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APOSTILA CIVIL V (1)

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D	
  I	
  R	
  E	
  I	
  T	
  O	
  	
  C	
  I	
  V	
  I	
  L	
  	
  	
  V	
  	
  -­‐	
  	
  C	
  O	
  N	
  T	
  R	
  A	
  T	
  O	
  S	
  	
  I	
  I	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
2	
  
Tópicos:	
  
	
  
Doação	
  ....................................................................................................................................3	
  
Prestação	
  de	
  serviço................................................................................................................32	
  
Contrato	
  de	
  empreitada..........................................................................................................39	
  
Empréstimo.............................................................................................................................46	
  	
  
Depósito..................................................................................................................................53	
  
Mandato..................................................................................................................................65	
  
Locação....................................................................................................................................79	
  	
  
Comissåo.................................................................................................................................150	
  	
  
Representação	
  Comercial........................................................................................................160	
  
Gestão.....................................................................................................................................166	
  
Fiança......................................................................................................................................167	
  
Agência	
  e	
  Distribuiçåo.............................................................................................................177	
  	
  
Transporte...............................................................................................................................182	
  
Cartão	
  de	
  Crédito....................................................................................................................197	
  
Factoring	
  .................................................................................................................................199	
  
Franquia..................................................................................................................................	
  202	
  
Bancário...................................................................................................................................207	
  
Know	
  How................................................................................................................................211	
  
Seguro......................................................................................................................................213	
  
Leasin.......................................................................................................................................230	
  
Incorporação	
  imobiliária..........................................................................................................237	
  
Compromisso	
  e	
  Arbitragem	
  ....................................................................................................259	
  
Transação.................................................................................................................................275	
  
Constituição	
  de	
  Renda.............................................................................................................278	
  
3	
  
Doação.	
  	
  
	
  
1.	
  Conceito.	
  	
  
	
   Está	
  no	
  próprio	
  código	
  civil.	
  
	
  Art.	
   538.	
   Considera-­‐se	
   doação	
   o	
   contrato	
   em	
   que	
   uma	
   pessoa,	
   por	
  
liberalidade,	
  transfere	
  do	
  seu	
  patrimônio	
  bens	
  ou	
  vantagens	
  para	
  o	
  de	
  outra.	
  
	
   É	
   uma	
   liberalidade	
  praticada	
  pelo	
  doador	
   em	
  benefício	
   do	
  donatário,	
   transferindo-­‐
lhe,	
  em	
  vida,	
  bens	
  ou	
  vantagens	
  do	
  seu	
  patrimônio,	
  entendido	
  aqui	
  como	
  o	
  conjunto	
  de	
  bens	
  
pertencentes	
  a	
  uma	
  pessoa,	
  próximo,	
  portanto,	
  do	
  sentido	
  econômico.	
  (Sanseverino)	
  
	
  
2.	
  Elementos	
  da	
  doação:	
  	
  
-­‐	
  enriquecimento	
  do	
  donatário;	
  	
  
-­‐	
  intenção	
  de	
  doar	
  
	
  
2.1.	
  Enriquecimento	
  do	
  donatário	
  
	
   A	
   doação	
   requer	
   a	
   transferência	
   da	
   propriedade	
   de	
   um	
   bem,	
   que	
   pertence	
   ao	
  
doador,	
   para	
   o	
   donatário.	
   Há,	
   assim,	
   um	
   enriquecimento	
   do	
   donatário	
   em	
   troca	
   de	
   um	
  
empobrecimento	
  do	
  doador.	
  
	
   Liberalidades	
  que	
  não	
  se	
  constituem	
  em	
  doação	
  
	
   Há	
   liberalidades	
  que,	
  embora	
  pareçam,	
  não	
  se	
  constituem	
  em	
  doação.	
  Na	
  renúncia	
  
abdicativa,	
  por	
  exemplo,	
  quando	
  alguém	
  simplesmente	
  abre	
  mão	
  da	
  herança	
  sem	
  indicar	
  para	
  
quem	
  gostaria	
  que	
  ficassem	
  os	
  bens	
  renunciados,	
  não	
  há	
  doação,	
  porque	
  a	
  herança	
  não	
  chega	
  
entrar	
   no	
   patrimônio	
   do	
   renunciante.	
   Por	
   outro	
   lado,	
   na	
   renúncia	
   translativa,	
   a	
   doação	
   se	
  
caracteriza,	
  porque	
  o	
  renunciante	
  recebe	
  a	
  herança	
  e	
  indica	
  a	
  pessoa	
  para	
  quem	
  deseja	
  que	
  
fique	
   o	
   bem.	
   Incide,	
   neste	
   caso,	
   inclusive	
   imposto	
   de	
   transmissão.	
   É	
   o	
   elemento	
   objetivo	
  
(Sanseverino).	
  
4	
  
2.2.	
  Intenção	
  de	
  doar	
  
	
   O	
   ânimo	
   de	
   doar	
   (animus	
   donandi)	
   “consiste	
   na	
   intenção	
   do	
   doador	
   praticar	
   a	
  
liberalidade	
  em	
  favor	
  do	
  donatário”,	
  diz	
  Sanseverino.	
  	
  
	
   É	
  a	
  prática	
  de	
  uma	
  liberalidade	
  desinteressada	
  em	
  benefício	
  do	
  donatário,	
  quer	
  dizer,	
  
sem	
  exigir	
  qualquer	
  contraprestação.	
  E	
  isso	
  está	
  presente	
  mesmo	
  nas	
  doações	
  modais	
  ou	
  com	
  
encargo,	
   afirma	
   Sanseverino,	
   porque	
   este	
   ônus	
   não	
   chega	
   a	
   constituir	
   uma	
   contrapartida	
   à	
  
liberalidade.	
  
	
  
3.	
  Natureza	
  jurídica	
  
	
   É	
   um	
   contrato	
   como,	
   expressamente,	
   estabelece	
   o	
   artigo	
   538	
   do	
   Código	
   Civil.	
   O	
  
Código	
  Civil	
  alemão	
  (BGB)	
  também	
  atribui	
  à	
  doação	
  natureza	
  contratual,	
  como	
  se	
  depreende	
  
do	
  seu	
  artigo	
  1900	
  (Sanseverino).	
  	
  
	
   Mas,	
   no	
   direito	
   francês,	
   a	
   doação	
   é	
   considerada	
   modo	
   especial	
   de	
   aquisição	
   da	
  
propriedade,	
  como	
  dispõe	
  o	
  artigo	
  892	
  do	
  Code	
  Civil	
  de	
  1804.	
  O	
  Código	
  Civil	
  italiano,	
  em	
  seu	
  
artigo	
  769,	
  define	
  a	
  doaçãocomo	
  contrato,	
  mas	
  a	
  insere	
  no	
  Título	
  V,	
  do	
  Livro	
  II,	
  que	
  trata	
  do	
  
direito	
   sucessório,	
   ao	
   invés	
   de	
   inseri-­‐la	
   no	
   Livro	
   IV	
   que	
   trata	
   do	
   direito	
   das	
   obrigações.	
  
(Sanseverino).	
  	
  
	
  
4.	
  Características	
  (Gagliano	
  e	
  Pamplona)	
  
4.1.	
  Unilateralidade	
  
	
   É	
  um	
  contrato	
  unilateral,	
  porque	
  estabelece	
  obrigação	
  apenas	
  para	
  o	
  doador.	
  E	
  assim	
  
o	
  é	
  mesmo	
  que	
   se	
   trate	
  de	
  doação	
  onerosa,	
  ou	
   seja,	
   gravada	
  com	
  um	
  encargo,	
   “vez	
  que	
  o	
  
ônus	
  que	
  se	
  impõe	
  ao	
  donatário	
  não	
  tem	
  o	
  peso	
  da	
  contraprestação,	
  a	
  ponto	
  de	
  desvirtuar	
  a	
  
natureza	
  do	
  contrato”(Pamplona	
  e	
  Gagliano).	
  
	
   Carlos	
   Roberto	
   Gonçalves	
   tem	
   um	
   posicionamento	
   diferente,	
   entendendo	
   que	
   a	
  
doação	
  será	
  bilateral	
  se	
  houver	
  imposição	
  de	
  encargo	
  ao	
  donatário.	
  
	
  
5	
  
4.2.	
  Formalidade	
  
Em	
   regra,	
   o	
   contrato	
   de	
   doação	
   é	
   formal,	
   porque	
   requer	
   forma	
   escrita	
   (por	
  
instrumento	
  público	
  ou	
  particular).	
  A	
  exceção	
  reside	
  nas	
  doações	
  de	
  bens	
  móveis	
  de	
  pequeno	
  
valor,	
  que	
  se	
  contenta	
  apenas	
  com	
  a	
  entrega	
  imediata.	
  
	
   É	
  o	
  que	
  preceitua	
  Código	
  Civil:	
  
Art.	
  541.	
  A	
  doação	
  far-­‐se-­‐á	
  por	
  escritura	
  pública	
  ou	
  instrumento	
  particular.	
  
Parágrafo	
  único.	
  A	
  doação	
  verbal	
  será	
  válida,	
  se,	
  versando	
  sobre	
  bens	
  móveis	
  
e	
  de	
  pequeno	
  valor,	
  se	
  lhe	
  seguir	
  incontinenti	
  a	
  tradição.	
  
	
   Quanto	
  aos	
  bens	
  imóveis,	
  a	
  regra	
  até	
  seria	
  dispensável,	
  pois	
  o	
  artigo	
  108	
  do	
  Código	
  
Civil	
  já	
  exige,	
  para	
  os	
  contratos	
  envolvendo	
  imóveis	
  com	
  valor	
  acima	
  de	
  trinta	
  vezes	
  o	
  maior	
  
salário	
  mínimo	
  vigente	
  no	
  País,	
  a	
  escritura	
  pública.	
  
	
   Mas,	
   para	
   os	
   bens	
   móveis,	
   observa	
   Sanseverino,	
   o	
   legislador	
   estabeleceu	
   um	
  
requisito	
  de	
  validade	
  não	
  exigido	
  em	
  outros	
  contratos.	
  Normalmente,	
  tratando-­‐se	
  de	
  contrato	
  
translativo	
  de	
  bens	
  móveis,	
  não	
  se	
  exige	
  forma	
  escrita,	
  bastando	
  o	
  consenso	
  e	
  a	
  entrega	
  do	
  
bem	
  ao	
  adquirente,	
  como	
  ocorre	
  na	
  troca	
  e	
  na	
  compra	
  e	
  venda.	
  
	
   O	
   rigor	
   da	
   forma	
   especial,	
   salienta	
   Sanseverino,	
   objetiva	
   a	
   proteção	
   do	
   próprio	
  
doador,	
  evitando	
  doações	
  precipitadas	
  e	
  arrependimentos	
  posteriores.	
  	
  
	
   O	
   legislador,	
   todavia,	
   abriu	
   exceção	
   para	
   os	
   casos	
   de	
   doações	
   de	
   bens	
  móveis	
   de	
  
pequeno	
   valor,	
   admitindo	
   sejam	
   verbais	
   (consensuais),	
   mas	
   exigindo	
   que	
   a	
   entrega	
   seja	
  
imediata.	
  São	
  as	
  chamadas	
  doações	
  manuais.	
  “É	
  o	
  caso,	
  por	
  exemplo,	
  do	
  amigo	
  que	
  doa	
  uma	
  
caneta	
  ao	
  outro,	
  entregando-­‐a	
  de	
  imediato”	
  (Gagliano	
  e	
  Pamplona).	
  
	
  
4.3.	
  Ânimo	
  de	
  doar	
  (animus	
  donandi)	
  
	
   O	
   doador	
   deve	
   querer	
   praticar	
   o	
   ato	
   de	
   liberalidade,	
   enriquecendo	
   o	
   donatário	
   às	
  
suas	
  próprias	
  expensas	
  (Rizzardo).	
  
	
  
	
  
6	
  
4.4.	
  Gratuidade	
  
	
   A	
  doação	
  é	
  um	
  contrato	
   gratuito	
  ou	
  benéfico,	
   porque	
  atribui	
   vantagens	
   apenas	
   ao	
  
donatário	
  e	
  encargos	
  ao	
  doador.	
  “Nem	
  mesmo	
  a	
  doação	
  com	
  encargo	
  constitui,	
  a	
  rigor,	
  um	
  
contrato	
   oneroso”	
   (Sanseverino),	
   embora	
   o	
   Código	
   Civil	
   (art.	
   562)	
   denomine	
   esta	
   doação	
  
como	
  onerosa.	
  
	
   Todavia,	
   Carlos	
   Roberto	
   Gonçalves	
   afirma	
   que	
   havendo	
   imposição	
   de	
   encargo	
   ao	
  
beneficiário,	
  o	
  contrato	
  será	
  oneroso.	
  
	
  
4.5.	
  Adesão	
  	
  
	
   O	
   donatário	
   não	
   pode	
  discutir	
   os	
   termos	
   da	
   doação,	
   restando-­‐lhe	
   apenas	
   anuir	
   ou	
  
não	
  à	
  liberalidade	
  do	
  doador	
  (Gagliano	
  e	
  Pamplona).	
  
	
  
5.	
  Objeto	
  
	
   Pode	
  ser	
  objeto	
  da	
  doação	
  bens	
  ou	
  vantagens	
  (CC,art.	
  538),	
  ou	
  seja,	
  qualquer	
  coisa	
  
que	
  “tenha	
  expressão	
  econômica	
  e	
  possa	
  ser	
  alienada”,	
  bens	
  móveis	
  e	
   imóveis,	
  corpóreos	
  e	
  
incorpóreos,	
  consumíveis	
  e	
  inconsumíveis	
  (Gonçalves).	
  
	
  
5.1.	
  Coisa	
  alheia	
  
	
   Coisa	
  alheia,	
  a	
  princípio,	
  não	
  pode	
  ser	
  objeto	
  de	
  doação,	
  mas,	
  se	
  o	
  for,	
  e	
  o	
  doador,	
  
posteriormente,	
   adquirir	
   a	
   propriedade	
   da	
   coisa,	
   o	
   contrato	
   se	
   convalida,	
   na	
   forma	
   do	
  
parágrafo	
  primeiro	
  do	
  artigo	
  1268	
  do	
  Código	
  Civil.	
  
	
  
5.2.	
  Bens	
  futuros	
  
	
   A	
  maioria	
  dos	
  ordenamentos	
  jurídicos	
  proíbe	
  a	
  doação	
  de	
  bens	
  futuros,	
  tais	
  como	
  o	
  
Código	
  Civil	
  francês	
  (art.	
  943),	
  o	
  Código	
  Civil	
  italiano	
  (art.	
  771),	
  e	
  o	
  Código	
  Civil	
  português	
  (art.	
  
942).	
  	
  
7	
  
	
   O	
  nosso	
  Código	
  Civil	
  não	
  proíbe,	
  mas	
  na	
  doutrina	
  há	
  divergências.	
  São	
  contrários,	
  por	
  
exemplo,	
   Paulo	
   Lôbo,	
   Orlando	
   Gomes;	
   são	
   favoráveis:	
   Agostinho	
   Alvim	
   Carlos	
   Roberto	
  
Gonçalves,	
  Paulo	
  de	
  Tarso	
  Vieira	
  Sanseverino.	
  Caio	
  Mário,	
  salientando	
  que	
  a	
  doação	
  de	
  bens	
  
futuros	
  não	
  é	
  vedada,	
  alerta	
  que	
  o	
  contrato	
  será	
  condicional	
  e	
  não	
   terá	
  validade	
  se	
  a	
  coisa	
  
doada	
  não	
  se	
   tornar	
  disponível	
  para	
  o	
  doador.	
  E,	
  ainda,	
  não	
   terá	
  validade	
  se	
   tiver	
  natureza	
  
sucessória,	
  direta	
  ou	
  indireta	
  (Gonçalves).	
  	
  
	
   Exemplos:	
  Os	
  frutos	
  que	
  serão	
  colhidos	
  este	
  ano;	
  o	
  primeiro	
  bezerro	
  que	
  nascer	
  da	
  
vaca	
  (Agostinho	
  Alvim).	
  
	
  
5.3.	
  Promessa	
  de	
  doação	
  
	
   Há	
   divergência	
   na	
   doutrina.	
   Para	
   uns,	
   a	
   promessa	
   de	
   doação,	
   sendo	
   pura,	
   se	
  
admitida,	
   poderia	
   o	
   donatário	
   exigir	
   o	
   cumprimento	
   da	
   obrigação	
   de	
   fazer	
   e/ou	
   perdas	
   e	
  
danos,	
   caso	
   não	
   fosse	
   cumprida,	
   e	
   isso	
   é	
   incompatível	
   com	
   a	
   gratuidade.	
   Para	
   outros,	
   a	
  
liberalidade	
  é	
  manifestada	
  no	
  momentoda	
  celebração	
  da	
  promessa,	
  e	
  a	
  sentença	
  proferida	
  
na	
  ação	
  intentada	
  pelo	
  promissário-­‐donatário,	
  apenas,	
  busca	
  o	
  cumprimento	
  daquilo	
  que	
  foi	
  
convencionado.	
   Essas	
   questões	
   aparecem	
   com	
   mais	
   freqüência	
   nas	
   separações	
   judiciais	
  
consensuais,	
   onde	
   há	
   promessa	
   de	
   doação	
   de	
   bens	
   aos	
   filhos.	
   Discute-­‐se	
   se	
   pode	
   haver	
  
arrependimento.	
  	
  
	
   Yussef	
  Said	
  Cahali	
  alerta	
  de	
  que	
  se	
  deve	
  distinguir	
  a	
  doação	
  definitiva	
  da	
  promessa	
  de	
  
doação.	
  Quando,	
  nestes	
   feitos	
  da	
  área	
  de	
   família,	
  houver	
  homologação	
   judicial,	
  a	
  promessa	
  
de	
   doação	
   se	
   torna	
   consumada,	
   não	
   podendo	
  mais	
   haver	
   retratação.	
   Por	
   outro	
   lado,	
   até	
   a	
  
homologação,	
  pode	
  o	
  doador	
  arrepender-­‐se	
  (Gonçalves).	
  O	
  STJ	
  firmou	
  posição	
  no	
  sentido	
  de	
  
que,	
   na	
   ação	
   de	
   dissolução	
   da	
   sociedade	
   conjugal,	
   o	
   acordo	
   homologado	
   que	
   contém	
  
promessa	
  de	
  doação	
  de	
  bens	
  aos	
  filhos	
  é	
  exigível	
  por	
  ação	
  cominatória	
  (REsp	
  125859/RS,	
  2ª	
  
Seção.,	
  rel.	
  Min.	
  Ruy	
  Rosado,	
  j.	
  26/06/2002,	
  DJ	
  24/03/2002;	
  REsp	
  742.048/RS,	
  3ª	
  T.,	
  rel.	
  Min.	
  
Sidnei	
  Beneti,	
  j.	
  14.04.2009,	
  DJ	
  24.04.2009).	
  
	
  
	
  
	
  
8	
  
6.	
  Capacidade	
  
6.1.	
  Capacidade	
  ativa	
  
	
   O	
  doador,	
  em	
  regra,	
  deve	
  ter	
  capacidade	
  civil,	
  exigida	
  nos	
  contratos	
  em	
  geral.	
  
	
   Se	
   o	
   donatário	
   for	
   um	
   descendente	
   ou	
   o	
   outro	
   cônjuge	
   (CC,	
   art.	
   544),	
   o	
  
consentimento	
   dos	
   outros	
   descendentes	
   ou	
   do	
   cônjuge,	
   diferentemente	
   da	
   venda	
   ou	
  
permuta,	
   não	
   é	
   exigido,	
   porque	
   a	
   doação,	
   neste	
   caso,	
   é	
   considerada	
   adiantamento	
   de	
  
legítima	
  (Rizzardo).	
  
	
  
6.1.1.	
  Cônjuge	
  casado	
  
	
   No	
  casamento,	
  exceto	
  se	
  o	
  regime	
  for	
  de	
  separação	
  absoluta,	
  um	
  cônjuge	
  não	
  pode	
  
doar	
  sem	
  o	
  consentimento	
  do	
  outro,	
  mas	
  esta	
  proibição	
  não	
  subsiste	
  se	
  a	
  doação	
  for	
  de	
  um	
  
para	
  o	
  outro	
  (Rizzardo).	
  
	
   No	
  regime	
  de	
  separação	
  obrigatória	
  (CC,	
  art.	
  1641),	
  diz	
  Rizzardo,	
  apoiado	
  em	
  Serpa	
  
Lopes,	
  as	
  doações	
  recíprocas	
  são	
  proibidas.	
  
	
   Na	
  separação	
  parcial,	
   são	
  permitidas	
  as	
  doações	
  dos	
  bens	
  particulares	
  de	
  cada	
  um,	
  
desde	
  que	
  alienáveis.	
  	
  
	
  
6.1.2.	
  Aquestos	
  
	
   No	
  regime	
  de	
  participação	
  final	
  nos	
  aquestos	
  (todos	
  os	
  bens	
  do	
  casal	
  adquiridos	
  na	
  
vigência	
  do	
  casamento),	
  as	
  doações	
  podem	
  recair	
  sobre	
  os	
  bens	
  que	
  cada	
  um	
  possuía	
  ao	
  casar	
  
e	
   sobre	
   os	
   bens	
   adquiridos	
   pelo	
   cônjuge	
   doador,	
   a	
   qualquer	
   custo,	
   na	
   constância	
   do	
  
casamento.	
  
	
  
6.1.3.	
  Menor	
  
	
   O	
  menor	
  não	
  pode	
  doar,	
  exceto	
  se	
  já	
  está	
  autorizado	
  a	
  se	
  casar	
  (Rizzardo).	
  
9	
  
	
   “O	
   menor,	
   absoluta	
   ou	
   relativamente	
   incapaz,	
   não	
   pode	
   realizar	
   doação	
   sem	
   a	
  
representação	
  ou	
  assistência	
  de	
  seu	
  representante	
  legal”	
  (Sanseverino).	
  
	
  
6.1.4.	
  Mandatário	
  
	
   É	
  possível	
  a	
  doação	
  por	
   intermédio	
  de	
  mandatário,	
  podendo,	
  no	
  caso,	
  o	
  mandante	
  
(doador),	
   no	
   próprio	
   instrumento,	
   designar	
   o	
   beneficiário	
   ou	
   deixar	
   a	
   escolha	
   a	
   cargo	
   do	
  
mandatário	
  (Rizzardo).	
  
	
  
6.1.5.	
  Cônjuge	
  adúltero	
  
	
   A	
   doação	
   de	
   cônjuge	
   adúltero	
   ao	
   seu	
   cúmplice	
   sofre	
   objeção	
   legal,	
   podendo	
   ser	
  
anulada	
  pelo	
  outro	
  cônjuge	
  ou	
  os	
  herdeiros	
  no	
  prazo	
  de	
  até	
  dois	
  anos	
  depois	
  de	
  dissolvida	
  a	
  
sociedade	
  conjugal	
  
Art.	
   550.	
   A	
   doação	
   do	
   cônjuge	
   adúltero	
   ao	
   seu	
   cúmplice	
   pode	
   ser	
   anulada	
  
pelo	
  outro	
  cônjuge,	
  ou	
  por	
  seus	
  herdeiros	
  necessários,	
  até	
  dois	
  anos	
  depois	
  de	
  
dissolvida	
  a	
  sociedade	
  conjugal.	
  
Art.	
   1.642.	
   Qualquer	
   que	
   seja	
   o	
   regime	
   de	
   bens,	
   tanto	
   o	
  marido	
   quanto	
   a	
  
mulher	
  podem	
  livremente:	
  
[...]	
  
	
  
IV	
  -­‐	
  demandar	
  a	
  rescisão	
  dos	
  contratos	
  de	
  fiança	
  e	
  doação,	
  ou	
  a	
  invalidação	
  
do	
  aval,	
  realizados	
  pelo	
  outro	
  cônjuge	
  com	
  infração	
  do	
  disposto	
  nos	
  incisos	
  III	
  
e	
  IV	
  do	
  art.	
  1.647;	
  
[...]	
  
	
  
	
   Não	
  se	
  deve	
  confundir	
  a	
  condição	
  de	
  união	
  estável	
  envolvendo	
  pessoas	
  casadas,	
  mas	
  
separadas	
  de	
  fato,	
  com	
  a	
  de	
  amantes.	
  O	
  que	
  a	
  lei	
  proíbe	
  é	
  a	
  doção	
  de	
  uma	
  pessoa	
  (homem	
  ou	
  
mulher),	
  casada	
  ao	
  amásio,	
  mas	
  não	
  é	
  aplicada	
  ao	
  cônjuge	
  separado	
  de	
  fato	
  que	
  mantém	
  uma	
  
convivência	
   pública	
   e	
   duradoura	
   com	
   outra,	
   incidindo,	
   neste	
   caso,	
   o	
   artigo	
   226,	
   §	
   3º,	
   da	
  
Constituição	
  Federal,	
  e	
  artigo	
  1.723	
  do	
  Código	
  Civil	
  (Rizzardo).	
  
10	
  
6.2	
  Capacidade	
  passiva	
  	
  	
  	
  
	
   Por	
   óbvio,	
   todas	
   as	
   pessoas	
   capazes	
   para	
   os	
   atos	
   da	
   vida	
   civil	
   podem	
   receber	
  
doações.	
  
	
   Mas	
  o	
  Código	
  Civil	
   faculta	
  esse	
  direito	
  também	
  a	
  pessoas	
  sem	
  capacidade	
  civil,	
   tais	
  
como:	
  ao	
  nascituro;	
  aos	
  incapazes;	
  a	
  pessoas	
  indeterminadas	
  ou	
  não	
  identificadas.	
  
	
  
6.2.1.	
  Nascituro	
  
	
   O	
  nascituro,	
  embora	
  despido	
  de	
  personalidade,	
  tem	
  seus	
  direitos	
  assegurados	
  por	
  lei,	
  
bastando	
  nascer	
  com	
  vida.	
  Assim,	
  são	
  representados	
  pelos	
  pais,	
  que	
  aceitam	
  ou	
  não	
  a	
  doação	
  
(Rizzardo).	
   Se	
   aceita,	
   basta	
   haver	
   o	
   nascimento	
   com	
   vida	
   para	
   que	
   a	
   doação	
   se	
   torne	
  
definitiva.	
  Porém,	
  se	
  não	
  houver	
  nascimento	
  com	
  vida,	
  a	
  doação	
  torna-­‐se	
  ineficaz.	
  	
  
Art.	
   542.	
   A	
   doação	
   feita	
   ao	
   nascituro	
   valerá,	
   sendo	
   aceita	
   pelo	
   seu	
  
representante	
  legal.	
  
	
   Além	
  do	
  nascituro,	
  pode	
  haver	
  doação	
  em	
  benefício	
  da	
  prole	
  eventual	
  (CC,	
  art.546).	
  
	
  
6.2.2.	
  Incapazes	
  	
  	
  	
  
	
   Os	
   incapazes	
  podem	
  receber	
  doação,	
   sendo	
  que	
  os	
  absolutamente	
   incapazes	
  estão	
  
dispensados	
  da	
  aceitação,	
  mas	
  a	
  doação	
  terá	
  de	
  ser	
  pura.	
  
Art.	
  543.	
  Se	
  o	
  donatário	
  for	
  absolutamente	
  incapaz,	
  dispensa-­‐se	
  a	
  aceitação,	
  
desde	
  que	
  se	
  trate	
  de	
  doação	
  pura.	
  
	
   Também	
   podem	
   os	
   incapazes	
   receber	
   doações	
   com	
   encargo,	
   desde	
   que	
  
representados	
  e	
  com	
  autorização	
  judicial	
  (CC,art.1748,II).	
  
Art.	
  1.748.	
  Compete	
  também	
  ao	
  tutor,	
  com	
  autorização	
  do	
  juiz:	
  
[...];	
  
II	
  -­‐	
  aceitar	
  por	
  ele	
  heranças,	
  legados	
  ou	
  doações,	
  ainda	
  que	
  com	
  encargos;	
  
11	
  
7.	
  Aceitação	
  	
  
	
   A	
  doação	
  é	
  contrato,	
  assim,	
  em	
  regra,	
  é	
  necessária	
  a	
  manifestação	
  das	
  duas	
  partes.	
  
Logo,	
  não	
  basta	
  a	
  vontade	
  do	
  doador	
   (animus	
  donandi),	
  para	
  a	
  doação	
  se	
  efetivar,	
  exige-­‐se	
  
que	
  haja	
  aceitação	
  por	
  parte	
  do	
  donatário,	
  que	
  é	
  o	
  animus	
  donum	
  acciendi,	
  ou	
  seja	
  o	
  ânimo	
  
de	
  receber	
  a	
  doação	
  (Sanseverino;Fábio	
  Ulhoa	
  Coelho).	
  
	
   Com	
  efeito,	
  o	
  doador,	
  ao	
  manifestar	
   sua	
   intenção	
  de	
  doar,	
  pode,	
  por	
   cautela,	
   fixar	
  
prazo	
  para	
  que	
  o	
  donatário	
  expresse	
  a	
  sua	
  manifestação.	
  No	
  silêncio,	
  tratando-­‐se	
  de	
  doação	
  
pura,	
  presume-­‐se	
  que	
  houve	
  aceitação.	
  (Fábio	
  Ulhoa	
  Coelho)	
  
Art.	
  539.	
  O	
  doador	
  pode	
  fixar	
  prazo	
  ao	
  donatário,	
  para	
  declarar	
  se	
  aceita	
  ou	
  
não	
  a	
  liberalidade.	
  Desde	
  que	
  o	
  donatário,	
  ciente	
  do	
  prazo,	
  não	
  faça,	
  dentro	
  
dele,	
  a	
  declaração,	
  entender-­‐se-­‐á	
  que	
  aceitou,	
  se	
  a	
  doação	
  não	
  for	
  sujeita	
  a	
  
encargo.	
  
	
  
7.1.	
  Modalidades	
  de	
  aceitação	
  
	
   A	
  aceitação	
  pode	
  ser:	
  expressa,	
  tácita,	
  presumida	
  ou	
  dispensada.	
  
a)	
  Aceitação	
  expressa	
  
	
   O	
  donatário	
  age	
  dando	
  uma	
  manifestação	
  expressa	
  de	
  que	
  aceitou	
  a	
  doação.	
  Pode	
  
ser	
   por	
   escrito,	
   verbal	
   ou	
   por	
   gesto.	
   Ocorre,	
   por	
   exemplo,	
   quando	
   ele	
   comparece	
   ao	
  
Tabelionato	
  e	
  assina	
  a	
  escritura	
  pública	
  de	
  doação	
  de	
  um	
  imóvel	
  que	
  lhe	
  está	
  sendo	
  doado;	
  
quando	
   recebe	
   um	
   presente	
   e	
   emocionado	
   agradece	
   ao	
   doador	
   com	
   um	
   abraço.	
  
(Sanseverino).	
  
b)	
  Aceitação	
  tácita	
  
	
   O	
   donatário	
   se	
   comporta	
   de	
   forma	
   incompatível	
   com	
   quem	
   não	
   aceita	
   a	
   doação.	
  
Pratica	
  atos	
  que	
  denotam	
  o	
  seu	
  consentimento	
  (Sanseverino).Por	
  exemplo,	
  usar	
  a	
  coisa	
  que	
  
lhe	
  foi	
  deixada.	
  
	
  
	
  
12	
  
c)	
  Aceitação	
  presumida	
  
	
   Dá-­‐se	
  quando,	
  por	
  exemplo,	
  o	
  doador	
   fixa	
  prazo	
  para	
  o	
  beneficiário	
   se	
  manifestar,	
  
não	
  sendo	
  doação	
  com	
  encargo,	
  e	
  ele	
  o	
  deixa	
  fluir	
  in	
  albis.	
  (Sanseverino)	
  
	
  
d)	
  Aceitação	
  dispensada	
  
	
   Embora	
  a	
  aceitação	
  seja	
  a	
  regra,	
  no	
  caso	
  de	
  doação	
  pura	
  e	
  se	
  feita	
  em	
  benefício	
  do	
  
absolutamente	
  incapaz,	
  a	
  lei	
  a	
  dispensa.	
  	
  
	
   Por	
   conseguinte,	
   diz	
   Sanseverino,	
   “os	
  menores	
   de	
   16	
   anos	
   de	
   idade	
   e	
   os	
   doentes	
  
mentais,	
  por	
  exemplo,	
  embora	
  sejam	
  absolutamente	
  incapazes,	
  podem	
  receber	
  diretamente,	
  
sem	
  a	
  presença	
  de	
  seu	
  representante	
  legal,	
  doações	
  puras”.	
  
Art.	
  543.	
  Se	
  o	
  donatário	
  for	
  absolutamente	
  incapaz,	
  dispensa-­‐se	
  a	
  aceitação,	
  
desde	
  que	
  se	
  trate	
  de	
  doação	
  pura.	
  
	
  
	
   Anota-­‐se	
   que	
   a	
   doação	
   ao	
   nascituro	
   requer	
   aceitação	
   de	
   seu	
   representante	
   legal,	
  
consoante	
  determinação	
  expressa	
  do	
  artigo	
  542	
  do	
  Código	
  Civil.	
  
	
  
8.	
  Espécies	
  de	
  doação	
  (Sanseverino).	
  	
  
8.1.	
  Doação	
  pura	
  ou	
  simples	
  
	
   “É	
  a	
  doação	
  por	
  essência,	
  posto	
  que	
  inspirada	
  no	
  ânimo	
  de	
  contemplar	
  o	
  favorecido	
  
sem	
  nada	
  lhe	
  exigir	
  ou	
  impor,	
  mas	
  por	
  mera	
  liberalidade”	
  (Rizzardo).	
  	
  
	
   São	
   exemplos:	
   doação	
   de	
   um	
   apartamento	
   para	
   a	
   filha	
   que	
   vai	
   se	
   casar;	
   de	
   um	
  
automóvel	
   ao	
   filho	
   que	
   completou	
   18	
   anos;	
   doação	
   de	
   dinheiro	
   a	
   um	
  hospital	
   de	
   caridade	
  
(Sanseverino).	
  
	
  
	
  
	
  
13	
  
8.2.	
  Doação	
  modal	
  ou	
  com	
  encargo	
  	
  
	
   Esta	
   modalidade	
   de	
   doação	
   impõe	
   ao	
   donatário	
   um	
   dever,	
   uma	
   incumbência,	
   a	
  
realização	
  de	
  uma	
  atividade	
  em	
  favor	
  do	
  doador,	
  de	
  terceiro	
  ou	
  de	
  interesse	
  geral	
  (Rizzardo).	
  	
  
	
   Exemplos:	
   Doação	
   de	
   um	
   imóvel	
   incumbindo	
   o	
   donatário	
   de	
   construir	
   nele	
   uma	
  
Faculdade.	
  
	
   O	
  encargo	
  não	
  suspende	
  a	
  aquisição	
  nem	
  o	
  exercício	
  do	
  direito	
  (Gonçalves).	
  
	
  
8.3.	
  Doação	
  em	
  contemplação	
  de	
  merecimento	
  do	
  donatário	
  
Art.	
  540.	
  A	
  doação	
  feita	
  em	
  contemplação	
  do	
  merecimento	
  do	
  donatário	
  não	
  
perde	
  o	
  caráter	
  de	
   liberalidade,	
  como	
  não	
  o	
  perde	
  a	
  doação	
  remuneratória,	
  
ou	
  a	
  gravada,	
  no	
  excedente	
  ao	
  valor	
  dos	
  serviços	
  remunerados	
  ou	
  ao	
  encargo	
  
imposto.	
  
	
  
	
   O	
  doador	
  demonstra	
  sua	
  admiração	
  pelo	
  donatário,	
  em	
  razão	
  de	
  seu	
  destaque,	
  por	
  
meio	
  da	
  liberalidade.	
  
	
   Exemplo:	
   a	
   doação	
   feita	
   a	
   um	
   artista,	
   um	
   cientista,	
   um	
   esportista	
   (Sanseverino).	
   A	
  
doação	
  pecuniária	
  ao	
  vencedor	
  do	
  Prêmio	
  Nobel	
  	
  (Gonçalves).	
  	
  
	
   Não	
   se	
   confunde	
   com	
   a	
   promessa	
   de	
   recompensa.	
   Na	
   doação	
   em	
   contemplação,	
  
premia-­‐se	
   o	
   donatário	
   em	
   razão	
   de	
   seu	
   destaque;	
   na	
   promessa	
   de	
   recompensa,	
   premia-­‐se	
  
quem	
   realizou	
   uma	
   atividade	
   significativa	
   (Sanseverino).	
   O	
   prêmio	
   dado	
   ao	
   cientista	
   que	
  
descobriu	
   a	
   cura	
   de	
   uma	
   doença	
   rara	
   é	
   doação	
   em	
   contemplação	
   de	
  merecimento;	
  masa	
  
oferta	
  de	
  um	
  determinado	
  valor	
  ao	
  cientista	
  que	
  descobrir	
  a	
  vacina	
  para	
  essa	
  mesma	
  doença	
  
é	
  promessa	
  de	
  recompensa	
  (Agostinho	
  Alvim).	
  
8.4.	
  Doação	
  remuneratória	
  
	
   Nesta	
   espécie,	
   o	
   doador	
   presta	
   uma	
   retribuição	
   ao	
   donatário	
   pelos	
   serviços	
  
prestados,	
  motivado	
  por	
  um	
  sentimento	
  de	
  gratidão.	
  Exemplo:	
  a	
  doação	
  feita	
  ao	
  médico	
  ou	
  
ao	
  advogado	
  que,	
  pela	
  relação	
  de	
  amizade,	
  prestou	
  serviço	
  gratuito	
  (Sanseverino).	
  
14	
  
8.5.	
  Doação	
  condicional	
  
	
   Há	
  doações	
  em	
  que	
  o	
  doador	
  condiciona	
  a	
  eficácia	
  da	
  doação	
  a	
  um	
  evento	
  futuro	
  e	
  
incerto,	
  podendo	
  a	
  condição	
  ser	
  suspensiva	
  ou	
  resolutiva.	
  
	
   São	
  exemplos:	
  
	
   A	
   doação	
   feita	
   em	
   contemplação	
   de	
   casamento	
   (art.	
   546)	
   existe	
   é	
   válida,	
   mas	
  
ineficaz,	
  porque	
  condicionada	
  à	
  realização	
  do	
  casamento.	
  Não	
  se	
  realizando	
  o	
  casamento,	
  a	
  
doação	
  não	
  se	
  efetiva.	
  
	
   A	
  doação	
  feita	
  com	
  cláusula	
  de	
  reversão	
  (art.	
  547)	
  estabelece	
  que	
  o	
  bem	
  doado	
  volte	
  
ao	
  patrimônio	
  do	
  doador	
  se	
  ele	
  sobreviver	
  ao	
  donatário.	
  Com	
  efeito,	
  a	
  doação	
  subordina-­‐se	
  a	
  
uma	
  condição	
  resolutiva,	
  pois	
  resta	
  resolvida	
  no	
  caso	
  de	
  o	
  donatário	
  morrer	
  antes	
  do	
  doador.	
  
	
  
9.	
  Restrições	
  à	
  liberdade	
  de	
  doar	
  (Sanseverino)	
  
	
   No	
  nosso	
  sistema	
   jurídico,	
  vigora	
  o	
  princípio	
  da	
  autonomia	
  privada,	
  que	
  assegura	
  a	
  
qualquer	
  pessoa	
  ampla	
   liberdade	
  para	
  celebrar	
  negócio	
   jurídico	
  (Sanseverino).	
  Todavia,	
  essa	
  
liberdade	
  não	
  é	
  absoluta,	
  sofre	
  restrições.	
  	
  
	
   No	
  contrato	
  de	
  doação	
  é	
  vedada:	
  	
  a	
  doação	
  universal,	
  a	
  doação	
  inoficiosa,	
  a	
  doação	
  
em	
  prejuízos	
  dos	
  credores;	
  a	
  doação	
  do	
  cônjuge	
  adúltero	
  a	
  seu	
  cúmplice.	
  
	
  
9.1.	
  Doação	
  universal	
  
	
   A	
   doação	
   universal	
   é	
   a	
   que	
   abrange	
   todos	
   os	
   bens	
   que	
   integram	
   o	
   patrimônio	
   do	
  
doador.	
  A	
  lei	
  proíbe	
  que	
  o	
  doador	
  não	
  reserve	
  bens	
  para	
  a	
  sua	
  subsistência,	
  por	
  questão	
  de	
  
interesse	
  público,	
   vez	
  que,	
   em	
   tese,	
   se	
   a	
  pessoa	
  não	
   tem	
  condições	
  de	
   se	
  manter,	
   cabe	
  ao	
  
Estado	
  lhe	
  dar	
  assistência.	
  
	
   A	
   finalidade	
   da	
   vedação,	
   também,	
   é	
   para	
   proteger	
   não	
   só	
   a	
   própria	
   pessoa	
   do	
  
doador,	
  mas	
  outras	
  pessoas	
  a	
  ele	
  relacionadas,	
  tais	
  como	
  o	
  cônjuge,	
  seus	
  herdeiros	
  e	
  credores	
  
(Sanseverino).	
  
15	
  
Art.	
  548.	
   É	
  nula	
  a	
  doação	
  de	
   todos	
  os	
  bens	
   sem	
  reserva	
  de	
  parte,	
  ou	
   renda	
  
suficiente	
  para	
  a	
  subsistência	
  do	
  doador.	
  
	
  
	
   Observa-­‐se	
  que	
  a	
  sanção	
  é	
  a	
  nulidade	
  de	
  todo	
  o	
  ato	
  jurídico	
  que	
  pode	
  ser	
  decretada	
  
de	
  ofício	
  pelo	
  Juiz.	
  
	
  
9.2.	
  Doação	
  inoficiosa	
  
	
   “A	
  doação	
  inoficiosa	
  é	
  a	
  que	
  excede	
  a	
  parte	
  disponível	
  do	
  doador”	
  (Sanseverino),	
  ou	
  
seja,	
  invade	
  a	
  legítima,	
  que	
  corresponde	
  à	
  parte	
  dos	
  bens	
  da	
  herança	
  garantidos	
  aos	
  herdeiros	
  
necessários.	
  	
  
	
   A	
  pena	
  é	
  a	
  nulidade	
  do	
  excesso	
  doado,	
  decretada	
  por	
  decisão	
  proferida	
  em	
  ação	
  de	
  
redução	
  da	
  doação	
  inoficiosa,	
  que	
  deve,	
  consoante	
  a	
  jurisprudência,	
  ser	
  ajuizada	
  após	
  a	
  morte	
  
do	
  doador,	
  embora	
  Rizzardo	
  afirme	
  que	
  possa	
  ser	
  antes.	
  
Art.	
   549.	
  Nula	
   é	
   também	
  a	
  doação	
  quanto	
  à	
  parte	
  que	
  exceder	
  à	
  de	
  que	
  o	
  
doador,	
  no	
  momento	
  da	
  liberalidade,	
  poderia	
  dispor	
  em	
  testamento.	
  
Art.	
   1.845.	
   São	
   herdeiros	
   necessários	
   os	
   descendentes,	
   os	
   ascendentes	
   e	
   o	
  
cônjuge	
  
Art.	
   1.789.	
   Havendo	
   herdeiros	
   necessários,	
   o	
   testador	
   só	
   poderá	
   dispor	
   da	
  
metade	
  da	
  herança.	
  
Art.	
  1.846.	
  Pertence	
  aos	
  herdeiros	
  necessários,	
  de	
  pleno	
  direito,	
  a	
  metade	
  dos	
  
bens	
  da	
  herança,	
  constituindo	
  a	
  legítima.	
  
	
  
9.3.	
  Doação	
  em	
  prejuízo	
  dos	
  credores	
  
	
   É	
  vedada	
  a	
  doação	
  em	
  prejuízo	
  de	
  credores	
  do	
  doador.	
  Assim,	
  se	
  o	
  devedor,	
  ao	
  fazer	
  
a	
  doação,	
  já	
  está	
  insolvente	
  ou	
  é	
  reduzido	
  ao	
  estado	
  de	
  insolvência,	
  caracteriza-­‐se	
  a	
  fraude	
  a	
  
credores,	
  anulável	
  por	
  ação	
  pauliana,	
  que	
  deve	
  ser	
  ajuizado	
  no	
  prazo	
  decadencial	
  de	
  quatro	
  
(4)	
  anos	
  (art.	
  178,	
  II).	
  
16	
  
Art.	
  158.	
  Os	
  negócios	
  de	
  transmissão	
  gratuita	
  de	
  bens	
  ou	
  remissão	
  de	
  dívida,	
  
se	
   os	
   praticar	
   o	
   devedor	
   já	
   insolvente,	
   ou	
   por	
   eles	
   reduzido	
   à	
   insolvência,	
  
ainda	
  quando	
  o	
   ignore,	
  poderão	
  ser	
  anulados	
  pelos	
  credores	
  quirografários,	
  
como	
  lesivos	
  dos	
  seus	
  direitos.	
  
	
  
9.4.	
  Doação	
  do	
  cônjuge	
  adúltero	
  ao	
  cúmplice	
  
	
   A	
  lei	
  veda	
  a	
  doação	
  do	
  cônjuge	
  adúltero	
  ao	
  seu	
  cúmplice.	
  	
  
Não	
  precisa	
  haver	
  relação	
  de	
  concubinato.	
  Basta	
  que	
  a	
  pessoa	
  beneficiária	
  seja	
  cúmplice	
  no	
  
adultério,	
  “podendo	
  ser	
  um	
  único	
  encontro”,	
  diz	
  Sanseverino	
  (p.144).	
  
	
   O	
  STJ	
  vem	
  distinguindo	
  concubina	
  de	
  companheira	
   (REsp	
  3560/RS,	
  Rel.	
  Min.	
  Fontes	
  
de	
   Alencar,	
   j.	
   13.12.1993,	
   DJ	
   23.05.1994,	
   4.ªT.);	
   REsp	
   408.296/RJ,	
   3.ª	
   T.,	
   rel.	
   Min.	
   Ari	
  
Parendler,	
  j.	
  18.06.2009,	
  DJ	
  24.06.2009).	
  	
  
	
   Concubina	
   é	
   a	
   relação	
   paralela	
   havida	
   na	
   constância	
   do	
   casamento	
   do	
   cônjuge	
  
adúltero.	
  Companheira	
  é	
  a	
  nova	
  companhia	
  do	
  cônjuge	
  separado	
  de	
  fato,	
  que	
  vai	
  caracterizar	
  
uma	
  união	
  estável.	
  	
  
	
   Assim,	
   conclui	
   Sanseverino,	
   “as	
   doações	
   feitas	
   por	
   homem	
   casado	
   à	
   sua	
  
companheira,	
  após	
  a	
  separação	
  de	
  fato	
  de	
  sua	
  esposa,	
  são	
  válidas,	
  porque,	
  nesse	
  momento,	
  o	
  
concubinato	
   anterior	
   dá	
   lugarà	
   união	
   estável;	
   a	
   ‘contrario	
   sensu’,	
   as	
   doações	
   feitas	
   antes	
  
disso	
  são	
  nulas”.	
  
A	
  ação	
  a	
  ser	
  proposta	
  é	
  a	
  anulatória	
  de	
  doação,	
  porque	
  se	
  trata	
  de	
  nulidade	
  relativa	
  e	
  
não	
  absoluta.	
  Logo	
  o	
  ato	
  não	
  é	
  nulo,	
  mas	
  anulável.	
  
	
   A	
  legitimidade	
  para	
  propor	
  a	
  ação	
  é	
  do	
  cônjuge,	
  mas	
  se	
  ele	
  já	
  faleceu,	
  é	
  dos	
  herdeiros	
  
necessários.	
  
	
   O	
  prazo	
  para	
  a	
  propositura	
  da	
  ação	
  anulatória	
  de	
  doação	
  é	
  de	
  dois	
  anos,	
  contados	
  da	
  
dissolução	
   da	
   sociedade	
   conjugal,	
   que	
   pode	
   se	
   dar	
   pela	
   morte	
   de	
   um	
   dos	
   cônjuges,	
   pela	
  
anulação	
  do	
  casamento,	
  pela	
  separação	
  ou	
  divórcio.	
  	
  
17	
  
	
   Este	
  prazo	
  é	
  decadencial,	
  isto	
  porque,	
  esclarece	
  Sanseverino,	
  o	
  Código	
  Civil	
  de	
  2002,	
  
com	
  boa	
   técnica	
   legislativa,	
  estabeleceu	
  critérios	
  claros	
   	
  e	
  pragmáticos	
  para	
  a	
  distinção	
  dos	
  
prazos	
   de	
   prescrição	
   e	
   decadência.	
   Na	
   parte	
   geral	
   (art.	
   189	
   e	
   SS.),	
   listou	
   os	
   prazos	
  
prescricionais,	
   deixando	
   para	
   a	
   parte	
   especial	
   a	
   indicação,	
   casão	
   a	
   caso,	
   das	
   hipóteses	
   de	
  
decadência.	
  
	
   Para	
   caracterizar	
  o	
  adultério	
  não	
   se	
  exige	
  que	
  a	
   relação	
  mantida	
  pelo	
   cônjuge	
   seja	
  
com	
  pessoa	
  de	
   sexo	
  diverso,	
  podendo	
   ser	
   com	
  pessoa	
  do	
  mesmo	
  sexo.	
   “Assim,	
  as	
  doações	
  
feitas	
  por	
  doador	
  casado	
  ao	
  seu	
  parceiro	
  homossexual,	
  na	
  constância	
  da	
  sociedade	
  conjugal,	
  
também	
  afronta	
  o	
  disposto	
  no	
  art.	
  550	
  do	
  CC/2002”,	
  assevera	
  Sanseverino.	
  
Art.	
   550.	
  A	
   doação	
   do	
   cônjuge	
   adúltero	
   ao	
   seu	
   cúmplice	
   pode	
   ser	
   anulada	
  
pelo	
  outro	
  cônjuge,	
  ou	
  por	
  seus	
  herdeiros	
  necessários,	
  até	
  dois	
  anos	
  depois	
  de	
  
dissolvida	
  a	
  sociedade	
  conjugal.	
  
	
  
9.5.	
  Doação	
  de	
  ascendente	
  a	
  descendente	
  	
  
	
   A	
  doação	
  feita	
  por	
  ascendente	
  a	
  descendente	
  importa	
  em	
  adiantamento	
  de	
  legítima,	
  
ou	
  seja,	
  adiantamento	
  do	
  que	
  cabe	
  ao	
  donatário	
  na	
  herança.	
  Com	
  efeito,	
  falecendo	
  o	
  doador,	
  
o	
  donatário	
  deve	
  levar	
  o	
  bem	
  recebido	
  à	
  colação	
  para	
  que	
  sejam	
  igualados	
  os	
  quinhões	
  dos	
  
herdeiros	
   necessários	
   (CC,	
   art.	
   2004,	
   §	
   1º).	
   Todavia,	
   como	
   diz	
   Carlos	
   Roberto	
   Gonçalves,	
   o	
  
herdeiro	
  donatário	
  fica	
  liberado	
  da	
  colação	
  se	
  o	
  bem	
  doado	
  não	
  excede	
  à	
  parte	
  disponível	
  do	
  
doador,	
  o	
  qual	
  expressamente	
  o	
  dispensou	
  (CC,	
  art.	
  2005).	
  	
  
	
   Para	
  o	
  pai	
  beneficiar	
  um	
  filho	
  em	
  detrimento	
  dos	
  outros,	
  na	
  lição	
  de	
  Silvio	
  Rodrigues,	
  
“é	
  mister	
   que	
   o	
   doador	
   a	
   inclua	
   em	
   sua	
   quota	
   disponível,	
   com	
   expressa	
  menção	
   de	
   que	
   o	
  
donatário	
  fica	
  dispensado	
  da	
  colação.	
  Caso	
  isso	
  não	
  ocorra,	
  entende-­‐se	
  que	
  a	
  doação	
  do	
  pai	
  
ao	
   filho	
   nada	
  mais	
   é	
   do	
   que	
   adiantamento	
   daquilo	
   que	
   por	
  morte	
   do	
   doador	
   o	
   donatário	
  
recebera”.	
  	
  
	
   Salienta-­‐se,	
  como	
  ensina	
  Carlos	
  Roberto	
  Gonçalves,	
  “	
  os	
  efeitos	
  de	
  adiantamento	
  de	
  
legítima	
  são	
  exclusivamente	
  decorrentes	
  de	
  doação	
  de	
  ascendentes	
  para	
  descendentes.	
  Entre	
  
estes	
   não	
   se	
   distinguem	
   os	
   havidos	
   dentro	
   ou	
   fora	
   do	
   casamento	
   de	
   seus	
   pais	
   por	
   origem	
  
biológica	
  ou	
  adotiva.”	
  
18	
  
	
   Ainda,	
  a	
  doação	
  feita	
  pelo	
  avô	
  ao	
  neto	
  não	
  configura	
  adiantamento	
  de	
  legítima.	
  Mas	
  
pode	
  ocorrer	
  de	
  o	
  neto	
  donatário	
  suceder	
  representando	
  o	
  pai,	
  por	
  estirpe	
  ou	
  representação.	
  
Nessa	
  hipótese,	
  o	
  neto	
  não	
  vai	
   levar	
  o	
  bem	
  recebido	
  à	
  colação,	
  porque,	
  por	
   força	
  do	
  artigo	
  
2.005,	
  §	
  único,	
  do	
  Código	
  Civil,	
  que	
  presume	
  estaria	
  a	
  doação	
  contida	
  na	
  parte	
  disponível	
  do	
  
doador	
   (Sanseverino).	
   Anota-­‐se,	
   este	
   não	
   é	
   o	
   entendimento	
   de	
   Carlos	
   Roberto	
   Gonçalves.	
  
Citando	
  Paulo	
  Lôbo,	
  ele	
  afirma	
  que	
  “o	
  neto	
  somente	
  estará	
  obrigado	
  à	
  colação	
  se	
  suceder	
  no	
  
lugar	
  do	
  pai,	
  por	
  estirpe	
  ou	
  representação”.	
  
Art.	
   544.	
   A	
   doação	
   de	
   ascendentes	
   a	
   descendentes,	
   ou	
   de	
   um	
   cônjuge	
   a	
  
outro,	
  importa	
  adiantamento	
  do	
  que	
  lhes	
  cabe	
  por	
  herança.	
  
Art.	
   2.002.	
   Os	
   descendentes	
   que	
   concorrerem	
   à	
   sucessão	
   do	
   ascendente	
  
comum	
   são	
   obrigados,	
   para	
   igualar	
   as	
   legítimas,	
   a	
   conferir	
   o	
   valor	
   das	
  
doações	
  que	
  dele	
  em	
  vida	
  receberam,	
  sob	
  pena	
  de	
  sonegação.	
  
Parágrafo	
   único.	
   Para	
   cálculo	
   da	
   legítima,	
   o	
   valor	
   dos	
   bens	
   conferidos	
   será	
  
computado	
  na	
  parte	
  indisponível,	
  sem	
  aumentar	
  a	
  disponível.	
  
Art.	
   2.003.	
   A	
   colação	
   tem	
  por	
   fim	
   igualar,	
   na	
   proporção	
   estabelecida	
   neste	
  
Código,	
  as	
   legítimas	
  dos	
  descendentes	
  e	
  do	
  cônjuge	
  sobrevivente,	
  obrigando	
  
também	
   os	
   donatários	
   que,	
   ao	
   tempo	
   do	
   falecimento	
   do	
   doador,	
   já	
   não	
  
possuírem	
  os	
  bens	
  doados.	
  
Parágrafo	
   único.	
   Se,	
   computados	
   os	
   valores	
   das	
   doações	
   feitas	
   em	
  
adiantamento	
   de	
   legítima,	
   não	
   houver	
   no	
   acervo	
   bens	
   suficientes	
   para	
  
igualar	
   as	
   legítimas	
   dos	
   descendentes	
   e	
   do	
   cônjuge,	
   os	
   bens	
   assim	
   doados	
  
serão	
  conferidos	
  em	
  espécie,	
  ou,	
  quando	
  deles	
   já	
  não	
  disponha	
  o	
  donatário,	
  
pelo	
  seu	
  valor	
  ao	
  tempo	
  da	
  liberalidade.	
  
Art.	
   2.004.	
   O	
   valor	
   de	
   colação	
   dos	
   bens	
   doados	
   será	
   aquele,	
   certo	
   ou	
  
estimativo,	
  que	
  lhes	
  atribuir	
  o	
  ato	
  de	
  liberalidade.	
  
§	
  1o	
  Se	
  do	
  ato	
  de	
  doação	
  não	
  constar	
  valor	
  certo,	
  nem	
  houver	
  estimação	
  feita	
  
naquela	
   época,	
   os	
   bens	
   serão	
   conferidos	
   na	
   partilha	
   pelo	
   que	
   entãose	
  
calcular	
  valessem	
  ao	
  tempo	
  da	
  liberalidade.	
  
19	
  
§	
   2o	
   Só	
   o	
   valor	
   dos	
   bens	
   doados	
   entrará	
   em	
   colação;	
   não	
   assim	
   o	
   das	
  
benfeitorias	
  acrescidas,	
  as	
  quais	
  pertencerão	
  ao	
  herdeiro	
  donatário,	
  correndo	
  
também	
   à	
   conta	
   deste	
   os	
   rendimentos	
   ou	
   lucros,	
   assim	
   como	
   os	
   danos	
   e	
  
perdas	
  que	
  eles	
  sofrerem.	
  
Art.	
  2.005.	
  São	
  dispensadas	
  da	
  colação	
  as	
  doações	
  que	
  o	
  doador	
  determinar	
  
saiam	
   da	
   parte	
   disponível,	
   contanto	
   que	
   não	
   a	
   excedam,	
   computado	
   o	
   seu	
  
valor	
  ao	
  tempo	
  da	
  doação.	
  
Parágrafo	
   único.	
   Presume-­‐se	
   imputada	
   na	
   parte	
   disponível	
   a	
   liberalidade	
  
feita	
  a	
  descendente	
  que,	
  ao	
  tempo	
  do	
  ato,	
  não	
  seria	
  chamado	
  à	
  sucessão	
  na	
  
qualidade	
  de	
  herdeiro	
  necessário.	
  
Art.	
   2.006.	
   A	
   dispensa	
   da	
   colação	
   pode	
   ser	
   outorgada	
   pelo	
   doador	
   em	
  
testamento,	
  ou	
  no	
  próprio	
  título	
  de	
  liberalidade.	
  
Art.	
   2.007.	
   São	
   sujeitas	
   à	
   redução	
   as	
   doações	
   em	
   que	
   se	
   apurar	
   excesso	
  
quanto	
  ao	
  que	
  o	
  doador	
  poderia	
  dispor,	
  no	
  momento	
  da	
  liberalidade.	
  
§	
  1o	
  O	
  excesso	
  será	
  apurado	
  com	
  base	
  no	
  valor	
  que	
  os	
  bens	
  doados	
  tinham,	
  
no	
  momento	
  da	
  liberalidade.	
  
§	
  2o	
  A	
  redução	
  da	
  liberalidade	
  far-­‐se-­‐á	
  pela	
  restituição	
  ao	
  monte	
  do	
  excesso	
  
assim	
  apurado;	
  a	
   restituição	
  será	
  em	
  espécie,	
  ou,	
   se	
  não	
  mais	
  existir	
  o	
  bem	
  
em	
   poder	
   do	
   donatário,	
   em	
   dinheiro,	
   segundo	
   o	
   seu	
   valor	
   ao	
   tempo	
   da	
  
abertura	
  da	
   sucessão,	
   observadas,	
   no	
  que	
   forem	
  aplicáveis,	
   as	
   regras	
  deste	
  
Código	
  sobre	
  a	
  redução	
  das	
  disposições	
  testamentárias.	
  
§	
  3o	
  Sujeita-­‐se	
  a	
   redução,	
  nos	
   termos	
  do	
  parágrafo	
  antecedente,	
  a	
  parte	
  da	
  
doação	
   feita	
  a	
  herdeiros	
  necessários	
  que	
  exceder	
  a	
   legítima	
  e	
  mais	
  a	
  quota	
  
disponível.	
  
§	
   4o	
   Sendo	
   várias	
   as	
   doações	
   a	
   herdeiros	
   necessários,	
   feitas	
   em	
   diferentes	
  
datas,	
  serão	
  elas	
  reduzidas	
  a	
  partir	
  da	
  última,	
  até	
  a	
  eliminação	
  do	
  excesso.	
  
20	
  
Art.	
   2.008.	
   Aquele	
   que	
   renunciou	
   a	
   herança	
   ou	
   dela	
   foi	
   excluído,	
   deve,	
   não	
  
obstante,	
  conferir	
  as	
  doações	
  recebidas,	
  para	
  o	
  fim	
  de	
  repor	
  o	
  que	
  exceder	
  o	
  
disponível.	
  
Art.	
   2.009.	
   Quando	
   os	
   netos,	
   representando	
   os	
   seus	
   pais,	
   sucederem	
   aos	
  
avós,	
  serão	
  obrigados	
  a	
  trazer	
  à	
  colação,	
  ainda	
  que	
  não	
  o	
  hajam	
  herdado,	
  o	
  
que	
  os	
  pais	
  teriam	
  de	
  conferir.	
  
Art.	
   2.010.	
   Não	
   virão	
   à	
   colação	
   os	
   gastos	
   ordinários	
   do	
   ascendente	
   com	
   o	
  
descendente,	
   enquanto	
   menor,	
   na	
   sua	
   educação,	
   estudos,	
   sustento,	
  
vestuário,	
  tratamento	
  nas	
  enfermidades,	
  enxoval,	
  assim	
  como	
  as	
  despesas	
  de	
  
casamento,	
  ou	
  as	
  feitas	
  no	
  interesse	
  de	
  sua	
  defesa	
  em	
  processo-­‐crime.	
  
Art.	
   2.011.	
   As	
   doações	
   remuneratórias	
   de	
   serviços	
   feitos	
   ao	
   ascendente	
  
também	
  não	
  estão	
  sujeitas	
  a	
  colação.	
  
Art.	
   2.012.	
   Sendo	
   feita	
   a	
   doação	
   por	
   ambos	
   os	
   cônjuges,	
   no	
   inventário	
   de	
  
cada	
  um	
  se	
  conferirá	
  por	
  metade.	
  
	
  
10.	
  Outras	
  situações	
  
10.1.	
  Doação	
  ao	
  nascituro	
  
	
   Embora	
   a	
   personalidade	
   civil	
   da	
   pessoa	
   comece	
   com	
   o	
   nascimento	
   com	
   vida,	
   o	
  
ordenamento	
   jurídico	
   brasileiro,	
   seguindo	
   outras	
   legislações,	
   como	
   a	
   francesa	
   e	
   a	
   italiana,	
  
permite	
  a	
  doação	
  a	
  quem	
  ainda	
  não	
  nasceu.	
  	
  
	
   Exige-­‐se,	
  apenas,	
  como	
  pressuposto,	
  a	
  concepção	
  e	
  a	
  aceitação.	
  
	
   Anota-­‐se	
   a	
   aceitação	
   é	
   feita	
   pelo	
   representante	
   legal	
   do	
   nascituro,	
   que	
   não	
  
necessariamente	
   devem	
   ser	
   os	
   pais.	
   Em	
   sendo	
   a	
   gestante	
   solteira	
   e	
  menor	
   absolutamente	
  
incapaz,	
  o	
  representante	
   legal	
  do	
  nascituro	
  será	
  o	
  mesmo	
  da	
  sua	
  mãe,	
  provavelmente	
  o	
  pai	
  
dela,	
  avô	
  do	
  nascituro	
  (Sanseverino).	
  
21	
  
	
   A	
   doação	
   ao	
   nascituro	
   caracteriza	
   uma	
   hipótese	
   legal	
   de	
   obrigação	
   condicional	
  
suspensiva,	
  porquanto	
  o	
  nascimento	
  com	
  vida	
  –	
  evento	
  futuro	
  e	
  incerto	
  –	
  é	
  pressuposto	
  para	
  
que	
  a	
  doação	
  se	
  torne	
  eficaz.	
  
Art.	
  2.º	
  A	
  personalidade	
  civil	
  da	
  pessoa	
  começa	
  do	
  nascimento	
  com	
  vida;	
  mas	
  
a	
  lei	
  põe	
  a	
  salvo,	
  desde	
  a	
  concepção,	
  os	
  direitos	
  do	
  nascituro.	
  
Art.	
   542.	
   A	
   doação	
   feita	
   ao	
   nascituro	
   valerá,	
   sendo	
   aceita	
   pelo	
   seu	
  
representante	
  legal.	
  
	
  
10.2.	
  Doação	
  ao	
  incapaz	
  (Sanseverino)	
  
	
   O	
   incapaz	
   pode	
   receber	
   doação.	
   Tratando-­‐se	
   de	
   absolutamente	
   incapaz,	
   como	
   já	
  
referido,	
  fica	
  dispensada	
  a	
  aceitação,	
  mas	
  a	
  doação	
  deve	
  ser	
  pura.	
  Se	
  for	
  com	
  encargo,	
  exige-­‐
se	
  a	
  aceitação	
  de	
  seu	
  representante,	
  diz	
  Sanseverino.	
  
Art.	
   3.º	
   São	
   absolutamente	
   incapazes	
   de	
   exercer	
   pessoalmente	
   os	
   atos	
   da	
  
vida	
  civil:	
  
I	
  –	
  os	
  menores	
  de	
  dezesseis	
  anos;	
  
II	
  –	
  os	
  que,	
  por	
  enfermidade	
  ou	
  deficiência	
  mental,	
  não	
  tiverem	
  o	
  necessário	
  
discernimento	
  para	
  a	
  prática	
  desses	
  atos;	
  
III	
  –	
  os	
  que,	
  mesmo	
  por	
  causa	
  transitória,	
  não	
  puderem	
  exprimir	
  sua	
  vontade.	
  
Art.	
  543.	
  Se	
  o	
  donatário	
  for	
  absolutamente	
  incapaz,	
  dispensa-­‐se	
  a	
  aceitação,	
  
desde	
  que	
  se	
  trate	
  de	
  doação	
  pura.	
  
	
  
10.3.	
  Doação	
  entre	
  cônjuges.	
  
	
   É	
   possível	
   a	
   doação	
   feita	
   por	
   um	
   cônjuge	
   ao	
   outro,	
   mas	
   depende	
   do	
   regime	
   de	
  
casamento.	
   No	
   caso	
   de	
   comunhão	
   universal,	
   a	
   doação	
   não	
   se	
   realiza,	
   porque,	
   dada	
   a	
  
comunicação	
   automática,	
   inexiste	
   transferênciapatrimonial.	
   No	
   regime	
   de	
   separação	
  
convencional	
  de	
  bens,	
  a	
  doação	
  entre	
  cônjuges	
  é	
  possível,	
  porque	
  um	
  cônjuge	
  transfere	
  bem	
  
de	
  seu	
  patrimônio	
  para	
  o	
  patrimônio	
  do	
  outro.	
  Na	
  separação	
  obrigatória	
  (art.	
  1.641),	
  a	
  doação	
  
não	
  é	
  válida	
  se	
  feita	
  com	
  o	
  intuito	
  de	
  burlar	
  o	
  regime,	
  diz	
  Sanseverino.	
  
22	
  
Art.	
   544.	
   A	
   doação	
   de	
   ascendentes	
   a	
   descendentes,	
   ou	
   de	
   um	
   cônjuge	
   a	
  
outro,	
  importa	
  adiantamento	
  do	
  que	
  lhes	
  cabe	
  por	
  herança.	
  
	
  
10.4.	
  Doação	
  em	
  forma	
  de	
  subvenção	
  periódica.	
  
	
   Trata-­‐se	
  de	
  uma	
  pensão,	
  diz	
  Carlos	
  Roberto	
  Gonçalves.	
  Pode	
  ser	
  em	
  dinheiro,	
  o	
  que	
  
mais	
  acontece,	
  ou	
  em	
  outros	
  bens,	
  como	
  rancho,	
  bolsa	
  de	
  estudos,	
  etc.	
  Não	
  se	
  trata	
  de	
  várias	
  
doações,	
   mas	
   de	
   uma	
   única	
   com	
   execução	
   continuada	
   (Sanseverino).	
   O	
   contrato	
   deve	
   ser	
  
celebrado	
  por	
  instrumento	
  público	
  ou	
  particular.	
  O	
  prazo	
  de	
  duração	
  pode	
  ficar	
  estipulado	
  no	
  
próprio	
   instrumento,	
  mas	
   se	
  nada	
  constar,	
  o	
   termo	
   final	
   será	
  a	
  morte	
  do	
  doador.	
  Contudo,	
  
ainda,	
  pode	
  a	
   liberalidade	
  ir	
  além	
  da	
  morte	
  do	
  doador,	
   limitada	
  às	
  forças	
  da	
  herança.	
  Neste	
  
caso,	
  a	
  obrigação	
  extingue-­‐se	
  com	
  a	
  morte	
  do	
  donatário.	
  
	
   Esta	
  modalidade	
  submete-­‐se	
  às	
  limitações	
  à	
  liberdade	
  de	
  doar,	
  lembra	
  Sanseverino.	
  
Havendo	
  empobrecimento	
  do	
  doador,	
  de	
  modo	
  a	
  configurar	
  doação	
  universal,	
  será	
  suspensa.	
  
Se	
   beneficiar	
   um	
   descendente,	
   será	
   considerada	
   adiantamento	
   de	
   legítima.	
   Se	
   caracterizar	
  
doação	
   inoficiosa,	
   o	
   excesso	
   será	
   nulo.	
   Se	
   houver	
   ingratidão	
   do	
   donatário,	
   poderá	
   ser	
  
revogada.	
  
Art.	
   545.	
   A	
   doação	
   em	
   forma	
   de	
   subvenção	
   periódica	
   ao	
   beneficiado	
  
extingue-­‐se	
  morrendo	
  o	
  doador,	
  salvo	
  se	
  este	
  outra	
  coisa	
  dispuser,	
  mas	
  não	
  
poderá	
  ultrapassar	
  a	
  vida	
  do	
  donatário.	
  
	
  
10.5.	
  Doação	
  feita	
  em	
  contemplação	
  de	
  casamento	
  (propter	
  nuptias).	
  	
  
Art.	
  546.	
  A	
  doação	
  feita	
  em	
  contemplação	
  de	
  casamento	
  futuro	
  com	
  certa	
  e	
  
determinada	
   pessoa,	
   quer	
   pelos	
   nubentes	
   entre	
   si,	
   quer	
   por	
   terceiro	
   a	
   um	
  
deles,	
   a	
   ambos,	
   ou	
   aos	
   filhos	
   que,	
   de	
   futuro,	
   houverem	
   um	
   do	
   outro,	
   não	
  
pode	
   ser	
   impugnada	
   por	
   falta	
   de	
   aceitação,	
   e	
   só	
   ficará	
   sem	
   efeito	
   se	
   o	
  
casamento	
  não	
  se	
  realizar.	
  
	
  
	
   Esta	
  modalidade	
  possibilita	
  a	
  doação,	
  antes	
  do	
  casamento,	
  por	
  um	
  nubente	
  ao	
  outro,	
  
por	
   terceiro	
   a	
   um	
   dos	
   nubentes,	
   a	
   ambos,	
   ou	
   aos	
   filhos	
   que,	
   futuramente,	
   vierem	
   do	
  
casamento	
  (prole	
  futura).	
  
23	
  
	
   O	
  pressuposto	
  é	
  que	
  se	
  faça	
  a	
  doação	
  antes	
  do	
  casamento.	
  
	
   Nesta	
   modalidade,	
   similar	
   à	
   doação	
   feita	
   ao	
   absolutamente	
   incapaz	
   (art.	
   543),	
  
dispensa-­‐se	
  a	
  aceitação.	
  
	
   Quanto	
  à	
  forma,	
  em	
  determinados	
  casos,	
  requer-­‐se	
  a	
  escritura	
  pública.	
  Assim,	
  feita	
  
pelos	
  nubentes	
  entre	
  si,	
  a	
  doação	
  deve	
  ser	
  objeto	
  de	
  pacto	
  antenupcial,	
  que	
  exige	
  a	
  escritura	
  
pública	
  (art.	
  1.653	
  ss.).	
  Logo,	
  observa	
  Sanseverino	
  	
  a	
  doação	
  de	
  um	
  nubente	
  ao	
  outro,	
  mesmo	
  
que	
  não	
  se	
   trate	
  de	
  bem	
   imóvel	
  de	
  valor	
  superior	
  a	
   trinta	
  salários	
  mínimos,	
  um	
  automóvel,	
  
por	
   exemplo,	
   deve	
   ser	
   feita	
   por	
   escritura	
   pública.	
   Contudo	
   as	
   doações	
   feitas	
   por	
   terceiros	
  
(pais,	
  avós,	
  tios,	
  padrinhos)	
  aos	
  nubentes	
  ou	
  a	
  sua	
  prole	
  futura,	
  dependendo	
  da	
  natureza	
  do	
  
bem	
   doado,	
   podem	
   ser	
   por	
   contrato	
   particular	
   ou	
   até	
   verbal	
   (art.	
   541).	
   Com	
   efeito,	
   nesta	
  
espécie	
  de	
  doação,	
  há	
  que	
  se	
  ter	
  atenção	
  com	
  as	
  pessoas	
  envolvidas	
  no	
  negócio	
  jurídico.	
  
	
   Esta	
   espécie	
   de	
   doação	
   configura	
   modalidade	
   de	
   condição	
   suspensiva,	
   porque,	
  
beneficiando	
  os	
  nubentes,	
  sua	
  eficácia	
  fica	
  condicionada	
  à	
  realização	
  do	
  casamento.	
  Se	
  feita	
  
em	
   favor	
   de	
   prole	
   futura,	
   a	
   propriedade	
   será	
   transmitida	
   quando	
   nascer	
   o	
   primeiro	
   filho,	
  
sendo	
  que,	
  sobrevindo	
  mais	
  de	
  um,	
  haverá	
  um	
  condomínio,	
  não	
  nascendo	
  nenhum,	
  a	
  doação	
  
não	
  terá	
  eficácia.	
  Mas	
  se	
  não	
  houver	
  filhos	
  naturais,	
  e	
  o	
  casal	
  adotar	
  um	
  filho,	
  a	
  doação	
  feita	
  à	
  
prole	
   terá	
   eficácia?	
   A	
   resposta,	
   segundo	
   Sanseverino	
   	
   é	
   positiva,	
   posto	
   que,	
   conforme	
   a	
  
Constituição	
  Federal	
  (art.	
  227,	
  §	
  6º)	
  não	
  há	
  diferença	
  alguma	
  entre	
  a	
  situação	
  jurídica	
  do	
  filho	
  
natural	
  e	
  a	
  do	
  adotivo.	
  
	
   É	
  bom	
  lembrar	
  que	
  na	
  doação	
  feita	
  entre	
  cônjuges	
  ou	
  aos	
  cônjuges	
  não	
  se	
  aplica	
  essa	
  
regra,	
  mas	
  as	
  dos	
  artigos	
  544	
  e	
  551,	
  §	
  único,	
  do	
  Código	
  Civil.	
  
Art.	
   544.	
   A	
   doação	
   de	
   ascendentes	
   a	
   descendentes,	
   ou	
   de	
   um	
   cônjuge	
   a	
  
outro,	
  importa	
  adiantamento	
  do	
  que	
  lhes	
  cabe	
  por	
  herança.	
  
Art.	
   551.	
   Salvo	
   declaração	
   em	
   contrário,	
   a	
   doação	
   em	
   comum	
   a	
  mais	
   de	
  
uma	
  pessoa	
  entende-­‐se	
  distribuída	
  entre	
  elas	
  por	
  igual.	
  
Parágrafo	
   único.	
   Se	
   os	
   donatários,	
   em	
   tal	
   caso,	
   forem	
   marido	
   e	
   mulher,	
  
subsistirá	
  na	
  totalidade	
  a	
  doação	
  para	
  o	
  cônjuge	
  sobrevivo.	
  
	
  
24	
  
	
   Por	
   fim,	
   a	
   doação	
   em	
   contemplação	
   de	
   casamento	
   futuro	
   é	
   irrevogável	
   por	
  
ingratidão,	
  consoante	
  disposição	
  expressa	
  do	
  artigo	
  564,	
  IV,	
  do	
  CC/2002;	
  
	
  
10.6.	
  Doação	
  com	
  cláusula	
  de	
  reversão.	
  
Art.	
   547.	
   O	
   doador	
   pode	
   estipular	
   que	
   os	
   bens	
   doados	
   voltemao	
   seu	
  
patrimônio,	
  se	
  sobreviver	
  ao	
  donatário.	
  
Parágrafo	
  único.	
  Não	
  prevalece	
  cláusula	
  de	
  reversão	
  em	
  favor	
  de	
  terceiro.	
  
	
  
	
   Nesta	
   modalidade,	
   o	
   doador	
   insere	
   no	
   contrato	
   cláusula	
   estipulando	
   que	
   o	
   bem	
  
doado	
  retorne	
  ao	
  seu	
  patrimônio	
  se	
  ele	
  sobreviver	
  ao	
  donatário.	
  	
  
	
   Cria-­‐se	
   uma	
   obrigação	
   condicional	
   resolutiva	
   (CC/arts.127-­‐128),	
   pois,	
   falecendo	
   o	
  
donatário	
  antes	
  do	
  doador,	
  a	
  doação	
  se	
   resolve.	
  Consequentemente	
  é	
  caso	
  de	
  propriedade	
  
resolúvel	
  (Sanseverino.	
  
	
   Pode	
   ocorrer	
   de	
   o	
   donatário	
   alienar	
   o	
   bem	
   recebido	
   a	
   terceiro,	
   depois	
   falecer,	
  
permanecendo	
  vivo	
  o	
  doador.	
  Neste	
  caso,	
  a	
  alienação	
  é	
  desfeita,	
  porque	
  o	
  terceiro	
  adquiriu	
  
uma	
  propriedade	
  resolúvel	
  (Rizzardo).	
  
	
   Por	
   fim,	
   como	
   expressamente	
   prevê	
   o	
   parágrafo	
   único	
   do	
   artigo	
   547,	
   a	
   reversão	
  
prevalece	
  somente	
  em	
  favor	
  do	
  doador,	
  não	
  podendo	
  ser	
  estipulada	
  em	
  benefício	
  de	
  terceira	
  
pessoa.	
  	
  
	
  
10.7.	
  Doação	
  conjuntiva	
  (Sanseverino).	
  
	
   A	
  doação	
  conjuntiva	
  está	
  prevista	
  no	
  caput	
  do	
  artigo	
  551	
  do	
  Código	
  Civil.	
  
Art.	
  551.	
  Salvo	
  declaração	
  em	
  contrário,	
  a	
  doação	
  em	
  comum	
  a	
  mais	
  de	
  uma	
  
pessoa	
  entende-­‐se	
  distribuída	
  entre	
  elas	
  por	
  igual.	
  
	
   Configura-­‐se	
  quando	
  feita	
  em	
  benefício	
  de	
  mais	
  de	
  uma	
  pessoa	
  conjuntamente.	
  
	
   Se	
  nada	
  constar,	
  a	
  distribuição	
  do	
  bem	
  doado	
  aos	
  donatários	
  será	
  em	
  partes	
  iguais,	
  
mas	
  pode	
  ser	
  desigual,	
  desde	
  que	
  se	
  faça	
  menção	
  expressa	
  no	
  contrato	
  de	
  doação.	
  
25	
  
	
   Porém,	
   tratando-­‐se	
   de	
   doação	
  manual	
   de	
   pequeno	
   valor	
   (CC/02,art.541,§	
   ún),	
   que	
  
dispensa	
  a	
  forma	
  escrita,	
  admite-­‐se	
  prova	
  documental	
  e	
  até	
  testemunhal,	
  diz	
  Sanseverino.	
  
	
  
10.8.	
  Doação	
  feita	
  a	
  casal.	
  
Esta	
  doação	
  está	
  prevista	
  no	
  parágrafo	
  único	
  do	
  artigo	
  551.	
  
Art.	
  551.	
  Salvo	
  declaração	
  em	
  contrário,	
  a	
  doação	
  em	
  comum	
  a	
  mais	
  de	
  uma	
  
pessoa	
  entende-­‐se	
  distribuída	
  entre	
  elas	
  por	
  igual.	
  
Parágrafo	
   único.	
   Se	
   os	
   donatários,	
   em	
   tal	
   caso,	
   forem	
   marido	
   e	
   mulher,	
  
subsistirá	
  na	
  totalidade	
  a	
  doação	
  para	
  o	
  cônjuge	
  sobrevivo.	
  
	
  
	
   Contempla	
  marido	
  e	
  mulher	
  não	
  importando	
  o	
  regime	
  de	
  casamento	
  e	
  estendendo-­‐
se	
  à	
  união	
  estável	
  (Sanseverino).	
  
	
   Falecendo	
   um	
   dos	
   cônjuges,	
   a	
   doação	
   subsiste,	
   integralmente,	
   em	
   favor	
   do	
   outro,	
  
não	
  sendo	
  assim	
  a	
  parte	
  do	
  falecido	
  objeto	
  de	
  inventário	
  (Rizzardo).	
  É	
  o	
  direito	
  de	
  acréscimo	
  
que	
  deve	
  ser	
  aceito	
  não	
  só	
  no	
  direito	
  sucessório,	
  mas	
  também	
  nas	
  doações	
  em	
  benefício	
  de	
  
cônjuges.	
  Todavia,	
  observa	
  Sanseverino	
  que	
  a	
  norma	
  não	
  é	
  de	
  ordem	
  pública,	
  admitindo-­‐se	
  
que	
  o	
  doador,	
  expressamente,	
  estabeleça	
  que,	
   falecendo	
  um	
  dos	
  cônjuges,	
  a	
  parte	
  que	
   lhe	
  
toca	
   seja	
   transmitida	
   aos	
   herdeiros,	
   impedindo	
   o	
   direito	
   de	
   acréscimo	
   do	
   cônjuge	
  
sobrevivente.	
  	
  
	
  
10.9.	
  Doação	
  à	
  entidade	
  futura	
  
Art.	
   554.	
   A	
   doação	
   a	
   entidade	
   futura	
   caducará	
   se,	
   em	
   dois	
   anos,	
   esta	
   não	
  
estiver	
  constituída	
  regularmente.	
  
	
  
	
   Permite	
  a	
  lei	
  a	
  doação	
  à	
  entidade	
  ainda	
  não	
  constituída,	
  podendo	
  se	
  estender	
  a	
  entes	
  
coletivos,	
   tais	
   como,	
   associações,	
   fundações,	
   sociedades.	
   Por	
   exemplo,	
   a	
   doação	
   de	
   uma	
  
fazenda	
  para	
  uma	
  entidade	
  ecológica	
  de	
  proteção	
  a	
  determinado	
  animal	
  silvestre,	
  que	
  ainda	
  
está	
  em	
  formação	
  ou	
  sequer	
  existe;	
  a	
  doação	
  em	
  dinheiro	
  para	
  a	
  formação	
  de	
  uma	
  associação	
  
26	
  
de	
  combate	
  a	
  uma	
  doença	
   infantil	
   (Sanseverino).	
  Se	
  a	
   futura	
  entidade	
  não	
  se	
  regularizar	
  no	
  
prazo	
  de	
  dois	
  anos,	
  caduca	
  a	
  doação.	
  Trata-­‐se	
  de	
  uma	
  obrigação	
  condicional	
  suspensiva.	
  
	
  
10.10.	
  Doação	
  e	
  os	
  juros	
  moratórios,	
  a	
  evicção	
  e	
  os	
  vícios	
  redibitórios.	
  
Art.	
  552.	
  O	
  doador	
  não	
  é	
  obrigado	
  a	
  pagar	
  juros	
  moratórios,	
  nem	
  é	
  sujeito	
  às	
  
conseqüências	
   da	
   evicção	
   ou	
   do	
   vício	
   redibitório.	
   Nas	
   doações	
   para	
  
casamento	
   com	
   certa	
   e	
   determinada	
   pessoa,	
   o	
   doador	
   ficará	
   sujeito	
   à	
  
evicção,	
  salvo	
  convenção	
  em	
  contrário.	
  
	
  
	
   Inadimplindo	
  o	
  doador,	
  o	
  donatário	
  pode-­‐lhe	
  exigir	
  o	
  cumprimento	
  da	
  doação,	
  mas,	
  
por	
  ser	
  uma	
  mera	
  liberalidade,	
  não	
  lhe	
  é	
  possível	
  cobrar	
  juros	
  moratórios	
  (Sanseverino).	
  
	
   Por	
   trata-­‐ser	
   de	
   contrato	
   gratuito,	
   não	
   se	
   aplica	
   a	
   evicção,	
   tratando-­‐se	
   de	
   doação.	
  
Porém	
  haverá	
  responsabilidade	
  do	
  doador	
  se	
  ele	
  agir	
  com	
  dolo	
  ou	
  má-­‐fé	
  (CC/02,art.392).	
  E,	
  
ainda,	
   mantém-­‐se	
   a	
   evicção,	
   a	
   não	
   ser	
   que	
   se	
   disponha	
   em	
   contrário,	
   se	
   doação	
   foi	
   em	
  
contemplação	
   de	
   casamento	
   ou	
   modal.	
   Esta	
   exceção	
   é	
   muito	
   criticada	
   na	
   doutrina	
   (Vide:	
  
Sanseverino;	
  Rizzardo).	
  
	
   Não	
  responde	
  o	
  doador,	
  também,	
  pelos	
  vícios	
  redibitórios.	
  Com	
  efeito,	
  se	
  um	
  bem,	
  
doado,	
  vier	
  a	
  apresentar	
  defeitos	
  ocultos,	
  o	
  doador	
  por	
  eles	
  não	
  responde.	
  Nas	
  doações	
  com	
  
encargo,	
   excepcionalmente,	
   os	
   vícios	
   redibitórios	
   incidem,	
   consoante	
   regra	
   do	
   parágrafo	
  
único	
  do	
  art.	
  441.	
  
	
  
11.	
  Extinção	
  da	
  doação.	
  
	
   O	
  contrato	
  de	
  doação	
  se	
  extingue,	
  normalmente,	
  pelo	
  seu	
  cumprimento,	
  por	
  parte	
  
do	
  doador,	
  com	
  a	
  entrega	
  do	
  bem	
  doado	
  ao	
  donatário.	
  Na	
  doação	
  modal,	
  deve	
  o	
  donatário	
  
realizar	
  o	
  encargo	
  que	
  lhe	
  foi	
  incumbido	
  (Sanseverino).	
  
	
   Todavia,por	
   vezes,	
   a	
   extinção	
   da	
   doação	
   decorre	
   de	
   causas	
   anormais,	
   diversas	
   do	
  
adimplemento,	
  tais	
  como,	
  por	
  ingratidão	
  do	
  donatário	
  e	
  por	
  inexecução	
  do	
  encargo,	
  tratadas	
  
como	
  causas	
  de	
  revogação	
  (CC,	
  art.	
  555),	
  e	
  por	
  causas	
  comuns	
  a	
  todos	
  os	
  contratos.	
  
27	
  
	
  
11.1.	
  Extinção	
  por	
  causas	
  comuns	
  a	
  todos	
  os	
  contratos.	
  
	
   São	
   as	
   causas	
   de	
   nulidade	
   ou	
   anulabilidades,	
   decorrentes	
   dos	
   vícios	
   dos	
   negócios	
  
jurídicos,	
  tais	
  como,	
  erro,	
  dolo,	
  coação,	
  estado	
  de	
  perigo,	
  fraude	
  a	
  credores,	
  agente	
  incapaz,	
  
objeto	
  ilícito,	
  impossível	
  ou	
  indeterminado,	
  não	
  observância	
  da	
  forma	
  prescrita,	
  (Gonçalves).	
  	
  
	
   Ainda,	
   há	
   extinção	
   por	
   causas	
   não	
   comuns	
   a	
   todos	
   os	
   contratos,	
   mas	
   por	
   vícios	
  
exclusivos	
   do	
   contrato	
   de	
   doação,	
   como	
   nas	
   hipóteses	
   de	
   inoficiosidade	
   (art.	
   549),	
   doação	
  
feita	
  pelo	
  cônjuge	
  adúltero	
  ao	
  seu	
  cúmplice,	
  etc.	
  
	
  
11.2.	
  Extinção	
  (revogação)	
  da	
  doação	
  pelo	
  não	
  cumprimento	
  do	
  encargo.	
  	
  
Art.	
  562.	
  A	
  doação	
  onerosa	
  pode	
  ser	
  revogada	
  por	
  inexecução	
  do	
  encargo,	
  se	
  
o	
   donatário	
   incorrer	
   em	
  mora.	
   Não	
   havendo	
   prazo	
   para	
   o	
   cumprimento,	
   o	
  
doador	
   poderá	
   notificar	
   judicialmente	
   o	
   donatário,	
   assinando-­‐lhe	
   prazo	
  
razoável	
  para	
  que	
  cumpra	
  a	
  obrigação	
  assumida.	
  
	
  
	
   Exige-­‐se	
  a	
  mora	
  do	
  donatário.	
  
	
   Não	
  havendo	
  prazo	
  para	
  o	
  cumprimento	
  do	
  encargo,	
  há	
  que	
  se	
  notificar	
  o	
  donatário,	
  
fixando-­‐lhe	
  prazo	
  razoável	
  (CC,	
  art.	
  397,	
  §	
  ún.).	
  
	
   A	
  força	
  maior	
  afasta	
  a	
  mora.	
  
	
   O	
  encargo	
  pode	
  ser	
  em	
  benefício	
  do	
  doador,	
  de	
  terceiro,	
  ou	
  do	
  interesse	
  geral	
  (CC,	
  
art.	
  553).	
  
	
   A	
   legitimidade	
   para	
   exigir	
   o	
   cumprimento	
   do	
   encargo	
   é	
   do	
   doador,	
   do	
   terceiro	
  
(beneficiado)	
  e	
  do	
  Ministério	
  Público.	
  	
  
	
   A	
   legitimidade	
   do	
   Ministério	
   Público	
   é	
   apenas	
   para	
   doações	
   com	
   encargos	
   que	
  
beneficiem	
  o	
  interesse	
  geral.	
  	
  
28	
  
	
   Estando	
  vivo	
  o	
  doador,	
  somente	
  ele	
  tem	
  legitimidade	
  para	
  exigir	
  o	
  cumprimento	
  do	
  
encargos;	
  não	
  a	
  tem	
  o	
  Ministério	
  Público,	
  nem	
  o	
  beneficiário,	
  mesmo	
  que	
  o	
  encargo	
  seja	
  no	
  
interesse	
  geral	
  (Gonçalves)	
  
	
   No	
   caso	
   de	
   serem	
   vários	
   os	
   donatários,	
   e	
   o	
   encargo	
   ser	
   indivisível,	
   basta	
   o	
  
descumprimento	
   de	
   um	
   deles	
   para	
   que	
   haja	
   a	
   revogação,	
   mas	
   se	
   o	
   ônus	
   for	
   divisível,	
   a	
  
revogação	
  da	
  doação	
  deve	
  atingir	
  apenas	
  aqueles	
  donatários	
  que	
  não	
  cumpriram	
  com	
  a	
  sua	
  
parte	
  no	
  encargo	
  (Gonçalves).	
  
	
   Se	
   houver	
   pluralidade	
   de	
   doadores	
   e	
   um	
   só	
   donatário,	
   sendo	
   o	
   direito	
   divisível,	
  
havendo	
   descumprimento	
   do	
   encargo,	
   se	
   uns	
   quiserem	
   revogar	
   o	
   benefício	
   e	
   outros	
   não,	
  
aqueles	
  que	
  pretenderem	
  poderão	
  fazê-­‐lo	
  em	
  relação	
  às	
  suas	
  quotas,	
  mas	
  não	
  sobre	
  a	
  coisa	
  
toda	
  doada.	
  
	
  
11.3.	
  Revogação	
  por	
  ingratidão	
  do	
  donatário.	
  	
  
Art.	
  557.	
  Podem	
  ser	
  revogadas	
  por	
  ingratidão	
  as	
  doações:	
  
I	
   –	
   se	
   o	
   donatário	
   atentou	
   contra	
   a	
   vida	
   do	
   doador	
   ou	
   cometeu	
   crime	
   de	
  
homicídio	
  doloso	
  contra	
  ele;	
  
II	
  –	
  se	
  cometeu	
  contra	
  ele	
  ofensa	
  física;	
  
III	
  –	
  se	
  o	
  injuriou	
  gravemente	
  ou	
  o	
  caluniou;	
  
IV	
   –	
   se,	
   podendo	
  ministrá-­‐los,	
   recusou	
   ao	
   doador	
   os	
   alimentos	
   de	
   que	
   este	
  
necessitava.	
  
	
  
	
   O	
  rol	
  é	
  exemplificativo	
  (Sanseverino).	
  
	
   O	
  homicídio	
  deve	
  ser	
  doloso.	
  
	
   A	
   ação	
   revocatória	
   pode	
   ser	
   intentada,	
   independentemente	
   de	
   ter	
   havido	
  
condenação	
  no	
  juízo	
  criminal,	
  mas	
  há	
  que	
  se	
  observar	
  os	
  casos	
  em	
  que	
  a	
  sentença	
  penal	
  faz	
  
coisa	
  julgada	
  no	
  cível	
  (CC,	
  art.	
  935).	
  A	
  legitimidade	
  para	
  propor	
  a	
  ação	
  é	
  dos	
  herdeiros	
  (CC,	
  art.	
  
561).	
  
29	
  
	
   A	
  ofensa	
  física	
  deve	
  ser	
  concreta.	
  Não	
  se	
  amolda	
  ao	
  dispositivo	
  a	
  ameaça,	
  porém,	
  diz	
  
Sanseverino,	
   a	
   ameaça	
   séria	
   e	
   grave	
   de	
   mal	
   injusto	
   ao	
   doador	
   ou	
   seus	
   familiares	
   pode	
  
caracterizar	
  hipótese	
  ingratidão.	
  	
  
	
   As	
  condutas	
  culposas	
  –	
  não	
  dolosas	
  –	
  não	
  configuram	
  ingratidão.	
  
	
   Com	
   relação	
   há	
   honra,	
   a	
   ingratidão	
   não	
   se	
   funda	
   apenas	
   na	
   injúria	
   e	
   calúnia,	
  mas	
  
abrangem	
   também	
   a	
   difamação,	
   embora	
   o	
   dispositivo	
   seja	
   omisso	
   (Sanseverino;	
   Rizzardo).	
  
Relembrando:	
  Calúnia	
  é	
  a	
  imputação	
  falsa	
  de	
  fato	
  definido	
  como	
  crime	
  (CP,	
  art.	
  138);	
  a	
  injúria	
  
é	
  a	
  ofensa	
  à	
  honra	
  subjetiva	
  da	
  vítima,	
  como	
  a	
  dignidade,	
  o	
  decoro	
  (CP,	
  art.	
  140);	
  a	
  difamação	
  
é	
  a	
  imputação	
  de	
  fato	
  ofensivo	
  à	
  reputação	
  da	
  vítima,	
  não	
  tipificado	
  como	
  crime,	
  que	
  atinge	
  a	
  
sua	
  honra	
  objetiva,	
  por	
  ex.,	
  afirmar	
  que	
  a	
  vítima	
  é	
  mau	
  pagador	
  de	
  contas	
  (CP,	
  art.	
  139).	
  
	
   Quanto	
  à	
   ingratidão	
  por	
   recusa	
  do	
  donatário	
  na	
  prestação	
  de	
  alimentos	
  ao	
  doador	
  
necessitado,	
   a	
   hipótese	
   não	
   se	
   confunde	
   com	
   a	
   doação	
   com	
   encargo	
   de	
   prestar.	
   Nesta	
  
circunstância,	
  a	
  recusa	
  constitui	
  descumprimento	
  do	
  encargo.	
  	
  
	
   Aqui,	
   conforme	
   Rizzardo,	
   exige-­‐se	
   que	
   o	
   doador	
   se	
   encontre	
   em	
   situação	
   de	
  
necessidade;	
   não	
  haja	
  parentes	
  próximos;	
   e	
  o	
  donatário	
   esteja	
   em	
  condições	
  de	
  prestar	
  os	
  
alimentos.	
  
	
   Também,	
   constitui	
   ingratidão	
  a	
  ofensa	
  ao	
   cônjuge,	
   ao	
  ascendente,	
   ao	
  descendente	
  
ou	
  irmão	
  do	
  doador	
  (CC,	
  art.	
  558).	
  
	
   O

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