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ENG06638-Introdução à engenharia metalúrgica Nestor Cezar Heck / UFRGS – DEMET 29 7 - O Tempo e a Temperatura 7-1 A questão do tempo Como vimos, uma liga Fe-C com a composição eutetóide (7,6%C) à temperatura de 790°C apresenta integralmente a fase austenita. Se ela for resfriada abaixo da temperatura de 727°C, a austenita se transformará em cementita e ferrita, formando uma microestrutura totalmente perlítica. Isso, porém, não será instantâneo. O tempo que essa ou outra transformação de fase leva para acontecer depende principalmente de dois fatores: da criação de pequenos sítios das novas fases (núcleos) e da velocidade com que os átomos se movimentam na rede cristalina para ‘construir’ as novas fases – ou seja, do tempo de nucleação e crescimento, Figura 7-1. Figura 7-1:. Fração do material transformado em novas fases em função do tempo Figura 7-2: Tamanho e número de colônias da perlita em função do tempo e do ∆T abaixo da temperatura de 727°C ENG06638-Introdução à engenharia metalúrgica Nestor Cezar Heck / UFRGS – DEMET 30 Dependendo de quão abaixo da temperatura de 727°C o material foi resfriado, teremos microestruturas bastante diferentes: para baixas temperaturas a perlita será fina e, para altas, será grosseira. As propriedades mecânicas da perlita fina são melhores que as da grosseira! A Figura 7-2 ajuda-nos a compreender o fenômeno: em temperaturas elevadas a força motriz para que o material se transforme é baixa (nucleação longa), mas uma vez estabelecidos os núcleos, a velocidade de crescimento é elevada (pois os átomos se movimentam mais velozmente em temperaturas elevadas). Para temperaturas baixas é o contrário e, nas temperaturas moderadas, temos um caso intermediário entre os dois vistos. Os resultados estão condensados na Tabela 7-I. Temperatura: Baixa Média Alta Nucleação: Alta Moderada Baixa Crescimento: Lento Moderado Rápido Resultado: Muitos núcleos, pequenos Número moderado de núcleos médios Poucos núcleos, grandes Tabela 7-I: Efeito da temperatura na nucleação e crescimento de novas fases 7-2 A cinética O estudo da influência do tempo nas transformações está enquadrado no que chamamos de cinética. A fração de austenita transformada em perlita em função do tempo pode ser descrita, por exemplo, com o auxílio da equação de Avrami: ( )nKtX −=− exp1 ou, sob a forma linearizada: tnK X lnln 1 1lnln +=⎟⎟⎠ ⎞⎜⎜⎝ ⎛ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ − onde X é a fração transformada (que varia de 0 a 1 ou de 0 a 100%), K e n são parâmetros de ajuste e t é o tempo. Os parâmetros obtidos do ajuste dos dados experimentais à equação permite caracterizar a transformação e, assim, dar uma base para a comparação com outras transformações, ou com a mesma transformação em outras temperaturas. 7-3 Muito além da perlita ... Os efeitos do tempo e da temperatura não se restringem à modificações entre a perlita fina e a perlita grosseira. Dependendo da velocidade de refriamento da liga Fe-C com 0,67%C, inicialmente austenítica, podemos ter uma gama de outras microestruturas, das quais vale a pena salientar: a martensita e a bainita, Figura 7-3. Se a velocidade de resfriamento for muito elevada, teremos a primeira delas; senão, a segunda. As propriedades dessas microestruturas são muito diferentes. A martensita é dura e frágil, enquanto que a bainita, ao contrário, é tenaz. As duas têm aplicações práticas interessantes: uma lima (ferramenta) é basicamente martensítica enquanto que uma corda de piano é bainítica! Além dessas, a liga ainda pode apresentar outras microestruturas: se aquecermos a martensita durante um certo tempo ou a perlita durante muito tempo (aproximadamente um dia!) em temperaturas adequadas, especialmente escolhidas, teremos a martensita revenida e a esferoidita, Figura 7-4. A martensita revenida ainda é dura, mas ganha tenacidade e a esferoidita, por sua vez, tem maior tenacidade que a perlita, mas menor dureza que ela. ENG06638-Introdução à engenharia metalúrgica Nestor Cezar Heck / UFRGS – DEMET 31 Figura 7-3: Diagrama esquemático mostrando as principais microestruturas de uma liga Fe-C com 0,67%C, inicialmente austenítica, em função da temperatura e do tempo de resfriamento (sem escala) ENG06638-Introdução à engenharia metalúrgica Nestor Cezar Heck / UFRGS – DEMET 32 Figura 7-4: Diagrama esquemático mostrando as transformações nas microestruturas de uma liga Fe-C com 0,67%C, inicialmente martensítica e perlítica, em função da temperatura e do tempo de resfriamento (sem escala)
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