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Aula 1 – As Origens da Civilização e do Estado
Nesta primeira aula, estaremos discutindo a construção da disciplina. Devemos nos perguntar o porquê de estudar História antiga e como estudá-la, o que é oriente, quando começa a história, enfim, é o momento de perguntas, de construir as bases para podermos trabalhar o nosso curso. Para começar, é absolutamente fundamental definir alguns conceitos. Mas, o que é um conceito? Conceito é a exposição teórica de uma ideia presente na sociedade. Exemplo: se peço para você conceituar cultura, não desejo saber sobre a influência da cultura na sua vida ou como ela é importante ao homem.
A pergunta anterior versa de maneira direta sobre a definição de conceito, de forma que nos permite compreender o que é cultura. Veja um exemplo da história antiga. Antes, pare e pense um pouco! Temos escravidão na História Antiga? A resposta é sim. Mas, só se entender escravidão como um conceito, quer dizer, um sistema de trabalho que impõe ao submetido um regime compulsório. Poderia usar, por exemplo, o termo em grego doloi, mas, como muito bem salienta Finley, um dos maiores historiadores antigos em seu livro O Uso e o Abuso da História Antiga, quando eu explicasse que doloi era um grupo social que vivia sob um regime de trabalho compulsório em que seus senhores poderiam, por exemplo, ter direito sobre sua vida ou morte.  O que viria na cabeça do aluno? Escravo.  Então, perde o sentido conceituar de maneira diferente. Um aspecto nesse ponto é fundamental: os conceitos são inscritos no tempo. Podemos utilizá-los como referência, mas seu entendimento passará necessariamente por sua explicação no meio social.
Seguindo a busca dos conceitos, devemos entender o que é Oriente. Poderíamos entendê-lo somente como uma divisão geográfica? Em termos geográficos, a divisão entre Ocidente e Oriente é proveniente do mapa de fusos horários. Como podemos observar no Mapa dos Fusos, a divisão do Ocidente e Oriente estaria em 0º. O Meridiano em questão passa pela Inglaterra e divide, por exemplo, áreas como a França e Espanha em Oriente e Ocidente. A Itália, por exemplo, é Oriente. Não soa estranho? É porque o marco que está sendo utilizado não tem características históricas ou sociais, é um elemento geográfico contemporâneo e esvazia a noção de Oriente e Ocidente. Poderíamos utilizar uma separação cultural. Nesta, Ocidente é tudo aquilo que é representado pelo capitalismo, a religião cristã e a língua latina. Oriente seriam especialmente muçulmanos, hindus e culturas do extremo oriente. Não é uma divisão estranha aos nossos olhos, talvez seja até bastante comum, mas historicamente não podemos pensa-la como circunscrita ao nosso tempo.
Vamos um pouco para trás: o mundo após a II Guerra Mundial viveu uma separação político ideológica, dividida em países capitalistas e socialistas.  Naquele momento, muito se usava o termo "Cortina de Ferro" para marcar o limite das forças capitalistas e socialistas na Europa, representado especialmente pela divisão da Alemanha e o muro construído em Berlim.  Se naquele momento perguntássemos a qualquer pessoa minimamente esclarecida onde está o Ocidente e o Oriente, a explicação seria dada sob a perspectiva do momento. Da mesma forma, devemos entender a divisão na antiguidade entre Ocidente e Oriente e o que caracteriza cada um deles.  De um lado, temos sociedades consideradas berço da humanidade: Egito e Mesopotâmia em especial.  Do outro, a ideia do que é ser ocidental, certo orgulho de culturas como a grega e a romana, como se todos nós representássemos esses grupos.
O olhar que desejamos é um olhar que fuja dessa dicotomia, desse dualismo. Entende-se Oriente como um espaço de poder caracterizado pela organização de importantes civilizações e como suas práticas constroem e influenciam o mundo conhecido.  Precisamos construir um olhar crítico, que não veja as pirâmides com uma mostra de como esses povos eram avançados, mas uma sociedade à qual possamos entender, discutir, que nos permita refletir melhor sobre nossa própria sociedade.
O mapa abaixo apresenta a divisão de alguns dos espaços que trabalharemos neste curso.  Em rosa, o chamado Oriente Próximo, áreas diretamente relacionadas ao Mediterrâneo e que tiveram ao longo de sua história uma grande influência por conta das rotas comerciais desse importante mar. As áreas em roxo fazem referência ao Oriente Médio, uma área que teve um desenvolvimento em paralelo aos espaços indo-europeus. São assim caracterizadas as áreas do limite do Egito com a Ásia, parte da Anatólia (atual Turquia oriental), península arábica e as áreas da Mesopotâmia mais à direita. As áreas em roxo são normalmente caracterizadas como o "Crescente Fértil”, região à qual muitos autores determinam como local de início da história. As regiões em vermelho e verde são áreas do extremo Oriente que infelizmente não estudaremos neste curso por uma questão de tempo.
História antiga: como estudar? Primeiro é necessário pensar nesta periodização: o que é história antiga?  O que é algo antigo? De onde surge uma ideia como essa?  Como já conversamos, as coisas não são criadas ao acaso, em especial, uma divisão de tempo como a que utilizamos não é um acidente. Vamos lembrar:
A linha tradicional do tempo mostra que, do surgimento da escrita (a maioria por cerca de 3.000 a. C.) ao fim do Império Romano do Ocidente - Séc. V d.C.:
A Idade Média seria do século V ao XV;
A Idade Moderna, do XVI ao XVIII;
A Idade Contemporânea, do XIX ao XXI).
Por essa conta, em que idade nós estamos? Contemporânea, certo?  Sim e não. Se formos ao limite do conceito, todo homem é contemporâneo ao seu tempo, vive sua própria época.  Mas, se adotarmos os modelos existentes, pode acontecer um congresso daqui a 20 anos que determine que tenhamos vivido uma idade de nome diverso. Isso vai alterar quem nós somos.
Cada homem é filho de seu próprio tempo e os marcos são escolhidos como não naturais ou inquestionáveis.  Partindo desse pensamento, observamos ainda brevemente o nome dado às Idades: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. A que esses nomes nos remetem?  Algo que passou, um período intermediário, o homem melhorando, se tornando moderno para chegar nos dias de hoje.  Essa proposta surge no século XVII, época em que a Europa vivia um importante movimento intelectual chamado Iluminismo.  Nele, havia a preocupação em marcar que o homem vivia um momento especial, a era da razão e da capacidade do homem. Na busca de uma afirmação nesse sentido, procura-se negar o período imediatamente anterior: assim, a Idade Média será caracterizada pelas trevas para a razão chegar e lhe oferecer a iluminação. A antiguidade, então, é o período em que o homem sai de sua condição animalesca e inferior para construir uma grande sociedade.  O homem tem um tombo, uma falha, para atingir seu auge no período moderno. Devemos acreditar nisso?  Definitivamente, não!  Então, por que continuamos usando esses marcos?  A resposta está em entendê-los como didáticos, uma forma de dividir e entender o mundo, mas sem acreditar que os períodos têm uma sucessão marcada. É impossível determinar quando começa ou termina um período. Vivemos em quadros constantes de transições, nos quais as sociedades têm continuidades e rupturas ao longo de sua existência.
A História Antiga é toda a historia antes do fim do Império Romano. Caros, estamos falando de milhares de anos, milhares de sociedades, práticas que precisam fugir das tradições eurocentristas, mas que marcaram as sociedades Ocidentais.
Durante muito tempo, a resposta seria sim. Hoje, apesar de entender a importância da escrita cuneiforme, trabalhamos de maneira mais complexa. A tradição nos faz responder à questão, mostrando-nos que foi durante a organização dos sumérios na mesopotâmia, com o estabelecimento da escrita cuneiforme. Então, tudo o que não é escrito não é história. Mas, e agora? Quando começa a história?
Toda e qualquer sociedade possui patrimônios, organizações, culturas que nos permite quebrar a ideia de um evolucionismopara pensar que as sociedades são complexas. As formas de escrita são sempre muitíssimo inferiores em quantidade aos relatos e tradições orais. Assim, não pretendemos utilizar as noções de pré-história e história, mas sim como as sociedades humanas se transformaram desde o aparecimento dos homo sapiens no continente africano há 100.000 anos.
Para facilitar a observação do quão as práticas são complexas, separamos um quadro que mostra a evolução das sociedades humanas. Depois de ver o quadro, percebe-se que existe a falta de mais informações sobre a América e a África, o que não significa imobilismo, mas sim falta de investimento em arqueologia, que atualmente vem crescendo e modificando essas visões (vide a descoberta de Luzia em Minas Gerais e o estudo da expansão de bantos e os contatos com organizações diversas no espaço africano). Quando falamos em revolução do neolítico, precisamos entender o que isso significou para as sociedades humanas. Quando falamos em revolução do neolítico, precisamos entender o que isso significou para as sociedades humanas.  O termo neolítico se refere ao uso de novos materiais pelas sociedades humanas. Nas suas organizações tradicionais, o homem se organizava em pequenos grupos, de característica nômade, e eram caçadores e coletores.
Há cerca de 10.000 anos, vários grupos ao redor do mundo iniciaram o cultivo, primeiro de algumas gramíneas e a domesticação de animais. Esse esforço inicial de agricultura e pecuária permitiu o assentamento do homem por períodos maiores.  Mais do que isso, o desenvolvimento da agricultura permitiu o aumento da natalidade e a organização de grupos maiores. Segundo Gwendolyn Leick, Mesopotâmia, o nascimento das cidades, o grande marco de transformação da sociedade humana, é a passagem de estruturas nômades e seminômades para sociedades de característica sedentárias.  Com maior número de pessoas, as sociedades buscaram melhorias, em especial do controle da água, condição fundamental para organização humana. Notamos pela tabela de desenvolvimento que os espaços tenderam a crescer para as áreas que se manifestaram mais férteis, como Delta do Nilo, Mesopotâmia, Rio Amarelo, dentre outras.
Como podemos observar, a organização de cidades se hierarquiza a sociedade, sofistica suas relações, estrutura novas regras, sofistica explicações religiosas, justifica organizações políticas, hierarquizam o trabalho e o poder. Atenção! Cuidado para não transformar a criação das cidades em um sistema de exaltação do homem. Esse modelo de organização também traz outros problemas às sociedades humanas, como o desenvolvimento de doenças, epidemias. Do contato constante com os animais, os humanos acabam trazendo uma série de doenças. Uma cidade tende-se a estar mais exposta aos dejetos, à sujeira do que o campo.  Não é uma ideia evolucionista, mas de constante transformação.
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