Buscar

Constituições brasileiras

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Politize!
CONSTITUIÇÕES
BRASILEIRAS
Introdução: um passeio pela história ............................................ 1
Constituição de 1824 ........................................................................... 3
Constituição de 1891 ........................................................................... 7
Constituição de 1934 ........................................................................... 12
Constituição de 1937 ........................................................................... 19
Constituição de 1946 ........................................................................... 25
Constituição de 1967 ........................................................................... 31
Constituição de 1988 ........................................................................... 39
ÍNDICE
Politize!
Material publicado em 15 de março de 2017
Cidadania estendida a todos os brasileiros, sem 
restrições, independente de renda, gênero, profissão, 
alfabetização. É isso que nos é garantido em lei hoje, 
mas será que sempre foi assim? Direito de ir às ruas 
protestar, fazer críticas públicas aos personagens 
políticos e suas medidas: desde quando podemos fazer 
essas coisas?
Entende-se por Constituição ou Carta Magna o
conjunto de princípios fundamentais que regem 
todas as leis do país. Analisando nossas antigas
constituições, podemos perceber que certas garantias 
de que hoje usufruímos são verdadeiras conquistas. 
Além disso, inserindo cada Carta Magna em seu
contexto histórico, podemos compreender melhor a 
trajetória política de nosso país e identificar tendências 
ou correntes de pensamento que nos guiaram por
décadas e décadas.
Na história das Constituições brasileiras, há uma 
alternância entre regimes mais fechados e mais 
democráticos. O caráter dos governos teve
repercussão na aprovação das Cartas, que foram
ora impostas, ora aprovadas por Assembleias
Constituintes. Por tudo isso, o Politize preparou este 
eBook apresentando todas as constituições já feitas na 
história do Brasil, suas principais características e a 
evolução dos direitos dos cidadãos. 
1
UM PASSEIO PELA HISTÓRIA
Politize!
A tabela a seguir resume em linhas gerais as constituições a serem apresentadas: 
CONSTITUIÇÃO QUEM FEZ PERÍODO
1824 Imposta por Dom Pedro, Imperador Império
1891 Aprovada por Assembleia Constituinte República 
1934 Aprovada por Assembleia Constituinte Era Vargas
1937 Imposta por Getúlio Vargas, ditador Era Vargas
1946 Aprovada por Assembleia Constituinte Democracia Populista
1967 Aprovada no Congresso por exigência do Regime Regime Militar
1988 Aprovada por Assembleia Constituinte República Contemporânea
A partir do próximo capítulo, vamos destacar os principais tópicos de cada Lei Maior que já tivemos,
relacionando-as com o momento histórico correspondente. Vamos voltar no tempo?
2
Politize!
Em 7 de setembro de 1822, o Brasil deixou de ser 
colônia de Portugal, no processo conhecido como
independência. Dom Pedro I, que a proclamou, passou 
a ser Imperador do Brasil, mesmo pertencendo à família 
real portuguesa. Achou estranho um português decretar 
a independência do Brasil de Portugal? Pois foi
realmente uma situação inusitada, e isso diz muito sobre 
o que veio a acontecer no país nos anos seguintes.
A proclamação da independência foi feita por interesses 
políticos, em retaliação aos inimigos liberais da família 
real portuguesa, que desejavam que o Brasil voltasse à 
condição de colônia. Essa possibilidade foi descartada 
por Dom Pedro. Assim, nos anos seguintes, o Brasil
tornou-se uma monarquia isolada entre as repúblicas 
recém-libertas da antiga América Espanhola.
Mas o que isso tudo tem a ver com a Constituição de 
1824? O fato de termos sido governados por um
imperador autoritário, na época, fez com que nossa
primeira Carta Magna fosse conservadora em seu
conteúdo e autocrática em seu funcionamento.
3
1. A CONSTITUIÇÃO DE 1824
CONTEXTO
Politize!
Retrato de Dom Pedro I, primeiro imperador
brasileiro. Artista: Simplício Rodrigues de Sá, 1830.
A ELABORAÇÃO DA PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO
Nosso primeiro projeto de Constituição foi elaborado 
em 1823, por uma Assembleia Constituinte. Esse
projeto foi apelidado popularmente de Constituição 
da Mandioca. Isso porque um dos seus mais peculiares 
aspectos era que o voto era restrito apenas àqueles 
que tivessem certo nível de renda, que por sua vez era 
medida em – pasme – quantidade de farinha de
mandioca. Quem tivesse menos de 150 alqueires de
plantação de mandioca não teria direito ao voto.
Mas qual era o sentido de medir a riqueza com base em 
um produto agrícola? Ora, essa era uma forma de
excluir da vida política, de uma só vez, a população 
pobre, que não tinha esse nível de renda, e os
comerciantes portugueses, que tinham renda expressa 
em dinheiro. Assim, o direito ao voto ficava reservado 
apenas à elite agrária, a única parte da população que 
tinha sua renda medida em farinha de mandioca.
Esse projeto, porém, foi abortado no dia 12 de
novembro de 1823. O imperador Dom Pedro I
dissolveu a Constituinte no que pode ser considerado o 
primeiro golpe de Estado do Brasil independente, em 
um episódio conhecido como “Noite da Agonia”. Ele o 
fez porque a Constituição da Mandioca buscava
estabelecer limites a seu poder, submetendo-o
ao parlamento.
Poucos meses depois, ele outorgou a Constituição de 
1824, que lhe conferia amplos poderes por meio do 
Poder Moderador. Esse texto vigorou por mais de 60 
anos, a Constituição brasileira de mais longa
duração até os dias atuais.
4
Politize!
poder de dissolver a Câmara e direito de aprovação
ou veto de quaisquer decisões da Câmara e
Senado. Nota-se facilmente que, na prática, o Poder
Moderador conferia ao imperador poderes
quase absolutos.
Além disso, a primeira constituição brasileira proibia o 
voto de mulheres, escravos, criados e qualquer pessoa 
que possuísse renda anual inferior a 100 mil-réis.
O autor Laurentino Gomes, em seu livro 1808, realiza a 
conversão aproximada dessa quantia para o Real
e estabelece que 100 mil-réis equivaliam a cerca
de R$ 12.300.
Como a Constituição determinava que o Estado era 
oficialmente católico, a construção de templos
identificáveis de outras religiões era expressamente 
proibida. Os cultos não-católicos deveriam ser
realizados apenas em ambiente doméstico, sem serem 
vistos abertamente pela sociedade.
MAS O QUE ERA ESSE PODER MODERADOR?
O Poder Moderador, assim como o Executivo, era
exercido pela pessoa do Imperador, apresentada pela
Constituição de 1824 como figura inviolável e sagrada. 
Sua função seria a de intervir sempre que surgissem 
conflitos entre os demais poderes, determinando qual 
deles tinha razão. Além disso, o Poder Moderador 
atribuía ao Imperador a função de nomear senadores, o 
A Constituição de 1824 estabelecia, principalmente:
– Monarquia constitucional e hereditária;
– Voto censitário (para ser eleitor era necessário ter 
uma determinada renda mínima) e descoberto, ou seja, 
não secreto;
– União entre a Igreja e Estado, sendo a católica sua 
religião oficial;
– Quatro poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário
e Moderador.
5
Politize!
Muita informação de uma vez? Então vamos
recapitular através deste infográfico:
6
Politize!
CONSTITUIÇÃO
DE 1824
CONSTITUIÇÃO
DE 1824
CARACTERIZOU-SE POR SER
CONSERVADORA E AUTOCRÁTICA 
POR QUÊ?
O país continuou 
sendo uma 
monarquia entre 
repúblicas, apesar de 
independente
Excluía minorias 
da participação 
política e impunha 
limites à liberdade 
de credo
Cancelou a 
“Constituição da 
Mandioca”, que 
impunha limites 
ao seu poder
Outorgou a 
Constituição de 1824, 
que o apresentava 
como inviolável e 
sagrado 
Gozava de arbitrariedadeao exercer os poderes 
moderador e executivo
IMPERADOR
AUTORITÁRIO
O Segundo Reinado (1840-1889) foi o período da 
história brasileira compreendido entre o golpe da 
maioridade, episódio que possibilitou que D. Pedro II
se tornasse Imperador com apenas 14 anos, e
a Proclamação da República (15 de novembro de
1889). Nos primeiros trinta anos desse período,
alcançou-se uma estabilidade política no Brasil sem
precedentes desde a independência. Ofuscando a
essência autoritária do Império, figurava certa
aparência democrática.
A partir da década de 1870, entretanto, esse cenário se 
inverteu: ganharam muita força, a partir de então, novos 
grupos socioeconômicos, que possuíam interesses 
incompatíveis com o aparelho burocrático do Império. 
Esses novos setores sociais foram decisivos para a
derrubada da Monarquia.
7
2. A CONSTITUIÇÃO DE 1891
CONTEXTO
Politize!
Marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República
e primeiro presidente do Brasil. Retrato de 1888.
Conforme o café se tornava o carro-chefe da economia 
nacional, a elite agrária, composta principalmente por 
cafeicultores paulistas, se fortalecia e passava a 
alimentar a ambição de possuir uma autonomia de 
províncias que não existia no Brasil Império. Sendo 
assim, esse grupo social passou a nutrir, abertamente, 
um anseio por reformas, o que tornou esses
cafeicultores importantes adeptos do republicanismo.
Outro setor social decisivo para a queda da Monarquia 
foi o dos militares, os quais, fortalecidos moralmente 
pela vitória da Guerra do Paraguai (1864-1870), 
passaram a almejar uma representação política que 
não possuíam no Império.
Pode-se observar, dessa forma, que a Monarquia
brasileira, no final dos anos 1880, se encontrava
enfraquecida, por ter perdido importantes bases de 
apoio. Além dos grupos citados acima, outros já haviam 
também perdido a simpatia pelo regime monárquico, 
tais como a Igreja católica, a camada média de forma 
geral e os fazendeiros escravocratas, descontentes 
com a Abolição da Escravatura de 13 de maio de 1888.
Em novembro de 1889, após muitos anos de desgaste 
do Império, o marechal Deodoro da Fonseca aceitou 
chefiar o movimento que derrubaria o governo, sem 
nenhuma participação popular. O período subsequente 
da História do Brasil é denominado Primeira
República ou República Velha (1889-1930).
Assim que surgiu a República, foi preciso elaborar
uma nova Constituição. A nova Carta Magna foi
promulgada em 1891 e era inspirada no modelo
norte-americano.
8
MAS QUE SETORES SOCIAIS ERAM ESSES?
Politize!
Os principais tópicos desse texto estabeleciam, 
principalmente:
–República federativa liberal, com sistema
presidencialista de governo;
– Três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, 
sendo que o Poder Moderador foi extinto;
– Fim do voto censitário ou por renda: seriam eleitores 
todos os cidadãos, mas analfabetos, mendigos,
soldados e membros de ordens religiosas não eram 
considerados eleitores e eram impedidos de votar;
– Separação entre Estado e Igreja;
– Autonomia dos estados, conforme almejava a elite 
agrária ao apoiar o republicanismo.
9
A CONSTITUIÇÃO DE 1891:
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Politize!
A Constituição de 1891 também não fazia referência 
às mulheres, mas considerou-se implicitamente que 
elas estavam impedidas de votar. O voto feminino só 
seria conquistado décadas depois.
Na República Velha,o voto era descoberto, ou seja, 
não-secreto. Essa situação acabou favorecendo o 
chamado “voto de cabresto”, ou seja, a manipulação 
eleitoral por parte dos “coronéis” (personalidades 
muito influentes no meio agrário e que normalmente 
estavam ligadas ao governo) sobre a população, que 
era essencialmente rural nessa época da história
brasileira. Essa influência passou a ser denominada, 
mais tarde, de coronelismo. Os coronéis eram figuras 
semelhantes aos atuais prefeitos e recebiam,
na época, influência política dos governadores
dos estados, que por sua vez eram influenciados
pelo presidente.
VOCÊ SABIA?
É possível observar que a Constituição de 1891, no 
plano teórico, se mostrava mais justa, equilibrada e 
liberal que a anterior, apesar de apresentar falhas. Mas, 
na prática, ela acabou por assegurar o controle da elite 
agrária sobre a máquina administrativa, política e 
econômica do Brasil, até o episódio conhecido como 
Revolução de 1930.
Não parece normal que a hegemonia de um pequeno 
grupo, em algum momento, descontentaria os 
demais? No próximo capítulo, vamos entender por 
que a queda da República Velha transformou
o Brasil.
10
Politize!
11
Politize!
CONSTITUIÇÃO
DE 1891
CONSTITUIÇÃO
DE 1891
JUSTA, LIBERAL
E EQUILIBRADA
exclui o voto censitário
extinguiu o poder moderador
marcou o fim do 
autoritarismo do império
garantiu algumas
liberdades individuais
estabeleceu autonomia
dos estados
PRESIDENTE
GOVERNADORES
CORONÉIS
POPULAÇÃO
RURAL
não votavam mulheres, 
analfabetos, mendigos, 
entre outros
sustentou o coronelismo
FOI EXCLUDENTE COM AS MINORIAS
E FAVORECEU OS CAFEICULTORES
PAULISTAS
POR QUÊ? POR QUÊ?
NA APARÊNCIA NA PRÁTICA
Vimos que um aspecto fundamental para a crise
do Segundo Reinado e a queda da Monarquia foi o
surgimento de novos grupos socioeconômicos que
possuíam interesses incompatíveis com aquele regime. 
Pois bem! Com a República Velha, a coisa terminou do 
mesmo jeito. Entenda neste capítulo por que o Brasil se 
revolucionou após os anos 1930.
Os trinta primeiros anos do século XX foram um período 
de fortalecimento de setores sociais e políticos que foram 
determinantes para o enfraquecimento da Primeira 
República no Brasil. Assim, o sistema político vigente foi 
sendo, aos poucos, corroído em suas bases de apoio. 
Dessa forma, em 1930, quando uma grande revolta 
explodiu, ele não conseguiu oferecer resistência e caiu. 
Esse episódio, conhecido como Revolução de 1930,
transformou os rumos do Brasil, que passou da condição 
de país agrário-exportador para a de urbano-industrial.
Para compreender essa importante mudança na estrutura 
nacional, portanto, é necessário avaliar cuidadosamente 
cada uma dessas novas forças e como elas
desestabilizaram o sistema político. Vamos nessa?
12
3. CONSTITUIÇÃO DE 1934
CONTEXTO
Politize!
Getúlio Vargas (ao centro) e outros líderes da chamada 
Revolução de 1930, em Itararé, São Paulo.
AS NOVAS FORÇAS SOCIAIS E POLÍTICAS
É importante destacar que a indústria brasileira se 
expandiu durante a República Velha, embora de forma 
muito lenta. Paralelamente a isso, houve o
fortalecimento da burguesia industrial, que, apesar de 
não ter contestado o regime da República Velha, era 
uma classe que passou a gozar de um prestígio social 
equiparável aos dos cafeicultores. Portanto, essa nova 
burguesia representava uma ameaçava à hegemonia 
da classe dominante, algo que não havia existido
até então.
Se teve fortalecimento da burguesia industrial, teve 
também a expansão do operariado! A população 
operária de São Paulo e Rio de Janeiro aumentou
substancialmente com o crescimento das indústrias. 
Sua insatisfação com as péssimas condições de
trabalho permitiu que essas pessoas simpatizassem 
com idéias anarquistas, socialistas e comunistas, em 
geral difundidas pelos operários imigrantes europeus.
Assim, foi surgindo gradualmente o movimento de luta 
dos trabalhadores, que faziam suas reivindicações por 
meio de greves, frequentemente respondidas com 
violência e repressão policial. A mais importante do 
período foi a Greve Geral de 1917, ocorrida em São 
Paulo, que tomou grandes proporções e obteve
repercussão nacional.
Uma outra força política essencial para a preparação da 
Revolução de 1930 foi o tenentismo, organizado por 
jovens militares de baixa patente que almejavam
reformas políticas e sociais.Durante os anos 20, esse 
movimento se ampliou significativamente, pois ganhou 
o apoio de vários setores da classe média e se tornou 
conhecido pelas inúmeras revoltas que organizou 
contra o governo.
13
Politize!
O líder tenentista mais conhecido foi o capitão
Luís Carlos Prestes, figura que abordaremos mais à 
frente ao tratar da Era Vargas (1930-1945). Chefe da 
famosa Coluna Prestes, Luís Carlos e outros
tenentistas percorreram 25 mil quilômetros a pé pelos 
sertões brasileiros em apenas 21 meses, incentivando 
a rebeldia e a revolução. Esse espírito de luta
incomodou o governo brasileiro, que passou
a perseguir e, em alguns casos, até a exilar os
líderes tenentistas.
Por último, mas não menos importante, havia as
oligarquias dissidentes. Essa expressão engloba
latifundiários, geralmente exportadores de produtos 
secundários para a economia, que, apesar de ocuparem 
o poder em seus estados, não se sentiam
representados por um sistema político preocupado em 
proteger, acima de tudo, o café. Assim, essas 
oligarquias passaram a reclamar do predomínio
absoluto exercido por São Paulo e Minas Gerais na 
esfera federal e acabaram se aliando ao tenentismo e 
outros grupos sociais para fazer oposição ao governo.
Pode-se observar com facilidade que, ao final dos anos 
20, a oposição ao regime oligárquico era forte. A partir 
de então, o fim da República Velha passou a ser apenas 
uma questão de tempo.
14
Politize!
Nas eleições para presidente de 1930, as oligarquias 
dissidentes apresentaram uma chapa de oposição ao 
candidato paulista, Júlio Prestes. O nome dessa chapa 
era Aliança Liberal, composta por integrantes minei-
ros, gaúchos e paraibanos. Seu candidato à presidência 
foi o governador do Rio Grande do Sul Getúlio Vargas. 
Suas propostas eram basicamente a anistia aos exila-
dos, o voto secreto e as reformas sociais, de modo que
conquistou o apoio dos grupos de oposição já
apresentados anteriormente. Mesmo assim, nas 
eleições, Júlio Prestes saiu vitorioso.
Com a derrota nas eleições, as oligarquias dissidentes 
e os outros grupos passaram a cogitar uma revolta 
armada, que se concretizou após o assassinato de João 
Pessoa, político paraibano da Aliança Liberal. Embora 
esse assassinato tenha ocorrido por motivos de ordem 
pessoal, a culpa foi atribuída ao governo. Iniciou-se 
uma revolução em vários estados do Brasil 
e, em apenas um mês de luta, o então presidente
Washington Luís foi deposto. Getúlio Vargas assumiu o 
comando do Governo Provisório (1930-1934).
Encerrava-se, assim, a República Velha e começava o 
período da História brasileira denominado Era Vargas 
(1930-1945).
A elite paulista, a principal beneficiada pela “máquina” 
da República Velha, foi também a mais prejudicada pela 
vitória da Revolução de 1930. Vargas, ao assumir o 
poder, depôs os governadores estaduais da época e 
passou a nomear interventores à sua maneira, de modo 
a eliminar o coronelismo. Assim, poucos meses depois 
da revolução, os paulistas organizaram uma revolta que 
buscava derrubar Vargas e seus aliados do poder. Era a 
chamada revolução constitucionalista, para os
paulistas, ou a contrarrevolução, para os getulistas, 
movimento que recebeu apoio da oligarquia cafeeira.
15
A REVOLUÇÃO DE 1930
Politize!
É importante saber que, apesar da mudança drástica de 
regime, Vargas ainda não havia promulgado uma nova 
Constituição. Diante dessa situação, os paulistas 
incluíram uma nova Carta Magna entre suas pautas, de 
forma a convencer seus inimigos políticos sobre suas 
intenções democráticas. Entretanto, o que eles
realmente queriam é que as oligarquias paulistas
retornassem ao poder, e exigiram também que Vargas
nomeasse um governador para São Paulo que fosse 
civil e paulista.
Após vários confrontos, por vezes violentos, entre civis 
e o governo, o movimento foi derrotado, mas Vargas 
atendeu ao desejo de se criar uma nova Constituição. 
Ele também nomeou um interventor paulista para o 
estado. A Assembléia Constituinte foi composta por 
diversas categorias sociais, o que fez da Constituição 
de 1934 a mais democrática que o Brasil já tivera em 
sua história até aquele momento.
Além dos tópicos mantidos da Constituição de 1891, 
como República federativa com sistemapresidencialista 
de governo, observe algumas das inovações trazidas 
por esse texto:
– Voto secreto;
– Voto feminino;
– Legislação trabalhista (previdência social, jornada de 
trabalho de 8 horas diárias, salário mínimo, férias, etc.);
– Autonomia dos sindicatos;
–Medidas nacionalistas defendendo as riquezas
naturais do país;
– Criação da Justiça Eleitoral;
– Obrigação de as empresas manterem, no mínimo, 
dois terços de empregados brasileiros.
16
A REVOLTA PAULISTA DE 1932 A CONSTITUIÇÃO DE 1934 –
PRINCIPAIS INOVAÇÕES:
Politize!
É inegável que essa Constituição, liberal e progressista 
em relação aos direitos trabalhistas, refletia, de certa 
maneira, o populismo e o nacionalismo econômico
tão característicos da Era Vargas, de forma que
Getúlio conquistou a simpatia de grande parte da
população brasileira.
Mas, o Governo Constitucional de Vargas 
(1934-1937) durou apenas três anos, devido ao golpe 
de Estado que ocorreria em 1937 e implantaria nossa 
primeira ditadura, invalidando essa Constituição.
Quer conferir as cenas dos próximos capítulos? No 
próximo, mostraremos por que a Constituição de 
1934 foi nossa Carta Magna de menor duração até
os dias atuais.
17
Politize!
18
Politize!
CARÁTER LIBERAL E PROGRESSISTA
CONSTITUIÇÃO
DE 1934
CONSTITUIÇÃO
DE 1934
Auxiliou na construção da
popularidade da figura 
política de Vargas
Caracterizou-se pelas leis 
trabalhistas, direitos
democráticos e
nacionalismo econômico
Influenciada pela
constituição alemã
da época
Essa tentativa de construir uma democracia 
com bases sólidas não foi eficiente, visto
que após três anos foi dado o golpe do
Estado Novo (1937).
A experiência democrática do Brasil só
se efetivou com a Constituição de 1946,
anos mais tarde.
Teve como causa imediata 
a revolta paulista de 1932, 
que tinha como uma de 
suas reinvindicações uma 
nova carta magna
ENTRETANTO
DESSA FORMA
Já vimos que a Constituição de 1934 durou apenas três 
anos, a Carta Magna brasileira de menor duração até hoje. 
Afinal, por que tivemos duas constituições em um
intervalo de apenas três anos? O que aconteceu para que 
essa nova fase da república fosse interrompida, dando 
espaço à Constituição de 1937? É o que vamos explicar.
Em 1937, Getúlio Vargas concretizou um golpe de estado 
que iniciaria um período de ditadura de oito anos, que se 
estendeu até 1945: o Estado Novo. Curiosamente, essa 
ditadura estava prevista por Constituição, legitimando os 
poderes absolutos do ditador, enquanto direitos humanos 
eram recorrentemente violados pelo aparelho repressor 
do Estado – a Polícia Especial. A Constituição de 1937, 
que recebeu apelido de “Polaca”, por ter sido inspirada
no modelo semifascista polonês, era extremamente 
autoritária e concedia ao governo poderes
praticamente ilimitados.
19
4. CONSTITUIÇÃO DE 1937
CONTEXTO
Politize!
Getúlio Vargas em 1940, quando estava em
vigência o Estado Novo. 
MAS POR QUE GETÚLIO DEU O GOLPE DE ESTADO?
Os principais fatores que contribuíram para que Vargas 
buscasse fortalecer seu poder pessoal através de uma 
ditadura foram o apoio da elite a esse fortalecimento, 
bem como a radicalização dos grupos de esquerda e de 
direita no período de 1934-37.
O apoio da elite, composta, principalmente, pelos
cafeicultores e industriais, se dava por motivos 
econômicos e políticos. Como, na época, o governo 
passou a comprar os excedentes de café de modo a 
evitar abalos na economia brasileira, os cafeicultores 
passaram a simpatizar com a idéia de um
Executivoforte, que continuasse a auxiliá-los. Já os
industriais precisavam do apoio do governo para que
continuassem crescendo, o que explica o fato de 
também não terem visto com maus olhos o
fortalecimento do Executivo.
As razões políticas para esse apoio se resumiam, tanto 
por parte dos cafeicultores quanto dos industriais, ao 
medo da “ameaça comunista” e ao receio em relação 
aos possíveis resultados de um maior engajamento 
político do operariado e da classe média.
Para que entendamos o pretexto utilizado por Vargas 
ao dar o golpe, é necessário analisar a radicalização 
política ocorrida tanto na direita, quanto na esquerda 
durante os anos que o precederam, bem como a
postura do governo diante dessa oposição.
20
Politize!
OS CHOQUES ENTRE A DIREITA E A ESQUERDA
Em 1934, surgiu no Brasil uma organização política de 
caráter fascista denominada Ação Integralista
Brasileira (AIB). O comando desse movimento estava 
nas mãos de Plínio Salgado, político e intelectual, e suas 
propostas de Estado forte, governo autoritário e
sociedade militarizada foram inspiradas nos governos 
nazifascistas da Itália, Alemanha, Espanha e Portugal. 
Conforme de costume nos regimes totalitários, o nacio-
nalismo também estava presente: os membros
da AIB se vestiam com camisas verdes e se
cumprimentavam levantando o braço direito e
gritando a palavra indígena “Anauê”, remontando, assim, 
aos índios nativos do Brasil.
Em reação ao integralismo, foi formada, em 1935, a 
Aliança Nacional Libertadora (ANL). Compunham esse 
movimento comunistas, socialistas e líderes sindicais 
que desejavam o governo popular, a proteção
aos pequenos proprietários, a nacionalização das
empresas estrangeiras, entre outras coisas. Diante disso, 
poucos meses depois e sob influência das classes mais 
conservadoras, a Câmara aprovou a Lei de
Segurança Nacional. Esse foi respaldo legal que
permitiu a Vargas fechar a ANL. A ANL tentou reagir 
através de um levante armado – a Intentona
Comunista –, que falhou por ter tido pouca adesão de 
seus membros.
Em resposta ao levante, Vargas decretou estado de sítio 
e a Polícia Especial iniciou uma repressão sistemática e 
violenta. A partir de então, quaisquer
elementos que oferecessem resistência ao governo, 
além dos comunistas, foram perseguidos, presos e, não 
raro, torturados ou assassinados.
21
Politize!
O GOLPE DE 1937 A CONSTITUIÇÃO DE 1937:
PRINCIPAIS TÓPICOS
Em setembro de 1937, os jornais anunciaram que o
Exército havia descoberto um plano comunista para a 
tomada do poder. Essa situação havia sido forjada por 
um militar integralista pertencente ao Exército, que 
criou o boato – com o nome de Plano Cohen – de que os 
comunistas, nos dias subsequentes, incendiariam
igrejas, desrespeitariam os lares, promoveriam greves 
e massacrariam líderes políticos. Aproveitando-se 
dessa (falsa) acusação e argumentando que era preciso
defender a liberdade, Vargas instalou a ditadura do 
Estado Novo. Poucas semanas depois do suposto plano 
comunista ter vazado na imprensa, Getúlio desferiu o 
golpe, fechando o Congresso Nacional e anunciando 
no rádio o “nascer da nova era”.
Dessa forma, a Constituição de 1937, que já estava 
pronta há meses durante a preparação do golpe, foi 
imposta ao povo. Seus tópicos principais estabeleciam:
– Fechamento do Poder Legislativo nos três níveis 
(Congresso Nacional, Assembléias Estaduais e 
Câmaras Municipais);
– Poder Judiciário subordinado ao Executivo;
– Total liberdade de ação à Polícia Especial;
– Propaganda a favor do governo no rádio mediadas 
pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda);
– Eliminação do direito de greve;
– Reintrodução da pena de morte;
– Estados seriam governados por interventores
nomeados por Vargas.
22
Politize!
Nota-se, assim, que a constituição de 1937 se mostrou 
como o respaldo legal para o regime autoritário do 
Estado Novo e um retrocesso, se comparada à anterior, 
em termos de democracia e direitos humanos. Vale 
lembrar que os crimes e as perseguições a quem se 
opôs a essa forma de governo continuaram até o fim do 
regime e, quando este chegou ao fim, as atrocidades 
cometidas ficaram impunes.
No próximo capítulo, abordaremos o fim do Estado 
Novo dentro do contexto do pós-Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) e a instalação da
Democracia Populista. 
23
Politize!
24
A POLACA
CONSTITUIÇÃO
DE 1937
CONSTITUIÇÃO
DE 1937
Politize!
Simbolizou o golpe 
do Estado Novo
Retrocesso em termos
de Democracia e 
Direitos Humanos
Antecedida pelos choques 
entre comunistas (ANL) 
e integralistas (AIB)
Respaldo legal do
Governo autoritário
Proporcionou liberdade de ação 
à polícia especial (aparelho 
repressor do governo)
Concentrou o poder nas mãos 
de Vargas com o fechamento 
do Congresso
Vimos no capítulo anterior que o Estado Novo
interrompeu nosso período democrático depois de apenas 
três anos, e instituiu um aparelho repressor que impunha 
limites às liberdades individuais. Continue conosco neste 
capítulo e entenda por que a nossa primeira ditadura 
chegou ao fim, além de, é claro, entender como surgiu a 
Constituição de 1946.
Conforme afirmamos no capítulo anterior, a Segunda 
Guerra Mundial (1939-1945) trouxe consequências para 
a política do Brasil. Nesse importante conflito, os países 
rivais estavam organizados em dois blocos: o do Eixo
(composto pela Alemanha, Itália e Japão) e o dos Aliados 
(formado pela União Soviética, Inglaterra, França e, mais 
tarde, Estados Unidos).
25
5. A CONSTITUIÇÃO DE 1946
CONTEXTO
1) O BRASIL E A SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL (1939-1945)
Politize!
Getúlio Vargas (abaixo, terceiro da esquerda para a 
direita) e o presidente dos Estados Unidos Franklin 
Delano Roosevelt, à sua esquerda, em 1943. 
Foto: Reprodução/Plano Brazil.
Diante desse cenário, Vargas manteve o Brasil neutro 
em um primeiro momento - ou seja, sem apoiar
abertamente nenhum dos blocos. Apesar disso, dentro 
do governo havia personalidades políticas francamente 
favoráveis aos nazistas, tais como o general
Eurico Gaspar Dutra e o chefe da Polícia Especial,
Fillinto Müller.
A partir de 1942, entretanto, essa situação de
neutralidade mudou. O Brasil entrou na guerra ao lado 
dos Aliados, chegando a enviar milhares de soldados 
para combate na Itália. Os motivos que levaram Getúlio 
a tomar essa atitude foram, principalmente:
– a intenção de não romper as relações diplomáticas 
com os EUA, país que vinha financiando a construção 
de grandes obras no Brasil (como a usina siderúrgica de 
Volta Redonda – RJ);
– o fato de a opinião pública ser mais a favor dos
Aliados do que do Eixo, após os alemães terem atacado
vários navios mercantes brasileiros.
É importante notar que esse posicionamento ao lado 
dos Aliados trazia, consigo, uma contradição ao regime 
do Estado Novo: o Brasil era uma ditadura de caráter 
nazifascista, ao mesmo tempo em que suas tropas
combatiam o nazifascismo na Europa.
Assim, pode-se afirmar que a entrada do Brasil na 
guerra tornou questionável o esquema repressivo 
montado por Vargas, de forma que surgiram, a partir
de 1944, inúmeras manifestações a favor
da redemocratização.
Pressionado, Vargas cedeu: convocou eleições
presidenciais para o final de 1945, aceitando a
formação de novos partidos políticos. Entretanto, 
antes mesmo de as eleições chegarem, a oposição, 
liderada pelos militares Gaspar Dutra e Góis Monteiro, 
derrubou Vargas, forçando-o a renunciar após ter
nomeado seu irmão (Benjamim Vargas) para o cargo de 
chefe de polícia. Assim, encerrou-se o Estado Novo e 
teve início a redemocratização do país, com sua
primeira presidência (1946-1951) exercida pelo
general conservador Eurico Gaspar Dutra.
26
Politize!
Conforme afirmamos acima, após a queda do Estado 
Novo surgiram novos partidos políticos e, coma
mudança de regime (de ditadura para democracia) 
fez-se necessária uma nova Constituição. Embora 
todos os três partidos de maior porte que surgiram a 
partir de então tenham contribuído de alguma forma 
para a elaboração da nova Constituição, é importante 
ressaltar que eles possuíam diferenças ideológicas 
entre si.
De um lado, os conservadores estavam representados 
pela União Democrática Nacional (UDN) e pelo
partido Social Democrático (PSD). Nesse grupo, 
estavam a burguesia, os industriais, a alta classe média, 
grandes comerciantes e proprietários de terras. Esses 
setores da sociedade defendiam a implantação de um
capitalismo totalmente aberto ao capital estrangeiro e 
às grandes companhias internacionais.
Do outro lado, estavam os progressistas. Organizados 
no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e
representados em grande parte pelos operários,
defendiam o capitalismo nacionalista, que seguisse os 
interesses do Brasil e não das grandes potências. A 
apresentação desses grupos opostos também é
importante para que você possa entender, mais à 
frente, a implantação da ditadura militar de 1964.
Sob controle desses partidos, em 1946, a Assembleia 
Constituinte aprovou a nova Carta Magna brasileira. 
Os aspectos da Constituição de 1946 se
assemelhavam aos das Cartas Magnas de 1891 e 
1934, e incluíam:
27
2) AS NOVAS FORÇAS POLÍTICAS QUE DERAM ORIGEM À CONSTITUIÇÃO DE 1946
Politize!
– Poder Executivo exercido pelo Presidente da
República, eleito pelo povo para um mandato de
cinco anos;
– Poder Legislativo constituído pelo Senado Federal 
e Câmara dos Deputados. Tanto os senadores quanto 
os deputados eram eleitos pelo povo; os primeiros, na 
quantia de três por estado, e os segundos, de forma 
proporcional à população de cada estado;
– Poder Judiciário formado por tribunais federais de 
cada estado e pelo Supremo Tribunal Federal;
– Autonomia política e administrativa para
os estados.
Com a deposição de Vargas, a condução do processo 
para a redemocratização foi feita pela mesma elite 
política que comandava o regime varguista. Assim, a 
restauração democrática não produziu uma
substituição radical dos grupos no poder, mesmo que 
tenha acontecido uma reformulação político-
institucional. Como esse processo foi conduzido pela 
mesma elite do regime anterior, a formulação da
Constituição de 1946 deixou praticamente intacto 
muitos pontos da estrutura institucional do
Estado Novo.
O fato desse curto período democrático ter
desmoronado apenas 19 anos mais tarde nos mostra 
que a nova democracia liberal brasileira apresentava 
28
Politize!
falhas e não possuía bases sólidas que a fizessem mais 
permanente. Nesse sentido, é importante notar que o 
candidato à presidência eleito em 1945, o general
conservador (PSD) Gaspar Dutra, que veio a assumir a 
presidência em 1946, havia sugerido, no contexto da 
Segunda Guerra, que entrássemos no conflito ao lado 
dos nazistas. Ele também esteve envolvido na
montagem do Estado Novo. 
A nova estrutura política estabelecida a partir de 1946 
carregava muitos aspectos do sistema anterior. O 
cenário político continuou dominado pelas mesmas 
elites e a ascensão de novos partidos era dificultada de 
várias formas. O período da redemocratização
mostrava-se, assim, como uma forma de continuação 
do sistema político dominado pelas mesmas elites
do getulismo. 
A Constituição de 1946 pode ser vista como liberal e 
adequada ao contexto da Redemocratização. No
entanto, seus itens começaram a ser considerados
inválidos a partir de 1964, com a criação dos Atos
Institucionais do Regime Militar.
Agora que você entendeu toda a contradição por 
trás da Constituição de 1946, mostraremos no
próximo capítulo como esse cenário influenciou a 
implantação da ditadura de 1964, a mais repressiva 
que já tivemos em nossa história e essencial para a 
compreensão dos dias atuais.
29
Politize!
CONSTITUIÇÃO
DE 1946
CONSTITUIÇÃO
DE 1946
ENTRETANTO:
VIGENTE NO PERÍODO
ENTRE DITADURAS:
Regime Militar (1964 - 1985)
Estado Novo (1930 - 1945)
ORGANIZADA POR MEMBROS
DOS NOVOS PARTIDOS
POLÍTICOS:
PSD, UDN, PTB
LIBERAL
POSSUÍA CARÁTER
Tripartição de poderes
seguida à risca
Caiu por terra anos mais tarde, com a criação dos Atos 
Institucionais do Regime Militar e Constituição de 1967.
Autonomia política e 
administrativa para 
os estados
30
Politize!
A década de 1950 teve fundamental importância para a 
implantação do regime militar em 1964. Entender essa 
ditadura é essencial para o debate sobre o Brasil
contemporâneo. Neste capítulo, vamos explicar o
contexto em torno da Constituição de 1967 e como foi 
esse episódio tão comentado da história brasileira.
No último texto, falamos sobre o surgimento de grupos 
políticos com interesses opostos no contexto do período 
democrático de 1945 a 1964. Esses grupos,
representados de um lado pelos progressistas e do outro 
pelos conservadores, acirraram a disputa pelo comando 
político nacional após a presidência do general Gaspar 
Dutra (1946-1951). O conservadorismo de Dutra, com 
sua vigilância sobre os sindicatos, repressão a protestos 
contra o governo e manutenção dos salários a níveis 
baixos, foi interrompido com a vitória de Getúlio Vargas, 
ex-presidente e líder progressista, nas eleições de 1950.
31
6. A CONSTITUIÇÃO DE 1967
CONTEXTO
A LUTA PELO PODER NOS ANOS 1950
Politize!
Tanques na Avenida Presidente Vargas em 1968.
Foto: Correio da Manhã.
Vargas voltou ao poder como candidato do PTB e, para 
isso, utilizou-se nas campanhas eleitorais do apelo às 
massas trabalhadoras e setores da classe média.
Prometia o aprofundamento da política social e
nacionalista do Estado Novo, que retornaria, agora, em 
um contexto democrático.
Essa campanha foi imbatível para seus adversários e 
assim, Getúlio voltou ao poder em 1951. É importante 
atentarmos para o fato de que, em sua campanha 
eleitoral, Vargas fez alianças com parte dos
conservadores, apesar de ser progressista. Desse 
modo, contraiu “dívidas” que precisavam ser pagas, 
principalmente com os conservadores que
colaboraram com sua vitória em São Paulo e Minas 
Gerais. Por isso, Getúlio nomeou ministros
conservadores e, consequentemente, surgiu a primeira 
contradição de seu governo: apesar de progressista, o 
ministério era conservador.
A partir desse momento, ocorreram intensas lutas 
entre progressistas e conservadores, com vitórias para 
os dois lados. A grande vitória dos conservadores pode 
ser vista como o fim do apoio dos militares a Getúlio, 
classe social que, apesar de composta principalmente 
por conservadores, possuía elementos progressistas 
que foram sendo esmagados pelos rivais.
Já a principal vitória dos progressistas foi a criação da 
Petrobrás, empresa estatal de exploração petrolífera 
cujo surgimento foi amplamente contestado pelos
conservadores. Esses últimos eram a favor da
intervenção de multinacionais e do governo dos
Estados Unidos nessa empreitada, o que, na visão dos 
progressistas, faria do Brasil um país ainda
mais dependente das grandes potências. A opinião 
pública se mostrou favorável à Petrobrás, de forma que
a derrota dos conservadores nesse episódio
foi inevitável.
Entretanto, a retaliação conservadora não demorou 
para chegar: a grande imprensa, o capital estrangeiro, a 
burguesia nacional, militares e a UDN se uniram em 
uma dura ofensiva contra o governo Vargas, sob a
liderança do jornalista Carlos Lacerda. Essa campanha 
tinha por objetivo implantar, já em 1954, um regime
militar, fato que Getúlio adiou por dez anos através
de seu suicídio.
32
Politize!
Dentro do contexto dessa ofensiva contrária ao
governo progressista, um incidente mudou os rumos 
da História brasileira: na madrugada de 5 de agosto de 
1954, Carlos Lacerda sofreu um atentado, no qualmorreu o major da Aeronáutica responsável por sua 
proteção. Esse incidente ficou conhecido como o 
“Atentado da Rua Tonelero”. O inquérito conduzido 
pela Aeronáutica apresentou, nos dias subsequentes, 
Gregório Fortunato como o mandante do crime: nada 
mais, nada menos que o chefe da guarda pessoal de 
Getúlio. Em outras palavras, os progressistas teriam 
supostamente encomendado a morte de Lacerda, e
falharam ao acertarem o major, em vez de atingir o seu 
alvo. A repercussão desse incidente foi extremamente 
prejudicial a Getúlio, que perdeu todo o apoio político 
que lhe restava, apesar de nunca ter sido provado o
envolvimento de Vargas ou de seus assessores com o 
crime. Forçado a renunciar, Vargas suicidou-se na 
manhã de 24 de agosto de 1954.
A notícia de sua morte e a publicação de sua
carta- testamento abalaram o país: multidões saíram às 
ruas nas principais capitais. Amedrontados com essa 
reação, os conservadores recuaram em seu plano de 
instalar uma ditadura militar. Assim, concordaram com 
a posse do vice-presidente Café Filho. Foi assim que a 
tentativa de golpe fracassou.
33
A TENTATIVA DE GOLPE EM 1954
Politize!
Muitos teóricos defendem a ideia de que o período que 
precedeu o golpe militar brasileiro de 1964 foi
marcado por um comprometimento no funcionamento 
operacional político brasileiro, em um cenário
dominado por disputas entre partidos políticos, com 
pouca ou nenhuma oportunidade para a adoção de 
novas políticas, mesmo aquelas urgentemente 
necessárias. Assim, o golpe militar teria resultado 
sobretudo de uma paralisia decisória em que se
encontrava a política brasileira.
A baixa produção do Congresso foi notada já no
governo de Jânio Quadros, que afirmou que o Brasil 
era ingovernável com o Congresso que apresentava, 
convencendo-se de que nenhum Presidente poderia 
governar com sucesso havendo tantas restrições 
impostas pelo Congresso Nacional. Esse Congresso 
era governado por uma maioria conservadora, e a ideia 
que se seguia era de que nenhum programa
governamental poderia ser implantado enquanto a 
iniciativa do Executivo dependesse de aprovação
do Legislativo.
Pela Constituição de 1946, a maioria das decisões
envolvendo a alocação de bens e valores à sociedade 
deveria ser tomada mediante consulta ao Congresso. 
Assim, qualquer proposta de decisão coletiva, para ser 
aprovada, tinha que ser encaminhada ao Legislativo. 
Até mesmo as medidas de curto prazo deveriam ser 
autorizadas pelo Legislativo antes de entrarem em
funcionamento, e a implementação de qualquer
política era acompanhada de perto pelo Congresso. Em 
praticamente nenhuma área o executivo dispunha de 
“carta branca” para agir.
34
A PARALISIA DECISÓRIA DA POLÍTICA BRASILEIRA
Politize!
Nos anos que se seguiram após o fim do governo de 
Café Filho e ainda no período democrático, foram três 
os presidentes que o Brasil teve: Juscelino Kubitschek 
– conhecido como JK (1956-1961) –, Jânio Quadros 
(1961) e João Goulart – “Jango” (1961-1964).
JK iniciou um modelo econômico baseado na
industrialização por substituição de exportações, que 
levou o país à crise econômica, pois os grandes grupos 
internacionais se recusavam a fornecer o capital e a 
tecnologia necessária para isso, já que os produtos
brasileiros substituiriam os seus no mercado
internacional. Para continuar fornecendo recursos ao 
Brasil, os capitalistas estrangeiros exigiam que o país
adotasse medidas que lhes dessem o controle da 
política e economia do Brasil. Anos mais tarde, o regime 
militar reataria esse laço internacional, adotando
as medidas necessárias para tal aliança, trazendo
capital e tecnologia para o país em um período
político autoritário. 
Jânio Quadros foi eleito depois do mandato de JK e, 
apesar do sucesso das eleições, perdeu o apoio do povo 
ao adotar medidas impopulares. Tomou também
medidas que foram contrárias aos interesses dos
conservadores, e sua intenção propagandística de se 
alinhar com os países comunistas desagradou os
progressistas. Com todas as suas bases de apoio
perdidas, Jânio renunciou.
35
A PREPARAÇÃO DO GOLPE DE 1964
Politize!
Com a renúncia de Jânio, ministros militares se mostraram 
contrários à posse do vice-presidente João Goulart, que 
havia sido eleito diretamente pelo povo - na época, a 
votação para vice era separada da votação para presidente. 
Entretanto, as próprias Forças Armadas possuíam
contradições internas (nem todos os militares estavam 
contra Jango nesse momento; alguns queriam que ele 
tomasse posse) e assim, essa outra tentativa de golpe
fracassou em 1961. Chegou-se, então, a uma solução
conciliatória: o poder seria dado a Jango, mas seria restrito 
pela adoção do sistema parlamentarista no Brasil. Assim, 
foi feito um Ato Adicional à Constituição de 1946,
estabelecendo o parlamentarismo no Brasil. Mas, poucos 
meses mais tarde, o parlamentarismo foi extinto,
através de um plebiscito, de forma que Jango, agora livre
da burocracia, tornou-se presidente com plenos
poderes. Assim ele conseguiria por em prática o ponto
central de sua política: as reformas de base.
Jango queria promover muitas reformas: agrária, do 
sistema bancário, do processo eleitoral, do sistema 
tributário e da legislação que dizia respeito ao capital 
estrangeiro. O objetivo era reformar o Brasil como um 
todo, defendendo para isso uma reforma da Constituição 
de 1946.
Entretanto, assim que anunciou seus planos, Jango foi
acusado de ser um “agente do comunismo internacional” 
infiltrado no Brasil, o que era uma grave acusação no
contexto da Guerra Fria. Mesmo assim, ele tentou
implantar sua política reformista. Os conservadores, 
entretanto, apoiados pelo governo estadunidense através 
da Operação Brother Sam – uma empreitada que visava 
dar apoio logístico e militar aos golpistas, mas que não 
chegou a ser necessária –, derrubaram João Goulart em 31 
de março de 1964. Era o início da ditadura militar. Goulart 
teve de abandonar o país e partiu para o exílio no Uruguai, 
onde morreria alguns anos mais tarde. Com Jango
removido do poder, o marechal Castelo Branco assumiu a 
presidência pouco tempo depois. 
36
A SUCESSÃO DE JÂNIO QUADROS A POLÍTICA REFORMISTA DE JOÃO GOULART
Politize!
Logo após os militares tomarem o poder, a
Constituição de 1946 começou a ser invalidada pouco 
a pouco, através dos Atos Institucionais (AIs), decretos 
autoritários que davam ao presidente poderes
praticamente absolutos, apesar de haver uma
Constituição em vigor.
O AI-1, decretado poucos dias após o golpe e redigido 
pelo autor da Constituição Polaca de 1937, dava ao
Executivo poderes para cassar mandatos
parlamentares e suspendia os direitos políticos dos 
cidadãos por 10 anos.
O AI-2, também de 1964, decretou o fim dos partidos 
políticos e decretou que os crimes contra a segurança 
nacional seriam julgados por tribunais militares.
O AI-3, de 1966, eliminou as eleições diretas
para governador.
O AI-4 determinou as regras para que fosse aprovada a 
Constituição de 1967, projeto dos militares que
fortalecia tremendamente o Poder Executivo e que foi 
aprovada sem discussões.
O AI-5, o mais violento e duradouro de todos os atos 
baixados pela ditadura, suspendia o habeas corpus, 
dava ao presidente poderes para fechar o Congresso 
Nacional por tempo ilimitado e de suspender os
direitos políticos de qualquer cidadão. Qualquer 
pessoa atingida pelos efeitos do AI-5 estava proibida 
de reclamar na Justiça.
Observa-se que, nos anos que sucederam 1964,
a expansão do autoritarismo foi constante.
Paralelamente às medidas autoritárias, figuravam a 
repressão e a violência, com prisões arbitrárias,
demissões em massa de funcionários, cassações de 
mandatos e vinganças pessoais. O regime foi
endurecendo cada vez mais, mostrando que o grupo 
que tomou o poder pretendia ficar nele por
muito tempo.
Contudo,após dez anos de endurecimento 
(1964-1974), a ditadura iniciou o processo de 
abertura política (1974-1985). No próximo capítulo, 
você confere mais detalhes sobre o Regime Militar
e a crise que culminou no fim do regime e na
promulgação da Constituição de 1988. 
37
OS ATOS INSTITUCIONAIS E A CONSTITUIÇÃO DE 1967
Politize!
CONSTITUIÇÃO
DE 1967
CONSTITUIÇÃO
DE 1967
38
Politize!
Teve início com o Golpe de 1964 em que
conservadores derrubaram Jango apoiados pelos 
EUA (Operação Brother Sam)
ELABORADA PELO 
REGIME MILITAR 
Reunia as medidas ditatoriais dos atos institucionais 
os quais garantiam o autoritarismo através de 
princípios democráticos, como:
CONCESSÃO DE AMPLOS PODERES
ÀS FORÇAS ARMADAS:
Poder de suspender 
direitos políticos
Poder de cassar 
mandatos legislativos
Suspensão do 
Habeas Corpus
Fim dos partidos 
políticos, etc.
E chegamos aos nossos dias! A Constituição de 1988, con-
hecida como Constituição Cidadã, é a que rege todo o 
ordenamento jurídico brasileiro hoje. Vamos aprender 
como chegamos até essa Constituição?
Para começar, vamos estudar um pouco mais sobre o 
regime militar e o período que antecedeu a volta da 
democracia no Brasil. O Regime Militar pode ser
didaticamente dividido em 2 fases: a de expansão
do autoritarismo (1964-1974) e a de abertura política 
(1974-1985).
39
7. CONSTITUIÇÃO DE 1988
CONTEXTO: AUGE E DECLÍNIO DA
DITADURA MILITAR
Politize!
Manifestação das Diretas Já, em Brasília.
Foto: Arquivo da Agência Brasil.
Quanto a essa primeira fase, cabe destacar que o
sistema partidário do país foi extinguido pelo AI-2, que 
determinou o fim dos partidos até então existentes. 
Após esse decreto, as autoridades federais permitiram 
a formação de dois novos partidos: a ARENA (Aliança 
Renovadora Nacional), que apoiava o governo, e o 
MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que o
combatia. A ARENA era amplamente majoritária no 
Congresso e dispunha de total apoio oficial do governo, 
enquanto o MDB estava permanentemente ameaçado 
de ter seus deputados e senadores cassados.
Nessa época já aumentava a resistência à ditadura, 
apesar da repressão e da censura à imprensa. Apesar 
de grande parte dos opositores do regime terem 
optado pelo silêncio, muitos se aliaram ao MDB como 
forma de resistência àquela situação de controle
nacional por parte dos militares, enquanto outros 
optaram pela realização de movimentos de guerrilha 
urbana. Entretanto, a luta armada acabou por
fortalecer o regime, pois deu-lhe a oportunidade de 
criar métodos cruéis no combate aos opositores, tais 
como a tortura, prisão política e, não raro, assassinatos. 
Os protestos estudantis também foram marcantes. Um 
acontecimento notável foi o assassinato do estudante 
Edson Luís pela polícia, a tiros, durante uma
manifestação no Rio de Janeiro.
Entre as personalidades políticas, a oposição ao regime 
se deu através da Frente Ampla. Políticos como
Juscelino Kubitschek, João Goulart (no exílio) e até 
mesmo Carlos Lacerda se organizaram nesse
movimento, que acabou extinto em 1968 pelo general 
Costa e Silva.
40
A EXPANSÃO DO AUTORITARISMO (1964-1974)
Politize!
Ao se falar sobre a fase de expansão do autoritarismo, é 
impossível não abordar o famoso “milagre econômico”. 
No governo do general Emílio Garrastazu Médici 
(1969-1974), foram comuns os slogans de “ninguém 
segura este país”, “este é um país que vai pra frente” ou 
ainda, “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Durante esse governo, 
tivemos um crescimento econômico sem precedentes 
na história brasileira, que nos levou ao status de
país campeão de crescimento econômico mundial na 
década de 1970 e que fez com que nosso PNB
(Produto Nacional Bruto) chegasse a ser o décimo
do mundo.
41
O “MILAGRE ECONÔMICO”
Politize!
 Não parece estranho que Lacerda, que colaborou com 
a subida dos militares ao poder, tenha passado para a 
resistência ao regime? De fato, essa mudança de
postura foi muito recorrente entre os que apoiaram a 
implantação da ditadura. Muita gente se assustou com 
a longa permanência dos militares no poder e com o 
caráter cada vez mais violento do regime. Essa
situação levou Lacerda a afirmar: “na medida em que 
ajudei esses aventureiros a tomarem o poder, tenho o 
dever de mobilizar o povo para corrigir esse erro do 
qual participei”.
VOCÊ SABIA?
As causas para esse “milagre” foram internas, mas
principalmente externas. O governo concedeu, nesse 
período, muitos incentivos fiscais, favorecendo novos 
investimentos por parte de empresários brasileiros, 
além de investir muitos recursos em nossa economia. 
Mas os principais responsáveis por esse crescimento 
foram fatores externos. No início dos anos 1970, o 
comércio internacional entrou em uma fase muito 
dinâmica, de modo que as exportações brasileiras 
aumentaram muito, colaborando muito para o
crescimento. Além disso, as autoridades concederam 
uma vasta gama de privilégios às multinacionais, que 
passaram a investir em peso no Brasil. Enquanto isso, 
os bancos internacionais concediam empréstimos 
gigantescos, o que também alimentou esse rápido 
crescimento na economia brasileira.
O período do milagre foi, habilidosamente, explorado 
pelos governos militares, por meio de grandes
propagandas em prol do regime. A vitória da seleção 
brasileira na Copa do Mundo de 1970 acabou se
tornando um verdadeiro ícone desse momento de 
nacionalismo e otimismo. Foi também nessa época que 
foram construídas obras públicas faraônicas, como a 
Transamazônica, a ponte Rio-Niterói e a Usina 
Hidrelétrica de Itaipu. Os projetos-impacto, de grande 
efeito propagandístico para o regime, também estavam 
presentes, como o Mobral (para alfabetização de
adultos) e o Rondon (para assistência médico-sanitária 
a populações carentes).
42
Politize!
Apesar desse crescimento ter sido real, em poucos 
anos a economia brasileira entrou em declínio e o
“milagre econômico” ruiu. O quadro de recessão que 
surgiu após esse período de crescimento acelerado 
continuou após o fim do Regime Militar, mantendo-se 
até o final do século XX e início do século XXI. A classe 
média, que durante o milagre podia comprar 
automóveis, televisão a cores e equipamentos de som, 
passou a ter que fazer filas nos supermercados e
açougues para comprar alimentos, antes que a
hiperinflação corroesse o valor da moeda.
Uma das causas para o fim do milagre foi a falta de 
preocupação com os aspectos sociais do país. Em
outras palavras, o crescimento não trouxe
desenvolvimento. Isso porque a esmagadora maioria 
dos brasileiros não se beneficiou do crescimento 
econômico, de forma que as camadas mais ricas, nessa 
época, tenham ficado mais ricas, enquanto as mais 
pobres permaneceram na pobreza. Durante o milagre, 
não produzimos o que era fundamental para nossa 
população, mas sim o que era lucrativo para as
multinacionais. Contraditoriamente, enquanto 
exportávamos centenas de milhares de toneladas de 
soja (um dos alimentos mais nutritivos), grande parte 
da população sofria de subnutrição.
Quando a euforia da economia mundial se conteve, a 
partir da crise do petróleo de 1973, as nossas
exportações caíram. Para que nossas indústrias
continuassem a vender seus produtos, seria necessário 
um grande mercado interno, o que não era o nosso 
caso. A classe média, a essa altura, já estava
“empanturrada” de bens de consumo duráveis, tais 
43
O FIM DO “MILAGRE”
Politize!
como automóveis e televisões, e não tinha mais 
condições de consumir a grande quantidade de
produtos que entrava diariamente no mercado. Já a 
classe baixa, que nunca teve condições de consumir 
esses bens de consumo, obviamente não poderia 
fazê-lo agora, por causa dos baixos salários.
A consequência dessa queda de consumo foi produção 
industrial estagnada, arrocho salarial da classe média,desemprego generalizado, inflação galopante e dívida 
externa absurdamente elevada.
Diante desse cenário melancólico, o regime militar 
recorreu a uma intensa privatização do Estado, na
tentativa de deslocar os prejuízos da recessão para o 
setor privado. Isso permitiu que pequenos grupos 
econômicos controlassem segmentos do Estado
buscando seu exclusivo benefício, o que ajudou a
estagnar o desenvolvimento brasileiro e acabou por 
agravar a crise, que se estendeu por muitos anos após o 
fim do regime. Foi nessa época que surgiram as raízes 
das privatizações de que tanto ouvimos falar hoje.
44
Politize!
A partir do governo Ernesto Geisel (1974-1979),
percebeu-se que se a ditadura continuasse como 
estava, a insatisfação ficaria tão generalizada que 
poderia levar à sua queda. Isso porque a economia só 
se deteriorava com o fim do “milagre”, a sociedade civil 
estava cansada da falta de liberdade política e as Forças 
Armadas começavam a se desgastar devido à sua longa 
permanência no poder.
Assim, o governo optou por promover a abertura
política. É importante ressaltar que essa liberalização 
do regime não visava restabelecer a democracia no 
Brasil, mas sim dar condições ao regime de sobreviver 
em uma época de dificuldades políticas e econômicas.
Desse modo, a repressão policial aos poucos diminuiu, 
os atos institucionais foram suspensos, o movimento 
estudantil se reorganizou, o sistema eleitoral foi
democratizado, a imprensa se libertou da censura, os 
exilados e presos políticos foram anistiados
(perdoados) e permitiu-se a formação de novos
partidos políticos.
Em meio à liberação de novos partidos, ocorrida em 
1979, os que apoiavam o governo – antiga ARENA – 
permaneceram unidos em um único partido, o PDS 
(Partido Democrático Social), enquanto o MDB se 
dividiu em PMDB (Partido do Movimento Democrático 
Brasileiro), PT (partido dos Trabalhadores) e outros.
Sobre a Lei da Anistia, aprovada em 1979, é importante 
dizer que não somente os presos e exilados políticos 
foram anistiados, mas também os agentes de órgãos de 
segurança do Estado que cometeram crimes de abuso 
do poder, tortura e assassinato.
No ano de 1980, foi aprovada emenda constitucional 
que restabelecia as eleições diretas para governador. 
Isso mostra que as proporções da abertura política 
estavam aumentando, o que desagradava grupos mais 
conservadores. O episódio do Riocentro é um ícone 
dessa época do país: no feriado do dia do trabalho,
militares ligados aos órgãos de repressão tentaram, 
sem sucesso, explodir uma bomba em um show que 
contaria com a presença de grandes nomes da música 
45
A ABERTURA POLÍTICA
Politize!
popular e milhares de pessoas. Por um “acidente de 
percurso”, a bomba explodiu no colo do sargento, 
matando-o e ferindo gravemente o capitão que estava 
ao seu lado em um carro.
Esse episódio contribuiu muito para o desgaste do
governo, inclusive entre os próprios militares. Não é 
exagerado dizer que apressou o fim do regime. A 
oposição se intensificou, endurecendo sua posição, e 
seu movimento mais significativo foi a famosa
campanha das Diretas Já, que começou depois que o 
deputado Dante de Oliveira apresentou projeto de 
emenda constitucional que instituiria eleições diretas 
para presidente em 1984. O projeto não foi aprovado 
no Congresso, devido a uma mobilização do PDS e
particularmente do então presidente desse partido,
o senador José Sarney. A participação popular na
Diretas foi imensa, de modo que até hoje é considerado 
um dos maiores movimentos de massas já visto na
história do Brasil.
Mesmo com a pressão popular, as eleições para
presidente de 1985 foram indiretas (o Congresso 
escolheu o presidente). O PMDB lançou como
candidato à presidência o governador de Minas Gerais 
Tancredo Neves e à vice-presidência, José Sarney, que 
se desligou do PDS e se filiou ao PMDB. Enquanto isso, 
o PDS escolheu como candidato Paulo Maluf.
A opinião pública apoiou abertamente a candidatura de 
Tancredo, que acabou sendo eleito pelo Colégio
Eleitoral. Assim, sua vitória acendeu muitas
esperanças. Surgiu, nessa época, a expressão “Nova 
República” para denominar o regime que substituiria a 
ditadura militar. Significava a esperança de que, a partir 
do restabelecimento da democracia, caminhássemos 
para uma condição de menor desigualdade social, 
crescimento econômico e combate à corrupção e à 
inflação.
E então, subitamente veio a doença e a morte de Tan-
credo. Perplexa, a população assistiu à posse de Sarney 
para a presidência da República. Sarney havia apoiado a 
ditadura, fora senador pela ARENA, presidente do PDS 
e principal articulador da derrota da emenda Dante de 
Oliveira. Essa situação permite que questionemos a 
eficácia desse processo de redemocratização.
46
Politize!
Feita essa revisão da ditadura militar, podemos falar da 
Constituição de 1988, que está vigente até hoje! Em 
1986, durante a presidência de Sarney, houve eleições 
para o Congresso Nacional (deputados e senadores). Os 
559 eleitos formaram a Assembleia Constituinte, que 
elaborou a nova Constituição entre 1987 e 1988. A
maioria dos constituintes eram de partidos do chamado 
Centro Democrático, partidos como PMDB, PFL, PTB e 
PDS. O presidente da Constituinte foi o deputado Ulysses 
Guimarães, do PMDB. Entre os constituintes também 
estavam figuras importantes, como os futuros presidentes 
Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva
e Michel Temer.
O resultado de mais de 19 meses de assembleia foi a
Constituição de 1988, apelidada de cidadã. É uma
das mais extensas constituições já escritas, com 245
artigos e mais de 1,6 mil dispositivos. Mesmo assim, ela
é considerada incompleta, pois vários dispositivos
que dependem de regulamentação ainda não entraram
em vigor. 
47
A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE E A
CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
Politize!
Sessão final da Assembleia Constituinte, no dia 22 de 
setembro de 1988. Foto: Arquivo da Agência Brasil.
Confira a seguir algumas das principais determinações 
dessa Carta:
– Sistema presidencialista de governo, com eleição 
direta em dois turnos para presidente;
– Transformação do Poder Judiciário em um órgão
verdadeiramente independente, apto inclusive para 
julgar e anular atos do Executivo e Legislativo;
– Intervencionismo estatal e nacionalismo econômico;
– Assistência social, ampliando os direitos dos
trabalhadores;
– Criação de medidas provisórias, que permitem ao
presidente da República, em situação de emergência, 
decretar leis que só posteriormente serão examinadas 
pelo Congresso Nacional;
– Direito ao voto para analfabetos e menores entre 16 
e 18 anos de idade;
– Ampla garantia de direitos fundamentais, que são
listados logo nos primeiros artigos, antes da parte 
sobre a organização do Estado. 
A Constituição de 1988 alterou significativamente a 
divisão de poderes entre legislativo e executivo.
Enquanto no período de redemocratização após o 
Estado Novo até mesmo as decisões de curto prazo
dependiam de aprovação do Congresso, na
Constituição atual o poder está concentrado no
Executivo. O executivo hoje tem fortes poderes de 
estabelecer a agenda dos trabalhos legislativos,
principalmente através das Medidas Provisórias.
Internamente, o Congresso também se organiza de 
maneira diferente. O Congresso atual se apresenta de 
forma altamente centralizada, com um rígido controle 
por parte do Presidente da Câmara e dos líderes
partidários, sobre o processo legislativo. Além deles 
serem responsáveis pelas pautas legislativas, os líderes 
têm o direito de representar as bancadas dos partidos, 
podendo assinar petições em nome de todos os
membros da bancada. Essas prerrogativas estavam 
ausentes, ou eram restritas pelo regimento da Casa
durante o período 1946-1964.
48
Politize!
Ainda que a fragmentação partidária tenha aumentado 
em relaçãoao regime democrático pré-regime militar, a 
coesão partidária no período após 1988 é muito maior. 
No atual sistema, o apoio político ao governo é obtido 
de forma similar a sistemas parlamentaristas com
governos multipartidários: o presidente distribui aos 
partidos posições em ministérios, de maneira a formar 
um governo com apoio legislativo desses partidos. 
Essas coalizões ocorreram nos dois períodos
constitucionais, mas no período atual elas se
intensificaram ainda mais.
No novo sistema, percebe-se que a relação entre
executivo e legislativo está longe de ser conflituosa. O 
Congresso não é um obstáculo às iniciativas
presidenciais, como era no período pós-Estado Novo. 
Há uma cooperação entre os dois poderes e, assim, não 
existe paralisia decisória como no período 1946-1964.
No conjunto, a Constituição de 1988 se caracteriza por 
ser amplamente democrática e liberal - no sentido de 
garantir direitos aos cidadãos. Apesar disso, nossa 
Carta atual foi e continua a ser muito criticada por 
diversos grupos, que afirmam que ela traz muitas 
atribuições econômicas e assistenciais ao Estado. O 
presidente na época da promulgação, José Sarney, 
chegou a afirmar que ela tornaria o país “ingovernável”, 
pelo excesso de responsabilidades sobre o Estado. De 
todo modo, a Constituição é considerada por muitos 
especialistas como uma peça fundamental para a
consolidação do Estado democrático de direito no país, 
bem como da noção de cidadania, ainda tão frágil para a 
população brasileira.
49
Politize!
CONSTITUIÇÃO
DE 1988
CONSTITUIÇÃO
DE 1988
50
Politize!
Consolidado após
o longo período
de abertura política
Necessária após
o fim do milagre 
econômico
Ruiu pois o
crescimento náo foi 
acompanhado por 
desenvolvimento
ESTABELECIA:
CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
por tudo isso, foi apelidada de
PROMULGADA APÓS O FIM DO REGIME MILITAR
ELABORADA DURANTE A PRESIDÊNCIA DE SARNEY
Tomou posse após
a morte de
Tancredo Neves
Foi eleito indiretamente 
após a derrota das 
“Diretas Já”
Sistema presidencialista de governo,
com voto direto;
Fortalecimento do Judiciário;
Internacionalismo estatal e nacionalismo 
econômico;
Assistencialismo social, com ampliação 
dos direitos dos trabalhadores.
Chegamos ao fim desta jornada! Agora você já
conhece a história das sete constituições brasileiras, 
documentos que refletiram o espírito de diferentes 
épocas da história do país e que também
direcionaram em grande parte os rumos da política 
nacional. Mais do que formalidades, as constituições 
possuem grande peso político e são um registro 
histórico de grande importância.
51
CONCLUSÃO 
Politize!
Boris Fausto: História do Brasil
Material didático: Curso Anglo de ensino 
Senado 
Brasil Escola 
UOL 
Info Escola
Época: Constituição de 1988
SANTOS, Wanderley G. Parte 2: Anatomia da crise (Cap. 8, 9 e a Conclusão). O Cálculo do conflito: 
estabilidade e crise na política brasileira. Belo Horizonte/ Rio de Janeiro: Editora UFMG/IUPERJ.
SOUZA, Maria do Carmo Campello. Estado e partidos políticos no Brasil (1930 a 1964). São Paulo, 
Alfa-Ômega, 1976.
FIGUEIREDO, Argelina e LIMONGI, Fernando. “Instituições Políticas e Governabilidade.Desempenho 
do governo e apoio legislativo na democracia brasileira” in MELO, Carlos R. & SAEZ, Manuel A. A
democracia brasileira: balanço e perspectivas para o século 21. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
REFERÊNCIAS: 
Politize!
Somos uma rede de pessoas e organizações 
comprometidas com a ideia de levar
educação política para cidadãos de todo o 
Brasil. Acreditamos que a tecnologia é uma 
grande aliada na difusão de conhecimento
e que podemos fazer a diferença
proporcionando conteúdo educativo sobre 
política de forma fácil, divertida e sem
vinculações político-partidárias.
Politize!
E aí, gostou desse material? 
Compartilhe com seus amigos, 
para que mais pessoas possam 
conhecer um pouco mais da 
nossa história!

Outros materiais