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Apostila iter criminis até culpabilidade

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Apontamentos de Direito Penal – Guia de Estudos -
Importante: Este material conta com textos de obras jurídicas e tem objetivo de orientar o aluno sobre o roteiro das aulas. Ressalta-se que o mesmo não substitui a participação nas aulas, anotações inseridas pelo professora no conteúdo da disciplina, consulta a alterações legislativas e jurisprudenciais ocorridas no desenvolver do semestre e principalmente a leitura das obras indicadas pelo professor. 
Professora Juliana Saraiva
Livros/autores: Rogério Greco, Capez, Victor Gonçalves. 
Do Crime Consumado e Do Crime Tentado
Artigo 14 Diz-se o crime:
I Consumado: quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.
II Tentado: quando iniciada a execução, não se consuma por circunstancia estranhas a vontade do agente.
Pena de Tentativa
Parágrafo Único: Salvo disposição em contrario, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços).
Antes de darmos início ao estudo do crime consumado e do crime tentado faz-se necessário o estudo do iter criminis
"Iter criminis": é o caminho do crime, que significa o conjunto de etapas que se sucedem, cronologicamente, no desenvolvimento do delito.
Vimos, anteriormente, que a ação é composta por duas fases: interna e externa. Na fase interna o agente antecipa e representa mentalmente o resultado, escolhe os meios necessários para o cometimento da infração e em seguida exterioriza sua conduta, colocando em prática tudo aquilo que por ele fora elucubrado.
	Desde o início até o fim da infração penal, o agente passa por varias etapas, como se caminhasse por uma trilha que pudesse leva-lo ao êxito de seu plano criminoso.
O iter criminis, assim, é composto pelas seguintes fases:
1ª cogitação;
2ª preparação; (atos preparatórios)
3ª execução; (atos de execução)
4ª consumação.
5ª exaurimento ( não ocorre em todos os crimes*)
1ª Cogitação: é a fase do iter criminis que passa na mente do agente. O agente apenas mentaliza, idealiza, prevê, antevê, planeja, deseja, representa mentalmente a prática do crime. Nessa fase o crime é impunível, pois cada um pode pensar o que bem quiser. Enquanto encarcerada nas profundezas da mente humana, a conduta é um nada, totalmente irrelevante para o Direito Penal. Somente quando se rompe o claustro psíquico que a aprisiona, e materializa-se concretamente a ação, é que se pode falar em fato típico.
2ª Preparação: prática dos atos imprescindíveis à execução do crime. Nessa fase ainda não se iniciou a agressão ao bem jurídico. O agente não começou a realizar o verbo constante da definição legal (o núcleo do tipo), logo, o crime ainda não pode ser punido. No ensinamento de Maurach, ato preparatório "é aquela forma de atuar que cria as condições prévias adequadas para a realização de um delito planejado. Por um lado, deve ir mais além do simples projeto interno (mínimo) sem que deva, por outro, iniciar a imediata realização tipicamente relevante da vontade delitiva (máximo )"
Assim, como exemplos de atos preparatórios, temos: a aquisição de arma para a prática de um homicídio ou a de uma chave falsa para o delito de furto e o estudo do local onde se quer praticar o roubo. 
Ressalte-se, porém, que o legislador, por vezes, transforma atos preparatórios em tipos penais especiais, quebrando a regra geral. 
Exemplo: "petrechos para falsificação de moeda" (art. 291), que seria apenas ato preparatório do crime de moeda falsa (art. 289). Também nos crimes Associação Criminosa Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes, e a posse de instrumentos destinados usualmente à pratica de furtos – art. 25 da Lei das Contravenções Penais.
Observe-se, finalmente, que, de acordo com o art. 31 do CP, "o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado".
3ªExecução: o bem jurídico começa a ser atacado. 
Nessa fase o agente inicia a realização do núcleo do tipo, e o crime já se torna punível. 
Importante: Sendo assim a partir daqui é que a conduta passa a ser relevante para o Direito Penal.
Fronteira entre o fim da preparação e o início da execução: é muito tênue a linha divisória entre o término da preparação e a realização do primeiro ato executório. Torna-se, assim, bastante difícil saber quando o agente ainda está preparando ou já está executando um crime. 
O melhor critério para tal distinção é o que entende que a execução se inicia com a prática do primeiro ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito. Enquanto os atos realizados não forem aptos à consumação ou quando ainda não estiverem inequivocamente vinculados a ela, o crime permanece em sua fase de preparação. Desse modo, no momento em que o agente aguarda a passagem da vítima, escondido atrás de uma árvore, ainda não praticou nenhum ato idôneo para causar a morte daquela, nem se pode estabelecer induvidosa ligação entre esse fato e o homicídio a ser praticado. Da mesma forma, enquanto o ladrão estiver perambulando pela residência, sem começar a subtração do bem (iniciar a sua retirada da esfera de disponibilidade da vítima), a execução do furto ainda não principiou. O agente que promete matar um desafeto e é surpreendido a caminho da casa deste munido de uma arma ainda não começou a praticar nenhum ato idôneo para produzir a sua morte, não se podendo falar em início de execução. Por essa razão, somente há execução quando praticado o primeiro ato capaz de levar ao resultado consumativo e não houver nenhuma dúvida de que tal ato destina-se à consumação. 
Finalmente quando dá início à execução do crime, ingressando nos atos de execução, duas situações podem ocorrer:
1ª O agente consuma a infração penal por ele pretendida inicialmente;
2ª em virtude de circunstancias alheias à sua vontade, a infração não chega a consumar-se, restando, portanto, tentada.
4ª Exaurimento: em somente determinadas infrações temos o chamado exaurimento. É a fase que se situa após a consumação do delito, esgotando-o plenamente.
CRIME CONSUMADO
Conceito: é aquele em que foram realizados todos os elementos constantes de sua definição legal. 
Exemplo: o crime de furto se consuma no momento em que o agente subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, ou seja, no exato instante em que o bem sai da esfera de disponibilidade da vítima, que, então, precisará agora retomá-lo. Nesse caso, todas as elementares do tipo do furto foram inteiramente realizadas.
Consumação: todos os elementos que se encontram descritos no tipo penal foram realizados.
Diferença entre crime consumado e exaurido: crime exaurido é aquele no qual o agente, após atingir o resultado consumativo, continua a agredir o bem jurídico, procura dar-lhe uma nova destinação ou tenta tirar novo proveito, fazendo com que sua conduta continue a produzir efeitos no mundo concreto, mesmo após a realização integral do tipo. 
É o caso do funcionário público que, após atingir a consumação mediante a solicitação de vantagem indevida, vem a efetivamente recebê-la (CP, art. 317). Para o aperfeiçoamento típico, o efetivo recebimento dessa vantagem é irrelevante, pois se atinge a consumação com a mera solicitação; no entanto, o recebimento é um proveito ulterior obtido pelo sujeito ativo. 
A consumação nas várias espécies de crimes:
a) materiais: com a produção do resultado naturalístico;
b) culposos: com a produção do resultado naturalístico;
c) de mera conduta: com a ação ou omissão delituosa;
d) formáis: com a simples atividade, independente do resultado;
e) permanentes: o momento consumativo se protrai no tempo;
f) omissivos próprios: com a abstenção do comportamento devido; 
g) omissivos impróprios: com a produção do resultado naturalístico; 
h) qualificados pelo resultado: com a produção do resultado agravador; 
i) complexos: quando os crimes componentes estejam integralmente
realizados;
j) habituais: com a reiteração de atos, pois cadaum deles, isoladamente, é indiferente à lei penal. O momento consumativo é incerto, pois não se sabe quando a conduta se tornou um hábito, por essa razão, não cabe prisão em flagrante nesses crimes.
 Do Crime tentado; TENTATIVA ou CONATUS
Conceito: não-consumação de um crime, cuja execução foi iniciada, por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
A tentativa ensina Alberto Silva Franco, “se caracteriza por ser um tipo manco, truncado, carente”... é um delito incompleto, de uma tipicidade subjetiva completa...”
Natureza jurídica: norma de extensão temporal da figura típica causadora de adequação típica mediata ou indireta. (matéria debatida na apostila anterior)
Elementos da tentativa:
a) o início de execução;
b) a não-consumação;
c) a interferência de circunstâncias alheias à vontade do agente.
	
Início de execução: conforme já salientado, é bastante nebulosa a linha demarcatória que separa os atos preparatórios não puníveis dos atos de execução puníveis. O legislador, no art. 14, II, do CP, estabelece essa divisão ao fazer referência ao início de execução. Não obstante isso, a dúvida persiste, uma vez que o conteúdo de significado da mencionada expressão gera sérias divergências ao ser aplicado concretamente.
Que vem a ser início de execução? Para entendê-lo, precisamos analisar vários critérios pelos quais é fixado.
Critério lógico-formal: parte de um enfoque objetivo, diretamente ligado ao tipo, há inicio da execução quando há inicio da realização do tipo, colocando em perigo o bem jurídico tutelado.
Conforme anota José Frederico Marques, a atividade executiva é típica, e, portanto, o princípio de execução tem de ser compreendido como início de uma atividade típica. Assim, o ato executivo é aquele que realiza uma parte da ação típica. Segundo Rodriguez Mourullo, existiria "começo de execução" sempre que houvesse a "correspondência formal dos atos executados com a realização parcial do correspondente tipo delitivo". Critica-se a adoção de tal critério, pois estreitaria sobremaneira a esfera de incidência da tentativa, deixando esta de abarcar diversos atos reprováveis e passíveis de sancionamento, os quais constituiriam meros atos preparatórios impuníveis.
Fernando Capez entende que esse critério deve ser adotado por respeitar o princípio da reserva legal, uma vez que o único parâmetro para aferição do fato típico é a correspondência entre a conduta humana praticada e a descrição contida na lei. Ora, somente começa a existir tipicidade quando inicia essa correspondência, não se concebendo início de execução sem começo de realizaÇão do verbo do tipo.
Critério subjetivo: seu enfoque não é a descrição da conduta típica, mas o momento interno do autor, uma vez que não importa mais verificar se os atos executados pelo agente correspondem a uma realização parcial do tipo, mas sim examiná-Ios em função do ponto de vista subjetivo do respectivo autor. Foi criticada pela doutrina, porque o agente é apontado, cedo demais, como delinqüente, correndo-se o risco de dilatar ao infinito o esquema de incriminação, de forma que ponha em perigo o próprio princípio da legalidade. Além disso, torna possível incriminar o crime até mesmo em sua fase de cogitação. Por essa razão, não deve ser adotado.
Critério adotado: deve ser adotado o critério lógico-formal. Como já dissemos, nosso sistema jurídico tem como um de seus princípios basilares o princípio da reserva legal, pois só constitui crime o fato expressamente previsto em lei, logo, somente caracterizará início de execução (e, portanto, a tentativa punível) o ato idôneo para a consumação do delito. Assim, se o sujeito é surpreendido subindo a escada para entrar em uma residência, não há como sustentar que houve tentativa de furto ou roubo, uma vez que não havia ainda se iniciado nenhuma subtração (não começou a tirar nada de ninguém, logo não houve início de execução). Além de idôneo (apto à consumação), o ato deve ser também inequívoco (indubitavelmente destinado à produção do resultado), de maneira que somente depois de iniciada a ação idônea e inequívoca, ou seja, o verbo do tipo, é que terá início a realização do fato definido no modelo incriminador (tem de começar a matar, a subtrair, a constranger, a falsificar e assim por diante). Só a idoneidade não basta, assim como só a inequivocidade é insuficiente para o início da execução, já que o núcleo da conduta típica pressupõe a somatória de ambos (ato idôneo + inequívoco = verbo do tipo). 
Figuremos o seguinte caso: Tício, tendo recebido uma bofetada de Caio, corre a um armeiro, adquire um revólver, carrega-o com seis balas e volta, ato seguido, à procura de seu adversário, que, entretanto, por cautela ou casualmente, já não se acha no local da contenda; Tício, porém, não desistindo de encontrar Caio, vai postar-se, dissimulado, atrás de uma moita, junto ao caminho onde ele habitualmente passa, rumo de casa, e ali espera em vão pelo seu inimigo que, desconfiado, tomou direção diversa. Não se pode conceber uma série de atos mais inequivocamente reveladores da intenção de matar, embora todos eles sejam meramente preparatórios. Neste exemplo, embora inequívocos, são ainda atos inidôneos, pois enquanto Tício estiver sentado na moita, só aguardando, Caio não morrerá.
Formas de Tentativa
a) Imperfeita: há interrupção do processo executório; o agente não chega a praticar todos os atos de execução do crime, por circunstâncias alheias à sua vontade.
b) Perfeita ou acabada (também conhecida por crime falho): o agente pratica todos os atos de execução do crime, mas não o consuma por circunstâncias alheias à sua vontade.
c) Branca ou incruenta: a vítima não é atingida, nem vem a sofrer ferimentos, o agente realiza a conduta integralmente, sem, contudo, conseguir ferir a vítima (erra todos os tiros)
d) Cruenta: a vítima é atingida, vindo a lesionar-se. 
IMPORTANTE:
Embora não haja distinção quanto à pena abstratamente cominada no tipo, o juiz deve levar em consideração a espécie de tentativa no momento de dosar a pena, pois, quanto mais próxima da consumação, menor será a redução (mais próxima de 1/3), e vice-versa.
Infrações penais que não admitem tentativa: 
a) culposas (salvo a culpa imprópria, para parte da doutrina);
b) preterdolosas;
c) contravenções penais (a tentativa não é punida- v. art. 4º da LCP); 
d) crimes omissivos próprios (de mera conduta);
e) habituais (ou há a habitualidade e o delito se consuma, ou não há e
inexiste crime);
f) crimes que a lei só pune se ocorrer o resultado (CP, art. 122 auxílio instigação ou induzimento ao suicídio);
g) crimes em que a lei pune a tentativa como delito consumado (CP, art. 352).
Teorias sobre a punição da tentativa
	a) Subjetiva: a tentativa deve ser punida da mesma forma que o crime consumado, pois o que vale é a intenção do agente.
b) Objetiva ou realística: a tentativa deve ser punida de forma mais branda que o crime consumado, porque objetivamente produziu um mal menor.
	
Teoria adotada: a objetiva. Não se pune a intenção, mas o efetivo percurso objetivo do iter criminis.
Critério para redução da pena: 
a pena do crime tentado será a do consumado, diminuída de 1/3 a 2/3. Quanto mais próximo o agente chegar da consumação, menor será a redução, e vice-versa. Assim, na tentativa branca a redução será sempre maior do que naquela ém que a vítima sofre ferimentos graves. Tal critério é fruto de construção jurisprudencial.
Significado da expressão “salvo disposição em contrario” Art. 14 parágrafo único: quando o legislador deseja, pune a tentativa com a mesma pena do crime consumado, embora, nessa situação, exista expressa previsão no tipo penal.
Exemplo:
Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou individuo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa – art. 352 CP.
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ (TENTATIVA ABANDONADA):
Conceito: são espécies de tentativa abandonada ou qualificada. Como o próprio nome diz, havia uma tentativa, que foiabandonada. Em outras palavras, o agente pretendia produzir o resultado consumativo, mas acabou por mudar de idéia, vindo a impedi-lo por sua própria vontade.
 Desse modo, o resultado não se produz por força da vontade do agente, ao contrário da tentativa, na qual atuam circunstâncias alheias a essa vontade.
Natureza jurídica: trata-se de causa geradora de atipicidade (relativa ou absoluta). Provoca a exclusão da adequação típica indireta, fazendo com que o autor não responda pela tentativa, mas pelos atos até então praticados, salvo quando não configurarem fato típico. 
Elementos da tentativa abandonada: são três: 
a) início de execução;
b) não-consumação;
c) interferência da vontade do próprio agente.
Distinção com a tentativa: a diferença está no terceiro elemento: vontade do agente. Na tentativa, o resultado não se produz em face da interferência de circunstâncias alheias a essa vontade, enquanto na tentativa abandonada é a vontade do próprio agente que impede o resultado. Se o sujeito não mata a vítima porque não consegue, é tentativa; se não mata porque mudou de idéia e abandonou a execução, é tentativa abandonada ou qualificada. Como bem sintetizava Frank, na tentativa o agente diz: "eu quero,mas não consigo", enquanto na tentativa abandonada ele diz: "eu consigo, mas não quero".
Espécies de tentativa abandonada: são duas:
a) desistência voluntária;
b) arrependimento eficaz.
	
Conceito de desistência voluntária: o agente interrompe voluntariamente a execução do crime, impedindo, desse modo, a sua consumação. Nela dá-se o início de execução, porém o agente muda de idéia e, por sua própria vontade, interrompe a seqüência de atos executórios, fazendo com que o resultado não aconteça. Exemplo: o agente tem um revólver municiado com seis projéteis. Efetua dois disparos contra a vítima, não a acerta e, podendo prosseguir atirando, desiste por vontade própria e vai embora.
Conceito de arrependimento eficaz: o agente, após encerrar a execução do crime, impede a produção do resultado. Nesse caso, a execução vai até o final, não sendo interrompida pelo autor, no entanto, este, após esgotar a atividade executória, arrepende-se e impede o resultado. Exemplo: o agente descarrega sua arma de fogo na vítima, ferindo-a gravemente, mas, arrependendo-se do desejo de matá-Ia, presta-lhe imediato e exitoso socorro, impedindo o evento letal.
No caso do envenenamento, dá o antídoto p/ evitar a morte.
Crimes de mera conduta e formais: não comportam arrependimento eficaz, uma vez que, encerrada a execução, o crime já está consumado, não havendo resultado naturalístico a ser evitado. Só é possível, portanto, nos crimes materiais, nos quais o resultado naturalístico é imprescindível para a consumação.
Arrependimento ineficaz: irrelevante. Não traz qualquer conseqüência, devendo o agente responder pelo crime praticado. Como diz o velho ditado: "De boas intenções...".
Distinção entre desistência e arrependimento eficaz:
Na desistência voluntária, o agente interrompe a execução; no arrependimento eficaz, ela é realizada inteiramente, e, após, o resultado é impedido. 
A desistência equivale à tentativa inacabada ou imperfeita, pois a execução não chega ao final, ao passo que o arrependimento eficaz é o sucedâneo da tentativa perfeita ou crime falho, pois encerra-se a atividade executória. Em ambos os casos, a diferença é a de que o resultado não se produz em razão da vontade do próprio agente.
Conseqüência: em nenhuma dessas formas de tentativa abandonada atuam circunstâncias alheias à vontade do agente, ao contrário, é a sua própria vontade que evita a consumação. Assim, afasta-se a tentativa, e o agente só responde pelos atos até então praticados (no exemplo da desistência voluntária, pelo delito de periclitação da vida - art. 132 do CP - ou disparo de arma de fogo - art. 15 da Lei n. 10.826/2003; no exemplo do arrependimento eficaz, responde por lesões corporais de natureza grave art. 129, § 1º, do CP).
Ponte de ouro: a tentativa abandonada é assim chamada porque provoca uma readequação típica mais benéfica para o autor. Para outra corrente, essa expressão foi atribuída não em face da atipicidade da conduta, mas devido à exclusão da punibilidade ditada por motivos de política criminal.
Distinção entre ato voluntário e ato espontâneo: a desistência e o arrependimento não precisam ser espontâneos, bastando que sejam voluntários. Por conseguinte, se o agente desiste ou se arrepende por sugestão ou conselho de terceiro, subsistem a desistência voluntária e o arrependimento eficaz. Do mesmo modo "não se faz mister que o agente proceda por motivos nobres ou de índole ética (piedade, remorso, despertada repugnância pelo crime) ou por motivos subalternos, egoísticos (covardia, medo, receio de ser eventualmente descoberto, decepção com o escasso proveito que pode auferir): é suficiente que não tenha sido obstado por causas exteriores, independentes de sua vontade. É indiferente a razão interna do arrependimento ou da mudança de propósito".
Distinção entre ato voluntário e ato involuntário: voluntário é tudo que aquilo fazemos por nossa vontade, sem que ninguém nos obrigue. Se, por exemplo, o sujeito, mesmo tendo todas as condições de consumar o crime, fica com medo de, futuramente, ser descoberto e preso, e, então, desiste de prosseguir na execução, estará caracterizada a desistência voluntária, já que, sendo livre para decidir, optou pela interrupção do crime. Em contrapartida, se, durante a prática delituosa, "o ladrão ouve o rumor de uma porta que se abre e põe-se em retirada, temendo alguém que se aproxime e venha surpreendê-Io, não há desistência voluntária". Neste último caso, o larápio gostaria de ter prosseguido, mas teve medo de ser preso e fugiu, interrompendo a execução por circunstâncias alheias à sua vontade. Na primeira hipótese, ao contrário, não havia qualquer perigo para que o crime fosse levado até as suas últimas conseqüências, mas ele, voluntariamente, sopesando os prós e contras, decidiu parar, evitando problemas futuros. Como lembra Nélson Hungria, "segundo Frank, a desistência é voluntária quando o agente pode dizer: 'não quero prosseguir, embora pudesse fazê-Io', e é involuntária quando tem de dizer: 'não posso prosseguir, ainda que o quisesse”.
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Conceito: causa de diminuição de pena que ocorre nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, em que o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui a coisa até o recebimento da denúncia ou queixa.
Natureza jurídica: causa obrigatória de redução de pena. O juiz deve reduzir a pena de 1/3 a 2/3.
Objetivo: estimular a reparação do dano nos crimes patrimoniais cometidos sem violência ou grave ameaça.
Diferenças entre arrependimento posterior e eficaz
1) O arrependimento eficaz aplica-se também aos crimes cometidos com violência ou grave ameaça (agente descarrega a arma na vítima e depois se arrepende, a socorre e evita sua morte); o posterior só incide sobre crimes cometidos sem violência ou grave ameaça.
2) O arrependimento eficaz faz com que o agente não responda pelo resultado visado, mas somente pelos atos até então praticados; o posterior é uma simples causa de diminuição de pena, prevista na Parte Geral do CP, que permite a redução da pena de 1/3 a 2/3.
3) O arrependimento eficaz é anterior à consumação, enquanto o posterior, o nome já diz, pressupõe a produção do resultado.
Requisitos
a) Crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa: a lei só se refere à violência dolosa, podendo a diminuição ser aplicada aos crimes culposos em que há violência, tais como homicídio e lesão corporal culposa. Do mesmo modo, se a violência é empregada contra a coisa e não contra a pessoa, como, por exemplo, no crime de dano, é possível a aplicação do benefício.
b) Reparação do dano ou restituição da coisa: deve sempre ser integral, a não ser que a vítima ou seus herdeiros aceitem parte, renunciando ao restante.
c) Voluntariedade do agente: não significaespontaneidade. A reparação ou restituição por conselho ou sugestão de terceiro não impede a diminuição, uma vez que o ato, embora não espontâneo, foi voluntário (aceitou o conselho ou sugestão porque quis). Da mesma forma, é admissível o benefício no caso de ressarcimento feito por parente ou terceiro, desde que autorizado pelo agente, por tratar-se de causa objetiva de redução obrigatória da pena, a qual não exige que o ato indenizatório seja pessoalmente realizado pelo sujeito.
d) Até o recebimento da denúncia ou queixa: se posterior, é circunstância atenuante genérica (CP, art. 65, b).
A questão do peculato doloso: qual a conseqüência da reparação do dano no peculato doloso? Se o peculato é culposo, a reparação do dano antes da sentença transitada em julgado extingue a punibilidade; se doloso, a reparação antes do recebimento da denúncia ou queixa diminui a pena de 1/3 a 2/3, e, se posterior, é causa atenuante genérica. Trata-se de questão capciosa, pois, ao examinarmos o art. 312 e observarmos seu § 3º poderemos concluir, equivocadamente, que a reparação do dano só traz conseqüências no peculato culposo.
Emissão de cheque sem suficiente provisão de fundos: no caso da emissão de cheque sem suficiente provisão de fundos, a reparação do dano até o recebimento da denúncia extingue a punibilidade do agente, nos termos da Súmula 554 do Supremo Tribunal Federal, porque o delito de estelionato exige como pressuposto necessário à sua consumação o efetivo prejuízo da vítima. Desaparecendo este, não se tipifica o delito do art. 171,§ 2º, VI, do CP, inexistindo, assim, justa causa para propositura de ação penal e instauração de inquérito policial, sob pena de configurar-se constrangimento ilegal. Difere, portanto, do arrependimento posterior, pois este instituto exige, para ser aplicado, que o fato praticado tenha enquadramento típico, sendo certo que a maior ou menor presteia do agente em ressarcir o dano ou em restituir a coisa deve refletir-se na aplicação de uma pena reduzida. Se o cheque, entretanto, foi preenchido fraudulentamente, o crime será o de estelionato, e a reparação do dano só trará as conseqüências do art. 16 (desde que preenchidos todos os seus requisitos).
Outras hipóteses previstas em leis especiais: na hipótese de crime contra a ordem tributária, o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, até o recebimento da denúncia também extingue a punibilidade (Lei n. 9.249/95, art. 34), não havendo que se falar em arrependimento posterior. Do mesmo modo, nos crimes de ação penal privada e pública condicionada a representação do ofendido de competência dos Juizados Especiais Criminais, a reparação do dano na audiência preliminar acarreta extinção da punibilidade, por meio da renúncia ao direito de queixa ou representação (Lei n. 9.099/95, art. 74, parágrafo único).
Aplicação: a norma do arrependimento posterior aplica-se aos crimes dolosos e culposos, tentados e consumados, simples, privilegiados ou qualificados.
Redução da pena: o juiz deve reduzir a pena de 1/3 a 2/3.
	Fator que orienta a maior ou menor redução da pena: como a reparação do dano ou a restituição da coisa devem sempre ser integrais, esse não pode ser o critério. Só resta o da maior ou menor sinceridade ou espontaneidade (quanto mais espontâneo o ato, maior a redução) e o da maior presteza e celeridade (quanto mais rápida a reparação ou a restituição, maior a redução). Quanto mais espontânea e rápida a reparação, maior será a redução da pena.
Comunicabilidade a co-autores e partícipes: tratando-se de causa objetiva de diminuição de pena, o arrependimento posterior não se restringe à esfera pessoal de quem o realiza, tanto que extingue a obrigação erga omnes. Estende-se, portanto, aos co-autores e participes condenados pelo mesmo fato.
CRIME IMPOSSIVEL
O crime impossível veio previsto no art. 17 do Código Penal, com a seguinte redação:
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Quando o legislador inicia a redação do artigo que prevê o crime impossível, parte da premissa de que o agente já ingressara na fase dos chamados atos de execução, e a consumação da infração penal só não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade.
Chegamos a tal ilação porque na redação inicial do artigo está expresso que não se pune a tentativa, e somente podemos falar em tentativa quando o agente, nos termos do art. 14,II, do Código Penal, já dera início aos atos de execução objetivando alcançar a consumação do crime por ele pretendido.
Por essa razão é que o crime impossível também é conhecido como tentativa inidônea inadequada ou quase-crime.
 TEORIAS SOBRE O CRIME IMPOSSIVEL
Várias teorias surgiram com o escopo de elucidar o crime impossível.
Dentre elas, podemos destacar duas: teoria subjetiva e teoria objetiva.
	A teoria objetiva biparte-se em teoria objetiva pura e teoria objetiva temperada (moderada ou matizada).
Para a teoria subjetiva, de Von Buri, não importa se o meio ou o objeto são absoluta ou relativamente ineficazes ou impróprios, pois que, para a configuração da tentativa, basta que o agente tenha agido com vontade de praticar a infração penal. Ressalte-se que o agente, para essa teoria, é punido pela sua intenção delituosa, mesmo que no caso concreto bem algum se colocasse em situação de perigo. Segundo Hungria, mesmo de acordo com a teoria subjetiva, "deve ter-se em conta somente a vontade criminosa, desde que manifesta pela conduta do agente".
A teoria subjetiva atende a um sentimento natural do homem que, em muitas situações, indaga a si próprio: Se o agente deu mostras suficientes de que queria cometer o crime, praticando atos de execução tendentes a consumá-Io, por que deverá ficar impune se não conseguir alcançar o resultado em virtude da ocorrência de uma circunstância alheia à sua vontade?
Em lado diametralmente oposto se encontra a teoria objetiva pura. Para essa teoria, não importa se o meio ou o objeto eram absoluta ou relativamente inidôneos para que se pudesse chegar ao resultado cogitado pelo agente, uma vez que em nenhuma dessas situações responderá ele pela tentativa. Na lição de Hungria, segundo essa teoria, "não se pode distinguir entre inidoneidade absoluta ou relativa: em ambos os casos, não há bem jurídico em perigo e, portanto, não existe fato punível".
Em situação intermediária encontra-se a teoria objetiva temperada, moderada ou matizada, que entende somente puníveis os atos praticados pelo agente quando os meios e os objetos são relativamente eficazes ou impróprios, isto é, quando há alguma possibilidade de o agente alcançar o resultado pretendido.
A teoria objetiva temperada foi a adotada pelo legislador brasileiro.
ABSOLUTA INEFICÁCIA DO MEIO
Podemos perceber que o art. 17 do Código Penal considera o crime impossível quando o agente, depois de dar início aos atos de execução tendentes a consumar a infração penal, só não alcança o resultado por ele inicialmente pretendido porque utilizou meio absolutamente ineficaz.
O que podemos entender como meio? Meio é tudo aquilo utilizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o resultado por ele pretendido. O meio pode ser uma faca, um revólver, um taco de golfe, pó de vidro, veneno, etc. Muitas coisas que não têm a finalidade precípua de ataque ou defesa podem ser utilizadas como meio para o cometimento de certas infrações penais. Um taco de beisebol tem a finalidade de rebater as bolas que contra ele são arremessadas; contudo, em determinadas situações, pode ser utilizado como meio para causar a morte de alguém, ocasião em que gozará do status de instrumento do crime.
O art. 17 do Código Penal fala em meio absolutamente ineficaz. Já vimos o que pode ser considerado meio. Mas o que vem a ser meio absolutamente ineficaz? Meio absolutamente ineficaz é aquele de que o agente se vale a fim de cometer a infração penal, mas que, no caso concreto, não possui a mínima aptidão para produziros efeitos pretendidos. Ou, ainda, na definição de Hungria,
"dá-se a ineficácia absoluta do meio quando este, por sua própria essência ou natureza, é incapaz, por mais que se reitere o seu emprego, de produzir o evento a que está subordinada a consumação do crime".
São exemplos clássicos mencionados pela doutrina o da utilização de revólver sem munição ou com a munição já detonada; ou o daquele que, querendo causar a morte de seu desafeto por envenenamento, substitui, equivocadamente, o veneno por açúcar; a falsificação grosseira, destinada à obtenção de vantagem ilícita, ou, ainda, o daquele que quer contaminar alguém com moléstia grave de que não é portador.
De se ver que, nessas situações, por mais que o agente se esforce na utilização dos meios absolutamente ineficazes, a consumação do crime, como diz a parte final do art. 17 do Código Penal, se tornará impossível.
MEIO RELATIVAMENTE INEFICAZ
O art. 17 do Código Penal é claro quando diz que somente quando o meio for absolutamente ineficaz é que poderemos falar em crime impossível; caso contrário, quando a ineficácia do meio for relativa, estaremos diante de um crime tentado.
Já vimos que é absolutamente ineficaz o meio quando não houver qualquer possibilidade de vir a produzir o resultado pretendido pelo agente. Quando cuidamos de ineficácia relativa, a situação já se nos afigura diferente. Pelo fato de ser relativamente ineficaz, o meio utilizado pelo agente pode vir ou não a causar o resultado. Na ineficácia absoluta, em hipótese alguma o resultado será alcançado com a sua utilização. Na lição de Hungria, "dá-se a inidoneidade relativa do meio quando este, embora normalmente capaz de produzir o evento intencionado, falha no caso concreto, por uma circunstância acidental na sua utilização".
No crime de falso, por exemplo, se a falsificação não é grosseira a ponto de ser identificada de plano, mas que também não pode ser considerada uma "obra de arte", dificilmente perceptível, devemos entender que a ineficácia do meio é relativa, porque a vítima poderia nela acreditar e o agente conseguir obter a vantagem indevida com a sua utilização. Outro exemplo clássico que encontramos na doutrina é o daquele em que uma gestante, objetivando interromper a sua gravidez, ingere medicação abortiva com o prazo de validade já expirado.
ABSOLUTA IMPROPRIEDADE DO OBJETO
Não só a absoluta ineficácia do meio inibe a punição pelo crime tentado, como também a absoluta impropriedade do objeto. Vimos qual o significado de meio. Agora, tentaremos esclarecer o conceito de objeto. Podemos entender por objeto tudo aquilo contra o qual se dirige a conduta do agente. Objeto, como já conceituamos, é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente. Nesse caso, por ser o objeto absolutamente impróprio, não se fala em tentativa. Se alguém atira em direção a outrem que parece dormir, quando, na realidade, já se encontrava morto, não comete o delito de homicídio, haja vista que o objeto é absolutamente impróprio a essa finalidade, pois que só se pode causar a morte de quem esteja vivo.
Outro exemplo clássico encontrado na doutrina, e também fornecido por Hungria, é aquele em que a mulher, supondo-se grávida, ingere substância abortiva apta a expelir o feto, quando, na realidade, não existe gravidez. Como se dessume, se não existe gravidez, não há feto e, portanto, nada há que possa ser abortado. Da mesma forma, não se pode contaminar com doença venérea quem já está contaminado ou que apresente imunidade a ela. O objeto, outrossim, é absolutamente impróprio.
Nessas situações, por mais que o agente quisesse alcançar o resultado por ele pretendido, jamais conseguiria. Isso até por razões de ordem lógica: não se pode matar quem já está morto; não se pode abortar quando não há gravidez, etc. A consumação dos crimes pretendidos seria. portanto, impossível.
OBJETO RELATIVAMENTE IMPRÓPRIO
	Fala-se em impropriedade relativa do objeto quando a pessoa ou a coisa contra a qual recai a conduta do agente é colocada efetivamente numa situação de perigo, ou seja, está apta a sofrer com a conduta do agente, que pode vir a alcançar o resultado por ele pretendido inicialmente.
Tomemos o seguinte exemplo: um punguista, supondo que os valores pertencentes a João se encontram no bolso esquerdo de sua calça, nela cautelosamente enfia a mão, mas, na realidade, os pertences de João se encontravam em seu bolso direito. Não podemos dizer que os bens pertencentes a João não foram colocados em situação de perigo. Vamos imaginar, agora, que João nada trouxesse consigo que pudesse ser subtraído pelo punguista. A situação, em nossa opinião, modifica-se por completo. Nesse caso, por mais que o agente quisesse subtrair os bens de João, ele jamais conseguiria, uma vez que esses bens inexistiam no instante da prática da conduta. No primeiro exemplo, o punguista responderia por tentativa de furto; no segundo, nada haveria a punir, pois que seria o caso de crime impossível. (essa posição é bastante contraditória, muitas vezes não sendo reconhecida)
O CRIME IMPOSSIVEL E A SÚMULA 145 DO STF
Diz a SUMULA 145 do STF:
Súmula 145. Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.
Por intermédio da Sumula 145 do STF foi pacificado o entendimento daquela Corte no sentido de que, em determinadas situações, se a polícia preparar o flagrante de modo a tomar impossível a consumação do delito, tal situação importará em crime impossível, não havendo, por conseguinte, qualquer conduta que esteja a merecer a reprimenda do Estado.
Exemplo: Investigadora grávida pede p médico fazer aborto ilegal e depois o prende em flagrante; detetive simula comprar droga e prende o traficante.
Uma vez preparado o flagrante pela polícia, a total impossibilidade de se consumar a infração penal pretendida pelo agente pode ocorrer tanto no caso de absoluta ineficácia do meio por ele utilizado como no de absoluta impropriedade do objeto.
Temos visto a distinção entre o chamado flagrante preparado e o flagrante esperado. Mas qual a diferença entre os dois tipos de flagrante?
No primeiro, isto é, no flagrante preparado, o agente é estimulado pela vítima, ou mesmo pela autoridade policial, a cometer a infração penal com o escopo de prendê-Io. A vítima e a autoridade policial, e até terceiros que se prestem a esse papel, são conhecidas como agentes provocadores. 
Já no flagrante esperado não haveria essa estimulação por parte da vítima, da autoridade policial ou mesmo de terceiros, no sentido de induzir o agente à prática do delito. O agente, aqui, não é induzido a cometer delito algum.
Nesses casos, tendo a autoridade policial prévio conhecimento da intenção do agente em cometer a infração penal, o aguarda, sem estimulá-Io a absolutamente nada, e cuida de todos os detalhes de modo a evitar a consumação do crime. Fala-se, nessa hipótese, em possibilidade de tentativa.
A diferença entre esses tipos de flagrante, como se percebe, reside no fato de que no flagrante preparado ou provocado o agente é induzido, é estimulado a cometer a infração penal; já no flagrante esperado não existe esse estímulo, mas o agente é impedido de praticar o delito pelo fato de ter a autoridade policial tomado conhecimento prévio da ação criminosa.
Rogério Greco no entanto discorda dando a seguinte posição:
Não vislumbramos, contudo, qualquer distinção que importe em atribuir a tentativa no flagrante esperado e o crime impossível no flagrante preparado.
Se o agente, analisando o caso concreto, estimulado ou não a praticar o crime, não tinha como alcançar a sua consumação porque dele soubera com antecedência a autoridade policial e preparou tudo de modo a evitá-Ia. não podemos atribuir-lhe o conatus.
Não importa se o flagrante é preparado ou esperado. Desde que o agente não tenha qualquer possibilidade, em hipótese alguma, de chegar à consumação do delito, o caso será o de crime impossível, considerando-se a absoluta ineficacia do meio por ele empregado, ou a absoluta impropriedadedo objeto.
Se, porventura, restar consumada a infração penal, mesmo que tenham sido tomadas todas as providências para evitá-Ia, o agente responderá pelo crime, haja vista que, nesse caso, tendo conseguido alcançar o resultado inicialmente pretendido, é sinal de que os meios ou os objetos não eram absolutamente ineficazes ou impróprios.
Capez, no entanto não manifesta posição contra. 
DIFERENÇA ENTRE CRIME IMPOSSÍVEL E CRIME PUTATIVO
Embora tanto no crime impossível como no crime putativo a conduta do agente seja dirigida ao cometimento de uma infração penal, há diferença entre os dois institutos.
No primeiro, ou seja, no crime impossível, existe previsão em nosso ordenamento jurídico da infração penal que o agente pretende praticar. Contudo, por absoluta ineficácia do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Já no crime putativo a situação é diversa, pois que o agente almeja praticar uma infração que não encontra moldura em nossa legislação. O fato por ele praticado é atípico. É considerado, portanto, um indiferente penal.
Na precisa distinção feita por Maggiore, no delito putativo,
"o agente crê haver efetuado uma ação delituosa que existe somente em sua fantasia; em outras palavras, julga punível um fato que não merece castigo. No delito impossível o agente crê atuar de modo a ocasionar um resultado que, pelo contrário, não pode ocorrer, ou porque falta o objeto, ou porque a conduta não foi de todo idônea".
NEXO CAUSAL
É o vínculo que liga a conduta ao resultado naturalístico.
Estuda-se o nexo causal para se saber se a conduta praticada pelo agente foi a causa do resultado e a ele pode ser imputado.
Conceito: é o elo de ligação concreto, físico, material e natural que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado naturalístico, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa a este.
Natureza: o nexo causal consiste em uma mera constatação acerca da existência de relação entre conduta e resultado. 
A sua verificação atende apenas às leis da física, mais especificamente, da causa e do efeito. Por essa razão, sua aferição independe de qualquer apreciação jurídica, como, por exemplo, da verificação da existência de dolo ou culpa por parte do agente. 
Não se trata de questão opinativa, pois ou a conduta provocou o resultado ou não. 
Exemplo: um motorista, embora dirigindo seu automóvel com absoluta diligência, acaba por atropelar e matar uma criança que se desprendeu da mão de sua mãe e precipitou-se sob a roda do veículo. Mesmo sem atuar com dolo ou culpa, o motorista deu causa ao evento morte, pois foi o carro que conduzia que passou por sobre a cabeça da vítima. Assim, para se saber sobre a sua existência, basta aplicar um utilíssimo critério, conhecido como critério da eliminação hipotética, que adiante será estudado e segundo o qual sempre que, excluído um fato, ainda assim ocorrer o resultado, ésinal de que aquele não foi causa deste.
Nexo normativo: 
Para a existência do fato típico, no entanto, não basta a mera configuração do nexo causal. É insuficiente para tanto aferir apenas a existência de um elo físico entre ação e resultado. 
De acordo com a interpretação do art. 19 do CP, é imprescindível que o agente tenha concorrido com dolo ou culpa (quando admitida), uma vez que sem um ou outro não haveria fato típico. Convém lembrar que o art. 18 do CP prevê a existência somente de crimes dolos os e culposos, desconhecendo algum que seja cometido sem um desses elementos. 
Voltando ao exemplo acima, o motorista deu causa à morte da criança, mas não cometeu homicídio, pois este tipo penal somente conhece as formas dolos a e culposa, razão pela qual o fato é considerado atípico. 
À vista do exposto, para a existência do fato típico são necessários: o nexo causal físico, concreto, e o nexo normativo, que depende da verificação de dolo ou culpa.
Teorias para apontar o nexo causal
Foi a teoria adotada pelo art. 13, caput, do Código Penal no que se refere ao nexo de causalidade. É também chamada de teoria da conditio sine qua non. Para essa teoria, causa é toda circunstância antecedente, sem a qual o resultado não teria ocorrido. Isso leva à conclusão de que toda e qualquer contribuição para o resultado é considerada sua causa. Todas as causas são igualmente contributivas para a produção do resultado. 
	Ex.: se o fabricante da arma não a tivesse fabricado, não haveria o crime; se os pais do agente não o tivessem gerado, não teria acontecido o crime etc.
Dessa forma, para se saber se algo é causa do resultado, basta excluí-Io da série causal. Se o delito, ainda assim, teria ocorrido, não é causa. Se não teria ocorrido, então é causa. (Raciocínio da Eliminação Hipotética de Thyrén,)
Tudo, portanto, o que, retirado da cadeia de causa e efeito, provocar a exclusão do resultado considera-se sua causa. 
Exemplo de Damásio E. de Jesus: 
"Suponha-se que A tenha matado 'B'. A conduta típica do homicídio possui uma série de fatos, alguns antecedentes, dentre os quais podemos sugerir os seguintes: 
1º) a produção do revólver pela indústria;
2º) aquisição da arma pelo comerciante; 
3º) compra do revólver pelo agente; 
4º) refeição tomada pelo homicida; 
5º) emboscada; 
6º) disparo de projéteis na vítima; 
7º) resultado morte. 
Dentro dessa cadeia de fatos, excluindo-se os fatos sob os números 1º a 3º, 5º e 6º, o resultado não teria ocorrido. Logo, são considerados causa. 
Excluindo-se o fato sob o número 4º (refeição), ainda assim o evento teria acontecido. Logo, a refeição tomada pelo sujeito não é considerada causa. 
CRÍTICA A RESPEITO DESSA TEORIA: 
Diante da teoria da equivalência dos antecedentes, uma pergunta se impõe: não poderia haver uma responsabilização muito ampla, à medida que são alcançados todos os fatos anteriores ao crime? Os pais não poderiam responder pelos crimes praticados pelo filho? Afinal, sem aqueles, este não existiria e, não existindo, jamais poderia ter praticado o crime. Nessa linha de raciocínio, não se chegaria a um regressus ad infinitum?
A resposta é não, pois, como já dissemos, a responsabilidade penal exige, além do mero nexo causal, nexo normativo. A teoria da equivalência dos antecedentes situa-se no plano exclusivamente físico, resultante da aplicação da lei natural da causa e efeito. Assim, é claro que o pai e a mãe, do ponto de vista naturalístico, deram causa ao crime cometido pelo filho, pois, se este não existisse, não teria realizado o delito. Não podem, contudo, ser responsabilizados por essa conduta, ante a total ausência de voluntariedade. Se não concorreram para a infração com dolo ou culpa, não existiu, de sua parte, conduta relevante para o Direito Penal, visto que, como já estudado, não existe ação ou omissão típica que não seja dolosa ou culposa.
Nesse passo, observa, argutamente, Magalhães Noronha: "Claro é que a teoria da equivalência dos antecedentes se situa exclusivamente no terreno do elemento físico ou material do delito e, por isso mesmo, por si só, não pode satisfazer à punibilidade. É mister a consideração da causalidade subjetiva; é necessária a presença da culpa (em sentido amplo), caso contrário haveria o que se denomina regressus ad infinitum: seriam responsáveis pelo resultado todos quantos houvessem física ou materialmente concorrido para o evento; no homicídio, v. g., seriam responsabilizados também o comerciante que vendeu a arma, o industrial que a fabricou, o mineiro que extraiu o minério etc.".
 Em outras palavras, pelas leis da física há uma inegável relação de causa e efeito entre pais, filho e crime. É evidente que sem os primeiros não existiria o autor da infração, logo, do ponto de vista físiconaturalístico, aqueles constituem uma das causas. No entanto, para o Direito Penal, é insuficiente o nexo meramente causal-natural, sendo imprescindível para a existência do fato típico a presença do dolo ou da culpa (necessários para a tipicidade).
Teoria da causalidade adequada: 
Atribui-se a formulação desta teoriaao fisiólogo Von Kries, para quem só é considerada causa a condição idônea à produção do resultado. 
Em outras palavras, ainda que contribuindo de qualquer modo para a produção do resultado, um fato pode não ser considerado sua causa quando, isoladamente, não tiver idoneidade para tanto. São necessários, portanto: contribuição efetiva e idoneidade individual mínima.
De acordo com essa teoria, não se pode falar em nexo causal entre os pais e o crime cometido pelo filho, pois, muito embora seja verdade que sem aqueles não existiria este e, sem ele, não haveria o crime que cometeu, é forçoso reconhecer que a conduta dos pais, gerando o autor do crime, isoladamente não teria idoneidade mínima para provocar o delito cometido. Não basta, portanto, ter contribuído de qualquer modo, sendo necessário que haja uma contribuição minimamente eficaz.
O nexo causal na classificação dos crmes:
Nos crimes materiais somente existe a configuração do delito quando fica evidenciado que a conduta do agente provocou o resultado, ou seja, quando fica demonstrado o nexo causal.
Nos crimes formais e nos crimes de mera conduta não se exige o nexo causal, uma vez que esses crimes dispensam a ocorrência de qualquer resultado naturalístico e, assim, não há que se pensar em nexo de causalidade entre conduta e resultado.
Os crimes materiais, portanto, possuem quatro requisitos: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. 
Já os crimes formais e de mera conduta exigem apenas dois requisitos: conduta e tipicidade.
 SUPERVENIÊNCIA CAUSAL (art. 13, § 1º)
O art. 13, § 1º, do Código Penal dispõe que a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produz o resultado.
Nessas hipóteses, pode-se dizer que existe uma concausa, ou seja, a conduta do agente e uma outra causa qualquer.
Concausa, portanto, é toda causa que concorre paralelamente com outra, contribuindo para a produção do resultado. 
As causas podem ser:
Dependentes. Aquelas que se encontram dentro da linha de desdobramento normal da conduta. 
Essas causas jamais rompem o nexo causal. Ex.: uma facada provoca um perfuração em um órgão vital da vítima, que provoca uma hemorragia aguda, que provoca a sua morte.
b) Independentes. São aquelas que, por si só, produzem o resultado, ou seja, que não se incluem no desdobramento normal da conduta.
Seu surgimento não é decorrência esperada, lógica, natural do fato anterior, mas, ao contrario, um fenômeno inesperado, imprevisível. 
As causas independentes podem ser:
a) Absolutamente independentes. São as que têm origem totalmente diversa da conduta. A causa provocativa do resultado não se originou na conduta do agente. 
Comporta-se como por si só tivesse produzido o resultado.
Podem ser:
A1) Preexistentes, quando anteriores à conduta.
 Ex.: A quer matar B e o esfaqueia. Acontece que, anteriormente, C já tinha envenenado B, que morre em razão do envenenamento. A responde apenas por tentativa de homicídio e C por homicídio consumado. O envenenamento feito por C é uma causa preexistente absolutamente independente em face de A.
a2) Concomitantes, quando se verificam ao mesmo tempo que a conduta.
 Ex.: uma pessoa está envenenando a vítima, quando entram bandidos no local e matam a vítima com disparos de arma de fogo.
a3) Supervenientes, quando posteriores à conduta.
 Ex.: após o envenenamento, cai um lustre na cabeça da vítima, que morre por traumatismo craniano.
 Em todas as hipóteses em que há causa absolutamente independente, rompe-se o nexo causal, já que o resultado decorre dessa causa independente e não da conduta do agente. 
Nas duas últimas hipóteses,concomitantes e supervinientes, o agente (autor do envenenamento) responde apenas por tentativa de homicídio, pois, o fator que provocou efetivamente a morte foi a causa absolutamente independente e não a sua conduta.
			Sendo assim, as conseqüências das causas absolutamente independentes: rompem totalmente o nexo causal, e o agente só responde pelos atos ate então praticados.
	
b) Relativamente independentes. São aquelas que, por si só, produzem o resultado, mas que se originam na conduta do agente.
	
Também podem ser:
	B1) Preexistentes, quando anteriores à conduta. 
			Nessa hipótese, o agente responde pelo crime, pois não se rompe o nexo causal. 
	É a hipótese clássica de alguém que, querendo matar a vítima, lhe desfere um golpe de faca, golpe este que, por si só, seria insuficiente para provocar a morte de uma pessoa comum. Acontece que, por ser hemofílica (causa preexistente), a vítima acaba falecendo pela grande perda de sangue.
b2) Concomitantes, quando se verificam ao mesmo tempo que a conduta do agente. 
 Não rompe o nexo causal e o agente responde pelo crime. 
É o que ocorre no conhecido exemplo em que, no exato instante em que o agente efetua um disparo contra a vítima, vem esta a sofrer um infarto (decorrência do susto e, por isso, ligada à conduta do sujeito).
b3) Supervenientes, quando posteriores à conduta. 
 Nesse caso, conforme dispõe o art. 13, § 1º, rompe-se o nexo causal e o réu não responde pelo resultado, mas somente pelos atos até então praticados.
 Nessa hipótese, após a conduta do agente, ocorre uma causa relativamente independente que, por si só, produz o resultado. 
A vítima, por exemplo, toma um tiro na barriga (conduta do agente) e é colocada em uma ambulância. Durante o trajeto, a ambulância se envolve em uma colisão e a pessoa morre em razão dos novos ferimentos. Assim, como a causa da morte foi o acidente, a pessoa que efetuou o disparo não responde por homicídio consumado, mas apenas por tentativa. 
Diz-se que a causa é apenas relativamente independente porque, não fosse o disparo, a vítima não estaria na ambulância e não se teria ferido mortalmente no acidente automobilístico.
Outros exemplos, colhidos na jurisprudência: a morte da vítima que, em resultado do choque do ônibus com um poste de iluminação, sai ilesa do veículo e recebe uma descarga elétrica, que lhe causa a morte; o falecimento da vítima em decorrência de cirurgia facial, que não tinha por objetivo afastar perigo de vida provocado pela lesão, mas tão-só corrigir o defeito por esta causado; a morte da vítima ao descer do veículo em movimento, embora tivesse o motorista aberto a porta antes do ponto de desembarque.
Nessas hipóteses, as causas geradoras do resultado somente atuaram devido à conduta anterior, sem a qual não existiriam. Originaram-se, assim, daquele comportamento. Entretanto, atuaram de modo inesperado, inusitado, como se por si mesmas tivessem produzido o resultado, pois a morte não é decorrência normal de quem desce de um veículo em movimento ou de quem se submete a uma cirurgia plástica, apenas para lembrar alguns dos exemplos acima citados. Por essa razão, são causas independentes, embora relativamente independentes (originam-se da conduta, mas atuam de modo independente).
A conseqüência dessas causas, se fôssemos aplicar a teoria adotada como regra pelo Código Penal (equivalência dos antecedentes), seria a manutenção do nexo causal. 
Ora, experimentemos aplicar o critério da eliminação hipotética: sem a conduta não existiria a causa superveniente, que dela se originou, logo, não haveria o resultado; a conduta é, por conseguinte, causa desse resultado, não tendo que se falar em eliminação do nexo causal. O sujeito que feriu a vítima com um soco foi um dos que causaram sua morte no acidente com a ambulância, pois sem aquele ela não estaria no veículo. Seu soco, portanto, pela teoria da equivalência dos antecedentes, provocou a morte do ofendido. No caso das causas supervenientes relativamente independentes, contudo, o legislador adotou outra teoria, como exceção, qual seja, a da condicionalidade adequada, pois o art. 13, § 12, determina a ruptura do nexo causal.
Assim, embora pela regra geral a conduta seja causa, por opção do legislador, fica rompido o nexo de causalidade, pois, isoladamente, ela não teria idoneidadepara produzir o resultado. Como resultado dessa teoria, no exemplo que acabamos de ver, o agressor deixa de ser considerado causador da morte da vítima na ambulância. Convém lembrar, porém, que isso e uma exceção que só se aplica às causas supervenientes relativamente independentes; o § 1º do art. 13 do CP é bastante claro ao limitar o seu alcance a elas. Nos demais casos de independência relativa (causas anteriores e concomitantes) fica mantido o nexo causal, aplicando-se a regra geral da equivalência dos antecedentes.
Conseqüência das causas relativamente independentes: conforme acabamos de dizer, aplicando-se o critério da eliminação hipotética, podemos afirmar que nenhuma causa relativamente independente tem o condão de romper o nexo causal. Experimente retirar da cadeia de causalidade o corte no braço do hemofílico, o tiro gerador do susto homicida e o atentado que colocou a infortunada vítima na ambulância. O resultado teria ocorrido? Evidentemente, não. Essas causas, portanto, ao contrário das absolutamente independentes, mantêm íntegra a relação causal entre conduta e resultado. No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo causal, o agente responderá pelo resultado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo ou culpa. Sim, porque dizer que existe nexo causal não dispensa a presença do elemento psicológico (dolo) ou normativo (culpa) da conduta, sem os quais o fato será atípico. Na hipótese das supervenientes, embora exista nexo físico-naturalístico, a lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º que excepcionou a regra geral, manda desconsiderá-Io, não respondendo o agente jamais pelo resultado, mas tão-somente por tentativa (teoria da condicionalidade adequada).
Complicações cirúrgicas e infecção hospitalar: se a causa superveniente está na linha do desdobramento físico ou anátomo-patológico da ação, o resultado é atribuído ao agente. Trata-se de causa dependente. Exemplos colhidos na jurisprudência: choque anestésico por excesso de éter ou imprudência dos médicos operadores; parada cardiorrespiratória durante cirurgia ortopédica a que se submeteu a vítima para reparação de fratura decorrente de atropelamento; broncopneumonia em virtude de internação em decorrência de lesões sofridas pela vítima. 
Em tais hipóteses, ao autor é atribuído o resultado final (morte), já que a segunda causa guarda relação com a primeira, num desdobramento causal obrigatório. Inserem-se, assim, dentro da linha de desdobramento causal da conduta, classificando-se como causas dependentes desta. Não rompem, portanto, o nexo causal, e o agente responderá pelo resultado se o tiver causado por dolo ou culpa. Tratando-se, contudo, de causa inesperada e inusitada, fato que somente as peculiaridades de cada caso concreto podem ditar, ficará rompido o nexo causal, passando a concausa a ser considerada superveniente relativamente independente.
Questão: Durante um assalto, a vítima, assustada com a arma de fogo que lhe é apontada, morre de ataque cardíaco. O assaltante responde pela morte? Nesse caso, há latrocínio?
Resposta: Trata-se de causa concomitante à conduta, que produziu por si só o resultado, mas teve sua origem na ação empreendida pelo assaltante. Classifica-se como causa concomitante relativamente independente. Desse modo, não exclui o nexo causal (o agente foi o causador da morte). Como, no entanto, trata-se de mero nexo físico, naturalístico, isso não basta para responsabilizá-Io penalmente. Somente se houver dolo ou culpa o assaltante responderá pelo resultado; caso contrário, a despeito da existência do nexo natural, não terá responsabilidade pelo evento (ausência de nexo psicológico ou normativo). Sendo caso de responsabilização pelo resultado, haverá concurso formal entre homicídio (culposo ou doloso) e roubo, o que toma impossível a qualificação do fato como latrocínio, uma vez que, de acordo com a redação do art. 157, § 32, 2!! parte, só há esse crime quando "da violência", e não da grave ameaça, resulta morte.
Caso fortuito e força maior: como já estudado, excluem a própria conduta, por ausência de dolo ou culpa. Não atuam, portanto, sobre o nexo causal.
RELEVÂNCIA CAUSAL DA OMISSÃO (art. 13, § 2º)
O art. 13, § 2º, do Código Penal trata da questão do nexo de causalidade nos denominados crimes omissivos impróprios, também chamados de comissivos por omissão. Nessa espécie de delito, a simples omissão seria atípica, mas, como o agente tinha um dever de evitar o resultado e não o fez, responde pelo resultado delituoso que deveria ter evitado.
Estabelece o dispositivo que a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: 
Ex.: dever de proteção e assistência para com os filhos. A imposição resulta da lei civil (Código Civil e Estatuto da Criança e do Adolescente). Assim, o pai que intencionalmente deixa de alimentar seu filho recém-nascido, causando sua morte, responde por homicídio doloso. O simples fato de não alimentar a criança uma única vez é atípico, mas, na medida em que o pai tem o dever legal de alimentá-Ia e deixou de fazê-Io, provocando com isso a sua morte, responde pelo crime.
b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado: pode resultar de relação contratual, profissão ou quando, por qualquer outra forma, assumiu a pessoa a posição de garantidora de que o resultado não ocorreria. O dever jurídico não decorre de lei, mas de uma situação fática. Ex.: salvavidas que zela pela segurança dos banhistas de um clube.
c) Com o seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Ex.: aquele que, por brincadeira, joga uma pessoa na piscina e, posteriormente, percebe que esta não sabe nadar tem o dever de salvá-Ia. Se não o fizer, responde pelo crime.
Apontamentos de Direito Penal – Guia de Estudos -
Importante: Este material conta com textos de obras jurídicas e tem objetivo de orientar o aluno sobre o roteiro das aulas. Ressalta-se que o mesmo não substitui a participação nas aulas, anotações inseridas pelo professora no conteúdo da disciplina, consulta a alterações legislativas e jurisprudenciais ocorridas no desenvolver do semestre e principalmente a leitura das obras indicadas pelo professor. 
Observação: material atualizado em 2015
Antijuridicidade – Ilicitude
 Passaremos agora a estudar o 2º elemento do conceito Analítico do Crime, ou seja a antijuridicidade ou ilicitude.
Ilicitude ou Antijuridicidade é a relação de antagonismo, contrariedade que se estabelece entre o fato típico e o ordenamento legal. 
Quando ocorre um fato humano que se enquadra em um tipo incriminador tem-se presente a tipicidade.
Todo fato típico, em princípio, contraria o ordenamento jurídico sendo, portanto, também um fato antijurídico/ilícito. Todo fato típico indiciariamente é ilícito. A isso dá-se o nome de caráter indiciário da ilicitude. Assim, cometido um fato típico, presume-se que ele é ilícito, a menos que presente no caso concreto uma das causas excludentes de antijuridicidade expressamente previstas em lei. 
Com isso para sabermos se um fato é antijurídico devemos fazer um raciocínio bifásico: 
1º se o fato é típico
2º se não está autorizado pela legislação como “causa excludente de ilicitude ou antijuridicidade” 
Suponhamos que Caio saque o revolver que trazia consigo e, visando defender-se de agressão injusta que estava sofrendo, atire e cause a morte do agressor Tício. No conceito analítico do crime, o fato praticado por caio é típico, encaixando-se na figura típica do artigo 121 do CP, o que indiciaria (apontaria) a sua ilicitude. Contudo, embora o fato seja típico, a conduta de Tício esta autorizada por uma causa excludente de antijuridicidade ou ilicitude, prevista no artigo 23, II do CP. (tipo permissivo).
Conceito: Formal e Material da Antijuridicidade
Von Liszt, segundo Miguel Reale Jr, foi o primeiro a elaborar uma distinção entre o que é formalmenteou materialmente ilícito:
Conceito Formal de Antijuridicidade ou Ilicitude: a antijuridicidade se caracteriza como desrespeito a uma norma, a uma proibição de ordem jurídica – Um fato seria formalmente ilícito quando contrário a uma proibição legal.
Conceito Material de Antijuridicidade ou Ilicitude: a antijuridicidade se caracteriza ataque a interesses vitais da coletividade protegidos pelo legislador, ou seja lesão ou perigo a um bem jurídico.
	No entanto, muitos doutrinadores (Entre eles Assis Toledo, Rogério Greco, Sheila de Albuquerque) criticam esta divisão de conceitos. Afirmam que estes conceitos se fundem. 
Segundo Assis Toledo antijuridicidade é: “a relação de antagonismo que se estabelece entre uma conduta voluntária e o ordenamento jurídico, de sorte a causar lesão ou expor a perigo de lesão um bem jurídico tutelado”.
Essa divisão da antijuridicidade é muito debatida quando discutido questões sobre o bem jurídico penal. (livro indicado sobre o assunto: Bem jurídico penal e constituição – Luiz Regis Prado)
CAUSAS EXCLUDENTES DA ILICITUDE ou DA ANTIJURIDICIDADE
Justificativas ou Descriminantes
Podemos afirmar que quando o agente pratica uma conduta típica a regra será que a conduta também seja antijurídica. Contudo, há ações típicas que pela posição particular em que se encontram que se o agente pratica-las, se apresenta em face ao direito como lícitas. Essas condições especiais em que o agente atua impedem que elas venham a ser antijurídicas. São situações de excepcional licitude que constituem as chamadas causas da exclusão da antijuridicidade, justificativas ou descriminantes. (Aníbal Bruno).
São causas que excluem a antijuridicidade. 
As excludentes de ilicitude podem ser divididas da seguinte forma:
1) previstas na Parte Geral do Código Penal – artigo 23 CP - e válidas, portanto, para todas as condutas típicas estabelecidas na Parte Especial ou em leis penais especiais, são elas:
a) legítima defesa; 
b) estado de necessidade;
c) estrito cumprimento do dever legal;
d) exercício regular de direito.
2) previstas na parte Especial do CP e válidas somente para alguns delitos:
a) no aborto para salvar a vida da gestante ou quando a gravidez resulta de estupro (art. 128, I e II);
b) nos crimes de injúria e difamação, quando a ofensa é irrogada em juízo na discussão da causa, na opinião desfavorável da crítica artística, literária ou científica e no conceito emitido por funcionário público em informação prestada no desempenho de suas funções;
c) no crime de constrangimento ilegal, se é feita a intervenção médica ou cirúrgica sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida, e na coação exercida para impedir suicídio: art. 146, § 3º, I e II);
	d) na violação do domicílio, quando um crime está	 ali sendo cometido (art. 150, § 3º, II).
 
	 Os tipos que descrevem as causas excludentes da ilicitude são denominados tipos permissivos.
 
	 Se presente uma das causas relacionadas no artigo 23, ou uma das específicas da Parte Especial, está afastando um dos elementos do crime, que é a contrariedade do conduta ao direito: ilicitude/antijuridicidade.
ESTADO DE NECESSIDADE (art. 24)
Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual(1º elemento), que não provocou por sua vontade(2º elemento), nem podia de outro modo evitar(3º elemento), direito proprio ou alheio(4º elemento), cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se(5º elemento).
§1º Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.(6º elemento)
§2º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
Conceito. 
O art. 24 do Código Penal considera estado de necessidade quem pratica o fato criminoso para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia por outro meio evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
Existe estado de necessidade, portanto, quando alguém, para salvar um bem jurídico próprio ou de terceiro, exposto a uma situação de perigo, sacrifica outro bem jurídico.
No estado de necessidade a regra é de que ambos os bens em conflito estejam amparados pelo ordenamento jurídico. Esse conflito de bens é que levará, em virtude da situação em que se encontravam à prevalência de um sobre o outro.
Figurativamente, seria como se o ordenamento jurídico colocasse os bens em conflito, cada qual em um dos pratos de uma balança. Ambos estão por ele protegidos. Contudo, em determinadas situações, somente um deles prevalecerá em detrimento do outro.
Quando os bens estão acondicionados nos pratos dessa "balança", inicia-se a verificação da prevalência de um sobre o outro. Surge como norteador do estado de necessidade o princípio da ponderação dos bens. Vários bens em confronto são colocados nessa balança, a exemplo da vida e do patrimônio. A partir daí, começaremos a avaliá-los, a fim de determinar a sua preponderância, ou mesmo a sua igualdade de tratamento, quando tiverem o mesmo valor jurídico.
Em razão da diversidade de valores entres os bens em conflito, "colocados nos pratos dessa balança", surge a distinção entre estado de necessidade justificante e estado de necessidade exculpante, distinção somente existente para os adeptos da teoria diferenciadora, que será analisada mais detidamente em tópico próprio.
Em suma, deve ser frisado que a regra do estado de necessidade é a colisão de bens juridicamente protegidos, ao contrário da legítima defesa, em que um dos agentes atua de forma contrária ao ordenamento jurídico, sendo autor de uma agressão injusta, enquanto o outro atua amparado por uma causa de exclusão de ilicitude, sendo, pois, permitida a sua conduta.
Para que se caracterize o estado de necessidade é preciso a presença de todos os elementos objetivos previstos no tipo do art. 24 do Código Penal, bem como o elemento de natureza subjetiva, que se configura no fato de saber ou pelo menos acreditar que atua nessa condição.
Exemplos didáticos de estado de necessidade são citados por Maurach: 
a) "A" está em um lago, afogando-se. Seu amigo "B", empunhando um revólver obriga "C", proprietário de um barco, a lhe entregar a embarcação, que irá usa-la para salvar "A", que sofre consideráveis danos;
b) a casa de "A" incendiou-se. "B", para evitar a propagação do incêndio a uma casa vizinha, de menor dimensão, derruba uma parte da casa em chamas;
3) durante uma cerimônia religiosa, anuncia-se no povoado um incêndio. "A"
interrompe a cerimônia para avisar os vizinhos;
4) os náufragos "A" e "B" estão em um salva-vidas, insuficiente para os dois. "A" joga "B" na água e este morre afogado.
5)danos materiais em propriedade alheia para extinguir incêndio e salvar pessoas em perigo;
6)subtração de um automóvel para transportar doente em perigo de vida a um
hospital;
7)violação de domicílio para acudir vítimas de um desastre;
8) subtração de um salva-vidas ou tábua de salvação em caso de náufragos;
9)um alpinista, percebendo que a corda está prestes a se romper, lança o colega
no precipício;
10)antropofagia entre sobreviventes ou perdidos;
11)médico que deixa morrer um paciente para salvar outro, não tendo condições
	de atender a ambos;
12)bombeiro que deixa de atender incêndio de menor proporção para atender a
outro de maior gravidade;
13)meio de transporte em pane ou extrema dificuldade que penetra em propriedade alheia, causando danos, para salvar os passageiros;
14)intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou do seu
representante legal, se há iminente perigo de vida;
17)advogado que, para impedir crime grave iminente, revela o segredo que lhe foi confiado pelo cliente;
18)a pessoa invade domicílio alheio ao ser perseguida por um assaltante;
Estado de necessidade justificante e estado de necessidade exculpante
Para que se faça a distinção entre estado de necessidadejustificante e estado de necessidade exculpante é preciso conhecer as duas teorias existentes a esse respeito: teoria unitária e teoria diferenciadora.
Para levar a efeito essa diferença é preciso relembrar que estaremos, mais uma vez, colocando os bens em confronto na "balança do ordenamento jurídico", erigindo o princípio da ponderação de bens.
Para a teoria unitária, adotada pelo nosso Código Penal, todo estado de necessidade é justificante, ou seja, tem a finalidade de eliminar a ilicitude do fato típico praticado pelo agente. Esclarecedora é a rubrica do art. 23 do Código Penal que, anunciando o tema a ser cuidado, refere-se à exclusão da ilicitude. Para essa teoria, não importa se o bem protegido pelo agente é de valor superior ou igual àquele que está sofrendo a ofensa, uma vez que em ambas as situações o fato será tratado sob a ótica das causas excludentes da ilicitude. 
A teoria uniitária não adota a distinção entre estado de necessidade justificante e estado de necessidade exculpante. Para ela, todo estado de necessidade é justificante. Assim, se para salvar a sua vida o agente vier a causar a morte de outrem, ou mesmo na situação na qual, para garantir a sua integridade física, o agente tiver de destruir coisa alheia, não importando que a sua vida tenha valor igual à do seu semelhante, ou que a sua integridade física valha mais do que o patrimônio alheio, ambas as hipóteses serão cuidadas sob o enfoque da exclusão da ilicitude da conduta, e não sobre a ausência de culpabilidade. O critério será sempre a razoabilidade que iremos estudar no tópico seguinte.
A teoria diferenciadora, por sua vez, traça uma distinção entre o estado de necessidade justificante (que afasta ilicitude) e o estado de necessidade exculpante (que elimina a culpabilidade), considerando-se os bens em conflito.
 Haverá estado de necessidade justificante somente nas hipóteses em que o bem afetado foi de valor inferior àquele que se defende. Assim, haveria estado de necessidade justificante, por exemplo, no confronto entre a vida e o patrimônio, ou seja, para salvar a própria vida, o agente destrói patrimônio alheio. Nas demais situações, vale dizer, quando o bem salvaguardado fosse de valor igual ou inferior àquele que se agride, o estado de necessidade seria exculpante. (Zaffaroni e Pierangeli)
Em síntese, o Código Penal optou pelo estado de necessidade justificante, ou seja, aquele que tem por finalidade eliminar a ilicitude, elencando, na redação do art. 24, os elementos objetivos necessários à sua caracterização, vale dizer, a prática de fato, para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
	Vale registrar que o Código Penal Militar adotou a teoria diferenciadora em seus arts. 39 e 43.
	
Requisitos para que a situação de risco configure excludente
	
1º) O perigo deve ser atual. É o perigo presente, a ameaça concreta ao bem jurídico.
Questão: Existe estado de necessidade quando o perigo apenas for iminente?
	Há duas posições:
1ª) Não, pois o art. 24 só menciona a situação de perigo atual. Não se fala em perigo iminente. Na legítima defesa, ao contrário, a lei é expressa ao permiti-Ia contra agressão atual ou iminente. Assim, se a lei nada mencionou a respeito da iminência de perigo, significa que o legislador não a quis abranger no estado de necessidade. Também deve-se considerar que como no estado de necessidade existe uma situação de perigo que não se provocou, e por que existem “inocentes”, o legislador procurou ser mais cauteloso com essa ultima excludente.
 É a posição de: Frederico Marques; Aníbal Bruno; Nucci; Hungria, Capez.
2ª) A lei deve ser interpretada com bom senso. Não é aceitável que o agente fique de braços cruzados esperando o perigo iminente transformar-se em atual para, então, agir. Assim, estaria abrangida também a situação de risco iminente. 
Entre os autores que defendem esta posição: Assis Toledo, Basileu Garcia, Rogério Greco.
Atenção: No exame da OAB-SP 1ª fase foi considerado atual ou iminente.
2º) Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pelo agente.
 Para se caracterizar estado de necessidade também é necessário que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pela própria pessoa. 
Assim o que significa a expressão “que não provocou por sua vontade”? Vontade quer dizer dolo somente, ou dolo ou culpa?
Aqui também existe uma divisão de opiniões entre os doutrinadores:
1ª corrente: Nelson Hungria, Aníbal Bruno
Sustentam que “não provocou por sua vontade” não é indicativo de dolo, já que na culpa também existe o elemento vontade. Sendo assim a situação causada culposamente também impede ou obsta o estado de necessidade.
2ª posição: (Damásio, Capez, Rogério Greco, Fragoso).
Sustentam que “não provocou por sua vontade” é indicativo somente de dolo, e se o agente der causa culposamente ao perigo, pode invocar o estado de necessidade em seu favor, pois a lei só proíbe tal invocação quando a situação de perigo tiver sido causada intencionalmente – dolosamente por ele.
Exemplos para ilustrar essa situação:
1) Tício dentro de um cinema pertencente a seu maior concorrente, com finalidade de dar início a um incêndio criminoso, coloca fogo numa lixeira ali existente. Tício não pode, visando salvar sua própria vida, disputar única saída de emergência, causando lesões corporais ou mesmo a morte de outras pessoas, uma vez que por vontade própria de forma dolosa provocou a situação de perigo.
2) Caio esta fumando no cinema e quando percebe a presença do “lanterninha” que caminhava na sua direção porque havia visto a fumaça produzida pelo cigarro, querendo livrar-se do cigarro, arremessa-o para longe, vindo em virtude de sua imprudência causar incêndio.
Bom aqui para a primeira corrente, para salvar-se do incêndio, Caio não poderia fazer uso do estado de necessidade.
Já para a segunda corrente sim.
3º) O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio. 
A palavra "direito" está empregada em sentido amplo, de forma a abranger qualquer bem protegido pelo ordenamento jurídico. É imprescindível, portanto, que o bem esteja tutelado pelo ordenamento. Se não estiver, não se admite o estado de necessidade.
Quando a ameaça for a direito próprio haverá o estado de necessidade próprio. Ex.: subtrair pequena quantia de alimento para não morrer de fome (furto famélico). 
Quando a ameaça for a direito de terceiro, haverá estado de necessidade de terceiro. Ex.: para evitar o atropelamento de uma criança que se desgarrou de seus pais, o motorista atira o veículo sobre o muro de uma casa. Ele não responde pelo crime de dano por ter agido em estado de necessidade de terceiro.
	
Questão: No caso de defesa do direito de terceiro é necessária a prévia autorização deste?
Não. A pessoa pode defender o terceiro independentemente de sua prévia autorização, pois a lei não exige esse requisito. Não precisa também haver ratificação posterior pelo terceiro.
4º) Evitabilidade do Dano
A lei exige que para que se possa alegar estado de necessidade, além de praticar fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, não tenha tido no caso concreto possibilidade de evitar o dano produzido pela sua conduta.
Na situação de conflito entre bens juridicamente protegidos, o sacrifício de um deles somente estará autorizado quando a salvação do outro só possa fazer-se à custa desse sacrifício, Se houver alguma possibilidade razoável de salvação do bem ameaçado, de modo que evite ou que pelo menos, reduza o dano a bem de outrem, a inevitabilidade do dano causado desaparece. Quem mata ou fere, para salvar-se, quando podia fugir do perigo, não se ampara dessa excludente. (Assis Toledo)
Exemplo: Num naufrágio, Caio podendo socorrer-se a um pedaço de madeira que suportaria com tranqüilidade seu peso até um possível resgate, vem a fogar Ticio para usar seu salva-vidas.
5º) Razoabilidade do sacrifício.
O Princípio

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