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Teoria do crime conceito de crime

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jusbrasil.com.br
3 de Abril de 2017
Teoria do crime: conceito de crime
RESUMO
O presente trabalho possui por objetivo a análise da evolução dos
elementos componentes do conceito analítico do delito, através da
qual, procura identificar o atual estado em que se encontra o Direito
Penal brasileiro.
Partindo de um retrospecto histórico pelas Teorias que nortearam a
evolução do Direito Penal, quais sejam, Teoria Causalista,
Neokantismo, acompanhando a sua evolução através das Teorias
Finalista e Funcionalista do Delito, lançando­se por fim em uma
análise da Imputação Objetiva e da Tipicidade Conglobante. Tem por
escopo demonstrar a superação das vetustas discussões a respeito da
adoção do conceito tripartido do delito e a necessidade premente de
que o Direito Penal Brasileiro acompanhe a evolução da Ciência Penal,
em consagração aos princípios norteadores do Estado Democrático de
Direito. Possibilita desse modo, diante do caso concreto, maior justiça
na imputação do fato criminoso a determinado autor, após a acurada
verificação de todos os elementos do conceito Tripartido do Delito, no
qual a tipicidade dotou­se de nova dimensão, qual seja, a dimensão
normativa, além das dimensões formal e subjetiva.
PALAVRAS­CHAVE
Imputação objetiva, teoria tripartida, tipicidade conglobante.
ABSTRACT
The present work has as objective the analysis of the evolution of the
elements of the analytical concept of the crime, by which seeks, to
identify the current state it is in the Brazilian Criminal Law.
From a historical retrospective by theories that guided the evolution of
criminal law, namely, causal theory, neokantianism, following its
evolution through the purpose and functionality Theories of Crime,
throwing herself at last in an objective analysis of the allocation and
the Typical Conglobante, with the aim of demonstrating the resilience
of the age­old discussions about the adoption of the tripartite concept
of the crime and the compelling need for the Brazilian Penal Law
follows the evolution of Penal Science, in dedication to the guiding
principles of a democratic state. Enables thus before the case, graer
justice in the allocation of a criminal act a certain author, after accurate
verification of all elements of the tripartite concept of crime, in which
typicality has set up a new dimension, namely, the size normative
dimensions beyond the formal and subjective.
KEYWORDS
Imputation objective, tripartite theory, typicality conglobante.
1 INTRODUÇÃO
Observa­se que a doutrina colaciona 3 (três) conceitos de crime, ex vi:
material, formal e analítico, onde o primeiro refere­se ao conceito
social, pois a sociedade tende a caracterizar como “crime” algo que
considera grave; conceito este por óbvio profano ao Direito, mas
norteia o Poder Legislativo para que este, após utilizar os princípios
como “filtros” ou limites, legisle, com fundamento e à luz do princípio
da reserva legal com todos os seus desdobramentos, nascendo,
portanto o conceito formal de crime.
O conceito formal de crime fragmentado em elementos origina o
conceito analítico, oriundo da ciência do Direito Penal, cujo aspecto
científico é notório.
Os elementos oriundos da fragmentação analítica do conceito formal
são 4 (quatro): Fato Típico ou Tipicidade; Fato Antijurídico,
Antijuridicidade ou Ilicitude; Fato Culpável ou Culpabilidade; Fato
Punível ou Punibilidade.
À luz destes elementos, a doutrina divide­se, no que tange à
conceituação analítica de crime, admitindo­se 5 (cinco) posições a
respeito (NUCCI, 2010, p. 167):
1º entendimento: crime é fato típico e antijurídico, onde a
culpabilidade é mero pressuposto de aplicação da pena, a chamada
Teoria Bipartida do Delito, adeptos Damásio E. De Jesus, Julio F.
Mirabete, Rene Ariel Dotti, Celso Delmanto, Flavio Augusto Monteiro
de Barros, dentre outros (NUCCI, Op. Cit., p. 167);
2º entendimento: crime é fato típico, antijurídico, culpável e punível,
Teoria Quadripartida do delito, admitindo como seguidores Hassemer,
Munõs Conde na Espanha, Giorgio Marinucci, Emilio Dolcini,
Battaglini na Itália e o falecido Basileu Garcia no Brasil (NUCCI, Op.
Cit., p. 167);
3º entendimento: crime é fato típico e culpável, onde a antijuridicidade
esta inserida no fato típico, defendida por Miguel Reale Jr. Ao adotar a
Teoria dos Elementos Negativos do Tipo (NUCCI, Op. Cit., p. 167);
4º entendimento: crime é fato típico, antijurídico e punível, onde a
culpabilidade é mero pressuposto de aplicação da pena, a chamada
Teoria Constitucionalista do Delito de Luiz Flávio Gomes (NUCCI, Op.
Cit., p. 168);
5º entendimento: crime é fato típico, antijurídico e culpável, Teoria
Tripartida do Delito a qual pode ser analisada sob duas óticas: a) a
ótica da Teoria Causalista ou Clássica (Nélson Hungria, Magalhães
Noronha, dentre outros); b) ou sob a ótica da Teoria Finalista de Hans
Welzel (Francisco Assis Toledo, Heleno Fragoso, Juarez Tavares, Cezar
Roberto Bittencourt, Guilherme de Souza Nucci, Eugênio Raúl
Zaffaroni, José Enrique Pierangeli, Luis Régis Prado, Rogério Greco,
dentre outros) (NUCCI, Op. Cit., p. 168).
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar, por razões
históricas, filosóficas sociológicas e jurídicas, que este último é o
conceito que mais atende à hodierna realidade jurídica, ainda que
dotado de certo atraso jurídico­penal.
2 ANTECEDENTES DA TEORIA DO CRIME E A MODERNA
CONCEPÇÃO ESTRATIVISTA DO DELITO
Historicamente, podemos dividir o conceito de delito em 5 (cinco)
construções, explanadas a seguir.
2.1 CONCEITO CLÁSSICO DE DELITO (TEORIA CAUSALISTA E
POSITIVISMO JURÍDICO)
Conforme Cezar Roberto Bittencourt (2008, p. 205), Von Liszt e Beling
elaboraram o conceito clássico de delito, o qual poderia ser
representado como um movimento corporal, produzindo uma
modificação no mundo exterior (ação X resultado). Tal conceito de
ação seria naturalístico, ou seja, neutro ou desprovido de valoração
subjetiva, onde a ligação entre ação e resultado se daria com o nexo de
causalidade; preferimos a substituição terminológica de ação para
conduta, pois esta abrangeria tanto a ação quanto a omissão (própria e
imprópria), portanto, teríamos a fórmula: conduta à resultado = nexo
causal. Nesta ideia inicial, dividiam­se claramente os aspectos objetivos
(fato típico ou tipicidade e antijuridicidade) do aspecto subjetivo
(culpabilidade), criticada posteriormente por Hans Welzel.
Este conceito clássico de delito estava desprovido de verificações de
ordem filosófica, sociológica ou psicológica, pois é oriundo do
positivismo jurídico (BITTENCOURT, 2008, p. 206).
A exemplo, tipicidade seria a simples adequação do fato à norma e
delito seria a contrariedade à norma. Concepção esta exageradamente
formal (BITTENCOURT, Op. Cit., p. 207).
Os conceitos formais ou unitários de delito são oriundos dos
jusfilósofos, como e. G.: as ideias kelsianas, salvo a Escola de Kiel, onde
negou­se, absurdamente, a própria dogmática do delito partindo da
premissa de que o delito deveria ser verificado por critérios puramente
políticos e extremamente abertos (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2004,
p. 368).
As duas grandes escolas do Positivismo Jurídico nasceram na
Alemanha (“Positivismo Jurídico“ de Binding) e na Itália (Rocco
“Escola Técnico Jurídico”) e partem da premissa de que os estudos
relacionados ao criminoso – realidade, frequência dos delitos – e à
vítima, referem­se a outras áreas da ciência como e. G.: a criminologia,
uma vez que o Direito Penal deve ater­se ao estudo da norma jurídica,
sendo esta, portando o objeto do Direito Penal.
Esta escola influenciou todos os penalistas brasileiros do Século XX.
Em suas obras notam­se: sujeitos do crime, objeto jurídico, tempo do
crime, momento consumativo, prescrição, etc.; o estudo da
criminologia i. E. é deixado de lado por estes, desconectados por
completo que estavam os mesmos da realidade.
Sob a égidedo Positivismo Jurídico nasce a primeira Teoria do Delito,
ou seja, Teoria Causalista (Von Liszt e Beling – 1906), onde o delito era
estudado da seguinte forma: a) aspecto objetivo do delito, i. E. fato
típico/tipicidade e antijuridicidade (Injusto Penal); b) aspecto
subjetivo, i. E. culpabilidade (Teoria Psicológica – vínculo psicológico
(dolo ou culpa) entre o agente e o fato).
No causalismo a conduta é tida como uma ação ou omissão voluntária
e consciente que provoca movimentos corpóreos, ou seja, neutralidade
da conduta, desprovida de finalidade, pois a conduta é naturalista. Luís
Régis Prado (2005, p. 100) disserta a respeito: “Na concepção
positivista essencialmente naturalista reside o fundamento
epistemológico da teoria causal­normativa da ação e do conceito
clássico de delito”.
A ideia de que a norma penal é neutra, desprovida de demais aspectos
analíticos não condiz com a realidade hodierna, pois esta é sempre
reflexo de determinado momento político­social. Atendendo o Direito
Penal, portanto, a um conjunto de ideologias épicas.
2.2 CONCEITO NEOCLÁSSICO DE DELITO (NEOKANTISMO)
Immanuel Kant faz na valoração kantista uma junção do racionalismo
com o empirismo, ou seja, parte da premissa de que o conhecimento se
apresenta por razões racionais (racionalismo de Berkeley), onde todo
conhecimento do homem nasce de sua consciência assim como deriva­
se de aspectos sensoriais (Hume), mesclando assim duas correntes
filosóficas aparentemente antagônicas; portanto, translúcido o aspecto
valorativo kantiano, estendendo o mesmo pela moral e demais valores
éticos (GAARDNER, 2009, p. 347).
Observa­se que após 1906, surge na evolução histórica da Teoria do
Delito o Neokantismo, onde se recriou a Teoria dos Valores de Kant no
Direito Penal. A qual exige um aspecto valorativo, onde a tipicidade
não seria mais neutra, como no causalismo, e sim valorativa. Assim
como, a antijuridicidade não mais seria apenas a contrariedade do fato
à norma, mas sim acrescentar­se­ia a lesão ou ameaça de lesão (dano
social) ao bem jurídico tutelado (futuramente com Luigi Ferrajoli:
nulla necessitas sine injuria). Bem elucidam Zaffaroni e Pierangeli, a
este respeito:
A conseqüência que isto traz para ao campo jurídico­penal, é que o
valor não se limita a agregar um dado, e sim que o direito penal
penetra no caos da realidade, recriando­a. O que equivale dizer que o
valor não respeita a realidade, porque não pode, mas que cria aquilo
que valora ou desvalora. (2004, p.309)
Desse modo, a corrente filosófica do Neokantismo, iniciada na
Alemanha em 1860, não pretendeu negar o Positivismo Jurídico, mas
sim superá­lo. Surgiram duas grandes correntes reacionárias face ao
Positivismo Jurídico: Neokantismo e Historicismo. Enquanto este fora
criado por Wilhelm Dilthey, fundador da ciência do espírito e tem por
objetivo a realidade histórico­social, buscando a distinção entre
naturais e espirituais, aquele buscou distinguir naturais e espirituais
através de uma afirmação idealista (PRADO, 2005, p. 101).
O Neokantismo alterou também a concepção causalista de
culpabilidade, onde não mais seria um vínculo psicológico (Teoria
Psicológica) estabelecido pelo dolo ou pela culpa entre o agente e o fato
praticado, mas sim algo além dessa concepção física: inserindo a
exigibilidade de conduta diversa, fundamentando esta linha de
raciocínio jurídico na coação moral irresistível, onde mesmo com a
verificação de dolo (elemento subjetivo), inexiste punição.
2.3 CONCEITO FINALISTA DE DELITO (TEORIA FINALISTA)
Após o Nazismo – período fundamentado na Escola de Kiel, onde
prevalecia o Direito do Autor – e influenciada pelo horror do
holocausto, surge a Teoria Finalista de Hans Welzel, admitindo que o
Direito Penal deva fixar limites ao Legislador, não deixando a este o
livre arbítrio, e sim o respeito a duas Estruturas Lógicas Objetivas: a)
toda conduta é finalista, i. E., exige­se finalidade ao se realizar
qualquer conduta comissiva ou omissiva; b) o homem é dotado de
autodeterminação – livre e culpável – tendo por fundamento da pena a
culpabilidade.
A Teoria Finalista ocasionou algumas alterações: a) dolo e culpa
(finalidade ou vontade) passa a integrar o fato típico (conduta) e não
mais a culpabilidade; b) o tipo penal tem uma parte objetiva e
subjetiva, onde o causalismo dividia o delito nestas duas partes e não o
fato típico; c) a culpabilidade é puramente normativa, i. E., juízo de
reprovação sem requisitos subjetivos.
O excesso de subjetivismo (desvalor da conduta) de Hans Welzel
enfatizando a finalidade da conduta fez com que suas ideias
influenciassem o Código Penal da Alemanha, onde o crime impossível
pode ser punido. Pode ser que esse tenha sido o equívoco finalista,
moldado posteriormente, principalmente por Claus Roxin e Eugênio
Raúl Zaffaroni (desvalor do resultado).
O finalismo nada mais fez do que deslocar a finalidade, ou seja, o dolo e
a culpa que se encontravam na culpabilidade, para o fato típico,
agregando, portanto mais um elemento ao fato típico que passa a ser:
formal (causalismo), valorativo (neokantismo) e subjetivo (finalismo).
Mesmo com esta evolução, o finalismo ainda parte da premissa de um
fato típico formal, embora subjetivo.
2.4 CONCEITO FUNCIONALISTA DE DELITO (FUNCIONALISMO
SISTÊMICO E IMPUTAÇÃO OBJETIVA) – PÓS­FINALISTAS
Na Alemanha, em meados de década de 70 iniciou uma corrente
doutrinária com o intuito de revolucionar o Direito Penal.
Pretendia­se abandonar o tecnicismo jurídico no enfoque da adequação
típica, possibilitando ao tipo penal desempenhar sua efetiva função de
mantenedor da paz social e aplicador da política criminal. Essa é a
razão do nome desse sistema: funcional. (MASSON, 2010, p.74)
O Direito Penal Funcionalista alemão questiona o conceito de conduta
criado primeiramente pelo causalismo e na sequência histórica, pelo
neokantismo e finalismo, pois como o Direito Penal tem por objetivo
ser um regulador da sociedade, necessário se faz uma delimitação nas
expectativas da norma. Ao buscar tal limitação, o finalismo passa a
considerar o delito com uma dimensão a mais, qual seja, a
normatividade.
Nesta seara, o funcionalismo divide­se em 3 (três) teses principais: a) o
funcionalismo radical, monista ou sistêmico de Günther Jakobs; b) a
teoria funcionalista moderada, dualista ou de política criminal de Claus
Roxin; c) o funcionalismo limitado de Santiago Mir Puig.
Claus Roxin, um dos maiores expoentes da Teoria Funcionalista,
defende a ideia de que a função do Direito Penal é proteger os bens
jurídicos, atuando de forma subsidiária. Desse modo, o tipo penal deve
estar aquém da norma, i. E., a norma contém um amplo programa,
comportando o fato típico formal e o fato típico material, que será
obtido excluindo­se do fato típico formal os fatos insignificantes que
não justificam a intervenção do direito penal.
Desenvolvida a partir da década de 70, a Teoria Moderada de Roxin –
Funcionalismo Teleológico preceitua que a norma penal, quando
analisada formalmente, possui uma tipicidade por demais abrangente,
abarcando inclusive fatos irrelevantes para o Direito Penal, os quais
para esta teoria deverão ser considerados como formalmente típicos,
apenas. Em virtude disto, o Direito Penal deverá, para cumprir a sua
função, utilizar­se dos Princípios de Política Criminal, com o intuito de
reduzir o alcance da tipicidade formal. Para tanto, a tipicidade será
interpretada pela intervenção mínima, de onde serão excluídos os fatos
irrelevantes para o Direito Penal, restando no âmbito da tipicidade
apenas os fatos materialmente típicos.
Oposta à Teoria Moderada de Roxin está a, também funcionalista,
Teoria Radical de Gunther Jakobs – Funcionalismo Sistêmico
(MASSON, Op. Cit., p. 75).
Günther Jakobs, na década de 80, identifica como função do Direito
Penal a tutela da norma, onde a função tal ciência jurídica está em
assegurar não os bensjurídicos, mas a aplicação da norma, através da
coação contra aquele que representa uma ameaça à segurança social.
A teoria de Günther Jakobs é sociológica e sistêmica, onde cada um
deverá desempenhar o seu papel na sociedade, o homem é uma peça do
sistema. Aquele que não realiza a sua função ou desafia as normas
impostas pelo sistema torna­se o inimigo.
A teoria do direito penal do inimigo, desenvolvida em 1985, apresenta
uma concepção punitivista que agregou muito mais críticos que
adeptos e mostra­se sobremaneira incompatível, conforme
entendimento de alguns, com o Estado Democrático de Direito por
privar o autor do delito de quaisquer garantias fundamentais,
desumanizando o agente de crimes.
A busca de limitações ao alcance da norma penal, vincula­se à ideia da
teoria da imputação objetiva, pela qual, a relação de causalidade
material deixa de ser avaliada, cedendo espaço à atribuição normativa
do resultado ao agente, a qual permite a imputação (MASSON, Op. Cit.,
p.74).
Bem elucida Rogério Greco (2007, p. 246): “a teoria da imputação foi
criada, inicialmente, para se contrapor aos dogmas da teoria da
equivalência, erigindo uma relação de causalidade jurídica ou
normativa, ao lado daquela outra de natureza material.” Essa avaliação
passa a ser considerada antes da observação do elemento subjetivo –
dolo e culpa – na conduta do agente.
Em primeiro plano estará a análise da possibilidade de imputação do
resultado ao agente para, posteriormente, em caso afirmativo, analisar
se este agiu com dolo ou culpa (GRECO, Op. Cit., p. 237).
Se o resultado não puder ser, juridicamente, imputado ao agente, nem
se chegará à aferição de dolo e culpa. Nesse diapasão, o resultado
poderá ser imputado ao agente se este: a) criou um risco proibido ao
bem jurídico; b) se pelo nexo de imputação, o resultado jurídico deriva
do risco criado – imputação objetiva do resultado.
Verifica­se portanto, que, se o resultado pretendido pelo agente
depender de circunstâncias alheias a sua vontade, não poderá ser
imputado a este, uma vez que o resultado será atribuído ao acaso. Se a
conduta do agente não tiver a capacidade de aumentar o risco a que
está exposto o bem jurídico, não poderá ser­lhe imputado
juridicamente o resultado.
Concluída a análise pela não­imputação, será excluído o fato típico, de
modo que nem se fará necessário a análise dos demais elementos do
delito, optando pela prematura descaracterização do delito em seu
primeiro elemento.
2.5 CONCEITO CONGLOBANTE DE DELITO (TEORIA DA
TIPICIDADE CONGLOBANTE)
No início da década de 90, Eugênio Raúl Zaffaroni desenvolve o
Funcionalismo Reducionista, onde toda a evolução de Claus Roxin é
somada a um novo requisito à tipicidade, qual seja, o resultado
jurídico, que deverá ser valorado, bem como verificada a possibilidade
de imputação objetiva do resultado. Desse modo, ficam excluídas da
tipicidade material, as condutas causadoras de resultado jurídico
insignificante.
Eugênio Raúl Zaffaroni e José Enrique Pierangeli (2004, p. 366 et seq.)
salientam que o conceito unitário de delito está ultrapassado por ser
demasiadamente formal. Negam­se aspectos de diversos planos
analíticos, i. E., não se admite valoração, necessitando, portanto, que
estratifique­se o conceito de crime, proporcionando diferentes planos
analíticos.
O delito, vale ressaltar, permanece sendo uma unidade, porém o seu
conceito é que será fracionado em níveis. Esses níveis, analisados no
caso concreto, correspondem a uma série de perguntas que deverão ser
respondidas, segundo uma ordem lógica, pelo aplicador da norma
penal, buscando este a verificação da ocorrência do delito, i. E. se a
conduta deverá ser considerada uma infração merecedora de pena
(ZAFFARONI; PIERANGELI, Op. Cit. P. 368).
A estratificação corresponde a uma análise por camadas, em
detrimento do conceito unitário de crime que esgota­se no plano
formal, revelando notadamente a sua ineficiência na aplicação prática.
Para Zaffaroni,
Deve ficar claro que quando afirmamos que o conceito ou a explicação
que damos do delito é estratificado, queremos dizer que se integra em
vários estratos, níveis ou planos de análise, mas isto de nenhuma
maneira significa que estratificado seja o delito: o estratificado é o
conceito de delito que obtemos por via da análise. (ZAFFARONI;
PIERANGELI, Op. Cit., p.368)
Portanto, a estrutura meramente formal do conceito unitário do delito
verifica­se abandonada pela moderna concepção estrativista do delito,
razão pela qual podemos verificar duas consequências principais: uma
consequência na própria evolução da tipicidade e outra na adoção da
Teoria Tripartida Finalista do Delito.
O fato típico, primeiro dos níveis da análise estratificada do conceito de
delito, contém a tipicidade, entendendo­se esta como algo além da
mera subsunção do fato à norma (GRECO, 2007, p.156).
A dita subsunção ao modelo abstrato dá origem à tipicidade formal ou
material. No entanto, a moderna doutrina penal não se contenta com
mera adequação formal da conduta, exigindo para sua conclusão a
ocorrência da tipicidade conglobante.
Na lição de Pierangeli e Zaffaroni (2004, p. 522), a norma proibitiva
que se encontra anteposta ao tipo formal não se encontra isolada no
ordenamento, e sim conglobada com as demais normas, formando a
ordem normativa.
Ainda que, aparentemente, uma norma, considerada isoladamente,
pareça permitir a realização de uma conduta que outra norma proíba, o
que ocorre de fato é que sua proibição deverá ser analisada de maneira
conglobada, em consonância com as demais, em respeito à ordem
normativa. De maneira bastante clara, prelecionam,
Daí que a tipicidade penal não se reduz à tipicidade legal (isto é, à
adequação à formulação legal), e sim que deva evidenciar uma
verdadeira proibição com relevância penal, para o que é necessário que
esteja proibida à luz da consideração conglobada da norma.
(ZAFFARONI; PIERANGELI, Op. Cit., p.522)
Significa, pois, que a tipicidade penal deverá englobar, não apenas a
tipicidade formal, mas esta, depois de corrigida pela tipicidade
conglobante, de modo que esta última atuará como esclarecedora do
alcance do tipo penal, podendo ocorrer de o fato, apesar de
formalmente típico, quando considerado de maneira conglobante terá
excluída a tipicidade.
Desse modo, de acordo com a doutrina de Zaffaroni, a ocorrência de
cumprimento de um dever não atua excluindo a antijuridicidade, e sim
configura um caso de atipicidade, uma vez que o ordenamento jurídico
não poderá estabelecer a tipicidade de uma conduta, para que,
posteriormente, uma outra norma venha a invalidar essa tipicidade,
através da permissão da conduta. Contra essas condutas, valoradas
conglobantemente como atípicas, não atuarão as causas de justificação,
pois a ordem jurídica não poderá aceitar normas que ela própria
rejeita, na tipicidade formal.
3 DA TIPICIDADE
No causalismo, o tipo penal era o tipo formal, neutro, desprovido de
valoração. Para caracterização do fato típico, bastava a realização da
conduta, ao lado da realização de um resultado, ligado à conduta por
meio do nexo de causalidade, além da tipicidade formal, o encaixe, a
subsunção do fato à descrição do tipo formal. O dolo e a culpa do
agente só seriam discutidos posteriormente, por ocasião da análise da
culpabilidade, ou seja, a possibilidade de responsabilização do agente
pelo delito.
Posteriormente, virá o Neokantismo agregar valor ao tipo penal,
conferindo­lhe a característica de tipo formado por objetividade e
valor, i. E., o valor compreendido como a reprovação, onde o delito era
a contradição do valor reconhecido socialmente.
O funcionalismo agregou à tipicidade uma segunda dimensão,
agregando uma valoração à conduta. Até este momento, a tipicidade
possuía apenas a dimensão formal, embora já valorada pela concepção
neokantista. A partir do funcionalismo, a tipicidade passaa contar com
um segundo aspecto, o elemento subjetivo do tipo, i. E., o dolo e a
culpa que, antes integrantes da culpabilidade, passaram a integrar o
fato típico, movidos que foram pela ideia funcionalista.
Hodiernamente, a moderna doutrina penal encontra­se vinculada à
Teoria Funcionalista.
A principal crítica trazida pelo funcionalismo à teoria que o precede,
consiste no fato de que, a Teoria Finalista incluiu o dolo e a culpa como
integrantes da dimensão subjetiva do tipo, ao lado do tipo objetivo,
integrando a tipicidade.
Para os adeptos da Teoria Funcionalista, a culpa não está inserida no
aspecto subjetivo, uma vez que não encontra­se presente no íntimo do
agente. Ela (a culpa) é a normatividade, movida pelos funcionalistas,
que a retiraram do aspecto subjetivo mantendo­a, entretanto, na
tipicidade.
Desse modo, a partir do funcionalismo teleológico­racional de Roxin, o
fato típico passa a conter uma terceira dimensão, além das dimensões
formal­objetiva e subjetiva – presente apenas nos crimes dolosos,
passa a compô­lo também a dimensão normativa ou material, nesta
incluída a imputação objetiva, expressa em dupla exigência: a) a
criação ou implementação de um risco juridicamente proibido e b) a
imputação objetiva do resultado, através do nexo de imputação, àquele
que proporcionou diretamente a ocorrência desse risco.
4 CONCLUSÕES
Pode­se inferir, do exposto, que o preenchimento da tipicidade no
Direito Penal atual, deverá se compor­se pela tipicidade objetiva –
formal, tipicidade normativa e tipicidade subjetiva. Entendendo­se
como tipicidade normativa a imputação objetiva da conduta e a
imputação objetiva do resultado. E, como tipicidade subjetiva, o
elemento volitivo, presente nos delitos dolosos, apenas.
Isto posto, a ocorrência do tipo penal, pressupõe, hodiernamente, o
preenchimento, além dos requisitos formais, identificados desde a
teoria causalista – conduta, resultado, nexo causal e tipicidade – a
ocorrência dos elementos da dimensão normativa do tipo – imputação
objetiva da conduta e imputação objetiva do resultado, além do
elemento subjetivo do tipo.
Na prática, o maior número de elementos na tipicidade afasta a
possibilidade de injustiças serem cometidas na imputação do fato
delituoso, uma vez que a caracterização da conduta como crime, será
afastada desde logo, na primeira camada da estratificação, qual seja, o
fato típico.
Desse modo, necessário se faz o aumento de elementos do fato típico,
ou da tipicidade como preferem alguns, para a verificação de um crime
no sentido analítico. Ou seja, um delito pressupõe a prática de um fato
típico, antijurídico e culpável, com uma tipicidade cada vez mais
dotada de elementos, os quais irão assim restringir a aplicação da
norma, conectados a uma ideia de ultima ratio, a qual deixa a cargo da
Teoria da Pena apenas a punibilidade.
Do exposto, pode­se concluir que a o conceito analítico de crime não
comporta mais a adoção da Teoria Bipartida. Discussão esta há muito
superada pela evolução do Direito Penal, cuja modernização dá espaço
para o debate e verificação do conceito cada vez mais estratificado do
delito, o qual proporciona a adequação da Ciência Penal às bases
ideológicas do Estado Democrático de Direito.
REFERÊNCIAS
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13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
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Júnior. 70. Reimp. São Paulo: Companhia. Das Letras, 2009.
GOMES, Luis Flávio. MOLINA, Antonio Gárcia­Pablos.
Criminologia. 5 ed. São Paulo:Editora RT, 2006.
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JAKOBS, Günther. A Imputação Objetiva no Direito Penal.
Tradução André Luiz Callegari. 3. Ed. Editora RT: São Paulo, 2010.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad. Alex Marins.
Martin Claret: São Paulo: 2002.
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Geral.Vol1. Editora Método: São Paulo.2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 6. Ed.
Editora RT: São Paulo, 2010.
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SANCHES, Bernardo Feijóo. Teoria da Imputação Objetiva. Trad.
Nereu José Giacomolli. Manole: São Paulo, 2003.
ZAFFARONI, Eugênio Raúl, PIERANGELI, Enrique. Manual de
Direito Penal Brasileiro. 5. Ed. Editora RT: São Paulo, 2004.
Texto publicado no Cadernos de Publicação UNIT­ Ciências
Humanas e Sociais, 2010.
ÉRIKA FONTES DE ALMEIDA. Graduanda em Direito pela
Universidade Tiradentes, (2008/1).
Lattes:http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?
id=K4456954U9, Bolsista do Programa Universidade para Todos do
Governo Federal. Estagiária do Tribunal de Justiça/SE, Grupo de
Pesquisa Direito Constitucional: Sociedade, Política e Economia –
UNIT, orientador professor Ilzver de Matos
Oliveira(http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?
id=K4599614Y7 ), projeto conclUído.
yasmin­erika@hotmail.com
Professor de Direito Penal, Direito Processual
Penal, Estágio II, Execução Penal, Criminologia e Teoria Geral do
Processo da
Universidade Tiradentes. Professor de Direito Constitucional.
Professor de
Cursos Preparatório para Concursos Públicos e OAB. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/0520092450716975
danielvazmsn@hotmail.com
http://twitter.com/#!/profvazdireito

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