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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS 
Comentário sobre um caso de histeria retirado do livro "Clínica Lacaniana – Casos clínicos do campo freudiano" 
Disciplina: Teorias e Técnicas Psicoterápicas 1
Docente: Ivone Maia 
Discente: Ana Luiza Carneiro
Feira de Santana – BA.
Comentário do caso clínico de histeria "Toque-me, doutor...", de Diana Etinger de Alvarez.
Breve relato da história clínica
A pessoa que vai ser analisada nesse caso clínico é Deborah, uma mulher de 60 anos. A analista lhe atribui alguns elogios: agradável, inteligente e bonita. Deborah procurou a análise com o objetivo de resolver alguns problemas a curto prazo. Trouxe uma queixa de não ter boa relação com sua mãe, e de ser uma pessoa que não conseguia demonstrar afeto pelas pessoas próximas, tanto pela sua mãe, quanto pelo seu marido e filhos. 
Atualmente, seu casamento apresenta alguns problemas, por não ter amor, carinho, e apresentar certa rivalidade. Deborah relata que essa situação atual desfavorável se dá devido às infidelidades do marido, que aconteciam desde o início da relação. Ainda haviam algumas desavenças por conta da vontade do marido de ter mais filhos, algo que Deborah não deseja, e que por conta disso fez alguns abortos, acontecimentos os quais seu marido não aprovava. Apesar de o marido estar há alguns anos sem ser infiel, Deborah ainda revive muitos sentimentos ruins desses momentos passados.
Além de todos esses problemas, Deborah constantemente atribui a seu marido adjetivos ofensivos, os quais ele reage de forma nervosa, porém ela afirma o desprezar. Deborah relata que não consegue admirar seu companheiro, pelo fato de o considerar inapto para ganhar dinheiro, característica que sua própria mãe atribuía ao pai de Deborah, porém sua mãe não se importava com essa característica dele, ao passo que ela não dava grande importância para o enriquecimento. A mãe de Deborah tem alguma repugnância por homens, o que a levou a não abrir lugar em seu desejo para o pai de Deborah. Dessa maneira, o desvio de atenção da mãe, que se daria na infância de Deborah, não é para o pai. O pai não apresenta o objeto de desejo, o falo, para a mãe. Por conta disso Deborah se encontra com uma carência fálica, pois ela não reconhece no pai alguém que seria o meio dela obter esse falo. Essa carência fálica é uma característica marcante da histeria.
Deborah relata que foi muito amada e hiperprotegida pelos pais na infância. Era a filha preferida, "a princesinha", como ela mesma atribui. Ela tem conhecimento de sua beleza física, e se pergunta se os homens a acham atraente sexualmente. Remetendo-se novamente às infidelidades de seu esposo, ela pergunta como ele pôde ter feito isso com ela (uma mulher tão bonita, que supostamente bastaria para saciar todas as vontades de qualquer homem). O casal ainda mantém relações sexuais, apesar de Deborah nunca ter tomado a iniciativa.
Certa vez, já estando na análise, Deborah viajou com seu marido, viagem na qual ele adquiriu um instrumento musical. Isso não foi muito agradável para Deborah: o marido passava muito tempo com o instrumento; menosprezava todas as vezes em que Deborah começava a falar mal dele; o volume alto da música a aborrecia. Depois de um tempo tendo esses comportamentos nos quais ela dirigia comentários ruins ao marido, ele "explodiu". Ficou muito furioso com ela, gritou, atirou-lhe objetos. O casamento que já estava ruim, piorou. Não há mais diálogo entre eles, e Deborah pensa em separação. 
Em seguida, a analista do caso descreve brevemente quatro sessões realizadas com Deborah, que trazem alguns elementos importantes que serão discutidos nos próximos pontos. 
Um acontecimento significativo na vida de Deborah é quando ela conhece uma mulher de origem judaica, que tem um marido que parece gostar muito dela e ser enciumado. Essa mulher faz muitas coisas para agradar o marido, uma delas é depilar o queixo. Ela indica à Deborah o médico que realiza sua depilação elétrica. Deborah começa a frequentar esse médico, pois tem uma pelugem também no queixo, que se não depilar, segundo ela, fica com o pelo grosso, aparentando ser uma barba de homem. Todos esses fatos são relatados à sua analista, inclusive Deborah pede para que a analista a toque no queixo, ("toque-me, doutor...") para sentir essa barba. A analista se sente ao mesmo tempo testemunha e autora de algo que Deborah quer demonstrar: que não é mais a princesinha dos pais. Essa última parte são suposições da analista. 
Sintomas na histeria 
Em geral, os sintomas na histeria apresentavam-se no corpo – algo que foi muito difundido nos primórdios dos estudos sobre histeria. Acreditava-se que um trauma gerava uma grande intensidade afetiva, produzindo, assim, sintomas corporais tais como paralisia, afonia, etc.
O que se sabe sobre casos um pouco mais recentes, são que os sintomas histéricos aparecem em decorrência da identificação ou imitação do histérico com outra pessoa. O caso Dora, por exemplo, no qual toda vez que seu irmão apresentava alguma doença, logo em seguida ela apresentava também, demonstra a imitação/identificação do histérico com outra pessoa e ao mesmo tempo o se colocar no lugar de objeto para receber atenção/amor do Outro.
No caso de Deborah, o representante psíquico original, do Inconsciente, se liga a outro representante psíquico (por conta da barreira inconsciente --> consciente) que aparece em forma de sintoma (queixa), sintoma esse que seria a "máscara" do R.P. original, que não pode aparecer por conta dessa barreira. Ou seja, o que é dito pela paciente, sua queixa, seu sintoma (não conseguir demonstrar afeto em suas relações), esconde por trás um "dizer" (seu desconforto angustiante em ocupar o lugar de objeto, em seu modo de gozo), e é esse dizer que deve ser investigado no processo de análise. 
As queixas trazidas por Deborah dizem respeito ao seu jeito "frio" de ser; às suas ruins relações interpessoais: com marido, filhos, mãe. O importante neste caso é reconhecer o lugar que ela se coloca nessas relações, o lugar que ela ocupa na sua própria queixa, e seu modo de gozo, de satisfação, ou seja, reconhecer o sintoma analítico.
Além disso, há a questão da ambiguidade, que se dá principalmente na forma como Deborah se coloca na relação com o marido, e o lugar que ela coloca ele. Deborah, que por um lado se coloca nesse lugar de objeto, por outro se angustia por estar nesse lugar. Ela se queixa, porém também encontra satisfação (gozo) nesse lugar que ocupa. Essas são suas ambiguidades.
Elementos da estrutura 
3.1 Ambiguidade 
A ambiguidade presente em casos histéricos se dá na medida em que o sujeito coloca o Outro no lugar de mestre (alguém que tem o saber), mas ao mesmo tempo o coloca no lugar de impotente (alguém que não é capaz de satisfazer seus desejos). 
No caso de Deborah isso é muito claro na relação que ela estabelece com o marido. Ela em certa medida o respeita por ser um homem honesto e de boa índole, mas por outro lado lhe atribui diversos adjetivos ruins por não conseguir atender às expectativas dela – ou seja, ser um homem que tenha aptidão para ganhar dinheiro. Basicamente, ao mesmo tempo que esse marido a satisfaz em certa medida (no sexo, por exemplo), não a satisfaz totalmente, e ela diversas vezes irá responsabilizá-lo por essa não satisfação. Ela encontrará satisfação sendo o objeto de desejo do marido, nas tentativas do marido de satisfazê-la; e, na medida em que ela o colocará no lugar de impotente, ele nunca atenderá às suas expectativas, e ela gozará em ser o desejo do desejo do marido. Vê-se, entretanto, que seu modo de gozar está causando algum desconforto, alguma angústia, que é apresentado por ela como queixa. 
3.2 Questão sobre o ser/pergunta sobre o feminino 
Na histeria o sujeito irá se perguntar o que ele é. Logo essa pergunta se transformará para, em vez de ser, o que o sujeito quer. O histérico apresenta uma carência fálica, ou seja, o que ele quer é buscar esse falo no Outro. Daí ele perguntará oque o Outro quer, para que ame ele (para que ame o histérico). Resumindo na famosa frase: "Que queres? Para que me ames?". Esse sujeito irá se colocar no lugar de objeto, alguém que precisa ser amado por Outro, e não vai se reconhecer enquanto sujeito, vai responsabilizar o Outro pelo que acontece na sua vida. Entendendo-se que esse Outro, responsável pelo que não vai bem na vida da pessoa, não necessariamente é outra pessoa; pode ser sua situação no trabalho, nos estudos, por exemplo.
No que se refere à questão do feminino/masculino, entende-se que o feminino é um lugar de falta do falo simbólico (não ter algo; não ter poder, não ter voz na sociedade, por exemplo) um lugar no qual o sujeito não é sujeito, é objeto. Objeto do desejo do outro. Isso não tem a ver com o fato de ser homem ou mulher: homens podem ocupar o lugar do feminino, assim como mulheres podem ocupar o lugar do masculino. Por isso a pessoa vai estar perguntando o que o Outro quer dela, para que ela seja o que esse Outro quer que ela seja. 
No caso Deborah, ela irá se perguntar se é atraente sexualmente para os homens. E ela irá se colocar no lugar de objeto em sua relação com o marido: não toma iniciativa no sexo, espera que ele tome, pois, segunda ela, é isso que faz uma mulher (não tomar iniciativa). Ela espera que ele satisfaça seu desejo. Quando, certa vez, Deborah toma iniciativa, de forma muito discreta (encostando sua perna na perna do marido), ela se sente no lugar de homem, como assinala a analista do caso. Deborah usa a expressão "juntar a chata" para dizer que encostou sua perna na perna do marido, insinuando que queria fazer sexo. Essa expressão é usada por caminhoneiros – algo que Deborah faz questão de explicar à analista. Por isso ela se sente nesse lugar de homem quando toma a iniciativa. Isso nos dá indicativo que talvez Deborah esteja procurando meios de se localizar subjetivamente de modo diferente.
3.3 Questão fálica/pergunta sobre o desejo 
Uma característica da histeria é a carência fálica. É a falta. Falta esta que a pessoa irá tentar preencher buscando algo no Outro. Como já foi dito anteriormente, o desejo da pessoa é ser desejada por outra, ser o objeto de desejo de outro alguém. A pessoa se coloca como objeto, e não se reconhece como sujeito. Diante disso, irá responsabilizar também o Outro para satisfazer seus desejos, o colocando concomitantemente em dois lugares opostos – o que a satisfaz e o que não a satisfaz totalmente. Sendo que ela encontra satisfação em não ser satisfeita totalmente, porque dessa maneira o Outro – assim pensa a pessoa histérica - irá estar constantemente tentando satisfazê-la, ela será constantemente objeto de desejo dele.
Deborah, que desde a infância foi a preferida dos pais, se colocou e ocupou esse lugar de objeto do desejo/amor do Outro. O mesmo ocorre com seu marido, onde ela quer ser também objeto do desejo dele, e se vê frustrada quando ele adquire um instrumento musical, pois a atenção dele se volta para esse instrumento, e não para Deborah; assim como a atenção dele havia se voltado, em momentos anteriores, à outras mulheres, quando ele foi infiel no casamento. Percebe-se como estes acontecimentos entristecem profundamente a paciente, de modo que ela busca, na identificação com outra mulher (a mulher judaica que tem um marido que parece gostar muito dela) retomar o lugar de objeto no seu próprio casamento. Ela irá fazer uma depilação elétrica em seu queixo – da mesma forma que a mulher judia que tem lugar no desejo do marido também faz. Quando o médico pergunta à Deborah por que ela demorou tanto para fazer a depilação, ela lhe dá motivos triviais. Isso pode dar indicativo também do desconforto de Deborah de estar nesse lugar de objeto, e pode ser que ela esteja buscando, indiretamente, através do marido, o seu falo simbólico, já que ela não o adquiriu com o pai, e ela, em certas ocasiões (quando tomou a iniciativa para fazer sexo com seu marido, por exemplo), se identificou nesse lugar de masculino. É importante ressaltar que as construções sobre feminino e masculino estão imbricadas em certo tempo histórico, social e que repercutem na forma como o sujeito irá fazer sua própria construção. No caso Deborah, ela tinha suas convicções sobre o que é ser homem e o que é ser mulher. "É isso que faz uma mulher" quando disse que mulheres esperam a iniciativa do marido. 
Em certa medida, percebe-se como a angústia toma conta de Deborah por ter que ocupar este lugar de objeto nas suas relações. Certa vez ela diz em análise "Quisera eu arrancar-me do amor do meu pai". Ou seja, sair do lugar de objeto. Quando ela toma iniciativa para ter relação sexual com seu marido, isso também a coloca – numa percepção dela – no lugar de homem. 
Essas questões por último expostas dão alguns indícios de que a paciente já não suporta mais viver com essa angústia, e busca na análise meios para se "resolver", meios para se localizar subjetivamente de modo diferente, mesmo que encontre certa satisfação em seu modo de gozo, as queixas trazidas por ela já lhe atormentam mais que esse modo de gozar. 
Direção do tratamento
 O tratamento da histeria se dá por meio de duas vias, que devem atuar conjuntamente: a mortificação e a histericização do discurso. A mortificação é o simples ato de fazer o sujeito falar, com o objetivo de fazer com que sua angústia diminua, e com que a intensidade afetiva causada pelo modo de gozar, que implica em sintomas, diminua também. Ou seja, fazer falar, colocar significantes em seu representante psíquico "mascarado" através do sintoma, diminui a intensidade afetiva. Porém, falar só não basta. É necessário histericizar o discurso, ou seja, o sujeito deve mudar a relação que estabelece com o Outro, deve ter conhecimento e aceitar que o Outro não tem tudo, não tem que atender às expectativas postas sobre ele. É transformar o Outro em outro. E para além disso, é se implicar no processo de sua própria história, se localizar na desordem da qual ele se queixa, se responsabilizar por sua própria vida. No final do tratamento, é necessário que o sujeito saiba que ele não é completo, e que está tudo bem assim. E que o Outro, que será visto agora como apenas outro, também não é completo.
No caso Deborah, percebe-se que ela quer se livrar de sua angústia de ocupar o lugar de objeto. O fato de procurar a análise já indica que Deborah tem uma queixa, da qual ela quer falar sobre; quer falar sobre seus sintomas, e, portanto, de seus significantes, que são próprios dela. A direção do tratamento de Deborah é fazê-la reconhecer seu lugar nas suas relações, principalmente na relação com seu marido. Fazê-la reconhecer que o Outro não é o agente de tudo, e que ela também está implicada no processo, ela precisa reconhecer sua localização subjetiva para poder descobrir o que fazer com suas queixas. Deborah pode mudar a forma que se relaciona com seu esposo mudando-o de lugar do mestre e do impotente, se livrando dessa ambiguidade que a faz querer que ele a satisfaça por inteiro e o condena por não conseguir fazê-lo (algo que ninguém conseguiria fazer por ninguém). Dessa maneira, ela conseguiria se localizar subjetivamente de modo diferente, entendendo que o outro não precisa atender à todas as suas expectativas, e que ela será sempre alguém desejante, alguém que se movimenta em direção àquilo que falta. O importante é ela saber o que fazer com seu desejo, com seus significantes; significantes esses que ao final da análise serão indizíveis, serão um resto que vai sempre estar ali (no inconsciente), será o sinthoma com esse "h" no meio que indica um furo que faz com que o sujeito se movimente, afinal, é isso que nos faz estar vivos.

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