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AS PERSPECTIVAS PARA O FUTURO DO DIREITO PENAL ATRAVÉS DOS DESDOBRAMENTOS SOCIAIS PAULINO, Ademar da Silva 1 Resumo O objetivo do presente artigo é fazer uma breve análise dos fatos, abordando as perspectivas para o futuro do Direito Penal na sociedade através dos desdobramentos sociais. Muitas vezes o Direito Penal é considerado um mal, contudo, um mal não dispensável, necessário. Um mal devido a seus impactos negativos na sociedade, quando submete os cidadãos, sem provas concretas de culpa ou até mesmo inocentes, a medidas extremas de perseguição e privação, maculando o condenado e levando-o à exclusão social, causando graves danos psíquicos e corrompendo a estrutura social. Necessário porque tem como objetivo assegurar a paz, o convívio coletivo saudável e a liberdade individual. Em razão de todas estas questões, muito se discute acerca do cenário atual e do futuro do direito penal, suas mudanças e perspectiva de existência. Palavras-chave: impactos sociais, liberdade individual, Direito Penal. SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO 3/ 2 PERSPECTIVAS E DESDOBRAMENTOS SOCIAIS 4/ 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 6/ 4 REFERÊNCIAS 7. 1 INTRODUÇÃO Como uma importante instituição social, o Direito Penal tem como objetivo assegurar a paz, de modo geral, o convívio coletivo saudável e a liberdade individual. Por consequência de sua importância, o Direito Penal vem tornando-se alvo de questionamentos acerca de sua legitimidade, de seus impactos nas sociedades e de sua perspectiva de futuro (WACQUANT, 2007; ZAFFARONI, 2010; ROXIN, 2006). Fala-se muito sobre a marginalização e o tratamento diferenciado dado às diferentes classes sociais, caracterizando um cenário onde tal órgão estatal tem sua finalidade desviada, sendo utilizado como parte de estratégia política. Muitos acreditam que o direito penal é um mal necessário, mas ainda um mal, assim considerado porque submete os cidadãos, sem provas concretas de culpa ou até mesmo inocentes, a medidas extremas de perseguição e privação, maculando o condenado e levando a exclusão social, causando graves danos psíquicos e também na própria estrutura social (WACQUANT, 2007; ROXIN, 2006). Várias discussões acerca dos meios pelos quais este ramo do direito poderia cumprir suas funções sem que obtivesse impactos tão negativos são e devem sempre ser observadas. Tais 1 Graduando em Direito, Faculdade de Direito de Alagoas, Universidade Federal de Alagoas. Avenida Lourival Melo Mota, s/n, Cidade Universitária – Maceió – AL, CEP: 57072-900. demadaonca@yahoo.com. impactos não podem ser desejados em um Estado Social de Direito, que tem como finalidade a redução das discriminações e a promoção da integração social (ROXIN, 2006). O desejável seria, então, que os benefícios inerentes ao direito penal pudessem ser obtidos de modo menos oneroso para a sociedade (ZAFFARONI, 2010; ROXIN, 2006). Desta forma, reunindo alguns autores, este artigo apresenta-se abordando as perspectivas para o futuro do Direito Penal na sociedade através dos desdobramentos sociais. 2 PERSPECTIVAS E DESDOBRAMENTOS SOCIAIS A estratificação social e a distorção dos conceitos de crime e pobreza têm pesado e muito, influenciando, por certa visão discriminatória, e levando a sociedade a um sentimento de insegurança o qual não é consequência pura e simples da realidade social. Os ideais neoliberais advindos especialmente dos Estados Unidos, que difundiram um raciocínio marginalista, em que as causas coletivas das condutas criminosas são tratadas apenas como meras “desculpas” e o real culpado seria unicamente o livre-arbítrio individual, estimularam o pensamento da necessidade de constante aumento da severidade das leis e sanções penais e da autoridade do Estado neste âmbito, acreditando ser esta a solução para o combate às práticas delituosas (WACQUANT, 2007). O Estado é muitas vezes incompetente, de forma que não consegue preencher as funções sociais que teria a missão de atender, e tem sua vocação disciplinar se afirmando principalmente na direção das classes inferiores e das categorias étnicas dominadas. Como resultado a América tem assistido ao crescimento de um Estado penal e policial, no qual a criminalização da marginalidade e a “contenção punitiva” das categorias menos favorecidas torna-se política social (WACQUANT,2007). Para Zaffaroni (2010) é um discurso que tende a ser, na nossa realidade, falso e utópico, uma vez que não atinge tais requisitos. O sistema penal é uma complexa manifestação do poder social, e este, por sua vez, outorga a legitimidade do sistema penal por sua racionalidade. A legitimidade depende da coerência do discurso jurídico-penal e de sua aplicabilidade operacional, precisando atingir além do “dever ser”. Os órgãos do sistema têm como função o exercício de um controle social militarizado e verticalizado sobre a maioria da população (sobretudo, as parcelas mais carentes e marginalizadas), indo além do alcance repressivo e funcionando, principalmente, como um guia de comportamento, assim, renunciando à legalidade penal. Até mesmo na esfera da legalidade o próprio sistema penal é imperfeito, pois, ele mesmo (através da minimização jurídica, tutelas, administratização, e assistencialismo) afasta-se do discurso jurídico-penal. Ainda, de acordo com o autor acima, o sistema penal tem o poder de ditar os comportamentos, ou poder configurador, ao contrário do que se poderia pensar, trata-se do verdadeiro poder do sistema penal, ao invés de suas sanções punitivas. Atua de maneira consciente e principalmente inconsciente, uma vez que os indivíduos passam a exercer, mesmo sem se darem conta, uma vigilância interiorizada de seu comportamento, na tentativa de moldarem-se às exigências do sistema. Até as ações realizadas em ambientes privados são guiadas por este controle. A intervenção do órgão judicial não tem lugar no exercício do poder do sistema penal, de modo que são suprimidos os direitos humanos, e atribuídas às circunstancias conjunturais. Os efeitos reais da má atuação do sistema penal são consequências da aceitação da operacionalidade do falso discurso jurídico penal. Não há o respeito da legalidade no sistema penal formal, nem mesmo em sua operacionalidade social e há uma enorme disparidade entre o exercício de poder programado e a capacidade operativa dos órgãos. Há, na verdade, uma espécie de “vistas grossas” e, dessa maneira, nem todas as ações típicas são criminalizadas, pois se fossem programadas todas elas pelo discurso jurídico penal não seriam ainda assim, cumpridas, perdendo sua legitimação. Observa-se, então, que o poder configurador ou positivo penal é exercido à margem da legalidade, de forma arbitrariamente seletiva, porque a própria lei assim o planifica e porque o órgão legislativo deixa fora do discurso jurídico penal vários âmbitos de controle social punitivo (ZAFFARONI, 2010). O direito penal deve estar pautado pelas premissas da intervenção mínima, prevenção geral e proteção de bens jurídicos individuais. Observa-se que, tanto no panorama geral quanto no Brasil, a expansão do direito penal no sentido de aumento no número de leis e também de sua severidade é notável. A reformatação do Direito penal, em decorrência da expansão que tem sofrido, põe em questão as fronteiras entre direito penal e as sanções e métodos de investigação próprios do Direito administrativo sancionador (OLIVEIRA,2013). O legislador brasileiro e a doutrina contemporânea do direito penal vêm impondo um sentido acentuado de expansão das condutas e dos sujeitos puníveis. Os métodos pelos quais o faz, contudo, não estão necessariamente restritos à esfera penal, sendo verificados muitoscasos de colaboração muito próxima entre as áreas penal e administrativa, a aproximação é tamanha que chegam, algumas vezes, a confundir-se (OLIVEIRA,2013). Roxin (2006) traz os questionamentos que surgem sobre o futuro do direito penal, sua necessidade e a possibilidade de sua abolição. Para alguns, a exclusão social e estigmatização do condenado são consequências indesejáveis em um Estado Social de Direito, e sendo assim, os benefícios advindos do direito penal deveriam ser obtidos de modo socialmente menos oneroso. Para o autor é mais plausível que a criminalidade seja considerada típica da ação humana, e assim, existirá sempre, concordando com as ideias neoliberais estadunidenses. Ou seja, as circunstâncias sociais determinariam mais a maneira da criminalidade acontecer, mas não seu acontecimento, e então sua abolição não conseguirá acabar com a criminalidade, tão pouco, com o futuro do direito penal. Para os que defendem sua abolição, as desvantagens do sistema penal superam seus benefícios, e o combate ao crime não é mais eficaz que o combate às causas sociais da delinquência (WACQUANT, 2007; ROXIN, 2006). A descriminalização, reduzindo as punições aos comportamentos que realmente necessitam ser punidos, e a diversificação das mesmas não tornariam a pena supérflua, mas poderiam ajudar na efetividade do direito penal. Seria um meio eficiente de combate às condutas criminosas, que deveria, assim, integrar o direito penal. Também não se pode esperar que as penas sejam totalmente substituídas por medidas terapêuticas e de segurança, abolindo o sistema, mas é plausível que estas sejam crescentes dentro de sua aplicação, de maneira alternativa e até substitutiva, quando pertinente (ROXIN, 2006). A existência contínua de circunstâncias criminógenas é a razão da tendência da criminalidade em aumentar. Paradoxalmente, as penas hão de tornarem-se mais suaves, pois a diversificação no sentido de humanizar e baratear as punições pode promover maior eficácia na ressocialização através de meios diversos, porém não menos efetivos, da privação da liberdade. É possível também, que sanções a pessoas jurídicas, paralelas à punição dos autores individuais, desempenharão um grande papel no futuro, no combate à criminalidade de empresas (ROXIN, 2006). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os impactos dos desdobramentos sociais e o futuro do Direito Penal são observados profundamente na sociedade, tanto de maneira negativa quanto positiva e se vestem de questões complexas de difícil esgotamento. Na busca por atingir suas finalidades como órgão incitador da paz, afastando-se da desvirtuação, se esforçando para maximizar benefícios e suprimindo mazelas para a sociedade, o Direito Penal apresenta sua face positiva. Portanto, diante dos desdobramentos sociais e atentando às perspectivas para o futuro do Direito Penal na sociedade, recomenda-se cada vez mais estudos e discussões acerca da questão, em razão de tratar-se de instrumento de grande importância social, que tem potencial para abarcar um futuro promissor, uma vez que seja devidamente trabalhado e utilizado. 4 REFERÊNCIAS OLIVEIRA, Ana Carolina Carlos de. Hassemer e o Direito Penal Brasileiro. Ibccrim, 2013. P159- 201. ROXIN, Claus. Estudos de Direito Penal. Tradução de Luís Greco – Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2006. P1-30. WACQUANT, Loïc. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. 3ª Edição: Revan, 2007. P25-67. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas. 5ª Edição: Revan, 2010. P16-44.
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