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CRIMINALISTICA LIVRO 1 PARTE 2 DE 3

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286 CRlMINALÍSTlCA PARA CONCURSO - MOERI ESPINOULA 11 - PElÚCIA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA 287
dos depois de analisado o conjunto de todas as informações colhidas
nas diversas fases do exame. A orientação deve sempre ser pela disCri-
ção e cuidados com qualquer tipo de comentário inadequado para a
situação.
Interação com a equipe de investigadores da polícia antes e depois de
feitos os exames no local, no sentido de discutirem - peritos e investiga_
dores - sobre as primeiras impressões que puderam recolher do local.
Na chegada da equipe pericial a conversa tem por objetivo os peritos
tomarem conhecimento das primeiras informações sobre o local e ou-
tras circunstâncias. Ao final dos exames a conversa objetiva fornecer aos
investigadores algumas informações - mesmo não conclusivas - sobre
determinados vestígios que poderão auxiliar no direcionamento das in-
vestigações. Evidentemente que durante a perícia, os investigadores não
podem transitar no local, a fim de evitar a descaracterização de qualquer
vestígio antes de ser verificado pelos peritos. Recomenda-se, ao final
dos exames, uma reunião entre os peritos e os investigadores para essa
troca de informações.
2.4.3. Exame do local propriamente dito
Primeiramente deverá ser estabelecida a divisão do local em imediato e
mediato, para, então, começar a realização dos exames. Ou seja: com este pro-
cedimento estará sendo delimitada a área de exame julgada necessária para pro-
ceder à busca e coleta dos vestígios.
Para tanto, devemos ter em mente que o exame em um local de crime tem
aspectos irreversíveis, e que quando examinamos determinado vestígio podere-
mos estar - ao mesmo tempo - destruindo-o. É o que chamamos de "ponte", a
qual, ao ser atravessada, poderá ser destruída. Figuradamente dizemos que, ao
atravessarmos a ponte, colocamos uma bomba e a destruímos. Exemplo disso é
o de um fragmento de impressão digital, uma marca de calçado no solo, o for-
mato de uma mancha de sangue, etc. Ao examinarmos e coletarmos o vestígio,
obrigatoriamente estaremos destruindo-o no seu formato original, impossibili-
tando o reexame daquele vestígio nas suas condições originais, daí a importân-
cia da aplicação de metodologias e da correta seqüência de execução das fases
do exame.
Assim, podemos dizer que numa perícia de morte violenta existem três
pontes que serão atravessadas ao longo dos exames.
A primeira ponte será a tomada inicial de contato com o local que devemos
ter.jamais deveremos chegar a um local e irmos logo adentrando por entre os
vestígios. Isso, conforme já comentamos, fatalmente irá prejudicar alguma coisa
nesse conjumo dos exames periciais.
A segunda se caracteriza pela busca, coleta e preservação dos vestígios ma-
teriais, a fim de serem analisados e estudados no próprio local ou em fase pos-
terior, quando houver necessidade de exames complementares.
A terceira ponte tratará do exame, da necrópsia e do sepultamento do ca-
dáver. Como vemos, a terceira ponte começa a ser atravessada ainda no próprio
local, quando do início da realização dos exames, entendida como a análise dos
vestígios ali coletados. Continua a terceira ponte com a necrópsia, quando os
peritos criminais, que realizaram o ex.ame de local, devem estar acompanhando
os médicos-legistas, a fim de propiciarem o intercâmbio de informações técni-
cas.
2.4.3.1. Orientação a ser adotada
Satisfeitos os requisitos antes de se dirigir ao local a ser periciado e já no
local, tomados os cuidados iniciais comentados anteriormente, os peritos de-
vem definir qual a orientação de mobilização que irão adotar naquele espaço,
informando isso aos demais membros da equipe. Várias são as orientações que
os peritos podem utilizar para efetuarem os exames em um local de morte vio-
lenta, dentre as quais poderíamos destacar algumas.
Todavia, antes de exemplificarmos, queremos ressaltar a importância de se
adotar um sentido de deslocamento na área a ser examinada, tendo em vista o
alto risco que se corre ao se modificar, retirar ou destruir algum vestígio mais
sensível à movimentação de pessoas no local. Assim, a regra básica para se deslo-
car em uma área de exame pericial é a de que só podemos transitar nos espaços
em que já foram devidamente examinados e analisados todos os vestígios ali en-
contrados. Excetua-se dessa regra apenas a necessidade de entrada até a vítima
para ver se ainda está viva, ou se o perito adotar como metodologia do exame
da área a iniciativa de começar a perícia a partir do ponto onde está o cadáver.
É claro que qualquer um desses deslocamentos em áreas ainda não examinadas
deve ser o mais cuidadoso possível e feito somente por aqueles profissionais
que devem realizar essas tarefas.
Uma das maneiras de deslocamento mais comuns para áreas abertas é aque-
le em que seguimos um sentido de direção circular - horário ou anti-horário -
até chegarmos ao ponto central onde está o cadáver (ou maior concentração de
vestígios). A partir do ponto inicial mais distante do cadáver (do local imediato
delimitado pelo perito), os peritos vão examinando toda a área, fotografando-a
e, ao mesmo tempo, coletando os vestígios necessários a sua complementação -
os exames laboratoriais - e todos os demais procedimentos.
Observem que esta orientação circular, na prática, pode sofrer pequenas
variações no seu percurso, dependendo dos vestígios que forem sendo encon-
trados ao longo da área em exame, não sendo, portanto, um CÍrculo perfeito.
289
~
_t.í!' 1- PERíCIA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDAl;!;.-----------------'-
~., •. Dentro de uma rotina mais comum, o exame deve começar pelas suas vias
",' '~j:.;.~.f~eacesso e, internamente, por cada u~ dos cômodos adjacentes, deixando para:;if~ o finalaquele onde se encontra o cadaver, como podemos observar no desenho
. .; aseguir.
CRlMINAllSTICA PARA CONCURSO - fuBERI EsPlNÓ'
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288
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j:
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Figura 1
Outra orientação muito utilizada, também para ambientes abertos, é a de se
efetuar o exame em deslocamentos do tipo varredura, no sentido de fora para
o local onde está o cadáver. Nesta orientação, a varredura é dividida em duas
partes a fim de não ultrapassar o ponto onde está o cadáver, ou seja, duas varre-
duras tomando-se o sentido de fora para dentro.
Figura 3
Após todo o exame do ambiente (local imediato), passamos a examinar as
áreas externas <..localmediato) daquele ambiente fechado, buscando examinar
tudo o que puder ter relação com o fato em si.
f---- -- - - -- ~ .••. _
r=================::1l~ <:;=================----------------~ ~-----------------
I- --- ----- - - - - - - - - - ~ .••.- - - - -- - - ---- _
- - - - -- -- ------ - - - -~ ..•.-- -- - - - -- - -- - -- - ---------------------> <-------------------
Figura 2
Em ambiente fechado (que podem ser vários cômodos) deverá, primeira-
mente, ser definido todo esse ambiente como local imediato; e, como local
mediato, a área externa ao mencionado ambiente e que possa conter algum
vestígio a ele relacionado.
A seguir, começamos a examinar o local imediato, qual seja, o referido am-
biente fechado. Este pode ser uma casa, um apartamento, \.Im escritório, uma
fábrica, onde o ponto central - o cadáver - esteja em um de ~cômodos.
Para cada um dos cômodos desse ambiente, poderemos adotar o sentido
de deslocamento que melhor se adaptar àquela situação, tais como o circular,
varredura única, varredura dupla. A decisão dependerá da avaliação do perito:
ele deverá estabelecer qual o melhor sentido de deslocamento a ser adotado,
havendo - inclusive - situações que nem haverá essa necessidade, haja vista ser
um cômodo pequeno, onde os peritos poderão examinar a partir de um único
ponto de observação.
2.4.3.2. Principais exames e constatações
Na realização de todos esses exames devemos começar com a tomada de
informações preliminares à perícia em si, para o desenvolvimento de futuras
análises e comparações,tais como:
Assim que chegarmos ao local, devemos buscar informações com os
policiais e até populares sobre a hora mais aproximada da ocor-
rência dofato. Estas informações serão importantes, tanto do ponto
de vista administrativo ao Instituto de Criminalística, quanto - e prin-
cipalmente - para serem feitas possíveis análises com os tipos de vestí-
gios encontrados. Em algumas situações, essa informação poderá ser o
ponto de partida para buscarmos outras informações e/ou vestígios.
As condições atmosféricas do tempo devem ser anotadas no cro-
qui, pois, dependendo do tipo de local e dos vestígios verificados, te-
remos que fazer análises e comparações considerando essas condiçôes
atmosféricas. Observe-se que este item dependerá do anterior quanto
à hora em que o fato ocorreu. Aqui, associado com a informação co-
mentada no parágrafo anterior, cabe relatar uma experiência pessoal
que tivemos onde esses dados foram imprescindíveis para chegarmos
a uma conclusão da perícia que estávamos realizando.
Exemplo: Recebemos uma requisição para examinar um veículo que estava
estacionado num pátio externo, próximo a um prédio residencial, sendo o obje-
tivo pericial constatar a sua possível utilização na prática de um crime, pois havia
290 CRlMINALiSTlCA PARA CONCURSO - ALBERI ESPINDUl\
---...:
11 - PERÍCIA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA- 291
sido visto (com a placa anotada!) nas proximidades do fato delituoso. A polícia, a
partir da placa pesquisada no sistema RENAVANchegou até o proprietário e, POr
consequência, até onde se encontrava esse veículo. O crime ocorrera por volta
das cinco horas da manhã (quando esse veículo teria sido visto e quando SUa
placa teria sido anotada) e durante toda aquela noite havia chovido intensamen_
te. Ao examinarmos externamente o veículo constatamos que na banda externa
dos pneus havia pequenas partículas de terra impregnada, notadamente nas
partes mais próximas do solo e em menor quantidade à medida que a altura era
maior. Essas impregnações eram consequências do impacto das gotas de chuva
ao solo fazendo respingar as sujidades do chão na banda externa da roda/pneu.
O desenho era nítido em todas as quatro rodas e estava alinhado horizontalmen_
te ao solo, denotando que o veículo estava naquela posição estacionado desde
antes da chuva e que recebeu tais impregnações de terra pela ação da chuva.
Portanto, a situação estava clara o suficiente para podermos ter afirmado, em
nossa conclusão, que tal veículo não fora movimentado daquela posição desde
antes do início da chuva, descartando-se a suspeita de ser aquele o veículo en-
volvido no crime. Pudemos ainda reforçar tal conclusão ao retirarmos o veículo
da posição e verificarmos o desenho de acomodação dos quatro pneus ao solo,
que estava limpo e sem qualquer impregnação de sujidades da chuva com terra,
a exemplo das áreas adjacentes.
Como podemos ver, a hora provável do crime e as condições do tempo
foram fatores determinantes para a conclusão pericial.
Condições de visibilidade da área e da região também devem fazer
parte das preocupações dos peritos quanto às informações prelimina-
res que farão constar no seu croqui. Neste item devemos nos preocu-
par em saber, especialmente, as condições de iluminação, associadas
à topografia da área. Não devemos nos esquecer de anotar se se trata
de área habitada ou não, se há iluminação artificial, se é possível ob-
servar pontos próximos do local (ou vice-versa), o que pode ser deter-
minante ao delinquente para espreitar sua vítima, como também fator
de exclusão caso não seja um ponto que apresente relativa dificuldade
de observação por terceiros.
As vias de acesso são informações de destaque que os peritos procu-
ram consignar em suas anotações, pois elas nos informam inúmeras
possibilidades de ação do delinquente, como também as condições de
defesa da vítima e uma série de outras informações, dependendo do
tipo de crime e respectivas circunstâncias.
Outras informações do local poderão existir, cuja importância, no
contexto dos exames, os peritos necessariamente devem estar prepa-
rados para perceber, tais como odores, rodovias próximas, portos,
cachoeiras, proximidade com rotas de aviões, ferrovias, etc. Esse é
um item tão abrangente que seria impossível relacionarmos tudo o
que poderia existir para ser anotado e considerado na investigação. O
importante é essa consciência profissional a ser adotada pelos peritos
ao efetuarem um exame pericial, buscando qualquer informação ou
vestígio que possa lhes trazer subsídios no conjunto geral da perícia
que estejam realizando. Não importa quão inusitado possa parecer
determinada informação preliminar ou tipo de vestígio, pois, após as
respectivas análises periciais, tais sinais podem se transformar em evi-
dências daquele delito.
Toda esta coleta de informações periféricas, ou pré-local, representa a pri-
meira ponte que estaremos atravessando. Portanto, devemos ter o cuidado e a
preocupação com a situação exata de cada coisa anotada, com as informações
fornecidas por policiais ou terceiros (devemos ser criteriosos e cautelosos com
a coleta das informações dadas por terceiros, porque às vezes podem ser dadas
sem muita precisão ou até com o intuito de mascarar o trabalho da pericia
_ deve sempre haver uma checagem da sua veracidade, e jamais utilizar-se
dessas informações subjetivas para respaldar ou justificar qualquer conclusão
pericia!), a posição correta e respectiva orientação geográfica das vias de acesso,
pontos de referência, correntes de vento e consequente transporte de odores e
muitas outras informações. O perito, tanto quanto possível, principalmente com
as informações fornecidas por terceiros, deve se impor a metodologia de che-
car por si mesmo cada uma das informações. É óbvio que estamos nos referindo
somente a essas informações preliminares - ou periféricas como já menciona-
mos - que nada têm a ver com a constatação dos vestígios, pois estes somente
poderão ser considerados mediante a constatação direta do perito.
2.4.3.3. Exame dos vestígios
Tomados os procedimentos iniciais - tão importantes em muitas situações,
quanto os exames a seguir - e escolhida a rotina e metodologia a ser adotada
(circular, varredura, etc.), iniciaremos a entrada (percurso) no local definido por
nÓs como local imediato para dar inicio aos exames naquela área.
Neste ponto, estaremos começando a atravessar a segunda ponte, onde
todo cuidado é pouco, pois é a fase em que também estaremos destruindo al-
guns dos vestígios à medida que os examinarmos.
Mais uma vez queremos ressaltar que no local onde houver cadáver é sem-
pre recomendável aos peritos checarem se realmente a vítima está morta, pois
já tivemos casos em que, depois de passadas duas a três horas do fato, a vítima
ainda estava com vida e - devido à aparente morte - ninguém se preocupou em
verificar o óbito. É evidente que existem situações que não será preciso fazer
tal verificação, tendo-se em vista, por exemplo o início do estado de putrefação
ou lesões graves que, ao observar de longe, já é possível saber que a vítima está
morta. O excesso de zelo nessa iniciativa deve sempre prevalecer, a fim de pre-
servarmos possíveis vítimas ainda com vida.
292 CRIMINALiSTICA I'ARA CONCURSO - ALBERI ESI'INDULA 11 - PERÍCIA EM LOCAlS DE CRIMES CONTRA A VIDA 293
Todavia, já antes de iniciar O percurso até o cadáver (se for necessário), de-
vemos fotografar o local e registrar todos os vestígios encontrados nesse trajeto.
O item fotografia em uma perícia de local de morte violenta é extremamente
importante.
Afotografia auxilia sob dois aspectos relevantes. O primeiro é em benefício
do próprio perito, que terá - depois de desfeitas as mencionadas pontes - condi-
ções de visualizar posteriormente as condições exatas do local antes de qualquer
exame e, com isso, poderá auxiliá-lo, em muito, na análise geral dos vestígios
quando da elaboração do seu laudopericial. O segundo aspecto é o da impor-
tância da fotografia constar como ilustração em todos os laudos, para servir de
instrumento de auxilio visual e convencimento junto aos seus usuários, acerca do
que é descrito pelos peritos do local examinado (o delegado de polícia, o promo-
tor de justiça, o advogado e o magistrado, como usuários do trabalho da perícia,
não são obrigados a possuir o conhecimento técnico que os peritos detêm, sendo
recomendado que os peritos demonstrem visualmente o examinado).
Chamamos a atenção para o fato de serem os peritos obrigados a fotografar,
na situação prevista no artigo 164 do Código de Processo Penal, no qual deter-
mina que os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem
encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e ves-
tígios encontrados no local de crime. Observem que aos peritos é obrigatório
fotografar o cadáver na posição encontrada, independentemente de sua posição
estar adulterada por terceiros ou não. Este ponto serve, inclusive, para o perito
atender ao disposto no parágrafo único do artigo 169, que também determina
aos peritos relatarem as condições de preservação do local e suas respectivas
consequências para o conjunto dos exames periciais.
Costumamos orientar os peritos no sentido de fotografar sempre em ex-
cesso nos locais de crime, pois encontraremos situações posteriores em que
precisaremos demonstrar ou evidenciar um pequeno detalhe de um contexto
maior da nossa constatação, e assim a fotografia poderá nos auxiliar em muito.
Quando da confecção do Laudo Pericial, os peritos decidirão quais fotografias
colocarão no seu conjunto de ilustração, não sendo, portanto, obrigatória a uti.
lização de todas as fotografias que tenham sido operadas durante os exames.
Fica a critério exclusivo do perito essa escolha técnica. O que devemos ter é o
cuidado de arquivar (nos arquivos do Instituto) todos os negativos (ou no caso
das fotografias digitais, todos os quadros gravados), a fim de que, no futuro,
possam ser utilizados se forem necessário maiores esclarecimentos sobre aquela
perícia.
Ressaltamos que esse arquivamento dos negativos (ou arquivos digitais)
é de responsabilidade do Instituto de Criminalística, que deve criar rotinas ad.
ministrativas de controle de chapas operadas e/ou de arquivamento digital em
setor específico, para que o perito cumpra essa determinação. Não poderá haver
situação autorizada pelo Instituto para o perito guardar esses negativos em seu
arquivo particular ou pessoal.
Na entrada no local, tanto para locais abertos (no local imediato) quanto
para ambientes fechados (nesses, principalmente), os peritos irão definir previa-
mente o percurso a fazer até chegarem onde se encontra o cadáver (naqueles
casos de necessidade de verificação do óbito), a fim de não se alterar qualquer
vestígio que possa existir.
Ressalte-se que um exame pericial, como já falamos, nunca será igual a
outro anteriormente realizado. Isso' nos permite dizer que, em muitos casos, in-
dependentemente da necessidade de verificação do óbito, os peritos terão que
avaliar a situação para ver se é necessário fazer o percurso inicial até o cadáver.
Isso poderá ser necessário para checar determinadas informações preliminares,
por exemplo, no intuito de relacioná-las a vestígios depositados em locais mais
periféricos. Em qualquer caso que venham a fazer o percurso inicial até o cadá-
ver, devem ser observadas as seguintes regras:
a) definir previamente o percurso que julgarem melhor para não correrem
o risco de alterar qualquer vestígio, realizando, se possível, o mesmo
trajeto realizado pelo policial que isolou o local;
b) buscar, coletar e preservar os vestígios encontrados nesse percurso;
c) fotografar ou filmar tudo antes de passar ou tocar nos vestígios;
d) fazer um exame preliminar - visual- do cadáver (evitando-se tocá-lo),
a fim de aproveitar a oportunidade para recolher o máximo de infor-
mações que poderão auxiliar na busca e compreensão dos demais ves-
tígios ao longo do exame no local.
Feita esta verificação, os peritos poderão, então, começar de fato os exames
periciais de busca, coleta e preservação dos vestígios presentes no local do cri-
me. Estaremos, neste ponto, iniciando a travessia da segunda ponte.
Esta é uma das fases mais importantes do exame pericial em um local de
morte violenta, tendo-se em vista que os vestígios encontrados serão fundamen-
tais para o conjunto de informações que contribuirão para a formação da convic-
ção técnica dos peritos. Antes de abordar esse assunto, reapresentaremos uma
pequena classificação dos vestígios, que servirão para facilitar a compreensão da
busca por tipos de vestígios.
Vestígios prováveis
Por vestígios prováveis entendemos aqueles que, de acordo com o tipo de
ocorrência, já temos uma certeza, previsibilidade ou probabilidade de os encon-
trarmos na perícia em estudo.
Por exemplo: Num local de homicídio com utilização de arma branca como
instrumento do crime é praticamente certeza encontrarmos o vestígio
sangue. Se for um homicídio com utilização de arma de fogo é possí-
294 CIUMINALiSTICA PARA CONCURSO - ALBEIU ESPINDUL\ 11 - PERÍCIA EM LoCAIS DE CIUMES CONTRA A VIDA 295
vel encontrarmos a referida arma. Neste caso é pouco provável (quase
sempre o autor leva consigo ou esconde em outro lugar) que venha-
mos encontrar esta arma no local, mas necessariamente temos que
incluí-la na busca até esgotarmos qualquer dúvida de sua existência
naquele local.
Vestígios inusitados
Já os vestígios inusitados são todos aqueles sobre os quais ainda não há
nenhuma certeza, previsibilidade ou probabilidade da sua existência no local.
Em quase todas as perícias, especialmente aquelas de local de crime, vamos
encontrar algum tipo de vestígio cuja presença na produção delituosa jamais
teríamos condições de supor a partir de uma análise e previsibilidade pelo tipo
de ocorrência.
Por exemplo: Em um caso real de homicídio que periciamos, encontramos
as unhas dos pés da vítima pintadas de esmalte cor de rosa. Esse esmal-
te cor de rosa foi o vestígio - inusitado - que serviu para desencadear
toda a investigação pericial e policial. Este é a casuística da "Mulher
Esquartejada", colocada em nosso livro Perícia Criminal e Cível.
Assim, dentre outros vestígios prováveis que possam ser encontrados, deve-
mos sempre buscar esses que são básicos em um local de crime. Estes vestígios
podem até não ser encontrados no local; todavia, devemos incluir a sua busca na
rotina dos exames. Se esses são vestígios prováveis de serem encontrados, deve-
mos, portanto, esgotar todas as possibilidades de constatá-los, já que há probabi-
lidade ou possibilidade dessa existência.
As manchas de sangue constituem um dos principais vestígios em um
local de crime, haja vista a quantidade de informações que elas podem nos ofe-
recer para a dinãmica do local. Inúmeras podem ser as formas de produção
dessas manchas, tais como o escorrimento, o espargimento, a alimpadura, o
gotejamento, a concentração, a trilha, a projeção. As manchas de sangue po-
dem nos dizer se a vítima estava em pé ou caída ao ser ferida, se caminhou após
receber os ferimentos, se fora transportada por terceiros, se fora arrastada, se
os ferimentos sofridos foram recebidos naquele local examinado ou se ali foi
somente o local de ocultação, e muitas outras informações que poderão surgir
para cada caso.
Os vestígios de luta são sinais que possam ser encontrados no local do
crime capazes de caracterizar ou indicar a ocorrência de luta entre agressor e
vítima.
Cumpre buscar a existência de armas, aqui consideradas de qualquer tipo,
desde a arma de fogo até instrumentos contundentes. Nesse ponto, se já foi feito
um exame preliminar no cadáver, os peritos terão mais noção do que devem
procurar.
Também devemos levar em consideração estojos e projéteis de arma de
fogo, principalmente quandoa vítima tiver sido agredida por esse tipo de arma;
porém, mesmo não sendo, deve ser procuradas, inclusive armas de fogo, pois esse
tipO de instrumento pode ter sido utilizado durante o evento sem, no entanto, ser
o instrumento do crime que ocasionou a morte da vítima.
Fios de roupas, fibras, pelos e outros materiais dessa natureza devem
ser procurados em locais de crime, por serem elementos importantes na inter-
relação com outrOs vestígios encontrados, ou para futuras comparações com
suspeitos de autoria do delito.
Exemplo: para vermos que tudo pode ser importante no esclarecimento de
um crime, vejam um exemplo ocorrido no Distrito Federal, há alguns
anos, num homicídio de uma mulher, caso em que os únicos suspeitos
da autoria eram o marido e a amante deste. Quando os peritos reali-
zaram a perícia, ao examinarem o cadáver, constataram alguns fios de
cabelo na mão/unhas da vítima. A perícia solicitou amostra de cabelo
dos dois suspeitos para comparar os fios encontrados no local, mas so-
mente o marido autorizou a coleta de amostra. Ao exame de compara-
ção realizado em laboratório, foi possível concluir que os fios de cabelo
incriminados não eram do marido. Vejam que este é um vestígio não
determinante, servindo apenas como excludente, o que atendeu per-
feitamente naquela situação, pois ao excluir o marido como suspeito,
restou somente a outra acusada. Nota: Este caso foi antes do uso da
técnica de exames por DNA.
Fragmentos de impressões digitais são vestígios muitas vezes determi.
nantes para buscar a autoria de um delito; por isso, os peritos devem ter o cui.
dado de localizá-los simultaneamente à busca dos demais vestígios, uma vez que
é necessário ter o cuidado de, ao mesmo tempo, não destruir os fragmentos de
impressões digitais nem os demais vestígios porventura existentes. Em alguns
Institutos de Criminalística, a equipe de peritos é composta também por um
datiloscopista, que auxilia na coleta dos fragmentos de digitais. Nesses casos,
terá de haver uma perfeita coordenação por parte do perito, orientando aquele
auxiliar sobre os possíveis locais de coleta, após a sua pesquisa e exame global
do local, a fim de não comprometer ou adulterar nenhum vestígio.
Outras manchas, tais como esperma,fezes, tintas, solventes, ácidos e ou-
tros materiais biológicos ou químicos são fundamentais e devem ser incluídos
nessa busca como rotina em locais de crime, mesmo que, aparentemente, no local
pareça não existir esse tipo de substância. Devemos lembrar que num local de
morte violenta, por mais insignificante que possa parecer alguma coisa, jamais po-
derá ser descartada pelos peritos apriori, deixando isso somente para o momen-
to da análise individual e conjunta dos vestígios nos trabalhos finais para elaborar
o respectivo laudo.
296 CRlMlNALÍSTICA PARA CONCURSO - MOERI ESPINDUIA
11 - PERíCIA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA 297
Lixo aparente ou qualquer coisa semelhante em um local que está sendo
examinado deve merecer a atenção dos peritos como qualquer outro vestígio,
uma vez que poderão estar sendo encontrados elementos importantes ou até
conclusivos que foram descartados pelo agressor ou mesmo abandonados pela
vítima em momentos antes do crime.
Material oculto poderá haver e ser encontrado pelos peritos; para tanto,
deve-se estar atento à busca de materiais, armas, roupas ou qualquer coisa que
possa ter sido oculta no local ou nas suas proximidades. Este será um procedi-
mento que deve ter a sua busca intensificada, especialmente no local mediato,
caso os vestígios do local ou os encontrados no próprio cadáver nos indiquem
como prováveis.
Quaisquer cartas, mensagens ou documentos deixados pela vítima ou
pelo agressor são vestígios que poderão ser encontrados em muitas situações,
podendo ser, nesses casos, bastante esclarecedores para a elucidação da Ocor-
rência. É comum esse tipo de documento em casos de suicídio ou mesmo de
homicídio quando a vítima teve alguma oportunidade de redigir alguma coisa.
Marcas e pegadas são dados que, se buscados e encontrados em um
local, poderão proporcionar identificações precisas. Nesse item poderemos en-
contrar a marca de uma pegada de pessoa descalça, de um solado de calçado
(quando se tratar de tênis ou outro solado com desenho poderemos efetuar
comparações posteriores), de pneumáticos e outras.
Em ambientes fechados também é preciso verificar se houve arrombamen-
to em alguma das vias de acesso e qual o sentido de produção, a fim de poder
averiguar se foi produzido de fora para dentro ou vice-versa.
2.5. Exame do Local Mediato
Após examinar o cadáver (que será discutido no próximo item), os peritos
devem passar a examinar a área mediata, ou seja, as adjacências que tiverem
alguma relação com o fato.
Já durante o exame na área imediata e no próprio cadáver, os peritos esta-
rão formando juízo do ocorrido e, por sua vez, aperceber-se-ão da necessidade
de buscar algum outro vestígio próximo ou, em algumas situações, em locais
distantes - os chamados locais relacionados.
Assim, como nos demais procedimentos anteriores, também para os exa-
mes em áreas mediatas ou relacionadas, os peritos devem buscar algumas
informações básicas, conforme descreveremos a seguir.
Manchas de sangue podem estar presentes em áreas mais distantes, onde
possa ter acontecido luta ou agressão à vitima, ocorrendo posteriormente odes.
locamento para o local considerado imediato. Também deve ser buscado em
local relacionado, o qual poderá ser o local do óbito, o que primeiramente po-
deria ter sido tratado como de simples desova do cadáver.
Escadas, entradas, passagens ou caminhos devem ser examinados,
pois podem servir de informação complementar ou interagir com vestígios ve-
rificados na cena do crime. Tudo sempre dependerá de uma análise in loco dos
peritos a fim de saber o que devem procurar.
Objetos abandonados, caídos ou perdidos em áreas próximas poderão
nos trazer informações importantes para a análise geral da perícia.
Depósitos de materiais, lixo aparente e respectivo recipiente de lixo
podem conter vestígios esclarecedores para a perícia.
Há outros vestígios que podem ser buscados a partir de conclusões a que
os peritos cheguem, baseados na análise dos vestígios verificados no local ime-
diato ou até mesmo a partir de um vestígio encontrado ali no local mediato.
O local mediato deve sempre merecer a atenção dos peritos, independen-
temente dos exames realizados no local imediato assim o indicarem. Muitas vc-
zes nada nos induzirá - numa primeira análise no próprio local - ao raciocínio
lógico da dedução pela possível existência de algum vestígio em local mediato;
no entanto, poderemos nos deparar com informações importantes para o con-
texto geral daquela perícia.
2.6. Exame do Local Relacionado
Existem duas maneiras de chegarmos à certeza ou à probabilidade da exis-
tência de um local relacionado. O primeiro será pela própria análise dos vestí.
gios nos locais imediato e mediato; e, o segundo será por informações resultan-
tes da investigação policial que já esteja em andamento.
As técnicas dc exame em locais relacionados é a mesma que se aplica aos
demais. E ao chegarmos a um local relacionado, vamos fazer novamente todas as
classificações sobre a divisão do local e aplicar todas as metodologias, como se
fosse um outro local. A diferença será o conjunto dos vestígios, que farão parte
de um mesmo evento.
2.7. Outros Elementos a Verificar
Os elementos a serem verificados em um local de crime, tanto na área ime-
diata quanto na mediata, são os mais variados possíveis, dependendo sempre
do tipo de delito e dos vestígios principais encontrados, os quais nos darão uma
primeira noção do que deveremos continuar procurando.
Mesmo assim, chamamos a atenção para alguns elementos que poderemos
ter a necessidade de buscar e examinar, dentre tantos outros que poderão existir
de acordo com as peculiaridades do localde crime e as considerações que fize-
mos sobre vestígio provável e inusitado:
Odores: de gás, pólvora, álcool, perfume, urina e outros elementos
biológicos.
298 CRJMINALíSTlCA PARA CONCURSO - ALBERJ ESPINDUlA 11 - PERíCIA EM LOCAIS DE CRJMES CONTRA A VIDA 299
Portas e janelas: se estão abertas ou fechadas, se contêm chaves e,
em caso afirmativo, sua posição na fechadura; se há algo a ser consi-
derado nos vidros de portas e janelas,; se há nas cortinas e painéis de
janelas marcas produzidas por quaisquer tipos de instrumentos Ou
vestígios de arrombamento, tendo a atenção especial para a cOnstata-
ção de impacto e/ou perfuração de projéteis de arma de fogo, dentre
outros detalhes.
Portaria de prédios e caixas de correio: peculiaridades e formas
de acesso nas portarias de prédios, além de verificar correspondência
ou qualquer documento contido nas caixas de correio; possíveis mate-
riais ocultos nesses locais que tenham relação com o fato em exame.
Cômodos da casa ou apartamento: verificar existência de arrom-
bamentos, inclusive nos acessos aos vizinhos; possíveis vestígios de
luta ou defesa, tanto no interior quanto nas áreas externas ou local
mediato; presença de qualquer material estranho nas redondezas do
local examinado ou no próprio local do evento.
Determinação de datas: verificar existência de jornais ou revistas
possíveis de serem relacionados com a data de ocorrência do evento;
relógios, especialmente os de corda, podendo-se verificar em que horas
parou a fim de se estimar o horário do fato em questão.
Condições de ambientes: iluminação de cômodos e áreas externas,
para se ter noção da visibilidade noturna, ou sombras e/ou posições
de reflexo da luz solar, fatores que poderão influenciar na análise dos
vestígios; condições de equipamentos existentes, tais como: fornos,fo-
gões, aparelhos eletroeletrônicos, computadores efax modem, dentre
outros; conteúdo de cinzeiros ou cestas de lixo com pontas de cigarro,
papéis amassados e outros objetos; mesa com alimentos preparados
para refeição, comidas em panelas sendo preparadas, geladeiras efree-
zers revirados, aspectos de festa, etc.
3. EXAME DO CADÁVER
Em um local de morte violenta, o exame do cadáver é de fundamental im-
portância para interligar os vestígios do ambiente com os do próprio cadáver.
Nesse sentido, os peritos criminais - ainda no local - devem fazer um exame
detalhado e, depois, juntamente com os médicos-legistas, complementar o seu
trabalho nos Institutos de Medicina Legal (IMLs).
Realizar o exame do cadáver no próprio local é condição essencial para
que os peritos possam analisar toda a cena do crime e, por consequência, reu-
nir as condições de estabelecer um diagnóstico diferencial. Em nenhuma hipó-
tese deve-se deixar para examinar o cadáver quando recolhido ao Instituto de
Medicina Legal, pois inúmeros vestígios já estarão descaracterizados.
3.1. Exame do Cadáver no Local (perinecroscópico)
O exame do cadáver no local onde foi encontrado é rotineiro em nossas
perícias, a fim de podermos interligá-lo ou não com os demais vestígios encon-
trados naquele ambiente.
É importante este exame para, numa primeira análise, sabermos se aquele
local foi onde - de fato - a vítima foi agredida e/ou morta. Somente por inter-
médio dos vestígios encontrados no cadáver e na área próxima é que teremos
condições de dizer se a vítima foi morta naquele local ou se somente foi ali de-
positada (desova). Além disso, outros fatores da mais alta importância técnica
obrigam os peritos a realizarem o exame minucioso no cadáver, ainda no local
onde foi encontrado.
Inúmeros vestígios no cadáver podem ser registrados, o que leva a um tra-
balho meticuloso e sistêmico, na busca da maior quantidade possível de infor-
mações que possam ser extraídas da vítima. Portanto, assim como no exame
do local, devemos observar no cadáver alguns tópicos que desenvolveremos a
seguir, visando a estabelecer uma rotina/metodologia na execução dos exames
e, com isso, não se correr O risco de perder qualquer coisa.
Devemos seguir uma orientação geral para procedermos ao exame, com
o objetivo de não corrermos o risco de perder qualquer vestígio ou informação
existente no cadáver (aplica-se aqui, também o princípio da destruição dapon-
te).
Osferimentos são, dentre os vestígios, os primeiros que procuramos na
vítima, tendo em vista que, por intermédio deles, é possível interagir e comple-
mentar com outras buscas. Em determinadas situações, poder-se-á constatar o
tipo de ferimento existente já naquela entrada inicial do local até o cadáver de
que falamos anteriormente.
Sinais de violência são informações primárias que devem ser checadas
quanto à sua existência ou não no cadáver, pois esses prováveis vestígios pode-
rão auxiliar em muito na dinâmica do local. Entende-se como sendo sinal de
violência a ação sofrida pela vítima em consequência da intensidade dos feri-
mentos desferidos pelo agressor.
Sinais de luta também se revestem de fundamental importância para au-
xiliar na montagem da dinâmica do local. O sinal de luta se caracteriza por ves-
tígios que possam identificar o envolvimento entre vítima e agressor.
Reação de defesa caracteriza-se pela presença de vestígios, produzidos
pela ação da vítima, na tentativa de evitar os ferimentos desferidos pelo agres-
Sor. É bastante comum encontrarmos vestígios dessa natureza e, sempre que
300 CRJMINALÍSTICA PARACONCURSO - MOERI EsPINDUI.\ 11 - PERÍCIA EM LoCAIS DE CRJMES CONTRA A VIDA 301
são constatados, auxiliam muito no conjunto dos vestígios para estabelecer a
dinãmica do evento.
Vestígios intrínsecos, tais como sêmen, vísceras, vômitos, salivas, fezes
fazem parte da rotina de busca que os peritos devem empreender durante a
perícia no cadáver.
O sangue, um dos principais vestígios intrínsecos, normalmente nos tra-
duz inúmeras informações importantes quanto ao movimento da vítima na cena
do crime, contribuindo sobremaneira para a determinação da reconstituição da
dinãmica. Portanto, recomendamos especial atenção às manchas de sangue na
vítima, observando as suas diversas formas de produção (escorrimento, gote-
jamento, concentração, etc.), pois cada uma delas poderá conter informações
individualizadoras ou, no mínimo, indicativas.
Chamamos a atenção para os vestígios produzidos pelo sangue, onde os
peritos devem ter o cuidado de anotar e fotografar na forma original como foi
encontrado. Em situações que o sangue ainda está em estado líquido é preciso
que esse exame seja registrado antes de movimentarmos a posição do corpo.
Poderemos ainda encontrar sangue do próprio agressor, em razão do seu
envolvimento com a vítima, onde os peritos sempre procuram caracterizar com
muita precisão todas essas manchas de sangue no local do crime, seguindo-se
da colheita de amostras para os exames de laboratório, a fim de identificar o
seu tipo e demais informações, pois são capazes - por intermédio de exames de
DNA- chegar à própria identificação do autor do crime.
Vestígios extrínsecos, como manchas quaisquer, pelos depositados, fi-
bras, minerais, terra, areia, detritos, material orgânico são comuns de serem
encontrados no cadáver, os quais, por sua vez, podem nos trazer informações re-
levantes para a formação da conclusão pericial, ou mesmo indicar uma possível
autoria. Também nesse conjunto poderemos ter, por exemplo, impregnações de
terra no cadáver que sejam diferentes daquelas onde se encontra a vítima, per-
mitindo concluir, a partir desse dado, que aquele corpo teve contato em outro
local, o que poderá ser um local relacionado ou da própria execução da vítima.
Material do agressor, normalmente presentes nas unhas, mãos e órgãos
genitais, podem nos oferecer pistas para a sua identificação. É rotina do perito,
ao examinar o cadáver, dar atenção especial ao exame das mãos, dedos e unhas
da vítima, tendo em vista a relevância desses vestígios, em caso desucesso nessa
busca, para o contexto geral da perícia.
Observar se anéis, alianças, brincos, relógios, etc. foram retirados da
vítima, fato que pode ser averiguado pela marca que esses objetos deixam no
local do corpo onde eram usados. A presença ou retirada de objetos dessa natu.
reza - de valor considerável - podem ser elementos importantes para o enqua-
dramento jurídico do crime de latrocínio ou outra modalidade, que será feito
na esfera judicial.
3.1.1. Orientação do exame
A busca de todos os vestígios no cadáver, anteriormente relacionados, e
outros que possam existir, deve obedecer a uma orientação a fim de facilitar a
sistematização das informações coletadas. Assim como adotamos critérios para
o exame de local, tão importante também é no caso do cadáver, visando sempre
buscar a constatação original de todos os vestígios produzidos na ação delituo-
sa.
Inicialmente devemos adotar as seguintes etapas gerais para examinar O
cadáver:
Exame visual do cadáver, sem tocá-lo ou movimentá-lo da sua posição
original. Este exame é de fundamental importância porque estaremos
registrando os vestígios sem correr o risco de modificá-los. Portanto,
tudo o que puder ser constatado nessa etapa deverá ser feito, pois es-
tarão sendo realizados alguns exames parciais que terão continuidade
nas fases seguintes, mas que são também imprescindíveis dentro dos
cuidados n2.preservação dos vestígios. Se o perito, ao chegar no local,
decidiu pela entrada até onde estava o cadáver, essa primeira etapa
deverá ocorrer naquela ocasião.
Exame com as vestes deverá ser a segunda etapa dos exames no
cadáver, onde já poderemos começar a movimentá-lo na medida do
necessário. No entanto, a movimentação do corpo será revestida de
todo cuidado e cautela para - simultaneamente - prosseguirmos re.
gistrando os vestígios produzidos na sua forma original. Nesta etapa,
aqueles exames parciais constatados durante o exame visual serão
continuados ou concluídos, dependendo da situação.
Exame retirando as vestes com todo o cuidado, visando a dar con-
tinuidade na constatação de vestígios já parcialmente analisados e, ao
mesmo tempo, confrontando as correspondências de vestígios verifi-
cadas nas vestes e no corpo da vítima, tais como perfurações, desali-
nhos, rasgos e outras irregularidades. Este é um dos momentos mais
sensíveis do exame no cadáver, a fim de não se perder nenhuma des-
sas informações entre vestes e corpo da vítima.
Exame sem as vestes será a última etapa do exame perinecroscópico
na vítima, quando os peritos estarão constatando tudo o que foi pro-
duzido de lesões e outros vestígios diretamente no corpo. O exame no
corpo sem as vestes irá propiciar especialmente a visualização para o
detalhamento das lesões produzidas, informações estas de relevante
importância para a perícia como um todo, a fim de subsidiar as partes
envolvidas no processo criminal, na caracterização jurídica desses fa-
tos constatados. Aqui, os peritos estarão finalizando todos os exames
parciais que foram realizados nas etapas anteriores.
302 CR!MINALíSTICA PARA CONCURSO - MOER! ESPINDULA 11 - PERiClA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA
303
Estas quatro etapas de exames que comentamos anteriormente serão feitas
de acordo com a rotina sequencial que o primeiro perito definir. Sempre é bom
procedermos aos exames no cadáver de acordo com a sequência tradicional,
que começa pela cabeça e termina nos membros inferiores.
Assim, sugerimos a sequência conforme apresentada:
cabeça;
pescoço;
tórax;
membros superiores;
mãos (em destaque em relação aos membros superiores);
abdômen;
dorso;
órgãos genitais;
membros inferiores.
Algumas outras técnicas básicas devem ser observadas concomitantemente
com as demais até aqui já discutidas, dentre as quais destacaríamos:
Antes de tocar ou mexer em .qualquer vestígio, deve-sefotografar tudo,
a fim de preservarmos a forma original encontrada. Também deve ser
fotografado cada detalhe que for sendo encontrado e que os peritos jul-
garem importantes. Se a equipe de perícia também dispuser de filmado-
ra, esse recurso deverá ser utilizado no mesmo momento da fotografia,
ou seja, antes de tocar nos vestígios ou modificar a posição do corpo -
quando isso ocorrer na etapa inicial. O importante é termos em mente
que o exame de qualquer vestígio começa primeiro com a fotografia e a
filmagem, seguindo-se das anotações do perito para a correta descrição
e assim, sucessivamente, continuarão as demais fases do exame comple-
to de cada vestígio até o momento final de seu manuseio.
Antes de mexer ou mudar a posição do cadáver, marcar a posição
original com um giz ou qualquer outro material semelhante, se assim
entenderem necessário os peritos.
Preservar e proteger cada vestígio que possa ser relevante para o exame
que os legistas realizarão no IML.Sabemos que a perícia necroscópica é
uma continuação da perícia realizada no local do crime e, portanto, os
peritos do local devem preservar todas as informações que possam ser
úteis ao perito legista, \'isando a manter a harmonia técnica dos exames
levados a efeito nessas duas situações - no local e no IML.
3.1.2. Exame das vestes
Todo o exame feito no cadáver, mencionado até aqui, é acompanhado si-
multaneamente pelo exame das vestes, que assumem uma importância destaca-
da sobre vários aspectos, conforme discutiremos a seguir.
O exame das vestes deve ser bastante cuidadoso - como o são os demais -
tendo-se em vista a quantidade de informações que delas se pode extrair.
Quando iniciamos o exame em um cadáver, normalmente ele estará vesti-
do, fato esse que demandará uma atenção redobrada por parte dos peritos, a fim
de começarem as suas observações e buscas com todo o cuidado para não cor-
rerem o risco de perder qualquer elemento. Desse modo, o exame das vestes,
de uma maneira geral, deve ser realizado antes mesmo do exame do cadáver, no
intuito de se constatar qualquer vestígio passível de ser destruído ou adulterado
quando tiver início a observação sobre o corpo da vítima.
Assim como no exame do cadáver, o das vestes deve cumprir um procedi-
mento sequencial para se evitar a perda de qualquer vestígio porventura exis-
tente, como o que consta a seguir:
Exame das vestes quando do exame visual do cadáver;
Exame das vestes quando do exame do cadáver ao movimentá-lo com
cuidado;
Exame das vestes enquanto estas são retiradas do corpo da vítima; e,
Exame individual de cada peça, depois de retiradas do corpo da víti-
ma.
A partir dessa sequência do exame, deve-se examinar as vestes simultane-
amente ao cadáver, observando-se todos os elementos possíveis de ter relação
com o evento delituoso, dentre os quais citaremos alguns que não podem deixar
de ser verificados:
Disposição geral das vestes, quanto à sua forma de acomodação na
vítima: se estão repuxadas, abertas ou fora de alinhamento normal
quanto ao seu uso correto no corpo da pessoa. Isso poderá nos trazer
inúmeras informações para auxiliar na dinâmica do crime, especial-
mente na constatação técnica do envolvimento - luta - entre vítima e
agressor, cujos vestígios poderão ser fundamentais nas argumentações
jurídicas do promotor ou advogado, na sustentação do processo crimi-
nal.
Orifícios 011 perfurações em qualquer de suas partes, verificando
a sua possível correspondência, quanto à posição com ferimentos no
corpo do cadáver, a fim de se descobrir se a vítima sofreu a lesão com
as vestes em seu uso normal ou não.
Botões arrancados ou partes rasgadas em quaisquer de suas aber-
turas normais também são informações que podem evidenciar, por
exemplo, a ocorrência de luta entre vítima e agressor e/ou tentativa de
defesa da vítima.
Manchas de sangue sob formatos variados, tais como gotejamentos,
concentração, alimpadura, respingos, que podem ser comparados
304 CRlMINAlísnCA PARA CONCURSO - MBERI ESPINDUL\ 11 - PERÍCIA EM LOCAlS DE CRIMES CONTRA A VIDA 305
com o tipode lesão sofrida pela vítima, bem como se ela se movimen_
tou após ser atingida. Algumas vezes a vítima pode ainda apresentar
manchas de sangue em suas vestes, originadas a partir de ferimen_
tos no agressor, o que poderá ser fundamental para a sua identifica_
ção, por intermédio do exame de DNA, naquelas circunstâncias em
que não restarem outras alternativas. Mais uma vez ressaltamos que
as manchas de sangue nos proporcionam informações valiosas nesse
conjunto de vestígios, sendo - em muitos casos - decisivas para a de-
terminação da dinâmica do crime.
A busca pela presença de qualquer substância que possa estar pre-
sente nas vestes também em um dado que pode ser esclarecedor den-
tro do contexto geral dos vestígios. Quando comentamos em parte
anterior que não existem duas perícias iguais, estamos nos referindo
também a essa provável presença de outras substâncias ou vestígios
cuja presença não temos condições de prever antecipadamente, e que
somente no exame é que podem ser constatadas.
Examinar o interior de bolsos a fim de verificar a presença de carteira
com documentos da vítima e quaisquer outros objetos porventura exis-
tentes, onde poderão ser encontrados elementos bastante significativos
para a perícia. Chamamos a atenção de todos para a situação em que se
encontra dinheiro ou qualquer forma de valor (como cartão de débito,
de crédito, cheques, promissórias, etc.): nesse caso os peritos devem
procurar sempre ter o cuidado de fazer a sua contagem na presença
de testemunhas ou policiais presentes e, se julgarem desnecessário o
seu recolhimento para outros exames laboratoriais, deverão fazer a de-
volução no próprio local para a autoridade policial ou seu agente ali
presente, tendo o cuidado de fazer constar, em suas anotações, o nome,
a função, o número de matrícula e lotação do policial que recebeu tais
valores. Este mesmo procedimento vale para quaisquer outros vestígios,
especialmente aqueles de maior importância pecuniária e de relevân-
cia para o esclarecimento dos fatos. Tais procedimentos são adotados
rotineiramente pelos peritos, a fun de evitar qualquer dúvida posterior
quanto ao que tenha sido encontrado com a vítima. Fotografar sempre
tais vestígios, especialmente as cédulas de dinheiro é sempre recomen-
dado.
Adotar como rotina a orientação para que as vestes acompanhem o
cadáver para o IML, a fim de subsidiar os peritos médicos-legistas
em sua necrópsia. Neste ponto é bom esclarecer algumas controvér-
sias sobre o manuseio e destinação das vestes no contexto das atribui-
ções funcionais dos peritos criminais e dos peritos legistas.
No local do crime, quando os peritos criminais estiverem examinando o
cadáver, necessariamente terão que retirar todas as vestes da vítima, a fim de
examiná.las detalhada mente e também para possibilitar o correto exame perine-
croscópico do corpo. Depois dessa etapa - ainda no local - e em harmonia com
o inciso II do artigo 6° do Código de Processo Penal (apreender os objetos que
tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais), os peri-
toS poderão recolher determinada veste para exames complementares ou - não
sendo isso necessário - liberá-las para serem encaminhadas ao IMLjuntamente
com o corpo da vítima.
No cotidiano, essa prática se torna mais operacional sob o aspecto técnico,
onde os peritos já orientam os auxiliares que irão recolher o corpo a levarem
também as vestes. Todavia, se os peritos criminais sentirem necessidade de re-
colher alguma veste para exames complementares, deverão informar ao perito
legista no momento do acompanhamento da necrópsia e/ou por meio de comu-
nicados internos, onde fornecerão todas as informações que forem relevantes
para a perícia necroscópica.
Também outro ponto polêmico, que é contestado por alguns peritos legis-
tas, se refere ao fato dos peritos criminais retirarem as vestes da vítima quando
do exame perinecroscópico no local do crime. É até compreensível essa contes-
tação dos legistas, pois os mesmos não estão familiarizados com as necessidades
técnicas do levantamento pericial nos locais de crime. É essencial o completo
exame perinecroscópico da vítima no próprio local, de forma minuciosa e, para
isso, é preciso retirar as vestes. Claro que existem circunstâncias delicadas de se
retirar tais vestes, especialmente se for em local público e tratar-se de corpo de
mulher. Mas, mesmo nessas circunstâncias, os peritos criminais devem procurar
isolar completamente a vítima da visão de terceiros e efetuar o exame completo,
sob pena de ficar inconclusivo o trabalho pericial de levantamento do local. O
cadáver em si e inúmeros outros vestígios nele depositados, em razão do embate
delituoso, são fundamentais para estabelecer o elo de informações sobre a dinâ-
mica e demais conclusões acerca dos fatos ocorridos.
3.2. Exame do Cadáver no IML
Concluído todo o exame possível do cadáver no próprio local em que foi
encontrado, seu corpo é liberado pelos peritos criminais e recolhido ao IML
para que os médicos-legistas façam a necrópsia.
É importante que no momento da necrópsia o perito criminal esteja junto
com O médico-legista, de forma que o último realize a perícia no corpo e o pri-
meiro complemente alguma informação técnica sobre os vestígios verificados
no próprio cadáver, transmitindo ao médico-legista alguma informação do local
que possa vir a auxiliá-los quanto ao diagnóstico da causa da morte.
Durante a necropsia, o perito criminal tem a oportunidade de complemen-
tar uma série de informações, tais como lesões externas que não puderam ser
definidas com clareza quando do exame do local, tendo em vista as condições
306 CRlMINAlíSTICA PARA CONCURSO - AlBERI ESPINDULA
11 - PERÍCIA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA 307
adversas do local. No IML, em melhores condições para examinar, pode-se veri-
ficar todas as lesões com maior clareza e detalhamento.
Também as lesões internas do cadáver, especialmente profundidade de
lesões pérfuro-incisas e trajetos de projéteis de arma de fogo, servirão ao perito
para complementar informações que auxiliarão na reconstituição da dinâmica
do local do crime.
Quanto às informações que os peritos passam aos legistas durante a ne-
crópsia, podemos citar um exemplo bastante interessante, e que é comum de
acontecer: trata das vestes da vítima, que, em muitas situações, são depositárias
de vestígios de disparo de arma de fogo que podem não estar no corpo da vítima
(projéteis secundários, por exemplo), uma vez que, nesses casos, normalmente,
os peritos irão recolher tal veste para exames complementares. A própria infor-
mação do local do crime, que os peritos criminais passam aos médicos-legistas,
poderá auxiliá-los no exame cadavérico para caracterizar a distância de tiro ve-
rificada na vítima.
Assim, concluída a necrópsia, tanto o perito criminal quanto o médico-
legista, terão todas as informações para a elaboração de seus respectivos laudos
periciais. É esta a grande importância do trabalho conjunto, a fim de termos dois
laudos coerentes entre si, contribuindo, dessa forma, para a busca da verdade
por intermédio da discussão científica entre profissionais de áreas afins, elimi-
nando-se a possibilidade de conclusões distorcidas e laudos com informações
discrepantes.
Sintetizando, podemos dizer que os peritos criminais, ao acompanharem a
necrópsia no IML, devem dar especial atenção aos seguintes tópicos:
O formato das lesões após ter sido lavado o corpo, pois sempre
será possível observar maiores detalhes (tais como bordas, contusões,
profundidade, largura, sentido de produção, etc) nesse momento do
que no local do crime, onde as condições são mais adversas,
Trajeto interno de projéteis de arma de fogo, visando a complemen-
tar com informações para definir a posição da vítima e/ou do agressor
e possível dinâmica do disparo no local.
Discussão com os legistas sobre determinados tipos de lesões, quan-
to à suaforma, disposição, formato e classificação, em situações que os
peritos criminais não puderam definir com clareza no exame efetuado
no próprio local do crime.
Por sua vez, aos médicos legistas que estão realizando a necrópsia, também
é importante a presença dos peritos criminais durante os exames no IML, pois
eles poderão subsidiar os peritos legistas com dados que estavam presentes no
local e que no corpo da vítima, por si só, não apresentam tais informações.
Nesse sentido, podemos citar alguns exemplos dessas informações levada aoS
legistas:
A distância de disparo para ser determinada em algumas situações,
dependerá, também, de vestígios de projétil secundário deixados em
vestes ou algum outro anteparo que não seja o próprio corpo da ví-
tima. É comum termos uma ferida perfurocontusa provocada por en-
trada de projétil de arma de fogo disparado a curta distância, onde
não existe nenhum projétil secundário depositado nas adjacências da
ferida, pois esses vestígios ficaram alojados nas vestes, já que a distân-
cia não era tão próxima do corpo. Nesses casos, os peritos criminais,
quando tiverem recolhido essa veste para exames complementares,
devem ter o cuidado de prestarem essa informação aos legistas ou,
como estão acompanhando a necropsia, levarem a veste para o legista
também constatar.
Instrumentos do crime, como facas, navalhas, chaves de fenda, pe-
daços de madeira, etc., que venham a produzir algum tipo de lesão
que, por sua forma anatômica, possam causar dúvida em relação a
outro tipo de instrumento, devem ser levados ao IMLpara serem con-
frontados com as lesões em melhores condições de visibilidade e, ao
mesmo tempo, para serem alvo de discussão com os médicos-legistas.
Certamente os peritos criminais, de posse desses instrumentos encon-
trados no próprio local, deverão fazer um exame de justaposição e de
medição para terem relativa certeza de que foi aquele o instrumento
utilizado na prática do crime; e, posteriormente no laboratório, proce-
der a exame de pesquisa de material biológico.
Discussão conjunta a respeito dos vestígios encontrados no local e
no cadáver, onde os peritos criminais e médicos-legistas farão um in-
tercâmbio de informações visando a uma análise conjunta de todos os
dados coletados, a fim de encaminharem suas respectivas conclusões
de forma coerente e solidamente alicerçadas em parâmetros técnico-
científicos.
4. ExAMES DE LABORATÓRIO
Durante o exame realizado no local do crime os peritos criminais estarão,
simultaneamente, coletando todos os vestígios que tenham relação com o delito
e, nesse contexto, encontrarão inúmeros vestígios que necessitarão de exames e
análises nos laboratórios do Instituto de Criminalística.
Este é o principal momento em que os peritos criminais estarão coletando
amostras ou recolhendo corpos de delito para os respectivos exames de labora-
tório e/ou complementares. Todavia, também por ocasião do acompanhamento
do exame necroscópico no IMLpoderão ainda coletar outras amostras biológi-
cas para exames laboratoriais.
308 ClUMINALÍsnCA PARA CONCURSO - MOER! ESPINDULI
11 - PERÍCIA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA 309
Assim, as fontes e momentos do perito coletar amostras - ou todo o objeto,
dependendo da situação - acontecerá em três situações:
durante o exame do local: este momento é, sem dúvida, o mais fértil
de possibilidades para isso, quando os peritos estarão estudando cada
vestígio que encontrarem e, ao mesmo tempo, analisando se há ou
não a necessidade de exames laboratoriais ou complementares;
durante o exame do cadáver, no local: ali mesmo no local, o momen-
to em que se procede ao exame perinecroscópico do cadáver é tam-
bém um dos mais produtivos para a coleta de material para exames de
laboratório. Da mesma forma que os procedimentos anteriores, aqui
é necessário o cuidado e atenção para verificar a necessidade dessas
coletas para os exames complementares;
durante o exame do cadáver, no IM£: mesmo com todos os cuidados
de coleta de amostras ainda no local, nesta fase, enquanto se desenvol-
ve o exame necroscópico, o perito criminal deve estar presente e ficar
atento para a possível necessidade de ainda coletar alguma amostra de
material para análises laboratoriais.
Importante frisar que estas três fases são as usuais dentro de uma rotina me-
todológica do exame pericial de crimes contra a pessoa; todavia, o procedimento
pericial é muito dinãmico, especialmente nas questões de análise dos vestígios
e sua interatividade conjuntural, podendo surgir novas necessidades a qualquer
tempo de se proceder a alguns outros exames de laboratório ou complementares.
Claro que esta opção fica um pouco reduzida depois de realizados os exames de
local e no cadáver, mas dependendo do caso ainda poderá propiciar tais coletas
ou estudos posteriores.
4.1. Tipos de Exames
Assim, no local do crime poder-se-á recolher vários tipos de vestígios que
necessitarão de exames laboratoriais para que o perito tenha o maior número
de informações técnicas quando da análise geral dos vestígios, visando à recons-
tituição da cena do crime.
Aseguir, discriminamos alguns tipos mais comuns de vestígios, cujas amos-
tras devem ser encaminhadas ao laboratório:
sangue;
esperma;
fios de cabelo;
tecido humano;
produtos químicos;
outros vestígios.
Para cada uma das amostras que forem encaminhadas ao laboratório, os
peritos criminais devem obedecer a alguns procedimentos básicos, no sentido
de orientar os peritos laboratoriais sobre o tipo de exame que desejam ver rea-
lizado.
De acordo com os mesmos procedimentos até aqui comentados, os peritos
poderão estar recolhendo o corpo de delito como um todo, para a realização
de exames complementares e/ou de laboratório, tais como os exemplos mais
comuns a seguir descritos:
armas de fogo;
projéteis de arma de fogo;
facas, estiletes (arma branca);
fragmentos de impressão digital;
ferramentas;
pedaços de madeira;
segmentos de barras metálicas;
outros objetos.
Ainda dentro daquele princípio geral de não termos duas perícias iguais,
alguns vestígios - mesmo atípicos para aquela modalidade de crime que esteja
sendo periciada - podem ser encontrados, razão pela qual o exame deve ser
sempre cuidadoso por parte dos peritos. Um exemplo comum desses tipos de
vestígios encontrados, tanto nos locais quanto no corpo de cadáveres, são as
drogas, as quais podem estar completamente ocultas ou camufladas para difi.
cultar a sua constatação.
4.2. Registro e Encaminhamento das Amostras
Esses vestígios recolhidos do local (na área de exames ou no próprio ca-
dáver) ou já no IML serão devidamente catalogados pelos peritos, a fim de se
registrar precisamente a posição e as condições em que foram encontrados, pois
todas essas informações poderão ser importantes na análise geral dos vestígios
e, também, para assegurar a sua idoneidade e não gerar nenhuma dúvida aos
usuários da perícia sobre todos esses procedimentos de cadeia de custódia.
Depois de todo esse cuidado inicial dos peritos no local do crime, tais
vestígios (denominados também de corpo de delito) serão encaminhados aos
respectivos setores laboratoriais dos Institutos de Criminalística, a fim de que
outros peritos, especialistas naquelas áreas, realizem os exames que se fiZerem
necessários.
Os peritos devem identificar com precisão cada tipo de amostra a ser
encaminhada ao laboratório, obedecendo a rotinas administrativas previamente
estabelecidas nos Institutos. a fim de não correrem o risco de misturar os vários
resultados posteriormente, levando a erros de interpretação,
310 CRlMINAlÍSTlCA PARA CONCURSO - ALnERI ESPINDULA 11 - PERÍCIA EIoI LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA 311
Para cada amostra os peritos deverão informar o tipo de exame de que ne-
cessitam, e também fazer um pequeno histórico sobre o material encaminhado,
no sentido de orientar o colega no laboratório, pois em alguns casosrestará ao
perito do laboratório um universo enorme de pesquisa a ser efetuada. Um exem-
plo típico dessa natureza são os locais em que encontramos possíveis venenos
ou pesticidas, onde será necessário que os peritos de local procurem identificar
algum rótulo, embalagem ou qualquer outro elemento que possa dar uma pista
inicial do tipo de substância, para que o perito de laboratório trabalhe nessa
linha de pesquisa.
4.3. Resultado e Interpretação
Depois de realizados todos os exames de laboratório pelos respectivos pe-
ritos laboratoriais, que são especialistas de cada área, os resultados serão enca.
minhados aos peritos criminais (que efetuaram a perícia no local do crime) por
intermédio de relatório interno a fim de que eles tenham todas as informações
necessárias às suas análises.
Esses resultados dos exames, feitos nos diversos setores laboratoriais da
Criminalística ou de outros Órgãos técnicos, retornarão aos peritos do local
para que eles possam proceder ao exame e análise final de todos os vestígios no
seu mais amplo conjunto.
Os relatórios internos encaminhados pelos peritos de laboratório deverão
ser guardados pelos peritos que fizeram o exame de local, a fim de servir como
base documental das conclusões e afirmações que estarão no Laudo Pericial.
A perícia é trabalho de grupo, e,portanto, cada perito especialista em sua
área deve ser o responsável pelo exame que realizou, enquanto que os peritos
de local se utilizarão dessas informações, consignando em seu laudo o nome
dos peritos que fizeram os respectivos exames de laboratório.
5. ANÁLISE GERAL DOS VESTíGIOS
Como já vimos, os peritos que fazem o levantamento pericial no local são
os responsáveis por todo o conjunto de informações a respeito daquela perícia
e, por consequência, da emissão do laudo com tudo o que foi examinado.
Observamos, então, que dentro desse contexto geral dos exames, eles fo-
ram subdivididos em três fases distintas:
A primeira, e talvez a mais abrangente, é a do exame do próprio local,
onde os peritos examinaram o local imediato, o cadáver e o local me-
diato, retirando todas as informações que julgaram necessárias, desde
as constatações diretas e definitivas de vestígios, até a coleta de amos-
tras e corpos de delito para exames de laboratório. E, em alguns, casos
poderemos ter também o exame de locais relacionados.
A segunda é a do acompanhamento da necrópsia pelos peritos que
realizaram o exame de local, aonde vimos o quanto é importante a
interação profissional entre os médicos- legistas e os peritos criminais,
pois todos buscam um mesmo objetivo, que é o de melhor realizar a
perícia em questão. Aqui, novamente, os peritos estarão constatan-
do alguns outros vestígios, conforme já comentamos anteriormente,
como também poderão estar complementando determinadas infor-
mações técnicas que foram parcialmente captadas durante o exame
no local do crime.
A terceira fase é a dos diversos exames de laboratório que se fizerem
necessários e que são realizados por outros peritos, especialistas nas
respectivas áreas de atuação.
As últimas informações que os peritos do local recebem são os resultados
dos exames de laboratório, pois em algumas situações eles podem ser relativa-
mente demorados.
De posse das informações oriundas das três fases mencionadas, os peritos
criminais farão a análise geral dos vestígios, a fim de formarem as suas convic-
ções técnicas dos fatos que ocorreram naquele local de crime.
Primeiramente, será analisado cada um desses vestígios e respectivos re-
sultados dos exames efetuados para compreender seus significados, individual-
mente. Evidentemente, nesta fase os peritos já analisaram muitos dos vestígios
encontrados, pois essa análise começa desde o momento da sua constatação
no próprio local do crime.
Outra questão importante a destacar é o fato de que a análise individual
de cada vestígio se refere à sua análise individual no contexto da sua produção
naquele evento pericial estudado. Não se trata, portanto, de saber o significado
de um vestígio do ponto de vista teórico-doutrinário: tais conceitos devem ser
levados em consideração, mas, necessariamente, dentro do contexto daquela
perícia específica.
A partir dessa compreensão técnica inicial e individual, os peritos criminais
irão analisar os vestígios interligando-os uns aos outros, a fim de obter - passo
a passo - uma informação geral e globalizada da cena do crime, capaz de propi-
ciar o que podemos denominar, de forma figurada, de "montagem do quebra-
cabeça". Neste momento, de posse de todas as "peças", será possível entender
todo o "desenho" (o fato ocorrido).
6. DINÂMICA, DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E CONCLUSÃO
A conclusão de uma perícia e, por consequência, do Laudo Pericial, é o
desfecho final de todo um trabalho que os peritos desenvolveram durante a
realização dos exames de uma determinada perícia. Para cada área de atuação da
Criminalística vamos encontrar as nuanças e abordagens características na for-
312 CRlMINALíSTICA PARA CONCURSO - ALBERI ESPINDUU, 11 - PElÚCIA EM LoCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA- 313
mulação da conclusão do respectivo laudo. Também a conclusão de um laudo
de morte violenta requer cuidados específicos.
Todavia, para qualquer tipo de delito ou área da CriminaIística, existem as
regras básicas que devem ser seguidas em prol de uma correta conclusão peri-
cial.
Não podemos partir do pressuposto de que, por ter o perito fé pública
ele não precisará dar maiores explicações sobre os fatos periciados. Na reali-
dade, não se trata de explicações, mas de fundamentação técnico-científica. Ao
chegarmos ao item do laudo destinado à conclusão, o leitor/usuário já deverá
ter quase a certeza do que irá encontrar sobre a conclusão daquela perícia, em
razão da correta descrição de todos os exames realizados e respectivas análises e
interpretações que tenha encontrado no corpo do laudo. Ou seja, o perito deve
transcrever para o laudo toda a sequência de como se desenvolveram os exames,
onde a conclusão é o desfecho final, já devidamente explicada e fundamentada
anteriormente.
Além desse cuidado que o perito deve ter ao redigir o laudo, ele deverá
obedecer aos corretos procedimentos para se estabelecer uma conclusão peri-
cial. Muitos laudos terão uma conclusão categórica e afirmativa do que ocorreu
no evento periciado, e outros tantos não. O perito não está obrigado a concluir
um laudo só porque os usuários assim esperam dele, independentemente de ter
reunido os elementos necessários para tal.
Assim, depois de realizados todos os exames, analisados todos os vestígios
e resultados laboratoriais, os peritos terão condições de formar a sua convicção
sobre como ocorreu aquele delito, ou seja, terão informações técnicas suficien-
tes para restabelecer a "cena do crime", o que convencionamos chamar de di.
nâmica do local.
Nessa formação de convencimento técnico, em que puderam remontar a
cena do crime, os peritos criminais estarão - ao mesmo tempo - em condições
de definir o diagnóstico diferencial do fato. Se aquela morte ocorrida foi em con.
sequência de suicídio, homicídio, acidente ou morte natural. Ou seja, a própria
conclusão pericial sobre aquela morte. É claro que num laudo de morte violen.
ta, além do diagnóstico diferencial, outros fatos merecerão conclusões periciais,
de acordo com os vestígios constatados e analisados.
Queremos destacar novamente e enfatizar a prudência que operito preci.
sa ter nessa análise geral dos vestígios, devendo partir sempre do pressuposto
(até por absurdo) de que, no local examinado "ocorrera um homicídio", A
partir dessa prudência chegará ao diagnóstico correto, mesmo por exclusão
do homicídio.
Todo o trabalho técnico-científico do perito criminal tem como principal
objetivo determinar o diagnóstico diferencial das circunstâncias daquela morte
e, por consequência, a própria conclusão dos fatos. Cabe salientar que a causa
da mortesó é definida pelo médico-legista. Caberá a ele, dentro de seus conhe-
cimentos de Medicina, examinar o cadáver a fim de estabelecer que tipo de lesão
provocou a morte da vítima. Por sua vez, os peritos criminais são encarregados
de fazer a perícia no local do crime - inclusive no cadáver - e outros exames
complementares que se façam necessários para determinar o diagnóstico dife-
rencial do evento como um todo.
6.1. Conclusão Categórica
Para chegar a este resultado, o perito deve basear-se, exclusivamente, em
elementos técnico-científicos. Somente afirmar categoricamente qual o diagnós-
tico quando tiver esses elementos (evidências) em quantidades e qualidades
suficientes para fundamentá-lo. Se houver, pelo menos, duas opções possíveis,
os peritos não poderão declinar de um diagnóstico.
Portanto, para se estabelecer uma conclusão pericial, devemos partir do
campo das possibilidades. E observem que esse universo de possibilidades é
muito amplo; todavia, para se estabelecer uma conclusão pericial, somente po-
derá restar uma possibilidade para aquele evento.
Para chegarmos a essa única possibilidade, teremos apenas duas situações
capazes para tal.
6.1.1. Conclusão a partir de um vestígio determinante
A primeira situação será quando, no conjunto dos vestígios constatados e
examinados, tivermos um que, por si só, seja um vestígio determinante. Obvia-
mente que vestígio determinante nesse caso deve estar caracterizado pela sua
condição autônoma associada ao seu significado no contexto do evento pericia-
do.
Dois exemplos para entendermos melhor esses conceitos:
Uma impressão digital individualmente é um vestígio determinante, mas
se encontrarmos um desses vestígios no local do crime, não quer dizer que
teremos identificado o autor do crime e que, por consequência tratar-se-á de
um homicídio. Por outro lado, o vestígio lesão pérfuro-incisa não é um vestígio
determinante por si só, mas se tivermos esse vestígio repetido várias vezes em
diversas partes do corpo de um cadáver, certamente esse vestígio (lesão pérfuro-
incisa) será determinante para fundamentar o diagnóstico de homicídio.
6.1.2. Conclusão a partir de dois ou mais vestígios não determinantes
A segunda situação em que os peritos poderão ter apenas uma possibili-
dade será quando tivermos vários vestígios, em que nenhum deles por si só seja
determinante, mas apenas probabilísticos e que, no seu conjunto de informa-
ções técnico-científicas levem a uma única possibilidade. Neste caso, no soma-
tório, terão informações suficientes para respaldar as suas afirmações quanto ao
diagnóstico diferencial daquela morte.
314 CRlMINALÍSTICA PARA CONCURSO - MBERI ESPINDUlA
11 - PERÍCIA EM LOCAIS DE CRIMES CONTRA A VIDA 315
6.1.3. Outras situações sobre conclusão pericial
Todavia, existem várias situações que, apesar da riqueza de vestígios ana-
lisados e considerados em seu conjunto, não será possível chegar a uma defi-
nição quanto ao diagnóstico. Neste caso os peritos não poderão fazer qualquer
afirmativa conclusiva, pois haverá mais de uma possibilidade técnico-científica
para aquele evento.
Nesta parte nossas observações se encontram facadas mais na conclusão
pericial do laudo, relativo ao diagnóstico diferencial da morte; todavia, as regras
se aplicam também para outras conclusões que se façam necessárias mesmo nos
locais de crimes com cadáver.
Não sendo possível concluir um Laudo Pericial, restam duas alternativas
para auxiliar no contexto geral das investigações e, posteriormente, à Justiça.
Na primeira situação, os peritos terão condições de eliminar algumas possibi-
lidades e, com isso, delimitar o trabalho dos investigadores da polícia. Tanto a
investigação pericial quanto a policial (especialmente esta última), inicia uma
investigação levando em conta todas as possibilidades e, na medida em que o
trabalho vai progredindo, essas possibilidades vão sendo eliminadas até o pOnto
de sobrar uma única. Portanto, qualquer dado técnico que os peritos possam
adicionar ao laudo será de extrema utilidade aos investigadores da polícia, prin-
cipalmente então, nesses casos de laudos sem conclusão. Na segunda situação,
onde os vestígios forem ainda mais escassos, os peritos limitar-se-ão a indicar
mera probabilidade para um dos possíveis diagnósticos. Encontraremos situa-
ções cujos vestígios não serão capazes de embasar sequer a eliminação de algu-
ma das possibilidades levantadas na investigação, restando - de acordo com os
dados técnico-científicos reunidos e analisados - apenas uma maior probabilida-
de para uma dessas possibilidades focalizadas.
Poderíamos dizer que haveria ainda uma terceira situação, onde a quantida-
de de vestígios é tão pouca que os peritos se limitarão a informar no laudo a im-
possibilidade de concluírem o evento periciado devido à tal exigüidade. Apesar
de não haver aí nenhuma conclusão, muitos laudos são assim expedidos. Essa si-
tuação pura e direta somente deverá ser utilizada quando - de fato - os vestígios
forem insuficientes. Se se tratar de locais adulterados por falta de isolamento e
preservação, obrigatoriamente os peritos deverão acrescentar tópico indepen-
dente no laudo, discutindo esses fatos e a eles se referirem na conclusão.
Como vimos até aqui, para que os peritos criminais realizem um exame
satisfatório, do ponto de vista técnico-pericial, deverão observar uma série de
requisitos e procedimentos técnicos, a fim de que possam - ao final - chegar à
plenitude de um resultado possível.
Ressaltamos o quanto é fundamental aos peritos de local terem plena cons-
ciência da necessidade de se transpor todos os obstáculos à execução do mister
pericial, a fim de apresentarmos um resultado final capaz de atender à expecta-
tiva dos usuários do nosso trabalho, especialmente a Justiça Criminal, que é a
destinatária final do Laudo Pericial.
7. ExERCÍCIOS
01) O exame do cadáver é um dos pontos mais sensíveis e importan-
tes dentro de uma perícia em local de morte violenta, uma vez
que ele normalmente é depositário de muitos vestígios. Marque
certo (C) ou errado (E).
() Devemos examinar o cadáver observando uma sequência de cau-
tela, sendo a primeira apenas visual; a segunda, enquanto se reti-
ram as vestes; e, a última, com o corpo já totalmente sem roupa.
() A sequência recomendada para examinar o corpo é: cabeça, pes-
coço, tórax, membros superiores, mãos (em destaque nos mem-
bros superiores), abdômen, dorso, órgãos genitais, e membros
inferiores.
() A técnica mais recomendada é examinar primeiro o cadáver em
uma cena de crime.
() O sangue é um dos vestígios que normalmente encontramos em
um cadáver, sob várias formas e que nos proporcionam inúmeras
informações sobre a dinâmica da ocorrência do fato.
02) Aponte a alternativa certa (C) ou errada (E).
() o exame das vias de acesso num local de crime interno é essen-
cial.
() é sempre importante ao iniciarem-se os exames, anotar-se o horá-
rio.
() não é necessário que se façam fotografias gerais ou panorâmicas
num exame de local.
() num local aberto, como numa área de cerrado, a forma de acesso
e a amarração, inclusive com a orientação geográfica é sempre
importante.
03) Os peritos criminais, ao chegarem num local de crime de morte
violenta, encontraram o local devidamente isolado por fitas pró-
prias, e dois soldados da Polícia Militar, bem como o delegado de
polícia responsável pela área, posicionados fora daqueles linútes.
Um dos policiais militares informou aos peritos que tinha entra-
do no local para verificar se a vítima estava morta. Os peritos,
ao examinarem aquela área, constataram os seguintes vestígios:
(a) um corpo do sexo masculino, tamanho adulto; (b) uma feri-
da perfurocontusa característica de entrada de projétil de arma
de fogo disparado à distância, localizada na região escapular es-
316 CRIMINALÍSTICA PARACONCURSO - ALBERI EsPINDUL\
11 - PElÚCIA EM LoCAIS DE CRIMES

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