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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: Linguística I Coordenadora: Profª Silvia Maria de Sousa AD 1 - 2012/ 2 Aluno(a): ___________________________________________________________ Polo: ______________________________________ Matrícula ________________ Nota: _______________ 1. Leia o trecho do artigo de Sírio Possenti e resolva às questões seguintes: Ensinar gramática? (...) Há casos que se tornam paradigmáticos, porque são muito citados como exemplos de erros que ninguém deve cometer. Um deles é "Para mim fazer", que Eduardo Martins cita em quinto lugar entre os cem erros mais comuns (Manual de redação e estilo, O Estado de S. Paulo), embora, curiosamente, não o cite entre os dez mais. Quando um erro é muito comum, quando quase todos o cometem, mesmo falantes cultos, pode-se ter duas reações: a) achar que todos são ignorantes e que o mundo está acabando; b) tentar uma explicação. Em outros campos, é comum que se tente explicar o que ocorre: por que as chuvas inundam tanto? por que houve terremotos no Haiti e no Chile? por que as capivaras estão se multiplicando? por que houve uma crise econômica em 2008 (e qual o papel dos subprime no episódio)? por que a língua geral desapareceu? No caso das línguas, é comum que apenas se diga que se deve falar assim e não assado (com base num manual de cerca de 15 páginas!!). Talvez seja uma das razões pelas quais os erros mais constantes são exatamente aqueles de quais mais se trata e que são mais corrigidos (regência de assistir, conjugação de haver, concordância nas passivas sintéticas...): todos estudam isso em todas as séries, não há prova sem esses temas e (quase) todos continuam assistindo o jogo em que haviam cinco bolas em campo e não se via os gandulas ajudando. Ah, e fazem anos que é a mesma coisa... Não seria melhor tentar entender o que acontece? (...) Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia. 2 Disponível em: http://terrama. gazine.terra.com.br/interna/0,,OI4338721-EI8425,00-Ensinar+gramatica.html. Acessado em: 28 Nov 2011. a) Explique a diferença entre o ponto de vista adotado pela linguística e o ponto de vista adotado pela gramática tradicional. (1,0) O ponto de vista adotado pela linguística diante dos fatos da língua se aproxima do que Sírio Possenti, no artigo citado, defende como “tentar entender o que acontece na língua”. Nesse sentido, um linguista não se preocupa com prescrever regras ou tachar este ou aquele uso da língua como desvio em relação a um padrão. Pelo contrário, sua preocupação é apenas descritiva e isenta de juízos de valor, como uma ciência deve ser. Já a gramática tradicional, tomando por moldes certos usos da língua considerados cultos, se posiciona como um juiz e regulamenta o que seria o “bom uso”, considerando erro todo e qualquer desvio deste. b) Aponte dois fatores que conferem cientificidade à linguística. (1,0) Dois fatores que conferem cientificidade à linguística são o posicionamento que tem diante de seu objeto de estudo – a língua – e o método de análise adotado em sua pesquisa. Quanto ao posicionamento, a linguística procura ser descritiva, considerando toda e qualquer realização linguística como importante e merecedora de análise, independentemente de ser vista como correta ou errada do ponto de vista gramatical. Quanto à metodologia, trabalha com a sistematização dos dados observados e descritos, a fim de garantir seu valor como objeto de estudo científico. 2. Exponha a posição de Benveniste em relação à comunicação animal e à linguagem humana. Apresente ao menos três dos argumentos de Benveniste. (2,0) Benveniste apresenta, com base em experiência sobre a comunicação das abelhas, diferenças fundamentais entre a linguagem humana e a capacidade comunicativa dos animais. Segundo ele, os animais não têm a capacidade da linguagem, embora muitas espécies sejam capazes de transmitir uma mensagem. Para o linguista, a transmissão de mensagens entre os animais acontece de forma extremamente limitada, ao contrário da linguagem humana, que é criativa e amplamente produtiva. Após observar como uma abelha se comunica para informar a outras a localização de mel, Benveniste argumenta que a mensagem é construída e transmitida através de movimentos e não 3 através da voz, com o uso de um aparelho fonador, que é uma das características fundamentais da linguagem verbal. Além disso, enquanto a mensagem transmitida pelas abelhas pode ter apenas uma referente, o mel, a linguagem humana é capaz de abranger qualquer conteúdo, além de poder ser modificada, reproduzida e retransmitida para outros falantes da língua, o que não caracteriza a comunicação das abelhas. Outro argumento defendido por Benveniste é o de que a comunicação das abelhas não envolve o diálogo – que é fundamental na comunicação humana –, mas apenas a transmissão unidirecional da mensagem, a qual não recebe uma resposta. Por fim, o autor aponta a diferença fundamental entre a comunicação animal e a linguagem humana: a possibilidade de esta ser decomposta em partes menores que podem ser combinadas de formas diferentes e também ser analisadas em seus morfemas, fonemas etc., enquanto a mensagem animal é um todo indivisível. Assim, compreendemos que a linguagem é uma competência exclusiva dos humanos. Os animais, embora possam passar uma mensagem limitada, como as abelhas, repetir alguns dos sons da linguagem verbal, como os papagaios, ou memorizar um número limitado de palavras, como os chipanzés, não conhecem a linguagem verbal. Ela é produtiva e complexa porque é composta por formas divisíveis e combináveis que podem criar sempre novos e diferentes sentidos, capazes de representar todas as necessidades comunicativas dos seres humanos. 3. O interesse pela linguagem é muito antigo. Identifique e explique ao menos dois tipos de estudos que precederam a linguística do século XX. (2,0) O interesse pela linguagem vem desde a Antiguidade Clássica, quando os gregos procuraram, a partir de uma abordagem filosófica, compreender a natureza da relação entre a realidade e as palavras. O diálogo socrático Crátilo, de Platão, é considerado um dos primeiros registros de nossa tradição ocidental grega sobre o tema. Nele, Platão refletiu sobre “as palavras e as coisas”, contrastando a perspectiva naturalista – que previa uma relação natural entre o significante e o significado – e o convencionalismo – que defendia a falta de motivação entre os dois. Contudo, Saussure nos chama a atenção para o fato de que o interesse pela linguagem sempre esteve subordinado a outros – no caso do interesse filosófico de Platão sobre o tema, este estava mais preocupado com a questão da Verdade. É assim que os estudos da gramática tradicional, que também tiveram origem na Grécia, basearam-se, desde o seu princípio, em princípios da lógica. Até hoje prevalece na perspectiva da gramática tradicional o caráter corretivo que teve origem na Antiguidade Clássica e visa indicar as regras de uso da língua. A filologia, considerada por Saussure como a segunda fase dos estudos da linguagem, foca sua atenção nos textos escritos. Ela busca a interpretação correta dos textos, relacionando-os com a época de sua produção em seus aspectos culturais, literários ou históricos. Essa corrente de 4 estudos procura informações sobre os textos escritos através da crítica e da investigação,comparando diferentes versões do mesmo texto, seja de épocas, línguas ou apenas edições diferentes. A observação linguística, então, na filologia, esteve sempre subordinada a esse interesse principal. Após esta fase, verifica-se ainda o advento da gramática comparada, um corrente de estudos que desenvolveu questionamentos fundamentais para o surgimento da linguística no século XX. Muitos gramáticos, entre os quais pode-se destacar Franz Bopp, passaram a observar as semelhanças entre diferentes línguas do mundo e conseguiram verificar em muitas uma origem histórica comum no sânscrito, como no latim, no grego e no germânico. A partir da comparação entre dados linguísticos das línguas, ficou clara a regularidade da mudança linguística, uma descoberta imprescindível para o entendimento de que a normatividade não deveria ser o foco dos estudos linguísticos. Após a gramática comparada, a prescrição e o texto escrito deixaram então de ser o foco de muitos estudiosos e a linguística pode desenvolver-se como uma ciência autônoma de outras áreas do conhecimento e de compromissos sociais com a normatividade, tendo como foco o conhecimento da linguagem, agora com base na língua falada. 4. Segundo Saussure “o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces”. a) Identifique, conceitue e exemplifique as duas faces do signo linguístico. (1,5) Saussure define o signo linguístico como uma unidade comunicativa articulada em duas faces de natureza psíquica: o significado e o significante. O significante é o que o autor denomina “imagem acústica”, isto é, a impressão psíquica dos sons que se articulam para a realização falada do signo. Já o significado é a parte conceitual e abstrata do signo, a ideia que fazemos dele ao realizá-lo. Por exemplo, ao dizermos “escola”, processamos as duas faces desse signo em nossa mente de maneira simultânea: pensamos na sequência de sons que o realizam fisicamente, no caso /es’kola/; e, ao mesmo tempo, identificamos um conceito a que ele nos remete, ou seja, a ideia de “estabelecimento de ensino”, “centro de treinamento” etc. b) Apresente as duas principais características do signo linguístico. (1,5) Segundo as considerações de Saussure, as duas principais características do signo linguístico são a arbitrariedade e a linearidade. A arbitrariedade do signo diz respeito à relação imotivada 5 entre significado e significante, o que quer dizer que não há um vínculo necessário entre determinado conceito e a imagem acústica que lhe corresponde. Já a linearidade diz respeito à característica de o significante se realizar na linha do tempo, ou seja, de os sons se articularem numa sequencia temporal, um após o outro – afinal, é impossível que articulemos dois sons de uma só vez, simultaneamente. 5. Associe as imagens aos conceitos, definindo-os: (1,0) (a) índice (b) símbolo ( b ) A imagem de uma pomba branca carregando um ramo de oliveira é um símbolo, um signo artificial não linguístico, que atribui um conceito a uma imagem numa relação criada convencionalmente por um grupo social. Isso significa que não existe relação prévia entre a imagem (“pomba branca”) e o conceito atribuído a ela (“paz”). ( a ) Nuvens carregadas é sinal de chuva iminente. Considera-se este exemplo um índice, porquanto sua significação não depende da ação humana, não é convencional (tanto no Brasil quanto na China nuvens carregadas no céu indicam que vai chover).
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