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A ECONOMIA BRASILEIRA E AS DIVERGÊNCIAS 
DESENVOLVIMENTISTAS: Simonsen versus Gudin 
 
SILVA, Dhiego Lúcio da. 
SANTOS, Luiz Juciano Alves dos. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Nas primeiras décadas do século XX, a economia capitalista mundial passava por, 
certamente, o período mais crítico e obscuro de sua história (A Grande Depressão de 
1929) onde a teoria econômica tradicional, a neoclássica, se tornou ineficaz para superar 
e compreender os graves problemas pelos quais passavam, como por exemplo, a formação 
de estoques, a alta especulação, o elevado nível de desemprego, etc. 
Para superar esses obstáculos. viu-se necessário reformular essa teoria econômica, 
incrementando-a, sendo que, essa reformulação ocorreu através de pensadores como 
Piero Sraffa, Joan Robinson e Edward Chamberlin, que demonstraram um dos sintomas 
dos problemas sofridos na época, a Concorrência Perfeita de Mercado, revelando que a 
mesma não era assim tão perfeita como a escola neoclássica defendia, desse modo 
contradizendo o mecanismo da “mão invisível” de Adam Smith, ou seja, o mercado não 
se autorregulava, sendo necessário algum tipo de intervenção. A partir disso 
desenvolveram a Teoria da Concorrência Imperfeita de Mercado como forma de auxiliar 
nas tomadas de decisões, de modo a combater e evitar crises, recuos da economia. 
Outros estudiosos, extremamente importantes nesta repaginada da teoria 
econômica, foram Joseph Schumpeter, Michel Kalecki e John Maynard Keynes que se 
preocuparam em desenvolver uma consistente teoria de ciclos econômicos, a qual serviria 
fornecendo instrumentos para superar crises, recessões econômicas. 
Dentre todos esses intelectuais, Keynes foi quem mais se destacou ao ponto de 
que essa nova teoria seria denominada de Teoria Keynesiana, através da visão desses 
novos fundamentos: o mercado por si só não conseguiria empregar de forma eficiente os 
recursos disponíveis, provocando, então, capacidade ociosa, desperdício, desemprego, 
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etc. Ou seja, como citado acima, a anulação da “mão invisível” e, consequentemente, o 
desequilíbrio econômico. 
Neste caso, seria necessário a intervenção de um outro agente na economia, a 
participação do Governo, mais precisamente, a intervenção estatal. Anterior a estes novos 
princípios, o Estado era tido como um administrador público responsável por cuidar dos 
setores básicos da sociedade (educação, saúde, etc.), posterior à revolução Keynesiana o 
governo passou a ser tido como um dos agentes diretos da produção, de modo, a incentivar 
e viabilizar novos investimentos e aumento de gastos com a sociedade, vulgarmente, o 
governo devia “abrir buracos e fechar buracos”, em outras palavras, deveria agir, fazer o 
possível para que a economia voltasse a crescer ou, no mínimo, que se tornasse mais 
equilibrada. 
A partir do momento em que surge no cenário econômico mundial uma nova 
vertente de pensamento e planejamento sobre a economia, surge também uma divergência 
com a vertente tradicional. Pondo frente a frente os ideais de cada uma delas, sendo assim, 
de um lado estava, a escola de pensamento neoclássica, tradicional, defensora do 
liberalismo econômico, do outro, a escola Keynesiana, contemporânea, que defendia a 
maior participação do governo na economia, o intervencionismo. 
 
2. A CONTROVÉRSIA DO DESENVOLVIMENTO 
 
A “disputa” entre essas duas correntes se espalhou em âmbito mundial, afetando 
alguns países mais, outros menos. No caso do Brasil, essa situação emerge na década de 
1930, mas só ganha força e relevância em meados da década de 1940 (principalmente 
entre 1944 e 1945) por meio do embate entre duas figuras importantes do cenário 
econômico brasileiro, são elas: Roberto Simonsen1 e Eugênio Gudin2. 
Esse embate tinha como objetivo principal, definir qual seria a forma mais eficaz 
que faria com que o Brasil usufruísse o desenvolvimento, na pauta, o papel do Estado e a 
 
1- Foi engenheiro, líder empresarial, fundador da Escola Livre de Sociologia Política de São Paulo, do Senai 
e do Sesi. Foi também deputado, senador e membro da Academia Brasileira de Letras (MARINGONI, 
2012). 
2- Foi engenheiro, empresário, jornalista, homem público, introdutor dos cursos de Economia no país e 
ministro da Fazenda (1954-1955). Foi também o principal expoente da escola monetarista no Brasil, 
defensor da estabilidade da moeda, do combate à inflação como estratégia de política econômica e da 
retirada do Estado da economia (MARINGONI, 2012). 
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necessidade ou não de se industrializar o país. De modo, que o mesmo se tornasse uma 
nação com maior autonomia econômica, mais rico. Para Simonsen, empresário e líder da 
Federação das Indústrias de São Paulo, o intervencionismo seria a melhor solução, já para 
Gudin, professor de economia e diretor de empresas estrangeiras de serviços, o 
liberalismo seria o mais viável. 
Segundo Simonsen, eram necessários o planejamento, a presença do Estado na 
economia e a necessidade da industrialização, como forma de aumentar a renda nacional. 
Esses pontos defendidos por ele assumem uma forma cronológica: primeiro os principais 
agentes da economia (burgueses, Governo) deveriam planejar da melhor forma possível 
os meios para o desenvolvimento (industrialização); segundo como a classe burguesa não 
tinha a total capacidade de financiar essa nova empreitada, sendo assim, o Estado deveria 
viabilizar, intervir, investir, para que tornasse-a possível; por fim, a própria 
industrialização seria a responsável pelo desenvolvimento do país, elevando assim, o 
nível de renda dos cidadãos, consequentemente, aumentando o bem-estar social. 
Logo, pode-se dizer que ele era defensor de uma economia brasileira autônoma, 
sendo a mesma fomentada através de meios estruturais, industriais e intervencionistas que 
serviriam para desenvolver como um todo a esfera socioeconômica do Brasil, 
transformando, então, o país. De modo, a torná-lo forte e estável em toda sua estrutura 
social e econômica (SIMONSEN apud MARINGONI, 2012, s/p.). 
Acreditando, assim, que essa autonomia seria responsável pelo fortalecimento 
econômico nacional, o qual afetaria todos os setores da esfera produtiva brasileira, no 
caso, os setores industriais, comerciais e agrícolas. Além de, consequentemente, afetar as 
esferas sociais e econômicas do país, modificando como um todo o cenário nacional. 
Simonsen, também incentivava que de toda uma série de medidas deveriam ser 
adotadas para que esse processo de industrialização fosse possível e permanente, sendo 
assim, defendia a criação de escolas de engenharia, a criação e ampliação de institutos de 
pesquisas tecnológicas, industriais e agrícolas e a intensificação do ensino profissional, 
além, da criação de bancos industriais e outros estabelecimentos de financiamento, os 
quais facilitariam os empréstimos de créditos que seriam responsáveis por financiar, em 
parte, o desenvolvimento industrial. 
E para que tudo isso se concretizasse, apoiava e defendia uma corrente que veio 
junto com o intervencionismo, o desenvolvimentismo. Essa vertente estava 
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fundamentada na modificação industrial e estrutural do país, fomentada pelo Estado, de 
modo a abranger todos os setores da sociedade, desenvolvendo os mesmos. 
Esse movimento chegou no Brasil e na América Latina tendo em vista o 
desenvolvimento (industrialização) dos países periféricos – que, no momento (meados do 
século XX), tratavam-se de produtores primários, agrícolas, de baixo valor agregado – o 
desenvolvimentismo veio com o intuito de transformar essas nações subdesenvolvidas e 
com uma forte dependência econômica, em estados de primeiro mundo e com uma maior 
e crescente autonomia.Para que isso concretizar-se, segundo estudiosos, “era necessário 
a introdução, a maior participação, do Governo na economia por meio do planejamento 
global, de modo a facilitar o advento da industrialização nacional” (MANTEGA, 1985, 
p.23). 
Dessa forma, o desenvolvimentismo superou o campo teórico-acadêmico e 
transbordou para o campo prático sendo o responsável pela idealização de políticas que 
visavam o real desenvolvimento da nação. É neste ponto onde estão enraizados, servindo 
de estrutura fundamental, as ideias da CEPAL que, certamente, foram a principal fonte 
para a constituição do desenvolvimentismo. 
Já para Gudin, o liberalismo econômico é quem deveria tomar as rédeas da 
economia brasileira ele afirmava que seria necessária a eliminação gradual dos 
mecanismos estatais de intervenção na economia. Por ser deveras conservador defendia 
a livre entrada de capitais estrangeiros no país, e que os mesmos deveriam ser tratados 
como eram o capital nacional. Propunha a queda de barreiras burocráticas e jurídicas com 
relação a remessa de lucros das empresas estrangeiras instaladas no país. Gudin 
reverenciava veementemente uma política firme de combate à inflação, com redução de 
investimentos públicos e contração do crédito. Afirmava ainda, que o apoio à indústria 
deveria ser feito àquelas compatíveis com os recursos do país. 
Gudin não idealizava uma industrialização no Brasil pautada na intervenção 
estatal, o ideal, para ele, seria a especialização produtiva. Como o país possuía uma vasta 
disponibilidade de recursos agrários e condições naturais favoráveis para a produção 
agrícola deveria, então, firmar-se como um grande produtor e exportador destes artigos. 
Com isso, o país deveria seguir pioneiramente os princípios estipulados por David 
Ricardo na Teoria das Vantagens Comparativas, onde seria necessário a especialização 
do setor produtivo brasileiro na área em que mais lhe fosse eficiente, no caso, o setor 
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primário. E a partir disso, com a autonomia deste setor, só então buscar a industrialização 
que deveria ser financiada pelo meio privado, não pelo Estado. 
De um modo geral, essas duas vertentes da teoria econômica estão presentes no 
desenvolvimento e possuem um alto grau de responsabilidade na introdução da economia 
na estrutura da sociedade no Brasil. Simonsen, com sua postura e ideais contemporâneos 
baseados em uma política industrializante e desenvolvimentistas, se fez presente nos 
planos econômicos brasileiros na década de 1950, propondo assim, a maior participação 
do governo na economia através do planejamento e de medidas protecionistas às 
indústrias, além, do grande incentivo a industrialização brasileira. Já Gudin, com uma 
ideologia liberal, propôs reformulações nas áreas monetárias e fiscais. Propunha também 
a limitação no poder do Estado, um Estado mínimo, servindo apenas para corrigir os 
ocasionais desvios do mercado (LOUREIRO, 2006, p.350). Gudin teve seus princípios 
introduzidos, mais fortemente, na economia no período do golpe militar, o qual o mesmo, 
era defensor e acabou tornando-se ministro, podendo colocar em prática suas ideias. 
Enfim, essa “disputa” não teve, decerto, um vencedor, ambos apresentaram 
ferramentas que de uma forma ou de outra influenciaram o meio socioeconômico do país 
em diferentes períodos e situações pelas quais o mesmo passava. 
 
3. CONCLUSÃO 
 
No presente trabalho, procurou-se demonstrar e compreender de forma sucinta e 
simples um dos principais embates do cenário econômico brasileiro pautado na 
divergência de pensamentos, em busca da melhor forma para o desenvolvimento. Os 
quais, de um lado está Eugênio Gudin, defensor do pensamento liberal, neoclássico, 
idealizador de um Estado mínimo e especialização agrícola (Vantagens Comparativas). 
Do outro, oposto a Gudin está Roberto Simonsen, advogado da vertente contemporânea 
da economia, o pensamento keynesiano, defendendo, então, a forte intervenção estatal e 
a industrialização embasadas no desenvolvimentismo. 
Com isso, percebendo como cada um deles se posicionava em relação aos meios 
para o crescimento do país, podendo observar o grau de importância que tiveram na 
estrutura econômica e social do Brasil e, principalmente, os instrumentos que utilizaram 
para tais feitos. 
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REFERÊNCIAS 
LOUREIRO, Maria Rita. A participação dos economistas no Governo. Porto 
Alegre, n.2, dez. 2006. Disponível em: < 
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/314/251>. Acesso 
em: 06 de janeiro de 2018. 
MANTEGA, Guido. A economia Política brasileira. Ed. Vozes. 1985. Cap. 1 
pp. 24-76. 
MARINGONI, Gilberto. Simonsen versus Gudin: a controvérsia pioneira do 
desenvolvimento. Ipea: Os desafios do desenvolvimento, São Paulo, ano. 9, n. 73, ago. 
2012. Disponível em: < 
http://desafios.ipea.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2801:cati
d=28&Itemid=23 >. Acesso em: 05 de janeiro de 2018.

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