéia de que quem compra e não 
paga possa ter direito a continuar recebendo a mercadoria adquirida. Não seria crível, que uma lei 
garantisse mesmo aos que continuam eternamente inadimplentes, um serviço gratuito. Se assim 
fosse, melhor seria usufruir do serviço sem efetuar o pagamento, posto que o artigo 22 do Código 
de Defesa do Consumidor garantiria a continuidade. 
O que precisamos compreender é que a continuidade prevista no Código de Defesa do 
Consumidor deve ser entendida como garantia de fruição do serviço pela coletividade, sendo esta 
entendida como a sociedade beneficiária da energia. Dessa forma, a continuidade não pode ser 
avaliada individualmente, uma vez que a suspensão do fornecimento de usuários específicos em 
nada afeta a continuidade do fornecimento de energia aos demais consumidores que honraram com 
sua contraprestação contratual. Nesse sentido, a coletividade, a sociedade beneficiária, em nada foi 
atingida. 
 
22
 Fonte: www.networkeventos.com.br/download/palestras 
 
Em seu artigo 90, inciso I, a Resolução 456/2000 da ANEEL autoriza a suspensão do 
fornecimento de energia elétrica quando verificada a ocorrência de procedimentos irregulares. In 
verbis: 
Art. 90- A concessionária poderá suspender o fornecimento, de imediato, quando verificar a 
ocorrência de qualquer das seguintes situações: 
I - utilização de procedimentos irregulares referidos no art. 72; 
As normas descritas acima demonstram claramente que é possível à concessionária, a 
prática de atos repressivos, nos quais o direito de fruição dos serviços pelo usuário pode ser tolhido 
em prol do combate à prática de irregularidades. Nesse sentido, assim se posicionou o Superior 
Tribunal de Justiça: 
Recurso Especial nº 806.985 - RS (2006/0002443-0) 
Recorrente: AES Sul Distribuidora Gaúcha de Energia S/A 
Recorrido: Marlene Flores da Silva 
Relator: Ministro Herman Benjamin 
ADMINISTRATIVO. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA 
ELÉTRICA. INADIMPLEMENTO. POSSIBILIDADE. IRREGULARIDADES NO 
MEDIDOR. FATURAMENTO DAS DIFERENÇAS. 
1. O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou no sentido de que é lícito à 
concessionária interromper o fornecimento de energia elétrica se, após aviso prévio, o 
consumidor permanecer inadimplente no pagamento da respectiva conta (Lei n. 8.987⁄95, 
art. 6º, § 3º, II). Precedentes. 
2. O disposto no art. 6º, § 3º, II, da Lei n. 8.987⁄95, ao explicitar que, na hipótese de 
inadimplemento do usuário, a interrupção do fornecimento de energia não caracteriza 
descontinuidade do serviço, afasta qualquer possibilidade de aplicação dos preceitos ínsitos 
nos arts. 22 e 42 da Lei n. 8.078⁄90 (Código de Defesa do Consumidor). 
3. O fato de o caso dos autos tratar de débitos apurados unilateralmente pela empresa 
concessionária ante suposta fraude em medidor de energia elétrica e em virtude de valores 
decorrentes de diferenças de consumo não modifica as conclusões acima indicadas. 
Evidentemente que o consumidor que frauda medidor tem intenção de que o real consumo 
de energia por ele realizado seja camuflado, normalmente com o fim de pagar menos do 
que seria efetivamente devido. Portanto, não há dúvida quanto à existência de energia 
consumida que não fora quitada. Seria um contra-senso o entendimento de que é permitida 
a suspensão de energia por consumo ordinário não-pago, e de que não é permitida na 
hipótese de consumo que não foi pago em razão de ter sido camuflado pelo consumidor. 
4. Recurso especial provido. 
Por fim, cumpre observar que a jurisprudência supracitada veio para ratificar o 
entendimento já difundido entre os poucos doutrinadores que trabalham o tema, e mais, tornou uma 
realidade prática o disposto no parágrafo único do artigo 95 da Resolução 456/2000 da ANEEL que 
dispõe que não se caracteriza como descontinuidade do serviço a suspensão do fornecimento 
efetuada nos termos dos artigos 90 e 91 da Resolução, tendo em vista a prevalência do interesse da 
coletividade. 
 
7 CONCLUSÃO 
 
Em face dos diversos entendimentos legais, doutrinários e jurisprudenciais transcritos, 
fica demonstrada a legalidade dos procedimentos de inspeções realizados nas unidades 
 
consumidoras, quando atendidos os normativos regulatórios. Também fica evidenciado que o 
Judiciário pode contribuir de forma significativa para o combate à fraude de energia elétrica. 
Nesse sentido, esperamos que a criação de Delegacias Especializadas no combate ao 
furto/fraude de energia, a exemplo do que já ocorre em alguns poucos estados brasileiros, se torne 
uma

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