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ob jet ivo s A U L A S Estrutura e composição da terra Objetivos que você deverá alcançar Desenvolver a noção de tempo geológico, em comparação com as escalas de tempo que nos são familiares. Conhecer a estrutura interna da Terra e a composição de suas camadas. Entender o conceito de GEOSFERA. Identifi car a composição química de cada geosfera. 3 / 4 GEOSFERA O prefi xo “geo” signifi ca Terra; geosfera refere-se ao planeta Terra visto como um sistema. Este sistema pode ser subdividido em subsistemas: litosfera, pedosfera, hidrosfera, biosfera e atmosfera, que interagem entre si. Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J26 INTRODUÇÃO A estrutura interna da Terra se desenvolveu ao longo de bilhões de anos, e nosso planeta continua se modifi cando, interna e externamente, até os dias de hoje. Podemos observar estas mudanças em muitas escalas de tempo diferentes. Para nós, o tempo que dura a vida de um ser humano é bastante familiar. A evolução da humanidade vem ocorrendo ao longo de milhares de anos, e como nossos conhecimentos sobre este período são muitos, fi ca fácil trabalhar também com esta escala temporal. Fica mais difícil imaginar períodos de centenas de milhares ou de bilhões de anos. Mas a formação de nosso planeta teve início há mais de 4 bilhões de anos, e para situar no tempo sua evolução precisamos desenvolver primeiro a noção de TEMPO GEOLÓGICO. TEMPO GEOLÓGICO O Tempo Geológico está dividido em etapas que marcaram história evolutiva do planeta. As principais subdivisões são chamadas de éons, recebendo os seguintes nomes grego. • Hadeano (ou “anterior à Terra”) – período entre 4,6 e 3,9 bilhões de anos atrás, correspondendo à formação do planeta propriamente dita. Alguns geólogos agrupam este éon com o seguinte, chamando o conjunto pelo nome Arqueano. • Arqueano (que signifi ca “antigo”) – período entre 3,9 e 2,5 bilhões de anos atrás. A atmosfera do planeta era muito diferente, não continha oxigênio e era rica em metano, amônio e outros gases tóxicos. Foi neste período que a Terra esfriou o sufi ciente para permitir a formação das rochas que constituem a crosta. Ao longo deste éons surgiram os primeiros seres vivos, cerca de 3.5 bilhões de anos atrás. • Proterozóico (que quer dizer “vida primitiva”) – entre 2,5 bilhões e 570 milhões de anos atrás. Corresponde ao período em que se formaram continentes estáveis. Os organismos existentes durante o Proterozóico eram algas e bactérias. Existem evidências da ocorrência de alguns organismos multicelulares no fi nal do Proterozóico (medusas, vermes e outros). TEMPO GEOLÓGICO A escala geológica do tempo é da ordem de milhões a bilhões de anos, tendo a Terra se formado a cerca de 4,7 bilhões de anos atrás (A técnica usada para determinar esta idade é assunto da Aula 18). C E D E R J 27 A U LA S 3 /4 M Ó D U LO 2 • Fanerozóico (que signifi ca “vida visível”) – teve início há 570 milhões de anos atrás e continua até o presente. É marcado pelo aparecimento de organismos com partes duras tais como conchas, sendo muito melhor estudado e apresentando muitas subdivisões. A atmosfera começa a conter oxigênio, fator que certamente contribuiu para a diversifi cação dos seres vivos. Durante o Éon Fanerozóico a vida evoluiu de invertebrados marinhos até peixes, anfíbios e répteis. Surgiram as plantas terrestres, os dinossauros e os mamíferos, fi nalmente aparecendo os primatas e o homem. As evidências desta história evolutiva serão discutidas com mais detalhes na aula 20. Observe que os três primeiros éons abrangem 88% da história da Terra (Gráfi co 1) e em geral são estudados com poucas subdivisões. Os organismos existentes até o fi m do Proterozóico eram constituídos apenas por tecidos moles, e os registros de sua existência são raros, constituídos em geral por impressões deixadas pelos mesmos em ROCHAS SEDIMENTARES. ROCHAS SEDIMENTARES Rochas formadas na superfície da Terra pela consolidação de detritos e outros materiais. Gráfi co 1: As principais divisões do tempo geológico. Uma comparação interessante foi apresentada por Myers no livro “Gaia - an Atlas of Planet Management”, traçando um paralelo entre a evolução do universo e a duração de um dia. Esta comparação pode nos ajudar a compreender a escala geológica do tempo e é apresentada na Figura 8. Fanerozóico 12% Hadeano 15% Arqueano 30% Proterozóic 43% Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J28 Figura 8: Comparação entre o tempo decorrido desde o Big Bang e a duração de um dia. • o BIG BANG teria ocorrido no primeiro bilionésimo de segundo deste dia imaginário; • os primeiros átomos estáveis teriam surgido nos primeiros quatro segundos; • em algumas horas, estariam formadas galáxias e estrelas, mas o Sistema Solar só teria se formado ao anoitecer, às 18 horas; • a vida na Terra demoraria um pouco mais a surgir, por volta das 20 horas, e os primeiros vertebrados às 22 horas e trinta minutos; • os dinossauros teriam vivido entre 23 horas e 35 minutos e 23 horas e 56 minutos; • somente quando faltassem 10 segundos para a meia noite teriam surgido os primeiros ancestrais humanos; • a revolução industrial teria ocorrido no último bilionésimo de segundo deste dia. BIG BANG Teoria que explica a origem do universo através de uma explosão cósmica, ocorrida entre 12 e 13,5 bilhões de anos atrás. Antes desta explo-são, toda a matéria estaria compactada em um único ponto, de densidade extremamente alta. C E D E R J 29 A U LA S 3 /4 M Ó D U LO 2 Diante disso, cabe uma reflexão sobre a interação entre o desenvolvimento tecnológico e o meio ambiente. A formação dos solos, por exemplo, é um processo que leva milhares a milhões de anos para se completar, dependendo do clima e outros fatores que discutiremos com mais detalhe na Aula 11. A remoção abusiva das coberturas vegetais originais e o uso não planejado dos solos podem levar a um desgaste deste recurso natural em décadas, ou mesmo em poucos anos. Em conseqüência, a nossa capacidade de produzir alimentos será reduzida. Apesar da existência do homem na Terra ocupar apenas uma pequena fração do tempo de existência do planeta, as intervenções humanas sobre o ambiente têm provocado uma radical transformação da superfície e da atmosfera terrestres. Mais adiante em nossa disciplina discutiremos diferentes intervenções do homem sobre o ambiente e suas conseqüências. Para discutir estas questões precisamos conhecer bem o ambiente físico de nosso planeta, e vamos começar este estudo pela formação do mesmo. Origem do sistema solar Embora a origem do Sistema Solar não seja conhecida com exatidão, evidências astronômicas e geológicas levam à suposição de que uma explosão de estrelas pré-existentes espalhou partículas em vastas distâncias no espaço. A maior parte da matéria nesta nuvem de gás e poeira interestelar era composta pelo elemento hidrogênio, com pequenas porcentagens de todos os outros elementos. A atração gravitacional entre os átomos resultou em sua aproximação, formando um disco em rotação. Perto do centro deste disco ocorriam pressões e temperaturas muito altas e a formação do Sol teve início, com o processo de fusão nuclear. A fusão de átomos de hidrogênio formando átomos de hélio, mais pesados, ocorre ainda hoje no interior do Sol, e é o processo responsável pela emissão de energia. A fusão nuclear no interior do Sol, no entanto, não é capaz de produzir elementos mais pesados que o hélio. Acredita-se que os demais elementos em nosso sistema solarsejam oriundos da poeira estelar pré- existente. Nas partes externas da nuvem de gás e poeira o resfriamento resultou na condensação de pequenas partículas sólidas (PLANETESIMAIS), as quais deram origem aos planetas, luas e outros sólidos de nosso sistema. PLANETESIMAIS Partículas formadas pela poeira cósmica e pela condensação de materiais espalhados no espaço pelo Big Bang. Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J30 Formação da Terra Acredita-se que o estágio inicial de formação da Terra tenha sido a ACRESÇÃO DE PLANETESIMAIS. Estas pequenas partículas formavam uma nuvem ao redor do sol a cerca de 4,7 bilhões de anos atrás. A colisão e aglutinação dos planetesimais deu origem à Terra e a outros planetas, que com o tempo foram adquirindo massas maiores. Este processo ocorreu ao longo do Éon Hadeano, entre 4,6 e 3,9 bilhões de anos atrás. O novo planeta provavelmente era constituído por um aglomerado de compostos de sílica e óxidos de ferro e manganês. Embora os planetesimais fossem relativamente frios, três fatores levaram ao aquecimento do planeta (Figura 9): Figura 9: Diagramas dos 3 mecanismos que podem ter causado o aquecimento da Terra primitiva. ACRESÇÃO DE PLANETESIMAIS Processo de colisão e aglutinação dos planetesimais, resultando em massas maiores. • A energia liberada pelo impacto dos planetesimais e meteoros (o impacto levava à transformação de energia cinética do movimento em energia térmica, a qual era parcialmente irradiada de volta para o espaço e parcialmente armazenada no planeta em formação); C E D E R J 31 A U LA S 3 /4 M Ó D U LO 2 • A energia gerada pela compressão do interior do planeta, a qual fi cava retida em grande parte devido ao fato das rochas serem péssimos condutores de calor; • E a energia gerada pelo DECAIMENTO RADIOATIVO de átomos de urânio, tório e potássio. DECAIMENTO RADIOATIVO Os átomos de elementos radioativos se desintegram espontaneamente, emitindo partículas subatômicas. Estas partículas são absorvidas pela matéria presente em volta do átomo que as emitiu, e sua energia cinética é transformada em calor. Embora os elementos radioativos estejam presentes na Terra em pequenas quantidades, grandes quantidades de energia são liberadas em seu decaimento, ainda nos dias de hoje. Você aprenderá mais sobre estes processos na aula 18. Aquecimento e diferenciação planetária A Terra primitiva foi provavelmente uma mistura homogênea, sem estrutura interna e sem continentes e oceanos. O aumento da temperatura no interior do planeta levou à fusão do ferro, que por ser mais pesado que os outros elementos constituintes da Terra deslocou-se para o centro do planeta em formação. Os materiais mais leves lá presentes também se encontravam em fusão, e se deslocaram para a superfície. Esse processo é conhecido como catástrofe do ferro (Figura 10). Figura 10: a) A Terra primitiva, provavelmente um corpo homogêneo. b) Processo de diferenciação, no qual o ferro concentrou-se no núcleo e os materiais mais leves “fl utuaram”, formando a crosta. O ferro é um elemento muito abundante – corresponde a cerca de 1/5 da massa da Terra, e este processo levou à formação de um núcleo constituído principalmente por ferro e elementos afins (como o níquel) no centro da Terra. Massas rochosas fundidas se tornavam mais leves que outras, no estado sólido, e ascendiam formando a crosta primitiva. Como resultado, a terra apresenta um zoneamento em camadas, constituído por um núcleo denso de ferro, um manto de composição intermediária e uma crosta superfi cial formada por materiais mais leves. O escape de gases, neste processo, resultou na formação da Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J32 atmosfera e dos oceanos. A estrutura interna do nosso planeta pode ser observada na Figura 11. Observe atentamente as proporções entre as diferentes camadas. Figura 11: Estrutura interna da Terra, resultado do processo de diferenciação: um núcleo interno sólido, um núcleo externo em fusão (ambos compostos principalmente por ferro), um manto de composição intermediária e uma fi na crosta superfi cial com-posta por elementos mais leves. Estudando o interior do planeta a) O que nos revelaram os terremotos Enquanto o raio da Terra tem cerca de 6.300 km, os poços mais profundos já perfurados alcançaram pouco mais de 7 km. Sendo assim, é muito fácil estudar a crosta terrestre, da qual podemos obter amostras com facilidade, mas as informações sobre o interior do planeta têm que ser obtidas por métodos indiretos. Diversos ramos da ciência vêm contribuindo para o conhecimento do interior do planeta ao longo do tempo. Um ramo da geologia que muito contribuiu para o conhecimento da estrutura interna do nosso planeta foi a GEOFÍSICA. Os terremotos, por seus efeitos devastadores, vêm sendo estudados com especial atenção pelos geofísicos. Diferentes ondas de impacto (também chamadas de ondas sís- micas) são geradas quando ocorrem terremotos. Assim como o som e a luz têm diferentes velocidades de propagação nos diversos meios, dependendo de sua rigidez e densidade, também as ondas sísmicas têm diferentes velocidades de propagação nos diversos meios. A determinação da velocidade de propagação destas ondas quando ocorre um sismo (terremoto) torna possível estimar a natureza e espessura do material GEOFÍSICA Aplicação da física ao estudo da Terra. Crosta (0 40km) nto 891km) Núcleo externo em fusão 2.891-5.150 km) úcleo interno sólido 150-6.370 km) C E D E R J 33 A U LA S 3 /4 M Ó D U LO 2 atravessado. Este tipo de estudo permitiu conhecer a profundidade em que se encontram os limites que separam as principais camadas da Terra, e ainda a natureza dos materiais presentes em cada uma delas. Veja na Figura 12a os principais tipos de onda de impacto, e como o estudo de sua propagação permitiu conhecer melhor a estrutura interna da Terra. Observe por exemplo na Figura 12b que a partir de uma determinada distância do foco do terremoto as ondas S não chegam mais diretamente à superfície terrestre, pois não se propagam no núcleo externo constituído por material em fusão. Figura 12: a) Esquema do mecanismo de propagação das ondas sísmicas. As ondas longitudinais, P, se propagam com movimentos de compressão e dilatação na mesma direção do deslocamento da onda. Nas ondas transver- sais, S, este movimento é perpendicular à direção de propagação. b) A cada mudança de velocidade das ondas sísmicas corresponde uma das subdivisões maiores da Terra. Observe que as indas S, que só se propagam em meio sólido, não atravessam o núcleo externo da Terra. Fonte: Leinz, V. & Amaral, S. E., 1972 Geologia Geral Companhia Editora Nacional, Cap. 13. b) As conclusões dos astrônomos Outra ciência que contribuiu muito para o estudo do nosso planeta foi a astronomia. As técnicas astronômicas permitem determinar a massa do planeta, analisando sua infl uência gravitacional sobre a Lua, demais planetas e outros corpos celestes. Os sistemas de posicionamento global (GPS) existentes hoje, por outro lado, permitem determinar com exatidão o diâmetro do planeta, e assim determinar seu volume. Combinando os dados relativos à massa e volume, podemos estimar a densidade média da Terra, e o resultado obtido é de 5,5 g/cm3. Por outro lado, as amostras coletadas na crosta terrestre podem ser analisadas diretamente. Sua densidade é de cerca de 2,8 g/cm3. Estes Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J34 resultados nos revelam uma informação muito importante:a densidade da Terra não é homogênea, ou seja, o manto e o núcleo terrestres devem possuir uma densidade mais elevada que a crosta, resultando na densidade média calculada anteriormente. Esta conclusão confi rma a existência de camadas no interior do planeta, que diferem das rochas superfi ciais da crosta pelo menos em relação a uma característica: a densidade. A elevada densidade do ferro, suas propriedades magnéticas e a existência de um campo eletromagnético terrestre são fortes evidências de que o núcleo terrestre seja mesmo constituído principalmente por ferro (Figura 13). c) As informações que vieram do espaço Outra técnica que permite inferir a composição dos materiais presentes no interior da Terra está relacionada com a geoquímica. Desde o início do século passado os geoquímicos vêm analisando e classifi cando os METEORITOS em quatro grandes grupos, de acordo com sua composição química e mineralógica. Um primeiro grupo é muito semelhante às rochas encontradas na crosta da Terra; outro tipo é composto por uma liga de ferro e níquel, com características muito diferentes de qualquer material da crosta terrestre, sendo semelhantes ao que se supõe que constitua o núcleo terrestre; um terceiro grupo apresenta composição química intermediária entre os dois primeiros, sendo considerado semelhante à provável composição do manto terrestre; e o último grupo, chamado grupo dos meteoritos primitivos, apresenta composição semelhante à composição média da Terra como um todo (incluindo aí crosta, manto e núcleo). Figura 13: O campo magné- tico da Terra atua como um magneto gigante no centro da Terra, levemente incli- nado em relação ao eixo de rotação. METEORITOS Fragmento de material de origem extraterrestre que cai na Terra. Pólo NortePól N t Geográfi coG Pólo Nortel Magnético Equadorq C E D E R J 35 A U LA S 3 /4 M Ó D U LO 2 Uma vez que os meteoritos foram formados ao mesmo tempo em que o Sistema Solar é presumível que sua composição seja semelhante à da Terra. Sua origem provavelmente está relacionada a corpos celestes que passaram por um processo de diferenciação semelhante ao que ocorreu com a Terra, e o último grupo provavelmente foi originado de corpos não diferenciados. A Tabela 2 apresenta algumas características das principais camadas da Terra, com base nas informações apresentadas anteriormente, produzidas por diferentes áreas do conhecimento. Profundidade (km) Camada Densidade (g/cm3) Temperatura (oC) 15 a 25 25 a 50 1200 2900 6370 Crosta Superior Crosta Inferior Manto Superior Manto Inferior Núcleo 2,7 2,95 3,3 4,7 12,2 600 1.200 3.400 4.000 4.000 Tabela 2: Estrutura interna da Terra (Fonte: Popp, JH (1999) Geologia Geral. LTC – Livros Técnicos e Científi cos Editora S.A., 15a edição, Capítulo 1 (O estudo da Terra). As geosferas A Tabela 3 compara a abundância dos elementos na Terra e na crosta terrestre. Devido à catástrofe do ferro, a abundância do mesmo na crosta é muito menor do que no planeta como um todo, sendo por outro lado a crosta enriquecida em sílicio, alumínio, cálcio, potássio e sódio. Fe 35 6 O 30 46 Si 15 28 Mg 13 4 Ni 2,4 < 1 S 1,9 < 1 Ca 1,1 2,4 Al 1,1 8 K < 1 2,3 Na < 1 2,1 Terra (%) Crosta Terrestre (%) Tabela 3: Composição química da Terra e da Crosta Terrestre (Dados obtidos a partir de Krauskopf, K. B., 1979, Introduc- tion to Geochemistry, Tóquio, McGraw-Hill, Inc. p. 516). Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J36 A diferenciação não separou os elementos apenas em função de seu peso atômico, como se poderia pensar. Os elementos químicos formam compostos, cujas propriedades físicas e químicas (afi nidades químicas, pontos de fusão, densidades, etc.) governam sua distribuição. Os compostos que se formam dependem, por outro lado, das confi gurações eletrônicas dos átomos que os compõem. Por exemplo, alguns silicatos de cálcio, sódio, potássio e alumínio – os feldspatos – apresentam baixos pontos de fusão (entre 700 e 1000oC) e são relativamente leves quando fundidos, tendo por isso se concentrado na crosta. O manto, situado entre a crosta e o núcleo é um reservatório de silicatos ferro magnesianos, que se fundem em temperaturas mais elevadas e são mais pesados que os feldspatos. Elementos pesados como ouro e platina têm pouca afi nidade com oxigênio e silício, e provavelmente estão concentrados no núcleo, enquanto urânio e tório, embora apresentem elevado peso atômico, formam óxidos e silicatos com facilidade, encontrando-se concentrados na crosta. A tendência que os elementos químicos apresentam de se ligar preferencialmente com elementos afi ns, suas diferentes características físicas e químicas e sua importância para os organismos condicionou a formação de diferentes geosferas na superfície terrestre: Estas geosferas interagem entre si, ocorrendo uma migração dos elementos de uma geosfera para outra, como vimos ao falar sobre ciclos biogeoquímicos nas aulas 1 e 2. É importante compreender que as geosferas são subdivisões da crosta terrestre, para fi ns de organização do seu estudo. Não constituem camadas separadas como as camadas do interior da Terra, mas ocorrem em profunda interação. Veja no quadro a seguir a identifi cação das geosferas: C E D E R J 37 A U LA S 3 /4 M Ó D U LO 2 Litosfera (prefi xo “lito” = rocha) Pedosfera (prefi xo “pedo” = solo) Biosfera (prefi xo “bio” = vivo) Hidrosfera (prefi xo “hidro” = água) Atmosfera (prefi xo “atmo” = gás, vapor) É parte externa rochosa da Terra, incluindo a crosta e a parte superior do manto. Corresponde ao conjunto dos solos e sedimentos na superfície da crosta terrestre. É constituída pela totalidade dos seres vivos na Terra. É composta pelos oceanos, lagos e rios, mais a água subterrânea, neve e gelo. Algumas vezes é subdividida em hidrosfera doce e salgada. É a camada de gases que envolve a Terra. A Tabela 4 apresenta os elementos químicos mais abundantes em cada uma das geosferas. Observe que elementos muito solúveis como cloro e sódio tendem a se concentrar na hidrosfera. Os nutrientes (principais constituintes dos seres vivos) ocorrem em maior proporção na biosfera. Elementos como os gases nobres, que não se combinam facilmente com outros elementos, e elementos que formam moléculas voláteis se concentram na atmosfera. Os elementos que formam cátions muito eletropositivos (como os metais alcalinos e alcalino-terrosos) tendem a acumular-se na litosfera. Litosfera (Crosta) Hidrosfera Doce Marinha Atmosfera Biosfera Oxigênio Silício Alumínio Ferro Cálcio Magnésio Sódio Potássio Titânio Hidrogênio Fósforo Oxigênio Hidrogênio Cálcio Carbono Cloro Silício Sódio Magnésio Enxofre Potássio Nitrogênio Oxigênio Hidrogênio Cloro Sódio Enxofre Magnésio Cálcio Potássio Carbono Estrôncio Boro Nitrogênio Oxigênio Argônio Carbono Neônio Hélio Oxigênio Carbono Hidrogênio Cálcio Nitrogênio Potássio Silício Fósforo Magnésio Sódio Cloro g g g g Tabela 4: Abundância dos elementos em cada geosfera (Adap- tado de Fortescue, J.A.C., 1980, Environ- mental Geochemistry, A Holistic Approach, New YorkSpringer Verlag, Cap. 6, Tab. 6.3, p. 56). Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J38 R E S U M O Várias vezes ao longo da nossa disciplina voltaremos a falarsobre a distribuição dos elementos nas diferentes geosferas. Por isso, é muito importante que você, estudante, comece a se familiarizar com esta tabela. A estrutura interna da Terra se desenvolveu ao longo de bilhões de anos, e nosso planeta continua se modifi cando, interna e externamente, até os dias de hoje. O Tempo Geológico está dividido em etapas que marcaram a história evolutiva do planeta. As principais subdivisões são chamadas de éons, recebendo os seguintes nomes gregos: Hadeano (4,6 a 3,9 bilhões de anos atrás) correspondendo à formação do planeta propriamente dita; Arqueano ( 3,9 a 2,5 bilhões de anos atrás) correspondendo à formação das rochas que constituem a crosta, com o aparecimento dos primeiros seres vivos; Proterozóico ( 2,5bilhões a 570 milhões de anos atrás) quando se formaram continentes estáveis, e com a presença de algas e bactérias; Fanerozóico (570 milhões de anos atrás ao presente) marcado pelo aparecimento de uma atmosfera rica em oxigênio e organismos diversifi cados. A formação da Terra, durante o Éon Hadeano, ocorreu pela acresção de planetesimais. O planeta provavelmente era constituído por um aglomerado homogêneo de compostos de sílica e óxidos de ferro e manganês. O aquecimento desta massa homogênea ocorreu por causa da energia liberada pelo impacto dos planetesimais e meteoros, pela compressão gravitacional e pelo decaimento radioativo de átomos de urânio, tório e potássio. O aumento da temperatura no interior do planeta levou à fusão do ferro, que por ser mais pesado que os outros elementos constituintes da Terra deslocou- se para o centro do planeta em formação. Os materiais mais leves lá presentes também se encontravam em fusão e se deslocaram para a superfície. Esse processo é conhecido como catástrofe do ferro. C E D E R J 39 A U LA S 3 /4 M Ó D U LO 2 Como resultado, a terra apresenta um zoneamento em camadas, constituído por um núcleo denso de ferro, um manto de composição intermediária e uma crosta superfi cial formada por materiais mais leves. O escape de gases, neste processo, resultou na formação da atmosfera e dos oceanos. A estrutura interna da Terra é conhecida a partir de: estudo da propagação de ondas de impacto geradas por terremotos (geofísica); comparação entre a densidade do planeta, estimada a partir de estudos astronômicos, a densidade das rochas presentes na superfície; e a análise geoquímica de meteoritos. Podemos subdividir a Terra em sub-sistemas (geosferas) para facilitar seu estudo: litosfera, pedosfera, biosfera, hidrosfera e atmosfera. A abundância dos elementos químicos em cada geosfera será determinada por suas características, como solubilidade e tipo de ligação química preferencial. Procure memorizar os elementos mais abundantes em cada geosfera, observando as principais diferenças (Tabela 3). EXERCÍCIOS AVALIATIVOS Procure responder às questões a seguir com calma e atenção. Retorne ao texto sempre que for necessário, e procure o tutor da disciplina no pólo caso você tenha alguma dúvida. É importante que você procure esclarecer suas dúvidas a cada semana! 1. Descreva em linhas gerais a estrutura interna da Terra. 2. Quais são as características que distinguem crosta, manto e núcleo? 3. Quais são as evidências de que existe realmente esta estrutura? Explique. 4. Faça um resumo das etapas envolvidas na formação da Terra. 5. Compare a espessura da crosta terrestre com o raio do planeta Terra. Dinâmica da Terra | Estrutura e composição da terra C E D E R J40 PARA PENSAR Você estudou nestas aulas como foi que a Terra chegou a apresentar as características que hoje possui, em relação à sua composição. Com base nestes conhecimentos, tente avaliar se é provável a existência de vida em outros planetas fora do Sistema Solar. Nesse caso, como deveria ser a atmosfera? E a hidrosfera? Leitura recomendada POPP, José Henrique. Geologia Geral. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. 376p. Cap. 1: O estudo da Terra. Site recomendado GEOLOGY entrance. UCMP exhibit halls. Disponível em: <http: //www.ucmp.berkeley.edu/exhibit/geology.html>. Acesso em: 25 maio 2005.
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