Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO DE SALA DE AULA II - Biologia THAÍS SABATINO MONTEIRO FERNANDES DE CASTRO GESTÃO DE SALA DE AULA II Biologia 1ª Edição Taubaté Universidade de Taubaté 2014 Copyright©2014.Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan Pró-reitor de Administração Prof.Dr.Francisco José Grandinetti Pró-reitor de Economia e Finanças Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva Pró-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lúcia Perondi Fortes Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof.Dr. José Felício GoussainMurade Pró-reitora de Graduação Profa.Dra.Ana Júlia Urias dos Santos Araújo Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico Diagramação Autor Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Me.Benedito Fulvio Manfredini Bruna Paula de Oliveira Silva Thais Sabatino Monteiro Fernandes de Castro Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12)3625-4280 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU C355g Castro, Thaís Sabatino Monteiro Fernandes de Gestão de sala de aula II / Thaís Sabatino Monteiro Fernandes de Castro. Taubaté: UNITAU, 2012. 70p. : il. ISBN: 978-85-65687-59-1 Bibliografia 1. Ensino de Ciências. 2. Ensino de Biologia. 3. Educação básica. 4. Desenvolvimento de projetos. 5. Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. I. Universidade de Taubaté. II. Título. v PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, às orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor vi vii Apresentação O objetivo deste livro-texto é subsidiar e preparar os alunos para o planejamento e a programação de curso de Ciências possibilitando-lhes a vivência e a reflexão da prática docente. Outros objetivos que podem ser destacados são levar os alunos a conhecer as diferentes propostas pedagógicas e curriculares para o desenvolvimento do ensino de Ciências; selecionar, investigar e aprofundar temas de Biologia; caracterizar o conhecimento científico e identificar as áreas das Ciências Naturais – Biologia, Física e Geologia e seus diferentes objetos de estudo – sua natureza e estrutura. Por fim, é nossa intenção contribuir para o desenvolvimento profissional, no sentido de que a prática em sala de aula permita um trabalho eficiente, contextualizado e dinâmico. viii ix Sobre o autor THAIS SABATINO MONTEIRO FERNANDES DE CASTRO é graduada em Biologia, pela Universidade de Taubaté. Pós-graduanda em Biologia Marinha pela Universidade de Taubaté. Atuou junto ao Projeto Tamar nas bases de Ubatuba (SP) e Abaís (SE) desenvolvendo trabalho de manejo, reabilitação e conservação de Tartarugas Marinhas, além de Educação Ambiental junto à comunidade local. Foi tutora em educação a distância em projeto desenvolvido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em parceria com o Centro Paula Souza. Atualmente leciona no ensino de Educação a Distância, da Universidade de Taubaté, e no ensino Médio, em escolas públicas e privadas. x xi Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, por mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todoscomplementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU xii xiii Sumário Palavra do Reitor ............................................................................................................... v Apresentação .................................................................................................................. vii Sobre o autor .....................................................................................................................ix Caros(as) alunos(as) .........................................................................................................xi Objetivos ............................................................................................................................ 2 Introdução .......................................................................................................................... 5 Unidade 1. O Ensino de Ciências no Brasil ................................................................... 7 1.1 Pressupostos teóricos do ensino de Ciências ............................................................... 7 1.2 Ciência Tecnologia e Sociedade ................................................................................ 12 1.2.1 Tecnologia .............................................................................................................. 13 1.3 Sobre o Método Científico ........................................................................................ 18 1.3.1 O Método Científico no ensino de Ciências ........................................................... 20 1.4 Para saber mais .......................................................................................................... 24 Unidade 2. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais ............................................. 27 2.1 Objetivos .................................................................................................................... 27 2.2 Natureza e função dos Parâmetros Curriculares Nacionais ....................................... 28 2.3 PCN e Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental ......................................... 29 2.3.1 Objetivos ................................................................................................................. 29 2.3.2 Estrutura ................................................................................................................. 30 2.3.3 Estrutura dos Parâmetros Curriculares na Nacionais para o Ensino Fundamental. 32 2.4 PCN – Ensino Médio ................................................................................................. 33 2.4.1 Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias .......................................... 33 2.4.2 A interdisciplinaridade ........................................................................................... 35 xiv 2.4.3 Transposição Didática ............................................................................................ 37 2.4.4 Contextualização .................................................................................................... 38 Unidade 3. O Ensino de Biologia .................................................................................. 39 3.1 Organização e tratado escolar .................................................................................... 53 3.2 Estratégias de ensino-aprendizagem .......................................................................... 53 3.2.1 Experimentação ...................................................................................................... 54 3.2.2 Estudos do meio ..................................................................................................... 54 3.2.3 Seminários .............................................................................................................. 54 3.2.4 Debates ................................................................................................................... 54 3.2.5 Jogos ....................................................................................................................... 54 3.2.6 Desenvolvimento de projetos ................................................................................. 55 3.3 Para saber mais .......................................................................................................... 55 Unidade 4. Trabalhando com Projeto ......................................................................... 57 Atividades. ......................................................................................................................67 Referências......................................................................................................................69 11 ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. Gestão de Sala de aula II EMENTA A evolução histórica do ensino de Biologia no Brasil e os grandes projetos curriculares. As relações C&T e o ensino de Biologia. Tendências no ensino de biologia. Transposição didática. Concepções epistemológicas no ensino de Biologia. Experimentação no ensino de Biologia. Análise de materiais e recursos didáticos. Novas tecnologias no ensino de Biologia. 22 Objetivo Geral Subsidiar e preparar o aluno-mestre para o planejamento e a programação de curso de ciências e propiciar-lhes a vivência e a reflexão da prática docente; ser um elemento ativo no seu próprio processo de ensino-aprendizagem por meio do exercício dos seus processos de pensamento, estimulando-o e garantindo a articulação entre conhecimento teórico e prática profissional no estudo dos fundamentos e das metodologias do ensino de Ciências, para a Educação Básica. os Obj eti vos Objetivos Específicos Conhecer as diferentes propostas de ensino de Biologia, analisando os currículos, textos didáticos e materiais de ensino de ciências; Conhecer as condições em que se realiza o ensino de Biologia e as práticas pedagógicas na área de ciências exatas e naturais na Educação Básica; Caracterizar o conhecimento científico, diferenciando-o de outras formas do conhecimento e identificar as áreas das Ciências Naturais – Biologia, Química, Física e Geologia – e seus diferentes objetos de estudo, sua natureza e estrutura; Conhecer o(s) método(s) científico(s) e os métodos de ensino de Biologia; 33 Selecionar, investigar e aprofundar temas de Biologia que possuam relevância científica e social; conhecer as concepções prévias dos alunos sobre esses temas, para elaborar um "Projeto de Ensino"; Discutir as implicações das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Biologia; Conhecer as etapas do processo de ensino e aprendizagem em Biologia, para definir objetivos, conteúdos, métodos de ensino e avaliação adequadosàs condições da realidade escolar e dos alunos; Elaborar o "Projeto de Ensino" sobre o tema de Biologia escolhido; Conhecer e experimentar diferentes recursos e materiais didáticos: textos, materiais áudios-visuais, materiais de laboratório, multimídia, informática, etc., para aplicação na escola; organizar aulas e atividades de ensino, pesquisar e produzir materiais de ensino e pedagógicos, visando à aplicação do "Projeto de Ensino" na escola; Aplicar o "Projeto de Ensino" na escola e vivenciar a prática docente em suas várias etapas do processo de ensino e aprendizagem: do planejamento às aulas. 44 55 Introdução As páginas que se seguem, pretendem proporcionar momentos de reflexão sobre a organização do trabalho pedagógico no ensino de Ciências e Biologia para a Educação Básica. Na Unidade 1, serão discutidas questões relativas ao desenvolvimento das Ciências, fundamentos pedagógicos e metodológicos, além da importância da CT&C no currículo de ciências, e suas relações com o desenvolvimento e aplicação dos Métodos Científicos. Na Unidade 2, serão abordados aspectos relacionados ao currículo desenvolvido na Educação Básica a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN Ensino Fundamental. Serão discutidas também estratégias de ensino presentes na prática pedagógica. Na Unidade 3, trataremos do ensino de Biologia com ênfase na Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias com base nas Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN + Ensino Médio. Na Unidade 4, serão trabalhados conceitos sobre Pedagogia de Projetos, metodologia e procedimentos para o desenvolvimento de um Projeto de Ensino Multidisciplinar na disciplina de Biologia. 66 77 Unidade 1 Unidade 1 . O Ensino de Ciências no Brasil Educar, portanto, é mais do que reproduzir conhecimentos. É incentivar o desejo de desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para transformar algo. (John Dewey) 1.1 Pressupostos teóricos do ensino de Ciências Conhecer a perspectiva histórica no ensino de ciências é de grande importância na formação de pesquisadores da área de ensino e também para a formação de professores, possibilitando a compreensão da natureza do conhecimento científico; o entendimento dos conceitos, teorias, desenvolvimento metodológico e a compreensão das relações com a tecnologia, cultura e sociedade. Nas últimas décadas, o ensino de Ciências tem passado por sucessivas reformulações, com papel importante nos currículos desenvolvidos ao longo do tempo. Anteriormente à década de 1960, as aulas de Ciências Naturais estavam presentes apenas nas duas últimas séries/anos do curso ginasial; nesse período, o ensino de ciências limitava-se a aulas teóricas de conteúdo informativo e utilização de livros didáticos sempre traduzidos de material europeu. Em oposição a esse modelo conteudista, iniciativas de inovação surgiram com o principal objetivo de socializar o conhecimento científico e tornar o ensino mais prático. Nesse processo histórico, emerge a contribuição de John Dewey (pensador americano – 1956), que defendia a ideia de trazer a atividade científica para o ensino de ciências, apresentando uma perspectiva investigativa na escola, a partir do Método Científico. Andrade (2011) afirma que a investigação para Dewey se constituía na execução do método cientifico em busca de uma sociedade mais democrática e do desenvolvimento 88 A definição de Dewey de ciência é: "por ciência (...) significamos aquele saber proveniente dos métodos de observação, reflexão e verificação deliberadamente adotados para assegurar conhecimentos certos e provados". John Dewey social. As ideias de Dewey se constituem em um modelo de desenvolvimento muito comum no século XX, em que os conhecimentos científicos proporcionariam o progresso e o desenvolvimento social - por isso ele propõe que a atividade científica fosse trabalhada na Educação Básica. Essa proposta se constituía na realização das etapas do método científico: definição do problema, elaboração de hipóteses, sugestão de verificação da hipótese, desenvolvimento e aplicação de testes experimentais e obtenção de resultados e conclusão. Pode-se afirmar que o desenvolvimento científico e tecnológico exerceu forte influência sobre o ensino de ciências. A partir de 1960, surgem a grande preocupação de garantir aos estudantes um ensino mais significativo e envolvente e a proposta sobre a “vivência do método científico”, tendo como principal objetivo o desenvolvimento do pensamento lógico e do espírito crítico. No Brasil, no início dos anos 60, o ensino de ciências passou a ser orientado por um programa oficial do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e somente com o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN n° 4024/61) se insere a obrigatoriedade do ensino de ciências em todas as séries ginasiais, com estruturação de projetos de ensino de ciências de 1ª a 8ª séries, e nas séries de ensino do 2º grau, principalmente nas áreas de Química, Biologia, Física e Geociências. As propostas educativas para o ensino de ciências sofreram grandes influências de projetos curriculares desenvolvidos nos Estados Unidos e na Inglaterra. Com a iniciativa de docentes da Universidade de São Paulo, por meio do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), alguns desses projetos foram desenvolvidos para as escolas brasileiras com produção de textos, material experimental e treinamento de professores. Por esse trabalho, importantes temas relacionados às descobertas científicas passaram a fazer parte do ensino de ciências. 99 Na medida em que a Ciência e a Tecnologia foram reconhecidas como essenciais no desenvolvimento econômico, cultural e social, o ensino das Ciências em todos os níveis foi também crescendo de importância, sendo objeto de inúmeros movimentos de transformação do ensino, podendo servir de ilustração para tentativas e efeitos de reformas educacionais. (KRASILCHIK, 2000, p. 85) O objetivo principal era levar os estudantes à aquisição de conhecimentos científicos atuais, ao desenvolvimento científico e tecnológico e aos processos de investigação científica. Nesse período, as mudanças curriculares promoveram a substituição de métodos expositivos de ensino por métodos ativos e sinalizavam a importância do uso do laboratório para uma formação científica de qualidade. Os currículos desenvolvidos tinham a finalidade de motivar e auxiliar na compreensão de fatos e conceitos científicos, facilitando a apropriação do desenvolvimento da ciência. De acordo com Krasilchik (1987), fundamentadas no pressuposto do aprender-fazendo, tais atividades deveriam ser desenvolvidas segundo uma racionalidade derivada da atividade científica e tinham a finalidade de contribuir com a formação de futuros cientistas. Os Centros de Ciências nos Estados da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, criados pelo MEC em 1965, tiveram grande importância na divulgação da ciência e contribuiram de forma significativa para a melhoria do ensino de ciências oferecido nas escolas. Com a criação da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (FUNBEC), em 1967, na Universidade de São Paulo, foram produzidos guias didáticos e de laboratório, além de kits para a realização de experimentoscom materiais de baixo custo. Além disso, os professores receberam treinamento para as atividades promovidas por esta instituição, para levar os estudantes a descobrir a ciência e a desenvolver do pensamento científico. Porém, mesmo com todas essas possibilidades, na década de 1960 o ensino de ciências se restringiu essencialmente a um currículo que enfatizava conhecimentos sobre os 1100 produtos da atividade científica, e à aquisição de uma visão neutra e objetiva da ciência, não havendo menção às tecnologias produzidas com base em conhecimentos científicos. Na década de 1970, atendendo ás necessidades sociais e econômicas, o projeto nacional enfatizava a modernização e o desenvolvimento do país num curto período de tempo. O ensino de ciências passou a ser considerado um importante componente na preparação de trabalhadores qualificados, conforme estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN n° 5692/71). No entanto, ao mesmo tempo em que a legislação valorizava as disciplinas científicas, na prática elas foram bastante prejudicadas pela criação de disciplinas que pretendiam possibilitar aos estudantes o ingresso no mundo do trabalho. Prejudicou-se a formação básica sem que houvesse benefício para a profissionalização (KRASILCHIK, 1998). Nesse período, as propostas de ensino na Educação Brasileira estavam fundamentadas na teoria comportamentalista (Behaviorismo), que valorizava a influência do comportamento: “o aluno é considerado como um recipiente de informações e reflexões”( MIZUKZMI,1986, p.20). Caracterizando-se dessa forma o ensino de ciências em uma concepção empirista, esperava-se que, vivenciando e memorizando os diferentes passos de uma pesquisa científica, os estudantes fossem capazes de realizar suas próprias investigações. O professor tinha a função de controle no processo de ensino e aprendizagem, preocupando-se tão somente com aspectos mensuráveis e observáveis do comportamento, com grande ênfase na aplicação de questionários, memorização e arguições orais. No final dos anos 1970, a nação encontra-se diante de uma crise econômica e movimentos populares exigindo a redemocratização do país. Frente à necessidade de enfrentamento na “guerra tecnológica” iniciada pelas grandes potências econômica, surge a necessidade de reformulação no sistema educacional com 1111 Cognitivismo Sistema pelo qual o sujeito adquire conhecimento por meio das experiências vividas em sociedade ou dos processos de transmissão em instituições voltadas para o ensino. Principais estudiosos: J.Piaget, Lev Vygotsky e H. Wallon. foco no desenvolvimento de habilidades científicas que preparasse os alunos para o enfrentamento dos desafios impostos pelo desenvolvimento. Nesse período, as propostas de melhoria do ensino de ciências apareciam com títulos impactantes como, por exemplo, “Educação em Ciência para a Cidadania” e “Tecnologia e Sociedade”, tendo em vista contribuir com o desenvolvimento do país (KRASILCHIK, 1998). No início dos anos 80, as ideias de Jean Piaget e Vygotsky sobre desenvolvimento humano e intelectual passam a ter papel central no processo ensino-aprendizagem. Centrada em uma perspectiva cognitivista, o ensino de ciências possibilita aos estudantes uma interpretação crítica do mundo, a partir do desenvolvimento de uma maneira científica de pensar e de agir sobre distintas situações e realidades. As propostas educativas enfatizavam a necessidade de levar os estudantes a desenvolverem o pensamento reflexivo e crítico; a questionarem as relações existentes entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o meio ambiente e a se apropriarem de conhecimentos relevantes científicos, social e culturalmente (DELIZOICOV e ANGOTTI, 1990). O processo de aprendizagem tinha como objetivo fundamental desenvolver níveis de conhecimentos e de desenvolvimento de habilidades cognitivas e sociais, através de tarefas cada vez mais complexas e apoio didático adequado. Com o auxílio do professor e a partir das hipóteses e conhecimentos anteriores, os estudantes poderiam construir conhecimentos sobre os fenômenos naturais e relacioná- los com suas próprias maneiras de interpretar o mundo (CARVALHO e GIL PÉREZ, 1992). 1122 Figura 1.1 - Evolução do ensino de Ciências Fonte: Krasilchik, 1987, p. 22 1.2 Ciência Tecnologia e Sociedade Não se conhece completamente uma ciência enquanto não se souber da sua história. (A. Comte) Ao estudar o ensino de ciência no Brasil (Unidade 1), constatamos que a partir do final da década de 60 surge a preocupação no desenvolvimento de currículos que tenham como objetivo central preparar o aluno para o exercício da cidadania, por meio de abordagens e conteúdos científicos em contexto social. Diante do panorama mundial é necessário que a sociedade tenha direito às informações sobre o desenvolvimento científico-tecnológico, para que possa avaliar e participar das decisões que venham a atingir o meio onde vive. A escola tem papel fundamental nesse processo de conscientização e cidadania. O agravamento dos problemas ambientais pós-guerra, a tomada de consciência de muitos intelectuais com relação às questões éticas, a qualidade de vida da sociedade 1133 Figura 1.2 - Concepção de tecnologia Fonte: Pacey, 1990, p. 19 industrializada, a necessidade da participação popular nas decisões públicas, estas cada vez mais sob o controle de uma elite que detém o conhecimento científico e, sobretudo, o medo e a frustração decorrentes dos excessos tecnológicos, propiciaram as condições para o surgimento de propostas de ensino CTS (WAKS, 1990). O surgimento da CTS tem sido base para construção de currículos em vários países, em especial os de ciências, dando prioridade a uma área de estudo em ciência e tecnologia a partir do contexto social. Ao discutir os avanços da ciência e tecnologia, suas causas, e consequência, entendemos a ciência como fruto da criação humana. As relações existentes entre ciência, tecnologia e sociedade – no ensino de 1º e 2º graus – são identificadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como Educação Tecnológica. 1.2.1 Tecnologia A tecnologia consiste em um conjunto de atividades humanas, associadas a sistemas de símbolos, instrumentos e máquinas, visando à construção de obras e à fabricação de produtos por meio de conhecimento sistematizado (VARGAS, 1994). 1144 1. Aspecto técnico: conhecimentos, habilidades e técnicas; instrumentos, ferramentas e máquinas; recursos humanos e materiais; matérias primas, produtos obtidos e resíduos; 2. Aspecto organizacional: atividade econômica e industrial; atividade profissional dos engenheiros, técnicos e operários da produção; usuários e consumidores; sindicatos; 3. Aspecto cultural: objetivos, sistema de valores e códigos éticos, crenças sobre o progresso, consciência e criatividade. As relações existentes entre Ciência Tecnologia e Sociedade podem ser demonstradas por meio do modelo tradicional linear de progresso: Onde: Desenvolvimento científico (DC) gera Desenvolvimento tecnológico (DT), que gera Desenvolvimento econômico (DE) que determina o Desenvolvimento social (DS – bem estar social). No desenvolvimento do currículo de Ciências e de Biologia essas grandes áreas de conhecimento estão estreitamente ligadas aos eixos temáticos de Ciências Naturais e aos temas transversais – Meio Ambiente, Saúde, Ética, Pluralidade Cultural e Trabalho e Consumo. Em Tecnologia e Sociedade,a dimensão dos procedimentos comporta todos os modos de reunir, organizar, discutir e comunicar informações como nos demais eixos. São exemplos de interesse da Física a construção de modelos e experimentos em eletroeletrônica, magnetismo, acústica, óptica e mecânica (circuitos elétricos, campainhas, máquinas fotográficas, motores, chuveiros, torneiras, rádios a pilha etc.). São exemplos de interesse da Química a experimentação e interpretação de interações entre substâncias, as possíveis transformações e as condições para que elas aconteçam, 1155 como a temperatura, o estado físico, a ação de catalisadores etc. No caso da Biologia, a organização de informações sobre as vantagens de certas linhagens híbridas ou selecionadas na agricultura e na pecuária, sobre o manejo de florestas e de populações naturais ou experimentos e simulações sobre tratamento de resíduos urbanos etc. (BRASIL, 1999) Ao desenvolver o currículo, o professor é o principal articulador na mobilização dos saberes; o aluno estabelece conexões entre o conhecimento adquirido e o pretendido com o objetivo de resolver situações-problema, em consonância com suas condições intelectuais, emocionais e contextuais. Segundo Basso (2007), o ensino-aprendizagem passará a ser entendido como a possibilidade de despertar no aluno a curiosidade, o espírito investigador, questionador e transformador da realidade. Emerge daí a necessidade de buscar elementos para a resolução de problemas que fazem parte do cotidiano do aluno, ampliando-se esse conhecimento para utilizá-lo nas soluções dos problemas coletivos de sua comunidade e sociedade. Dessa forma, aluno e professor reconstroem a estrutura do conhecimento. Em nível de prática pedagógica, isso significa romper com a concepção tradicional que predomina na escola e promover uma nova forma de entender a produção do saber, desmitificando o espírito da neutralidade da ciência e da tecnologia e encarando a responsabilidade política destas. Isso supera a mera repetição do ensino das leis que regem o fenômeno e possibilita refletir sobre o uso político e social que se faz desse saber. Nessa perspectiva, os currículos de CTS apresentam um caráter multidisciplinar. Os conceitos são sempre abordados em uma perspectiva relacional, de maneira a evidenciar as diferentes dimensões do conhecimento estudado, sobretudo as interações entre ciência, tecnologia e sociedade. Nesses currículos, procura-se evidenciar como os contextos social, cultural e ambiental, nos quais se situam a ciência e a tecnologia, influenciam a condução e o conteúdo destas; como ciência e tecnologia, por sua vez, influenciam aqueles contextos e, finalmente, como ciência e tecnologia têm efeitos 1166 recíprocos e suas inter-relações variam de época para época e de lugar para lugar (RAMSEY, 1993). Exemplos dessas interações são citados por Mckavanagh e Maher (1982) no quadro Aspectos de abordagem da CTS. Quadro 1.1 – Aspectos de abordagem da CTS. Aspectos da CTS Esclarecimentos 1. Efeito da Ciência sobre a Tecnologia A produção de novos conhecimentos tem estimulado mudanças tecnológicas 2. Efeito da Tecnologia sobre a Sociedade A tecnologia disponível a um grupo humano influencia sobremaneira o estilo de vida desse grupo 3. Efeito da Sociedade sobre a Ciência Por meio de investimentos e outras pressões, a sociedade influencia a direção da pesquisa científica 4. Efeito da Ciência sobre a Sociedade Os desenvolvimentos de teorias científicas podem influenciar a maneira como as pessoas pensam sobre si próprias e sobre problemas e soluções 5. Efeito da Sociedade sobre a Tecnologia Pressões públicas e privadas podem influenciar a direção em que os problemas são resolvidos e, em consequência, promover mudanças tecnológicas 6. Efeito da Tecnologia sobre a Ciência A disponibilidade dos recursos tecnológicos limitará ou ampliará os progressos científicos Fonte: Mckavanagh e Maher, 1982, p. 72 Nesse sentido, aparece explícito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que a sociedade moderna exigirá do cidadão muito mais do que saber ler, escrever e contar. Assim, propõe-se que para o aluno acompanhar os níveis de desenvolvimento da sociedade, em seus vários setores, precisará ter conhecimentos relacionados à estética da sensibilidade, que valoriza o lado criativo e favorece o trabalho autônomo; à política da igualdade, que busca solidariedade e respeita a diversidade, como base para a cidadania; e à ética da identidade, que promove a autonomia do educando, da escola e das propostas pedagógicas. A educação deverá contribuir para a autoformação do aluno, estimulando-o a assumir a condição humana, incentivando-o a viver de forma a se tornar um cidadão, o que, numa democracia, será definido por sua solidariedade e responsabilidade (BASSO, 2007). 1177 Ao discutir sobre estratégias de ensino aplicadas ao currículo de CTS, Rosenthal (1989) apresenta aspectos relativos às ciências que poderiam ser abordados nos currículos; são eles de natureza: 1. Filosófica – que incluiria, entre outros, os aspectos éticos do trabalho científico, o impacto das descobertas científicas sobre a sociedade e a responsabilidade social dos cientistas no exercício de suas atividades; 2. Sociológica – que incluiria a discussão sobre as influências da ciência e da tecnologia sobre a sociedade e dessa última sobre o progresso científico e tecnológico; e as limitações e possibilidades de se usar a ciência e a tecnologia para resolver problemas sociais; 3. Histórica – que incluiria as discussões acerca da influência da atividade científica e tecnológica na história da humanidade, bem como os efeitos de eventos históricos no crescimento da ciência e da tecnologia; 4. Política – que passa pelas interações entre a ciência e a tecnologia e os sistemas público, de governo e legal; a tomada de decisão sobre ciência e tecnologia; o uso político da ciência e tecnologia; ciência, tecnologia, defesa nacional e políticas globais; 5. Econômica – com foco nas interações entre condições econômicas e a ciência e a tecnologia, contribuições dessas atividades para o desenvolvimento econômico e industrial, tecnologia e indústria, consumismo, emprego em ciência e tecnologia. 6. Humanística – aspectos estéticos, criativos e culturais da atividade científica; efeitos do desenvolvimento científico sobre a literatura e as artes e a influência da humanidade na ciência e tecnologia. Nas discussões desses temas, seria importante que fosse evidenciado o poder de influência que os alunos podem ter como cidadãos, bem como as questões éticas e os valores humanos relacionados à ciência e à tecnologia. 1188 Dessa maneira, os alunos poderiam ser estimulados a participar democraticamente da sociedade por meio da expressão de suas opiniões. Isso poderia ser feito, por exemplo, levando-se os alunos a perceberem o potencial de atuar em grupos sociais organizados, como centros comunitários, escolas, sindicatos, etc. Pode-se mostrar o poder do consumidor em influenciar o mercado, selecionando o que consumir. Além disso, as discussões das questões sociais englobariam os aspectos políticos, os interesses econômicos, os efeitos da mídia no consumo, etc. Questões dessa natureza propiciarão ao aluno uma compreensão melhor dos mecanismos de poder dentro das diversas instâncias sociais (LÓPEZ e CEREZO, 1996; SOLOMON, 1988; RAMSEY, 1993; SOLOMON, 1993b; WAKS, 1990). Torna-se necessária a formação de educadores com essa nova visão da educação pautada em questões CTS, no sentido de contextualizaro conhecimento e aproximá-lo dos alunos, colocando-os diante da realidade social em que vive, sendo capaz de compreender, analisar e propor transformações. 1.3 Sobre o Método Científico A ciência é muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos. (Carl Sagan) O Homem sempre esteve a procura de respostas sobre o mundo, os objetos e principalmente sobre os fenômenos naturais e o ambiente em que estava inserido. Essa necessidade de conhecimento visava sempre ao controle dos fenômenos naturais e à sobrevivência biológica. Método vem do grego méthodos (caminho para chegar a um fim); caracteriza-se por um conjunto de regras básicas para desenvolver uma experiência a fim de produzir novo conhecimento e consiste em juntar evidências observáveis, empíricas (ou seja, baseadas apenas na experiência) e mensuráveis (que podem ser medidas, controladas, repetidas) e analisá-las com o uso da lógica. 1199 Evidencia-se uso do método científico em várias disciplinas na construção de conhecimento, principalmente nas disciplinas de ciências, biologia, física, química e matemática. Os métodos podem ser classificados em dois grupos: dedutivos e indutivos. Método dedutivo: parte do geral, para o particular. Sai de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal, em virtude de apenas uma lógica. É o método proposto pelos racionalistas, segundo os quais a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro, que decorre de princípios a priori evidentes e irrecusáveis. Uma fez levantada a hipótese, os cientistas fazem uma dedução e preveem o que poderia acontecer se sua hipótese for verdadeira. Essa dedução é testada mediante novas observações ou experimentações. Isso permite tirar conclusões a respeito das deduções. Se confirmadas, elas são aceitas. Se não confirmadas, são rejeitas e novas deduções são formuladas para serem testadas. O método dedutivo é muito importante para disciplinas como matemática, física e química, pois possibilita na teoria a realização de experiências impossíveis na prática. Método indutivo: procede inversamente ao dedutivo, parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior ao trabalho de coleta de dados particulares. De acordo com o pensamento indutivo, a generalização é constatada na observação de casos concretos suficientemente confirmadores dessa realidade. Constitui o método proposto pelos empiristas, para os quais o conhecimento é fundamental exclusivamente na experiência, sem levar em consideração os princípios estabelecidos. O método indutivo é realizado em três etapas: observação dos fenômenos; descoberta da relação entre eles e generalização da relação. As conclusões obtidas por meio da indução correspondem a uma verdade não obtida nas premissas consideradas. A hipótese é baseada em observações para atingir o conhecimento científico (CHIBENI, 2006). 2200 Figura 1.3 - Raciocínios indutivo e dedutivo Fonte: Chibeni, 2006 Os dois métodos têm finalidades diversas. O que irá definir o tipo de método que deverá ser usado é o objeto que será investigado e as proposições que serão descobertas. 1.3.1 O Método Científico no ensino de Ciências A utilização do Método Científico sempre esteve presente no ensino de Ciências. A partir dos anos 60, com a necessidade de se desenvolver novas orientações curriculares que se propunham a centralizar o ensino nos processos de pesquisa, os materiais didáticos davam grande importância à experimentação, à formação de minicientistas, tendo como base o estudo e a aplicação do método científico. Este modelo de ensino criou nas escolas o “mito do método científico” como o único capaz de contribuir efetivamente para a construção do conhecimento. Os professores, especialmente os que atuavam no ensino de Ciências, baseavam-se no pressuposto de que tal método conduzia ao conhecimento verdadeiro. E, assim, eles seguiam suas 2211 etapas de forma mecânica e linear, pois o consideravam invariável, perene e universal, sempre considerando a relação dos fatos para as idéias. Isso contribuiu para fazer prevalecer uma visão empirista/indutivista no trabalho escolar. Este ideário faz parte de um senso comum disseminado que sustenta a concepção de imitações ingênuas da investigação científica na prática pedagógica, ou seja, a de que seguindo o “método científico” se obtêm resultados análogos aos dos cientistas (SANTOS & PRAIA, 1992). Nesse contexto, a Ciência passa por uma evolução epistemológica, ou seja, de um ensino em que predominavam os interesses “técnicos” para um ensino que pretendia promover a relação entre o aluno e o conhecimento. Teóricos defendiam que ensinar/aprender ciências requer mais do que desafios de idéias; na verdade, requer o desenvolvimento de uma forma diferente de pensar, envolvendo tanto processos pessoais como sociais e a representação de “significados” a conceitos científicos. Ao analisar a utilização do método científico nos currículos escolares Silva (1998) enfatizou que o método científico, ao ser questionado, passa a ser denunciado: em seu viés de atividade isolada, padronizada; em seu caráter instrumental-tecnicista; em seu caráter de exclusão; em sua pretensa neutralidade político-ideológico; em sua importância na elaboração de conceitos; em sua influência na organização das aprendizagens concebidas como ato de repetição e certezas, bem como na influência exercida na construção de programas de ensino prescritivos, técnicos e mecanizados. Para o autor, contestação ao método ficou evidente e o clima estabelecido poderia ser caracterizado como uma atmosfera "antimétodo", ou seja, uma reação que encaminhou para a perda de sentido de seu uso no campo da ciência escolar. O método passou a ser visto como alienante, conservador e veiculador de uma visão acrítica, descontextualizada da ciência vivida na escola. A partir dessa reflexão sobre o método científico, questiona-se: deixá-lo de lado? Ou substituí-lo por outro método? 2222 Figura 1.4 - Visão tradicional do método científico Fonte: Silva, 1998 Ao responder essas questões, Silva (1998) afirma que as etapas do método científico não necessitam ser estáticas, mas sim dinâmicas e abertas; nisso reside a possibilidade de o aluno participar ativamente, refletir e propor soluções na construção de seu conhecimento. Partindo dessa idéia, o autor propõe uma análise dos elementos constitutivos do método cientifico, pela ação mediadora na construção do conhecimento, na qual, segundo o autor: a) O ponto de partida não é “um” problema, mas parte-se “do” problema que necessita ser percebido para que o sujeito assuma e tome conta do meio real. Nesse caso, o contexto socioeconômico e cultural vai determinar a forma como será vista a situação problemática e as discussões sobre essa questão girarão em torno da construção do problema a ser resolvido. São discussões que envolvem perspectivas conflitantes, pois as pessoas prestam atenção a fatos diferentes e têm compreensões diferentes dos fatos que observam. b) A observação dita científica, entendida como observação isenta, não existe só se for fora do sujeito, da pessoa. É importante, atentar para o fato de que é preciso ensinar nossos alunos a observar, a ter um foco; é preciso prepará- los à luz de aspectos teórico-metodológicos, pois observar não é algo que se faz genuinamente, cada um tem uma forma de observar, há influências ideológicas atuando sobre as formascomo se observa. c) O aluno vivencia, “vê” o fenômeno com ideias e sentidos, utilizando a sua iniciativa, originalidade, inquietações e curiosidades para especular. Não esquecendo que tudo ocorre inserido em um contexto histórico e social a 2233 partir do qual ele constrói o próprio conhecimento. Desse modo, as especulações permitem que não se aceite uma explicação dita científica e que se considerem as várias explicações acessíveis; o aluno tem chance de se assumir como sujeito, avaliando, julgando e posicionando-se frente aos problemas possíveis. d) A interpretação do que se observa encaminha para proposições de explicações em torno do fenômeno. Nesta etapa, a criatividade, a inventividade e a intuição são elementos que poderão contribuir na definição das teses propostas, o que raramente acontece, pois, na maioria das vezes, são propostas construídas de modo racional. As explicações provisórias constituídas podem passar a ser controladas por meio da experimentação. Nesse processo, que pode ser um ir e vir na tentativa de corroborar as hipóteses levantadas, se necessário for, podem-se refazer os experimentos, variar as condições, as formas. Isso permite a formulação de leis, ou seja, a generalização ou uma nova predição do conhecimento, pois, mesmo na experimentação, o erro deve ser entendido na perspectiva de compreender porque este resultado não é igual ao outro. Dentro dos princípios da relatividade não existe uma verdade única; existem verdades, a minha verdade, a sua verdade, a verdade do outro. E esta verdade não pode ser imposta como única para todos, porque o pensamento é relativo – depende da minha história, da minha experiência de vida, das dificuldades que tenho e/ou tive, dos meus sonhos e desejos, dos meus compromissos políticos e sociais. O método científico já não é entendido como um método universal, linear, sequencial, uniforme, mas como um caminho para ideias cada vez mais racional, mais repensada, abstrata e geral. É um método que não pensa o sujeito como espectador passivo da natureza. Incentiva-o a observar a natureza, a responder questões e a não se deixar levar por ela, evita as certezas absolutas (SANTOS & PRAIA, 1992) Ao refletir o método científico como um processo dinâmico, considerando o aluno construtor de seu conhecimento, constatamos a possibilidade de um pluralismo metodológico, em que se permite o avanço para inúmeros níveis de conhecimento e uma nova perspectiva de reorganizar a ciência. 2244 Figura 1.5 – Proposições de explicação de um fenômeno Fonte: Santos e Praia, 1992 1.4 Para saber mais Filmes 1. Sobre método científico e sua história, assista ao filme sobre a vida de Galileu Galilei, gênio que empreendeu uma verdadeira revolução no pensamento científico, desenvolvendo as bases do que ficou conhecido como método experimental. 2. Sobre o pensamento sistêmico, o filme Ponto de Mutação, baseado em livro do físico Fritjof Capra, propõe uma discussão acerca do método científico em uma perspectiva que enxerga as relações do todo e não somente das partes. 2255 3. As aplicações do método científico e seus procedimentos também podem ser analisados a partir dos filmes Fim dos Tempos e Óleo de Lorenzo. Este último, dirigido por um médico, trata de um empreendimento de descoberta científica levado adiante pelos pais do menino Lorenzo, portador de leucodistrofia. 4. Sobre a relação das vontades do homem e as descobertas da ciência desde o surgimento da espécie, assista ao filme Luz, trevas e o método científico. Sites Caso queira saber mais sobre os temas desta unidade, pesquise em artigos e outras produções científicas e culturais nos sites a seguir: www.cienciamao.usp.br www.ioc.fiocruz.br/abcnaciencia/ www.cienciahoje.uol.com.br 2266 2277 Unidade 2 Unidade 2 . PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida. (John Dewey) 2.1 Objetivos Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN - são referências de qualidade para os ensinos Fundamental e Médio do país, elaborados pelo Governo Federal. Têm como objetivo principal propiciar subsídios à elaboração e reelaboração do currículo, com uma proposta inovadora e abrangente, expressando o empenho em criar laços entre ensino e sociedade, garantindo a todas as crianças e jovens brasileiros o direito de usufruir do conjunto de conhecimentos reconhecidos como necessários para o exercício de cidadania. Traz em seu contexto três condições fundamentais do processo de ensino- aprendizagem: O que ensinar; Como ensinar; Para que ensinar. 2288 2.2 Natureza e função dos Parâmetros Curriculares Nacionais Quanto à sua natureza e função podemos afirmar que os PCN constituem-se como um suporte ao desenvolvimento do currículo uma vez que se caracterizam por ser um documento aberto e flexível, referencial para o desenvolvimento do currículo em todo território nacional, com ênfase nos seguintes aspectos: A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais reconhece a importância da participação construtiva do aluno e da intervenção do professor para a aprendizagem de conteúdos específicos que favoreçam o desenvolvimento das capacidades necessárias à formação do indivíduo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam como eixo o desenvolvimento de capacidades do aluno, processo em que os conteúdos curriculares atuam não como fins em si mesmos, mas como meios para a aquisição e desenvolvimento dessas capacidades. Nesse sentido, o que se tem em vista é o aluno como sujeito de sua própria formação, em um complexo processo interativo em que também o professor se veja como sujeito de conhecimento. A importância atribuída aos conteúdos revela o compromisso da instituição escolar em garantir o acesso aos saberes elaborados socialmente. Os conteúdos são instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício da cidadania democrática. Os conteúdos escolares que são ensinados devem estar em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico. Em seu contexto, concebe a educação escolar como uma prática que desenvolve capacidades e aprendizagem dos conteúdos necessários para a compreensão da realidade e participação em relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas, condições estas fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade democrática e não excludente. Estar formado para a vida significa mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos. Significa: saber se informar, comunicar-se, argumentar, compreender e agir; enfrentar problemas de diferentes naturezas; participar socialmente, de forma prática e solidária; ser capaz de elaborar críticas ou propostas; e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado. (PCN e Ciências da Natureza, p. 9) 2299 2.3 PCN e Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental 2.3.1 Objetivos De acordo com os PCN (1999), são objetivos para o Ensino Fundamental: Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia a dia atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro eexigindo para si o mesmo respeito; Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva, nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país; Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando- se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente; Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania; Conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva; Utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; 3300 ÁREAS – LÍNGUA PORTUGUESA – MATEMÁTICA – CIÊNCIAS NATURAIS - HISTÓRIA – GEOGRAFIA – ARTES – EDUCAÇÃO FÍSICA – LÍNGUA ESTRANGEIRA ÁREA DE CIÊNCIAS NATURAIS – COMPOSTA POR CONHECIMENTOS DE FÍSICA – QUÍMICA - BIOLOGIA AMBIENTE – SER HUMANO - RECURSOS TECNOLÓGICOS Desenvolvidos em todos os 4 primeiros ciclos ( até 5º ano) TERRA E UNIVERSO Desenvolvido apenas nos 2 últimos ciclos ( 6º ao 9º ano) Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; Questionar a realidade formulando problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. 2.3.2 Estrutura Orientação curricular: o conhecimento é estruturado por áreas interligadas por meio de temas transversais. Para cada área de conhecimento são apresentados: Objetivos Conteúdos Avaliações Orientações didáticas Os Objetivos gerais e específicos de cada área estão organizados em 4 ciclos; cada ciclo corresponde a duas séries do Ensino Fundamental. Os conteúdos para cada área são organizados por eixos temáticos; na área de Ciências Naturais os eixos temáticos foram selecionados pela sua importância científica e tecnológica. 3311 ÉTICA – SAÚDE – MEIO AMBIENTE – ORIENTAÇÃO SEXUAL – PLURALIDADE CULTURAL – TRABALHO E CONSUMO. Os Temas transversais possuem caráter de interdisciplinar. São modos de se trabalhar o conhecimento buscando uma reintegração de aspectos que ficam isolados uns dos outros pelo tratamento disciplinar. A Transversalidade aparece como um princípio inovador nos sistemas de ensino de vários países, como avanço na ideia de integração curricular. [Os] temas transversais são um conjunto de conteúdos educativos e eixos condutores da atividade escolar que, não estando ligados a nenhuma matéria em particular, pode-se considerar que são comuns a todas, de forma que, mais do que criar disciplinas novas, acha-se conveniente que seu tratamento seja transversal num currículo global da escola (YUS, 1998, p. 17). Por meio da Ética, o aluno deverá entender o conceito de justiça baseado na equidade e sensibilizar-se pela necessidade de construção de uma sociedade justa; adotar atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças sociais, discutindo a moral vigente e tentando compreender os valores presentes na sociedade atual e em que medida eles devem ou podem ser mudados. O tema Meio-ambiente leva o aluno a compreender as noções básicas sobre o assunto, perceber relações que condicionam a vida para posicionar- se de forma crítica diante do mundo, dominar métodos de manejo e conservação ambiental. A Saúde é um direito de todos. Por esse tema o aluno compreenderá que a saúde ou a falta dela é resultado das relações com o meio físico e social; poderá identificar os fatores de risco aos indivíduos e compreender a necessidade de adotar hábitos de autocuidado. A Pluralidade cultural tratará da diversidade do patrimônio cultural brasileiro, reconhecendo a diversidade como um direito dos povos e dos indivíduos e repudiando toda forma de discriminação por raça, classe, crença religiosa e sexo. A orientação sexual, numa perspectiva social, deverá ensinar o aluno a respeitar a diversidade de comportamento relativo à sexualidade, desde que sejam garantidas a integridade e a dignidade do ser humano; conhecer seu corpo e expressar seus sentimentos, respeitando os seus afetos e do outro. 3322 Figura 2.1 – Estrutura dos PCN para o Ensino Fundamental Fonte: PCN, 1999 Educação & trabalho é um tema transversal que trata da organização do trabalho e do consumo no ambiente local, nacional e mundial, a fim de que compreenda a complexa rede de direitos e valores a eles vinculados e desenvolva atitude crítica perante: a exploração do trabalho infantil; os direitos do consumidor; a discriminação nas relações de trabalho; as conquistas de direitos civis, políticos e sociais; a não aceitação da pobreza como algo natural; o consumismo. 2.3.3 Estrutura dos Parâmetros Curriculares na Nacionais para o Ensino Fundamental 3333 Art. 35 “O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidade: I - a consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; III - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina”. 2.4 PCN – Ensino Médio A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional explicita que o Ensino Médio é a “etapa final da educação básica” (Art.36), o que concorre para a construção de sua identidade. O Ensino Médio passa a ter a característica da terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos a oportunidade de consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental; aprimorar o educando como pessoa humana; possibilitar o prosseguimento de estudos; garantir a preparação básica para o trabalho e a cidadania; dotar o educando dos instrumentos que o permitam “continuar aprendendo”, tendo em vista o desenvolvimento da compreensão dos “fundamentos científicos e tecnológicos dos processos produtivos” (Art.35, incisos I a IV) (PCN, 2000). Os PCN do Ensino Médio estão estruturados em 3 grandes áreas: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias. 2.4.1Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias A área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias está relacionada à apropriação do conhecimento de Física, Química e Biologia, no sentido de contribuir para compreensão do significado da Ciência na vida humana. Tem como objetivo o desenvolvimento de competências e habilidades levando o aluno a: compreender as ciências como construções humanas, entendendo como elas se desenvolvem por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas, relacionando o desenvolvimento científico com a transformação da sociedade; 3344 entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das Ciências Naturais; identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para produção, análise e interpretação de resultados de processos ou experimentos científicos e tecnológicos; apropriar-se dos conhecimentos da Física, da Química e da Biologia, e aplicar esses conhecimentos para explicar o funcionamento do mundo natural, planejar, executar e avaliar ações de intervenção na realidade natural; compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras e cálculo de probabilidades; identificar, analisar e aplicar conhecimentos sobre valores de variáveis, representados em gráficos, diagramas ou expressões algébricas, realizando previsão de tendências, extrapolações, interpolações, e interpretações; analisar qualitativamente dados quantitativos, representados gráfica ou algebricamente, relacionados a contextos socioeconômicos, científicos ou cotidianos; identificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para o aperfeiçoamento da leitura, da compreensão e da ação sobre a realidade; entender a relação entre o desenvolvimento das Ciências Naturais e o desenvolvimento tecnológico, e associar as diferentes tecnologias aos problemas que se propuseram e propõem solucionar; entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Naturais na sua vida pessoal, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social; aplicar as tecnologias associadas às Ciências Naturais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida; compreender conceitos, procedimentos e estratégias matemáticas, e aplicá-las a situações diversas no contexto das ciências, da tecnologia e das atividades cotidianas. Quanto ao aspecto metodológico, o estudo da área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias prevê a aplicação de conceitos fundamentais: Interdisciplinaridade, Contextualização e Transposição Didática. 3355 2.4.2 A interdisciplinaridade Segundo os PCN (2000), a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários. Trabalhar interdisciplinarmente é buscar a unidade independente do tema, vontando-se ao desenvolvimento de competências e habilidades. No mesmo documento encontramos exemplos ilustrativos para uma abordagem interdisciplinar envolvendo as diferentes disciplinas do currículo. Por exemplo: 1. Uma aula de Química, disciplina da área de Ciências da Natureza e Matemática, ao tratar da ocorrência natural e da distribuição geográfica de determinados minérios de importância econômica, assim como dos métodos de extração e purificação, poderá estar lidando com aspectos políticos, econômicos e ambientais aparentemente pertinentes a disciplinas da área de Ciências Humanas, ao mesmo tempo em que estará desenvolvendo o domínio de nomenclaturas e linguagens que poderiam ser atribuídas à área de Linguagens e Códigos, transcendendo assim a intenção formativa tradicionalmente associada ao ensino da Química. Nessa aula, a mineração tratada pode ser a do ferro, a partir de hematita ou de magnetita, voltada à produção de aço, quando se poderá discutir a oferta regional de carvão, lado a lado com o impacto ambiental da mineração e do processamento. Se a mineração tratada for a de bauxita e for discutido seu processamento, envolvendo métodos eletrolíticos para a produção do alumínio, poderão ser tratados aspectos energéticos, como a disponibilidade e o custo regional da energia elétrica, ou ambientais, como a disposição dos rejeitos industriais resultantes do processamento. É importante perceber que, no interior de uma única disciplina, como a Química, certo conteúdo pode ser desenvolvido com uma perspectiva intra-área, em seus aspectos energéticos e ambientais, ou com uma perspectiva interáreas, em seus aspectos históricos, geográficos, econômicos e políticos, ou mesmo culturais e de linguagens. 3366 2. A disciplina de História, pertencente à área de Ciências Humanas, ao estudar o desenvolvimento econômico e social na modernidade, pode apresentar um panorama amplo da história das ciências e das técnicas nos últimos quatrocentos ou quinhentos anos, revelando em que medida a concentração de riqueza, em determinadas nações e em certos períodos, determinou sua capacidade de investimento científico-cultural e, vice-versa, em que medida sua cultura científica constitui vantagem estratégica. Ao se estabelecer um paralelismo possível entre poder político ou econômico e desenvolvimento científico-tecnológico e cultural, desde a Renascença até a presente “era do conhecimento”, incluindo, portanto, as três revoluções industriais, estaria se descortinando, ao longo do tempo, o cenário global em que o complexo científico tecnológico se originou e evoluiu. Tanto no aprendizado de história quanto no de ciências é possível compreender como, em determinados períodos e circunstâncias, o conhecimento técnico-científico se mostrou mais determinante para o domínio militar, discutindo até mesmo aspectos éticos dos meios de destruição em massa, e como, em outros períodos, foi mais essencial para a hegemonia econômica. As máquinas térmicas, na revolução industrial inglesa, a tecnologia nuclear, na segunda guerra mundial e na “guerra fria”, os semicondutores e a informática, na terceira revolução industrial, são só alguns exemplos. Esse exercício histórico daria aos estudantes uma oportunidade de questionar e compreender melhor os processos sociais, econômicos e culturais passados e contemporâneos e, além disso, auxiliaria a construir uma visão das Ciências da Natureza associada a outras dimensões da vida humana (PCN EM, p. 18, 2000). Podemos constatar que são inúmeras as possibilidades de o professor propor um trabalho interdisciplinar, favorecendo dessa forma a ampliação do conhecimento, bem como da criticidade e criatividade nos alunos. Nesse contexto, a interdisciplinaridade pode ser vista como conhecer, compreender e explicar um mesmo fenômeno na perspectiva de diferentes disciplinas, tendo em comum o mesmo tema ou objeto de estudo. Ao estudar um mesmo tema ou objeto, o aluno ‘reconstrói’ o conhecimento. A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia 3377 uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários. Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridadenão tem a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se de recorrer a um saber útil e utilizável para responder às questões e aos problemas sociais contemporâneos (BRASIL, 2002, p. 88-89). 2.4.3 Transposição Didática A transposição didática também é vista como recurso metodológico na medida em que favorece um processo de aprendizagem mais abrangente, motivador e enriquecedor. É modificar o saber para que esse se transforme em ensino; algo em condições de ser aprendido pelo aluno. Mello (2002) apresenta algumas condições necessárias para que a transposição didática possa ocorrer: O conhecimento é dividido para facilitar a sua compreensão e depois o professor volta a estabelecer a relação entre aquilo que foi dividido; Distribuir o conteúdo no tempo, para organizar uma sequência, um ordenamento, uma série linear ou não de conceitos e relações; Determinar uma forma de organizar e apresentar os conteúdos ao aluno no mundo moderno, por meio de textos, gráficos, entre outros: Fazendo recortes, na área da especificidade de acordo com um julgamento sobre relevância, pertinência, significância para o desenvolvimento das competências escolhidas que vão garantir a inserção; Relacionando o conhecimento em questão com as outras áreas de estudo. Dominando estratégias de ensino eficazes para organizar situações de aprendizagem que efetivamente promovam no aluno as competências que se quer desenvolver; Sabendo como contextualizar o conhecimento. 3388 2.4.4 Contextualização A apropriação do conhecimento ocorre com a contextualização. Esta dará “significado aos conteúdos” e facilitará “o estabelecimento de ligações com outros campos de conhecimento” (PCN, p. 87). No que se refere à disciplina de Biologia, os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Médio (PCNEM) destacam a importância da contextualização quando afirmam que o ponto de partida para a construção do conhecimento é considerar a experiência do aluno, o contexto onde ele está inserido e onde ele vai atuar como um trabalhador cidadão ativo de sua comunidade. O tratamento contextualizado do conhecimento é o recurso que a escola tem para retirar o aluno da condição de espectador passivo. Se bem trabalhado, permite que, ao longo da transposição didática, o conteúdo do ensino provoque aprendizagens significativas que mobilizem o aluno e estabeleçam entre ele e o objeto do conhecimento uma relação de reciprocidade. A contextualização evoca por isso áreas, âmbitos ou dimensões presentes na vida pessoal, social e cultural, e mobiliza competências cognitivas já adquiridas (PCN, 1999). Portanto, contextualizar significa incorporar experiências concretas e diversificadas. Quanto mais próximos estiverem o conhecimento escolar e os contextos presentes na vida pessoal do aluno e no mundo no qual ele transita, mais o conhecimento terá significado (MELLO, 2000). 3399 Unidade 3 Unidade 3 . O Ensino de Biologia O ensino de Biologia busca respostas às indagações sobre a origem, a reprodução, a evolução da vida natural e da vida humana em toda sua diversidade de organização e interação. A Biologia promove avanços tecnológicos no sistema produtivo, na saúde pública, na medicina diagnóstica e preventiva, na manipulação gênica; alguns desses assuntos são controversos e permeados por inúmeras questões éticas. Dominar conhecimentos biológicos permite também compreender debates contemporâneos, tais como doenças endêmicas e epidêmicas, ameaças de alterações climáticas, entre tantos outros desequilíbrios sociais e ambientais ( SEE-SP – 2009). As Orientações Curriculares para o Ensino Médio apresentam as principais áreas de interesse para o ensino de Biologia, a partir de seis temas estruturadores: 1. Interação entre os seres vivos; 2. Qualidade de vida das populações humanas; 3. Identidade dos seres vivos; 4. Diversidade da vida; 5. Transmissão da vida, ética e manipulação gênica; 6. Origem e evolução da vida. Cada um dos temas está esquematizado em quatro unidades: Tema 1 – Interação entre os seres vivos Unidades temáticas Identificar, analisando um ambiente conhecido (um jardim, um parque, uma mata), as características de um ecossistema, descrevendo o conjunto vivo autossuficiente nele contido. 4400 1 - A interdependência da vida • Reconhecer que os seres vivos em um ecossistema, independentemente de ser um lago, uma floresta, um campo ou um simples jardim, mantêm entre si múltiplas relações de convivência indiferente ou de ajuda mútua com alguns e de conflito com outros, a ponto de prejudicá-los ou de se prejudicar. • Avaliar o significado das interações estabelecidas entre os indivíduos para o conjunto das espécies envolvidas e para o funcionamento do sistema. Fazer um levantamento de dados, pesquisando variados tipos de registros, referentes às condições ambientais – luminosidade, umidade, temperatura, chuvas, características do solo, da água – existentes em ecossistemas diferentes. Organizar os dados obtidos relacionados às condições ambientais, em tabelas e/ou gráficos e interpretá-los, visando a identificar a influência dessas condições na sobrevivência das espécies e na distribuição da vida na Terra. Identificar no globo terrestre as regiões de maior diversidade de seres vivos, associando essa concentração e variedade de vida com as condições de luz e umidade. Relacionar a estabilidade dos ecossistemas com a complexidade das interações estabelecidas entre os organismos das populações na natureza. Em um dado ecossistema (uma mata preservada, um terreno baldio, um trecho de praia, por exemplo), observar as condições do meio e os seres vivos aí existentes para: identificar as relações alimentares estabelecidas entre esses organismos, empregando terminologia científica adequada; representar essas relações alimentares, utilizando esquemas apropriados; interpretar as relações alimentares como uma forma de garantir a transferência de matéria e de energia do ecossistema; 4411 2 - Os movimentos dos materiais e da energia na natureza identificar a origem da energia existente em cada nível de organização desse ecossistema; traçar o circuito de determinados elementos químicos como o carbono, oxigênio e nitrogênio, colocando em evidência o deslocamento desses elementos entre o mundo inorgânico (solo, água, ar) e o mundo orgânico (tecidos, fluidos, estruturas animais e vegetais); coletar material e realizar experimentos com a finalidade de observar a decomposição da matéria orgânica e compreender que o reaproveitamento de materiais, que ocorre naturalmente nos ecossistemas, impede o esgotamento dos elementos disponíveis na Terra; representar graficamente as transferências de matéria e de energia ao longo de um sistema vivo; redigir um relatório, utilizando linguagem científica adequada para apresentar as principais observações, conclusões e possíveis generalizações. 3 - Desorganizando os fluxos da matéria e da energia: a intervenção humana e os desequilíbrios ambientais
Compartilhar