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Léia Vitoria

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CAPÍTULO II – PRINCIPAIS PROBLEMAS NOS ESTABELECIMENTOS PENAIS
O presente capítulo fará uma abordagem sobre a problematização dos estabelecimentos penais, será discutido também em um sentido amplo os direitos e garantias dos presos fazendo uma comparação entre a teoria e a prática. E, por fim, serão feitas considerações sobre a responsabilização civil do Estado quanto ao desrespeito aos direitos e garantias do preso.
2.1 Superlotação carcerária e violência dela decorrente
De acordo com dados publicados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, editado pelo Forúm Brasileiro de Segurança Pública, a partir de números coletados pelos estados para o Ministério da Justiça, o Brasil contava, no final de 2011, com uma população carcerária de 471.254 mil presos. Já a estrutura penitenciária tinha a capacidade para receber 295.413 presos, ou seja, um deficit de 175.841 vagas. A superlotação que vem acompanhada de maus-tratos e violência entre presos, em alguns casos com total perda de controle por parte do Estado, somado à crescente violência em todo o território nacional pode levar a um estrangulamento do sistema com consequências negativas não apenas para a população carcerária, mas toda a sociedade. A Declaração Universal dos Direitos humanos, diz que “Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. No Brasil, no entanto, a realidade do sistema carcerário mostra que viver com dignidade não é um direito garantido às pessoas que estão sob a tutela do Poder Público. (FREITAS 2012)
O Supremo Tribunal Federal também traz decisões levando em consideração a superlotação no sistema penitenciário, como em seu Habeas Corpus 109.244, in verbis:
... não havendo vaga no semiaberto, não se pode manter alguém preso em um regime mais rigoroso, sob pena de constituir-se em excesso de execução, nos termos do art. 185 da Lei de Execução Penal. Se no título executivo foi consignado que o regime prisional para o cumprimento da pena deve ser o semiaberto, cabe ao Estado o aparelhamento do Sistema Penitenciário para atender à sua própria determinação. Daí porque a falta de local adequado para a execução da reprimenda fixada abre a possibilidade de os condenados aguardarem em regime mais benéfico, até a abertura de vaga, e não em outro mais rigoroso.(STF)
2.2 Direitos e garantias do preso: entre a teoria e a prática
O interesse atual pelos direitos do preso é de certa forma, um reflexo do movimento geral de defesa dos direitos humanos. Os presos em todos os tempos e lugares, sempre foram vítimas de excessos e discriminações, violando assim os direitos da pessoa humana . Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se em uma situação especial que condiciona uma limitação dos direitos previstos na Constituição Federal e nas leis, mas isso não quer dizer que perde, além da liberdade sua condição de pessoa humana e a titularidade dos direitos não atingidos pela condenação. Como qualquer dos direitos humanos, os direitos do preso são invioláveis, imprescritíveis e irrenunciáveis. (MIRABETE, 2004)
Preceitua o artigo 40 da Lei de execução Penal, que se impõe a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios. Estão assim protegidos os direitos humanos fundamentais do homem ( vida, saúde, integridade corporal e dignidade humana), os mais importantes, porque servem de suporte aos demais, que não existiriam sem aqueles. Em virtude dessa declaração, que tem caráter constitucional, pois que prevista no art. 5°, XLIX, da Carta Magna, estão proibidos os maus-tratos e castigos que, por sua crueldade ou conteúdo desumano, degradante, vexatório e humihante, atentam contra a dignidade da pessoa, sua vida, sua integridade fúisica e moral. (MIRABETE, P.119, 2004)
A execução penal brasileira, na maioria das vezes, reflete uma problemática que se subdivide na esfera administrativa, sendo mal gerida com descaso por parte do poder executivo e péssimas condições de reabilitação. E jurídico, as vezes levando até mesmo a violação de direitos fundamentais em nome do punitivismo barato. Resta claro a ineficiência do Estado em gerir um espaço de convívio social em que os princípios norteadores da Lei de Execuções Penais sejam de fato respeitados. O que se pretende aqui e uma racionalização dos procedimentos ditos “ressocializadores” que estão sendo praticados nos dias de hoje, bem como à inexistente efetividade dos direitos do preso quando em sede de cumprimento de pena em estabelecimento carcerário. (MINOTTO, 2015)
O art. 41 da LEP expressa os direito do presos:
Art. 41 – Constituem direitos do preso:
I – alimentação suficiente e vestuário;
II – atribuição de trabalho e sua remuneração;
III – Previdência Social;
IV – constituição de pecúlio;
V – proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;
VI – exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII – assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII – proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX – entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
XI – chamamento nominal;
XII – igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
XIII – audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV – representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV – contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.
As garantias legais previstas durante a execução da pena, assim como os direitos humanos do preso, estão previstos em diversos estatutos legais. Em nível mundial, existem várias convenções como a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, a “Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem” e a Resolução da ONU que prevê as “Regras Mínimas para o Tratamento do Preso”. Porém a realidade atual tem se mostrado bem diferente de tudo isso, podemos acompanhar diariamente denuncias em relação ao tratamento desumano, degradante e violento a que estão submetidos os presos. Nos estabelecimentos penais, os detentos convivem com o medo de serem vítimas de uma agressão física, de serem violentados sexualmente, entre outras barbáries carcerárias, já que estão sujeitos a um regime no qual praticamente inexiste uma apropriada assistência separação entre o pequeno infrator e os presos altamente perigosos. Já vimos que a sociedade brasileira dispõe de inúmeras legislações que listam vastos direitos aos presos. Entretanto, o que tem ocorrido na prática é a constante violação dos direitos e a total inobservância das garantias legais previstas na execução das penas privativas de liberdade. (ARGÔLO, 2015)
2.3 A responsabilização civil do Estado quando do desrespeito aos direitos e garantias do preso
O Estado deve respeitar os direitos do indivíduo, mas também deve limitá-los, em nome da democracia, pois para manter o equilíbrio entre o direito isolado de um cidadão e o direito a segurança da sociedade, é preciso haja um sistema de garantias e limitações. Dessa forma o Estado deve saber dosar o quanto invade a esfera de liberdade individual em nome da segurança social, e o quanto precisa limitar o direito individual para não ferir o coletivo. Para assegurar direitos tão importantes como os inerentes à natureza humana é preciso ponderar entre autoridade e liberdade, pois uma complementa a outra. (NUCCI, 2011) 
O Estado tem o dever de zelar pela integridade física e moral do preso sob sua custódia, atraindo para si a responsabilidade civil objetiva,
em razão de sua conduta omissiva.
o Estado tem o dever objetivo de zelar pela integridade física e moral do preso sob sua custódia, atraindo, então, a responsabilidade civil objetiva, em razão de sua conduta omissiva, motivo pelo qual é devida a indenização decorrente da morte do detento, ainda que em caso de suicídio. (STF)
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em sessão no ano de 2016, que a morte de detento em estabelecimento penitenciário gera responsabilidade civil do Estado quando houver inobservância do seu dever específico de proteção. Por unanimidade, os ministros negaram provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 841526, interposto pelo Estado do Rio Grande do Sul contra acórdão do Tribunal de Justiça local (TJ-RS) que determinou o pagamento de indenização à família de um presidiário morto. Segundo a necropsia, a morte ocorreu por asfixia mecânica (enforcamento), entretanto, não foi conclusivo se em decorrência de homicídio ou suicídio. O representante da Defensoria Pública da União (DPU) João Alberto Simões Pires Franco afirmou que embora a prova não tenha sido conclusiva quanto à causa da morte, o Rio Grande do Sul falhou ao não fazer a devida apuração. Em seu entendimento, o fato de um cidadão estar sob a custódia estatal em um presídio é suficiente para caracterizar a responsabilidade objetiva em casos de morte. (STF, 2016)
Para o relator do recurso, ministro Luiz Fux, até mesmo em casos de suicídio de presos ocorre a responsabilidade civil do Estado. O ministro apontou a existência de diversos precedentes neste sentido no STF e explicou que, mesmo que o fato tenha ocorrido por omissão, não é possível exonerar a responsabilidade estatal, pois há casos em que a omissão é núcleo de delitos. O ministro destacou que a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XLIX, é claríssima em assegurar aos presos o respeito à integridade física e moral. No caso dos autos, o ministro salientou que a sentença assenta não haver prova de suicídio e que este ponto foi confirmado pelo acórdão do TJ-RS. Segundo ele, em nenhum momento o estado foi capaz de comprovar a tese de que teria ocorrido suicídio ou qualquer outra causa que excluísse o nexo de causalidade entre a morte e a sua responsabilidade de custódia. “Se o Estado tem o dever de custódia, tem também o dever de zelar pela integridade física do preso. Tanto no homicídio quanto no suicídio há responsabilidade civil do Estado”, concluiu o relator. Tese :Ao final do julgamento, foi fixada a seguinte tese de repercussão geral: “Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte de detento”. (STF, 2016)
Agravo regimental em recurso extraordinário 700.927 que traz em seu texto o seguinte trecho do Ministro Gilmar Mendes, in verbis: 
o Estado tem o dever objetivo de zelar pela integridade física e moral do preso sob sua custódia, atraindo, então, a responsabilidade civil objetiva, em razão de sua conduta omissiva, motivo pelo qual é devida a indenização decorrente da morte do detento, ainda que em caso de suicídio. (STF)
Referências biblograficas:
http://estadodedireito.com.br/analise-critica-de-alguns-aspectos-da-execucao-penal-a-luz-da-constituicao-cf88/
https://jus.com.br/artigos/41175/sistema-penitenciario-atual-incompatibilidade-com-a-lei-de-execucao-penal
http://www.ebc.com.br/cidadania/2012/12/superlotacao-e-grave-problema-nos-presidios-brasileiros
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4107740
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=313198

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