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Fábrica - Convento e Disciplina

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RESUMO 
GIROLETTI, Domingos 
Fábrica: Convento e Disciplina 
Capítulo III – A formação da Disciplina – Páginas 183 a 260 
 
Este capítulo descreve parte do processo e dos mecanismos acionados pelos 
empresários no interior da fábrica, na vila operária e no convento para transformar o 
homem do campo em operário industrial, útil, dócil. Existia na época um propósito 
voltado para transformar o camponês, o artesão ou trabalhador rural em operário 
industrial. 
 
 
O componente disciplinar 
Giroletti começa o capítulo afirmando que um processo de qualificação da mão de 
obra com treinamento técnico ou uma criação de novos valores já se refere a formação 
de um trabalhador disciplinado. Sendo assim, dá-se por suposto que a disciplina vem 
embutida na prática pedagógica, na aprendizagem técnica e na incorporação de novos 
valores e normas. 
Analiticamente, a importância, caracterização e o destaque da disciplina poderão ser 
desprendidos da obra de Foucault. Tal autor diz que o processo de estabelecimento da 
burguesia como classe politicamente dominante estava por trás da instalação de um 
quadro jurídico, por meio da organização de um regime parlamentar e representativo. O 
desenvolvimento e generalização de dispositivos disciplinares também se referem a um 
lado negro desse estabelecimento da burguesia como classe dominante. 
Além dos mecanismos disciplinares possibilitarem a hegemonia burguesa, 
possibilitou ainda o funcionamento do regime representativo, garantindo a submissão 
das forças de uma maneira formal. Foucault permite discernir analiticamente a formação 
da disciplina dos elementos, técnico e ideológico, de um programa de formação da mão 
de obra. Focault fala sobre a diferença entre formação disciplinar (basicamente a 
submissão das forças e dos corpos) e treinamento técnico (aprendizagem de habilidades 
e conhecimentos da execução do trabalho simples, parceladas e mecânicas ). 
Segundo Focault ainda, a disciplina parece ser a condição necessária para que o 
quadro jurídico igualitário funcione e para que os valores de uma dada concepção do 
Mundo sejam assimilados individualmente. Desse modo, os dispositivos disciplinares 
fazem a medição entre os comportamentos dos indivíduos e as leis prescritas pelo 
direito positivo imposto pelo estado para a sociedade. 
Poulantzas chama atenção para o caráter exterior, difuso e disperso que os 
dispositivos disciplinares ocupam nas ideias de Focault. 
A fábrica era considerada como matriz das relações sociais e de novos valores como 
um mecanismo disciplinador que produz mercadorias mas também um indivíduo 
operário fabril, dócil e útil (levando em conta capital e produção). 
A formação da disciplina pode ser pensada como produto da ação de mecanismos que 
premiem ou punam os trabalhadores para obter sua cooperação e a sua sujeição à 
direção e ao funcionamento do processo produtivo capitalista. A disciplina ainda 
garante o controle político das classes subalterna no sentido macrossocial e, no micro, 
aumento da eficiência e da utilidade do sistema fabril, assegurando o predomínio do 
capital sobre o trabalho. 
 
A produção da disciplina na Fábrica 
 
A produção da disciplina no interior da fábrica será fruto da ação conjunta de 
mecanismos espaciais, funcionais e regimentais e de um sistema de penalidades e 
premiação. 
 
 Mecanismos espaciais, funcionais e regimentais 
A disciplina escreve Foucault, procede à distribuição dos indivíduos no espaço. São 
utilizadas diversas técnicas: 
 Primeiro a “cerca”, algo do tipo “encarceramento”, que produzem um espaço 
físico e social fechado. Os indivíduos são segregados do contexto que costumavam 
viver em liberdade. Desse modo, cria-se um ambiente onde a vida das pessoas é 
constantemente governada por normas severas de procedimento e o comportamento 
fiscalizado. Esses espaços físicos fechados foram criados nas primeiras fábricas para 
criar disciplina. 
Segunda técnica seria representada pelos muros e portões das fábricas. Os 
operários eram segregados do meio exterior, do contato com a natureza e do convívio 
com a família. Os controles começavam nas portarias com chamadas, pelo livro de 
ponto, não se retirar do local sem licença. A vigilância era feita pelos chefes de seção, 
pelo mestre-geral e finalmente pelo porteiro, a quem cabia o fechamento das janelas e 
das portas, a guarda e a responsabilidade da chave da fábrica. No interior da fábrica, o 
comportamento dos operários era influenciado por vários dispositivos que 
regulamentavam sua atuação: 
A) Criar hábitos de obediência e respeito aos superiores; 
B) Infundir um ambiente de ordem, organização, limpeza, economia, que 
garantisse o funcionamento ordenado da produção fabril eliminando-se qualquer 
desperdício; 
C) Ensinar a melhor maneira de trabalhar e o emprego produtivo do tempo, 
evitando a dispersão, distração o posturas inadequadas que comprometessem o 
bom desempenho da produção; 
D) Evitar o absenteísmo ou retiradas inesperadas do trabalhador; 
E) Coibir a circulação aleatória na própria seção ou entre repartições durante 
a jornada; 
F) Eliminar a violência física nas relações de trabalho entre operários e 
chefes. 
Todas as fábricas eram divididas por seções, como carpintaria e ferraria. Nestas, a 
produção da disciplina repousou na relação direta e imediata e no exercício continuo do 
controle e da fiscalização. 
Além de reforçar o cercamento, a repartição utilizada de mais duas técnicas de 
produção da disciplina apontadas por Foucault: o controle do horário e o princípio da 
localização imediata. Cada um no seu lugar e, em cada lugar, um indivíduo 
O disciplinamento dos operários era assegurado ainda pelas várias hierarquias 
Formavam-se assim escalas hierárquicas móveis e intercambiáveis que funcionavam no 
cotidiano como formas mútuas de autocontrole. 
Essa classificação de hierarquias podia ser feita pelos empresários, chefes ou 
trabalhadores e definia a posição social de cada um. As avaliações pessoais, folhas de 
ponto e outros registros em folhas eram armazenadas pela gerencia e serviam de matéria 
prima para construção de assimetrias que operavam no interior das industrias como 
técnicas de saber e poder, produzindo junto com as demais o disciplinamento e o 
domínio político do corpo do operário. 
A hierarquia era constituída pela escala de salário, a mais segmentada possível. As 
diferenças salariais, ao hierarquizar o corpo operário pelo ganho e ao acentuar a 
competição entre eles, era outra forma de controle utilizada pelos empresários para 
dominá-los e discipliná-los. 
Para produzir disciplina, acoplava-se a esses mecanismos a estrutura de poder 
existente. O fazer cumprir o regulamento era outro mecanismo produtor de disciplina. A 
aplicação de punições e multas era outra oportunidade para divulgá-lo ou fixá-lo na 
memória dos trabalhadores. 
Ao lado dos mecanismos funcionais e regulamentares devem ser considerados como 
importantes na formação da disciplina os inerentes ao processo produtivo. A produção 
da disciplina passa a ser inerente a distribuição espacial das maquinas e a desempeno 
funcional dos operários. Introduzem técnicas mais refinadas de controle. 
A execução e a repetição de tarefas simples previstas na organização do processo 
produtivo sem interrupção durante anos terminaram por moldar gestos, por automatizar 
posturas e procedimentos e por internalizar a disciplina em nível fisiológico.. 
Quando o controle da atividade descia a níveis individuais e corporais, o 
adestramento disciplinar chegava à elaboração temporal do ato de trabalhar, ao melhor 
ajustamento entre corpo e máquina, entre corpo e função, determinando a melhor 
maneirade realizar as tarefas e o grau de agilidade no seu desempenho. 
A formação da disciplina estava também diretamente vinculada ao funcionamento do 
processo produtivo durante e enquanto ele estivesse em operação. 
 
Sistema de Penalidades e de Premiação 
A obediência ao regulamento não repousava apenas em mecanismos persuasivos. 
Previam-se meios para que as ordens emanadas da direção ou as disposições 
regimentais fossem cumpridas: Um sistema de punição explícito e pessoas encarregadas 
de aplicá-lo. 
O regulamento previa punições previstas: repreensão dos “empregados negligentes ou 
malprocedidos”; aplicação de “multas nas contravenções”; envio de incorrigíveis ao 
escritório do gerente para os “fins convenientes” e a “expulsão”. As penalidades tinham 
o efeito corretivo: visavam coibir “micropenalidades” formadas de pequenos delitos 
cometidos pelos operários. Podiam estar relacionados: 
A) Ao tempo (atrasos, ausências); 
B) À atividade (desatenção, negligência) 
C) À maneira de ser (grosseria, desobediência); 
D) Aos discursos (conversar com operários de outras máquinas, escrever, ler 
livros durante a jornada); 
E) Ao corpo (trabalhar assentado); 
F) Aos gestos e atitudes incorretas. 
 
A manifestação da sexualidade era proibida no trabalho. 
As correções seguiam um ritual: havia um evidente desconforto físico e psicológico 
quando o empregado era enviado ao escritório central, devia ser notado por todos. O 
gerente fazia uma repreensão. Dependendo do delito, seguiam-se castigos corporais. 
A “correção” prolongava no meio social. Os efeitos das reprimendas ou dos castigos 
corporais eram aplicados na fábrica e se estendiam ao convívio social do operário e se 
estendiam até a própria família. 
Os empresários preferiam contratar famílias grandes intencionalmente, pois a 
estrutura familiar para disciplinar e controlar os funcionários, sobretudo os menores, 
servia de prolongamento do poder na fábrica como um mecanismo de manter a 
disciplina. Outra penalidade era a multa variando o valor segundo o delito ou a 
frequência. 
Ao dar ênfase às proibições, ao precaver-se contra as infrações e ao estabelecer 
uma série de punições para evitá-las, o regulamento produzia em partes, os valores de 
caráter repressivo da sociedade agrária escravocrata, da qual os industriais proviam. 
Para os empresários, os operários continuavam trabalhadores sem direitos. Por isso, 
para discipliná-los, lançaram mão dos mais diversos mecanismos coercitivos da 
formação econômica e social escravagista combinando0os com procedimentos 
espaciais, funcionais e políticos específicos do sistema fabril capitalista. 
Ao lado do sistema punitivo, aparece a gratificação. Segundo Foucault, a punição 
na disciplina não passa de um elemento de um sistema duplo: gratificação-sanção. 
Após isso, o autor cita medidas que poderiam resolver a questão da rotatividade da 
mão-de-obra. Primeiramente uma espécie de criação de incentivos com prêmios 
anuais para os empregados que se destacasse; segundo uma criação de uma caderneta 
de poupança. A última medida seria a criação de um percentual a ser descontado para 
a constituição da caixa econômica, uma espécie de aposentadoria. 
Os operários parecem ter resistido à medida, mas não existem motivos explícitos. 
As razões que podem ter influído se referem que o sistema não previa a contrapartida 
da empresa. A administração do fundo era exclusiva da companhia. O percentual 
descontado pesava no orçamento familiar em virtude dos baixos salários. Se a 
iniciativa garantia o futuro, o desconto mensal poderia comprometer a sobrevivência 
imediata. 
Ao invés da aposentadoria, houve a criação de um programa, mais modesto, que se 
tratava de um amparo a moléstia. A política de gratificações ainda instituiu prêmios 
para estimular o aumento da produtividade e aperfeiçoamento dos produtos e ainda 
uma distribuição de sobras ou vendas de ações das fábricas aos mestres e 
contramestres. 
A estrutura de poder dentro da fábrica era seu centro vital. Da estrutura de poder, 
dependia da eficácia dos procedimentos – a cerca, o controle do horário e da 
pontualidade, a distribuição espacial e funcional dos operários postos em prática para 
a formação da disciplina. 
Para que esse sistema fosse eficaz garantindo a produção, o funcionamento da 
fábrica e a manutenção da ordem havia um sistema de punição e de prêmios que, no 
limite, assegurava a obediência ao regulamento e às ordens diretas emanadas da 
direção e o disciplinamento dos operários. Quando o consentimento ativo não era 
obtido por meio de advertência e prêmios, a compulsão punitiva era acionada. A 
gratificação não foi um recurso generalizado e sua distribuição muito seletiva 
Havia também relatos de multas na época onde seu montante não era a parte 
significativa. Para o estudo da formação da disciplina, mais que o valor, o importante 
era seu registro, porque constitui a prova de que tais multas eram aplicadas e de que o 
sistema punitivo era utilizado, derivando um poder corretivo. 
Pelo caráter elitista e excludente da sociedade agrária e escravocrata da época, 
pode-se presumir que o sistema punitivo industrial funcionava em todos os casos (não 
funcionava apenas em casos excepcionais), sendo o uso da ameaça seu principal 
recurso para garantir a ordem na fábrica. 
Apesar do caráter limitado e restritivo, a premiação desempenhou um papel 
fundamental no complexo sistema de mecanismos acionados pelos empresários para 
a produção da disciplina, na medida em que garantiu e realimentou a dedicação e a 
lealdade da estrutura intermediária de poder. 
 
A Construção da Disciplina na Vila Operária 
Os operários dos primeiros estabelecimentos industriais estavam expostos silmutânea 
e permanentemente a outro espaço fechado, as vilas operárias, construídas anexas as 
fábricas, em terrenos de propriedade das companhias que as controlavam. Todas as 
indústrias fundadas nesse período viram-se na necessidade de oferecer casas e 
residências para seus colaboradores. 
A construção de vilas operárias foi condição sine qua non (não pode deixar de ser) 
para que as empresas assegurassem a mão de obra necessária para o desempenho de 
suas atividades. 
O modelo de fábrica com vila operária é um sistema de dominação que permite a 
extensão do poder exercido pelos empresários no interior da unidade produtiva ara a 
vida social e privada. Desse prolongamento derivava parte de seu poder disciplinador 
fora das relações de trabalho, expresso de duas formas principais: 
a) As companhias têxteis “auto-investiram-se” de algumas prerrogativas do 
estado, passando a regular os aspectos mais importantes da vida social; 
b) Utilizaram o poder econômico e ideológico para conformar o 
comportamento dos operários. 
 
O Uso do Poder Político 
O poder político foi utilizado pelos empresários para determinar o comportamento 
dos moradores e operário no âmbito das vilas. 
O poder de legislar, os regulamentos das fábricas foram escritos para gerar 
compromissos sociais os mais abrangentes possíveis. 
Os empresários proclamavam sua soberania nos domínios internos e externos da 
fábrica, não havia outra escolha para os trabalhadores em moradores: ou se submetiam a 
todas as normas regulamentares ou passavam a categoria incômoda de contraventores. 
As fábricas passaram a determinar o comportamento dos operários, definindo o certo 
e o errado, o permitido e o proibido: os direitos de morar, ir e vir, as características da 
vida social. Os empresários intervinham na esfera privada, regulamentando a 
convivência familiar e social. 
Os empresários se investiam de poderes para controlar o lazer, as amizades, as 
visitadas, as residências,os costumes, procurando evitar situações disruptivas, 
explicitando um modelo de moralidade e de ordem publica a ser seguido. Além disso, 
tinha-se o interesse em instaurar um clima familiar nas filas. 
Os regulamentos prescreviam uma série de normas destinadas à preservação da saúde, 
à melhoria das condições sanitárias nas vilas, à criação de novos hábitos de higiene 
pessoal e de uma nova concepção de morar. 
Além do poder de legislar e de aplicar penalidades fora das relações de trabalho, os 
industriais, recorreram ao uso da violência nas vilas. O emprego da força foi utilizado 
para assegurar os mais diversos objetivos: o cumprimento do regulamento, preservação 
da propriedade, a manutenção da ordem e do sossego publico ou o domínio dos 
empresários sobre os moradores. 
A preservação da hegemonia empresarial sobre a força de trabalho supôs a utilização 
dos mais variados recursos táticos ou estratégicos. Na maior parte das fábricas, gerentes, 
acionistas, superintendentes ou diretores sempre residiram nas próprias vilas operárias e 
imediações. 
Em outras fábricas, as pessoas encarregadas de manter a disciplina podiam ser 
especificamente contratadas para o exercício dessa função ou até mesmo um corpo de 
policiais particulares, pagos pela companhia, para garantir propriedades, a ordem e o 
sossego público. 
O banditismo era pragmaticamente tolerado porque funcionava com um aliado na 
ação disciplinadora e moralizadora empreendida pelos empresários. 
As vilas operárias foram se transformando em cidades, sedes de municípios, os 
poderes políticos de legislar, multar, fiscalizar e etc., se voltaram para a esfera publica. 
Ao constituir-se o poder publico municipal, as contradições e conflitos resultantes da 
administração da vila passaram para outra arena, tendo outros mecanismos de 
expressão, fora da responsabilidade direta dos empresários. 
 
A manipulação do poder econômico e ideológico 
Com a associação entre a fábrica e as vilas operárias o poder de disciplinamento dos 
operários se estendeu para a vida privada, familiar e social dos trabalhadores e 
moradores, com o objetivo de assegurar o controle político. 
Os bens essenciais que as fábricas mineiras de tecidos do início do século XIX 
manipulavam eram muito variados. Passava pelo abastecimento, moradia, terras para 
plantio, água, transporte, luz elétrica, etc. 
Para obter a disciplina de seus operários os empresários desenvolveram diversas 
técnicas dentre elas a criação de instituições privadas de poder que se antecipavam de 
todos os problemas vividos por seus trabalhadores evitando que os operários tomassem 
iniciativas que pudessem redundar a sua constituição como classe ou na organização de 
associações próprias. 
Quanto ao problema de aposentadoria, auxilio doença e abastecimento a direção das 
fabricas criou em 1884 a caixa econômica, antes que o Estado intervisse na 
regulamentação dessa matéria. 
Quanto ao problema de educação os operários organizaram escolas primarias noturna 
para meninos e meninas objetivando o treinamento dos mesmos para trabalhar nas 
fábricas. 
Outra agência de poder extremamente útil para o disciplinamento dos funcionários foi 
a Igreja. A frequência às missas e aos cultos sempre foi estimulada. Os dirigentes 
sempre que podiam liberavam os operários para eventos da igreja. Meninas abrigadas 
pelos conventos eram as preferidas como mão de obra, já que eram assíduas e o custo 
era baixo. 
Outro campo que foi investido em busca da disciplina dos funcionários foi o de lazer 
e diversão, os empresários estimulavam formações de bandas e times de futebol além de 
investirem em cinemas e organização de clubes para os funcionários. O empregado ao 
iniciar seus serviços assinava uma folha autorizando o desconto mensal dando direito a 
frequentar o clube e a serviços médico-dentario. 
Outra agência de caráter privado utilizado para a disciplina dos funcionários era a 
família. Quanto mais filhos empregados nas fábricas, mais fácil ficaria o orçamento 
familiar. 
Para fazer parte do quadro de funcionários de uma fábrica a disciplina e à hierarquia 
passam a ser requisitos essenciais. Para os que não se adequassem a única maneira seria 
afasta-los de seus cargos. Os operários estavam sujeitos a um complexo sistema de 
disciplina que supunha o enclausuramento, a obediência às normas, às técnicas de sua 
distribuição espacial e funcional, rigorosos controles de entrada, saída e permanecia. 
Os empresários manipulavam indiretamente o poder ideológico por meio do uso de 
agências privadas previamente existentes na sociedade civil (como família, igreja e 
escola.) ou diretamente por associações criadas por eles, com o mesmo intuito: as 
bandas, clubes, hospitais e etc. 
 
O convento 
Os conventos eram instituições criadas pelos empresários de fábricas para alojar 
moças solteiras com a finalidade de trabalharem em suas fábricas. Era uma forma barata 
de recrutar mão de obra porque evitava a imobilização de capital na construção de 
cassas para operários, possibilitava o pagamento dos mais baixos salários as operarias, 
porque as despesas com as moças eram as menores possíveis, e por ultimo, o que 
também movia esse recrutamento era que elas era as mais constantes e estáveis 
trabalhadoras. Do ponto de vista organizacional, o convento foi uma instituição laica 
que atuava na formação de disciplina de um segmento importante da classe 
trabalhadora. 
Os intermediários encarregados de recrutar as moças podiam ser industriais, padres 
ou clientes, fornecedores de algodão ou distribuidores de tecidos. Eram previamente 
informados das qualidades que deveriam presidir no recrutamento das candidatas. 
Atributos ligados a inteligência, conhecimento prático e robustez era o primeiro critério. 
Além disso deveriam ser jovens com mais de 14 anos. 
Os conventos eram instituições regidas por estatutos próprios. Por essa razão, eles 
não podiam ser reduzidos a simples pensões. A existência de regulamento própria 
transforma o convento em uma organização fechada. Nele, as moças operárias não 
podiam agir livremente. Seu tempo e suas atividades passavam a ser reguladas 
coletivamente. 
O convívio social era controlado. A vida interna seguia o regulamento dentro dos 
horários preestabelecidos. Previa-se a realização de tarefas coletivas como: limpeza, 
arrumação da casa, lavação de roupas, etc. em casos de namoro eles poderiam acontecer 
na varanda ou na sala de visitas na presença da regente do convento. Das regentes 
dependiam o sucesso do convento, o bom funcionamento, a disciplina interna e a 
satisfação das conventuais, consequentemente, a sua permanência no trabalho. 
Foi decidido pelas fábricas que cada operário resolveria sua questão de subsistência 
por conta própria, inclusive as moças do convento, pois pensavam que o fornecimento 
de alimentação pelas fábricas ou pela regente do convento poderia ser motivo de queixa 
e insatisfação. 
Alguns motivos levavam as moças a saírem dos conventos, como o casamento, já que 
as fábricas não aceitavam mulheres casadas e com filhos, pois isso causava inúmeras 
faltas ao trabalho. E outro motivo era a contração de doenças. 
Nas fábricas de minas não havia inspetores de saúde publica que registrassem as 
condições subumanas de trabalho e vida dos operários das primeiras fábricas de tecidos 
do século XIX. A herança escravocrata dos primeiros empresários não era muito 
favorável a introdução de maiores melhorias de vida e de trabalho. 
Em síntese a formação da disciplina proveio da atuação conjunta e complementar de 
todos os mecanismos acionados, postos em prática em três ambientes – fábrica, vila 
operária e convento – tornando os efeitos da ação empresarialmais eficazes. Imediatos e 
duradouros do que os obtidos pelo sistema escolar ou de comunicação nos dias atuais.

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