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Aula 04 52

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Direito Internacional p/ 
Exame da OAB (Teoria e Questões)
Prof. Ricardo Vale – Aula 04
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1- DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Ð OBJETO E CONCEITOS
INTRODUTîRIOS:
A globaliza‹o e o aprofundamento das rela›es internacionais gerou
a intensifica‹o dos fluxos comerciais, de investimentos e de pessoas
entre os pa’ses.
Com isso, h‡ cada vez um maior nœmero de rela›es privadas
que transcendem as fronteiras de um Estado, envolvendo tanto pessoas
jur’dicas quanto pessoas f’sicas. Empresas situadas em Estados diferentes
celebram entre si contratos de compra e venda, pessoas f’sicas adquirem
im—veis no exterior, indiv’duos de nacionalidades diferentes se casam. Enfim,
h‡ um grande incremento da quantidade de rela›es privadas com conex‹o
internacional.
Nesse contexto, surgem quest›es complexas a serem resolvidas.
Qual o direito aplic‡vel a um contrato internacional celebrado entre uma
empresa alem‹ e uma empresa brasileira? Qual legisla‹o ir‡ regular a
sucess‹o de bens do Òde cujusÓ?
Para responder a essas e outras perguntas Ž que se faz necess‡rio o
estudo do Direito Internacional Privado, cujo objetivo Ž solucionar os
conflitos de leis no espao, determinando qual o direito aplic‡vel a uma
rela‹o privada com conex‹o internacional. O Direito Internacional
Privado n‹o busca dar uma solu‹o de mŽrito para uma controvŽrsia jur’dica;
ele apenas indica qual direito (nacional ou estrangeiro) ir‡ se aplicar a uma
rela‹o privada com conex‹o internacional.
No Brasil, as principais regras de Direito Internacional Privado est‹o
previstas na Lei de Introdu‹o ˆs Normas do Direito Brasileiro (LINDB).
TambŽm h‡ que se destacar a Lei n¼ 9.307/96, que versa sobre a arbitragem,
e os arts. 21 a 25, do Novo C—digo de Processo Civil, que tratam da
competncia internacional.
Para que se possa determinar qual a norma (estrangeira ou nacional)
aplic‡vel a um caso concreto, Ž fundamental entender a estrutura das normas
de Direito Internacional Privado, que se apoiam em duas partes: o objeto de
conex‹o e o elemento de conex‹o. O objeto de conex‹o diz respeito ˆ
matŽria sobre a qual versa a norma (personalidade, direito de fam’lia,
obriga›es). O elemento de conex‹o, por sua vez, Ž o fator que determina a
sede jur’dica de uma determinada rela‹o privada que transcende as fronteiras
de um Estado (domic’lio, nacionalidade, local de celebra‹o, local de
execu‹o).
Dito isso, vamos, no pr—ximo t—pico, perscrutar a Lei de Introdu‹o
ˆs Normas do Direito Brasileiro (LINDB) a fim de identificar quais os elementos
de conex‹o utilizados pela legisla‹o brasileira.
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2- ELEMENTOS DE CONEXÌO NO DIREITO BRASILEIRO:
2.1- Lex Domicilli:
Um dos principais elementos de conex‹o previstos no ordenamento
jur’dico brasileiro Ž o domic’lio. A lei do domic’lio (lex domicilli) Ž utilizada,
fundamentalmente, como critŽrio de solu‹o de conflitos de leis no espao
envolvendo o estatuto pessoal.
O art. 7¼ da LINDB Ž expl’cito nesse sentido, ao dispor que Òa lei do
pa’s em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o comeo e o
fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de fam’liaÓ.
Suponha, por exemplo, que Jo‹o, brasileiro, tenha domic’lio na It‡lia. Nesse
caso, a lei italiana Ž que ir‡ determinar as regras sobre o comeo e fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de fam’lia de Jo‹o.
A aplica‹o da lex domicilli na solu‹o de conflitos de leis no espao
tambŽm fica evidenciada nas regras a respeito do casamento. Segundo o art.
7¼, ¤ 1¼, Òrealizando-se o casamento no Brasil, ser‡ aplicada a lei
brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e ˆs formalidades da
celebra‹o.Ó
No ordenamento jur’dico brasileiro, n‹o se admite, por exemplo, o
casamento de uma pessoa que j‡ Ž casada (art. 1521, inciso VI, CC); se o
casamento se realizar no Brasil, essa regra dever‡ ser observada, mesmo que
o casamento seja de estrangeiro cujo pa’s de origem admite a bigamia ou
poligamia. Destaque-se que Ž plenamente poss’vel que, no Brasil, ocorra
casamento entre estrangeiros, que poder‡ celebrar-se perante
autoridades diplom‡ticas ou consulares do pa’s de ambos os nubentes.
TambŽm poder‡ ocorrer casamento de brasileiros no exterior,
na forma do art. 18, da LINDB. A competncia para celebra‹o do casamento
ser‡ das autoridades consulares brasileiras; Ž o que se tem chamado de
Òcasamento diplom‡ticoÓ ou Òcasamento consularÓ. Essa regra est‡ prevista no
art. 18, da LINDB, segundo o qual Òtratando-se de brasileiros, s‹o
competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o
casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o
registro de nascimento e de —bito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido
no pa’s da sede do ConsuladoÓ.
O regime de bens (legal ou convencional) e os casos de
invalidade do matrim™nio obedecer‹o ˆ lei do pa’s em que os nubentes
tiverem domic’lio. Caso o domic’lio dos nubentes seja diverso, ser‡ aplic‡vel
a lei do primeiro domic’lio conjugal.
TambŽm se aplica a lex domicilli ˆ sucess‹o por morte e ˆ
capacidade para suceder. Segundo o art. 10, da LINDB, Òa sucess‹o por
morte ou por ausncia obedece ˆ lei do pa’s em que domiciliado o defunto
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ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situa‹o dos bensÓ. A
capacidade para suceder Ž regulada pela lei do domic’lio do herdeiro ou do
legat‡rio.
2.2 Ð Lex rei sitae:
O critŽrio Òlei rei sitaeÓ leva em considera‹o a lei do local em que
uma determinada coisa est‡ situada. Segundo o art. 8¼, da LINDB, Òpara
qualificar os bens e regular as rela›es a eles concernentes, aplicar-se ˆ
lei do pa’s em que estiverem situadosÓ. O estatuto dos bens Ž, dessa
maneira, objeto da solu‹o de conflitos por meio da aplica‹o da lex rei sitae.
A sucess‹o de bens de estrangeiros, situados no Pa’s, ser‡
regulada pela lei brasileira em benef’cio do c™njuge ou dos filhos brasileiros,
ou de quem os represente, sempre que n‹o lhes seja mais favor‡vel a lei
pessoal do de cujus. O conflito de leis, nesse caso, resolver-se-‡ pela
aplica‹o da lei mais benŽfica ao c™njuge ou filhos brasileiros.
2.3 Ð Lex loci contractus / Locus Regit Actum:
No Brasil, o critŽrio lex loci contractus Ž empregado para solucionar
conflitos de leis no espao que envolvam contratos e obriga›es em geral
(contratuais e extracontratuais). Com base nesse critŽrio, aplica-se a norma do
local em que a obriga‹o tiver sido constitu’da.
A LINDB prev, em seu art. 9¼, que Òpara qualificar e reger as
obriga›es, aplicar-se-‡ a lei do pa’s em que se constitu’remÓ. A obriga‹o
reputa-se constitu’da, destaque-se, no lugar em que residir o proponente.
Suponha, por exemplo, que seja celebrado, na Alemanha, um
contrato de compra e venda entre uma empresa alem‹ e uma empresa
brasileira. Esse contrato, por ter sido constitu’do na Alemanha, ser‡ regido
pela legisla‹o alem‹.
2.4- Contratos de Trabalho:
A atual jurisprudncia do TST considera que aos contratos de
trabalho executados no exterior ser‡ aplicada a norma mais favor‡vel ao
trabalhador. Esse Ž um entendimento recente, que resultou no
cancelamento da Sœmula TST n¼ 207, que estabelecia o seguinte: ÒA
rela‹o jur’dica trabalhista Ž regida pelas leis vigentes no pa’s da presta‹o de
servio e n‹o por aquelas do local da contrata‹oÓ.
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3- APLICA‚ÌO DO DIREITO ESTRANGEIRO:
3.1- Interpreta‹o e Prova do Conteœdo do Direito Estrangeiro:
Em geral, o direito aplic‡vel ˆs rela›es jur’dicas Ž o direito interno
de cada Estado. No entanto, em determinadas rela›es jur’dicas com conex‹o
internacional, Ž poss’vel que as regras de Direito Internacional Privado
conduzam ˆ aplica‹o do direito estrangeiro.
Quando um juiz aplica o direito interno, ele o faz de of’cio, havendo
presun‹o de que tem pleno conhecimento do ordenamento jur’dico p‡trio.
Todavia, quando se trata de aplicar o direito estrangeiro, essa presun‹o n‹o
existe: o juiz pode n‹o conhecer o direito estrangeiro.
Caso o juiz conhea a lei estrangeira, ele poder‡ aplic‡-la de
of’cio. Se, por outro lado, n‹o a conhecer, o juiz poder‡ exigir a prova da
existncia e do conteœdo da norma estrangeira.
ƒ exatamente isso o que prev o art. 14, da LINDB, que disp›e que
Òn‹o conhecendo a lei estrangeira, poder‡ o juiz exigir de quem a invoca
prova do texto e da vignciaÓ. Se o juiz assim o determinar, caber‡ ˆ parte
que alega direito estrangeiro provar-lhe o teor e a vigncia (art. 376, Novo
CPC). Cabe destacar que, mesmo que o juiz n‹o o exija, a parte poder‡
trazer esses elementos aos autos.
3.2- Ordem Pœblica:
As normas de Direito Internacional Privado permitem que, em
algumas situa›es, seja aplicado o direito estrangeiro em outro Estado.
Entretanto, a aplica‹o do direito estrangeiro poder‡ sofrer limita›es.
No Brasil, o art. 17, da LINDB, estabelece que Òas leis, atos e
sentenas de outro pa’s, bem como quaisquer declara›es de vontade, n‹o
ter‹o efic‡cia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a
ordem pœblica e os bons costumesÓ. TambŽm n‹o dever‡ ser aplicado o
direito estrangeiro quando houver fraude ˆ lei.
Segundo Jacob Dolinger, a ordem pœblica representa a moral b‡sica
de uma na‹o.1 ƒ claro que esse Ž um conceito um tanto quanto vago,
cabendo ao aplicador da lei definir, no caso concreto, se algo fere ou n‹o a
ordem pœblica. Observe que o conceito de Òordem pœblicaÓ n‹o Ž
estanque; ao contr‡rio, ele Ž din‰mico, variando no tempo e no lugar.
                                                             
1 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado, 10a edi‹o. Editora Forense. Rio
de Janeiro: 2012, pp. 385-387.
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A ordem pœblica tem 3 (trs) n’veis de aplica‹o.
O primeiro n’vel se refere ao funcionamento da ordem pœblica no
plano interno, impedindo que a vontade das partes derrogue certas regras
jur’dicas. Como exemplo, no ordenamento jur’dico brasileiro, h‡ regra que
estabelece que ser‡ nula a cl‡usula do contrato de loca‹o que impede a sua
renova‹o. Veja que a ordem pœblica limita a autonomia da vontade das
partes nesse tipo de contrato.
O segundo n’vel diz respeito ˆ veda‹o de que sejam aplicadas
leis estrangeiras no territ—rio do outro Estado. Por exemplo, no Brasil n‹o se
admite a poligamia. Em consequncia, alguŽm que j‡ seja casado n‹o poder‡
contrair novo matrim™nio aqui no Brasil. Isso seria incompat’vel com a ordem
pœblica. Anote-se que, segundo a doutrina, para que a norma estrangeira seja
afastada, ela dever‡ ser manifestamente incompat’vel com a ordem
pœblica.
Por œltimo, o terceiro n’vel de aplica‹o da ordem pœblica versa sobre
o reconhecimento de direitos adquiridos no exterior. Vejamos um
exemplo! Mohamad Salim Ž nacional do Marrocos, pa’s que admite a
poligamia. Ele imigra para o Brasil trazendo uma de suas esposas, deixando
outra esposa no Marrocos. Passando dificuldades financeira, ela recorre ˆ
Justia brasileira requerendo o direito a receber obriga‹o aliment’cia. Tal
direito adquirido h‡ de ser reconhecido pelos tribunais brasileiros. Nesse
exemplo, a ordem pœblica incidiria no sentido de impedir que o estrangeiro
imigrasse para o Brasil trazendo a segunda esposa.
O direito adquirido em um Estado poder‡ ser reconhecido no
Brasil, desde que n‹o conflite com a ordem pœblica.
3.3- Fraude ˆ Lei:
A fraude ˆ lei Ž outra hip—tese em que se restringe a aplica‹o do
direito estrangeiro no Brasil. Segundo Jacob Dolinger, ela fica caracterizada
Òquando o agente, artificiosamente, altera o elemento de conex‹o que indicaria
a lei aplic‡vel. 2 O objetivo Ž fugir ˆ aplica‹o da norma de um Estado, por
entender que a norma do outro Estado lhe Ž mais favor‡vel, o que configura
verdadeiro abuso de direito.
                                                             
2
 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado, 10a edi‹o. Editora Forense. Rio
de Janeiro: 2012, pp. 431-444.
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Suponha, como exemplo, que um indiv’duo queira se divorciar e o
direito interno de seu Estado n‹o autoriza. A’, com o objetivo de furtar-se ao
rigor desse ordenamento jur’dico, o indiv’duo altera a sua nacionalidade ou o
seu domic’lio. Ficar‡, nessa situa‹o, caracterizada a fraude ˆ lei. 3
3.4- Reenvio:
As regras de Direito Internacional Privado determinam qual o
direito (nacional ou estrangeiro) que ser‡ aplicado a uma determinada rela‹o
jur’dica. Nesse processo de determina‹o do direito aplic‡vel, podem ocorrer
algumas situa›es inusitadas.
Suponha que uma empresa do Estado A celebre um contrato com
uma empresa do Estado B. As regras de direito internacional privado do Estado
A determinam que ˆquele contrato ser‡ aplicada a lei do Estado B. PorŽm, a lei
do Estado B determina que ao contrato ser‡ aplicada a lei do Estado A. Foi um
verdadeiro ÒloopingÓ!  Esse Ž o fen™meno do reenvio, que consiste em
verdadeiro conflito negativo entre sistemas de solu‹o de conflitos.
H‡ v‡rios graus de reenvio. No exemplo apresentado acima, falamos
de um reenvio de 1¼ grau, que envolve 2 (dois) Estados. As regras de Direito
Internacional Privado do Estado A determinaram a aplica‹o do direito do
Estado B e este, por sua vez, imp™s a aplica‹o do direito do Estado A.
O reenvio de 2¼ grau envolve a participa‹o de 3 (trs) Estados.
Nele, as regras de Direito Internacional Privado do Estado A determinam a
aplica‹o do direito do Estado B que, por sua vez, imp›em a aplica‹o do
ordenamento jur’dico do Estado C.
No Brasil, n‹o se admite o reenvio. ƒ o que se conclui a partir da
leitura do art. 16, da LINDB, segundo a qual, Òquando, nos termos dos artigos
precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-‡ em vista a
disposi‹o desta, sem considerar-se qualquer remiss‹o por ela feita a outra
leiÓ. Em outras palavras, quando a lei brasileira manda aplicar o direito
estrangeiro, Ž este mesmo que dever‡ ser aplicado; n‹o ser‡
considerada qualquer remiss‹o que o direito estrangeiro faa a outra lei.
3.5- Prova de Fatos Ocorridos no Exterior:
Nas rela›es jur’dicas com conex‹o internacional submetidas ˆ
aprecia‹o do Poder Judici‡rio, h‡ uma sŽrie de fatos ocorridos no exterior
                                                             
3
 Por mais estranho que esse exemplo possa ser, ele ocorreu bastante no Brasil
antes da edi‹o da Lei do Div—rcio.  
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que devem ser provados em um processo. Segundo o art. 13, da LINDB, Òa
prova dos fatos ocorridos em pa’s estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ™nus e aos meios de produzir-se, n‹o admitindo os
tribunais brasileirosprovas que a lei brasileira desconheaÓ.
Com base nesse dispositivo, Ž poss’vel verificar que:
a) O ™nus da prova e os meios de produzir as provas de fatos
ocorridos no exterior s‹o regidos pela lei do pa’s estrangeiro.
b) N‹o s‹o admitidas pelos tribunais brasileiros provas que a lei
brasileira desconhea. Por exemplo, uma grava‹o telef™nica submetida a
cl‡usula de sigilo Ž considerada il’cita e n‹o ser‡ aceita pelo Poder Judici‡rio
brasileiro.
4- HOMOLOGA‚ÌO DE SENTEN‚A ESTRANGEIRA:
A pergunta que se faz, nesse momento, Ž a seguinte: Ž poss’vel que
uma sentena emanada de um tribunal estrangeiro seja executada no
Brasil?
Sim, Ž plenamente poss’vel. Para que possa ser executada, a
sentena estrangeira precisar‡, no entanto, ser homologada pelo STJ, na
forma do art. 105, inciso I, da CF/88 que disp›e o seguinte:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justia:
I - processar e julgar, originariamente:
...
i) a homologa‹o de sentenas estrangeiras e a concess‹o de
exequatur ˆs cartas rogat—rias.
Na LINDB, h‡ men‹o expressa ao STF como sendo o
tribunal competente para homologar sentena estrangeira.
No entanto, essa disposi‹o foi revogada pela CF/88,
que atribui tal competncia ao STJ.
Assim, em qualquer legisla‹o na qual for feita men‹o ao
STF como respons‡vel por homologa‹o de sentena
estrangeira, deve ser entendido que essa regra j‡ foi
revogada; hoje, a competncia Ž do STJ.
Na homologa‹o de sentena estrangeira, o STJ n‹o aprecia o
mŽrito da decis‹o, mas apenas aspectos formais. ƒ o que se chama de
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ju’zo de deliba‹o do STJ. O art. 15, da LINDB, relaciona os requisitos a
serem observados na homologa‹o de sentena estrangeira:
Art. 15. Ser‡ executada no Brasil a sentena proferida no
estrangeiro, que reœna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente
verificado ˆ revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necess‡rias para a execu‹o no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intŽrprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
A competncia do STJ para homologar sentena estrangeira n‹o se
limita ˆs sentenas do Poder Judici‡rio. O STJ tambŽm homologa sentenas
arbitrais estrangeiras, assim consideradas aquelas proferidas fora do
territ—rio nacional. A atribui‹o de competncia a um œnico —rg‹o para
realizar o ju’zo de deliba‹o caracteriza o modelo de deliba‹o
concentrada, adotado pelo Brasil.
N‹o se adota, em nosso pa’s, o modelo de deliba‹o difusa, que
seria aquele em que os diversos —rg‹os do Poder Judici‡rio teriam competncia
para realizar o ju’zo de deliba‹o. Isso fica claro a partir do exame do art. 961,
do Novo CPC, que prev que a decis‹o estrangeira somente ter‡ efic‡cia no
Brasil ap—s a homologa‹o da sentena ou a concess‹o de exequatur ˆs cartas
rogat—rias.
ƒ importante ressaltar que as leis, atos e sentenas de outro pa’s,
bem como quaisquer declara›es de vontade, n‹o ter‹o efic‡cia no Brasil,
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pœblica e os bons
costumes. Nesses casos, n‹o ser‡ realizada homologa‹o pelo STJ.
5- CARTAS ROGATîRIAS:
As cartas rogat—rias s‹o instrumentos de coopera‹o judici‡ria
internacional, na medida em que, por meio delas, o Poder Judici‡rio de um
Estado solicita apoio ao Poder Judici‡rio de outro ente estatal. Por meio de
uma carta rogat—ria, busca-se aux’lio para a produ‹o de provas,
intima›es e outros atos processuais.
A concess‹o de exequatur ˆs cartas rogat—rias Ž competncia do
Superior Tribunal de Justia, nos termos do art. 105, inciso I, al’nea ÒiÓ, da
CF/88.
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H‡ dois tipos de cartas rogat—rias: i) rogat—rias ativas (enviadas
pela autoridade judici‡ria brasileira) e; ii) rogat—rias passivas (recebidas
pela autoridade judici‡ria brasileira).
No Brasil, o exame da rogat—ria Ž feito mediante ju’zo de deliba‹o,
o que significa que o STJ n‹o analisa o mŽrito da diligncia pretendida pela
Justia estrangeira, salvo para se verificar o respeito ˆ ordem pœblica, aos
bons costumes e ˆ soberania nacional. Segundo Boni de Moraes, Òh‡ no ju’zo
delibat—rio uma aprecia‹o material do ato estrangeiro, ainda que m’nima,
restrita ˆ aferi‹o de eventual ofensa ˆ ordem pœblica do Estado requeridoÓ.4
No ju’zo de deliba‹o, a an‡lise do STJ se limita, essencialmente, ˆs quest›es
formais: autenticidade dos documentos e observ‰ncia dos requisitos legais.
N‹o ser‡ concedido o exequatur ˆs cartas rogat—rias que
ofenderem a ordem pœblica, os bons costumes e a soberania nacional.
Um exemplo de carta rogat—ria que viola a soberania e a ordem pœblica Ž
aquela referente a processo de competncia exclusiva dos tribunais brasileiros.
Somente podem ser concedidas cartas rogat—rias quando a competncia do
Poder Judici‡rio for relativa ou concorrente.
Fala-se em ju’zo de deliba‹o sum‡rio diante da possibilidade de
que a medida de carta rogat—ria seja realizada sem ouvir a parte
interessada, o que acontecer‡ quando a sua intima‹o puder resultar na
inefic‡cia da coopera‹o internacional. TambŽm fica caracterizado o ju’zo de
deliba‹o sum‡rio quando Ž concedida tutela de urgncia em
procedimento de homologa‹o de sentena estrangeira.
6- ARBITRAGEM INTERNACIONAL:
A arbitragem Ž um meio extrajudicial de solu‹o de controvŽrsias,
bastante utilizado no ‰mbito do comŽrcio internacional. No Brasil, Ž regida pela
Lei n¼ 9.307/96, que disp›e que as pessoas capazes de contratar poder‹o
valer-se da arbitragem para dirimir lit’gios relativos a direitos patrimoniais
dispon’veis. Assim, a arbitragem pode ser utilizada tanto por pessoas f’sicas
quanto por pessoas jur’dicas; basta que a pessoa tenha capacidade para
contratar e os conflitos que a envolvam poder‹o ser objeto de solu‹o por
meio da arbitragem.
A arbitragem poder‡ ser de direito ou de equidade, a critŽrio das
partes. Quando se fala em arbitragem de direito, a referncia que se faz Ž ˆ
aplica‹o de normas jur’dicas pelo ‡rbitro a um caso concreto com o objetivo
de decidir o lit’gio instaurado. Por outro lado, quando se trata de emprego da
                                                             
4 SOARES, Boni de Moraes. Ju’zo de Preliba‹o no Direito Processual
Internacional. Disserta‹o. UNICEUB. 2010.
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equidade, o objetivo Ž a aplica‹o de considera›es de justia a um caso
concreto; nesse caso, n‹o se levar‡ em conta regras jur’dicas prŽ-
estabelecidas.
As partes poder‹o escolher livremente as regras de direito que
ser‹o aplicadas na arbitragem, desde que n‹o haja viola‹o aos bons
costumes e ˆ ordem pœblica. Trata-se de manifesta‹o do princ’pio da
autonomia da vontade, segundo o qual as partes tm ampla liberdade para
convencionar qual o direito material e processual aplic‡vel aos lit’gios que
porventura surjam entre elas. Destaque-se que as partes tambŽm poder‹o
decidir que a arbitragem se realize com base nos princ’pios gerais de direito,
nos usos e costumes e nas regras internacionais de comŽrcio.
A instaura‹o de um procedimento arbitral para solucionar um lit’gio
poder‡ decorrer de uma Òcl‡usula compromiss—riaÓ ou de um
Òcompromisso arbitralÓ. A Lei n¼ 9.307/96, ao tratar do tema, denominou
esses dois institutos, genericamente, como conven‹o dearbitragem.
A cl‡usula compromiss—ria nada mais Ž do que uma cl‡usula
prevista no contrato. Essa cl‡usula prev que as partes se comprometem a
submeter ˆ arbitragem os lit’gios que possam vir a surgir relativamente ao
contrato. Veja: antes de surgir uma controvŽrsia sobre um determinado
contrato, as partes j‡ estabeleceram que ela seria solucionada por arbitragem.
O compromisso arbitral, por sua vez, Ž posterior ao surgimento de
um lit’gio. ƒ uma espŽcie de contrato, por meio do qual as partes decidem
submeter um determinado lit’gio ˆ esfera do ju’zo arbitral, afastando-o do
campo de atua‹o do Poder Judici‡rio.
As decis›es dos ‡rbitros s‹o emanadas por meio de sentenas
arbitrais (laudos arbitrais). A sentena arbitral produz, entre as partes e seus
sucessores, os mesmos efeitos da sentena proferida pelos —rg‹os do Poder
Judici‡rio e, sendo condenat—ria, constitui t’tulo executivo judicial.
Quando uma determinada controvŽrsia Ž submetida ˆ arbitragem,
fica afastada a competncia do Poder Judici‡rio para apreciar a quest‹o.
Segundo o art. 485, do Novo CPC, o juiz n‹o resolver‡ o mŽrito quando
acolher a alega‹o da existncia de conven‹o de arbitragem ou
quando o ju’zo arbitral reconhecer sua competncia. Assim, se um juiz
se deparar com cl‡usula compromiss—ria ou com compromisso arbitral, ele
dever‡ simplesmente proferir sentena terminativa, sem resolu‹o de mŽrito.
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7- COMPETæNCIA INTERNACIONAL:
A competncia internacional da autoridade judici‡ria brasileira Ž
regulada pelos arts. 21 a 25, do Novo C—digo de Processo Civil.
Nos arts. 21 e 22, do Novo CPC, s‹o relacionados os casos de
competncia concorrente, os quais destacam situa›es que poder‹o ser
apreciadas pela autoridade judici‡ria brasileira sem que seja afastada tambŽm
a competncia da autoridade judici‡ria estrangeira. Apenas nos casos de
competncia concorrente Ž que se poder‡, ap—s a devida homologa‹o pelo
STJ, atribuir-se efic‡cia ˆ sentena estrangeira.
Vejamos quais s‹o os casos de competncia concorrente previstos
pelo Novo CPC. Comecemos, primeiro, com o art. 21, do Novo CPC:
Art. 21. Compete ˆ autoridade judici‡ria brasileira processar e julgar as
a›es em que:
I - o rŽu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no
Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obriga‹o;
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Par‡grafo œnico. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se
domiciliada no Brasil a pessoa jur’dica estrangeira que nele tiver agncia,
filial ou sucursal.
O art. 21, inciso I disp›e que a autoridade judici‡ria brasileira ser‡
competente para apreciar uma lide quando o rŽu, qualquer que seja sua
nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil. A nacionalidade do rŽu
(brasileira ou estrangeira) Ž irrelevante; se o rŽu estiver domiciliado no Brasil,
a autoridade judici‡ria brasileira poder‡ apreciar a controvŽrsia sem, Ž claro,
afastar a competncia da autoridade judici‡ria estrangeira. Destaque-se que
reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jur’dica estrangeira que aqui tiver
agncia, filial ou sucursal.
O art. 21, inciso II, por sua vez, disp›e que a autoridade judici‡ria
brasileira ser‡ competente para apreciar uma lide quando a obriga‹o tiver
de ser cumprida no Brasil. Assim, as obriga›es exequ’veis no Brasil,
contratuais ou extracontratuais, poder‹o ser julgadas pela autoridade judici‡ria
nacional, sem preju’zo da submiss‹o da lide ˆ autoridade judici‡ria
estrangeira.
Suponha, por exemplo, que seja celebrado um contrato entre uma
empresa alem‹ e uma empresa brasileira para que seja realizada uma obra de
constru‹o civil em territ—rio nacional. Considerando-se que a obriga‹o (obra
de constru‹o civil) ser‡ concretizada no Brasil, a autoridade judici‡ria
brasileira ter‡ competncia para apreciar a quest‹o, sem excluir a
possibilidade de aprecia‹o pela autoridade judici‡ria estrangeira.
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O art. 21, inciso III trata da possibilidade de aprecia‹o, pela
autoridade judici‡ria brasileira, de a›es que tenham como fundamento
fatos ocorridos ou de atos praticados no Brasil.
Um exemplo seria um acidente de autom—vel ocorrido no Brasil
envolvendo um alem‹o e um francs. Qualquer um deles poder‡ acionar o
outro perante a justia brasileira para promover a repara‹o de danos, uma
vez que a a‹o ter‡ derivado de fatos ocorridos no territ—rio brasileiro.
Agora, vejamos o art. 22, que tambŽm trata de matŽrias da
competncia concorrente.
Art. 22. Compete, ainda, ˆ autoridade judici‡ria brasileira processar e
julgar as a›es:
I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domic’lio ou residncia no Brasil;
b) o rŽu mantiver v’nculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de
bens, recebimento de renda ou obten‹o de benef’cios econ™micos;
II - decorrentes de rela›es de consumo, quando o consumidor tiver
domic’lio ou residncia no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem ˆ
jurisdi‹o nacional.
O art. 22, inciso I, nos mostra que a autoridade judici‡ria brasileira
tem ampla competncia nas a›es de alimentos. A Justia brasileira ser‡
competente para julgar as a›es de alimentos quando:
- o credor tiver domic’lio ou residncia no Brasil. Ex: A criana
(credor dos alimentos) mora no Brasil e o pai (devedor dos alimentos) no
exterior.
- o rŽu mantiver v’nculos no Brasil. Ex: O pai (devedor dos alimentos)
tem um im—vel no Brasil.
O art. 22, inciso II, trata da competncia da autoridade judici‡ria
brasileira para julgar as a›es decorrentes de rela›es de consumo, desde
que o consumidor tenha domic’lio ou residncia no Brasil. Suponha, por
exemplo, que um brasileiro faa compras pela Internet em uma loja de e-
commerce norte-americana. ƒ poss’vel que o Poder Judici‡rio brasileiro seja
acionado em a‹o decorrente dessa rela‹o de consumo.
O art. 22, inciso III, ilustra a aplica‹o do princ’pio da autonomia
da vontade. ƒ poss’vel que as partes decidam se submeter ˆ jurisdi‹o
brasileira. ƒ o que se chama de foro de elei‹o.
Aqui, cabe uma observa‹o importante.
Suponha que uma empresa brasileira e uma empresa alem‹ celebrem
um contrato internacional. Nesse contrato, ambas concordam que qualquer
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controvŽrsia envolvendo aquele contrato ser‡ submetida ˆ Justia alem‹. Tem-
se a’ uma cl‡usula de elei‹o de foro exclusivo estrangeiro. Essa cl‡usula
afastar‡ qualquer competncia da autoridade judici‡ria brasileira para
apreciar lides em torno daquele contrato. ƒ o que se depreende da leitura do
art. 25, do Novo CPC.
Art. 25. N‹o compete ˆ autoridade judici‡ria brasileira o processamento
e o julgamento da a‹o quando houver cl‡usula de elei‹o de foro
exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo rŽu na
contesta‹o.
Vamos falar, agora, sobre os casos de competncia exclusiva da
autoridade judici‡ria brasileira.
No art. 23, do Novo CPC, est‹o relacionados os casos de
competncia exclusiva. S‹o situa›es em que fica afastada por completo a
competncia da autoridade judici‡ria estrangeira; apenas a autoridade
judici‡ria brasileira poder‡ apreciar lides que envolvam as hip—teses
relacionadas nesse dispositivo. N‹o h‡ que se falar em efic‡cia de sentena
estrangeira que disponha sobre as quest›es afetas ˆ competncia exclusiva da
autoridade judici‡riabrasileira.
Vejamos quais s‹o os casos de competncia exclusiva, previstos no
art. 23, do CPC:
Art. 23. Compete ˆ autoridade judici‡ria brasileira, com exclus‹o de
qualquer outra:
I - conhecer de a›es relativas a im—veis situados no Brasil;
II - em matŽria de sucess‹o heredit‡ria, proceder ˆ confirma‹o de
testamento particular e ao invent‡rio e ˆ partilha de bens situados no
Brasil, ainda que o autor da herana seja de nacionalidade estrangeira ou
tenha domic’lio fora do territ—rio nacional;
III - em div—rcio, separa‹o judicial ou dissolu‹o de uni‹o est‡vel,
proceder ˆ partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domic’lio fora do territ—rio nacional.
O inciso I disp›e que a autoridade judici‡ria brasileira tem
competncia exclusiva para conhecer de a›es relativas a im—veis situados
no Brasil. Suponha, por exemplo, que um alem‹o seja propriet‡rio de um
im—vel situado aqui no Brasil e que isso seja questionado por um francs. O
francs dever‡ entrar com a‹o junto ˆ autoridade judici‡ria brasileira, que
tem competncia exclusiva para apreci‡-la. Caso o francs ingresse com uma
a‹o perante tribunal estrangeiro e este emita sua sentena, esta n‹o ser‡
homologada pelo STJ, por tratar-se a quest‹o de competncia exclusiva da
autoridade judici‡ria brasileira.
O inciso II, por sua vez, prev que a autoridade judici‡ria brasileira
tem competncia exclusiva para, em matŽria de sucess‹o heredit‡ria, proceder
ˆ confirma‹o de testamento particular e ao invent‡rio e ˆ partilha de
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bens situados no Brasil, ainda que o autor da herana seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domic’lio fora do territ—rio nacional.
O inciso III estabelece que a autoridade judici‡ria brasileira tem
competncia exclusiva para, em div—rcio, separa‹o judicial ou dissolu‹o de
uni‹o est‡vel, proceder ˆ partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domic’lio fora do territ—rio
nacional. ƒ relevante destacar, para que n‹o se faa confus‹o, que o art. 23,
inciso III, est‡ definindo o foro ao qual a quest‹o ser‡ submetido; ele n‹o
est‡ definindo qual direito material (nacional ou estrangeiro) ser‡ aplic‡vel.
8- PROTOCOLO DE LAS LENÌS:
8.1- Introdu‹o:
O Protocolo de Las Le–as foi assinado em 1992, tendo sido
internalizado no ordenamento jur’dico brasileiro pelo Decreto n¼ 6.891/2009. ƒ
tambŽm chamado de Acordo de Coopera‹o e Assistncia Jurisdicional
em matŽria civil, comercial, trabalhista e administrativa do MERCOSUL. AlŽm
de vincular todos os Estados-membros do MERCOSUL, o Protocolo de Las
Len‹s tambŽm obriga a Bol’via e o Chile, que s‹o apenas membros associados
do bloco.
Mas de que trata o Protocolo de Las Le–as? Com qual objetivo ele foi
celebrado?
O objetivo do Protocolo de Las Le–as Ž promover e intensificar a
coopera‹o jurisdicional em matŽria civil, comercial, trabalhista e
administrativa entre os Estados-parte. Observe que o Protocolo de Las Le–as
n‹o versa sobre coopera‹o em matŽria penal.
O Protocolo de Las Le–as trata de maneira bem ampla sobre a
coopera‹o jurisdicional em matŽria civil, comercial, trabalhista e
administrativa. Ele Ž dividido nas seguintes partes:
a) Cap’tulo I: Coopera‹o e assistncia jurisdicional.
b) Cap’tulo II: Autoridades Centrais.
c) Cap’tulo III: Igualdade de tratamento processual.
d) Cap’tulo IV: Coopera‹o em atividade de simples tr‰nsito e cartas
rogat—rias.
e) Cap’tulo V: Reconhecimento e Execu‹o de Sentenas e de Laudos
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Arbitrais
f) Cap’tulo VI: Instrumentos Pœblicos e Outros documentos
g) Cap’tulo VII: Informa‹o do Direito Estrangeiro
h) Cap’tulo VIII: Consultas e Solu›es de ControvŽrsias
i) Cap’tulo IX: Disposi›es Finais
Em nosso estudo, n‹o iremos detalhar um a um todos os dispositivos
do Protocolo de Las Le–as. Ao contr‡rio, estudaremos apenas aquilo que nos
interessa para a prova da OAB.
8.2- Coopera‹o e Assistncia Jurisdicional:
Segundo o art. 1¼, do Protocolo de Las Le–as, Òos Estados Partes
comprometem-se a prestar assistncia mœtua e ampla coopera‹o
jurisdicional em matŽria civil, comercial, trabalhista e administrativaÓ. Para
isso, cada Estado parte dever‡ indicar uma Autoridade Central encarregada
de receber e dar andamento a pedidos de assistncia jurisdicional. No caso do
Brasil, a Autoridade Central Ž o MinistŽrio da Justia.
Ent‹o, imagine que seja proposta aqui no Brasil uma a‹o judicial
contra um cidad‹o argentino. A competncia internacional Ž do juiz brasileiro,
ou seja, Ž o juiz brasileiro o respons‡vel por julgar o caso. Nessa situa‹o,
haver‡ necessidade de o juiz brasileiro expedir carta rogat—ria, seja para citar
o argentino no processo, intim‡-lo ou atŽ mesmo para a produ‹o de provas.
Temos, nesse caso, a necessidade de coopera‹o jurisdicional.
As Autoridades Centrais indicadas pelos Estados-parte ir‹o se comunicar
diretamente, dando andamento ao pedido de assistncia jurisdicional. Assim,
no exemplo apresentado, tornar-se-‡ mais simples o tr‰mite da carga
rogat—ria expedida pela autoridade judici‡ria brasileira.
Segundo o art. 12, do Protocolo de Las Le–as, a autoridade
jurisdicional encarregada do cumprimento de uma carta rogat—ria aplicar‡
sua lei interna no que se refere aos procedimentos. Assim, o STJ aplicar‡ a
lei brasileira no que diz respeito aos procedimentos para o cumprimento das
cartas rogat—rias. O Protocolo de Las Le–as, portanto, n‹o uniformizou os
procedimentos para o tr‰mite das cartas rogat—rias.
Cabe destacar que o Protocolo de Las Le–as estabelece que a carta
rogat—ria poder‡ ter, mediante pedido da autoridade requerente,
tramita‹o especial, admitindo-se o cumprimento de formalidades adicionais
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na diligncia da carta rogat—ria, sempre que isso n‹o seja incompat’vel com a
ordem pœblica do Estado requerido.
8.3- Igualdade de Tratamento Processual:
O art. 3¼, do Protocolo de Las Le–as, estabelece o princ’pio da
igualdade de tratamento processual. Por esse princ’pio, um argentino
(residente na Argentina) ter‡ igualdade de condi›es com um brasileiro
no acesso ao Poder Judici‡rio brasileiro, a fim de defender seus direitos e
interesses. Essa regra se aplica tambŽm ˆs pessoas jur’dicas constitu’das,
autorizadas ou registradas de acordo com as leis de qualquer dos Estados-
Partes.
Art. 3 - Os nacionais, os cidad‹os e os residentes permanentes ou
habituais de um dos Estados Partes gozar‹o, nas mesmas
condi›es dos nacionais, cidad‹os e residentes permanentes ou
habituais de outro Estado Parte, do livre acesso ˆ jurisdi‹o desse
Estado para a defesa de seus direitos e interesses.
Para materializar essa igualdade de tratamento processual, o
Protocolo de Las Le–as estabelece que nenhuma cau‹o ou dep—sito
poder‡ ser imposto em raz‹o da qualidade de nacional, cidad‹o ou
residente permanente ou habitual de outro Estado parte. Nesse sentido, n‹o Ž
porque um indiv’duo Ž argentino que dele ser‡ exigida cau‹o para
ingressar com a‹o judicial perante a Justia brasileira. N‹o, n‹o. Esse
argentino ter‡ as mesmas condi›es de um brasileiro no acesso ˆ Justia
brasileira. Somente ser‡ dele exigida cau‹o se essa tambŽm fosse uma
exigncia do brasileiro.
8.4- Reconhecimento e Execu‹o de Sentenas e de Laudos Arbitrais:Em direito internacional, Ž regra plenamente aceita que os atos do
Poder Pœblico de um Estado somente ter‹o efic‡cia no territ—rio de outro
Estado se por ele forem aceitos. Assim, uma sentena judicial estrangeira,
para ter validade no Brasil, precisa ser homologada, procedimento este que,
segundo a CF/88, compete ao Superior Tribunal de Justia (STJ).
O Protocolo de Las Le–as, contrariando essa regra geral, estabelece a
efic‡cia extraterritorial das sentenas e laudos arbitrais emanadas dos
seus Estados-parte. Em outras palavras, uma sentena emanada de um
Tribunal argentino poderia, em tese, ter efic‡cia no Brasil independentemente
de homologa‹o pelo STJ. Para isso, Ž claro, ela precisaria cumprir certos
requisitos, elencados no art. 20, do Protocolo de Las Le–as:
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Art. 20 As sentenas e os laudos arbitrais a que se referem o artigo
anterior ter‹o efic‡cia extraterritorial nos Estados Partes quando
reunirem as seguintes condi›es:
a) que venham revestidos das formalidades externas necess‡rias para
que sejam considerados autnticos nos Estados de origem.
b) que estejam, assim como os documentos anexos necess‡rios,
devidamente traduzidos para o idioma oficial do Estado em que se solicita
seu reconhecimento e execu‹o;
c) que emanem de um —rg‹o jurisdicional ou arbitral competente,
segundo as normas do Estado requerido sobre jurisdi‹o internacional;
d) que a parte contra a qual se pretende executar a decis‹o tenha sido
devidamente citada e tenha garantido o exerc’cio de seu direito de
defesa;
e) que a decis‹o tenha fora de coisa julgada e/ou execut—ria no Estado
em que foi ditada;
f) que claramente n‹o contrariem os princ’pios de ordem pœblica do
Estado em que se solicita seu reconhecimento e/ou execu‹o
Os requisitos das al’neas (a), (c), (d), (e) e (f) devem estar contidos na
c—pia autntica da sentena ou do laudo arbitral.
A efic‡cia extraterritorial n‹o se aplica ao reconhecimento e
execu‹o de qualquer sentena ou laudo arbitral. Ela se aplica apenas ˆs
sentenas e laudos arbitrais pronunciados nas jurisdi›es dos Estados partes
em matŽria civil, comercial, trabalhista e administrativa e, ainda, em
rela‹o ˆs sentenas em matŽria de danos e restitui‹o de bens pronunciados
em jurisdi‹o penal.
O Protocolo de Las Le–as tambŽm reconhece que Ž poss’vel a
efic‡cia parcial de sentena estrangeira ou laudo arbitral. ƒ o que prev o
art. 23, segundo o qual Òse uma sentena ou um laudo arbitral n‹o puder ter
efic‡cia em sua totalidade, a autoridade jurisdicional competente do Estado
requerido poder‡ admitir sua efic‡cia parcial mediante pedido da parte
interessadaÓ
Segundo o art. 19, do Protocolo de Las Le–as, Òo reconhecimento e
execu‹o de sentenas e de laudos arbitrais solicitado pelas autoridades
jurisdicionais poder‡ tramitar-se por via de cartas rogat—rias e transmitir-
se por intermŽdio da Autoridade Central, ou por via diplom‡tica ou
consular, em conformidade com o direito internoÓ. TambŽm Ž poss’vel que a
parte interessada tramite diretamente o pedido de reconhecimento ou
execu‹o de sentena, ou seja, invoque em ju’zo uma sentena ou laudo
arbitral de um Estado parte.
Dito tudo isso, cabe destacar o entendimento do STF acerca do
Protocolo de Las Le–as. Para a Corte Suprema, o Protocolo de Las Le–as n‹o
afetou a exigncia de que qualquer sentena estrangeira seja
submetida ao procedimento de homologa‹o. Assim, para o STF, mesmo
as sentenas estrangeiras provenientes dos Estados-parte do Protocolo de Las
Le–as dever‹o ser submetidas ˆ homologa‹o pelo STJ.
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ƒ esse o entendimento que prevalece hoje. O Protocolo de Las Le–as,
na interpreta‹o do STF, teria apenas facilitado os tr‰mites dos
procedimentos de reconhecimento de sentenas e laudos arbitrais provenientes
dos Estados-parte. Contudo, permanece sendo exig’vel a homologa‹o de
sentenas e laudos arbitrais, mesmo quando oriundos de Estados-parte do
Protocolo de Las Le–as.
8.5- Informa‹o do Direito Estrangeiro:
Em muitos casos, uma autoridade judici‡ria ter‡ que, em raz‹o
das regras de direito internacional privado, aplicar o direito estrangeiro em
um caso sob sua aprecia‹o. Ser‡ importante, nessa situa‹o, que a
autoridade judici‡ria tenha maiores informa›es sobre o direito estrangeiro.
Com o objetivo de facilitar o interc‰mbio de informa›es sobre o
direito estrangeiro, o art. 28, do Protocolo de Las Le–as estabelece que Òas
Autoridades Centrais dos Estados Partes fornecer-se-‹o mutuamente, a
t’tulo de coopera‹o judicial, e desde que n‹o se oponham ˆs disposi›es de
sua ordem pœblica, informa›es em matŽria civil, comercial, trabalhista,
administrativa e de direito internacional privado, sem despesa algumaÓ.
O Estado parte que fornecer as informa›es sobre o sentido e alcance
legal de seu direito n‹o ser‡ respons‡vel pela opini‹o emitida, nem
estar‡ obrigado a aplicar seu direito, segundo a resposta fornecida. O
Estado Parte que receber as citadas informa›es n‹o estar‡ obrigado a
aplicar, ou fazer aplicar, o direito estrangeiro segundo o conteœdo da
resposta recebida.
9 Ð O SEQUESTRO INTERNACIONAL DE MENORES:
9.1- Introdu‹o:
O fen™meno do sequestro internacional de menores Ž um resultado
do aprofundamento da globaliza‹o. Como as rela›es sociais entre
pessoas de Estados diferentes s‹o mais intensas hoje, Ž natural que delas
tambŽm se originem filhos. E a’, devido a conflitos familiares, crianas podem
ser levadas ou retidas pelo pai ou pela m‹e em um Estado estrangeiro.
Quando se fala em sequestro internacional de menores, estamos nos
referindo justamente a isso. O ÒsequestradorÓ ser‡ um dos genitores (o pai ou
a m‹e), que ir‡ remover ou reter ilicitamente uma criana, deixando-a em
um pa’s que n‹o seja o de sua residncia habitual.
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Com o objetivo de resguardar os interesses da criana em rela‹o ˆs
quest›es relativas ˆ sua guarda, foi celebrada a Conven‹o de Haia sobre o
Sequestro Internacional de Crianas. Busca-se, por meio desse tratado
internacional, proteger a criana dos efeitos prejudiciais resultantes da
mudana de domic’lio ou de reten‹o il’citas e estabelecer procedimentos
que garantam o retorno da criana ao Estado de sua residncia
habitual, bem como assegurar a prote‹o do direito de visita.
Antes de o Brasil aderir ˆ Conven‹o de Haia, o sequestro
internacional de menores n‹o era tutelado por nenhuma norma do nosso
ordenamento jur’dico. Se um pai levasse irregularmente o filho para os EUA, a
m‹e precisaria acionar a Justia estrangeira, sem qualquer apoio do Estado
brasileiro.
No Brasil, um caso que ficou bastante conhecido, pela ampla
repercuss‹o que teve na imprensa, foi o do menino Sean Goldman. Sean era
filho de um americano (David Goldman) com uma brasileira (Bruna Bianchi) e
morou com os pais entre 2000 e 2004 nos EUA. No ano de 2004, Bruna
Bianchi veio ao Brasil trazendo Sean, mas, tendo decidido terminar o
relacionamento com o americano David Goldman, permaneceu com Sean no
Brasil.
David Goldman ingressou com a‹o judicial, mas a Justia decidiu de
maneira desfavor‡vel a ele. Bruna Bianchi, tendo se casado novamente,
faleceu em raz‹o de complica›es no parto de sua filha. Novamente, David
Goldman acionou a Justia, pleiteando a guarda do menino Sean, alegando
que, ap—s a morte da m‹e, ele estaria retido ilicitamenteno Brasil pelo seu
padrasto. O caso chegou ao STF, tendo o Ministro Gilmar Mendes determinado
o retorno de Sean ao seu pai biol—gico americano.
9.2- åmbito de Aplica‹o:
O art. 1¼, da Conven‹o de Haia, estabelece que s‹o os seguintes os
seus objetivos:
a) assegurar o retorno imediato de crianas ilicitamente
transferidas para qualquer Estado Contratante ou nele retidas
indevidamente;
b) fazer respeitar de maneira efetiva nos outros Estados Contratantes os
direitos de guarda e de visita existentes num Estado Contratante.
Mas quando Ž que a transferncia ou reten‹o de uma criana Ž
considerada il’cita?
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Ser‡ il’cita a transferncia ou reten‹o de uma criana quando: i)
tiver havido viola‹o ao direito de guarda, nos termos da lei do Estado
onde a criana tivesse sua residncia habitual e; ii) o direito de guarda
estivesse sendo exercido de maneira efetiva, individual ou conjuntamente.
A Conven‹o de Haia se aplica a qualquer criana que tenha
residncia habitual num Estado contratante, imediatamente antes da
viola‹o do direito de guarda ou de visita. Destaque-se que n‹o se aplica a
Conven‹o de Haia a partir do momento em que a criana completar 16
anos de idade.
ƒ interessante sabermos a defini‹o que a Conven‹o de Haia d‡
para Òdireito de guardaÓ e Òdireito de visitaÓ, conceitos apresentados pelo art.
5¼:
Art. 5¼ Nos termos da presente Conven‹o:
a) o "direito de guarda" compreender‡ os direitos relativos aos
cuidados com a pessoa da criana, e, em particular, o direito de
decidir sobre o lugar da sua residncia;
b) o "direito de visita" compreender‡ o direito de levar uma
criana, por um per’odo limitado de tempo, para um lugar diferente
daquele onde ela habitualmente reside.
9.3- Autoridades Centrais:
Cada Estado Contratante dever‡ designar uma Autoridade Central
encarregada de dar cumprimento ˆs obriga›es impostas pela Conven‹o de
Haia. Essas Autoridades Centrais dever‹o cooperar entre si e promover a
colabora‹o entre as autoridades competentes dos seus respectivos Estados,
de forma a assegurar o retorno imediato das crianas e a realizar os
demais objetivos da Conven‹o.
A Autoridade Central brasileira Ž a Secretaria Nacional de Direitos
Humanos, da Presidncia da Repœblica. Recebendo o pedido relativo ao
sequestro internacional de uma criana, a Autoridade Central brasileira
dever‡ encaminh‡-lo diretamente ˆ Autoridade Central do Estado onde
a criana se encontre. Havendo dificuldades para o retorno amig‡vel da
criana, caber‡ ˆ Advocacia-Geral da Uni‹o (AGU) ajuizar a‹o judicial na
Justia Federal.
9.4- Retorno da Criana:
O princ’pio fundamental a ser considerado no que diz respeito ao
Òsequestro internacional de crianasÓ Ž o princ’pio do interesse superior do
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menor. ƒ esse, afinal, o fundamento central da Conven‹o de Haia, que busca
resguardar a segurana e o bem-estar das crianas.
A regra geral Ž que, quando ocorre uma transferncia ou reten‹o
il’cita de uma criana, dever‡ ser determinado o seu retorno imediato.
Vamos a um exemplo. Mark Thompson (americano) Ž casado com Tatiana
Ramos (brasileiro) e eles tm um filho chamado Carlinhos. Eles moram todos
juntos no Brasil. Certo dia, Mark Thompson e Tatiana se desentendem e Mark
leva ilicitamente Carlinhos para os EUA. Pronto! Fica caracterizada uma
remo‹o il’cita. Tatiana, aciona a Justia, que dever‡, ent‹o, ordenar o retorno
imediato da criana.
A Conven‹o de Haia, porŽm, apresenta algumas exce›es a essa
regra geral.
A primeira delas diz respeito ao decurso do tempo. Segundo o art.
12, da Conven‹o de Haia, Òquando uma criana tiver sido ilicitamente
transferida ou retida nos termos do Artigo 3 e tenha decorrido um per’odo
de menos de 1 ano entre a data da transferncia ou da reten‹o
indevidas e a data do in’cio do processo perante a autoridade judicial ou
administrativa do Estado Contratante onde a criana se encontrar, a
autoridade respectiva dever‡ ordenar o retomo imediato da crianaÓ.
A l—gica por tr‡s dessa regra Ž a de que em 1 (um) ano a criana j‡
poder‡ ter se adaptado e integrado ao novo meio. ƒ de se notar que, em
homenagem ao Òprinc’pio do interesse superior do menorÓ, mesmo ap—s
expirado o per’odo de um ano, a autoridade judicial ou administrativa
respectiva dever‡ ordenar o retorno da criana, salvo quando for provado
que a criana j‡ se encontra integrada no seu novo meio.
A segunda exce‹o ao retorno imediato da criana est‡ prevista no
art. 13, da Conven‹o de Haia. Perceba que, mais uma vez, Ž clara a aplica‹o
do princ’pio do superior interesse do menor:
Art. 13 - Sem preju’zo das disposi›es contidas no Artigo anterior, a
autoridade judicial ou administrativa do Estado requerido n‹o Ž obrigada
a ordenar o retomo da criana se a pessoa, institui‹o ou organismo que
se oponha a seu retomo provar:
a) que a pessoa, institui‹o ou organismo que tinha a seu cuidado a
pessoa da criana n‹o exercia efetivamente o direito de guarda na Žpoca
da transferncia ou da reten‹o, ou que havia consentido ou concordado
posteriormente com esta transferncia ou reten‹o; ou
b) que existe um risco grave de a criana, no seu retorno, ficar sujeita a
perigos de ordem f’sica ou ps’quica, ou, de qualquer outro modo, ficar
numa situa‹o intoler‡vel.
A autoridade judicial ou administrativa pode tambŽm recusar-se a
ordenar o retorno da criana se verificar que esta se op›e a ele e que a
criana atingiu j‡ idade e grau de maturidade tais que seja apropriado
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levar em considera‹o as suas opini›es sobre o assunto.
Ao apreciar as circunst‰ncias referidas neste Artigo, as autoridades
judiciais ou administrativas dever‹o tomar em considera‹o as
informa›es relativas ˆ situa‹o social da criana fornecidas pela
Autoridade Central ou por qualquer outra autoridade competente do
Estado de residncia habitual da criana.
A terceira exce‹o aparece no art. 20, da Conven‹o de Haia.
Segundo esse dispositivo, o retorno da criana poder‡ ser recusado
quando n‹o for compat’vel com os princ’pios fundamentais do Estado
requerido com rela‹o ˆ prote‹o dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais. Trata-se de uma exce‹o de ordem pœblica, fundada na
prote‹o dos direitos fundamentais do menor.
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QUESTÍES COMENTADAS
1. (FGV / XXI Exame de Ordem Ð 2016) O Acordo de Coopera‹o e
Assistncia Jurisdicional em MatŽria Civil, Comercial, Trabalhista e
Administrativa entre os Estados Partes do Mercosul, a Repœblica da
Bol’via e a Repœblica do Chile, foi promulgado no Brasil por meio do
Decreto n¼ 6.891/09, tendo por finalidade estabelecer as bases em
que a coopera‹o e a assistncia jurisdicional entre os Estados
membros ser‡ realizada.
A respeito desse instrumento, assinale a afirmativa correta.
a) A indica‹o das autoridades centrais respons‡veis pelo recebimento e
andamento de pedidos de assistncia jurisdicional Ž realizada pelo Grupo
Mercado Comum.
b) Os nacionais ou residentes permanentes de outro Estado membro, para que
possam se beneficiar do mecanismo de coopera‹o jurisdicional em
determinado Estado membro, dever‹o prestarcau‹o.
c) Os procedimentos para cumprimento de uma carta rogat—ria recebida sob a
guarida do Acordo s‹o determinados pela lei interna do Estado em que a carta
dever‡ ser cumprida, n‹o sendo admitida, em qualquer hip—tese, a observa‹o
de procedimentos diversos solicitados pelo Estado de onde provenha a carta.
d) Uma sentena ou um laudo arbitral proveniente de um determinado Estado,
cujo reconhecimento e execu‹o seja solicitado a outro Estado membro, pode
ter sua efic‡cia admitida pela autoridade jurisdicional do Estado requerido
apenas parcialmente.
Coment‡rios:
Letra A: errada. N‹o Ž o Grupo Mercado Comum que indica as autoridades
centrais respons‡veis pelo recebimento e andamento de pedidos de assistncia
jurisdicional. Cabe a cada um dos Estados-parte indicar uma Autoridade
Central (art. 2¼).
Letra B: errada. Nenhuma cau‹o pode ser exigida para que um nacional
ou residente permanente de um dos Estados-parte se beneficie dos
mecanismos de coopera‹o jurisdicional decorrente do Acordo (art. 4¼).
Letra C: errada. A autoridade judici‡ria que for respons‡vel pelo cumprimento
de uma carta rogat—ria aplicar‡ os procedimentos previstos em sua lei
interna. Entretanto, nos termos do Acordo de Coopera‹o, a carta rogat—ria
poder‡ ter, mediante pedido da autoridade requerente, tramita‹o especial,
admitindo-se o cumprimento de formalidades adicionais na diligncia da carta
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rogat—ria, desde que isso n‹o seja incompat’vel com a ordem pœblica do
Estado requerido (art. 12).
Letra D: correta. Caso uma sentena ou laudo arbitral n‹o puder ter efic‡cia
em sua totalidade, a autoridade jurisdicional competente do Estado
requerido poder‡ admitir sua efic‡cia parcial mediante pedido da parte
interessada (art. 23).
O gabarito Ž a letra D.
2. (FGV / XX Exame de Ordem Ð 2016) Em 2013, uma empresa de
consultoria brasileira assina, na cidade de Londres, Reino Unido,
contrato de presta‹o de servios com uma empresa local. As
contratantes elegem o foro da comarca do Rio de Janeiro para dirimir
eventuais dœvidas, com a exclus‹o de qualquer outro.
Dois anos depois, as partes se desentendem quanto aos critŽrios
tŽcnicos previstos no contrato e n‹o conseguem chegar a uma solu‹o
amig‡vel. A empresa de consultoria brasileira decide, ent‹o, ajuizar
uma a‹o no Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro para
rescindir o contrato.
Com rela‹o ao caso narrado acima, assinale a afirmativa correta.
a) O juiz brasileiro poder‡ conhecer e julgar a lide, mas dever‡ basear sua
decis‹o na legisla‹o brasileira, pois um juiz brasileiro n‹o pode ser obrigado a
aplicar leis estrangeiras.
b) O Poder Judici‡rio brasileiro n‹o Ž competente para conhecer e julgar a lide,
pois o foro para dirimir quest›es em matŽria contratual Ž necessariamente o
do local em que o contrato foi assinado.
c) O juiz brasileiro poder‡ conhecer e julgar a lide, mas dever‡ basear sua
decis‹o na legisla‹o do Reino Unido, pois os contratos se regem pela lei do
local de sua assinatura.
d) O juiz brasileiro poder‡ conhecer e julgar a lide, mas dever‡ se basear na
legisla‹o brasileira, pois, a lit’gios envolvendo brasileiros e estrangeiros,
aplica-se a lex fori.
Coment‡rios:
Diante da situa‹o apresentada, duas perguntas devem ser respondidas:
a) O juiz brasileiro poder‡ conhecer e julgar a lide?
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Sim, poder‡. Segundo o art. 22, III, do Novo CPC, compete ˆ autoridade
judici‡ria brasileira processar e julgar as a›es em que as partes, expressa ou
tacitamente, se submeterem ˆ jurisdi‹o nacional.
Na situa‹o apresentada, as contratantes elegeram o foro da comarca do Rio
de Janeiro para dirimir eventuais dœvidas, com exclus‹o de qualquer outro.
b) Qual o direito material aplic‡vel nessa lide?
Segundo o art. 9¼, LINDB, Òpara qualificar e reger as obriga›es, aplicar-se-‡ a
lei do pa’s em que se constitu’remÓ.
Na situa‹o apresentada, o contrato foi celebrado em Londres, Reino Unido.
Logo, ser‡ aplicada a legisla‹o do Reino Unido.
O gabarito Ž a letra C.
3. (FGV / XX Exame de Ordem Ð 2016) Lœcia, brasileira, casou-se
com Mauro, argentino, h‡ 10 anos, em elegante cerim™nia realizada no
Nordeste brasileiro. O casal vive atualmente em Buenos Aires com
seus trs filhos menores. Por diferenas inconcili‡veis, Lœcia pretende
se divorciar de Mauro, ajuizando, para tanto, a competente a‹o de
div—rcio, a fim de partilhar os bens do casal: um apartamento em
Buenos Aires/Argentina e uma casa de praia em Trancoso/Bahia.
Mauro n‹o se op›e ˆ a‹o.
Com rela‹o ˆ a‹o de div—rcio, assinale a afirmativa correta.
a) A‹o de div—rcio s— poder‡ ser ajuizada no Brasil, eis que o casamento foi
realizado em territ—rio brasileiro.
b) Caso Lœcia ingresse com a a‹o perante a Justia argentina, n‹o poder‡
partilhar a casa de praia.
c) Eventual sentena argentina de div—rcio, para produzir efeitos no Brasil,
dever‡ ser primeiramente homologada pelo Superior Tribunal de Justia.
d) A‹o de div—rcio, se consensual, poder‡ ser ajuizada tanto no Brasil quanto
na Argentina, sendo ambos os pa’ses competentes para decidir acerca da
guarda das criana e da partilha dos bens.
Coment‡rios:
Segundo o art. 23, III, CF/88, compete ˆ autoridade judici‡ria brasileira,
com exclus‹o de qualquer outra, Òem div—rcio, separa‹o judicial ou
dissolu‹o de uni‹o est‡vel, proceder ˆ partilha de bens situados no Brasil,
ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domic’lio fora do
territ—rio nacionalÓ.
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Assim, caso Lœcia ingresse com a‹o de div—rcio na Argentina, n‹o poder‡
partilhar a casa de praia que est‡ situada em Trancoso (Bahia). Isso
porque Ž competncia exclusiva da autoridade judici‡ria brasileira, em a‹o de
div—rcio, proceder ˆ partilha de bens situados no Brasil.
O gabarito Ž a letra B.
4. (FGV / XIX Exame de Ordem Ð 2016) Para a aplica‹o da
Conven‹o sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de
Crianas, L’gia recorre ˆ autoridade central brasileira, quando Arnaldo,
seu marido, que tem dupla-nacionalidade, viaja para os Estados Unidos
com a filha de 17 anos do casal e n‹o retorna na data prometida.
Arnaldo alega que entrar‡ com pedido de div—rcio e passar‡ a viver
com a filha menor no exterior.
Com base no caso apresentado, a autoridade central brasileira
a) dever‡ acionar diretamente a autoridade central estadunidense para que
tome as medidas necess‡rias para o retorno da filha ao Brasil.
b) dever‡ ingressar na Justia Federal brasileira, em nome de L’gia, para que a
Justia Federal mande acionar a autoridade central estadunidense para que
tome as medidas necess‡rias para o retorno da filha ao Brasil.
c) n‹o dever‡ apreciar o pleito de L’gia, eis que a filha Ž maior de 16 anos.
d) n‹o dever‡ apreciar o pleito de L’gia, eis que o pai tambŽm possui direito de
guarda sobre a filha, j‡ que o div—rcio ainda n‹o foi realizado.
Coment‡rios:
A Conven‹o de Haia n‹o se aplica, todavia, a partir do momento em que a
criana completar 16 anos de idade. Na situa‹o apresentada pelo
enunciado da quest‹o, a filha do casal L’gia e Arnaldo tem 17 anos e, portanto,
a Autoridade Central brasileira n‹o ir‡ apreciar o pedido. O gabarito Ž a letra
C.
5. (FGV / XIX Exame de Ordem Ð 2016) Ex-dirigente de federa‹o
sul-americana de futebol, ap—s deixar o cargoque exercia em seu pa’s
de origem, sabedor de que existe uma investiga‹o em curso na
Col™mbia, opta por fixar residncia no Brasil, pelo fato de ser
estrangeiro casado com brasileira, com a qual tem dois filhos
pequenos. Anos depois, j‡ tendo se naturalizado brasileiro, o governo
da Col™mbia pede a sua extradi‹o em raz‹o de sentena que o
condenou por crime praticado quando ocupava cargo na federa‹o sul-
americana de futebol.
Essa extradi‹o:
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a) n‹o poder‡ ser concedida, porque o Brasil n‹o extradita seus nacionais.
b) n‹o poder‡ ser concedida, porque o extraditando tem filhos menores sob
sua dependncia econ™mica.
c) poder‡ ser concedida, porque o extraditando n‹o Ž brasileiro nato.
d) poder‡ ser concedida se o pa’s de origem do extraditando tiver tratado de
extradi‹o com a Frana.
Coment‡rios:
H‡ possibilidade de extradi‹o de brasileiro naturalizado em 2 (duas)
situa›es:
a) comprovado envolvimento com tr‡fico il’cito de entorpecentes e drogas
afins e;
b) crime comum praticado antes da naturaliza‹o.
Na situa‹o apresentada, o ex-dirigente da federa‹o sul-americana de futebol
havia praticado um crime comum antes de se naturalizar. Logo, ele poder‡
ser extraditado. Vale destacar que a CF/88 pro’be a extradi‹o apenas de
brasileiros natos.
O gabarito, portanto, Ž a letra C.
6. (XVIII Exame de Ordem Unificado Ð 2015) Ricardo, brasileiro
naturalizado, mora na cidade do Rio de Janeiro h‡ 9 (nove) anos. Em
visita a parentes italianos, conhece Giulia, residente em Roma, com
quem passa a ter um relacionamento amoroso. Ap—s 3 (trs) anos de
namoro a dist‰ncia, ficam noivos e celebram matrim™nio em territ—rio
italiano. De comum acordo, o casal estabelece seu primeiro domic’lio
em S‹o Paulo, onde ambos possuem oportunidades de trabalho.
Ë luz das regras de Direito Internacional Privado, veiculadas na Lei de
Introdu‹o ˆs Normas do Direito Brasileiro (LINDB), n‹o havendo
pacto antenupcial, assinale a op‹o que indica a legisla‹o que ir‡
reger o regime de bens entre os c™njuges.
a) Aplic‡vel a Lei italiana, haja vista que nenhum dos c™njuges Ž brasileiro
nato.
b) Aplic‡vel a Lei italiana, em raz‹o do local em que foi realizado o casamento.
c) Aplic‡vel a Lei brasileira, em raz‹o do domic’lio do c™njuge var‹o.
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d) Aplic‡vel a Lei brasileira, porque aqui constitu’do o primeiro domic’lio do
casal.
Coment‡rios:
O regime de bens obedecer‡ a lei do pa’s em que os nubentes tiverem
domic’lio. Caso o domic’lio dos nubentes seja diverso, ser‡ aplic‡vel a lei do
primeiro domic’lio conjugal. Assim, na situa‹o apresentada, ser‡ aplic‡vel
a lei brasileira, pois o primeiro domic’lio de Ricardo e de Giulia foi no Brasil. O
gabarito Ž a letra D.
7. (XVIII Exame de Ordem Unificado Ð 2015) Uma carta rogat—ria
foi encaminhada, nos termos da Conven‹o Interamericana sobre
Cartas Rogat—rias, para cita‹o de pessoa f’sica domiciliada em S‹o
Paulo, para responder a processo de div—rcio nos Estados Unidos. A
esse respeito, assinale a op‹o correta.
a) N‹o ser‡ necess‡rio obter exequatur em fun‹o do tratado multilateral
ratificado por ambos os pa’ses.
b) O STJ dever‡ conceder o exequatur, cabendo ˆ justia estadual cumprir a
ordem de cita‹o.
c) A concess‹o de exequatur caber‡ ao STJ e seu posterior cumprimento ˆ
justia federal.
d) A concess‹o de exequatur e seu posterior cumprimento caber‹o ˆ
autoridade central indicada na Conven‹o Interamericana sobre Cartas
Rogat—rias.
Coment‡rios:
A concess‹o de exequatur ˆs cartas rogat—rias Ž de competncia do STJ (art.
105, I, al’nea ÒiÓ, CF/88).
Por sua vez, o cumprimento da carta rogat—ria Ž de competncia da Justia
Federal, conforme disp›e o art. 109, X, CF/88:
Art. 109. Aos ju’zes federais compete processar e julgar:
(...)
X - os crimes de ingresso ou permanncia irregular de estrangeiro, a
execu‹o de carta rogat—ria, ap—s o "exequatur", e de sentena
estrangeira, ap—s a homologa‹o, as causas referentes ˆ nacionalidade,
inclusive a respectiva op‹o, e ˆ naturaliza‹o;
Por tudo o que comentamos, o gabarito Ž a letra C.
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8. (FGV / XII Exame de Ordem Unificado Ð 2013) A sociedade
empres‡ria Airplane Ltda., fabricante de aeronaves, sediada na China,
celebrou contrato internacional de compra e venda com a sociedade
empres‡ria Voe R‡pido Ltda, com sede na Argentina. O contrato foi
celebrado no Jap‹o, em raz‹o de uma feira promocional que ali se
realizava. Conforme estipulado no contrato, as aeronaves deveriam ser
entregues pela Airplane Ltda., na cidade do Rio de Janeiro, no dia 1¼
de abril de 2011, onde a sociedade Voe R‡pido Ltda. possui uma filial e
realiza a atividade empresarial de transporte de passageiros.
Diante da situa‹o exposta, ˆ luz das regras de Direito Internacional
Privado veiculadas na Lei de Introdu‹o ˆs Normas do Direito
Brasileiro (LINDB) e no estatuto processual civil brasileiro (C—digo de
Processo Civil Ð CPC), assinale a afirmativa INCORRETA.
a) N‹o sendo as aeronaves entregues no prazo avenado, o Poder Judici‡rio
brasileiro Ž competente para julgar eventual demanda em que a credora
postule o cumprimento do contrato.
b) No tocante ˆ regncia das obriga›es, aplica-se, no caso vertente, a
legisla‹o japonesa.
c) O Poder Judici‡rio Brasileiro n‹o Ž competente para julgar eventual a‹o por
inadimplemento contratual, pois o contrato n‹o foi constitu’do no Brasil.
d) O juiz, n‹o conhecendo a lei estrangeira, poder‡ exigir de quem a invoca
prova do texto e da vigncia.
Coment‡rios:
Letra A: correta. Segundo o art. 21, II, CPC, Ž competente a
autoridade judici‡ria brasileira quando no Brasil tiver que ser cumprida a
obriga‹o. Considerando-se que Ž no Brasil que as aeronaves devem ser
entregues, Ž competente a autoridade judici‡ria brasileira para julgar uma
eventual demanda envolvendo o contrato.
Letra B: correta. O contrato de compra e venda ser‡ regido pela
legisla‹o japonesa, uma vez que ele foi celebrado no Jap‹o. Isso se explica
pelo art. 9¼, da LINDB, segundo o qual Òpara qualificar e reger as obriga›es,
aplicar-se-‡ a lei do pa’s em que se constitu’remÓ.
Letra C: errada. O local de celebra‹o do contrato determina a
legisla‹o aplic‡vel, que ser‡ a lei japonesa. Como as aeronaves devem ser
entregues no Brasil, o Poder Judici‡rio brasileiro tem competncia para
julgar eventual a‹o envolvendo o contrato. ƒ o que se depreende do art. 21,
II, CPC.
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Letra D: correta. Segundo o art. 14, LINDB, Òn‹o conhecendo a lei
estrangeira, poder‡ o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da
vignciaÓ.
O gabarito Ž a letra C.
9. (FGV / XVII Exame de Ordem Unificado Ð 2015) A sociedade
empres‡ria brasileira do ramo de comunica‹o, Personalidades,
celebrou contrato internacional de presta‹o de servios de
inform‡tica, no Brasil, com a sociedade empres‡ria uruguaia
Sacramento. O contrato foi celebrado em Caracas, capital venezuelana,
tendo sido estabelecido pelas partes, como foro de elei‹o,
MontevidŽu.
Diante da situa‹o exposta, ˆ luz das regras do Direito Internacional
Privado veiculadas na Lei de Introdu‹oˆs Normas do Direito
Brasileiro (LINDB) e no C—digo de Processo Civil, assinale a afirmativa
correta.
a) No tocante ˆ regncia das obriga›es previstas no contrato, aplica-se a
legisla‹o uruguaia, j‡ que MontevidŽu foi eleito o foro competente para se
dirimir eventual controvŽrsia.
b) Para qualificar e reger as obriga›es do presente contrato, aplicar-se-‡ a lei
venezuelana.
c) Como a execu‹o da obriga‹o avenada entre as partes se dar‡ no Brasil,
aplica-se, obrigatoriamente, no tocante ao cumprimento do contrato, a
legisla‹o brasileira.
d) A Lei de Introdu‹o ˆs Normas do Direito Brasileiro veda expressamente o
foro de elei‹o, raz‹o pela qual Ž nula ipse jure a cl‡usula estabelecida pelas
partes nesse sentido.
Coment‡rios:
Letra A: errada. O contrato foi celebrado em Caracas, na Venezuela.
Logo, a legisla‹o aplic‡vel ao contrato ser‡ a legisla‹o venezuelana. Isso
decorre do art. 9¼, LINDB, segundo o qual Òpara qualificar e reger as
obriga›es, aplicar-se-‡ a lei do pa’s em que se constitu’remÓ.
Letra B: correta. ƒ exatamente o que comentamos acima! Como o
contrato foi celebrado na Venezuela, aplica-se a legisla‹o venezuelana.
Letra C: errada. N‹o Ž o local de execu‹o da obriga‹o que
determina a lei aplic‡vel. O que determina a legisla‹o aplic‡vel Ž o local
onde a obriga‹o foi constitu’da.
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Letra D: errada. ƒ plenamente poss’vel que as partes estabeleam
no contrato o foro de elei‹o.
O gabarito Ž a letra B.
10. (FGV / XV Exame de Ordem Unificado Ð 2015) Tœlio, brasileiro, Ž
casado com Alexia, de nacionalidade sueca, estando o casal
domiciliado no Brasil. Durante um cruzeiro mar’timo, na GrŽcia, ela,
ap—s a ceia, veio a falecer em raz‹o de uma intoxica‹o alimentar.
Alexia, quando ainda era noiva de Tœlio, havia realizado um
testamento em Lisboa, dispondo sobre os seus bens, entre eles, trs
apartamentos situados no Rio de Janeiro.
Ë luz das regras de Direito Internacional Privado, assinale afirmativa
correta.
a) Se houver discuss‹o acerca da validade do testamento, no que diz respeito
ˆ observ‰ncia das formalidades, dever‡ ser aplicada a legisla‹o brasileira,
pois Alexia encontrava-se domiciliada no Brasil.
b) Se houver discuss‹o acerca da que diz respeito ˆ observ‰ncia das
formalidades, dever‡ ser aplicada a legisla‹o portuguesa, local em que foi
realizado o ato de disposi‹o da œltima vontade de Alexia.
c) A autoridade judici‡ria brasileira n‹o Ž competente para proceder ao
invent‡rio e ˆ partilha de bens, porquanto Alexia faleceu na GrŽcia, e n‹o no
Brasil.
d) Se houver discuss‹o acerca do regime sucess—rio, dever‡ ser aplicada a
legisla‹o sueca, em raz‹o da nacionalidade do de cujus.
Coment‡rios:
Letra A: errada. O testamento, em seus aspectos formais, Ž
regulado pela legisla‹o do local em que ele foi celebrado (locus regit
actum). Logo, se houver discuss‹o sobre a validade do testamento, dever‡ ser
aplicada a legisla‹o portuguesa, uma vez que o testamento foi celebrado em
Lisboa (Portugal).
Letra B: correta. Havendo discuss‹o sobre a validade do testamento,
dever‡ ser aplicada a legisla‹o portuguesa, uma vez que o testamento foi
celebrado em Lisboa (Portugal).
Letra C: errada. Segundo o art. 23, CPC, Ž competente a
autoridade judici‡ria brasileira, com exclus‹o de qualquer outra, para
conhecer de a›es relativas a im—veis situados no Brasil.
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Letra D: errada. Segundo o art. 10, da LINDB, Òa sucess‹o por morte
ou por ausncia obedece ˆ lei do pa’s em que domiciliado o defunto ou o
desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situa‹o dos bensÓ.
Considerando-se que Alexia tinha domic’lio no Brasil, ser‡ aplicada a legisla‹o
brasileira.
O gabarito Ž a letra B.
11. (FGV / II Exame de Ordem Unificado - 2010.2) Jogador de
futebol de um importante time espanhol e titular da sele‹o brasileira
Ž filmado por um celular em uma casa noturna na Espanha, em
avanado estado de embriaguez. O v’deo Ž veiculado na internet e tem
grande repercuss‹o no Brasil. Temeroso de ser cortado da sele‹o
brasileira, o jogador aju’za uma a‹o no Brasil contra o portal de
v’deos, cuja sede Ž na Calif—rnia, Estados Unidos. O juiz brasileiro:
a) n‹o Ž competente, porque o rŽu Ž pessoa jur’dica estrangeira.
b) ter‡ competncia porque os danos ˆ imagem ocorreram no Brasil.
c) dever‡ remeter o caso, por carta rogat—ria, ˆ justia norte-americana.
d) ter‡ competncia porque o autor tem nacionalidade brasileira.
Coment‡rios:
Na situa‹o apresentada pela quest‹o, temos um jogador de
nacionalidade brasileira com domic’lio na Espanha. Ele Ž filmado embriagado e
o v’deo Ž divulgado na Internet, por um portal de v’deos com sede nos EUA. O
fato tem grande repercuss‹o, extremamente negativa para sua imagem, aqui
no Brasil.
A pergunta Ž: perante qual autoridade judici‡ria, o jogador
brasileiro poder‡ ajuizar a‹o para reparar os danos ˆ sua imagem?
Segundo o art. 21, inciso III, a autoridade judici‡ria brasileira tem
competncia para apreciar a‹o que tenha como fundamento fato ocorrido
ou ato praticado no Brasil. Trata-se de competncia concorrente, motivo
pelo qual o jogador brasileiro poder‡ ingressar com a a‹o perante
autoridade judici‡ria brasileira (os danos ˆ imagem ocorreram no Brasil),
sem que isso exclua a possibilidade de aprecia‹o por autoridade judici‡ria
estrangeira.
Diante do exposto, o gabarito Ž a letra B.
12. (FGV / II Exame de Ordem Unificado - 2010.2) Um contrato
internacional entre um exportador brasileiro de laranjas e o comprador
americano, previu que em caso de lit’gio fosse utilizada a arbitragem,
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Exame da OAB (Teoria e Questões)
Prof. Ricardo Vale – Aula 04
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realizada pela C‰mara de ComŽrcio Internacional. O exportador
brasileiro fez a remessa das laranjas, mas estas n‹o atingiram a
qualidade estabelecida no contrato. O comprador entrou com uma
a‹o no Brasil para discutir o cumprimento do contrato. O juiz decidiu:
a) extinguir o feito sem julgamento de mŽrito, em face da cl‡usula arbitral.
b) deferir o pedido, na forma requerida.
c) indeferir o pedido porque o local do cumprimento do contrato Ž nos Estados
Unidos.
d) deferir o pedido, em raz‹o da competncia concorrente da justia brasileira.
Coment‡rios:
Na situa‹o apresentada pela quest‹o, foi celebrado um contrato
entre um exportador brasileiro e um comprador americano. No contrato, as
partes estabeleceram uma cl‡usula compromiss—ria (cl‡usula arbitral). A
qualidade do produto brasileiro n‹o atendeu ˆs expectativas do comprador
americano, motivo pelo qual ele acionou a Justia brasileira. Considerando que
existe uma cl‡usula compromiss—ria, o juiz dever‡ extinguir o processo
sem resolu‹o de mŽrito. Portanto, a resposta correta Ž a letra A.
13. (FGV / III Exame de Ordem Unificado Ð 2010.3) Em junho de
2009, uma construtora brasileira assina, na Cidade do Cabo, çfrica do
Sul, contrato de empreitada com uma empresa local, tendo por objeto
a duplica‹o de um trecho da rodovia que liga a Cidade do Cabo ˆ
capital do pa’s, Pret—ria. As contratantes elegem o foro da comarca de
S‹o Paulo para dirimir eventuais dœvidas. Um ano depois, as partes se
desentendem quanto aos critŽrios tŽcnicos de medi‹o das obras e n‹o
conseguem chegar a uma solu‹o amig‡vel. A construtora brasileira
decide, ent‹o, ajuizar, na justia paulista, uma a‹o rescis—ria com o
objetivo de colocar

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