Buscar

Apostila HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 224 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 224 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 224 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DAS 
RELIGIÕES
Professor Dr. Fábio Augusto Darius
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; DARIUS, Fábio Augusto.
 
 História das Religiões. Fábio Augusto Darius. 
 Reimpressão
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 
 224 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História 2. Religião . 3. Crenças 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-8084-922-6
 CDD - 22 ed. 200
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Design Educacional
Rossana Costa Giani
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Editoração
Robson Yuiti Saito
Revisão Textual
Keren Pardini
Edson Dias
Ilustração
Robson Yuiti Saito
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Diretoria Operacional 
de Ensino
Diretoria de 
Planejamento de Ensino
Professor Dr. Fábio Augusto Darius
Graduado em História pela Universidade Regional de Blumenau bem como 
graduando em Filosofia. Também sou mestre e doutor em Teologia Histórica 
pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, e leciono História das 
Religiões e História Contemporânea pela Unicesumar.
A
U
TO
R
SEJA BEM-VINDO(A)!
É com grande prazer que entrego a você este pequeno trabalho. Digo pequeno, por as-
sim dizer, visto que é um texto breve e sucinto. Mas não devemos nunca julgar um livro 
pela capa ou pela quantidade de páginas. Espero que você nunca faça isso! O que tentei 
fazer foi, em cinco unidades, contextualizar a história de algumas das religiões mais an-
tigas do planeta de forma leve e equilibrada. Mas, mais do que isso, o que tentei fazer foi 
proporcionar pontos de reflexão acerca dessa temática em relação ao nosso cotidiano. 
Se consegui ou não chegar a este objetivo, espero saber de você para que sempre possa 
aperfeiçoar a escrita e o entendimento.
Este livro, sendo de caráter histórico, não tem a pretensão de abordar sob nenhum as-
pecto a questão da fé, especificamente. Trata-se de relacionar pessoas que em um dado 
momento do passado distante ou relativamente recente pensaram e fizeram algo fan-
tástico para milhões de outras – dando a gerações sucessivas um caminho ético para 
a vida, diferente do pensamento majoritário pós-moderno que pretende encontrar al-
guma possibilidade de sentido por meio de prazeres proporcionados pela matéria. Em 
outras palavras, estudar a história das religiões é estudar sob outra vertente a história do 
mundo. Sem esse importante ponto, qualquer tentativa historiográfica será certamente 
incompleta. Aliás, como certa vez escreveu um grande teólogo, Hans Küng (2006): “não 
haverá paz entre as nações, sem uma paz entre as religiões”. Tentar compreender as reli-
giões é tentar compreender o mundo e suas relações. 
Dito isto, peço a você que se entregue à leitura sem preconceitos e se deixe penetrar 
neste mundo de possibilidades. Certamente esse exercício será muito importante.
Um forte abraço e tudo de bom!
Prof. Dr. Fábio Augusto Darius
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DAS RELIGIÕES
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE 
GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
15 Introdução 
16 Religiosidade, Busca e Encontro do Sentidoda Vida 
27 A Antiga Religião Grega e as Relações entre os Deuses e os Seres 
Humanos 
38 A Vida Como Preparação Para a Morte: O Transcendente Entre os Egípcios 
44 Considerações Finais 
UNIDADE II
O NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS GRANDES TRADIÇÕES 
RELIGIOSAS
55 Introdução
56 O Hinduísmo e a Busca por Elevação Pessoal 
65 O Budismo: A Busca e o Encontro do “Caminho do Meio” 
70 O Judaísmo e a Religião do Deus sem Forma 
79 Maomé e a Impossibilidade de Compreensão de Deus 
85 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
BREVE DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA IGREJA CATÓLICA
95 Introdução
97 Constantino, o Inconstante, e os Primórdios do Catolicismo Romano 
109 A Igreja Católica na Idade Média 
118 A Patrística e a Escolástica: O Desenvolvimento da Filosofia Católica 
128 A Igreja Católica Frente à Modernidade e à Contemporaneidade 
134 Considerações Finais 
UNIDADE IV
CONTEXTO HISTÓRICO DA REFORMA E DO PROTESTANTISMO
145 Introdução
146 Sobre os Reformadores Antes de Martim Lutero: Wycliffe, Huss e Tyndale 
163 Sobre Martim Lutero e Felipe Melanchton 
169 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA E ÁFRICA
181 Introdução
182 A Religião Indígena como Pano de Fundo para uma “Ética do Cuidado” 
185 Antecedentes Africanos da Religiosidade Brasileira 
189 Mórmons e Adventistas: A Irrupção do Sonho Americano e a Contracultura 
198 Os Espíritos do Espiritismo e o Nascimento da “Religião da Razão” 
208 Considerações Finais 
217 CONCLUSÃO
219 REFERÊNCIAS
224 GABARITO
U
N
ID
A
D
E I
Professor Dr. Fábio Augusto Darius
RELIGIÕES E A BUSCA PELO 
SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE 
GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Refletir acerca da relação entre a religiosidade e a busca de sentido 
da vida enquanto processo histórico vivencial.
 ■ Entender a importância histórica da antiga religião grega na 
sociedade contemporânea.
 ■ Perceber na religiosidade egípcia, reflexões para nossos dias.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Religiosidade, busca e encontro do sentido da vida
 ■ A antiga religião grega e as relações entre os deuses e os seres 
humanos
 ■ A vida como preparação para a morte: o transcendente entre os 
egípcios
INTRODUÇÃO
A primeira unidade deste livro privilegiará, embora sucintamente, a história de 
algumas das religiões fundantes de nossa sociedade. Por questões de espaço, foi 
preciso fazer um grande esforço para que, nas páginas aqui elencadas, fossem 
captados alguns elementos exemplificares que, de forma mais ou menos gené-
rica, pudessem ser visualizados em todas as outras religiões. 
Contudo, creio que uma pergunta faz-se absolutamente necessária antes do 
estudo proposto, mesmo para nós, estudantes e professores de História: o que as 
religiões de outrora ainda têm a ensinar para este mundo onde a tecnologia parece 
imperar? Ou, em outras palavras: para que serve a religião e qual a importância 
de estudá-la a sério? Para encetar uma resposta contemporânea para as questões, 
gostaria de citar com as minhas próprias palavras o pensamento de um gran-
dioso filósofo e paleontólogo francês, morto na década de 1950, Pierre Teilhard 
de Chardin – que enfrentou toda a sorte de problemas ao fazer uma tentativa 
muito interessante de harmonização entre a ciência e a religião, tendo inclusive 
muitas dificuldades para lecionar – a partir de um capítulo de seu famoso livro 
“O Futuro do Homem”. Chardin (1964) escreveu que, no contexto da detona-
ção da primeira bomba atômica, ainda nos Estados Unidos, em julho de 1945, 
na localidade do Novo México, Estados Unidos, a grande maioria dos cientistas 
não sabia exatamente o que os esperaria a partir daquela explosão. Muitos, na 
excitação do momento, de forma inconsciente, se prostraram ao chão em posi-
ção fetal, como que clamando pela mãe. 
Devemos sempre lembrar que aqueles homens figuravam entre os maiores 
cientistas do século XX, até então seguros de si e muito bem remunerados pela 
nação que, ao fim daquela guerra, se erigiria como a maior do mundo polarizado 
– e ainda assim estavam atônitos diante do porvir. Diante dessa cena quase ina-
creditável, que simultaneamente mostrou o poder do ser humano ante a natureza 
e escancarou sua grande angústia, podemos pensar em nossos dias que nunca 
estivemos tão poderosos, mas ao mesmo tempo nunca fomos tão fracos e expos-
tos diante de nós mesmos.
A partir dessa reflexão, imagino ser imprescindível a história das religi-
ões antigas como possibilidade de busca de sentido existencial e histórico para 
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
15
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E16
preenchermos algumas das lacunas que sempre existiram em nossas sociedades. 
O que se propõe aqui é identificar o esforço civilizacional dos antigos na busca 
de algo que equilibrasse suas vidas diante das agruras cotidianas. Assim foi com 
os gregos, romanos, egípcios, astecas e tantos outros povos. Assim é hoje. Nada 
indica que será diferente no futuro. 
Boa leitura!
RELIGIOSIDADE, BUSCA E ENCONTRO DO SENTIDO 
DA VIDA
“Gott ist tot” (NIETZSCHE, 2001, p. 148). Eis, diante do mundo contemporâ-
neo, o nosso mundo de incansáveis lidas, o eco daquele grito vociferado por 
Friedrich Nietzsche, que com sua vigorosa marreta tentou e conseguiu, com rela-
tivo sucesso, desconstruir os fundamentos da sociedade ocidental. Mas quando 
Nietzsche gritou afirmativamente constatando (no tempo presente) que “Deus 
está morto”, seu clamor não era o de alguém que havia encontrado um cadá-
ver sem querer, no meio de uma construção ou terreno baldio, tampouco era o 
de um assassino que acabara de cometer um crime passional. Ele confessa, sem 
a angústia de Rodion Românovitch Raskólnikov, o miserável protagonista do 
“Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski – em busca da salvação de sua alma 
por meio do martírio dos campos siberianos – que não apenas ele, mas você e 
eu matamos Deus. Seu corpo hoje se encontra perenemente sepultado nas igre-
jas frias e vazias.
Friedrich Nietzsche nasceu em um vilarejo chamado Röcken, na Prússia 
– uma parte da Alemanha antes de sua unificação, nos anos 70 do século 
XIX – no dia 15 de outubro de 1844. Seu pai, Karl Ludwig era pastor protes-
tante luterano e sua mãe também era oriunda de uma família de pastores, 
sendo desejo da família que o jovem Friedrich seguisse os passos paternos. 
Nietzsche, ao terminar seus estudos secundários inscreve-se na Universi-
dade de Leipzig (onde o grande Johann Sebastian Bach, também protes-
tante luterano, sendo a religião absolutamente importante em sua vida e 
obra, passou parte da vida, mais de um século antes) para cursar teologia. 
Foi grandemente influenciado por dois grandes expoentes de sua época: 
Arthur Schopenhauer, filósofo, e Richard Wagner, um grande compositor, 
posteriormente um dos preferidos de Adolf Hitler. É um dos precursores do 
niilismo, baseado na descrença absoluta de tudo e todos, representando 
muito bem o zeitgeist, ou espírito de sua época. Fonte: o autor
Religiosidade, Busca e Encontro do Sentido da Vida
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
17
O fato de Nietzsche, nascido em 1844, encontrar a morte precisamente em 1900,ou seja, faltando um ano para o início daquele período que Allan Kardec havia 
chamado de “plenitude dos tempos”1 é emblemático. Arrisco dizer que quase 
intangível foi a decepção dos entusiastas do novo mundo no que diz respeito ao 
engrandecimento moral dos seres humanos, principalmente pelo o que viria a 
seguir. O século XX, que conforme o grande historiador Eric Hobsbawm começou 
muito tardiamente, apenas em 19142, foi testemunha de um movimento indelé-
vel e extremamente significativo na história da civilização ocidental: depois de 
uma guerra de alcance mundial que durou quatro anos e ceifou a vida de milhões 
1 Embora o termo “plenitude dos tempos” possa parecer exagero, o racionalista Hippolyte Léon Denizard Rivail, sob o 
pseudônimo Allan Kardec, assim compilou em sua Revista Espírita, de agosto de 1867: “Oh! Quanto a face do mundo 
será mudada para aqueles que verão o começo do século próximo!... Quantas ruínas verão atrás de si, e que horizontes 
esplêndidos de ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão os cantos de alegria; após as abrirão diante 
deles!... isso será como a aurora pisoteando as sombras da noite;... as angústias, os homens renascerão para a esperança... 
Sim! o vigésimo século será um século bendito, porque verá a era nova anunciada pelo Cristo” (KARDEC, Allan. Revista 
Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Araras: Instituto de Difusão Espírita, 1999, p. 173).
2 O “breve século XX” foi, para este mesmo historiador, um dos mais tristes e sangrentos de toda a história da civilização, 
tendo se iniciado com a Primeira Guerra Mundial e terminado com a queda da União Soviética. Para muito melhor 
contextualização e como aconselhamento bibliográfico básico para qualquer futuro historiador, recomendo a leitura do 
texto completo, conforme referência a seguir: HOBSBAWM, Eric John. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. 
2. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
de pessoas, incluindo em sua maioria, civis inocentes, muitos passaram a ques-
tionar, de forma séria, a amplitude e significado de algumas palavras que desde 
a mais tenra infância sabiam de cor... “O Senhor é o meu Pastor e nada me fal-
tará”. Ora! Faltou o pão. Faltou o açúcar. Cortaram a água quente e finalmente 
não havia sequer uma gota de água para milhões de moribundos. Bombardearam 
cidades e acabaram com o emprego. Quantos jamais deram o derradeiro beijo 
em suas famílias. Deus só podia estar mesmo morto. 
Tão grande foi essa sensação de abandono e vazio existencial que até mesmo 
sacerdotes (padres e pastores, indistintamente) trocaram a Bíblia pelo relativismo 
inaugurado por Nietzsche. Assim fez Paul Tillich (1959, p. 47-50), um grande 
teólogo e professor em Princeton, ao escrever que:
Lembro-me que sentava entre as árvores das florestas francesas e lia 
“Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche, como faziam muitos outros sol-
dados alemães, em contínuo estado de exaltação. Tratava-se da libera-
ção definitiva da heteronomia. O niilismo europeu desfraldava o dito 
profético de Nietzsche, ‘Deus está morto’. Pois bem, o conceito tradicio-
nal de Deus estava morto mesmo.
Embora essa suposta morte de Deus possa vir a ser “o diagnóstico da ausên-
cia explícita de Deus no pensamento e nas práticas do ocidente moderno” 
(MACHADO, 1994, p. 22), essa explicação não parece ser suficiente àquelas 
pessoas que tentam dar sentido à vida. Assim, a busca de sentido, para muitas 
pessoas, oscila entre a busca da religiosidade explícita ou a tentativa de respostas 
sob o âmbito estritamente filosófico. Experimente observar nas livrarias a seção de 
Espiritualidade e Autoajuda. Provavelmente você não conseguirá acompanhar a 
quantidade muitíssimo grande de novos títulos que chegam praticamente a cada 
semana. É disso que estamos falando aqui: de um lenitivo, seja ela qual for, para 
superação das questões que materialmente se mostram insuperáveis. Mas não se 
preocupe! Esse texto tem a pretensão de manter, apesar dos recortes filosóficos 
pontuais e estritamente necessários, a sua dimensão iminentemente histórica, e 
este autor não tem, intencionalmente, por meio destas páginas, o desejo de res-
taurar ou converter ninguém, embora o mundo precise ser convertido para o 
melhoramento de toda a sorte de relações humanas.
Religiosidade, Busca e Encontro do Sentido da Vida
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
19
Como rápido aporte filosófico e como tentativa de mais uma vez justificar 
a grande importância da história da religião, principalmente para a contempo-
raneidade, cito o existencialista Albert Camus (1913-1960) e sua tentativa de 
encontrar um sentido para a vida – o que, a rigor, é uma das atribuições básicas 
da fé, seja ela institucionalizada sob a potência de uma grande denominação reli-
giosa ou não. Segundo Camus, o ser humano está condenado a morrer.
Contudo, ele vê como um absurdo o fato de que um dia, querendo ou não, 
o ser humano vai morrer. Há grande absurdidade na morte em si, portanto. 
Para ele, diante disso, o único objetivo da vida deve ser o de buscar a felicidade, 
seja qual seja essa felicidade. Aqui vale um parêntese importante: desde tempos 
quase imemoriais, todas as civilizações, sem exceção, tinham seus mais diver-
sos cultos religiosos, sendo um dos objetivos principais alcançar iluminação que 
favorecesse o acesso ao transcendente e respondesse à pergunta pelo sentido da 
vida, bem como o ultrapassar da morte fosse atingido. Os baigas, por exemplo, 
tribo indígena da Índia central que surgiu pelo menos há uns 3.000 anos antes 
de Cristo, “se consideram filhos de Dharti Mata, a Mãe Terra, acreditam que 
foram criados para serem os guardiões da floresta – uma missão que executam 
desde o início dos tempos” (AMBALU; COOGAN; FEINSTEIN, 2014, p. 32). 
Uma nobre tarefa, sem dúvida, que os motivava a continuar.
Por sua vez, o grande Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, escreveu 
que uma vida justa leva à felicidade – estado de espírito que a religião geralmente 
promete de forma irrestrita àqueles zelosos que seguirem os ditames divinos. 
Para Camus, voltando à nossa linha de pensamento, tragédia total é morrer e 
não alcançar a dita felicidade, que como acabamos de ver, é perseguida, a seu 
modo, desde que o ser humano existe. Diante dessa busca, há sempre o fator 
“esperança”, porque você sabe muito bem que a vida é quase sempre grandemente 
menos suave do que gostaríamos que ela fosse. Para exemplificar de forma pala-
tável esta possibilidade de esperança, Camus (1961) retoma aos mitos gregos e 
desenterra Sísifo, que por algum motivo bastante grave provocou a ira dos deuses, 
recebendo como castigo uma grande pedra que deve ser sempre, infinitamente, 
rolada morro acima. Contudo, assim que a pedra chega ao ápice do morro, ela 
rola para baixo e a tarefa recomeça. Deve-se perguntar o porquê de Sísifo não 
abandonar a exaustiva tarefa. A resposta não parece ser das mais complicadas: 
Nenhuma Providência, nenhum Deus dirige o universo; todos os fenômenos 
não passam de aspectos de uma cega vontade de viver; essa vontade de 
viver absurda, sem razão ou finalidade, releva-se como a essência do mun-
do; a dor que dela nasce constitui a única realidade [...]. (ARTHUR SCHOPE-
NHAUER)
Se por ventura você ficou curioso sobre Sísifo, saiba que ele foi um dos maio-
res ofensores dos deuses gregos. Tão ofensivo, que será impossível narrar 
sobre ele completamente aqui! Ele tentou matar seu irmão, enganou Hades, 
o deus do mundo subterrâneo, duas vezes, enfureceu Zeus e, ao morrerde 
velho, o pai dos deuses enviou seu mensageiro Hermes para levá-lo ao tár-
taro, o mundo dos mortos. Lá recebeu a tarefa que Camus tão bem explicou 
em seu texto, querendo dizer que os mortais simplesmente não podem ter 
e nunca terão a total liberdade de um deus. Assim, quando há um trabalho 
chatíssimo, longo e fadado inexoravelmente ao fracasso, este é um “traba-
lho de Sísifo”! Fonte: o autor
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
Sísifo, agarrado à sua vida, tem esperança de que um dia sua tarefa findará e 
assim ele encontrará grande gozo e felicidade. 
Ainda outro filósofo existencialista, Jean-Paul Sartre, tentou dar sentido à vida 
sem elencar a presença de Deus. Retomou ao já citado Dostoiévski ao escrever 
que “se Deus está morto, então tudo é permitido” (DOSTOIÉVSKI, 2008, p. 108-
109). Dessa forma, a existência torna-se um grande dilema visto que, em sua 
concepção, o ser humano é condenando a ser livre e definir por si mesmo o sen-
tido de seu ser. A religião equilibrada, que a história mostrou e tem mostrado 
não ser sempre o caso, sem plenamente cercear do ser humano a possibilidade de 
escolha entre o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto, ao contrário, 
Religiosidade, Busca e Encontro do Sentido da Vida
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
21
permite que se escolha autonomamente.
Contudo, sob o prisma religioso, o fim não se encontra na vida cotidiana, 
que se mostra processual para obtenção futura da salvação – aí sim, eterna, 
imutável em seu estado glorioso e gozosa por definição. Eis assim citada a pro-
messa desde os tempos bíblicos e válida ainda hoje para todos os crentes do 
mundo. Essa perspectiva de uma vida com propósitos, assim, genericamente 
exposta, pode ser chamada de teleológica, conceito muito importante tanto 
para a Filosofia quanto para a Teologia, disciplinas irmãs da História – princi-
palmente a História das Religiões.
A verdade é que muitos parecem conseguir encontrar a felicidade sem a invo-
cação de um deus e são felizes vivendo da forma como vivem. Contudo, ainda 
que assim o façam, é preciso levar em conta que imiscuída em nossa sociedade 
de consumo aparentemente basilada pelo ter reside, embora muitos neguem, 
uma ética fortemente baseada no cristianismo e quase que invariavelmente este 
cristianismo sob as mais variadas formas é utilizado para subsidiar, às vezes de 
forma indireta, nossos anseios pela busca de significado da vida. Em outras pala-
vras, a busca pelo Transcendente via religião parece ser para muitos o caminho 
mais fácil de obtenção de sentido em uma vida aparentemente sem nenhum.
Talvez seja por isso que em nossos dias tantas igrejas “pululem” em cada 
esquina. Há uma percepção de “desencantamento com o mundo” (THIRY-
CHERQUES, 2009), que o sociólogo Max Weber tratou tão bem ao longo de sua 
obra. Por desencantamento, uma das traduções mais adequadas talvez seja aquela 
que fala em “desmagicização” do mundo, ou seja, pela falta de encanto mágico 
pela vida, em virtude do descobrimento do funcionamento de quase tudo o que 
nos rodeia. É quase como uma volta àquela reflexão introdutória proposta por 
Chardin, mas talvez aqui em um outro nível, que diz respeito à necessidade de 
busca do intangível para que a existência tenha sentido. Assim, muitas pessoas 
olham para o céu e para dentro delas mesmas esperando por essas respostas.
Outras assumem posição diferente e ao invés de olharem para e apenas a 
“parte de cima” resolvem simplesmente mudar o lugar social recuperando “a sua 
consciência e a sua dignidade de que são sujeitos da História” (BLANK, 2008, 
p. 81). Dessa forma,
as pessoas começam a se compreender não mais como objetos de forças 
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E22
anônimas e incontroláveis, mas como sujeitos e protagonistas do agir 
histórico. A base para esse agir, porém, não é encontrada em alguma 
ideologia política ou social. Ela muito mais se fundamenta naquilo que 
é a grande característica dos povos latino-americanos: sua fé. Com base 
nela e partindo de suas novas experiências em nível econômico, políti-
co e social, forma-se em muitos homens e mulheres uma nova consci-
ência (BLANK, 2008, p. 82).
Não poderia deixar de concluir esta primeira e praticamente introdutória parte 
sem citar outro filósofo que muito pode contribuir para uma reflexão mais pro-
funda e direta acerca do sentido da vida, com ou sem o viés das religiões, trata-se 
do filósofo alemão Martin Heidegger. Heidegger, outro autor que deve ser estu-
dado com afinco por historiadores que buscam muito mais do que apenas o já 
grandemente ultrapassado método de buscar meramente informações históri-
cas. Um professor de História que assim procede dificilmente faz com que seus 
alunos gostem de sua disciplina. Além disso, sabemos que quando o aluno por 
qualquer motivo deixa de gostar de determinada disciplina, ele acaba quase 
sempre transferindo sua indisposição para o professor. Dessa forma, podemos 
afirmar que, se a História não servir para nossa vida hoje – visando ou não o 
passado com vistas ao futuro –, então ela não serve e dificilmente servirá para 
coisa alguma. Pois bem: como dizia antes, Heidegger é um daqueles filósofos e 
escritores que não podem ser deixados de lado por quem almeja entender a his-
tória do século XX de forma mais completa. Ele nasceu em 1889 e morreu em 
1976 e, dentre vários alunos famosos, foi professor do já citado Jean-Paul Sartre.
Para resumirmos bem seu trabalho, podemos afirmar que, para ele, o ser 
humano, para viver adequadamente, deve ter um projeto de vida. Ora, projeto é 
algo que, como diz o próprio termo, do latim projectare, é lançado sempre para 
frente, como um projétil de uma arma, por exemplo, ou para ser menos belicoso, 
projeto de pesquisa onde você escreve o que pretende fazer academicamente 
nos próximos dois ou quatro anos. Sem um projeto, a vida tende a ser sem sen-
tido. Olhemos para o caso da maioria dos alunos em História, por exemplo: 
posso imaginar otimistamente que quase todos almejam terminar a graduação 
em História e receber o canudo que comprovará que estão aptos para lecionar 
a disciplina. Isso é, desde agora, uma tarefa grandemente desejável e absoluta-
mente necessária!
Religiosidade, Busca e Encontro do Sentido da Vida
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
23
Partindo desta linha de raciocínio, posso continuar imaginando que o sonho 
de parte dos alunos de História inclui acordar todos os dias e lecionar a disciplina 
que escolheu aperfeiçoar ao longo de anos durante os próximos anos. Aliás, ouso 
dizer que antes disso, ou seja, de você tomar a decisão de começar uma gradua-
ção em História, você refletiu muito sobre isso e quem sabe até mesmo conversou 
um bocado com a sua família e amigos sobre aquela que ainda seria uma deci-
são futura. Provavelmente alguns até mesmo fizeram uma oração nesse sentido.
O que estou querendo dizer aqui é que um projeto de vida, especial e prin-
cipalmente aqueles projetos que incluam em sua execução o melhoramento da 
vida de outras pessoas, serve como uma espécie de antídoto contra um dos gran-
des males civilizacionais contemporâneos, que basicamente é viver uma vida 
inautêntica. Ora, vida inautêntica é simplesmente uma vidavivida sem ques-
tionamentos e mudanças. Em outras palavras, vida inautêntica é uma vida sem 
propósitos. É simplesmente aceitar as coisas tais como elas são e finalmente ser 
vencido pela massificação propiciada por nossa sociedade de consumo que apenas 
e tão somente leva em conta os consumidores, como se os “outros” sequer fossem 
considerados cidadãos. É a vida daquele pobre homem profundamente pessi-
mista que aos 45 anos de idade sabe que já não é mais tão jovem para recomeçar 
– embora sempre seja tempo! – e ao mesmo tempo percebe que naturalmente 
ainda terá que trabalhar muito naquilo que não lhe agrada, mal ajuda as outras 
pessoas e é mal remunerado.
Diante desta grande desilusão e terrível perspectiva de vida, ele se convence 
de que os grandes prazeres da vida podem ser resumidos em poucas coisas: uma 
grande televisão com muitos canais, um sofá confortável e boa comida, não neces-
sariamente saudável – porque geralmente alguém nesse estado se autossabota! 
Com o passar do tempo, se esse triste homem acima genericamente exemplificado 
não mudar drasticamente suas atitudes com relação a ele mesmo, inevitavel-
mente vai morrer sem ter feito coisa alguma que valha a pena elencar, sob sua 
própria ótica. Isso é uma grande tragédia, com certeza absoluta muito maior do 
que a perda da vida de alguém que viveu com propósitos. Até porque, como já 
escreveu Viktor Frankl, um renomado psicólogo que sobreviveu ao inferno da 
vida em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, “quanto 
mais o homem busca unicamente o prazer, tanto mais ele vai perder esse prazer 
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E24
e começar a viver progressivamente dentro de um vácuo existencial” (FRANKL, 
1979, p. 101), o que provoca grandes temores em nosso mundo, exceto para quem 
voluntariamente desiste da busca.
É óbvio que, mesmo para aqueles que têm múltiplos projetos de vida, existe 
sempre a tenebrosa chance de fracassar. Arrisco dizer que poucos podem afir-
mar com certeza que escaparão para sempre (enquanto a vida durar), daquilo 
que nosso citado autor chamou de “angústia existencial”. Essa angústia se dá pelo 
fato de que todos aqui, sabendo que um dia iremos perecer, finalmente, ante 
nossos projetos, fracassaremos. Afinal, não podem existir projetos para aqueles 
que morrem. Em nosso mundo fugaz, falso e artificial, as pessoas têm buscado 
de muitas formas, no mínimo, estender a vida ou, ao menos, dar a impressão de 
fazê-lo, exteriormente que seja.
Diante dessa reflexão, pode-se imaginar sem ressalvas o papel da religião 
cotidiana: a perspectiva de vida depois da vida permite dar esperança de con-
tinuidade de realizações e novos projetos. Sabe-se, principalmente pelo grande 
número de conversões, principalmente pelo reporte fornecido pelas igrejas evan-
gélicas de caráter neopentecostal, por exemplo, que milhares de projetos de vida 
são reestabelecidos sob a égide de Cristo. Precisamente nesse ponto, cabe aqui 
perguntar: por que tantas igrejas surgem em nosso tempo tão tecnológico e supos-
tamente avançado? Não seria, novamente, pela tentativa de busca de sentido que 
as realizações materiais não proporcionam, em um mundo cheio de tristeza e 
opressão? Visto dessa forma, religião pode ser conceituada facilmente como um 
excelente professor meu certa vez falou: “é o exercício humano de transcender e 
transpor os limites do tempo e do espaço, através da imaginação, indo na busca 
de sentido, de valor, de contato, de esperança, para que a vida seja suportável e 
viável” (ADAM, 2012, p. 300).
Nessa busca por trás dos limites do tempo e do espaço, o ser humano se 
encontra com Deus. Assim, é muito mais fácil para a maioria das pessoas pen-
sar a própria vida concatenada com Ele e com a própria história da humanidade, 
como outro grande mestre que tive o privilégio de conhecer e escreveu as alen-
tadoras palavras abaixo dispostas:
Deus não “silencia” diante do sofrimento humano, tampouco se ausen-
ta. Ele está, sempre, no meio de nós. Também na dor, também no so-
Religiosidade, Busca e Encontro do Sentido da Vida
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
25
frimento, também na cruz. Ele estava nas câmaras de gás do holocaus-
to, Ele estava em meio aos povos indígenas brutalmente assassinados 
pelos conquistadores, e ainda está no meio deles. Ele está em meio aos 
pobres do mundo inteiro. Ele estava nos porões da tortura. Afinal, Ele 
mesmo foi brutalmente torturado na Cruz. Como não estaria conosco 
sempre? (DREHER, 2014, p. 2).
Dessa forma, ou seja, aproximando Deus das questões cotidianas, Ele se torna 
parte da história e assim, por este “novo” enfoque, estudar história das religi-
ões não deixa também de ser um estudo da história da própria civilização sob 
o prisma religioso e suas diversas bifurcações. Para fundamentar este enfoque, 
bem como a nossa busca de fundamentos teórico-práticos para a tentativa de 
entendimento reflexivo acerca do sentido da vida e das possibilidades múltiplas 
que o estudo da história das religiões permite, surge um outro grande teólogo, 
também alemão, que não deve ser deixado de lado quando se pretende estudar 
tanto história das religiões quanto teologia pura e simplesmente.
Trata-se de um simpático senhor chamado Wolfhart Pannenberg. Não se 
engane se, ao encontrar espessos volumes de sua Teologia Sistemática, você pas-
sar a imaginá-lo como um intelectual fechado para o mundo. De acordo com 
suas teorias, “Deus se revela indiretamente mediante a proeza que ele realiza na 
história: revelação como auto-revelação histórica indireta; revelação como histó-
ria” (GIBELLINI , 2002, p. 271). Assim, resumindo muito, diz nosso autor algo 
no mínimo interessante sob nossas perspectivas de estudo:
[...] não se pode falar de revelação como palavra, e sim de revelação 
como história; Deus não se auto-revela diretamente por sua palavra 
endereçada ao homem, e sim indiretamente, na língua dos fatos, isto 
é, por meio de suas intervenções na história, entre as quais a ressur-
reição de Cristo – vista em suas ligações com o passado da história de 
Israel e em seu caráter proléptico do fim e da consumação da história 
em dimensão cósmica – constitui fato histórico revelador, decisivo e 
definitivo, da história universal e do destino do homem (GIBELLINI 
, 2002, p. 271).
Creio não poder encontrar definição melhor como a acima para descrever o papel 
revelador de Deus na história, levando em conta um fato cósmico fundante e 
intimamente pessoal e espiritual como a ressureição de Cristo em linha com os 
acontecimentos futuros. Cabe também à religião o papel de dar sentido à própria 
Em que sentido, podemos afirmar sem embargo que Deus não está morto? 
E em que sentido, é possível dizer que Ele está? 
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E26
história que, para os judeus (os de ontem e os de hoje), é sempre uma história de 
progresso, visto que é história linear. Assim, saímos de um ponto específico no 
tempo e no espaço em direção a outro, naquele dia vindouro da irrupção mes-
siânica que dará fim aos clamores com a derrota da morte. Só para levarmos em 
comparação, entre os gregos, a percepção de história era bem diferente, não sendo 
linear, mas cíclica. Talvez por isso, muito dificilmente algum ateniense se ateria 
aos questionamentos sobre o sentido da vida. Ora, se a vida é cíclica, o que você 
faz serve precisamente para o que tem que servir e se você assimnão fizer, den-
tro da cósmica, uma peça estará mal encaixada, por assim dizer. 
Filosofia, teologia, religiosidade tradicional (sem esquecer a popular) ou sob 
as mais diversas formas. Em nosso mundo plural, onde as pessoas têm buscado 
desesperadamente um sentido, estudar a história das religiões e sua importân-
cia nos mais diversos momentos da civilização faz-se ainda mais necessário hoje 
do que em qualquer outra época. Essa tentativa de autocompreensão é libertá-
ria ao reafirmar o ser humano e sua trajetória, sempre traçada por ele. A partir 
desse primeiro tópico, ao mesmo tempo histórico e filosófico, estudar a civili-
zação antiga sob o viés da religião parece fazer todo sentido, discordando das 
palavras de Nietzsche que abriram esta unidade, onde afirmou que Deus está 
morto. Embora ao longo da história os seres humanos tenham, nas mais diver-
sas vezes, tentado matá-Lo3, Ele se faz mais do que nunca percebido, como nos 
mostram as religiões de ontem e de hoje. 
3 A ideia da morte de Deus ou dos deuses, que Nietsche (sic) retoma [como visto na sequência], de modo certamente 
novo, tem uma longa e multiforme tradição: 1) o espantoso “crepúsculo dos deuses” (ragnarok), descrito pelas mitologias 
germânica e escandinava; 2) o grito “o grande Pã morreu!” que, segundo Pausânias, foi ouvido pelos marinheiros helênicos 
do barco de Tamos, na altura do nascimento de Cristo; 3) o “Deus morreu” de Hegel da “sexta-feira especulativa”, em que 
morre o Deus abstrato” para ressuscitar o “Deus concreto”; 4) o “Discurso do Cristo morto” (1796) do poeta alemão Jean 
Paul Richter, descrevendo um pesadelo no qual vê Cristo, no topo do mundo, declarar que não há Deus; 5) a “morte do 
velho Jahvé”, celebrada por H. Heine no poema Germânia; 6) o corpo morto e malcheiroso do “Ser primitivo eterno” e de 
que fala Schopenhauer (+1852); 7) o provocador “matar Deus” de Max Stirner; 8) o “Deus morreu” de Gérard de Nerval em 
seu poema “Amélia”. Fonte: BOFF, Clodovis. O Livro do Sentido: Crise e Busca de sentido hoje (Parte Crítico-Analítica). 
São Paulo: Paulus, 2014, Volume I, p. 274.
A Antiga Religião Grega e as Relações entre os Deuses e os Seres Humanos
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
27
A ANTIGA RELIGIÃO GREGA E AS RELAÇÕES ENTRE 
OS DEUSES E OS SERES HUMANOS
Gostaria de partilhar com você uma experiência muito bonita que tive enquanto 
professor de Ensino Médio em uma excelente escola na Serra Gaúcha, durante 
cinco anos. Somente agora, pensando sobre ela para escrever estas palavras, con-
sigo claramente perceber que a experiência se repetiu também em outras escolas 
onde anteriormente trabalhei e mesmo com alunos da graduação e também da 
pós-graduação, quase sempre com o mesmo entusiasmo.
Não sei até que ponto você já teve contato com alunos exercendo a nobre 
função de professor ou se mesmo agora trabalhando na área da educação. Mas 
certamente aqueles que desde já são professores de crianças e adolescentes sabem 
o quão difícil é mantê-los absortos em uma determinada explicação por mais 
de cinco ou seis minutos que seja. Aliás, segundo estudos recentes, não muito 
do que isso os adolescentes conectados de nossos dias conseguem se concentrar 
em determinado assunto, mesmo aqueles de interesse. Assim, eu demandava um 
grande esforço para produzir aulas que fossem dinâmicas e ao mesmo tempo 
atingissem os objetivos necessários, quase sempre deixando a sala de aula, ao 
final do turno, um tanto frustrado e cansado. Mas quando falava sobre mitolo-
gia, a postura dos alunos mudava totalmente: os quarenta e cinco minutos do 
período passavam “voando” e mesmo diante de quatro dezenas de adolescentes, 
às vezes até mais, e mesmo alunos estrangeiros, as aulas eram ministradas com 
a porta aberta, sem percepção de ruídos oriundos da sala de aula.
Assim, muito feliz, concluí que os alunos simplesmente (independentemente 
da classe social) gostam de mitos, principalmente os gregos, que não perdem 
sua atualidade mesmo mais de dois mil e quinhentos anos depois. Por que será 
que isso acontece e por que tantos livros e filmes atualmente são lançados com 
essa temática? Em uma dessas aulas, eu resolvi fazer esta pergunta. Por incrível 
que pareça, recebi respostas muito parecidas entre si. Basicamente elas diziam o 
seguinte, que aqui resumirei genericamente com minhas próprias palavras: “os 
mitos fazem com que nós saiamos de nossa realidade e com eles podemos vis-
lumbrar a partir de lindas histórias de deuses e homens, sentimentos que não 
perecem, apesar de tudo”. Também pudera: estudando da manhã à noite, as 
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E28
aulas sobre mitologia serviam como uma espécie de descanso da racionalidade 
extrema imposta por nosso mundo que não sossega um segundo que seja. Mas 
ainda mais intrigante para mim, a partir da resposta acima, foi a similaridade 
do entendimento conceitual deles em relação ao conceito de religião que traba-
lhamos em algumas páginas acima.
Você está lembrado(a) que, para um antigo (embora jovem) e brilhante pro-
fessor que tive, religião, segundo as palavras de Adam (2012, p. 300), 
é o exercício humano de transcender e transpor os limites do tempo e 
do espaço, através da imaginação, indo na busca de sentido, de valor, de 
contato, de esperança, para que a vida seja suportável e viável? 
E então, meus inesquecíveis alunos disseram, sem aparentemente conhecer o 
conceito de religião que expus e sem tratar especificamente de religião naquelas 
aulas, que os mitos servem para que saiamos de nossa realidade [...]!
Pude concluir rapidamente que eles fizeram uma conexão natural entre a 
mitologia grega, ou seja, a religião da antiga Grécia, e a atual religião ocidental, 
sob as mais diversas formas. Nessas aulas, devo dizer a você que nunca traba-
lhei diretamente o conceito de mitologia como de religião específica. Aliás, de 
acordo com um perspicaz escritor do século XVIII, cujo livro ainda continua 
sendo editado e alcança grande sucesso de vendas:
As religiões da Grécia e da Roma antigas desapareceram. As chamadas 
divindades do Olimpo não têm mais um só homem que as cultue, entre 
os vivos. Já não pertencem à teologia, mas à literatura e ao bom gosto. 
Ainda persistem, e persistirão, pois estão demasiadamente vinculadas 
às mais notáveis produções da poesia e das belas artes, antigas e moder-
nas, para caírem no esquecimento (BULFINCH, 2006, p. 13).
Era sob este aspecto que eu tratava dos mitos naquelas aulas: literatura e bom 
gosto! Mas “conectando os cabos”, eles acabaram concluindo que ainda que a 
antiga religião grega hoje nos sirva também como espécie de lustre cultural, ela 
mantém as características básicas da religião e estudá-la sob a perspectiva his-
tórica se faz necessário como disciplina fundante para entendimento de nossa 
própria era.
Brilhantemente, mas sem a mesma erudição, esses alunos mal sabem que 
chegaram extremamente próximos da resposta de um grande mitólogo (sim, a 
profissão existe!) morto em 1987, Joseph Campbell, que teve uma vida duplamente 
A Antiga Religião Grega e as Relações entre os Deuses e os Seres Humanos
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
29
feliz tanto por trabalhar com mitos e religião comparada quanto por viver em 
Honolulu, no Havaí, e deslumbrar de um pôr do sol paradisíaco. Aliás, muitas 
pessoas de todas as partes do mundo, desde tempos imemoriais até hoje, con-
seguemenxergar certos deslumbres espirituais ao observar a natureza em sua 
plenitude e isso se aproxima, de alguma forma, de certas manifestações da antiga 
religião grega e mesmo outras, de caráter panteísta. Por panteísmo, podemos 
dizer que deus é tudo e tudo é deus, incluindo nesse “tudo”, homens, animais e 
natureza. Há, portanto, sob esta ótica, uma ligação intrínseca entre o ser humano 
e a natureza, ligação essa inclusive de caráter espiritual. Por favor, tente não con-
fundir este conceito com o de animismo, ou seja, espécies de espíritos que vivem 
em todas as partes protegendo tudo e todos. Nos dias de hoje, a teologia tradi-
cional tenta, por meio do estudo da própria doutrina, seja ela bíblica ou não, 
manter essas tendências o mais longe possível, principalmente no caso do cris-
tianismo e do judaísmo.
Além de todas essas pequenas e grandes felicidades, Joseph Campbell teve o 
privilégio de ser amigo de George Lucas, que (e isso provavelmente quase todos 
os garotos e homens na faixa dos 30, 35 anos sabem) produziu a milionária 
série de filmes chamada de Star Wars (ou Guerra nas Estrelas). Lucas, devedor 
da análise de Campbell acerca da construção de sua história – que não coinci-
dentemente é recheada de mitologias –, certa vez convidou-o para assistir a um 
desses filmes da série em seu rancho. Campbell, impressionado com os feitos 
heroicos de Luke Skywalker, então afirmou:
É o que Goethe disse no Fausto, mas que Lucas expressou em lingua-
gem moderna – a mensagem de que a tecnologia não vai nos salvar. 
Nossos computadores, nossas ferramentas, nossas máquinas não são 
suficientes. Temos que confiar em nossa intuição, em nosso verdadeiro 
ser (CAMPBELL, 1990, p. 8).
Para isso servem os mitos! Servem para que sejamos frequentemente lembrados 
de que precisamos confiar em nossa essência, em “nosso verdadeiro ser”, sem 
tanta dependência das múltiplas tecnologias que nos assaltam cotidianamente. 
Os mitos servem para lembrar que nós temos um caudaloso rio de sentimentos 
e desejos que não podem ser destruídos mesmo diante da iminência da morte 
ou das dificuldades da vida. Servem para reencantar o mundo (você lembra que 
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E30
acabamos de falar sobre isso algumas páginas acima?) com histórias inspirado-
ras, mas também para lembrar que homens e mulheres são passionais e podem 
cometer as maiores e mais impensadas barbaridades, com consequências eter-
nas, como foi precisamente o caso de Sísifo. Sem mais delongas, eis, segundo o 
jornalista Bill Moyers (apud CAMPBELL, 1990, p. 10), o que é mitologia
Eu tinha dito que a mitologia é um mapa interior da experiência, traça-
do por alguém que empreendeu a viagem. Creio que ele não endossaria 
a prosaica definição do jornalista. Para ele, mitologia era “a canção do 
universo”, “a música das esferas” – música que nós dançamos mesmo 
quando não somos capazes de reconhecer a melodia. Ouvimos seus 
refrãos, “quer quando escutamos, com altivo enfado, a ladainha ritu-
al de algum curandeiro do Congo, quer quando lemos, com refinado 
enlevo, traduções de poemas de Lao Tsé, ou rompemos a casca de um 
argumento de S. Tomás de Aquino, ou apreendemos, num relance, o 
sentido radiante ou bizarro de uma lenda esquimó”.
Você consegue perceber, a partir da citação acima, a grande possível assimila-
ção do mito com a religião, seja ela de matriz europeia ou africana, ocidental ou 
oriental? Eis aqui, ainda que “estranhamente”, porque é universal, um dos moti-
vos porque os mitos, principalmente os gregos, mas também os nórdicos, são 
ainda hoje festejados no mundo inteiro.
Dito isso, talvez aqui seja precisamente a hora de falarmos sobre um perso-
nagem fabuloso que em suas obras, hoje clássicas, escreveu sobre os múltiplos 
deuses do Olimpo e suas relações com os seres humanos, mas não resistirei à 
tentação de, antes, apresentar a você uma teoria importantíssima de um escritor 
fantástico, embora não tão famoso quanto Homero, que fez com muito sucesso 
uma tentativa de explicação de fatos históricos religiosos do passado com o 
desenvolvimento de princípios que ainda hoje cultuamos. Não quero aqui levan-
tar polêmicas que os historiadores geralmente pouco levam a sério, como a obra 
do suíço Erich von Däniken, que ainda nos anos sessenta escreveu um texto 
muito comentado mesmo nos dias de hoje chamado “Eram os deuses astronau-
tas?”. Nesse livro, o autor intenta a possibilidade de relação entre a construção 
das pirâmides do Egito, as grandes linhas de Nazca, os moais misteriosos da Ilha 
de Páscoa, dentre outras grandes obras. Diz mais: para ele, tudo isso foi arquite-
tado muito tempo atrás por antigas e avançadas civilizações extraterrestres, que 
aqui chegaram e convenceram as nossas antigas civilizações de que eles mesmos 
Exemplo da riquíssima cultura grega 
Fonte: arquivo pessoal
A Antiga Religião Grega e as Relações entre os Deuses e os Seres Humanos
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
31
eram divindades. Você pode imaginar o alcance de um livro assim, escrito um 
ano antes de Neil Armstrong pisar na Lua e dizer a famosa frase: “um pequeno 
passo para o homem, um grande salto para a humanidade”? 
Refiro-me, a sério, a 
um autor que, ao contrário 
de Däniken, teve sua obra 
publicada pela editora da 
universidade de Yale, uma 
das mais famosas do mundo, 
situada nos Estados Unidos 
e referência nos estudos de 
religião, dentre muitas outras 
áreas. Trata-se do (adivinhe a 
nacionalidade dele!) alemão 
Karl Jaspers, que também foi 
médico, psiquiatra e filósofo. 
Em suas pesquisas e refle-
xões, ele escreveu que em 
um momento propício da 
história da humanidade, que 
ele chamou de Era Axial, grandes e maravilhosas obras (não apenas materiais, 
mas morais e espirituais) se deram tanto no que chamamos de mundo ociden-
tal quanto no oriental. Você duvida? Posso entendê-lo(a) perfeitamente! Afinal, 
segundo o próprio Jaspers, isso nunca mais aconteceu em nenhum momento de 
nossa história, nem mesmo palidamente.
Para ele, nesse ponto específico da história se deu, inclusive de forma total-
mente evidente, o desenvolvimento pleno da espiritualidade. Diz Jaspers (1965, 
p.1) que “o processo espiritual aconteceu entre 800 e 200 antes de Cristo, demar-
cando uma profunda divisão na história da humanidade”. Se você gosta de filmes, 
principalmente os clássicos, talvez aqui possamos fazer uma boa analogia com 
aquele – também dos anos sessenta – que retrata o futuro, que ironicamente, 
embora já tenha passado, ainda não chegou, de acordo com a proposta de Stanley 
Kubrick, seu diretor, trata-se de “2001: uma odisseia no espaço”. Aqui cabe uma 
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E32
de suas cenas mais fenomenais e talvez mais significativas, mesmo dentre a fil-
mografia contemporânea, falo da cena em que aquele macaco bate fortemente 
com seu osso em um crânio e de seus estilhaços voando pelo ar há um recorte 
temporal de milênios, levando o ser humano até o tempo das viagens espaciais.
O que chama a atenção é que essa transição de um passado remoto para 
um futuro distante se dá a partir de um monólito fincado por alguma força alie-
nígena na Terra. A música de fundo daquela cena é de Richard Strauss, “Assim 
Falou Zaratustra”, nome emprestado da obra de Friedrich Nietzsche. Nesse livro, 
o autor fala sobre certo profeta do zoroastrismo, antiga religião da Pérsia, hoje 
Iraque, que, de formaficcional, passa boa parte do livro zombando do Novo 
Testamento. Sob a perspectiva de Jaspers, o ser humano atual é uma forma inter-
mediária entre os macacos (que segundo o naturalista inglês Charles Darwin, em 
sua teoria da evolução, apontou que deles surgimos, contrariando muitas cren-
ças religiosas) e uma espécie de super-homem (mas não aquele dos quadrinhos 
e filmes), um ser “acima do bem e do mal”, ou seja, daquilo que hoje entendemos 
como valores que fazem que sejamos o que somos. Pois bem, você está achando 
que ao falar sobre tudo isso estou aqui simplesmente divagando e fugindo do 
assunto para abordar questões pouco pertinentes?
Então tente de alguma forma ligar tudo isso que escrevi imediatamente acima 
ao que nosso querido Jaspers imaginou em sua teoria. Para não enfadar você, 
ao invés de usar o texto em inglês, por mim traduzido, citarei outro, bem mais 
poético, que captou a essência do que quero dizer de forma leve, mas profunda. 
Tenho ciência de que a citação é longa. Contudo, é extremamente importante 
porque sintetiza o que escrevi acerca do período axial em toda a sua essência. 
A Era Axial estava terminada. Havia durado trezentos anos – do fim do 
século sétimo a.C. ao fim do século quarto –, um período muito longo. 
Na China confucionista, havia testemunhado o desabrochar da racio-
nalidade e da moderação elegante, assim como as profundezas místicas 
reveladas pelo Tao de Lao-Tsé. Na Índia, a grande era produziu o exem-
plo inefável do Buda Gautama, regenerando o caos de sistemas mais 
antigos e desvelando os passos para a paz pessoal. No Irã, o sacerdote 
Zaratustra havia falado aos persas, que transmitiram a cerimônia do 
fogo e a visão do zoroastrismo de uma batalha cósmica entre o bem e o 
mal, além das fronteiras da Mesopotâmia, situada entre os legendários 
Tigre e Eufrates no fértil delta em que a civilização se mostrou pela 
A Antiga Religião Grega e as Relações entre os Deuses e os Seres Humanos
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
33
primeira vez. Bem a oeste da Mesopotâmia, nos minúsculos e instáveis 
reinos de Israel e Judá, os profetas hebreus surgiram, dando ao bizarro 
monoteísmo de seu povo singular um fundamento ético tão profun-
do que os judeus nunca conseguiram abandonar completamente. Nas 
ilhas e penínsulas da Grécia, a Era Axial viu o florescimento do que 
viria a ser chamado de “filosofia” – o amor pela sabedoria por si mesma 
– e de uma nobre “política” (outro termo grego) que assumiu o nome 
de “democracia”. Esse mesmo período e lugar testemunharam a inven-
ção do drama, e sua divisão em “tragédia” e “comédia”, em um teatro 
que nunca foi igualado, assim como as primeiras tentativas de escrever 
o que os gregos chamaram de “história”4 (CAHILL, 2000, p. 23-24).
Desse texto, reparei duas coisas: que a data da Era Axial muda de Jaspers em rela-
ção a Cahill, mostrando mais uma vez que a História não é uma ciência exata, 
para nossa alegria! A segunda coisa que reparei é que, tentando aqui fazer um 
paralelo com o monólito de Kubrick, a Era Axial em si foi quase que, metafori-
camente, uma rocha tal como produzida naquela ficção. Ora, o mundo inteiro, 
estruturalmente, foi afetado de forma profunda, inegável e insubstituível durante 
este período. Você pode imaginar o mundo antes e depois desse período? Por 
esse exemplo, podemos além de exaltar a grande inteligência do citado diretor 
de cinema, perceber como a religião, historicamente constituída, é fundamen-
tal para a construção do mundo, seja o antigo, seja o nosso. 
Falando ainda mais diretamente sobre essa Era para então adequarmos os 
mitos e aportes da filosofia e da religião grega, não necessariamente abordados 
pelas histórias de deuses e heróis, é preciso levar em conta outra grande carac-
terística do mundo antes e depois desse período, que Jaspers também pontua 
em sua obra. O ser humano, da forma como conhecemos hoje, se formou pri-
mordialmente neste período. Tornou-se, sem embargo, no pensamento de Ernst 
Cassirer (1994), pensador polonês, “um animal simbólico”. Mais precisamente, 
4 Sobre o teatro – ou mais especificamente as tragédias gregas – é muito importante aqui falarmos sobre 
Sófocles, que escreveu, dentre muitas outras, a mais famosa, “Édipo Rei”, embora provavelmente este não 
fosse seu nome original. A história fala sobre o pequeno Édipo, que segundo o oráculo de Delfos, onde 
mensagens de Apolo eram proferidas, deveria matar o pai e se casar com a própria mãe. A profecia, em 
meio a tantos meandros, acaba por se cumprir sem que Édipo se desse conta. Isso deixa claro que os antigos 
gregos acreditavam na inexorável força do destino, o que é grandemente refutado por muitas religiões 
modernas. Contemporaneamente, Sigmund Freud, o inventor da Psicanálise, se utilizou de Sófocles ao 
descrever o que chamou de “complexo de Édipo”, que é quando o filho pequeno quer, sem perceber, separar 
a mãe do pai para ficar com ela! Não é incomum muitos divórcios acontecerem por causa deste fenômeno.
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E34
é inegável que o pensamento simbólico e o comportamento simbólico 
tenham traços mais característicos da vida humana e que todo processo 
da cultura humana está baseado nessas condições (CASSIRER, 1994, 
p. 3). 
Ou seja, nesse período, tão conhecido como a era de Zeus e dos deuses do Olimpo, 
nasceu o homem, com certas características muito distintas, visto que se tornou 
absolutamente consciente de suas próprias limitações, ansiando, desde aqueles 
tempos, por uma espécie de salvação pessoal, denotada diferentemente por cada 
uma das múltiplas manifestações religiosas e filosóficas do período.
Além disso, essa salvação se dá de forma privilegiada também pelo meio 
racional, e nesse momento surgem os filósofos, que nada mais foram que os pri-
meiros teólogos da história, poeticamente escrevendo sobre nossa relação com o 
mundo natural e o mundo dos deuses, que para eles também era mundo natu-
ral, embora em outro plano. O mais fascinante disso tudo, ao menos para mim, 
é que esses grandes homens do passado, fossem eles filósofos ou gurus das gran-
des religiões, tentaram arregimentar em torno de si uma multidão de pessoas 
com o intuito de convencê-las à verdade. Desse embate filosófico-religioso, um 
verdadeiro caos, surgiram muitas das grandes linhas de pensamento que ainda 
hoje temos. Isso parece fantástico, pois o salto foi maravilhoso e nos é perceptí-
vel, porque ainda hoje procuramos por algumas dessas filosofias e religiões para 
podermos nos livrar dos mesmos anseios que tínhamos há milênios. As lições 
desses homens do passado ainda não foram e provavelmente nunca serão supe-
radas. Embora aqui eu dificilmente tenha mudado a sua opinião relativa ou não 
ao fato de termos sido visitados por alienígenas do passado, historicamente está 
claro que nesse período “fomos formados”. Como especificamente na Grécia 
houve o florescimento de uma religião pujante que foi pelos próprios atenien-
ses questionada ainda naquele período, como acontece hoje, creio que falarmos 
sobre eles, como já foi encetado, parece uma boa ideia.
Por Era Axial, “em uma tacada só”, falamos de forma simples e direta, embora 
sem grandes detalhes, de características específicas de todas as grandes religi-
ões do passado. Por isso, agora falar sobre os gregos será por meio de exemplos. 
Para início de conversa, eles não tinham um livro sagrado. Sim, eles simples-
mente não tinham nada parecido com uma Bíblia, Corão, Torá ou mesmo o livro 
sagrados dos hindus. Grande parte da formação dos gregos, principalmente dosA Antiga Religião Grega e as Relações entre os Deuses e os Seres Humanos
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
35
atenienses, lembrando que é complicadíssimo falar em Grécia como um todo 
naquele período, já que ela era formada por Cidades-Estado, se dava de forma 
oral, tendo como fundamento as duas obras de Homero. Este provavelmente 
simpático senhor levemente rechonchudo e de longas barbas brancas – pronun-
cia-se Homer, como o pai do Bart Simpson – escreveu duas obras até hoje lidas 
e estudadas, seja em sua versão grega ou traduções e facilitações, falo da Ilíada e 
da Odisseia. No primeiro livro, ele abordou a Guerra de Troia, evento real acon-
tecido provavelmente entre 1300 e 1200 a.C. (ou seja, no final da Era de Bronze) 
de forma poética e muitas vezes ficcional. Ao longo dos dez anos de guerra entre 
gregos e troianos que ele retratou no livro aparecerem grandes personagens 
mitológicos, como Aquiles, semideus com um ponto fraco e potencialmente 
mortal em seu calcanhar, bem como o cavalo de Troia, “presente de grego”, que 
estes ofereceram aos troianos em uma tentativa bem-sucedida de fazê-los fal-
samente entender que os gregos estavam abandonando a luta. O final a história 
você certamente sabe: o cavalo, que os troianos cultuavam religiosamente, foi 
levado para dentro das posses troianas, e na calada da noite, de dentro dele saí-
ram gregos que abriram os portões da cidade e foi um massacre! Dos poucos 
remanescentes, sobrou um certo Enéas, que foi um precursor da ainda distante 
Roma, que viveria dias apoteóticos em seu império. Mas aí estamos nos anteci-
pando em mais ou menos um milênio!
No outro livro, “A Odisseia”, Homero retrata a volta para a casa de um dos 
heróis da Guerra de Troia, Ulisses ou Odisseus. Ao longo de outros 10 anos, 
ele enfrenta as piores provações para, finalmente, ao chegar à sua casa, não ser 
reconhecido por ninguém, exceto por seu cão, que de tão feliz e agitado com o 
reencontro cai morto. Em ambos os livros, é bom que se frise isso, todos os mitos 
gregos que até hoje conhecemos estão dispostos. E assim, visto que esses mitos 
falam de seus deuses e de suas relações de amor e ódio com os humanos, pode-se 
dizer, embora sem comparações, que os livros de Homero constituíram para os 
antigos gregos o livro fundante de sua civilização e, certamente, de sua religião.
Homero foi um dos grandes e mais conhecidos poetas épicos da antiga Gré-
cia. Embora os gregos de outrora o atribuíssem como um personagem his-
tórico real, os atuais pesquisadores ainda têm muitas dúvidas acerca de sua 
historicidade. Na verdade, o mesmo se deu com Sócrates que passou cen-
tenas de anos tido como um personagem de Platão, sendo que apenas no 
século XIX foi reconhecido como alguém que realmente viveu em Atenas, 
mudando o mundo. Seja como for, Homero deve ter vivido uns oitocentos 
séculos antes de Cristo. Escreveu suas obras principais, a Ilíada e a Odisseia, 
em grego clássico, que em muito se difere do grego koiné (comum), bem 
mais simples, utilizado pelos escritores bíblicos do Novo Testamento bem 
como pelos exércitos de Alexandre, o Grande, sendo ancestral direta do atu-
al grego. Assim, a leitura de suas obras pelo original ou mesmo traduzida 
configura-se em uma árdua e longa tarefa – que vale muito a pena! 
Fonte: o autor
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E36
O livro era, como hoje, pessoal, simples, direto e totalmente presente em todas 
as múltiplas áreas da vida. Cada deus tinha seus adoradores e seus templos, que 
eram diariamente visitados e adornados. Vez por outra, festas eram oferecidas 
em prol de uma ou outra divindade, como Dioniso (os romanos o chamavam 
de Baco), por exemplo, o deus do vinho. Tamanho era o “porre” ocasionado por 
aquela bebida, que convencionou-se até hoje chamar orgias sexuais em estado 
de consciência alterada de bacanal, mas é melhor não enveredarmos por esses 
caminhos.
Enfim, embora não se saiba ao certo sobre sacrifícios humanos aos deuses 
gregos (o que era bem comum em outras sociedades contemporâneas ou poste-
riores aos gregos), estes costumavam sacrificar animais e posteriormente comiam 
a sua carne. Aliás, toda carne que os gregos comiam era sacrificada (o que dará 
origem a uma interessante discussão do apóstolo Paulo, no Novo Testamento, 
expressa em sua Primeira Carta aos Coríntios, no capítulo 8).
Sacrifícios humanos terríveis aconteceram ao longo de toda a História, in-
cluindo a morte de primogênitos pelo fogo, ao serem depositados na es-
tátua de bronze de um certo deus Moloch, dos amonitas, no contexto do 
Antigo Testamento. Para outros exemplos, acesse este site (mas não antes 
de dormir!), disponível em:<http://www.ciencia-online.net/2014/02/10-
descobertas-sacrificios-humanos.html>. Acesso em: 15 ago. 2014.
Templo de Hefesto, o deus do fogo
Fonte: arquivo pessoal
A Antiga Religião Grega e as Relações entre os Deuses e os Seres Humanos
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
37
Eram politeístas, ou seja, acreditavam em muitos e distintos deuses e estes eram 
bem-vindos e influenciavam de forma irrestrita a sociedade, por isso deviam 
receber honras e glórias. É importantíssimo que saibamos sobre os deuses que
cada um representava uma certa faceta da condição humana e ideias 
abstratas, mesmo como a justiça e a sabedoria poderia ter a sua própria 
personificação. Os deuses mais importantes, porém, foram os deuses 
olímpicos liderados por Zeus. Estes foram Athena, Apolo, Poseidon, 
Hermes, Hera, Afrodite, Deméter, Ares, Artemis, Hades, Hefesto, e 
Dionísio. Esses deuses viviam no Monte Olimpo e teriam sido reconhe-
cidos por toda a Grécia, ainda que, com algumas variações locais, atri-
butos e associações talvez particulares5 (CARTWRIGHT, 2002, p. 2).
Como grande diferença entre a religião cristã, 
judaica ou muçulmana, que são monoteístas, 
os gregos visualizavam cada deus com um 
corpo e, em muitos casos, interesses intrin-
secamente humanos. É só você pesquisar 
um pouco sobre as muitas peripécias extra-
conjugais de Zeus e seus tantos filhos que 
saberá detalhadamente do que estou falando. 
Ou pesquise a obra Teogonia, de Hesíodo, 
que basicamente é uma espécie de árvore 
genealógica dos deuses. Contudo, como 
semelhança, é fácil percebermos na histó-
ria grega um momento em que os próprios 
5 Devo frisar que o Monte Olimpo, ao contrário do que muitos pensaram, não está situado em Atenas, a 
capital grega, mas em uma cidade distante umas 3 horas dali, chamada de Melissa.
A sétima arte bem como a atual literatura contribuem ou atrapalham ao re-
tratar as religiões e histórias da antiguidade?
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E38
filósofos passaram a duvidar da existência dos deuses tais como eram cultua-
dos, como acontece muito hoje em dia.6
Além disso, hoje, conforme as religiões ensinam, para um encontro pessoal 
com o Transcendente, basta que você medite, ore, reze ou procure um templo de 
sua preferência. Para os gregos, e também para os egípcios, os oráculos tinham 
a função de revelar a explícita vontade dos deuses. Em Delfos, foi estabelecido 
o mais famoso deles, provavelmente em torno de uns 800 anos antes de Cristo, 
precisamente quando do início da Era Axial! Muito suspeito, não é mesmo?
A VIDACOMO PREPARAÇÃO PARA A MORTE: O 
TRANSCENDENTE ENTRE OS EGÍPCIOS
Faz-se necessário aqui falar um pouquinho também sobre a religião egípcia 
e devido a tudo o que ela grandemente representou nos primórdios de nossa 
história. É tão importante alguns tópicos dela, que até hoje, por estar intima-
mente ligada a certas partes iniciais da história dos judeus descritas no Antigo 
Testamento, é comum ouvirmos falar – no âmbito religioso – sobre o Egito, de 
forma pejorativa. Afinal, nesse sentido, o Egito representou o cativeiro judeu ao 
longo de mais de quatro séculos, fazendo com que esses perdessem seus costu-
mes religiosos e cotidianos. Foi contra o Egito que Deus (ou o Deus dos judeus) 
mandou as 10 terríveis pragas e matou, na última delas, todos os primogênitos, 
6 Xenófanes, por exemplo, foi um incansável zombador dos deuses e suas formas ao mesmo tempo animais e 
humanas. Platão discordava do caráter politeísta da religião grega, embora falasse em uma “Ideia do Bem”. 
Seu discípulo Aristóteles escreveu sobre um certo “Primeiro Motor”, que alguns erroneamente relacionam 
ao Deus cristão. Dessa forma, podemos pensar que mesmo entre aqueles, a religião não era um ponto 
totalmente pacífico. 
A Vida Como Preparação Para a Morte: O Transcendente Entre os Egípcios
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
39
e até hoje costuma-se falar sobre maldições advindas daquela época. 
Também, é óbvio, fala-se muito das pirâmides, desta vez positivamente, 
mas o fato é que a antiga civilização do Egito durou aproximadamente três mil 
anos e tem muito mais a nos ensinar do que apenas os fatos acima elencados. 
Sua história foi dividida, basicamente, em dois distintos períodos: o pré-dinás-
tico (entre 5000 e 3200 a.C.) e o dinástico (entre 3200 e 1085 a.C.). Durante o 
período dinástico, em algum momento por volta de 3220 a.C., um certo Menés 
juntou ou unificou os dois distintos reinos, do Baixo e Alto Egito, e acabou se 
tornando o primeiro faraó, que ao longo das gerações foi ganhando sucessiva-
mente mais poder e reconhecimento. Foi no período dinástico que conhecemos 
o Egito rico das nossas fantasias extravagantes, livros e filmes, como aquele em 
que Elizabeth Taylor interpretou Cleópatra, fazendo com que muitas gerações 
passassem a ver os egípcios como sendo de etnia caucasiana, ou seja, de pele 
branca, da mesma forma e pelo mesmo motivo que muitas vezes enxergamos 
aquele estranho Jesus hollywoodiano. O que, dessa infinidade temporal que foi 
o antigo Egito, podemos e devemos saber sobre sua religião?
Antes, em breves linhas, vimos um pouco da vida cotidiana do Egito, para 
que seja possível visualizar o contexto em que sua religião se desenvolveu, sem-
pre lembrando que essa construção histórica se deu processualmente, ou seja, aos 
poucos, em meio à riquíssima e duradoura história do Egito Antigo, que ainda 
hoje desperta a curiosidade e profundo interesse de milhares de pessoas, com a 
publicação de um sem-número de revistas especializadas. 
Os egípcios nunca se descuidavam da educação das crianças, embora, como 
perceptível também em muitas outras culturas antigas (e mesmo atualmente, 
para nossa grande consternação), os garotos tivessem a preferência. Logo cedo, 
estes iam para o que podemos chamar de colégios. Chamemos sim de colégio, 
afinal, um colégio é centro de ensino confessional, enquanto uma escola não tem 
esse atributo. Pois bem, ali eles aprendiam junto aos sacerdotes o que eles deve-
riam aprender para a vida. Desde cedo aprendiam tópicos de religião e a língua, 
escrevendo em pequenas tábuas ou tabletes de gesso que, ao menos em dimen-
são, lembram muito os atuais tablets, que coincidentemente (ou não) são assim 
chamados. As meninas, por sua vez, precisavam esperar bastante, até os doze 
anos, para que tivessem o privilégio de poder frequentar as aulas.
RELIGIÕES E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA: EXEMPLOS DE GRÉCIA, EGITO, ROMA E ASTECAS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E40
Durante este período anterior à escola, ficavam a maior parte do tempo em 
casa com suas mães trabalhando em atividades domésticas. Meninos e meni-
nas, igualmente, podiam sofrer rigorosos castigos físicos caso não se portassem 
adequadamente diante dos professores-sacerdotes, mas, exceto esses dissabores 
juvenis, a vida não parecia ser assim tão ruim para um jovem egípcio. Arqueólogos 
acharam muitos brinquedos e constataram que eles deviam ser bem alimentados. 
Muitas padarias foram escavadas e há indícios de uma variedade interessante de 
pães. Obviamente, esta vida mansa apenas podia ser fruída pelos egípcios genu-
ínos. A grande massa de escravos penava a miserável vida que escravos de todas 
as épocas, infelizmente, viviam ou vivem, o que nos lembra novamente Albert 
Camus e sua terrível indagação: “é possível viver e não ser feliz?”. Os mais pobres, 
que também não podiam gozar do privilégio de frequentar uma escola, seguiam 
a profissão paterna, que aprendiam em casa.
Por mais incrível que possa parecer, a sociedade egípcia tolerava o divórcio. 
Tanto assim que em caso de fim de relacionamento, a mulher podia ficar com os 
filhos e tinha direito, inclusive, à boa parte do que o casal havia conseguido junto.
Algo que provavelmente você já deve saber, mas que aqui vale escrever, é que 
os egípcios eram extremamente supersticiosos e levavam muito a sério qualquer 
sonho ou pesadelo. Esse é mais um motivo que ainda hoje leva muitas pessoas a 
imaginar que sua religião, que fazia parte do cotidiano, era inferior. 
Agora sim, devidamente contextualizados (egípcios), creio que podemos 
falar sobre a religião egípcia. Em primeiro lugar, elencaria que eles, já desde os 
primórdios pré-dinásticos, de alguma forma, pareciam se preocupar com a pre-
servação dos corpos de seus mortos, sendo conservados contra a desidratação. 
Isso pode ser um indicativo, já naquela época, de tentativa de mumificação. Mas 
por que alguém tentaria preservar o corpo morto de seu ente querido? Quando 
isso acontece hoje, certamente é visto como uma doença ou obsessão pela morte, 
e se é doença e obsessão, então é, sem dúvida, um problema. A primeira coisa 
que devemos fazer é, tanto para esse caso quanto para muitos outros, nos livrar 
de nosso etnocentrismo, ou seja, de vermos civilizações outras do presente e 
do passado sob as vestes de nossa própria cultura. Se não fizermos um esforço 
nesse sentido, consideraremos os egípcios antigos desequilibrados pela obsessão 
pela morte, os gregos e todos os outros povos antigos como inferiores porque 
Exemplo de hieróglifo, a famosa escrita egípcia
Fonte: arquivo pessoal
A Vida Como Preparação Para a Morte: O Transcendente Entre os Egípcios
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
41
cultuavam vários deuses e os astecas potenciais assassinos por causa dos sacri-
fícios humanos, apenas para citar o mínimo. 
Os egípcios que, como todas as antigas 
civilizações com suas religiões, eram polite-
ístas, exceto os judeus, viam a vida em sua 
plenitude como uma necessária preparação 
para a morte, ou melhor colocado, para outra 
vida. Exatamente como pensam hoje os cris-
tãos, judeus e muçulmanos, excluindo aqui os 
fanáticos religiosos de cada um desses grupos, 
que pensam não na vida, mas no espalhar a 
morte como parte final da preparação para as 
suas próprias. Com esse pensamento, poderí-
amos facilmente voltar para as primeiras páginas desta unidade sobre o sentido 
da vida, mas embora não tenhamos ali esgotado o conteúdo, não parece

Outros materiais