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Aula 00 Direito Constitucional p/ Analista MPU 2017/2018 (Especialidade Direito) Com videoaulas Professores: Equipe Ricardo e Nádia, Nádia Carolina, Ricardo Vale 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale !ULA !! TEORIA!GERAL!DA!CONSTITUIÇÃO! Conceito de Constituição ............................................................................................................... 4 1O Direito Constitucional e os Demais Ramos do Direito .................................................. 4 Estrutura das Constituições ........................................................................................................... 6 A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia das Normas ....................................................................... 7 Aplicabilidade das normas constitucionais .............................................................................. 12 Poder Constituinte ......................................................................................................................... 17 Princípios Fundamentais da República Federativa do Brasil ............................................... 23 1) Regras e Princípios: ............................................................................................................... 23 2) Princípios Fundamentais: ..................................................................................................... 23 2.1 ‑ Fundamentos da República Federativa do Brasil: ...................................................... 24 2.2‑ Forma de Estado / Forma de Governo / Regime Político: .......................................... 29 2.3‑ Harmonia e Independência entre os Poderes: ............................................................. 33 2.3‑ Objetivos Fundamentais da República Federativa do Brasil: .................................... 35 2.4‑ Princípios das Relações Internacionais: ........................................................................ 37 QUESTÕES COMENTADAS ..................................................................................................... 39 LISTA DE QUESTÕES ................................................................................................................. 74 GABARITO ..................................................................................................................................... 89 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale APRESENTAÌO E CRONOGRAMA DE AULAS Ol, amigos do Estratgia Concursos, tudo bem? com enorme alegria que damos incio hoje ao nosso ÒDireito Constitucional p/ Analista do MPU (Especialidade Direito)Ó, focado na banca Cespe. Antes de qualquer coisa, pedimos licena para nos apresentar: - Ndia Carolina: Sou professora de Direito Constitucional do Estratgia Concursos desde 2011. Trabalhei como Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil de 2010 a 2015, tendo sido aprovada no concurso de 2009. Tenho uma larga experincia em concursos pblicos, j tendo sido aprovada para os seguintes cargos: CGU 2008 (6¼ lugar), TRE/GO 2008 (22¼ lugar) ATA-MF 2009 (2¼ lugar), Analista-Tributrio RFB (16¼ lugar) e Auditor-Fiscal RFB (14¼ lugar). - Ricardo Vale: Sou professor e coordenador pedaggico do Estratgia Concursos. Entre 2008-2014, trabalhei como Analista de Comrcio Exterior (ACE/MDIC), concurso no qual fui aprovado em 3¼ lugar. Ministro aulas presenciais e online nas disciplinas de Direito Constitucional, Comrcio Internacional e Legislao Aduaneira. Alm das aulas, tenho trs grandes paixes na minha vida: a Prof» Ndia, a minha pequena Sofia e o pequeno JP (Joo Paulo)!! Como voc j deve ter percebido, esse curso ser elaborado a 4 mos. Eu (Ndia) ficarei responsvel pelas aulas escritas, enquanto o Ricardo ficar por conta das videoaulas. Tenham certeza: iremos nos esforar bastante para produzir o melhor e mais completo contedo para vocs. Vejamos como ser o cronograma do nosso curso: Aulas Tpicos abordados Data Aula 00 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Princpios fundamentais. Aplicabilidade das normas constitucionais. Normas de eficcia plena, contida e limitada. Normas programticas. 15/09 Aula 01 Direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 01). 18/09 Aula 02 Dos direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 02). 20/09 Aula 03 Direitos sociais. Nacionalidade. 22/09 Aula 04 Direitos polticos. Partidos polticos. 25/09 Aula 05 Organizao poltico-administrativa do Estado. Estado federal brasileiro, Unio, estados, Distrito Federal, municpios e territrios. 27/09 Aula 06 Administrao pblica. Disposies gerais, servidores pblicos. 29/09 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Aula 07 Poder Executivo. 02/10 Aula 08 Poder legislativo. Estrutura. Funcionamento e atribuies. Fiscalizao contbil, financeira e oramentria. Comisses parlamentares de inqurito. 04/10 Aula 09 Processo Legislativo. 06/10 Aula 10 Poder judicirio. Disposies gerais. îrgos do poder judicirio. Organizao e competncias, Conselho Nacional de Justia. Composio e competncias. 09/10 Aula 11 Funes essenciais justia. Ministrio pblico, advocacia pblica. Defensoria pblica. 11/10 Dito tudo isso, j podemos partir para a nossa aula 00! Todos preparados? Um grande abrao, Ndia e Ricardo Para tirar dvidas e ter acesso a dicas e contedos gratuitos, acesse nossas redes sociais: Facebook do Prof. Ricardo Vale: https://www.facebook.com/profricardovale Canal do YouTube do Ricardo Vale: https://www.youtube.com/channel/UC32LlMyS96biplI715yzS9Q Periscope do Prof. Ricardo Vale: @profricardovale 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Conceito de Constituio Comeamos esse tpico com a seguinte pergunta: o que se entende por Constituio? Objeto de estudo do Direito Constitucional, a Constituio a lei fundamental e suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do povo. ela que determina a organizao poltico-jurdica do Estado, dispondo sobre a sua forma, os rgos que o integram e as competncias destes e, finalmente, a aquisio e o exerccio do poder. Cabe tambm a ela estabelecer as limitaes ao poder do Estado e enumerar os direitos e garantias fundamentais.1 A concepo de constituio ideal foi preconizada por J. J. Canotilho. Trata- se de constituio de carter liberal, que apresenta os seguintes elementos: a) Deve ser escrita; b) Deve conter um sistema de direitos fundamentais individuais (liberdades negativas); c) Deve conter a definio e o reconhecimento do princpio da separao dos poderes; d) Deve adotar um sistema democrtico formal. Note que todos esses elementos esto intrinsecamente relacionados limitao do poder coercitivo do Estado. Cabe destacar, por estar relacionado ao conceito de constituio ideal, o que dispe o art. 16, da Declarao Universal dos Direitos do Homem e do Cidado (1789):ÒToda sociedade na qual no est assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separao de poderes, no tem constituio.Ó importante ressaltar que a doutrina no pacfica quanto definio do conceito de constituio, podendo este ser analisado a partir de diversas concepes. Isso porque o Direito no pode ser estudado isoladamente de outras cincias sociais, como Sociologia e Poltica, por exemplo. 1O Direito Constitucional e os Demais Ramos do Direito Como vimos, a Constituio fundamento de validade de todas as demais normas do ordenamento jurdico. Por esse motivo, o Direito Constitucional um tronco de onde partem todas as ramificaes que constituem os demais campos do Direito. Desse modo, o Direito Constitucional que 1 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 17. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale confere unidade ao Direito como um todo, seja ele pblico ou privado. Veja como a nossa disciplina se relaciona com os demais ramos do Direito: a) Direito Constitucional e Direito Administrativo - o Direito Constitucional determina os princpios gerais e os fundamentos da Administrao Pblica, bem como estabelece normas para os servidores pblicos. b) Direito Constitucional e Direito Penal - o Direito Constitucional que fixa os fundamentos e determina os limites da pretenso punitiva do Estado, bem como garante o direito de defesa do acusado. Os limites atuao do Estado se encontram nos direitos e garantias fundamentais estabelecidos pela Constituio, estando insertos implcita ou explicitamente no art. 5¼ da Carta Magna, que estudaremos adiante neste curso. c) Direito Constitucional e Direito Processual - o Direito Constitucional est intimamente ligado ao Direito Processual, uma vez que: - Garante o acesso Justia (art. 5¼, XXXV, CF); - Estabelece o devido processo legal (art. 5¼, LIV, CF), bem como o contraditrio e a ampla defesa (art. 5¼, LV); - Determina a inadmissibilidade, no processo, de provas obtidas por meios ilcitos (art. 5¼, LVI, CF); - Prev remdios constitucionais como o mandado de segurana individual e coletivo (art. 5¼, LXIX e LXX, CF), o habeas data (art. 5¼, LXXII, CF) e a ao popular (art. 5¼, LXXIIII, CF); - Garante a assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos (art. 5¼, LXXIV, CF), bem como a razovel durao do processo, no mbito judicial e administrativo, e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao (art. 5¼, LXXVIII, CF); - Regula a ao direta de inconstitucionalidade, a ao declaratria de constitucionalidade, a arguio de descumprimento de preceito fundamental e a ao direta de inconstitucionalidade por omisso. d) Direito Constitucional e Direito do Trabalho - a Constituio que prev os principais direitos sociais do empregado (arts. 7¼ a 10, CF), o que torna o Direito Constitucional intrinsecamente relacionado ao Direito do Trabalho. e) Direito Constitucional e Direito Civil - a partir da Constituio de 1988, houve o fenmeno da constitucionalizao do Direito Civil, que passou a ter suas normas sujeitas aos princpios e regras constitucionais. Valores 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale constitucionais como a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social e a igualdade substancial, previstos na Constituio, conferiram ao Direito Civil um carter mais humanista, em oposio base patrimonial que se verificava outrora. Uma das consequncias desse fenmeno a aplicabilidade dos direitos fundamentais s relaes privadas e no apenas s relaes com o Poder Pblico. Assim, pode o particular opor um direito ou garantia fundamental a outro particular, o que reduz a autonomia privada. f) Direito Constitucional e Direito Tributrio - o Direito Constitucional delineia o sistema tributrio nacional, estabelece o conceito de tributo2, discrimina a competncia tributria e fixa limites ao poder de tributar. Estrutura das Constituies As Constituies, de forma geral, dividem-se em trs partes: prembulo, parte dogmtica e disposies transitrias. O prembulo a parte que antecede o texto constitucional propriamente dito. O prembulo serve para definir as intenes do legislador constituinte, proclamando os princpios da nova constituio e rompendo com a ordem jurdica anterior. Sua funo servir de elemento de integrao dos artigos que lhe seguem, bem como orientar a sua interpretao. Serve para sintetizar a ideologia do poder constituinte originrio, expondo os valores por ele adotados e os objetivos por ele perseguidos. Segundo o Supremo Tribunal Federal, ele no norma constitucional. Portanto, no serve de parmetro para a declarao de inconstitucionalidade e no estabelece limites para o Poder Constituinte Derivado, seja ele Reformador ou Decorrente. Por isso, o STF entende que suas disposies no so de reproduo obrigatria pelas Constituies Estaduais. Segundo o STF, o Prembulo no dispe de fora normativa, no tendo carter vinculante3. Apesar disso, a doutrina no o considera juridicamente irrelevante, uma vez que deve ser uma das linhas mestras interpretativas do texto constitucional. 4 2 Segundo Geraldo Ataliba, o conceito de tributo tem origem na Constituio, no podendo ser alargado, reduzido ou modificado pelo legislador constitucional. Isso por ser ele um conceito- chave para demarcao das competncias legislativas e balizador do regime tributrio, conjunto de princpios e regras constitucionais de proteo do contribuinte contra o chamado poder tributrio, exercido, nas respectivas faixas delimitadas de competncias, por Unio, Estados e Municpios (Hiptese de Incidncia Tributria, So Paulo: Malheiros). 3 ADI 2.076-AC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU de 23.08.2002. 4 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 53-55 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale A parte dogmtica da Constituio o texto constitucional propriamente dito, que prev os direitos e deveres criados pelo poder constituinte. Trata-se do corpo permanente da Carta Magna, que, na CF/88, vai do art. 1¼ ao 250. Destaca-se que falamos em Òcorpo permanenteÓ porque, a princpio, essas normas no tm carter transitrio, embora possam ser modificadas pelo poder constituinte derivado, mediante emenda constitucional. Por fim, a parte transitria da Constituio visa integrar a ordem jurdica antiga nova, quando do advento de uma nova Constituio, garantindo a segurana jurdica e evitando o colapso entre um ordenamento jurdico e outro. Suas normas so formalmente constitucionais, embora, no texto da CF/88, apresente numerao prpria (vejam ADCT Ð Ato das Disposies Constitucionais Transitrias). Assim como a parte dogmtica, a parte transitria pode ser modificada por reforma constitucional. Alm disso, tambm pode servir como paradigma para o controle de constitucionalidade das leis.(DPE-MS Ð 2014) O prembulo da Constituio no constitui norma central, no tendo fora normativa e, consequentemente, no servindo como paradigma para a declarao de inconstitucionalidade. Comentrios: O prembulo no tem fora normativa e, em razo disso, no serve de paradigma para o controle de constitucionalidade. Questo correta. A Pirmide de Kelsen Ð Hierarquia das Normas Para compreender bem o Direito Constitucional, fundamental que estudemos a hierarquia das normas, atravs do que a doutrina denomina Òpirmide de KelsenÓ. Essa pirmide foi concebida pelo jurista austraco para fundamentar a sua teoria, baseada na ideia de que as normas jurdicas inferiores (normas fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jurdicas superiores (normas fundantes). Iremos, a seguir, nos utilizar da Òpirmide de KelsenÓ para explicar o escalonamento normativo no ordenamento jurdico brasileiro. A pirmide de Kelsen tem a Constituio como seu vrtice (topo), por ser esta fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim, nenhuma norma do ordenamento jurdico pode se opor Constituio: ela superior a todas as demais normas jurdicas, as quais so, por isso mesmo, denominadas infraconstitucionais. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Na Constituio, h normas constitucionais originrias e normas constitucionais derivadas. As normas constitucionais originrias so produto do Poder Constituinte Originrio (o poder que elabora uma nova Constituio); elas integram o texto constitucional desde que ele foi promulgado, em 1988. J as normas constitucionais derivadas so aquelas que resultam da manifestao do Poder Constituinte Derivado (o poder que altera a Constituio); so as chamadas emendas constitucionais, que tambm se situam no topo da pirmide de Kelsen. relevante destacar, nesse ponto, alguns entendimentos doutrinrios e jurisprudenciais bastante cobrados em prova acerca da hierarquia das normas constitucionais (originrias e derivadas): a) No existe hierarquia entre normas constitucionais originrias. Assim, no importa qual o contedo da norma. Todas as normas constitucionais originrias tm o mesmo status hierrquico. Nessa tica, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais tm a mesma hierarquia do ADCT (Atos das Disposies Constitucionais Transitrias) ou mesmo do art. 242, ¤ 2¼, que dispe que o Colgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser mantido na rbita federal. b) No existe hierarquia entre normas constitucionais originrias e normas constitucionais derivadas. Todas elas se situam no mesmo patamar. c) Embora no exista hierarquia entre normas constitucionais originrias e derivadas, h uma importante diferena entre elas: as normas constitucionais originrias no podem ser declaradas inconstitucionais. Em outras palavras, as normas constitucionais originrias no podem ser objeto de controle de constitucionalidade. J as emendas constitucionais (normas constitucionais derivadas) podero, sim, ser objeto de controle de constitucionalidade. d) O alemo Otto Bachof desenvolveu relevante obra doutrinria denominada ÒNormas constitucionais inconstitucionaisÓ, na qual defende a possibilidade de que existam normas constitucionais originrias eivadas de inconstitucionalidade. Para o jurista, o texto constitucional possui dois tipos de normas: as clusulas ptreas (normas cujo contedo no pode ser abolido pelo Poder Constituinte Derivado) e as normas constitucionais originrias. As clusulas ptreas, na viso de Bachof, seriam superiores s demais normas constitucionais originrias e, portanto, serviriam de parmetro para o controle de constitucionalidade destas. Assim, o jurista alemo considerava legtimo o controle de constitucionalidade de normas constitucionais originrias. No entanto, bastante cuidado: no 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Brasil, a tese de Bachof no admitida. As clusulas ptreas se encontram no mesmo patamar hierrquico das demais normas constitucionais originrias. Com a promulgao da Emenda Constitucional n¼ 45/2004, abriu-se uma nova e importante possibilidade no ordenamento jurdico brasileiro. Os tratados e convenes internacionais de direitos humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional (Cmara dos Deputados e Senado Federal), em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ser equivalentes s emendas constitucionais. Situam-se, portanto, no topo da pirmide de Kelsen, tendo ÒstatusÓ de emenda constitucional. Diz-se que os tratados de direitos humanos, ao serem aprovados por esse rito especial, ingressam no chamado Òbloco de constitucionalidadeÓ. Em virtude da matria de que tratam (direitos humanos), esses tratados esto gravados por clusula ptrea5 e, portanto, imunes denncia6 pelo Estado brasileiro. O primeiro tratado de direitos humanos a receber o status de emenda constitucional foi a ÒConveno Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia e seu Protocolo FacultativoÓ. Os demais tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo rito ordinrio, tm, segundo o STF, ÒstatusÓ supralegal. Isso significa que se situam logo abaixo da Constituio e acima das demais normas do ordenamento jurdico. A EC n¼ 45/2004 trouxe ao Brasil, portanto, segundo o Prof. Valrio Mazzuoli, um novo tipo de controle da produo normativa domstica: o controle de convencionalidade das leis. Assim, as leis internas estariam sujeitas a um duplo processo de compatibilizao vertical, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional e, ainda, aos previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jurdico brasileiro.7 As normas imediatamente abaixo da Constituio (infraconstitucionais) e dos tratados internacionais sobre direitos humanos so as leis (complementares, ordinrias e delegadas), as medidas provisrias, os decretos legislativos, as resolues legislativas, os tratados 5 Estudaremos mais frente sobre as clusulas ptreas, que so normas que no podem ser objeto de emenda constitucional tendente a aboli-las. As clusulas ptreas esto previstas no art. 60, ¤ 4¼, da CF/88. Os direitos e garantias individuais so clusulas ptreas (art. 60, ¤ 4¼, inciso IV). 6 Denncia o ato unilateral por meio do qual um Estado se desvincula de um tratado internacional. 7 MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Teoria Geral do Controle de Convencionalidade no Direito Brasileiro. In: Controle de Convencionalidade: um panorama latino-americano. Gazeta Jurdica. Braslia: 2013. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale internacionais em geral incorporados ao ordenamento jurdico e os decretos autnomos. Todas essas normas sero estudadas em detalhes em aula futura, no se preocupe! Neste momento, quero apenas que voc guarde quais so as normas infraconstitucionais e que elas no possuem hierarquia entre si, segundo doutrina majoritria. Essas normas so primrias, sendo capazes de gerar direitos e criar obrigaes, desde queno contrariem a Constituio. Novamente, gostaramos de trazer baila alguns entendimentos doutrinrios e jurisprudenciais muito cobrados em prova: a) Ao contrrio do que muitos podem ser levados a acreditar, as leis federais, estaduais, distritais e municipais possuem o mesmo grau hierrquico. Assim, um eventual conflito entre leis federais e estaduais ou entre leis estaduais e municipais no ser resolvido por um critrio hierrquico; a soluo depender da repartio constitucional de competncias. Deve-se perguntar o seguinte: de qual ente federativo (Unio, Estados ou Municpios) a competncia para tratar do tema objeto da lei? Nessa tica, plenamente possvel que, num caso concreto, uma lei municipal prevalea diante de uma lei federal. b) Existe hierarquia entre a Constituio Federal, as Constituies Estaduais e as Leis Orgnicas dos Municpios? Sim, a Constituio Federal est num patamar superior ao das Constituies Estaduais que, por sua vez, so hierarquicamente superiores s Leis Orgnicas. b) As leis complementares, apesar de serem aprovadas por um procedimento mais dificultoso, tm o mesmo nvel hierrquico das leis ordinrias. O que as diferencia o contedo: ambas tm campos de atuao diversos, ou seja, a matria (contedo) diferente. Como exemplo, citamos o fato de que a CF/88 exige que normas gerais sobre direito tributrio sejam estabelecidas por lei complementar. c) As leis complementares podem tratar de tema reservado s leis ordinrias. Esse entendimento deriva da tica do Òquem pode mais, pode menosÓ. Ora, se a CF/88 exige lei ordinria (cuja aprovao mais simples!) para tratar de determinado assunto, no h bice a que uma lei complementar regule o tema. No entanto, caso isso ocorra, a lei complementar ser considerada materialmente ordinria; essa lei complementar poder, ento, ser revogada ou modificada por simples lei ordinria. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar ir subsumir-se ao regime constitucional da lei ordinria. 8 8AI 467822 RS, p. 04-10-2011. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale d) As leis ordinrias no podem tratar de tema reservado s leis complementares. Caso isso ocorra, estaremos diante de um caso de inconstitucionalidade formal (nomodinmica). e) Os regimentos dos tribunais do Poder Judicirio so considerados normas primrias, equiparados hierarquicamente s leis ordinrias. Na mesma situao, encontram-se as resolues do CNMP (Conselho Nacional do Ministrio pblico) e do CNJ (Conselho Nacional de Justia). f) Os regimentos das Casas Legislativas (Senado e Cmara dos Deputados), por constiturem resolues legislativas, tambm so considerados normas primrias, equiparados hierarquicamente s leis ordinrias. Finalmente, abaixo das leis encontram-se as normas infralegais. Elas so normas secundrias, no tendo poder de gerar direitos, nem, tampouco, de impor obrigaes. No podem contrariar as normas primrias, sob pena de invalidade. o caso dos decretos regulamentares, portarias, das instrues normativas, dentre outras. Tenham bastante cuidado para no confundir os decretos autnomos (normas primrias, equiparadas s leis) com os decretos regulamentares (normas secundrias, infralegais). CONSTITUIÇÃO, EMENDAS CONSTITUCIONAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS COMO EMENDAS CONSTITUCIONAIS OUTROS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS LEIS COMPLEMENTARES, ORDINÁRIAS E DELEGADAS, MEDIDAS PROVISÓRIAS, DECRETOS LEGISLATIVOS, RESOLUÇÕES LEGISLATIVAS, TRATADOS INTERNACIONAIS EM GERAL E DECRETOS AUTÔNOMOS NORMAS INFRALEGAIS 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale (MPE-BA Ð 2015) Existe hierarquia entre lei complementar e lei ordinria, bem como entre lei federal e estadual. Comentrios: No h hierarquia entre lei ordinria e lei complementar. Elas tm o mesmo nvel hierrquico. Tambm no h hierarquia entre lei federal e lei estadual. Questo errada. Aplicabilidade das normas constitucionais O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais essencial correta interpretao da Constituio Federal. a compreenso da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitir entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dispositivos da Constituio. Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. Todas elas so imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as normas constitucionais surtem efeitos jurdicos: o que varia entre elas o grau de eficcia. A doutrina americana (clssica) distingue duas espcies de normas constitucionais quanto aplicabilidade: as normas autoexecutveis (Òself executingÓ) e as normas no-autoexecutveis. As normas autoexecutveis so normas que podem ser aplicadas sem a necessidade de qualquer complementao. So normas completas, bastantes em si mesmas. J as normas no-autoexecutveis dependem de complementao legislativa antes de serem aplicadas: so as normas incompletas, as normas programticas (que definem diretrizes para as polticas pblicas) e as normas de estruturao (instituem rgos, mas deixam para a lei a tarefa de organizar o seu funcionamento). 9 Embora a doutrina americana seja bastante didtica, a classificao das normas quanto sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo Prof. Jos Afonso da Silva. A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, Jos Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em trs grupos: i) normas de eficcia plena; ii) normas de eficcia contida e; iii) normas de eficcia limitada. 1) Normas de eficcia plena: 9 FERREIRA FILHO, Manoel Gonalves. Curso de Direito Constitucional, 38» edio. Editora Saraiva, So Paulo: 2012, pp. 417-418. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale So aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituio, produzem, ou tm possibilidade de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte quis regular. o caso do art. 2¼ da CF/88, que diz: Òso Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o JudicirioÓ. As normas de eficcia plena possuem as seguintes caractersticas: a) so autoaplicveis, dizer, elas independem de lei posterior regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido. Isso no quer dizer que no possa haver lei regulamentadora versando sobre uma norma de eficcia plena; a lei regulamentadora at pode existir, mas a norma de eficcia plena j produz todos os seus efeitos de imediato, independentemente de qualquer tipo de regulamentao. b) so no-restringveis, ou seja, caso exista uma lei tratando de uma norma de eficcia plena, esta no poder limitar sua aplicao. c) possuem aplicabilidade direta (no dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que promulgada a Constituio) e integral (no podem sofrer limitaes ou restries em sua aplicao). 2) Normas constitucionais de eficcia contida ouprospectiva: So normas que esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento da promulgao da Constituio, mas que podem ser restringidas por parte do Poder Pblico. Cabe destacar que a atuao do legislador, no caso das normas de eficcia contida, discricionria: ele no precisa editar a lei, mas poder faz-lo. Um exemplo clssico de norma de eficcia contida o art.5¼, inciso XIII, da CF/88, segundo o qual Ò livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecerÓ. Em razo desse dispositivo, assegurada a liberdade profissional: desde a promulgao da Constituio, todos j podem exercer qualquer trabalho, ofcio ou profisso. No entanto, a lei poder estabelecer restries ao exerccio de algumas profisses. Citamos, por exemplo, a exigncia de aprovao no exame da OAB como pr-requisito para o exerccio da advocacia. As normas de eficcia contida possuem as seguintes caractersticas: a) so autoaplicveis, ou seja, esto aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de lei regulamentadora. Em outras palavras, no precisam de lei regulamentadora que lhes complete o alcance ou sentido. Vale destacar que, antes da lei regulamentadora ser 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale publicada, o direito previsto em uma norma de eficcia contida pode ser exercitado de maneira ampla (plena); s depois da regulamentao que haver restries ao exerccio do direito. b) so restringveis, isto , esto sujeitas a limitaes ou restries, que podem ser impostas por: - uma lei: o direito de greve, na iniciativa privada, norma de eficcia contida prevista no art. 9¼, da CF/88. Desde a promulgao da CF/88, o direito de greve j pode exercido pelos trabalhadores do regime celetista; no entanto, a lei poder restringi-lo, definindo os Òservios ou atividades essenciaisÓ e dispondo sobre Òo atendimento das necessidades inadiveis da comunidadeÓ. Art. 9¼ assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. ¤ 1¼ - A lei definir os servios ou atividades essenciais e dispor sobre o atendimento das necessidades inadiveis da comunidade. - outra norma constitucional: o art. 139, da CF/88 prev a possibilidade de que sejam impostas restries a certos direitos e garantias fundamentais durante o estado de stio. - conceitos tico-jurdicos indeterminados: o art. 5¼, inciso XXV, da CF/88 estabelece que, no caso de Òiminente perigo pblicoÓ, o Estado poder requisitar propriedade particular. Esse um conceito tico-jurdico que poder, ento, limitar o direito de propriedade. c) possuem aplicabilidade direta (no dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que promulgada a Constituio) e possivelmente no-integral (esto sujeitas a limitaes ou restries). (Advogado FUNASG Ð 2015) As normas de eficcia contida tm eficcia plena at que seja materializado o fator de restrio imposto pela lei infraconstitucional. Comentrios: As normas de eficcia contida so restringveis por lei infraconstitucional. At que essa lei seja publicada, a norma de eficcia contida ter aplicao integral. Questo correta 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 3) Normas constitucionais de eficcia limitada: So aquelas que dependem de regulamentao futura para produzirem todos os seus efeitos. Um exemplo de norma de eficcia limitada o art. 37, inciso VII, da CF/88, que trata do direito de greve dos servidores pblicos (Òo direito de greve ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei especficaÓ). Ao ler o dispositivo supracitado, possvel perceber que a Constituio Federal de 1988 outorga aos servidores pblicos o direito de greve; no entanto, para que este possa ser exercido, faz-se necessria a edio de lei ordinria que o regulamente. Assim, enquanto no editada essa norma, o direito no pode ser usufrudo. As normas constitucionais de eficcia limitada possuem as seguintes caractersticas: a) so no-autoaplicveis, ou seja, dependem de complementao legislativa para que possam produzir os seus efeitos. b) possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos) mediata (a promulgao do texto constitucional no suficiente para que possam produzir todos os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de eficcia restrito quando da promulgao da Constituio). Muito cuidado para no confundir! As normas de eficcia contida esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que a Constituio promulgada. A lei posterior, caso editada, ir restringir a sua aplicao. As normas de eficcia limitada no esto aptas a produzirem todos os seus efeitos com a promulgao da Constituio; elas dependem, para isso, de uma lei posterior, que ir ampliar o seu alcance. Jos Afonso da Silva subdivide as normas de eficcia limitada em dois grupos: a) normas declaratrias de princpios institutivos ou organizativos: so aquelas que dependem de lei para estruturar e organizar as atribuies de instituies, pessoas e rgos previstos na 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Constituio. o caso, por exemplo, do art. 88, da CF/88, segundo o qual Òa lei dispor sobre a criao e extino de Ministrios e rgos da administrao pblica.Ó As normas definidoras de princpios institutivos ou organizativos podem ser impositivas (quando impem ao legislador uma obrigao de elaborar a lei regulamentadora) ou facultativas (quando estabelecem mera faculdade ao legislador). O art. 88, da CF/88, exemplo de norma impositiva; como exemplo de norma facultativa citamos o art. 125, ¤ 3¼, CF/88, que dispe que a Òlei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar estadualÓ. b) normas declaratrias de princpios programticos: so aquelas que estabelecem programas a serem desenvolvidos pelo legislador infraconstitucional. Um exemplo o art. 196 da Carta Magna (Òa sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperaoÓ). Cabe destacar que a presena de normas programticas na Constituio Federal que nos permite classific-la como uma Constituio-dirigente. importante destacar que as normas de eficcia limitada, embora tenham aplicabilidade reduzida e no produzam todos os seus efeitos desde a promulgao da Constituio, possuem eficcia jurdica. Guarde bem isso: a eficcia dessas normas limitada, porm existente! Diz-se que as normas de eficcia limitada possuem eficcia mnima. Diante dessa afirmao, cabe-nos fazer a seguinte pergunta: quais so os efeitos jurdicos produzidos pelas normas de eficcia limitada? As normas de eficcia limitada produzem imediatamente, desde a promulgaoda Constituio, dois tipos de efeitos: i) efeito negativo; e ii) efeito vinculativo. O efeito negativo consiste na revogao de disposies anteriores em sentido contrrio e na proibio de leis posteriores que se oponham a seus comandos. Sobre esse ltimo ponto, vale destacar que as normas de eficcia limitada servem de parmetro para o controle de constitucionalidade das leis. O efeito vinculativo, por sua vez, se manifesta na obrigao de que o legislador ordinrio edite leis regulamentadoras, sob pena de haver omisso inconstitucional, que pode ser combatida por meio de mandado de injuno ou Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso. Ressalte-se que o efeito vinculativo tambm se manifesta na obrigao de que o Poder Pblico 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale concretize as normas programticas previstas no texto constitucional. A Constituio no pode ser uma mera Òfolha de papelÓ; as normas constitucionais devem refletir a realidade poltico-social do Estado e as polticas pblicas devem seguir as diretrizes traadas pelo Poder Constituinte Originrio. (Advogado FUNASG Ð 2015) As normas constitucionais de eficcia limitada so aquelas que, no momento em que a Constituio promulgada, no tm o condo de produzir todos os seus efeitos, necessitando de lei integrativa infraconstitucional. Comentrios: isso mesmo! As normas de eficcia limitada no produzem todos os seus efeitos no momento em que a Constituio promulgada. Para produzirem todos os seus efeitos, elas dependem da edio de lei regulamentadora. Questo correta. (CNMP Ð 2015) As normas constitucionais de aplicabilidade diferida e mediata, que no so dotadas de eficcia jurdica e no vinculam o legislador infraconstitucional aos seus vetores, so de eficcia contida. Comentrios: As normas de eficcia limitada que tm aplicabilidade diferida e mediata. Cabe destacar que as normas de eficcia limitada possuem eficcia jurdica e vinculam o legislador infraconstitucional. Questo errada. Poder Constituinte hora de aprendermos tudo sobre Poder Constituinte. Vamos l? A teoria do poder constituinte foi originalmente concebida pelo abade francs Emmanuel Sieys, no sculo XVIII, em sua obra ÒO que o Terceiro Estado?Ó. Nesse trabalho, concludo s vsperas da Revoluo Francesa, Sieys trouxe tese inovadora, que rompia com a legitimao dinstica do poder.10 Ao mesmo tempo, colocava por terra as teorias anteriores ao Iluminismo, que determinavam que a origem do poder era divina. Quanta coragem para um clrigo, no mesmo? 10 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, COELHO, Inocncia Mrtires. Curso de Direito Constitucional, 5» edio. So Paulo: Saraiva, 2010. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale A teoria do poder constituinte, que se aplica somente aos Estados com Constituio escrita e rgida, distingue poder constituinte de poderes constitudos. Poder Constituinte aquele que cria a Constituio, enquanto os poderes constitudos so aqueles estabelecidos por ela, ou seja, so aqueles que resultam de sua criao. Pergunta importante que se deve fazer a seguinte: quem o titular do Poder Constituinte? Para Emmanuel Sieys, a titularidade do Poder Constituinte da nao. Todavia, numa leitura moderna dessa teoria, h que se concluir que a titularidade do Poder Constituinte do povo, pois s este pode determinar a criao ou modificao de uma Constituio. Segundo Canotilho, o ͆problema do titular do poder constituinte s pode ter hoje uma resposta democrtica. S o povo entendido como um sujeito constitudo por pessoas ̽ mulheres e homens ̽ pode ͂decidir̓ ou deliberar sobre a conformao da sua ordem poltico-social. Poder constituinte significa, assim, poder constituinte do povo.Ó11 Embora o povo seja o titular do poder constituinte, seu exerccio nem sempre democrtico. Muitas vezes, a Constituio criada por ditadores ou grupos que conquistam o poder autocraticamente. Assim, diz-se que a forma do exerccio do poder constituinte pode ser democrtica ou por conveno (quando se d pelo povo) ou autocrtica ou por outorga (quando se d pela ao de usurpadores do poder). Note que em ambas as formas a titularidade do poder constituinte do povo. O que muda unicamente a forma de exerccio deste poder. A forma democrtica de exerccio pode se dar tanto diretamente quanto indiretamente. Na primeira, o povo participa diretamente do processo de elaborao da Constituio, por meio de plebiscito, referendo ou proposta de criao de determinados dispositivos constitucionais. Na segunda, mais frequente, a participao popular se d indiretamente, por meio de assembleia constituinte, composta por representantes eleitos pelo povo. A Assembleia Constituinte, quando tem o poder de elaborar e promulgar uma constituio, sem consulta ou ratificao popular, considerada soberana. Isso se d por ela representar a vontade do povo. Por isso mesmo, seu poder independe de consulta ou ratificao popular. Diz-se que a Assembleia Constituinte exclusiva quando composta por pessoas que no pertenam a qualquer partido poltico. Seus representantes seriam 11 CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio, 7» edio. Coimbra: Almedina, 2003. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale professores, cientistas polticos e estudiosos do Direito, que representariam a nao. A Assembleia Constituinte de 1988 era soberana, mas no exclusiva. O poder constituinte pode ser de dois tipos: originrio ou derivado. Poder constituinte originrio (poder constituinte de primeiro grau ou genuno) o poder de criar uma nova Constituio. Apresenta 6 (seis) caractersticas que o distinguem do derivado: poltico, inicial, incondicionado, permanente, ilimitado juridicamente e autnomo. a) Poltico: O Poder Constituinte Originrio um poder de fato (e no um poder de direito). Ele extrajurdico, anterior ao direito. ele que cria o ordenamento jurdico de um Estado. Cabe destacar que os jusnaturalistas defendem que o Poder Constituinte seria, na verdade, um poder de direito. A viso de que ele seria um poder de fato a forma como os positivistas enxergam o Poder Constituinte Originrio. Cabe destacar que a doutrina dominante segue a corrente positivista. b) Inicial: O Poder Constituinte Originrio d incio a uma nova ordem jurdica, rompendo com a anterior. A manifestao do Poder Constituinte tem o efeito de criar um novo Estado. c) Incondicionado: O Poder Constituinte Originrio no se sujeita a qualquer forma ou procedimento predeterminado em sua manifestao. d) Permanente: O Poder Constituinte Originrio pode se manifestar a qualquer tempo. Ele no se esgota com a elaborao de uma nova Constituio, mas permanece em Òestado de latnciaÓ, aguardando um novo chamado para manifestar-se, aguardando um novo Òmomento constituinteÓ. e) Ilimitado juridicamente: O Poder Constituinte Originrio no se submete a limites determinados pelodireito anterior. Pode mudar completamente a estrutura do Estado ou os direitos dos cidados, por exemplo, sem ter sua validade contestada com base no ordenamento jurdico anterior. Por esse motivo, o STF entende que no h possibilidade de se invocar direito adquirido contra normas constitucionais originrias.6 A doutrina se divide quanto a essa caracterstica do Poder Constituinte. Os positivistas entendem que, de fato, o Poder Constituinte Originrio ilimitado juridicamente; j os jusnaturalistas entendem que ele encontra limites no direito natural, ou seja, em valores suprapositivos. No Brasil, a doutrina majoritria adota a corrente positivista, reconhecendo que o Poder Constituinte Originrio ilimitado juridicamente. 31178412881 - Mariana Marques Machado d www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Embora os positivistas defendam que o Poder Constituinte Originrio ilimitado, importante que todos reconheamos, como o Prof. Canotilho, que ele dever obedecer a Òpadres e modelos de conduta espirituais, culturais, ticos e sociais radicados na conscincia jurdica geral da comunidadeÓ. 12 f) Autnomo: tem liberdade para definir o contedo da nova Constituio. Destaque-se que muitos autores tratam essa caracterstica como sinnimo de ilimitado. As bancas examinadoras adoram confundir os candidatos com relao s caractersticas do Poder Constituinte Originrio. Vamos entender o que elas fazem? Veja a frase abaixo: ÒO poder constituinte originrio inicial porque no sofre restrio de nenhuma limitao imposta por norma de direito positivo anterior.Ó Ora, sabemos que o Poder Constituinte mesmo inicial. Mas por que ele considerado inicial? Porque ele inaugura a ordem jurdica (e no porque ele no encontra limites em norma de direito positivo anterior!) A questo estaria correta se ela tivesse dito o seguinte: ÒO poder constituinte originrio ilimitado porque no sofre restrio de nenhuma limitao imposta por norma de direito positivo anterior.Ó Portanto, amigos, fiquem atentos! No basta saber as caractersticas do Poder Constituinte Originrio: fundamental conhecer tambm a caracterstica associada a cada uma delas. O Poder Constituinte Originrio pode ser classificado, quanto ao momento de sua manifestao, em histrico (fundacional) ou ps-fundacional (revolucionrio). O Poder Constituinte Originrio histrico o responsvel pela criao da primeira Constituio de um Estado. Por sua vez, o poder ps-fundacional aquele que cria uma nova Constituio para o Estado, em substituio anterior. Ressalte-se que essa nova Constituio poder ser fruto de uma revoluo ou de uma transio constitucional. 12 CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio, 7» edio. Coimbra: Almedina, 2003. 31178412881 - Mariana Marques Machado a www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale O Poder Constituinte Originrio , ainda, classificado, quanto s dimenses, em material e formal. Na verdade, esses podem ser considerados dois momentos distintos na manifestao do Poder Constituinte Originrio. Primeiro, h o momento material, que antecede o momento formal; o poder material que determina quais sero os valores a serem protegidos pela Constituio. nesse momento que toma-se a deciso de constituir um novo Estado. O poder formal, por sua vez, sucede o poder material e fica caracterizado no momento em que se atribui juridicidade quele que ser o texto da Constituio. Trataremos, agora, da segunda forma de Poder Constituinte: o Derivado. O Poder Constituinte Derivado (poder constituinte de segundo grau) o poder de modificar a Constituio Federal bem como de elaborar as Constituies Estaduais. fruto do poder constituinte originrio, estando previsto na prpria Constituio. Tem como caractersticas ser jurdico, derivado, limitado (ou subordinado) e condicionado. a) Jurdico: regulado pela Constituio, estando, portanto, previsto no ordenamento jurdico vigente. b) Derivado: fruto do poder constituinte originrio c) Limitado ou subordinado: limitado pela Constituio, no podendo desrespeit-la, sob pena de inconstitucionalidade. d) Condicionado: a forma de seu exerccio determinada pela Constituio. Assim, a aprovao de emendas constitucionais, por exemplo, deve obedecer ao procedimento estabelecido no artigo 60 da Constituio Federal (CF/88). O Poder Constituinte Derivado subdivide-se em dois: i) Poder Constituinte Reformador e; ii) Poder Constituinte Decorrente. O primeiro consiste no poder de modificar a Constituio. J o segundo aquele que a CF/88 confere aos Estados de se auto-organizarem, por meio da elaborao de suas prprias Constituies. Ambos devem respeitar as limitaes e condies impostas pela Constituio Federal. Em nosso mundo globalizado, fala-se hoje em um poder constituinte supranacional. Atualmente, tal modalidade de poder constituinte existe na Unio Europeia, onde vrios Estados abriram mo de parte de sua soberania em prol de um poder central. a manifestao mxima daquilo que se chama direito comunitrio, reconhecido como hierarquicamente superior aos direitos internos de cada Estado. 31178412881 - Mariana Marques Machado 9 www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale (MPF Ð 2015) O carter ilimitado e incondicionado do poder constituinte originrio precisa ser visto com temperamentos, pois esse poder no pode ser entendido sem referenda aos valores ticos e culturais de uma comunidade politica e tampouco resultar em decises caprichosas e totalitrias. Comentrios: Esse uma questo doutrinria muito interessante, que consiste em saber se o Poder Constituinte Originrio encontra algum tipo de limitao. Adota-se aqui a posio de Canotilho, para quem o Poder Constituinte Originrio deve observar Òpadres e modelos de conduta espirituais, culturais, ticos e sociais radicados na conscincia jurdica geral da comunidade Questo correta. (PC / DF Ð 2015) O poder constituinte originrio pode ser material ou formal. O poder constituinte originrio material responsvel por eleger os valores ou ideais fundamentais que sero positivados em normas jurdicas pelo poder constituinte formal. Comentrios: O Poder Constituinte Originrio tem duas dimenses: material e formal. O PCO material determina quais valores sero protegidos pela Constituio; o PCO formal o que atribui juridicidade ao texto constitucional. O PCO material precede o PCO formal. Questo correta. (TRE-GO Ð 2015) As constituies estaduais promulgadas pelos estados-membros da Federao so expresses do poder constituinte derivado decorrente, cujo exerccio foi atribudo pelo poder constituinte originrio s assembleias legislativas. Comentrios: Exatamente isso! O Poder Constituinte Derivado Decorrente o responsvel pela elaborao das Constituies Estaduais. Questo correta. 31178412881 - Mariana Marques Machado 5 www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Princpios Fundamentaisda Repblica Federativa do Brasil 1) Regras e Princpios: Antes de tratarmos dos princpios fundamentais da Repblica Federativa do Brasil, necessrio que compreendamos dois conceitos: o de regras e o de princpios. De incio, vale destacar que as normas se dividem em dois tipos: i) regras e; ii) princpios. Em outras palavras, regras e princpios so espcie do gnero normas; se estivermos tratando de regras e princpios (implcitos e explcitos) previstos na Constituio, estaremos nos referindo a normas constitucionais. As regras so mais concretas, servindo para definir condutas. J os princpios so mais abstratos: no definem condutas, mas sim diretrizes para que se alcance a mxima concretizao da norma. As regras no admitem o cumprimento ou descumprimento parcial, seguindo a lgica do Òtudo ou nadaÓ. Ou so cumpridas totalmente, ou, ento, descumpridas. Portanto, quando duas regras entram em conflito, cabe ao aplicador do direito determinar qual delas foi suprimida pela outra. Por outro lado, os princpios podem ser cumpridos apenas parcialmente. No caso de coliso entre princpios, o conflito apenas aparente, ou seja, um no ser excludo pelo outro. Assim, apesar de a Constituio, por exemplo, garantir a livre manifestao do pensamento (art. 5¼, IV, CF/88), esse direito no absoluto. Ele encontra limites na proteo vida privada (art. 5¼, X, CF/88), outro direito protegido constitucionalmente. 2) Princpios Fundamentais: Os princpios constitucionais, segundo Canotilho, podem ser de duas espcies: a) Princpios poltico-constitucionais: representam decises polticas fundamentais, conformadoras de nossa Constituio. So os chamados princpios fundamentais, que estudaremos a seguir, os quais preveem as caractersticas essenciais do Estado brasileiro. Como exemplo de princpios poltico-constitucionais, citamos o princpio da separao de poderes, a indissolubilidade do vnculo federativo, o pluralismo poltico e a dignidade da pessoa humana. b) Princpios jurdico-constitucionais: so princpios gerais referentes ordem jurdica nacional, encontrando-se dispersos pelo texto constitucional. Em regra, derivam dos princpios poltico- constitucionais. Como exemplo de princpios jurdico constitucionais, 31178412881 - Mariana Marques Machado 8 www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale citamos os princpios do devido processo legal, do juiz natural e da legalidade. Uma vez entendidos esses conceitos, passaremos anlise dos princpios fundamentais (poltico-constitucionais), responsveis pela determinao das caractersticas essenciais do Estado brasileiro. Princpios Fundamentais so os valores que orientaram o Poder Constituinte Originrio na elaborao da Constituio, ou seja, so suas escolhas polticas fundamentais. Segundo Canotilho, so os princpios constitucionais politicamente conformadores do Estado, que explicitam as valoraes polticas fundamentais do legislador constituinte, revelando as concepes polticas triunfantes numa Assembleia Constituinte, constituindo- se, assim, no cerne poltico de uma Constituio poltica. 13 Na Constituio Federal de 1988, os princpios fundamentais esto dispostos no Ttulo I, o qual composto por quatro artigos. Cada um desses dispositivos apresenta um tipo de princpio fundamental. O art. 1¼ trata dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil (RFB); o art. 2¼, do princpio da separao de Poderes; o art. 3¼, dos objetivos fundamentais; e o art. 4¼, dos princpios da RFB nas relaes internacionais. Se uma questo disser que um determinado fundamento da RFB (por exemplo, a soberania) um princpio fundamental, ela estar correta. Da mesma forma, se uma questo disser que um objetivo fundamental da RFB (por exemplo, Òconstruir uma sociedade livre, justa e solidriaÓ), um princpio fundamental, ela tambm estar correta. Ou, ainda, se a questo afirmar que um princpio das relaes internacionais (por exemplo, Òigualdade entre os EstadosÓ), um princpio fundamental, esta, mais uma vez, estar correta. A explicao para isso o fato de que os art. 1¼ - art. 4¼ evidenciam, todos eles, espcies de princpios fundamentais. 2.1 - Fundamentos da Repblica Federativa do Brasil: Os fundamentos da Repblica Federativa do Brasil esto previstos no art. 1¼, da Constituio Federal de 1988. So eles os pilares, a base do ordenamento jurdico brasileiro. 13 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio, p. 1091-92. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Art. 1¼ A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo poltico. Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio. Para memoriz-los, usamos a famosa sigla ÒSOCIDIVAPLUÓ: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo poltico. A soberania um atributo essencial ao Estado, garantindo que sua vontade no se subordine a qualquer outro poder, seja no plano interno ou no plano internacional. A soberania considerada um poder supremo e independente: supremo porque no est limitado a nenhum outro poder na ordem interna; independente porque, no plano internacional, no se subordina vontade de outros Estados.14 Assim, no mbito interno, as normas e decises elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as emanadas de grupos sociais intermedirios como famlia, 14 CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional, 2» edio. Rio de Janeiro, Forense, 1987, volume 1, pag. 169. S O C ID IV A P L U SOBERANIA CIDADANIA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA PLURALISMO POLÍTICO 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale escola e igreja, por exemplo. Por sua vez, na rbita internacional, o Estado somente se submete a regras em relao s quais manifestar livremente o seu consentimento. A soberania guarda correlao direta com o princpio da igualdade entre os Estados, que um dos princpios adotados pela Repblica Federativa do Brasil em suas relaes internacionais (art. 4¼, V, CF/88). relevante destacar que a soberania deve ser vista sob uma perspectiva (sentido) democrtica, donde surge a expresso Òsoberania popularÓ. Com efeito, o art. 1¼, pargrafo nico, dispe que Òtodo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenteÓ nos termos da Constituio. A cidadania, por sua vez, simultaneamente um objeto e um direito fundamental das pessoas; ela representa um verdadeiro status do ser humano: o de ser cidado e, com isso, ter assegurado o seu direito de participao na vida poltica do Estado. 15 A previso da cidadania como fundamentodo Estado brasileiro exige que o Poder Pblico incentive a participao popular nas decises polticas do Estado. Nesse sentido, est intimamente ligada ao conceito de democracia, pois supe que o cidado se sinta responsvel pela construo de seu Estado, pelo bom funcionamento das instituies. A dignidade da pessoa humana outro fundamento da Repblica Federativa do Brasil e consiste no valor-fonte do ordenamento jurdico, a base de todos os direitos fundamentais. Trata-se de princpio que coloca o ser humano como a preocupao central para o Estado brasileiro: a proteo s pessoas deve ser vista como um fim em si mesmo. Segundo o STF, a dignidade da pessoa humana princpio supremo, Òsignificativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso Pas e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre ns, a ordem republicana e democrtica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo.Ó16 O princpio da dignidade da pessoa humana possui elevada densidade normativa e pode ser usado, por si s e independentemente de regulamentao, como fundamento de deciso judicial. Alm de possuir eficcia negativa (invalidando qualquer norma com ele conflitante), o princpio da dignidade da pessoa humana vincula o Poder Pblico, impelindo-o a adotar polticas para sua total implementao. 15 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 61. 16 STF, HC 85.237, Rel. Min. Celso de Mello, j. 17.03.05, DJ de 29.04.05. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Em razo da importncia do princpio da dignidade da pessoa humana, o STF j o utilizou como fundamento de diversas decises importantes. A seguir, comentaremos os principais entendimentos do STF acerca da dignidade humana: a) O STF considerou legtima a unio homoafetiva como entidade familiar, em razo do princpio da dignidade da pessoa humana e do direito busca pela felicidade. Segundo a Corte: Òa extenso, s unies homoafetivas, do mesmo regime jurdico aplicvel unio estvel entre pessoas de gnero distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidncia, dentre outros, dos princpios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurana jurdica e do postulado constitucional implcito que consagra o direito busca da felicidade, os quais configuram, numa estrita dimenso que privilegia o sentido de incluso decorrente da prpria Constituio da Repblica (art. 1¼, III, e art. 3¼, IV), fundamentos autnomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador qualificao das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como espcie do gnero entidade familiarÓ. 17 b) O STF considera que no ofende o direito vida e a dignidade da pessoa humana a pesquisa com clulas-tronco embrionrias obtidas de embries humanos produzidos por fertilizao Òin vitroÓ e no utilizados neste procedimento.18 Sobre esse ponto, vale a pena esclarecer que, quando realizada uma fertilizao Òin vitroÓ, so produzidos vrios embries e apenas alguns deles so implantados no tero da futura me. Os embries no utilizados no procedimento (que seriam congelados ou descartados) que podero ser objeto de pesquisa com clulas-tronco. c) O STF entende que no possvel, por violar o princpio da dignidade da pessoa humana, a submisso compulsria do pai ao exame de DNA na ao de investigao de paternidade.19 ... Voltando anlise dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil, a elevao dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa a essa condio refora que o nosso Estado capitalista, e, simultaneamente, demonstra que o trabalho tem um valor social. o trabalho, afinal, ferramenta 17 RE 477554 MG, DJe-164 DIVULG 25-08-2011 PUBLIC 26-08-2011 EMENT VOL-02574-02 PP- 00287. 18 STF, ADI 3510/DF Ð Rel. Min Ayres Britto, DJe 27.05.2010 19 STF, Pleno, HC 71.373/RS, rel. Min. Francisco Rezek, Dirio da Justia, Seo I, 22.11.1996. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale essencial para garantir, em perspectiva menos ampla, a subsistncia das pessoas e, em perspectiva mais abrangente, o desenvolvimento e crescimento econmico do Pas. Observe que o art. 170 da CF/88 reitera esse fundamento, ao determinar que Òa ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia socialÓ. Por ltimo, o Estado brasileiro tambm tem como fundamento o pluralismo poltico. Esse princpio visa garantir a incluso dos diferentes grupos sociais no processo poltico nacional, outorgando aos cidados liberdade de convico filosfica e poltica. Como seu corolrio, tem-se a liberdade de criao e funcionamento dos partidos polticos. O STF entende que a crtica jornalstica um direito cujo suporte legitimador o pluralismo poltico; o exerccio desse direito deve, assim, ser preservado contra ensaios autoritrios de represso penal. 20 Cabe destacar que o pluralismo poltico exclui os discursos de dio, assim considerada qualquer comunicao que tenha como objetivo inferiorizar uma pessoa com base em raa, gnero, nacionalidade, religio ou orientao sexual. No Brasil, considera-se que os discursos de dio no esto amparados pela liberdade de manifestao de pensamento. (FUB Ð 2015) O pluralismo poltico, fundamento da Repblica Federativa do Brasil, pautado pela tolerncia a ideologias diversas, o que exclui discursos de dio, no amparados pela liberdade de manifestao do pensamento. Comentrios: O discurso de dio no est protegido pela liberdade de manifestao de pensamento. Por isso, o pluralismo poltico exclui discursos de dio. Questo correta. (TJ-SE Ð 2014) A dignidade da pessoa humana, princpio fundamental da Repblica Federativa do Brasil, promove o direito vida digna em sociedade, em prol do bem comum, fazendo prevalecer o interesse coletivo em detrimento do direito individual. Comentrios: A dignidade da pessoa humana um fundamento da Repblica 20 STF Ð Pet 3486/DF, Rel. Ministro Celso de Mello. DJe. 22.08.2005. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Federativa do Brasil. Enquadra-se como princpio fundamental, assim como todos os outros inscritos dos art. 1¼ a art. 4¼, CF/88. Esse princpio coloca o indviduo (o ser humano) como a preocupao central do Estado. Assim, no h que se falar em Òprevalncia do interesse coletivo em detrimento do direito individualÓ. Questo errada. 2.2- Forma de Estado / Forma de Governo / Regime Poltico: Dentre as decises polticas fundamentais, esto a definio da forma de Estado e a forma de governo. Essas opes polticas foram escolhidas pelo Poder Constituinte Originrio logo no incio do texto constitucional (art. 1¼, caput). a) Forma de estado diz respeito maneira pela qual o poder estterritorialmente repartido; em outras palavras, a repartio territorial do Poder que ir definir a forma de Estado. Nesse sentido, um Estado poder ser unitrio (quando o poder est territorialmente centralizado) ou federal (quando o poder est territorialmente descentralizado). 21 O Brasil um Estado federal, ou seja, adota a federao como forma de Estado. H diversos entes federativos (Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios), todos eles autnomos, dotados de governo prprio e de capacidade poltica. So pessoas jurdicas de direito pblico que mantm entre si um vnculo indissolvel. Em razo dessa indissolubilidade, um estado ou municpio brasileiro no pode se separar do Brasil; diz-se que, em uma federao no h o direito de secesso. esse o princpio da indissolubilidade do vnculo federativo, o qual reforado pelo fato de que a federao clusula ptrea da CF/88 (art. 60¤ 4¼, I, CF), no podendo, portanto, ser objeto de emenda constitucional tendente sua abolio. O Estado federal, segundo a doutrina, apresenta duas caractersticas: autonomia e participao. A autonomia traduz-se na possibilidade de os Estados e Municpios terem sua prpria estrutura governamental e competncias, distintas daquelas da Unio. A participao, por sua vez, consiste em dar aos Estados a possibilidade de interferir na formao das leis. Ela garantida, em nosso ordenamento jurdico, pelo Senado, rgo legislativo que representa os Estados. Cabe destacar que autonomia difere de soberania. No Brasil, apenas a Repblica Federativa do Brasil (RFB) considerada soberana, inclusive para 21 O objetivo dessa aula no nos aprofundarmos no conceito de Estado unitrio e Estado federal. Nesse momento, os conceitos acima mencionados j so suficientes ao nosso aprendizado. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale fins de direito internacional; s ela possui personalidade internacional. Isso porque, na Federao, os entes reunidos, apesar de no perderem suas personalidades jurdicas, abrem mo de algumas prerrogativas, em benefcio do todo (Estado Federal). Dessas, a principal a soberania. A Unio quem representa a RFB no plano internacional (art. 21, inciso I), mas possui apenas autonomia, jamais soberania. Destaque-se, todavia, que os outros entes federativos at podem atuar no plano internacional, mas apenas na medida em que a RFB os autoriza. Como exemplo, pode-se citar a contratao de emprstimo junto ao Banco Mundial pelo Estado de So Paulo, para fins de construo de uma rodovia. Na CF/88, os Municpios foram includos, pela primeira vez, como entidades federativas. Com essa previso constitucional, o federalismo brasileiro passou a ser considerado um federalismo de terceiro grau: temos uma federao composta por Unio, Estados e Municpios.22 No Brasil, a Unio, os Estados-membros e os Municpios, todos igualmente autnomos, tm o mesmo ÒstatusÓ hierrquico, recebendo tratamento jurdico isonmico. O governo de qualquer um deles no pode determinar o que o governo do outro pode ou no fazer. Cada um exerce suas competncias dentro dos limites reservados pela Constituio. A federao brasileira tem como caracterstica ser resultado de um movimento centrfugo, ou seja, formou-se por segregao. Isso porque no Brasil, at a Constituio de 1891, o Estado era unitrio (centralizado), tendo, ento, se desmembrado para a formao dos estados-membros. J nos Estados Unidos, por exemplo, os Estados se agregaram, num movimento centrpeto, para formar o Estado federal. Outra caracterstica de nosso federalismo que ele cooperativo. A repartio de competncias entre os entes da federao se d de forma que todos eles contribuam para que o Estado alcance seus objetivos. Algumas competncias so comuns a todos, havendo, ainda, a colaborao tcnica e financeira entre eles para a prestao de alguns servios pblicos, bem como repartio das receitas tributrias. b) Forma de Governo o modo como se d a instituio do poder na sociedade e a relao entre governantes e governados. Quanto forma de governo, um Estado poder ser uma monarquia ou uma repblica. No Brasil, a forma de governo adotada (art. 1¼, caput), foi a repblica. 22 O Prof. Manoel Gonalves Ferreira Filho diz que o Brasil um federalismo de 2¼ grau, mas essa a posio minoritria. Para esse autor, haveria dois graus: um da Unio para os Estados, e outro, dos Estados para os Municpios. 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 91 DIREITO CONSTITUCIONAL – MPU Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale So caractersticas da Repblica o carter eletivo, representativo e transitrio dos detentores do poder poltico e responsabilidade dos governantes. Os governantes, na Repblica, so eleitos pelo povo, o que vincula essa forma de governo democracia. Alm disso, na Repblica, o governo limitado e responsvel, surgindo a ideia de responsabilidade da Administrao Pblica. Finalmente, o carter transitrio dos detentores do poder poltico inerente ao governo republicano, sendo ressaltado, por exemplo, no art. 60, ¤4¼ da CF/88, que impede que seja objeto de deliberao a proposta de emenda constitucional tendente a abolir o Òvoto direto, secreto, universal e peridicoÓ. Outra importante caracterstica da Repblica que ela fundada na igualdade formal das pessoas. Nessa forma de governo intolervel a discriminao, sendo todos formalmente iguais, ou seja, iguais perante o Direito. c) O regime poltico adotado pelo Brasil a democracia, o que fica claro quando o art. 1¼, caput, da CF/88 dispe que a Repblica Federativa do Brasil constitui-se um Estado democrtico de direito. O Estado de Direito aquele no qual existe uma limitao dos poderes estatais; ele representa uma superao do antigo modelo absolutista, no qual o governante tinha poderes ilimitados. O surgimento do Estado de direito se deve aos movimentos constitucionalistas modernos. A evoluo histrica do Estado de Direito nos evidencia que, inicialmente, predominava a ideologia liberal; era o chamado Estado Liberal de Direito, no qual a limitao do poder estatal e a garantia das liberdades negativas eram os principais objetivos. Posteriormente, com a Revoluo Industrial e a Revoluo Russa, o Estado liberal d lugar ao Estado Social de Direito, marcado pela exigncia de que o Estado oferte prestaes positivas em favor dos indivduos (direitos sociais). Hoje, vive-se o momento do Estado Constitucional, que , ao mesmo tempo, um Estado de Direito e um Estado democrtico. Cabe destacar que a expresso ÒEstado Democrtico de DireitoÓ no implica uma mera reunio dos princpios do Estado de Direito e do Estado Democrtico, uma vez que os supera, trazendo em si um conceito novo, mais abrangente. Trata-se, na verdade, da garantia de uma sociedade pluralista, em que todas as pessoas se submetem s leis e ao Direito, que, por sua vez, so criados pelo povo, por meio de seus representantes. A lei e o Direito, nesse Estado, visam a garantir o respeito aos direitos fundamentais, assegurando a todos uma igualdade material, ou seja, condies materiais mnimas a uma existncia digna. Nos dizeres de Dirley da Cunha Jr, Òo Estado Democrtico de 31178412881 - Mariana Marques Machado www.estrategiaconcursos.com.br
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