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Conteúdo - Coisas - Para moodle - 459-469 - 2014-1

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Proibida a reprodução – Lei n. 9.610/98
Prof. Dilso Domingos Pereira
Material sujeito à atualização
D I R E I T O C I V I L V I
DIREITOS DAS COISAS OU DIREITOS REAIS
1.ª AULA – 27/02/2014 
Apresentação. Explicação da metodologia e da avaliação.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Localização no Código e terminologia
Localização
CÓDIGO CIVIL
PARTE ESPECIAL
LIVRO III
ARTIGOS 1.196-1.510
Terminologia
O vocábulo ‘reais' vem do latim res, rei e significa coisa.
Uns autores usam a expressão “direito das coisas”, outros, “direitos reais”.
O Código Civil usa a expressão “direito das coisas”.
1.2. Conceito de direito das coisas. Teorias.
É, basicamente, objeto de três teorias: 
* Teoria clássica ou romana
* Teoria personalista
* Teoria eclética
1.2.1. Teoria clássica ou realista ou romana
É o poder que liga uma pessoa diretamente à coisa, poder esse que é exercido pelo titular independente de quem quer que seja (Chalhub).
É o poder da pessoa sobre a coisa, de modo direto e imediato, que se exerce erga omnes (Rizzardo).
É a teoria mais adequada à realidade, segundo Gonçalves e Washington.
1.2.2. Teoria personalista
Surgiu no final do século XIX, exposta por Windscheid na Alemanha e Planiol na França.
É uma das teorias unitárias, a outra é a impersonalista.
O direito é uma relação entre pessoas, não entre pessoa e coisa.
O direito real é uma obrigação passiva universal ou obrigação negativa universal. 
Em contraste, há a teoria impersonalista, também unitária. Para esta teoria, os direitos pessoais são absorvidos pelos direitos reais. Toda a obrigação tem um valor patrimonial que não depende do devedor. O direito incide sobre a prestação, ou melhor, sobre o patrimônio. O direito é despersonalizado e patrimonializado. Tanto os direitos obrigacionais quantos os direitos reais fazem parte de uma realidade mais ampla que é o direito patrimonial.
1.2.3. Teoria eclética
Conjuga as teorias clássicas e personalista.
“A corrente eclética vê no direito real duas faces: uma face interna, que consiste no poder direto e imediato de uma pessoa sobre uma coisa, e uma face externa, que consiste na oponibilidade desse poder erga omnes” (Chalhub).
1.2.4. Definições de Clóvis Beviláqua e Pontes de Miranda
Definição de direito das coisas por Clóvis Beviláqua
 “É um conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens materiais ou imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem.” 
Definição de Pontes de Miranda
“É o direito que apanha a coisa, plenamente ou dentro de certos limites, sem depender de alguém, de modo que o seu titular o exerce e o faz valer perante quem quer que seja.”
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1.3. Distinção entre direitos reais e direitos obrigacionais
Direitos reais					Direitos obrigacionais
- São constituídos pela lei.	 Art.1225	- Pela vontade das partes e pela lei.
- Têm somente sujeito ativo. 		- Têm sujeito ativo e passivo.
- Objeto consiste em coisas 
corpóreas e incorpóreas.			- O objeto é uma prestação.
- São limitados, criados pela lei.		- São ilimitados, criados pelas partes.
- Exercido direto sobre a coisa. 		- Exige um intermediário, o devedor.
- Não se extingue pela falta de uso.	- Extingue-se pela inércia.
- Tem como prerrogativas o aban-
dono, a seqüela, o usucapião, 
a posse e a preferência.			- Não têm essas prerrogativas.
Observação de Michele Giorgianni 
Há direitos reais cujos titulares não têm poder imediato sobre a coisa, p. ex., no penhor, na hipoteca e nas servidões negativas; há direitos pessoais, cujos titulares têm poder imediato sobre a coisa, p. ex., o locatário e o comodatário.
1.4. Características
- Direito absoluto
- Direito de seqüela. 
- Direito de preferência: 
- Oponibilidade erga omnes 
- Aderência imediata ao bem. 
- Obedece a numerus clausus 
- Admite o abandono
1.4.1 Direito absoluto
 “É aquele cujo sujeito passivo é indeterminado”. (Arnoldo Wald) 
O dever jurídico, consiste numa ação ou omissão que recai sobre todos os membros da coletividade. 
Os direitos absolutos subdividem-se em direitos reais e direitos da personalidade.
Quando defendem bens que estão na própria pessoa do seu titular, como a vida, a saúde, a integridade física, a liberdade, o nome, a imagem, são denominados direitos da personalidade. 
Quando defendem bens fora da pessoa, ou seja, direitos que recaem sobre uma coisa, são denominados direitos reais. 
É por serem absolutos que os direitos reais gozam dos direitos de seqüela e preferência e são opostos erga omnes. 
Não se admite direito algum estritamente absoluto, sob pena de se negar o próprio direito” (Silvio de Salvo Venosa).
1.4.2. Direito de seqüela. 
É o jus persequendi. 
“É o que tem o titular do direito real de seguir a coisa em poder de todo e qualquer detentor ou possuidor” (Orlando Gomes).
É regulado pelo artigo 1.228 do Código Civil: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. 
1.4.3. Direito de preferência: 
Restrito aos direitos reais de garantia (Penhor, hipoteca, anticrese). 
O credor, titular de direito real de garantia, concorrendo com um credor quirografário, recebe o pagamento em primeiro lugar.
Está disciplinado no artigo 1.419 do Código Civil: “Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação”. 
1.4.4. Oponibilidade erga omnes 
Pode ser oposto perante todos, perante quem quer que atente contra o seu direito. 
Observa-se que, no direito real, diferentemente do direito obrigacional, o titular não tem relação jurídica com outra pessoa. 
Então, ele vai fazer valer o seu direito contra qualquer pessoa que o moleste.
1.4.5. Aderência imediata ao bem. 
O direito real: 
“liga-se ao objeto como se fosse mancha misturada à sua cor, como se fosse uma ferida ou uma cicatriz calcada em sua face” (Silvio Rodrigues),
 “adere à coisa como a lepra ao corpo”(Orlando Gomes).
1.4.6. Obedece a numerus clausus 
São criados por lei. 
A lei os enumera de forma taxativa, não admitindo interpretação analógica.
Código Civil
Art. 1.225. São direitos reais:
I – a propriedade;
II – a superfície;
III – as servidões;
IV – o usufruto;
V – o uso;
VI – a habitação;
VII – o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII – o penhor;
IX – a hipoteca;
X – a anticrese;
XI – a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII – a concessão de direito real de uso.
Não são os únicos. Existem outros, previstos em leis extravagantes e no próprio Código Civil.
* Washington de Barros Monteiro destoa, dizendo que “as próprias partes podem criar outros direitos reais, desde que não contrarie princípios de ordem pública. 
1.4.7. Admite o abandono
O titular pode abandonar a coisa. 
Ex.: Na servidão, o dono do prédio abandona a propriedade ao dono do prédio dominante, se não quiser arcar com a realização de obras necessárias ao uso e conservação, que por ventura lhe tocar (CC, art. 1.382 c/c art. 1.380).
1.5. Evolução
O direito das coisas, ensina Washington de Barros Monteiro, é a parte do Direito Civil que mais tempo se manteve fiel aos princípios individualistas da tradição romana, que traçaram a história da humanidade. 
Contudo, o direito das coisas vem sofrendo profundas alterações. Vários são os fatores, sendo o principal a preponderância, cada vez maior, do interesse público sobre o interesse particular. 
Antigamente, a propriedade era o centro de todo o direito das coisas, caracterizado pelo princípio essencialmente individualista. A relação jurídica era puramente privada e individual. A propriedade era sagrada e absoluta. O titular podia usar, gozar e dispor da coisa que lhe pertencia do modoque melhor lhe interessasse, sem sofrer qualquer restrição. Todas as legislações tornavam a propriedade intangível, absoluta. 
Porém, aos poucos, a concepção egoísta e individualista foi cedendo lugar ao interesse social. Antes tempos a propriedade compreendia a superfície, o espaço aéreo e o subsolo. 
No Brasil, por exemplo, sobreveio o Código de Minas (Dec. N. 24.642, de 10-7-1934), que separou a jazida e o solo, restringindo o direito de propriedade. 
Da mesma forma, o Código das Águas (Dec. nº 24.643, de 10-7-1934). 
Também, a liberdade de construir em terrenos urbanos sofre restrições do poder público municipal, que pode impor altura, recuo do alinhamento, etc.. 
Os progressos sociais, visando a distribuição de riquezas, introduziu a função social da propriedade (CF, art. 170). A propriedade hoje tem a função de gerar novas riquezas, mais trabalho e mais emprego, para o bem geral do povo. Aquele proprietário, referido por Demogue e citado por José Antônio Nogueira, diz Washington, não poderia, em função do Decreto-lei nº 7.917, de 30-8-1945, junto a um hangar traçar a sua propriedade de altíssimas hastes de metal, destinadas a dificultar a aviação aérea sobre o que lhe pertencia. 
Outra significativa limitação ao direito de propriedade diz respeito à legislação sobre o meio ambiente, que proíbe ao titular da coisa o uso de forma a causar impacto ambiental negativo.
 
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1.6. Classificações dos Direitos Reais (Orlando Gomes) 
1.6.1. Segundo a sua formação: direitos reais na coisa própria e direitos reais na coisa alheia
1.6.1.1. Direitos reais na coisa própria (Jus in re própria) 
É o exercício do direito real sobre a própria coisa.
É a propriedade 
1.6.1.2. Direitos reais na coisa alheia (Jus in re aliena) 
Também chamados direitos ‘limitados’.
O direito real é exercido sobre a coisa alheia. 
São: a superfície; as servidões; o usufruto; o uso; a habitação; o direito do promitente comprador do imóvel; o penhor; a hipoteca; a anticrese; a concessão de uso especial para fins de moradia; a concessão do direito real de uso (Os dois últimos acrescentados pela Lei nº 11.481, de 31/05/2007) 
O novo Código Civil 
EXCLUIU os institutos da enfiteuse e das rendas expressamente constituídas sobre imóveis, e 
INCLUIU a superfície e o direito do promitente comprador do imóvel.
Posteriormente, ACRESCENTOU, ainda, a concessão de uso especial para fins de moradia e a concessão de direito real de uso.
Um, ou alguns, dos direitos (poderes) da propriedade – uso, gozo ou fruição e disposição - é, ou são, desmembrado (s) e atribuído (s) a outra pessoa. 
Podem ser: 
1.6.1.2.1. De gozo ou fruição, ou principais, ou sobre a substância: enfiteuse, superfície, servidões, usufruto, uso, habitação. 
1.6.1.2.2. De aquisição: o direito do promitente comprador do imóvel 
1.6.1.2.3. De garantia ou acessórios ou sobre o valor: penhor, hipoteca, anticrese, alienação fiduciária em garantia. São os únicos que têm a ‘preferência’. 
1.6.1.2.4. Direitos reais sociais: a concessão de uso especial para fins de moradia; a concessão de direito real de uso (acrescentados pela Lei nº 11.481, de 31/05/2007). 
1.6.2. Classificação segundo o objeto: Direitos reais mobiliários e direitos reais imobiliários: 
1.6.2.1. Direitos reais mobiliários e direitos reais imobiliários:
1.6.2.1.1. Direitos reais mobiliários. Recaem sobre coisas móveis. 
1.6.2.1.2. Direitos reais imobiliários. Recaem sobre coisas imóveis. 
1.6.2.2. Direitos reais corpóreos e incorpóreos:
1.6.2.2.1. Corpóreos. Direito exercido sobre a coisa material. 
1.6.2.2.2. Incorpóreos. Direitos sobre direitos. Ex. usufruto e o penhor sobre créditos (direitos pessoais). As produções do espírito como as literárias, artísticas, científicas e industriais. 
1.7. Constituição dos Direitos Reais 
A partir de fatos jurídicos lato sensu. 
Na doutrina alemã, esses fatos são denominados de relação causal ou básica. 
Na aquisição da propriedade através da compra e venda, o contrato é a relação jurídica básica.
Na aquisição de usufruto pelo testamento, o testamento é a relação causal do usufruto. 
A conexão entre o efeito e a causa é que norteia a eficácia do direito real. 
Orientação tradicional. 
Se o negócio jurídico que deu causa for nulo, nula será a aquisição do direito real. A aquisição é condicionada à validade do título. 
A legislação alemã dá outra orientação. 
Desvincula a causa dos efeitos. 
Adota o princípio da abstração da causa. 
Os defeitos na relação jurídica causal não têm influência sobre o direito real constituído.
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2.ª AULA – 06/03/2014
2. POSSE
2.1. Definição. Teorias.
- Teorias subjetiva e objetiva
- Teoria subjetiva: Frederich Karl Von Savigny 
Define a posse como sendo o poder direto ou imediato que tem a pessoa de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e defendê-lo contra a intervenção ou agressão de quem quer que seja.
Posse composta por dois elementos, o corpus e o animus.
O corpus é o elemento material da posse; o animus, o elemento intelectual, a vontade de ter essa coisa como sua, a vontade de exercer o direito de propriedade.
Aquele que tem o corpus, mas não tem o animus, para essa teoria, possuidor não é, mas sim mero detentor. 
Eram considerados possuidores o proprietário, o ladrão e o usurpador, diz Arnaldo Rizzardo.
Mas não são considerados possuidores o locatário, o comodatário, o depositário e todos aqueles que exercerem o poder físico da coisa em situações análogas (Orlando Gomes). 
Quem não tem o animus não goza da proteção. 
Essa teoria teve grande aceitação no século XIX, mas não é mais seguida pelo pensamento moderno.
No entanto, o Código Civil de 2.002, nos artigos 1.204 e 1.223, guarda resquícios dessa concepção.
- Teoria objetiva: Rudolph von Jhering 
É a exteriorização ou visibilidade do domínio.
Basta o corpus, pois o animus está inserido no poder de fato exercido sobre a coisa. 
“O animus nada mais é que o propósito de servir-se da coisa como proprietário” (Silvio Rodrigues).
“A posse vem a ser o exercício de um poder sobre a coisa correspondente ao da propriedade ou de outro direito real” (Orlando Gomes).
A concretização da posse se dá com o poder físico e a utilização econômica, traduzida no interesse juridicamente protegido (Arnaldo Rizzardo).
Na posse há dois elementos que a integra: o poder físico sobre a coisa e o interesse de utilizá-la economicamente (Rizzardo).
“O animus é tão-somente a vontade de proceder como procede habitualmente o proprietário – affectio tenendi – independentemente de querer ser dono” (Chalub).
O locatário, o comodatário, o depositário, o usufrutuário, o depositário, o mandatário, o transportador, o administrador etc., são considerados possuidores. (Rizzardo).
Influenciou o Código Civil alemão (BGB) e foi seguida pelos Códigos da Suíça, China, México, Peru (Orlando Gomes).
O Código Civil brasileiro adotou a teoria de Ihering, como se observa no artigo 1.196. 
- Definições
Tal qual o domínio, é a sujeição da coisa à vontade de uma pessoa (Rizzardo).
A manifestação exterior ou as aparências da posse e do domínio são idênticas (Rizzardo).
“É um estado de fato protegido pelo direito” (Venosa).
Podemos dizer que é o pleno exercício de fato de um ou alguns dos poderes inerentes ao domínio.
Código Civil:
- Art. 1.196. Considera possuidor aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. 
São direitos ou poderes inerentes ao domínio: o uso, o gozo ou fruição e a disposição. 
Usar significa utilizar a coisa, aproveitar as utilidades que ela oferece. Ex.: utilizar a casa para moradia.
Gozar ou fruir está ligado ao aproveitamento econômico da coisa, nos seus rendimentos. Ex.: O aluguel que desfruta o proprietárioquando aluga uma casa.
Dispor é o poder que o possuidor tem de transmitir por venda, doação, permuta, dação, etc., o bem; gravá-lo, modificá-lo, transformá-lo, destruí-lo. É próprio de quem seja o proprietário.
2.2. Origem.
Duas teorias:
2.2.1. Teoria de Niebuhr, adotada por Frederich Karl Von Savigny: 
Surgiu da repartição de terras conquistadas pelos romanos. 
Essas terras eram loteadas. 
Parte desses lotes, denominados possessiones, era distribuída aos cidadãos romanos, a título precário. 
A outra parte era destinada à construção de novas cidades. 
Não sendo os que recebiam essas terras proprietários, não podiam eles manejar a ação reivindicatória contra invasões. 
Em conseqüência, surgiu o interdito possessório, para proteger o estado de fato, ou seja, a posse.
2.2.2. Teoria de Rudolph von Jhering:
A posse é explicada a partir das medidas arbitrárias tomadas pelo pretor. 
Na fase inicial da reivindicatória, era outorgada a uma das partes a guarda ou a detenção da coisa. 
Essa situação provisória acabava por se consolidar, ante a inércia das partes, pois aquele que recebia o bem objeto do litígio perdia o interesse na ação. Com o tempo, passou-se a usar um critério mais justo, beneficiando aquele litigante que apresentasse melhor prova. 
Com mais razão, aumentava o desinteresse das partes, a beneficiada porque já estava com o bem, a antagonista porque já antevia o malogro da pretensão. Esse procedimento preliminar foi ganhando caráter de mérito, passando a um processo declaratório do estado de fato existente, com o fito não só de garanti-lo, mas, também, de defendê-lo. 
2.3. Detenção.
Artigos 1.198 e 1.208, do Código Civil - Casos em que a posse não se configura. 
Alguém conserva a posse em nome de outro, de quem se acha em relação de dependência e sob suas ordens. 
É o chamado fâmulo da posse, ou servidor da posse. 
“São todos aqueles que estão unidos a um possuidor por um vínculo de subordinação, oriundo de relação de direito privado, como de direito público, pouco importando, ...”(Orlando Gomes).
São exemplos “os empregados em geral, os diretores de empresa, os bibliotecários, os viajantes em relação aos mostruários, o menores quando usam coisas próprias, o soldado, o detento” (Orlando Gomes).
Também, não induzem posse os atos de mera permissão, tolerância, indulgência, bem como, não autorizam sua aquisição os atos violentos ou clandestinos, antes de cessadas a violência e a clandestinidade (CC, art. 1.208).. Ex.: permissão para que o vizinho passe pelo jardim da outra casa,; o fazendeiro que permite a outro limítrofe que passe por sua propriedade, fazendo um atalho.
Vide:
- AC N° 70004519450 – 19ª CC – TJRS – Rel. Dr. Antonio Vinicius Amaro da Silveira – J. 22/2/2005. Trata de um imóvel público, onde há detenção e não posse;
- REsp N° 635.980 – Rel. Min. José Delgado – J. 03/8/2004. Trata de um pedido de manutenção de posse, referente a um Camping. Entendeu-se que a ocupação era precária, e não se reconheceu nem direito à retenção por benfeitorias.
2.4. Natureza jurídica. 
Há divergência doutrinária que vem desde o direito romano.
Há três correntes:
- a posse é um fato.
- a posse é um direito.
- a posse é, simultaneamente, um fato e um direito.
- A posse é um fato
A posse é um fato, “uma vez que não tem autonomia, não tem valor jurídico próprio. O fato possessório não está subordinado aos princípios que regulam a relação jurídica no seu nascimento” (Gonçalves). São partidários: Windscheid, Pacificci-Mazzoni, Bonfante, Dernrburg, Trabucchi, Cujacius, Planiol, Arnoldo Wald, Silvio Rodrigues.
- A posse é um direito real
É defendida por Jhering. Para ele, direitos são interesses juridicamente protegidos, e a posse, consistindo num interesse juridicamente protegido, é direito, no caso, um direito real. 
São seguidores: Gans, Puchta e Beckker, na Alemanha; na França, Laurent; na Itália, Chironi, Filomusi-Guelfi, Ferrara; na Argentina, Salvat, Ovejero, Lafaile; no Brasil, Orlando Gomes, Caio Mário, Melhim Namem Chalhub, Serpa Lopes, Maria Helena Diniz).
A posse guardaria todas as características dos direitos reais: oponibilidade erga omnes, indeterminação do sujeito passivo, incidência em objeto obrigatoriamente determinado.
- A posse é, simultaneamente, um fato e um direito pessoal
Para Savigny, a posse é, ao mesmo tempo, fato e direito. 
Se considerada em si mesma é fato, mas se vista com relação aos efeitos que gera, como usucapião e interditos, é direito. Neste caso, direito pessoal, porque, para essa corrente, os interditos possessórios pertencem à teoria das obrigações. São seguidores: Marlin, Namur, Domat, Ribas, Lafayette, Pothier, 
* Clóvis Beviláqua, seguido por Carlos Roberto Gonçalves, afirma que a posse não é um direito real, mas direito especial.
* Paulo Nader afirma que “a posse, à luz do Direito pátrio, não configura direito real, mas pessoal, pois não incluída no elenco dos direitos reais, estabelecido no art. 1.225 .
2.5. Objeto da posse. 
Bens corpóreos e incorpóreos. 
Há doutrinadores que afastam do objeto da posse as propriedades literária, artística e científica.
O bem acessório, quando parte integrante da coisa principal, também, não pode ser objeto de posse, diz Maria Helena Diniz.
Alguns autores aceitam a posse dos direitos reais de fruição: uso, usufruto, habitação e servidões, discrepando quanto à enfiteuse, e dos direitos reais de garantia, penhor e anticrese, com exceção da hipoteca. 
Discute-se se pode haver posse de direitos pessoais. Aqueles que entendem ser a posse um fato, repelem a idéia de que os direitos pessoais possam ser seu objeto. 
Mas os seguidores de Ihering, como corolário lógico de que a posse é o exercício de um direito, aceitam-na. 
No entanto, alerta Orlando Gomes, que não pode ser a posse de qualquer direito pessoal. Exige-se que esse direito pessoal, para que seja objeto da posse, tenha conteúdo patrimonial, pois o que Jhering afirmou “foi que a posse é a exterioridade da propriedade; a condição de utilização econômica desse direito”. 
Nesse sentido, Orlando Gomes, que a razão está com Vicente Rao, quando ensina que os únicos direitos suscetíveis de posse são: a) o domínio; b) os direitos reais que do domínio se desmembram e subsistem como entidades distintas e independentes; c) os demais direitos que, fazendo parte do patrimônio da pessoa, podem ser reduzidos a valor pecuniário. 
A questão adquire interesse, no caso, quando se busca proteger o direito relativo ao exercício da função pública, mas perde a razão de ser quando existem outros remédios processuais, como o mandado de segurança. Contudo, há casos não abrigados pelo mandado de segurança, hipóteses em que, a princípio, caberia a proteção possessória.
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2.6. Classificação da posse 
2.6.1. Quanto à extensão da garantia: posse direta e posse indireta ou posses parelalas – CC/02, arts. 1.196, 1.197 
1.6.1.1. Posse direta
É a que tem o não-proprietário, a quem cabe o exercício de uma das faculdades do domínio, por força de obrigação, ou direito (Orlando Gomes). 
São possuidores diretos o usufrutuário, o usuário, o titular do direito real de habitação, o credor pignoratício, o enfiteuta, o promitente-comprador, o locatário, o comodatário, o depositário, o empreiteiro, o construtor, o inventariante, o ocupante do terreno do domínio do Estado, que paga taxa de ocupação, o transportador, o tutor, o curador, o titular do direito de retenção, o administrador de sociedade.
2.6.1.2. Posse indireta
É a posse que conserva o proprietário quando se demite, temporariamente, de um dos direitos elementares do domínio, cedendo a outro seu exercício. (Orlando Gomes). Ex.:o nu proprietário, o locador, o comodante
Coexistência das posses direta e indireta (Rizzardo)
A posse direta e a indireta coexistem. 
A posse indireta não subsiste sem a direta. 
Masa posse direta nem sempre pressupõe a posse indireta, como ocorre com o proprietário e o possuidor usucapiente, que têm posse direta sem que exista a posse indireta. 
O proprietário, quando reúne consigo todos os elementos constitutivos da propriedade, exerce posse direta, sem que haja posse indireta. 
O possuidor usucapiente também exerce posse direta sem que exista um proprietário exercendo alguma dominação ou algum poder sobre o bem.
Código Civil
Art. 1.197 – A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
2.6.2. Quanto à simultaneidade do exercício: composse – CC, art. 1.199
Exercício simultâneo da posse: Composse (pro diviso e pro indiviso).
A composse é a posse comum da mesma coisa, no mesmo grau. 
Código Civil: 
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. 
São compossuidores: 
a) os cônjuges consorciados pelo regime da comunhão universal de bens; 
b) os herdeiros, antes da partilha; 
c) os consortes, nas coisas comuns, não se tratando de pessoa jurídica.
	
 “...,por força de convenção ou a título hereditário (adquirentes de coisa em comum, co-titulares do mesmo direito, marido e mulher em regime de comunhão de bens, co-herdeiros antes da partilha, comunheiro antes da communi dividundo), duas ou mais pessoas tornam-se condôminas da mesma coisa mantendo-se pro indiviso a situação respectiva em virtude da qual ela constitui objeto da propriedade de todos. (Caio Mário da Silva Pereira)
A composse cessa pela divisão da coisa comum ou pela posse exclusiva de um dos sócios que isole uma parte dela, sem oposição dos outros.
	
Uma característica da composse é a temporariedade, mas, nos edifícios, a propriedade em comum sobre o solo, hall de entrada, corredores, áreas de ventilação, paredes laterais, elevadores, teto, torna-se perpétua, perdurando enquanto existir o edifício. (Caio Mário).
2.6.2.1. Composse pro diviso
Não há uma divisão de direito, mas o bem de fato já foi repartido.
2.6.2.2. Composse pro indiviso 
Não divisão de direito nem de fato.
As pessoas possuem em conjunto um bem, tendo apenas uma parte ideal dele. 
Ex.:Três pessoas têm a posse de um terreno, porém, ainda não foi determinada qual a parcela que cabe a cada uma. Então, cada uma das três pessoas possui a terça parte ideal do terreno.
2.6.3. Quanto aos vícios objetivos: posse justa e posse injusta - CC, art. 1.200
2.6.3.1. Posse justa
A posse é justa quando não foi adquirida de forma violenta, clandestina ou precária.
Forma violenta 
A posse é violenta, quando adquirida por meio de força física ou coação moral.
Forma clandestina
A posse é clandestina, quando adquirida às ocultas de quem tenha direitos sobre o bem. Ocorre, com mais freqüência, nas invasões, sem a presença do possuidor, e nas alterações de divisas entre terrenos, sem que seja perceptível a alteração. (Rizzardo)
Forma precária
A posse é precária, quando o possuidor age com abuso de confiança, não devolvendo o bem, a quem lhe cedera a posse, depois de vencido o prazo. 
A injustiça da posse se caracteriza não no momento da aquisição, mas quando o possuidor se recusa a devolver a coisa. (Rizzardo) 
É originária do abuso de confiança daquele que recebeu a coisa com o dever de restituí-la. O vício, aqui, não é contemporâneo da aquisição da posse.
Vide:
- AC N° 70000530352 – 19ª CC – TJRS – Rel. Desa. Elba Aparecida Nicolli Bastos – J. 05/12/2000. Trata de um comodato, abordando a posse precária. Também, afasta o pedido de usucapião dos comodatários.
2.6.3.2. Posse injusta
A posse injusta é a que foi adquirida com algum dos vícios da violência, clandestinidade e precariedade.
2.6.4. Quanto à subjetividade: posse de boa-fé e posse de má-fé 
2.6.4.1. Posse de boa-fé – CC, art. 1.201, § único 
É aquela em que o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo, que lhe impede a aquisição da coisa ou do direito possuído.
2.6.4.2. Posse de má-fé – CC, art. 1.202 
É de má-fé a posse quando o possuidor tem ciência do vício, ou do obstáculo, que o impede de adquiri-la, mesmo assim a conserva.
2.6.5. Quanto à idade: posse nova e posse velha – CPC, arts. 924 e 927, inc. III 
2.6.5.1. Posse nova
A posse nova é a que tem menos de ano e dia.
2.6.5.2. Posse velha
A posse velha é a que tem mais de ano e dia.
2.6.6. Quanto aos efeitos : posse “ad inderdicta” e posse “ad usucapionem”
2.6.6.1.“Ad interdicta”
 “Ad interdicta” é a posse que pode ser amparada nos interditos, se ameaçada, turbada ou esbulhada.
2.6.6.2. “Ad usucapionem”
 “Ad usucapionem” é a posse que dá origem ao usucapião da coisa.
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3.ª AULA - 13/03/2014
2.7. Aquisição da posse 
Código Civil
Art. 1.204 - Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
Código Civil alemão 
Art.854: ‘A posse de uma coisa se adquire pela obtenção do poder de fato sobre essa coisa’.
Modos de aquisição: originário e derivado
2.7.1. Aquisição pelo modo originário. 
Independe de translatividade.
Não há consentimento do possuidor precedente.
Na aquisição originária, a posse, sendo nova, é despida de qualquer vício.
São modos originários de aquisição da posse:
a) Apropriação ou apreensão da coisa 
É pela apreensão da coisa que o possuidor passa a dispor livremente dela, exteriorizando o seu domínio. 
Essa apreensão é unilateral, pois recai sobre coisa abandonada (res delictae), sobre coisa que nunca teve dono (res nullius) ou sobre bens de outrem, sem seu consentimento, com vícios (violência, clandestinidade), desde que cessados há mais de ano e dia. (Maria Helena Diniz)
b) Exercício do direito 
Ter exercício do direito significa poder usá-lo, aproveitando suas vantagens. Exercer o direito é tirar proveito de sua utilidade econômica, é manifestá-lo externamente. 
O exemplo clássico, é a hipótese de quem constrói um aqueduto em terreno alheio, utilizando-o, sem oposição do proprietário, circunstância que evidencia o exercício da posse de uma servidão. Com o decurso do prazo legal, essa posse poderá ser defendida pelos interditos possessórios. (Carlos Roberto Gonçalves e Maria Helena Diniz).
c) Disposição da coisa ou do direito 
É um desdobramento do exercício do direito.
A disponibilidade é um dos traços que mais exteriorizam o domínio. 
Se alguém dispõe da coisa, deduz-se que adquiriu a posse. 
Aqui, no entanto, deve-se ter cautela, porque o termo ‘disposição’ “não tem o significado (...) de abrir mão da coisa”, diz Silvio Venosa, mas “significa a possibilidade de utilização da coisa” explica Arnaldo Rizzardo.	 
2.7.2. Pelo modo derivado (Orlando Gomes)
É a transmissão da posse, que requer existência anterior. É bilateral. Decorre de um negócio jurídico. Pode ser adquirida através de qualquer modo aquisitivo de direito, seja por ato gratuito ou oneroso, inter vivos (compra e venda, dação, permuta, etc.) ou causa mortis (testamento, legado, etc.).
a) Tradição
É a entrega ou transferência da coisa. Não necessita de expressa declaração. Basta a vontade do tradens (quem entrega) e do accipiens (o que recebe a coisa).
Pode ser: efetiva ou material, simbólica ou ficta, consensual.
a1) Efetiva ou material
É a entrega material propriamente dita, como ocorre quando o vendedor passa às mãos do comprador a coisa vendida.
a2) Simbólica ou ficta
Há atos indicativos do propósito de transmitir a posse, como se verifica quando o locador entrega as chaves do apartamento ao locatário.
a3) Consensual
Apresenta-se por duas formas: a tradictiobrevi manu e o constitutum possessorium 
a.3.1) a tradictio brevi manu 
É o caso de quem possui coisa que não lhe pertence e adquire a propriedade desta coisa, como, por exemplo, o arrendatário e o comodatário que adquire a coisa arrendada ou emprestada. 	
a.3.2) Constituto possessorio - CC, art. 1.267, § ún. 
Também, chamada cláusula constituti, tem significado contrário a tradictio brevi manu, porque ocorre quando alguém que possui o bem na condição de proprietário, aliena-o, mas continua na posse, agora, de um bem alheio. 
Nenhum ato exterior se opera em relação à posse. É o caso daquele que, possuindo um imóvel na qualidade de proprietário, vende-o passando a possui-lo como locatário.
CIVIL. POSSE. CONSTITUTO POSSESSÓRIO. AQUISIÇÃO FICTÍCIA (CC.ART.494,IV). REINTEGRAÇÃO DE POSSE. CABIMENTO. COMODATO VERBAL. NOTIFICAÇÃO. ESCOAMENTO DO PRAZO. ESBULHO. ALUGUEL, TAXS E IMPOSTOS SOBRE O IMÓVEL DEVIDOS. RECURSO PROVIDO.
I - A aquisição da posse se dá também pela cláusula constituti inserida em escritura pública de compra-e-venda de imóvel, o eu autoriza o manejo dos interditos possessórios pelo adquirente, mesmo que nunca tenha exercido atos de posse direta sobre o bem.
II – O esbulho se caracteriza a partir do momento em que o ocupante do imóvel se nega a atender o chamado da denúncia do contrato de comodato permanecendo no imóvel após notificado. 
III – Ao ocupante do imóvel, que se nega a desocupá-lo após a denúncia do comodato, pode ser exigido, a título de indenização, o pagamento de aluguéis relativos ao período, bem como de encargos que recaiam sobre o mesmo, sem prejuízo de outras verba a que fizer jus.
(REsp. N° 143.707-RJ – 4ª Turma – STJ - Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira – J.25/11/1997).
Obs.: Alguns autores incluem, ainda, como forma consensual, a tradictio longa manu. Nesta forma não é preciso que o adquirente ponha a mão na própria coisa, como é o caso de uma fazenda, bastando, para adquirir a posse, que ela esteja à sua disposição
b) Acessão
É a soma das posses do atual possuidor com a do anterior. 
É a sucessão, que se opera por ato mortis causa ou por ato inter vivos. 
b1) Inter vivos
Em geral, dá-se a título singular. 
“Entre o segundo e o primeiro possuidor deve haver uma relação jurídica” (Orlando Gomes). 
Está prevista na segunda parte do artigo 1.207 do Código Civil. 
A acessão a título singular é denominada de união.
Ex.: compra e venda, doação, dação, etc.
Normalmente, somam-se os tempos de posses para fins de usucapião.
b2) Mortis causa - CC, art. 1.784; CC, art. 1.206; CC, art. 1.207.
Com a morte, a posse de logo se transfere aos herdeiros. 
Não é necessário qualquer ato. 
A transferência é instantânea. 
Pode ser a título universal, como sempre ocorre na sucessão legítima, ou a título singular, como pode ocorrer na sucessão testamentária, quando o testador deixa em benefício de alguém um bem determinado, individualizado, denominado legado. 
A acessão a título universal é chamada de sucessão.
2.7.3. Legitimidade para adquirir a posse
A posse pode ser adquirida pela própria pessoa interessada; por seu representante; por terceiro sem procuração – CC, art. 1.205, I e II.
Na primeira hipótese, exige-se apenas que o adquirente esteja em pleno gozo de sua capacidade; na segunda, há duas vontades: a do representante e a do representado; na última, a aquisição da posse fica na dependência de ratificação do interessado em adquirir a posse.
2.8. Perda da posse 
Código Civil, art. 1.223 – “Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art.1.196)”. 
A doutrina mais tradicional tem entendido que o possuidor, vítima de esbulho, decorrente da violência e da clandestinidade, se nada faz no lapso temporal de ano e dia, não pode mais se valer do interdito possessório da reintegração de posse, beneficiando-se da liminar, restando-lhe apenas às vias ordinárias. Isso ocorre porque, passados ano e dia, essa posse convalesce dos vícios da violência e da clandestinidade. No entanto, isso não acontece com a posse contaminada pelo vício da precariedade, porque esse vício nunca cessa (Maria Helena Diniz). Neste sentido, Arnaldo Rizzardo cita Guido Arzua, porém, discorda, asseverando que: “..., esta ratio não se coaduna com a melhor interpretação. A partir do momento em que o verdadeiro titular do bem toma conhecimento, ou tem consciência do abuso de confiança, ou da retenção indevida pelo precarista, e mantém-se inerte, conta-se o prazo para perfazer o lapso prescricional da aquisição”. 
2.8.1. Perda da posse da coisa
 a) Pelo abandono 
Dá-se quando o possuidor afasta-se da coisa com o fito de se privar dela. 
b) Pela tradição 
É a perda por transferência. Ocorre quando o tradente (tradens) entrega a coisa ao adquirente (accipiens).
	
c) Pela perda da própria coisa 
Caracteriza-se pela impossibilidade de encontrar a coisa, por exemplo, do anel que caiu no mar.
d) Pela destruição da coisa 
Decorre de um evento natural ou fortuito. É a inutilização definitiva do bem. A danificação parcial não implica em perda da posse. Ex.: Destruição total de um bem pela ação de um raio, pela ação do fogo ou da água.
e) Pela sua inalienabilidade 
Ocorre quando a coisa é colocada fora do comércio por motivo de ordem pública, moralidade, higiene, segurança. Torna-se impossível exercer os poderes inerentes ao domínio.
f) Pela posse de outrem 
Dá-se quando, mesmo contra a vontade do possuidor, um outro passa a exercer a posse. A inércia, permitindo o implemento do tempo de ano e dia, implica na perda da posse.
g) Pelo constituto possessório 
O possuidor que possuía a coisa como sua propriedade continua a possuí-la, mas não mais como sua. A situação, em relação ao corpus permanece inalterada, mas o affectio tenendi se extingue.
2.8.2. Perda da posse dos direitos
a) Pela impossibilidade de seu exercício (CC, art. 1.196)
Ocorre, por exemplo, quando se perde o direito de posse de uma servidão de passagem porque o prédio dominante ou serviente foi destruído.
b) Pela prescrição 
	
Decorre do desuso por determinado tempo. O direito de posse de um titular de servidão, se não usada por 10 (dez) anos, prescreve (CC, art. 1.389, III).
c) Perda da posse para o ausente, ou para o possuidor que não presenciou o esbulho (CC/02, art. 1.224).
O ausente, tendo notícia da ocupação, abstém-se de retomar o bem, abandonando seu direito. Ou tentando recuperá-lo é violentamente repelido. Nesta hipótese, o ausente não estaria sendo usado no sentido técnico.
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4.ª AULA – 20/03/2014
2.9. Efeitos da posse. 
	Efeitos da posse são as conseqüências legais dela decorrentes.
	Há divergência na doutrina quanto à discriminação dos efeitos. 
	Tapia atribuiu à posse 72 efeitos, enquanto Sintenis negou à posse qualquer efeito. 
	Savigny resumiu a dois os efeitos, o usucapião e os interditos possessórios. 
	Edmundo Lins e Vicente Rao sustentam ser a faculdade de invocar os interditos o único efeito da posse. 
	Maria Helena Diniz, seguindo Clóvis Beviláqua, diz que são sete os efeitos da posse. 
	Optamos pela seleção de Silvio Rodrigues, que afirma serem efeitos da posse: 
	
	I – Proteção possessória; 
	II – Percepção dos frutos; 
	III – Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa; 
	IV – Indenização por benfeitorias e o direito de retenção para garantir seu pagamento; 
	V – Usucapião.
2.9.1. Proteção possesória. 
a) A legítima defesa e o desforço imediato. CC, arts. 188, I, e 1.210, § 1.º.
	
Conquanto a defesa do direito violado ou ameaçado deva ser feita pelo Estado, por intermédio do Poder Judiciário, o legislador, por questão de celeridade, autorizou a vítima a defender-se diretamente, com seus próprios meios, desde que o faça logo e com uso de meios proporcionaisà agressão.
Esse dispositivo prevê duas situações diferentes: a legítima defesa da posse, no caso de turbação; e o desforço imediato, no caso de esbulho. (Washington)
É a autotutela da posse.
Washington de Barros Monteiro sustenta que “..., só o possuidor, direto ou indireto, tem direito de lançar mão dessa defesa excepcional, excluído, pois, o mero detentor, como preposto. Por outro lado, não importa que a posse seja justa ou injusta, de boa ou má-fé”. 
Contrário a essa idéia, temos Orlando Gomes que, referindo-se as pessoas detentoras, assevera: “A elas se reconhece, por exemplo, o direito ao desforço in continenti, na hipótese de turbação da posse, o qual, embora em caráter de exceção, é um meio de defesa da posse. 
Arnaldo Rizzardo parece compartilhar da idéia de Orlando Gomes, à medida que o cita e se refere a Guido Arzua, no mesmo sentido: “É deles também o direito de exercer a defesa contra terceiros: eles podem exercê-la fora, porque têm a coisa para protege-la sob as ordens do possuidor ou como auxiliares deles”. 
b) Os interditos possessórios.
Afora a legítima defesa, a posse deve ser protegida via judicial.
Interditos possessórios são ações processuais que o possuidor pode usar para defender a sua posse.
Interditos (interdicere = proibir) era o nome usado pelo pretor romano para designar as medidas que paralisavam a penetração do terceiro na esfera jurídica do possuidor, hoje, chamadas ações possessórias. (Caio Mario) 
	
Três são as ações possessórias:
b1) Ação de manutenção de posse 
É a medida judicial utilizada pelo possuidor que sofre turbação. 
Turbação são atos que embaraçam, perturbam o exercício da posse, mas o possuidor não a perde, não é desapossado. 
Visa a manter o possuidor na posse em que está sendo turbado. 
A jurisprudência admite ação possessória entre compossuidores. Veja-se:
COMPOSSE. Área comum pro indiviso. Turbação.
É cabível ação possessória intentada por compossuidores para combater turbação ou esbulho praticado por um deles, cercando fração da gleba comum.
Advogado. Regularidade da representação julgada à vista da legislação estadual.
Recurso não conhecido. (REsp N° 136922-TO. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar. 4ª T. STJ. J. 18/12/1997) 
No mesmo sentido, com referência ao direito real de habitação, em que a viúva é molestada na posse do imóvel em que reside pelo próprio filho, herdeiro do mesmo imóvel, o REsp N° 616.027-SC.
b2) Ação de reintegração de posse 
É a ação que deve intentar aquele que sofreu esbulho, ou seja, por violência, clandestinidade ou precariedade, perdeu, contra a sua vontade, a posse da coisa. 
O esbulhado deve provar o esbulho pela violência ou clandestinidade, ocorrido a menos de ano e dia, ou pela precariedade.
Código Civil, artigo 1.210 – O possuidor tem direito de ser mantido na posse, em caso de turbação, restituído, no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
Código de Processo Civil, artigo 926 – O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado no de esbulho. 
b3) Ação de interdito proibitório – CC, art. 1.210,última parte, 
Esta medida é utilizada ao possuidor que sofre ameaça à sua posse. 
Visa a impedir que a ameaça se concretize. 
O possuidor deve provar a sua posse, a ameaça e o justo receio de ser molestado ou esbulhado. 
O Código Civil de 1.916, artigo 501, prescrevia – O possuidor, que tenha justo receio de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da violência iminente, cominando pena a quem lhe transgredir o preceito. Esta regra está no artigo 1.210, última parte do Código atual. 
Código de Processo Civil, artigo 932 – O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso transgrida o preceito.” 
A jurisprudência vem entendendo ser inadequado o ajuizamento de interdito proibitório para defender propriedade industrial, asseverando que somente as coisas corpóreas receberiam tal proteção. Vide a respeito Agravo de Instrumento n.º 70016408312, da Décima Oitava Câmara Cível do TJRS, de que foi relator o Desembargador Mário Rocha Lopes Filho, julgado em 10/08/2006. O acórdão cita, neste sentido, Humberto Theodoro Júnior (Curso de Direito Processual Civil. 28ª ed. Forense, volume 3, p. 126). 
Com referência ao direito autoral, o STJ editou a Súmula 228: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral. 
Tratando-se de imóvel público, entendeu o STJ: 
INTERDITO PROIBITÓRIO. OCUPAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA, PERTENCENTE À “COMPANHIA IMOBILIÁRIA DE BRASÍLIA – TERRACAP”. INADMISSIBILIDADE DA PROTEÇÃO POSSESSÓRIA NO CASO. 
- A ocupação de bem público, ainda que dominical, não passa de mera detenção, caso em que se afigura inadmissível o pleito de proteção possessória contra o órgão público. Não induzem posse os atos de mera tolerância (art. 497 do CC/1916). 
Recurso Especial não conhecido. (REsp N.º 146.367-DF – Rel. Min. Barros Monteiro – J. 14/12/2004). 
Ação possessória proposta por compossuidor contra compossuidor.
A jurisprudência vem entendendo ser possível. 
COMPOSSE. Área comum pro indiviso. Turbação.
É cabível ação possessória intentada por compossuidores para combater turbação ou esbulho praticado por um deles, cercando fração da gleba comum.
Advogado. Regularidade da representação julgada à vista da legislação estadual.
Recurso não conhecido. (REsp N° 136922-TO. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar. 4ª T. STJ. J. 18/12/1997)
Exceção do domínio – CC/16, art. 505; CPC, art. 923
Em juízo possessório, a regra é a da inadmissibilidade da querella proprietatis” (Washington).
 
Reza o Código de Processo Civil, artigo 923 – Na pendência do processo possessório, “é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação de reconhecimento do domínio.”
Antes, diz Sílvio Rodirgues, este dispositivo continha uma segunda parte, assim: “Não obsta, porém, à manutenção ou reintegração na posse a alegação de domínio ou de outro direito sobre a coisa; caso em que a posse será julgada em favor daquele a quem evidentemente pertencer o domínio. 
Esta segunda parte foi suprimida pela Lei n.º 6.820, de 16 de setembro de 1980, o que levou Theotônio Negrão informar, diz Sílvio Rodirgues, “em seu Código de Processo Civil e legislação processual, que para uma corrente a exceptio proprietis não mais existe em nosso direito, por ter sido suprimida por aquela lei de 1980”
Dispunha o Código Civil/16, artigo 505 - “Não obsta à manutenção, ou reintegração na posse, a alegação de domínio, ou de outro direito sobre a coisa. Não se deve, entretanto, julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer o domínio.”. 
O Novo Código Civil, dispôs:
Art. 1.210, .......
Parágrafo 2.º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. 
Veja-se que o novo código suprimiu a segunda parte do artigo 505 do antigo.
O Supremo Tribunal, interpretando a matéria, editou a Súmula 487.
Súmula 487 – “Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada”. 
A exceptio proprietatis, continua afirmando Sílvio Rodrigues, “é invocável quando no juízo possessório nenhuma das partes prova a sua posse ou então quando os litigantes reclamam a posse alegando o domínio”. 
Ainda, Sílvio Rodrigues afirma que a jurisprudência limitou a possibilidade da exceção do domínio a duas hipóteses: 
“A primeira ocorre quando os litigantes disputam a posse com fundamento em prova de domínio”;
“A segunda, quando o exame da prova produzida não tenha sido capaz de dissipar a dúvida no que respeita ao verdadeiro possuidor”. 
Prosseguindo, cita aresto do STF, em que: “Adefesa fundada no domínio só é admissível nas ações possessórias em dois casos: a) quando duas pessoas disputam a posse a título de proprietárias; b) quando duvidosa a posse de ambos os litigantes” (RT, 86/96)”.
c) Outras ações ditas possessórias.
c1) Nunciação de obra nova (CPC, arts. 934 a 940).
“Pressupõe a existência de dois prédios contíguos, sendo o primeiro afetado ou prejudicado por obra nova realizada no segundo”, (Washington).
Visa a impedir que o domínio ou a posse de um imóvel seja prejudicada por obra nova do prédio vizinho. 
Ex.: Proibição de se construir janela a menos de metro e meio da divisa. Esta ação é possível se a obra ainda está em construção.
	
O artigo 935 do CPC, prevê o embargos extrajudicial, “verbis”: 
“Ao prejudicado também é lícito, se o caso for urgente, fazer o embargo extrajudicial, notificando verbalmente, perante duas testemunhas, o proprietário ou, em sua falta, o construtor, para não continuar a obra”. Parágrafo Único: “Dentro de 3 (três) dias requererá o nunciante a ratificação em juízo, sob pena de cessar o efeito do embargo”. 
c2) Ação de dano infecto (CC, art. 1.280)
É a medida preventiva que a lei coloca à disposição do possuidor que tenha fundado receio de que a ruína ou a demolição ou vício de construção do prédio vizinho ao seu venha causar-lhe prejuízos. O possuidor busca, na sentença, caução que lhe garanta eventual prejuízo.
Código Civil, artigo 1.280 - “O proprietário ou possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente”. 
c3)Ação de imissão de posse
Busca a aquisição da posse via judicial. Não a contemplou o atual estatuto processual. Previa-a o Código de Processo Civil de 1939, nos seguintes casos, diz Sílvio Rodrigues:
- Aos adquirentes de bens, para haverem a respectiva posse, contra os alienantes ou terceiros, que os detenham;
- Aos administradores e demais representantes das pessoas jurídicas de direito privado, para haverem dos seus antecessores a entrega dos bens pertencentes a pessoa representada;
- Aos mandatários, para receberem dos antecessores a posse dos bens dos mandantes.
c4)Embargos de terceiro (CPC, art. 1.046)
É a ação de que se utiliza aquele que, não sendo parte num processo, sofre turbação ou esbulho em sua posse, ou direito, pelo meio da apreensão judicial, como a penhora, o depósito, o arresto, seqüestro, venda judicial, arrecadação, partilha, etc..
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	2.9.2. Direito à percepção dos frutos
	
Definição de frutos: 
	São utilidades produzidas periodicamente pela coisa, que podem ser percebidas sem perda da sua substância.
	b) Classificação dos frutos quanto à natureza:
	b1) Naturais – renovam-se devido à força da própria natureza. Ex.: Animais, plantas.
	b2) Industriais – são criados pela atuação do homem. Ex.: Fábricas.
	b3) Civis – advém de rendas de coisa frugífera. Ex.: juros, dividendos, aluguéis.
	c) Classificação dos frutos quanto ao seu estado: 
c1) Pendentes: quando unidos à coisa principal;
c2) Percipiendos: quando ainda não foram colhidos, mas deviam ter sido 
c3) Percebidos: quando colhidos;
c4) Estantes: quando armazenados para a venda;
c5) Consumidos: quando já utilizados pelo possuidor.
	d) Conseqüências:
d1) O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos (CC, art. 1.214, “caput”).
d2) O possuidor de boa-fé, explica Orlando Gomes, não tem direito aos frutos pendentes, no momento em que cessa sua boa-fé.
d3) A princípio, a posse deixa de ser de boa-fé com a citação. 
d4) O possuidor de má-fé responde, não só por todos os frutos colhidos e percebidos, mas também pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé. Contudo, para que não haja enriquecimento ilícito, tem direito às despesas de produção e custeio (CC,art.1.216).
O extinto Tribunal de Alçada do RGS, pela sua Primeira Câmara Cível, na AC N° 193 198 223, julgada em 07/12/1993, tratando de crias de animais bovinos, explicitou com clareza este tema.
2.9.3. Responsabilidade pela perda ou deterioração.
O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa. (CC, art. 1.217; CC/16, art. 514). Beviláqua, Washington e outros interpretam a expressão “a que não der causa” como a ausência de culpa e dolo. Silvio Rodrigues aceita a responsabilidade do possuidor no caso de culpa grave e dolo.
O possuidor de má-fé , ao contrário, responde pela perda ou deterioração da coisa, mesmo que acidental, porém se livra da responsabilidade, provando que o mesmo teria acontecido se a coisa estivesse na posse do requerente (CC, art. 1.218)
2.9.4. Indenização por benfeitorias e o direito de retenção.
a) Conceito de benfeitorias: 
Benfeitorias são obras ou despesas efetuadas numa coisa para conservá-la, melhorá-la ou, simplesmente, embelezá-la. (Washington de Barros Monteiro, citando Clóvis).
São acessórios da coisa (Orlando Gomes).
Umas aderem à coisa de modo a tornar impossível a separação. Outras comportam a separação, mas não podem ser levantadas sem detrimento da coisa principal. Algumas suportam a separação sem prejuízo para o bem principal.
b) Classificação das benfeitorias:
As benfeitorias podem ser classificadas em necessárias, úteis e voluptuárias (CC, art. 96)
	
b1) Benfeitorias necessárias. 
São as que visam à conservação da coisa. Objetivam evitar que ela se deteriore.
b2) Benfeitorias úteis. 
São as que aumentam ou facilitam o uso da coisa.
b3) Benfeitorias voluptuárias. 
Servem para tornar a coisa mais agradável. Correspondem a um mero deleite ou recreio (Orlando Gomes e Washington de Barros Monteiro).
c) Direito à indenização das benfeitorias:
c1) O possuidor de boa-fé tem direito (CC, art. 1.219): 
- à indenização das benfeitorias necessárias; 
- à indenização das benfeitorias úteis; 
- ao levantamento das benfeitorias voluptuárias, se com a sua extração a coisa não sofre dano, mas o proprietário pode se opor e impedir a retirada, se puderem ser extraídas, pagando o preço delas; se não puderem ser extraídas, o proprietário da coisa, também, não precisa indenizar (Orlando Gomes). 
Contudo, Arnaldo Rizzardo, citando Renan Falcão de Azevedo, diz que a benfeitoria voluptuária deve ser indenizada quando: 
- existir boa-fé;
- a benfeitoria não puder ser levantada sem detrimento do bem principal ou dela própria;
- houver considerável valorização do bem principal em razão da benfeitoria;
- a benfeitoria tenha sido realizada antes da reivindicação da coisa.
c2) O possuidor de má-fé tem direito:
- apenas à indenização das benfeitorias necessárias (CC, art. 1.220).
d) Direito de retenção (CC, art. 1.219)
É o direito que tem o possuidor de boa-fé de reter a coisa enquanto não for indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis realizadas na coisa. 
Quando não exercido o direito de retenção, a indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis poderá ser pleiteada em ação autônoma.
O possuidor de má-fé tem direito à indenização pelas benfeitorias necessárias, somente, mas não tem direito de retenção pelo valor delas (CC, art. 1.220). 
Por fim, as benfeitorias são ressarcidas se existirem ao tempo da evicção (CC, art. 1.221). E o reivindicante, para indenizar o possuidor de má-fé, pode optar entre o valor atual e o custo da benfeitoria (CC, art. 1.222, 1.ª parte), para o possuidor de boa-fé, a indenização vai ser sobre o valor atual da benfeitoria (CC, art. 1.222, 2.ª parte)
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5ª AULA - 27/03/2014
3. Direitos reais na coisa própria: Propriedade
3.1. Propriedade em geral. Noções gerais
3.1. 1.Breve histórico
a) Propriedade comunitária ou coletiva. 	
Inicialmente, temos a propriedade comunitária ou coletiva (tribal), como era a dos nossos índios.Quando da descoberta do Brasil, entre os índios que habitavam a mesma oca, havia a propriedade comum das coisas úteis, sendo propriedades individuais apenas alguns utensílios de uso próprio, redes, armas. O solo era propriedade de toda tribo. (Maria Helena Diniz).
b) Propriedade individualista.
Com os romanos, surgiu a propriedade individual. 
Nos seus primórdios, a propriedade era da cidade ou gens. Cada indivíduo possuía uma restrita gleba, em torno de meio hectare. 
Sobreveio a família e em razão da autoridade do pater familias, a propriedade coletiva foi se esvaziando.
Maria Helena Diniz, citando Hahneman Guimarães, faz referência às várias etapas porque passou a propriedade: 
1.º) propriedade individual sobres os objetos necessários à existência de cada um; 
2.º) propriedade individual sobre os bens de uso particular, suscetíveis de serem trocados com outras pessoas; 
3.º) propriedade dos meios de trabalho e de produção; 
4.º) propriedade individual nos moldes capitalistas, ou seja, podendo seu dono explorá-la de modo absoluto.
c) Idade Média.
Na idade média, com o feudalismo, a propriedade adquiriu relevo, surgindo o brocardo “nulle terre sans seigneur”. 
“Inicialmente, os feudos foram dados como usufruto, comprometendo-se o beneficiário a certos serviços, como, por exemplo, militares.”
“Com o tempo, a propriedade sobre tais feudos passou a ser perpétua e transmissível apenas em linha masculina. Havia distinção entre os fundos nobres e os do povo, que, por sua vez, deveria contribuir onerosamente em favor daqueles, sendo que os mais humildes eram despojados de suas terras.”
Entre nós, diz Caio Mário, que “a organização feudal compareceu no transitório regime das capitanias hereditárias”, no início da colonização.
Houve, diz Orlando Gomes, na idade média, uma quebra do conceito individualista, ou unitário, (cada coisa tem apenas um dono) dos romanos, com a dissociação entre domínio eminente e domínio útil, pois o titular do domínio útil, tem a coisa de forma perpétua, o que se constitui numa propriedade paralela.
d) Revolução francesa.
Com a revolução francesa (1789), desapareceu a propriedade feudal e tentou-se democratizar a propriedade.
Mas a desigualdade só desapareceu, afirma Washington de Barros Monteiro, na noite de 04 de agosto de 1789, quando a nobreza e o clero renunciaram seus privilégios.
A propriedade privada é a base do sistema capitalista, como a coletiva o é no sistema comunista.
3.1.2. Fundamento jurídico dapropriedade. Várias teorias.
a) Teoria da ocupação
	Fundamenta-se na ocupação de coisas ainda não apropriadas por quem quer que seja. 
	É muito criticada porque a propriedade só pode surgir sob o império da legislação, que, pressupondo a propriedade individual, organize-a .
	Ademais, a propriedade em muitas vezes é fruto da violência. E no nosso continente, sabemos que o europeu tomou as terras dos índios, tornando-se propriedade pelo uso da violência.
	E, na atualidade, ante a dificuldade de se encontrar coisas sem dono, a teoria dificilmente encontraria aplicação.
b) Teoria da lei (Hobes, Montesquieu, Benjamim Constant)
	A propriedade é concessão de direito positivo. Ela existe porque a lei a criou e a garante. Essa idéia foi muito forte no século XVIII e primeira metade do século XIX.
	Mas a teoria é frágil, pois, se a lei cria, também pode extinguir. E não foi a sociedade que criou a propriedade, mas a propriedade que criou a sociedade, pela reunião dos proprietários para defendê-la, segundo Taine.
c. Teoria da especificação
	A propriedade seria conseqüência do trabalho humano.
	Essa teoria, conforme Marcel Planiol, é falsa, porque o trabalho é recompensado pelo salário e não pela coisa por ele produzida. E não seria possível conviver-se com múltiplas propriedades sobre uma mesma coisa produzida por várias pessoas, numa fábrica. Daria azo à expoliação, em virtude das várias fases porque passa a transformação da matéria.
d. Teoria da natureza humana
	A propriedade é própria da natureza humana. Representa a condição de existência e de liberdade do homem. As coisas são apropriadas, produzidas ou transformadas para fins individuais.
	É defendida pela Igreja Católica, em que o direito de propriedade foi concedido ao homem pela natureza, ou seja, pelo próprio criador. Na encíclica “Quadragésimo Ano”, o Pio XI, afirma que “o direito de possuir bens individualmente não provém da lei dos homens, mas da natureza; a autoridade pública não pode aboli-lo, porém, somente regular o seu uso e acomodá-lo ao bem do homem”. 
3.1.3. Características
O direito de propriedade tem um caráter absoluto. O proprietário pode dispor da coisa como bem entender, salvo limitações impostas pelo interesse público.
É exclusivo, pois a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade simultaneamente a duas pessoas.
É irrevogável ou perpétuo. Sobrevive independentemente do exercício, enquanto não sobrevier causa legal extintiva. 
Exceções: 
Fideicomisso (CC, art. 1.951) – o testador institui um legatário(fiduciário), mas impõe-lhe a obrigação de, a certo tempo de sua morte, ou sob certa condição, transmitir a outro (fideicomissário) a herança legada; 
Retrovenda (CC, art. 505) – o vendedor reserva-se ao direito de recobrar o imóvel, em certo prazo; 
Pacto de melhor comprador (CC/16, art. 1.158; sdc) – estipula-se que o desfazimento do negócio, se dentro de determinado prazo aparecer quem ofereça maior vantagem.
3.1.4. Conceito de propriedade
	“É a submissão de uma coisa em todas as suas relações a uma pessoa. É um direito complexo, absoluto, exclusivo”. (Orlando Gomes).
	É o direito de usar, fruir e dispor de um bem e de reavê-lo de quem injustamente o possua” (Orlando Gomes)
	É todo o direito irradiado em virtude de ter incidido regra de direito das coisas. Sentido amplo. (Pontes de Miranda).
	Código Civil, 
	- Artigo 1.228 - “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa e de reavê-la de quem quer que injustamente a possua ou detenha.” 
(Vide artigo 5º, XXII, da CF).
	São elementos constitutivos: usar, gozar e dispor, que correspondem aos mesmos atributos da propriedade romana, jus utendi, fruendi et abutendi. 
	Usar compreende o direito de exigir da coisa tudo o que ela pode produzir, sem que se altere a sua substância.
	Gozar significa frutificar a coisa, auferindo seus produtos.
	Dispor consiste em poder consumir a coisa, aliená-la, gravá-la e submetê-la a serviço de outrem.
	Assim, por exemplo, usar uma casa quer dizer habitá-la; gozar dela significa alugá-la; e dispor é o poder de demoli-la, vendê-la, etc.. 
3.1.5. Sujeitos da propriedade: toda pessoa:
Pessoa natural (pessoa física);
Pessoa jurídica (de direito público e de direito privado)
3.1.6. Objeto
a) Bens corpóreos (móveis e imóveis);
b) Bens incorpóreos (propriedade artística, literária, científica e industrial. Obs.: Orlando Gomes não admite a existência de propriedade sobre bens incorpóreos.
3.1.7. Modalidades de propriedade.
Propriedade plena: Todos os poderes estão reunidos no proprietário.
Propriedade limitada: Quando um ou alguns dos poderes da propriedade são desmembrados, como os casos de direitos reais na coisa alheia. 
3.1.8. Extensão da propriedade:
- Quando o objeto da propriedade é bem móvel, não há dificuldade de se determinar sua extensão, já que ocupado espaço bem definido. 
- Contudo, quando se trata de bem imóvel, determinar sua extensão, na direção vertical, torna-se bem mais difícil. A propriedade, nesse caso, não se limita à superfície, estende-se ao subsolo e ao espaço aéreo. 
- Os romanos afirmavam que aquele que é dono do solo, dono é até o céu e até o centro da terra. Esse princípio vigorou na Idade Média e penetrou no direito moderno por força do Código de Napoleão, que o consagrou no artigo 552.- O Código Civil alemão impôs limite à extensão vertical, orientando no sentido de que o proprietário não pode se opor ao que se faça a certa altura ou certa profundidade que não lhe interesse impedir. 
- O Código Civil suíço foi mais claro, determinando, em seu artigo 667, a propriedade do solo está acima e abaixo, na altura e na profundidade úteis ao seu exercício. 
- O nosso Novo Código Civil, em seu artigo 1.229, conjugou as orientações alemã e suíça, estatuindo que “a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las”. 
- Espaço aéreo – CC/02, art. 1.229; CC/16. art. 526. Vide artigo 8º, do Decreto-lei nº 271, de 28.02.67. 
- Minas e jazidas – CF, art. 176; Cód. Mineração, art.84. 
- Proteção específica. Ação de reivindicação.
- Frutos e produtos. CC/02, art. 1.232.
- Segurança do prédio contra dano iminente. CC/02, art. 1.281.
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3.1.9. Da Descoberta – CC, arts. 1.233 – 1.237
 No Código Civil/16, este tema era chamado de invenção e tratado como forma de aquisição da propriedade (CC/16, art. 603).
 Agora, passou para a seção II do capítulo I que trata da propriedade em geral.
No Código Civil/16, assim, era estudado:
Inventor é aquele que acha coisa perdida.
Tem a obrigação de devolvê-la ao dono (CC, art. 603, § único), sob pena de ser responsabilizado penalmente (Código Penal, artigo 169, § único, II – delito de apropriação de coisa achada).
Rigorosamente, a invenção não é modo de aquisição, mas gera para o inventor o direito de recompensa.
Passados seis meses, a coisa é vendida em hasta pública, recompensado o inventor, e o valor remanescente vai para o Estado.
No Código Civil/02:
Quem acha coisa alheia perdida – descobridor - deve restituí-la ao dono ou legítimo possuidor (art.1233), tendo direito de exigir recompensa não inferior a 5% do valor da coisa, mais indenização pelas despesas, se o dono não preferir abandoná-la (art. 1234). 
Não encontrando o dono ou possuidor, o descobridor deve entregar a coisa achada à autoridade (art. 1233, § ún.).
A autoridade dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios, somente expedindo edital se o valor comportar (art. 1236).
Transcorridos 60 dias da divulgação ou do edital, não aparecendo o dono ou possuidor, a coisa será vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesa, mais a recompensa ao descobridor, o remanescente pertencerá ao Município onde a coisa for achada.
Sendo de diminuto valor, o Município pode abandonar a coisa em favor de quem a achou. 
Agindo com dolo, o descobridor responde pelos prejuízos causados (art. 1235). 
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3.2. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE
a) Sistemas de aquisição (Orlando Gomes)
Há três sistemas de aquisição: a1) romano; a2) francês; a3) alemão.
a1) Sistema romano.
A propriedade só era adquirida por um modo.
Não bastava o título.
Era necessário que o ato jurídico (vontade de adquirir) observe uma forma, à qual a lei atribuía poder para transferir o domínio. As formas eram a tradição e o usucapião. 
A traditio era simples ou ficta, sendo que a traditio ficta se subdividia em traditio longa manu e traditio brevi manu. Com Justiniano, restou apenas a traditio simples (Rizzardo).
a2) Sistema francês.
Basta, para transferir o domínio, o título.
Não exige um modus.
O contrato tem efeito translativo.
Todavia, observa Washington que também na França “se tornou necessário o registro, não só para dar ao ato a indispensável publicidade, como para a sua prevalência contra terceiros”. 
E Rizzardo deduz que a afirmação decorre da doutrina de marcel Planiol e George Ripert, “ao aduzirem que, embora um grande número de vendas não seja transcrito, a transcrição é obrigatória no sentido de assegurar o título frente a possíveis vendas posteriores do mesmo bem.”
a3) Sistema alemão.
Há dois atos jurídicos independentes, quais sejam, o ato que cria a obrigação de transferir a propriedade e o ato jurídico que transfere a propriedade.
O ato de transmissão da propriedade abstrai-se da causa, desvincula-se do ato que criou a obrigação de transferir.
O ato que cria a obrigação não é suficiente para transferir a propriedade, necessitando de outro ato que é o da transferência.
O vício que houver no primeiro ato não atinge o segundo.
A propriedade tem presunção absoluta.
Rizzardo, citando Vilobaldo Bastos de Magalhães, diz: “Compreende-se assim que, na transmissão do domínio, torna-se necessário que as partes, além do negócio causal produtivo de obrigações, como a compra e venda regulamentada nos arts. 433 e seguintes do Código Civil alemão, celebrem ainda negócio de cumprimento, que se constitui, quanto aos móveis, da entrega da coisa e do acordo translativo prescrito no art. 929 e, quanto aos imóveis, do convênio de transmissão e sua inscrição no registro competente, consignados no art. 873. Trata-se do chamado princípio do consentimento, por força do qual as partes firmam dois acordos, um sobre a obrigação de transferir o domínio (negócio causal e obrigatório), e outro sobre a própria transmissão (negócio de disposição).
* Sistema brasileiro.
“Adotou o sistema germânico, mas sem afastar a natureza causal”, diz Arnaldo Rizzardo.
A transcrição gera apenas presunção da propriedade.
Se o título for nulo, o registro também o será.
O proprietário é proprietário até prova em contrário. (Vide CC/16, art. 859).
b) Modos de aquisição
A aquisição da propriedade se opera por modos definidos na lei ou mediante ato do adquirente ou em virtude de fato jurídico stricto sensu.
b1) Critério da diferença, ou não, entre bens móveis e imóveis.
b1.1) Peculiares aos imóveis: transcrição.
b1.2) Peculiares aos móveis: ocupação; especificação; confusão; a comistão; a adjunção; e a tradição.
b1.3) Comuns a imóveis e a móveis: sucessão; usucapião; acessão.
b2) Critério da originariedade:
b2.1) Originários: ocupação, usucapião, acessão;
b2.2) Derivados: Todos os demais.
b3) Critério da abrangência:
b3.1) A título singular: todos os que não forem por sucessão hereditária. Por atos inter vivos, exceto os legados que têm caráter singular.
b3.2) A título universal: sucessão hereditária.
b4) Modos de aquisição da propriedade imobiliária
Quando se trata de bens imóveis, a aquisição da propriedade se dá por meio do registro ou transcrição, acessão, usucapião e sucessão hereditária.
b5) Modos de aquisição da propriedade mobiliária 
Quando se trata de bens móveis, a propriedade é adquirida pela tradição, sucessão, usucapião, ocupação, especificação, comistão, confusão, adjunção, acessão.
3.2.1. Aquisição da propriedade imóvel 
3.2.1.1. Aquisição pelo registro (ou transcrição) do título - CC, art. 1.245
- O título é a escritura pública (CC, art. 108).
- É o principal modo de aquisição da propriedade imóvel.
- Sem registro não se adquire bem imóvel.
- O título, apenas, é insuficiente para operar a transferência do bem imóvel, que só se realiza com o registro (transcrição).
- O negócio jurídico da compra e venda de um bem imóvel, por si só, não produz efeito translativo.
- Esse registro, ou transcrição, é feito no Registro de Imóveis.
- Registro de Imóveis é o ofício público em que se dá a publicidade dos atos de transmissão de bens imóveis.
- Todos os direitos reais devem ser registrados.
- Sistemas de registro ou transcrição
Há dois sistemas de registro ou transcrição: o alemão e o causal (Orlando Gomes):
a) Sistema alemão:
- Considerado o mais seguro.
- O registro, ou transcrição, firma presunção ”juris et de jure”.
- A presunção é absoluta, por isso, o direito do proprietário não pode ser contestado.
- O registro, outranscrição, não guarda vínculo com a causa, abstrai-se dela.
b) Sistema causal:
- Não atribui ao registro a presunção “juris et de jure”.
- A presunção é “juris tantum”, a propriedade admite prova em contrário.
- O registro, ou transcrição, está ligado ao título.
- Se o título for nulo, o registro também o é.
Jurisprudência:
CIVIL - PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - ALIENAÇÃO JUDICIAL DE BEM ADQUIRIDO POR MEIO DE CESSÃO DE DIREITOS - ARTS. 1112 E 117, DO
CPC - AUSÊNCIA DE REGISTRO DO TÍTULO - TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE
NÃO CONSUMADA - IMPOSSIBILIDADE.
1 - O novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002), no que tange à forma
de aquisição da propriedade imóvel, manteve a sistemática adotada
pelo diploma anterior, exigindo, para tanto, a transcrição do título
translativo em registro público apropriado (art. 1.245). Ademais,
conforme reza o art. 108, do mesmo diploma legal, “não dispondo a
lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos quem visem à constituição, transferência,
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor
superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País”.
2 - No caso, observo que, além de não obedecer à forma prescrita em
lei, a cessão de direitos em questão não foi levada a registro,
deixando de produzir, portanto, o necessário efeito translativo da
propriedade, fato este que permitiria a recorrente que se utilizasse
do procedimento da alienação judicial, inserto na lei processual
civil, com vistas à vender o imóvel em apreço. Destarte, não
transmitida a propriedade, mas apenas cedidos os direitos em relação
ao bem em contenda, impossível a sua alienação judicial, nos termos
dos arts. 1.112, IV, e art. 1.117, II, ambos do Código de Processo
Civil.
3 - Recurso não conhecido. 
(REsp N° 254875-SP. 4ª T. STJ. Rel. Min. Jorge Scatezzini. J. 5/8/2004)
Retificação de registro 
O registro, se não conferir com a realidade dos fatos, pode ser retificado, mediante pedido do prejudicado.
A retificação “compreende corrigenda de erro e não de substituição integral de um registro por outro, ou mesmo o cancelamento deste” (Walter Ceneviva, citado por Rizzardo).
É “o procedimento, via do qual se corrige no registro de imóveis aquilo que é defeituoso ou não está certo, ou está omisso, processo este que pode se revestir de natureza administrativa ou contenciosas” (Antônio Ferreira Inocêncio, citado por Rizzardo).
“A retificação não tem o alcance de dar ou acertar novas características e outros elementos referentes à área e às confrontações, inexistentes no registro anterior. Na verdade a retificação presta-se para recolocar em termos corretos aquilo que não está correto” (Rizzardo).
Contudo “a retificação de registro, com alteração da área do imóvel matriculado, vem sendo admitida pela jurisprudência, aplicando-se, para tanto, o procedimento dos arts. 313 e 314 da Lei dos Registros Públicos”, desde que não haja impugnação (Rizzardo; AC nº 29.475, 2ª Câm. Cív. Do TJSC; REsp nº 203.205-PR, 3ª T, DJU de 28.02.2000.
A previsão está no artigo 1.247 do Código Civil: Se o teor do registro não exprime a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. Esta mesma regra está na artigo 212 da Lei dos Registros Públicos – Lei nº 6.015, de 31/12/1973: Se o teor do registro não exprime a verdade, poderá o prejudicado reclamar sua retificação, pór meio de processo próprio.
O procedimento está previsto no artigo 213 da Lei dos Registros Públicos:
Art. 213. A requerimento do interessado, poderá ser retificado o erro constante do registro, desde que tal retificação não acarrete prejuízo a terceiro.
§ 1.º A retificação será feita mediante despacho judicial, salvo no caso de erro evidente, o qual o oficial, desde logo, corrigirá, com a devida cautela.
§ 2.º Se da retificação resultar alteração da descrição das divisas ou da área do imóvel, serão citados, para se manifestar sobre o requerimento em 10 (dez) dias, todos os confrontantes e o alienante ou seus sucessores, dispensada a citação destes últimos se a data da transcrição ou da matrícula remontar a mais de 20 (vinte) anos.
§ 3.º O Ministério Público será ouvido no pedido de retificação.
§ 4.º Se o pedido de retificação for impugnado fundamentadamente, o juiz remeterá o interessado para as vias ordinárias.
§ 5.º Da sentença do juiz, deferindo ou não o requerimento, cabe recurso de apelação com ambos os efeitos.
Ainda, o artigo 216, da Lei dos Registros Públicos, dispõe que o registro poderá também ser retificado ou anulado por sentença em processo contencioso, ou por efeito do julgado em ação de anulação ou de declaração de nulidade de ato jurídico, ou de julgado sobre fraude à execução.
Vide Apelação n° 38.306.4/4. 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Rel. Dês. Francisco de Assis Vasconcelos. J. 1/9/1998, em que se pretende retificar registro para acrescentar área incorporada ao imóvel por acessão natural em decorrência de aluvião, riacho desaparecido há bastante tempo. Entendeu-se que, por não se tratar de equívoco no registro, não cabe retificação, e a ação apta seria a de usucapião.
Registro Torrens (Rizzardo)
O nome advém de seu criador – Robert Richard Torrens, que o introduziu na Austrália em 1853, difundindo-se daí, rapidamente, para as Colônias Inglesas e países europeus.
No Brasil, foi implantado por Rui Barbosa, que elaborou o Decreto nº 452-B, de 31.05.1890.
Está previsto no artigo 277-288, da LRP.
Trata-se de um registro especial, destinado a imóveis rurais (LRP, art.277), com o objetivo de dar total segurança ao portador, de modo que fica protegido contra alegação de qualquer vício ou dúvida sobre “autenticidade e a legalidade do domínio” (Rizzardo).
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6.ª AULA – 03/04/2014
3.2.1.2. Aquisição por acessão (CC, art. 1.248)
3.2.1.2.1. Conceito de acessão
É o modo originário de adquirir, em virtude do qual fica pertencendo ao proprietário tudo quanto se une ou se incorpora ao seu bem (Clóvis Beviláqua).
Concepção lata: 
Acessão significa o aumento da coisa que constitui o objeto de propriedade. 
Esse aumento pode ser por produção ou por união e se dar tanto no volume como no valor do bem. 
Deve-se a forças internas da própria coisa ou forças externas. 
Quando o aumento é devido a forças internas, diz-se que é por produção; quando por forças externas, por união. 
Se produzido por forças internas da coisa, a acessão denomina-se discreta, manifesta-se pela produção de frutos e diz respeito a uma das faculdades inerentes ao domínio, que é o poder de fruir; se através de forças externas, define-se como acessão contínua e é considerada um dos modos de aquisição da propriedade.
Acessão “é uma alteração quantitativa ou qualitativa da coisa” (Orlando Gomes, citando Barassi).
Em suma:
Por forças internas – discreta – por produção de frutos – uma das faculdades inerentes ao domínio.
Por forças externas – contínua – por união – um dos modos de aquisição da propriedade.
Na acessão discreta, ou seja, o aumento é de dentro para fora, não se tem propriamente uma acessão.
3.2.1.2.2. Modalidades de acessão (contínua por que a discreta não interessa):
a) De imóvel a imóvel. São a aluvião; a avulsão e a formação de ilhas.
b) De móvel a imóvel. Plantações e construções.
c) De móvel a móvel. Alguns consideram: Comistão, confusão, adjunção e especificação.
Pode ser ainda:
Natural: A união da coisa acessória à principal resulta de um acontecimento natural. Ex.: aluvião, avulsão e formação de ilhas.
Artificial ou industrial: A incorporação da coisa acessória à principal resulta da ação humana. Ex.: Plantações e construções.
3.2.1.2.3. Fundamento.
a) De ordem prática: É melhor atribuir a propriedade da coisa nova (a união das coisas forma uma coisa nova) ao dono da principal do

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