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FACULDADE EFICAZ DISCIPLINA: RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS E RESPONSABILIDADE SOCIAL Professora Mestre Rizia F. L. L. Franco Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar que vivemos constantemente em contato com o outro? Interagimos com os membros de nossa família, no ambiente de trabalho e também acadêmico. Até mesmo nos espaços de lazer praticamos atividades em grupo. Nesse sentido, observamos que a humanidade aprendeu a conviver com os demais membros de seu grupo e a buscar padrões nas diversas relações estabelecidas, e que viver em isolamento total é algo quase que impossível no mundo globalizado. Sendo assim, o principal objetivo desse estudo sobre a é observar as relações estabelecidas entre diversos grupos na vida social, que se comportam de modo dinâmico e recebem influências históricas, culturais, sociais, políticas e econômicas. Iniciaremos o nosso estudo com a reflexão sobre as diferenças entre os elementos da natureza como animais e plantas, de nós, seres culturais, flexíveis e criativos. Será que é natural o homem não chorar? Será que é natural da mulher ser delicada e possuir o amor maternal? Esses e outros questionamentos nos diferem da natureza, uma vez que somos seres culturais e nos desenvolvemos na medida em que estabelecemos relações sociais. Ainda veremos que não existe uma única cultura, mas a diversidade e a pluralidade cultural nas sociedades, sobretudo na atualidade. Partindo dessas ideias, conheceremos os elementos da vida em grupo, como a importância da comunicação, da interação social, dos valores econômicos, estéticos e morais para o nosso aprendizado e desenvolvimento. E que por esse motivo, o contato com o outro é de grande importância em nossa construção pessoal, profissional e acadêmica. DIFERENÇAS ENTRE NATUREZA E CULTURA Muitas vezes, prezado(a) acadêmico(a), nos deparamos com situações que nos fazem pensar se alguma atitude seria própria da humanidade. Em outras ocasiões observamos como somos parecidos com os demais seres vivos. Contudo, nossa inteligência e habilidades, como a linguagem e a produção de diversos artefatos, nos diferenciam dos demais animais. O que produzimos afeta diretamente o nosso próprio meio. Desse modo, estudaremos o que compreende o universo natural que, por sua vez, é modificado pela cultura. A natureza Iniciaremos pela conceituação de natureza. Segundo Marilena Chauí (2000, p. 124), dizer que algo é natural significa que essa coisa é efeito de uma causa uni que o homem não produziu, como os mares, as montanhas, os animais e as plantas, também a água, o ar. Assim, pensar na natureza é pensar no que não foi modificado pelo homem. A seguir, apresentamos alguns exemplos do que é natureza ou natural (CHAUÍ, 2000): A abelha produzir mel. A roseira gerar rosa. Os homens naturalmente sentem, pensam e agem. Tanto o homem quanto os outros animais se agrupam, convivem, se acasalam, sobrevivem e se defendem conforme o ambiente. Essas são uma série de atividades instintivas, reações e ações inatas como respirar, engatinhar, sentir fome, medo e frio. Portanto, a natureza é considerada como o conjunto dos seres vivos, entre eles o próprio homem, os demais animais e as plantas. A cultura Depois de estudada a natureza, partiremos para o estudo da cultura. Ao estudá-la, veremos que seu significado é complexo, pois envolve as crenças, técnicas, tradições e costumes produzidos na sociedade pelo homem. Aprendemos a cultura, sobretudo pela educação dos pais e da escola. Assim, podemos dizer que a cultura é transmitida de geração para geração. Além das atividades instintivas, prezado(a) aluno(a), o homem desenvolveu capacidades que dependem de aprendizado. Assim como você um dia, as crianças aprendem a comer, beber e dormir em horários regulares aprende a brincar, a obedecer e, mais tarde, a trabalhar, comercializar, administrar e governar. Marilena Chauí nos auxilia na compreensão da cultura na medida em que explica a cultura, caracterizada, num primeiro momento, como as obras que o homem produz na sociedade, aos poucos, passou realmente não chora e se todas as mulheres são delicadas. Se pensarmos que o homem não chora infringiria a lei da natureza que fez todos os seres humanos terem a possibilidade de chorar e expressarem seus sentimentos como dor e raiva. Entretanto, em muitas sociedades os homens são educados a não demonstrarem os seus sentimentos, e principalmente, a não chorarem. Desse modo, o homem sabe chorar, mas desenvolve o hábito de não chorar, ao longo da construção de sua identidade, para ser aceito em seu grupo social pela cultura. Como em nossa sociedade brasileira, na qual muitos homens ainda são educados para não chorarem, uma vez que o choro pode significar, dentro de algumas culturas, fraqueza. um conjunto de determinações rígido e acabado; ao contrário, ela integra de maneira dinâmica os padrões das exercer pressão sobre a formação do caráter e da personalidade do indivíduo, a cultura é elaborada numa relação dupla na qual aquele que sofre suas influências ajuda a produzir novas relações. Nesse sentido, nem tudo é genético, não se desenvolve automaticamente da natureza. Para se tornar um humano, o homem tem que aprender com seus semelhantes uma série de atitudes que lhe seriam impossíveis serem desenvolvidas no isolamento. Diferenças entre a natureza e a cultura Após a definição de natureza e cultura, analisaremos suas diferenças. A principal delas, que difere os seres humanos dos demais seres vivos, é que somos seres culturais. Esse termo cultura, nas ciências sociais, inicialmente se referia a um conjunto de hábitos, costumes e formas de vida, capaz de distinguir um povo ou um grupo social de outro. Atualmente, com o advento de uma concepção mais simbólica da vida humana, o conceito de cultura ganhou conteúdos mais abstratos, que a veem como um conjunto de significados partilhados por um grupo social (COSTA, 2010, p. 10). Podemos acrescentar o que destaca Giddens e Netz (2005, p. 22, GRIFO NOSSO): Quando os sociólogos falam do conceito de cultura, referem-se a esses aspectos das sociedades humanas que são aprendidos e não herdados. Esses elementos da cultura são partilhados pelos membros da sociedade e tornam possível a cooperação e a comunicação. Eles formam o contexto comum em que os indivíduos de uma sociedade vivem suas vidas. A cultura de uma sociedade engloba tanto os aspectos intangíveis as crenças, as ideias e os valores que constituem o teor da cultura como os aspectos tangíveis os objetos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse conteúdo. Portanto, observamos que nossos comportamentos, emoções e sentimentos levam em consideração nossa individualidade e capacidade criativa, mas sobretudo a influência de fatores externos como a época em que vivemos, o lugar, o tipo de trabalho que executamos e a sociedade em que fazemos parte. Enquanto o animal age por reflexos e instintos (ação instintiva), nos níveis mais altos da escala zoológica, em que estão situados os mamíferos, as ações deixam de ser exclusivamente instintivas e adquirem maior plasticidade, característica dos atos inteligentes. A seguir, listamos alguns atos inteligentes da humanidade (CHAUÍ, 2000): Ocorre uma resposta diferenciada, improvisada e criativa. A solução ocorre depois de certo tempo, quando há um insight (iluminação súbita). Para conhecer um pouco mais sobre as diferenças entre a natureza e cultura, observa-se que ao longo da história o homem modificou a sua interação com a natureza e ao considerar diferentes aspectossimbólicos, interage e modifica o seu espaço. Um exemplo disso são os diversos estilos de casa e como a humanidade se relaciona com os demais animais, ao distinguir os animais considerados domésticos e os selvagens. Ao mesmo tempo, o homem elabora elementos de distinção que comunicam o seu poder, sua masculinidade e sua força. Fonte: Costa (2010) Após essas definições, elaboramos um quadro com as principais diferenças entre a natureza e a cultura, acompanhe: Quadro 01 - Diferenças entre a natureza e a cultura NATUREZA CULTURA Tudo o que existe no Universo sem a Intervenção da ação humana Tudo que existe com a intervenção humana O que se desenvolve ou produz sem interferência humana O que é artificial, técnico, artefato ou tecnológico Obras da natureza como o céu, o mar, a terra Obras do homem como edifícios, navios e ruas Reino da repetição Reino da transformação Não elabora significados abstratos Elabora significados abstratos ou simbólicos Alimenta-se por sobrevivência Alimenta-se por sobrevivência e prazer Fonte: adaptado de Chauí (2000). Desse modo, caro(a) aluno(a), observamos que ao mesmo tempo em que a cultura modifica o homem, este por sua vez também tem a capacidade de transformá-la, na medida que também produz a cultura. Assim, de acordo com a cultura que estamos inseridos, vamos aprendendo a reproduzir e a produzir os elementos que nos fazem relacionar com os outros e com o meio. Por mais que adestremos os animais e os façamos se aproximar de comportamentos semelhantes aos humanos, eles jamais conseguirão transpor o limite que separa a natureza da cultura. Para prosseguirmos com o nosso estudo, tratamos agora sobre os termos empregados anteriormente: grupos sociais e o universo simbólico, interação social e valores. ASPECTOS DA VIDA EM GRUPO Caro(a) aluno(a), um elemento importantíssimo da transmissão da cultura de uma sociedade é a própria comunicação humana. Segundo Giddens e Netz (2005, p. 561), comunicação é a transmissão de informações de um indivíduo ou grupo para outro. Isso mostra que a comunicação é a base necessária para toda interação social. Nos contextos face a face, a comunicação se dá por meio do uso da linguagem, mas também por meio de muitas dicas corporais que os indivíduos interpretam para compreenderem o que os outros dizem e fazem. A interação humana acontece quando um indivíduo reage a outro. Geralmente, respondemos a ação da outra pessoa conforme a nossa interpretação. A nossa resposta, por sua vez, estimula esta outra pessoa conforme as nossas ações. Fonte: Cohen (1980). base da cultura e da vida social, bem como dos processos de identidade um sistema simbólico, comunica-se por meio de um complexo sistema linguístico e transmite conhecimento por meio da socialização. ização é o processo através do qual o ser humano começa a aprender o modo de vida de sua sociedade, adquire [...] a capacidade de socialização são a família, a escola, os amigos e os meios de comunicação. Fonte: COHEN (1980) Com o desenvolvimento da escrita e de meios de comunicação eletrônicos, como o rádio, a televisão ou os sistemas de transmissão por computador, a comunicação transformou-se, principalmente pelo modo virtual. Como complementam Aranha e Martins (2005, p. 23- com o mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos Nesse sentido, prezado(a) aluno(a), vejamos que em nossa volta temos diversos símbolos que somente nós, humanos, compreendemos. A seguir, alguns exemplos: Uma aliança significa compromisso, ora de namoro, ora de noivado. Uma mulher de vestido branco nos remete a comemoração do ano novo ou a um vestido de noiva. Um velhinho barbudo vestido de vermelho pode significar que o natal está perto. Um homem que possui um carro de luxo simboliza riqueza. Um papel de bala guardado nos lembra de uma amiga. Um presente significa o amor entre irmãos. Grupos sociais e valores De fato, as características humanas flexíveis se tornam possíveis porque o homem tem a capacidade de criar símbolos com a linguagem que torna as experiências compartilháveis. Desse modo, a comunicação verbal e não verbal nos permite expressar nossos pensamentos, ela vista como um instrumento por meio do qual se estabelece diálogos com os semelhantes e atribui sentido à realidade, e só se mantém por convenção, hábito ou tradição. Entretanto, há diferentes grupos sociais. Os sociólogos podem estudar diversos grupos, como pessoas se comunicando, grupo de trabalhadores, relação de pais e filhos, professores e alunos. Esses grupos são de tamanhos diversos, desde milhões de pessoas até 2 ou três pessoas. Entre as diferentes definições de interação, que compartilham uma consciência de membros baseada em expectativas comuns de comportamento (COHEN, 1980, p. 49). Além disso, podemos definir grupo social como o conjunto de indivíduos que interagem e compartilham características em comum como normas, valores, símbolos e expectativas. O mesmo grupo social faz com que seus membros possuam um sentimento de unidade (DIAS, 2010). Nesse sentido, cada grupo social possui características diferenciadas de como ocupar o seu tempo, trabalhar, interpretar o mundo, e também com relação a suas expressões artísticas. Desse modo, ser humano se distingue dos outros animais, pois fala. Por volta dos 18 meses a criança aprende a falar, ultrapassa os limites da vida animal e entra no mundo simbólico. Por outro lado, a linguagem humana, dentro de cada grupo social, exprime pensamentos, sentimentos e valores diferentes; possui uma função de conhecimento e de expressão, ou função conotativa. Uma mesma palavra pode exprimir sentidos ou significados diferentes. Isso depende, caro(a) aluno(a), do sujeito que a emprega, do sujeito que a ouve ou lê, das condições ou circunstâncias em que foi empregada ou do contexto em que é usada. Conforme Giddens (2005, p. 22), "as normas e os valores são as regras de comportamento que refletem ou incorporam os valores de uma cultura". Nesse sentido, valorizamos alguma coisa em detrimento a outra. O que é valorizado por determinado grupo social, considerado uma atitude boa ou má, tido como sagrado ou profano, perigoso ou seguro, depende dos valores. De acordo com Chauí (2000), em cada cultura existe uma atribuição de valor. Vejamos a seguir: 1)Valores às coisas e aos homens - bom, mau, justo, injusto, verdadeiro, falso, belo, feio, possível, impossível, perigoso, sagrado. 2)Valores a humanos e suas relações - diferença sexual e proibição de incesto, virgindade, fertilidade, puro-impuro, virilidade. 3) Valores a humanos e suas relações entre as diferenças etárias - forma de tratamento dos mais velhos e dos mais jovens). 4) Valores a humanos e suas relações entre diferença de autoridade - formas de relação com o poder. 5) Valores econômicos - relativos ao capital econômico. 6)Valores estéticos - as diferenças para considerarmos o que é belo ou feio. 7) Valores morais - conduta humana em diversas situações. Desse modo, a cultura é vista como tudo que o homem produz ao construir sua existência: práticas, teorias, instituições, valores materiais e espirituais. Entretanto, o que é valorizado hoje pode não ser o mesmo valorizado amanhã, ou seja, esses padrões podem sofrer alterações. Pensamos no hábito do café da manhã, prezado(a) aluno(a). Em nosso país, por exemplo, temos o costume de iniciar o dia com o café da manhã, que geralmente é composto por café, leite, pão, manteiga. Às vezes, frutas e bolos.Em outros lugares, o café da manhã compreende bacon e ovos cozidos. Observamos, portanto, diferenças culturais conforme a sociedade. Pelos exemplos destacados, podemos ver que a cultura compreende as ações humanas, tanto nas formas materiais - produção de objetos e utensílios - como nas formas imateriais - valores que caracterizam uma sociedade e que ao mesmo tempo a difere das demais. Ainda faz parte da cultura a comunicação estabelecida dentro de um grupo e a normas compartilhadas. Para darmos sequência em nosso conteúdo, precisamos conhecer um pouco mais sobre as três áreas que compõem as Ciências Sociais. A sociologia Estuda a vida social formada por grupos e sociedades. O simples ato de tomar café ou compartilhar uma refeição possibilita um estudo rico em interpretações sociológicas, na medida em que ocorrem as interações sociais. Um sociólogo pode estudar, por exemplo, os motivos pelos quais o café e o álcool são drogas socialmente aceitáveis, enquanto que o consumo de maconha ou cocaína é repudiado em determinadas sociedades (GIDDENS; NETZ, 2005). Retomando o exemplo do café, podemos dizer que o indivíduo está [...] envolvido numa complicada rede de relações sociais e econômicas de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas de algumas das partes mais ricas e mais pobres do planeta: é consumido em grande quantidade nos países ricos, mas cultivado fundamentalmente nos pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria mais valiosa do comércio internacional, representando a principal exportação de muitos países. A produção, transporte e distribuição do café implicam transações constantes que envolvem pessoas a milhares de quilômetros de consumidores. Estudar essas transações globais é uma tarefa importante da Sociologia, na medida em que muitos aspectos das nossas vidas são hoje afetados por influências sociais e comunicações a nível mundial Observamos, caro(a) aluno(a), que nossos valores e comportamentos estão forteme tarefa da Sociologia investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós #SAIBA MAIS# A sociologia é a ciência que se dedica ao estudo dos fenômenos sociais, com base em dados diversos, de origem estatística, linguística, histórica, demográfica, etnográfica, sociográfica etc. Fonte: Costa (2010). #SAIBA MAIS# Outra questão que podemos abordar é que a sociologia auxilia na compreensão de crimes, comportamento político, desigualdades sociais e raciais, problemas familiares, urbanos, relacionados a trabalho, entre outros aspectos. Enfim, qualquer forma de comportamento social (COHEN, 1980). Auxilia ainda a mitigar preconceitos e estereótipos e possibilitar às pessoas se tornarem mais flexíveis diante de diferentes contextos. Também aprendemos um novo olhar perante novas culturas que não tivemos a oportunidade de conhecer. Assim, o nosso modo de fazer as coisas nem sempre são o modo dominante ou igual perante outras sociedades (GIDDENS; NETZ, 2005). Em suma, essa área analisa as forças sociais que influenciam nosso comportamento. Desse modo, a sociologia nos permite uma compreensão de pontos de vista e atitudes diferentes das nossas. Cabe a nós conhecê-las e respeitá-las como exercício da cidadania. Antropologia Estuda, em termos gerais, a humanidade em sua totalidade, suas produções e comportamento. Esse estudo relaciona-se tanto com as chamadas ciências biológicas quanto as culturais. A Antropologia e a Sociologia buscam a (MARCONI; PRESOTTO, 2013, p.8). Por fim, a Antropologia também estuda a através de um complexo de instituições que regula o poder, a ordem e a integridade do Ciência política No Brasil destacam-se os estudos sobre o Estado e a sociedade, as políticas públicas, o comportamento político, a democracia, e como esse sistema político modifica a atualidade. Ainda, a Ciência Política analisa as relações entre mídia e política, bem como a identidade nacional, questões afrodescendentes e indígenas. De acordo com Aranha e Martins (2005), a palavra política vem do grego polis e significa cidade. A política é a arte de governar, de gerir o destino da cidade.[...] É possível entender a política como luta pelo poder: conquista, manutenção e expansão do poder. Ou refletir sobre as instituições políticas por meio das quais se exerce o poder (ARANHA; MARTINS, 2005, p.179). Portanto, as Ciências Sociais são formadas pela Antropologia, a Sociais como a Filosofia, História entre outras. Em suma, esse estudo possibilita que o acadêmico e o cidadão compreendam as relações sociais tanto do passado quanto do presente, ao levar em consideração os aspectos históricos de diferentes sociedades. Referências ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 2005. CHAUÍ, M. S. Convite à filosofia. 1. ed. São Paulo: Ática, 2000. COHEN, B. Sociologia geral. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1980. COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os Pensadores). COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2010. DIAS, R. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2010. GIDDENS, A.; NETZ, S. R. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. MARCONI, M. A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo:Atlas, 2013. MEKSENAS, P. Aprendendo sociologia: a paixão de conhecer a vida. 8. ed. Loyola, 2001. Ritos Corporais entre os Nacirema O antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento que os diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de surpreender-se mesmo em face dos costumes mais exóticos. De fato, embora nem todas as combinações de comportamento logicamente possíveis tenham sido descobertas em alguma parte do mundo, o antropólogo pode suspeitar que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita. [...] Deste ponto de vista, as crenças e práticas mágicas dos Nacirema apresentam aspectos tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como um exemplo dos extremos a que pode atingir o comportamento humano. [...] Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem a sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força ter atirado um colar de conchas usado pelos Nacirema como dinheiro, através do rio Po-To-Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residia o Espírito da Verdade. A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evoluiu em um rico habitat natural. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos destes trabalhos e uma considerável porção do dia são despendidos em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde assomam como o interesse dominante no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a ele associada são singulares. [...] Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas, e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito frequentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmaras de culto das mais ricas paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas aplicando placas de cerâmica as paredes de seu santuário. [...] Embora cada família tenha pelo menos um desses tais santuários, os rituais a eles associadosnão são cerimônias familiares, são cerimônias privadas e secretas. O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Estes preparados são conseguidos através de uma série de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros, cujo auxílio deve ser recompensado com dádivas substanciais. [...] Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos- feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja -homens-da- tem um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo uma fascinação, com relação à cavidade bucal, cujo estado acreditam ter uma influência sobrenatural em todas as relações sociais. O ritual de corpo executados por cada Nacirema diariamente inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos no cuidado bucal este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado, que só pode considerá-lo como revoltante. Foi-me relatado que o ritual consiste na inserção de uma pequeno feixe de cerdas de porco na boca, juntamente com certos pós mágicos e então em movimentá-lo numa série de gestos altamente formalizados. Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos consistindo de brocas, furadores, sondas e agulhões. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve para o cliente, uma tortura ritual quase inacreditável. [...] Na vida cotidiana o Nacirema evita a exposição de seu corpo e das suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da resultar traumas psicológicos. [...] Como conclusão, deve-se fazer referências a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão perversiva ao corpo natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar as magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos, e torná-los menores quando são grandes. A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato da forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas com um desenvolvimento hipermamário, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos. [...] Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo. MINER, H. Ritos corporais entre os nacirema. In: ROONEY, A.K.; VORE, P. L. (orgs.). You And The Others: Readings in Introductor y Anthropology. Cambridge: Erlich, 1976.
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