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Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1. Capitalismo e Economia Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1. Capitalismo e Economia Ø O primeiro ponto importante a ser destacado quando se discute economia é o fato de que estamos pensando no sistema capitalista. Como observam Heilbroner and Thurow (1987) o capitalismo não está associado à natureza humana. Ninguém nunca chamou os Faraós Egípcios de capitalistas, ou mesmos os fenícios e gregos. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1. Capitalismo e Economia Ø A diferença básica entre a sociedade capitalista e a feudal, por exemplo, é a idéia da propriedade privada e do domínio do trabalho. Ø De fato somente na sociedade capitalista a propriedade privada e o mercado (que é o espaço onde ocorrem as trocas entre compradores e vendedores) são elementos fundamentais. Ø Mais ainda, no capitalismo o trabalhador, ou proletário, é o dono de seu trabalho, de modo que pode se deslocar e vender seu trabalho para quem bem entender. O trabalhador assalariado do sistema capitalista, portanto, diferencia-se do servo feudal ou do escravo fundamentalmente porque estes não têm domínio sobre seu trabalho. Em outras palavras, escravos e servos são, respectivamente, propriedade de algum senhor ou preso à terra, como no sistema feudal. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.1 O sistema de mercado n O sistema de mercado é essencialmente um sistema no qual as atividades econômicas são deixadas para os cidadãos atuarem livremente respondendo aos seus interesses. n Portanto, em um sistema de mercado os indivíduos são livres não somente para procurar trabalho, mas também para comprar, vender, oferecer trabalho etc. n O sistema de mercado, ademais, demonstra que há um fluxo de riqueza que é gerado no processo produtivo, e onde poupança e investimento organizados através de um sistema financeiro para regularizar esses fluxos se faz presente. n Há, desta forma, no sistema de mercado uma geração constante de riqueza que é novamente gerada produzindo um círculo virtuoso, ou em alguns casos vicioso (no caso das crises). Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.2 Fatores de Produção n No sistema capitalista, portanto, trabalho, capital e terra que existem na sociedade de mercado são chamados de fatores de produção. n Embora todos estes elementos tenham existido em sociedades pré capitalistas, nenhuma delas eram consideradas commodities (mercadorias) para venda. Obs.: No Brasil os mercados de terra e de trabalho começaram a ser forjados em 1850. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I Em Minas Gerais, década de 1830 Tipos de famílias Representatividade Camponesas 24,3% Escravistas 21,6% Autônomas (com artesãos, no meio urbano) 12,5% Assalariadas 4,7% Tipos mistos 29,2% Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.3 Transição para a sociedade de mercado n Obviamente que o processo de transformação de sociedades feudais na Europa ou escravocratas em outras partes do mundo não se deu imediatamente e sem traumas. n Ao contrário, a transição do feudalismo para o capitalismo (tema de vital importância na história econômica) se deu de forma lenta no início do século XVI e também de forma diferente em diversas partes da Europa. Isto sem contar no Oriente médio, onde as sociedades eram ainda bastante diferentes. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.3 Transição para a sociedade de mercado n O fato é que esta discussão será deixada para o curso de História Econômica Geral e no momento é importante observar que o estudo da economia, ou a Economia Política, no jargão dos economistas clássicos, faz sentido após o advento do capitalismo. n Ademais, a sociedade de mercado é conseqüência de um processo histórico e definitivamente não é uma ordem natural, como também não o é a idéia de que o homem seja egoísta por natureza. Estas são questões historicamente determinadas. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.3 Transição para a sociedade de mercado n A sociedade de mercado e a emergência do capitalismo, se de um lado permitiu uma maior liberdade para os servos, que deixaram de ser propriedade dos senhores feudais e presos à terra, de outro criou uma maior instabilidade para esses mesmos agentes. n De fato, como proprietários de seu próprio trabalho, os agora assalariados passarão a enfrentar a instabilidade intrínseca da sociedade capitalista e as disrupções dela decorrentes. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.4 O papel da tecnologia e da mudança tecnológica no capitalismo n O papel da tecnologia e da mudança tecnológica na sociedade capitalista é de fundamental importância, uma vez que as forças que dirigem o desenvolvimento e a busca pelo lucro acabam por ter na tecnologia um importante estimulador. n De fato, em sociedades pré capitalistas, como a sociedade feudal, a tecnologia – embora existente – tinha uma base restrita, e também não estava conectada com o dinamismo que está associada na sociedade capitalista. Tecnologia no capitalismo é, portanto, a consequência da busca do lucro. Decorre também da concorrência que está associada a esta busca. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.4 O papel da tecnologia e da mudança tecnológica no capitalismo n É com a revolução industrial (século XVIII) que há uma contínua mudança nas técnicas produtivas e nos hábitos que produz o maior dinamismo na sociedade capitalista e que vem até os dias de hoje. n Para se ter uma idéia da dimensão e importância da revolução industrial e seus efeitos na Europa nos séculos XVIII e XIX, o uso de algodão na Inglaterra expandiu em 6000% entre 1701 e 1802. Na França, nos trinta anos após 1815 o produto de ferro quintuplicou, ao passo que a produção de carvão cresceu em mais de sete vezes (Heilbroner e Thurow, 1987). Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.4 O papel da tecnologia e da mudança tecnológica no capitalismo n Outra importante modificação pós revolução industrial está relacionada à escala de produção. Nas sociedades pré capitalistas era virtualmente impossível produzir com grande escala de produção basicamente porque a dimensão da concorrência e do lucro e da liberdade do mercado não se faziam presentes. n Neste sentido a revolução industrial deve ser vista como uma consequência do momento histórico em que vivia a Inglaterra em meados do século dezoito. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 1.4 O papel da tecnologia e da mudança tecnológica no capitalismo n Um outro resultado visível do desenvolvimento tecnológico, trazido pelo advento do mercado e do capitalismo, está no papel da mudança da natureza das atividades produzidas pelo homem. n Paulatinamente a atividade produtiva foi se transformando de modo a incluir cada vez mais a divisão do trabalho em pequenas tarefas. n Neste caso a possibilidade de aumentar a produtividade da mão-de-obra torna-se bastante significativa. Adam Smith foi o primeiro autor que teorizou os efeitos positivos da divisão do trabalho e seus efeitos positivos sobre o dinamismo econômico. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 2. Gênese da Economia Mercanti- lismo David Hume Adam Smith (Vantagens Absolutas - VA) David Ricardo (Vantagens Comparativas - VC) 1) De que serve a riqueza? Para fortalecer o estado Aumentar o bem- estar da sociedade Aumentar o bem- estar da sociedade Aumentar o bem- estar da sociedade 2) Em que ela consiste? Moeda (ouro e/ou prata)Produção de bens e serviços Produção de bens e serviços Produção de bens e serviços 3) Como obter obtê-la? Ter superávit na balança comercial Ter aumento de produtividade Promover a especialização da economia Promover a especialização da economia Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3. Três grandes Economistas n Um breve resumo sobre as principais idéias de três importantes teóricos da economia e do capitalismo ajudará no entendimento e na importância do estudo da economia. n Dentre os diversos autores clássicos e não clássicos de economia, três deles são extremamente importantes na construção teórica para o entendimento das economias capitalistas, são eles, Adam Smith, Karl Marx e Keynes. n Há também outros de grande importância para entender o capitalismo, como Ricardo, Malthus, Schumpeter e, ainda, Weber. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.1. Adam Smith (1723-1790) n Publicado em 1776, portanto muito próximo da revolução francesa e posterior à revolução inglesa, A Riqueza das Nações, obra máxima de Adam Smith é um marco no estudo da economia. n A conhecida idéia de Smith do Laissez faire é característica central no estudo das sociedades de mercado. n A partir de um exaustivo estudo da natureza das relações econômicas, o papel do trabalho neste autor é de fundamental importância. n Uma sociedade de mercado terá a sua dinâmica baseada na idéia do interesse individual e é este interesse individual, combinado com a divisão do trabalho, que estimulará o crescimento e gerará a riqueza das nações. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.1. Adam Smith (1723-1790) n É daí que surge o mecanismo da competição, variável fundamental no sistema de mercado e que sinaliza, através de ajuste em preços e quantidades, o equilíbrio de mercado. n Um vendedor não conseguirá vender o seu produto no mercado, qualquer que seja ele, se oferecer um preço maior que aquele que os demandantes estão dispostos a pagar. n Do mesmo modo, em determinadas situações de mercado, um empregador que não estiver disposto a pagar os salários de seus trabalhadores que eles estão dispostos a receber, não conseguirá contratar nenhum trabalhador. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.1.1 A mão invisível em Smith n A noção da mão invisível no trabalho de Smith é importante no sentido de entender como funciona o mecanismo de mercado. n Na verdade este conceito é um resultado da idéia de equilíbrio determinado pelo ajuste de preços e quantidades. n Embora a idéia de mão invisível represente relativamente bem uma sociedade de mercado, é importante notar que alguns casos os mecanismos tradicionais de mercado, onde os ajustes em preços e quantidades se dariam, simplesmente não funcionam, como por exemplo os bens públicos (um exemplo típico de bem público são as ruas, onde todos a utilizam e a forma de pagamento de sua utilização não se submete às tradicionais regras de mercado baseadas na mão invisível). Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.1.1 A mão invisível em Smith n Uma vez que Smith é um teórico do mercado e da importância das forças de mercado, para ele intervenções governamentais seriam danosas, pois conduziriam a uma alocação ineficiente no mercado. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.1.2 Crescimento econômico e divisão do trabalho n Para Smith, o sistema de mercado permite que o crescimento econômico e da riqueza de cada nação cresça de forma constante. n Os motivos que permitiriam este crescimento na sociedade de mercado são o desejo por lucros e a busca pela acumulação. n O desejo de acumular cada vez mais é a força central para o constante crescimento da riqueza das nações. A acumulação de capital no sistema capitalista é o grande estimulador do crescimento e do desejo de lucrar e ganhar mais. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.1.2 Crescimento econômico e divisão do trabalho n Desta forma, diversas maneiras de ampliar esta busca pela acumulação, que redundará em maior crescimento e maior acumulação de riqueza, é estimular o crescimento da produtividade e o meio para fazer isso é a divisão do trabalho. n O meio pelo qual a divisão do trabalho pode ser estimulada e produzir efeitos virtuosos sobre a produtividade é a maquinaria e a tecnologia subjacente a ela. n Observem como a construção teórica de Smith está intrinsecamente conectada com as mudanças históricas importantes que ocorria na Inglaterra no final do século XVIII com a revolução industrial. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.2. Karl Marx (1818-1883) n Marx talvez tenha sido o pensador econômico que mais profundamente analisou e entendeu o capitalismo. n Como observam Heilbroner e Thurow (1987), “enquanto Smith foi o arquiteto da ordem e do progresso do capitalismo, Marx foi o diagnosticador de sua desordem e problemas. n Suas diferenças são baseadas fundamentalmente na visão oposta que tinham no que diz respeito a história. Para Smith a história é uma sucessão de estágios nos quais os seres humanos se inserem, partindo de uma sociedade inicial e rude de caçadores e pescadores até o estágio final de uma sociedade comercial. Marx via a histórica como uma contínua batalha entre as classes sociais.” Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.2. Karl Marx (1818-1883) n A outra dimensão do entendimento do capitalismo em Marx está na questão do lucro. n Para ele, o lucro origina-se da mais-valia, que é basicamente o trabalho não pago. A noção de mais-valia é extremamente importante na construção teórica de Marx acerca do entendimento da sociedade capitalista. n De fato é o trabalho gerador de um valor adicional que produz o lucro do capitalista. Como o capitalista é o detentor dos bens de capital, ou da maquinaria necessária para a produção, ele pode comprar a força de trabalho para produzir e gerar uma mais-valor, que é o lucro. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.2. Karl Marx (1818-1883) n O processo de acumulação, portanto, é a conseqüência da dinâmica relação entre o capitalista buscando lucro e comprando a força de trabalho e do trabalhador na geração da mais valia. n Mas um ponto fundamental, e que se diferencia fundamentalmente do argumento Smithiano, é o fato de que, para Marx, o processo de acumulação é disruptivo e sujeito a sistemáticas crises. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.2. Karl Marx (1818-1883) n De fato, para Smith, o crescimento econômico é uma característica inerente e “bem comportada do capitalismo”. Trata-se, portanto, de uma visão extremamente otimista do movimento do processo de acumulação capitalista. n Para Marx, ao contrário, as contradições internas do processo de acumulação conduz inexoravelmente a crises que, em algum momento, conduzem o sistema ao colapso. n Independentemente das preocupações futurísticas de Marx acerca do capitalismo sejam ou não relevantes, o fato é que do ponto de vista econômico a idéia do capitalismo com um sistema sujeito a crises e instabilidade não pode ser negado. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.3 John Maynard Keynes (1883-1946) n “Marx foi o intelectual do capitalismo como um sistema auto- destrutivo; Keynes foi o engenheiro de sua recuperação. Hoje, isto não é mais uma observação incontestável. Para alguns, a doutrina de Keynes é perigosa e subversiva como aquelas de Marx – uma ironia do destino, uma vez que Keynes, ele próprio, era totalmente crítico ao pensamento marxiano e totalmente favorávelao melhoramento do sistema capitalista.”(Heilbroner e Thurow, 1987). Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I 3.3 John Maynard Keynes (1883-1946) n Certamente a razão pela qual o keynesianismo estava em baixa antes da crise de 2007/2008 relaciona-se com o fato de que este autor, com o objetivo de melhorar o funcionamento de curto prazo de um capitalismo em crise, sugere e demonstra teoricamente que o governo tem um papel estabilizador fundamental. Mario Rodarte (Cedeplar/FACE/UFMG) Economia A I Referências Heilbroner, R. And Thurow, L. Economics Explained. Simon and Shuster, New York, 1987. caps 1 e 2.
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