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Aula 7 – O Cotidiano nas Vilas Coloniais
A formação das primeiras vilas coloniais está associada ao início das atividades urbanizadoras, constituídas principalmente nas Regiões Sul e Sudeste, assumindo então a configuração de fortes, de protetoras, com poucas ruas, uma igreja e algumas casas, fator que mudou depois para a formação de cidades que passaram a ser integrantes de toda a dinâmica da colônia. Inicialmente, as vilas tinham um papel secundário, limitando-se muitas vezes às funções administrativas e religiosas.
Sua base era a escravidão, inicialmente dos indígenas e depois dos africanos, e sua história foi escrita, sobretudo, a partir de documentos administrativos portugueses, que visavam primordialmente aos aspectos relevantes para a dominação colonial, relegando a segundo plano aspectos importantes do universo colonial, principalmente no que concerne à dinâmica das vilas coloniais, nosso assunto da aula de hoje.
A primeira vila colonial surgiu com a vinda da expedição de Martim Afonso de Souza e denominou-se São Vicente. Nesse início de colonização, introduziu-se na colônia o cultivo de cana-de-açúcar e construíram-se os primeiros engenhos, surgindo assim o modelo de colonização que iria caracterizar a colônia nos primeiros séculos de sua existência. A formação das vilas coloniais foi um fator importante para a ocupação da colônia portuguesa na América, tendo sido o cerne das futuras cidades que aqui se constituíram. Nelas conviviam brancos, índios, mestiços, negros, ricos, pobres, em uma mescla de indivíduos que caracterizou a pluralidade de atores na formação da sociedade colonial.
Religiosidade nas Vilas
A Igreja Católica detinha os monopólios ideológico e religioso na organização da sociedade colonial e regulamentava o cotidiano das vilas pela orientação ética, pela catequese, pela educação, pelo ritmo semanal e pelo calendário anual, fazendo-se presente também em momentos importantes na vida colonial, tais como o batismo, a eucaristia, o casamento, a extrema-unção, os funerais, a penitência dentre outros. Na colônia, a Igreja Católica, enquanto instituição, desempenhava um papel de grande importância, muitas vezes igualando-se à administração civil e isso se devia principalmente à identidade de interesses e aos propósitos da Igreja e do Estado, o que tornava sua colaboração indispensável à administração da colônia. Ela estava presente em todos os momentos da vida dos membros da colônia, desde seu nascimento até sua morte. No âmbito da religiosidade, nota-se marcadamente a presença da Igreja nos trópicos também através da atuação do Santo Ofício, que aqui estava para garantir que os desvios à religião não fossem intensos e claros. Principalmente por ser um local que recebeu grande quantidade de cristãos-novos, a colônia era alvo da atuação da Inquisição, com visitações constantes, que investigava as denúncias que eram feitas na colônia e remetidas a Lisboa.
É importante ressaltar que muitas vezes um indivíduo podia ser denunciado por desafetos e acusado de heresia, mesmo sem ter tido nenhum tipo de envolvimento com algo que pudesse ser considerado herético ou passível de investigação. Os autos de visitações eram constantes na colônia e se direcionavam, na maioria das vezes, para os cristãos-novos. Havia aqueles que viviam conforme as leis da Igreja, que constituíam a norma e não integravam o auto de visitações. Este procurava os comportamentos desviantes que era preciso punir, retirar da vida colonial ou mesmo buscar enquadrar não apenas os que abalavam os dogmas da fé, como também aqueles que introduziam elementos de uma cultura antiga. No início da colonização, era frequente o hábito de blasfemar contra Deus, ironizar os dogmas da fé, desacatar o clero, os santos e até o próprio Deus. Ressalta-se que nos primeiros 80 anos de colonização portuguesa, magia e religiosidade se mostravam semelhantes na metrópole e na colônia. Nesse sentido, Souza afirma: “Apresentando elementos de continuidade com relação à cultura e à religiosidade popular da Europa no início da Era Moderna, as práticas religiosas da Colônia se confundiam muitas vezes com práticas mágicas e de feitiçaria, em quase tudo semelhantes aos casos metropolitanos”.
A feitiçaria era muito utilizada para garantir o amor dos homens e muitas mulheres acusadas de bruxaria na colônia haviam sido degredadas de Portugal acusadas de crime semelhante. “Havia grande ênfase na magia amorosa: recorria-se a mulheres tidas como feiticeiras para obter sucesso nos amores utilizando pós, rezas, filtros, poções, fervedouros, ossos de enforcados, conjuro de demônios. Indicando tal esfumaçamento entre práticas mágicas e religiosidade popular, algumas mulheres foram acusadas (e confessaram), na Bahia de fins do século XVI, de usar as palavras de consagração da missa durante o ato sexual para, com isso, prender o marido ou o amante; uma delas recorreu ainda a certa mistura de vinho e pedra d’ara, ou seja, a pedra do altar sobre a qual se oficia a missa. Outras, com seus filtros estranhos, confeccionados a partir de secreções ou excrementos, confirmam o papel do baixo corporal na cultura popular de então”.
O primeiro século de vida na colônia foi caracterizado pela prática de várias manifestações religiosas que destoavam da religião oficial. Esse período é revelador do enraizamento, na colônia, de certas práticas religiosas e formas culturais diferenciadas, marcada nos anos seguintes por um aprofundamento cada vez maior e pela inserção de elementos da cultura indígena e africana.
A Mulher na Vila
A dinâmica da vila colonial tinha como um de seus elementos a mulher e dela herdam-se diferentes características, e cada uma das que viveram na colônia contribuíram para sua formação. Da mulher indígena, o espólio da estrutura tribal; da mulher branca, modos de viver e morrer importados de Portugal e de outras terras; das sociedades africanas, comportamentos e mentalidades características do espaço que a mulher ocupava em seu interior. Assim, a partir de um universo de diferentes contribuições, podemos analisar a dinâmica feminina no universo das vilas coloniais.
Do século XVI ao XVIII, a condição feminina na colônia estava marcada pelo caráter exploratório da empresa portuguesa no Brasil e a sua presença era necessária à consolidação do projeto demográfico para que preenchesse os vazios da terra recém-descoberta. Para as mulheres vindas de Portugal, tanto o Estado quanto a Igreja ultramarina recomendavam que se casassem e constituíssem famílias. Todas as mulheres que foram obrigadas a vir para a colônia passavam por um de adestramento que fazia parte do processo civilizatório. Havia uma forte preocupação em elaborar uma imagem regular da feminilidade que se adequasse perfeitamente aos propósitos da Igreja Católica. O uso dos corpos no casamento possuía uma perspectiva diferenciada, pois somente na vida conjugal, no sofrimento e angústia do parto, a mulher encontrava redenção para seus pecados e a via da ressurreição.
Nesse contexto, a procriação só tinha legitimidade na expectativa da multiplicação. Abandonar a sensualidade era fundamental para evitar que a mulher, criada por Deus para o ato da criação, se tornasse para o homem uma oportunidade de queda e perversão e por isso, era necessário que a mesma apagasse todas as marcas de sensualidade e animalidade. “Apenas como mãe, a mulher revelaria um corpo e uma alma saudáveis, sendo sua missão atender ao projeto fisiológico-moral dos médicos e à perspectiva sacramental da Igreja”.
Na vida diária, as mulheres pertencentes às elites não passeavam pelas cidades. Elas saíam acompanhadas por seus maridos, filhos e escravos e somente para ir às missas, procissões ou à igreja se confessar. Reclusas, expunham-se, apenas, em dias de festa. Entretanto, as escravas, as forras (negras alforriadas), ou brancas pobres faziam parte do mundo do trabalho. Vendiam os seus serviços como mucamas, lavadeiras, doceiras, rendeiras, prostitutas, parteiras, cozinheiras, sempre ocupando posições de inferioridadena sociedade colonial. Nas irmandades de pretos e pardos, que se constituíram na colônia, as mulheres negras participavam ativamente, no entanto, não atuando na tomada das decisões, atribuições que eram restritas apenas aos homens.
A Escravidão
A escravidão era um item importante dentro da dinâmica colonial, tendo a escravidão indígena ocupado papel de impacto na colônia. Sua origem remonta a meados do século XVI, focada principalmente na questão militar e de mão de obra. Eram frequentemente utilizadas as expedições militares para derrotar focos de resistência ao aprisionamento e garantir um maior número de cativos para a empresa colonial, pois, devido principalmente ao grande número de epidemias que assolavam constantemente as tribos indígenas, gerando um ciclo intensamente devastador, era cada vez mais reduzido o número de índios para o trabalho.
Uma forma de compensar o reduzido número de indígenas era fortalecer as expedições de apresamento, uma excelente forma de conseguir mais cativos e que resultou em considerável fluxo de índios para a economia colonial. Havia ainda as tropas de resgate que serviriam para libertar os índios cativos de outras tribos e que seriam alvos de sacrifícios, fator que só ocorria na teoria, pois essa libertação se traduzia no início de uma outra forma de escravidão. As formas de resistência dos indígenas à escravidão eram variadas, desde fugas, abandonando a região do litoral local onde facilmente eram encontrados e capturados até fugas dos cativeiros, furtando os seus senhores e vizinhos. Invadindo propriedades, negociando produtos livremente, buscando estabelecer alguma independência de ação frente à estrutura escravista, desenvolvendo um mercado comercial paralelo.
A escravização dos índios causou grande insatisfação nos jesuítas, religiosos católicos que vieram para atuar na ampliação da fé católica, abalada pela Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero na Europa. A presença dos jesuítas acirrou fortemente o conflito entre os missionários e os colonos, pois acabou por gerar um conflito de interesses entre ambos, o que acabou desembocando na sua expulsão definitiva. O declínio da escravidão indígena foi provocado pela diminuição no número de apresamentos e pelo descobrimento de ouro na região das Minas Gerais.
No que concerne à escravidão de africanos, a mesma se desenvolveu devido a uma intensa necessidade de mão de obra para o cultivo do açúcar, haja vista as constantes resistências dos indígenas para esse tipo de trabalho. Na colônia, eles eram vistos como um objeto de luxo, indicando posição de status para os que os possuíam. No universo colonial, era imposta aos negros a rígida forma de uma sociedade estamental de um lado e do outro havia um rol de atalhos por onde os escravos seguiam como principal via de acesso a distinções e dignidades.
Essa via de acesso era pertencer a uma irmandade religiosa. As irmandades eram instituições religiosas compostas por leigos que tinham por objetivo ajudar a comunidade e seus membros. Seguiam regras sancionadas pela Igreja e qualquer pessoa podia ser membro de uma irmandade, fosse rico ou pobre, livre ou escravo, homens e mulheres de todas as raças. No século XVII, era uma das poucas formas de associação permitida aos negros pelo império português e muitos pretos as procuravam por ser o único espaço onde podiam se reunir longe do controle da Igreja, do Estado e das irmandades de brancos que os excluíam religiosa e socialmente. Ao chegarem a colônia, os africanos sofriam um intenso processo de dessocialização para assim ser definitivamente inserido no processo de colonização do Brasil e pertencer a uma irmandade era também uma forma de manterem sua união enquanto grupo, trocar experiências e manterem sua unidade cultural, mantendo vivas assim suas tradições, embora adaptadas ao universo católico.
Os recursos para a manutenção das irmandades vinham de doações, esmolas deixadas em testamento, cotas de inscrições, anuidades, exercendo ainda um rígido controle sobre todas as suas finanças, que eram gastas no auxílio aos necessitados que pertenciam àquele grupo, nas festas para comemoração dos santos, sendo as mais famosas as de Nossa Senhora do Rosário, Santo Elesbão e Santa Efigênia. Como vimos, a vila colonial apresenta uma pluralidade intensa, marcada pela presença de diferentes atores em seu universo e com atividades culturais que marcaram a história do Brasil colonial de forma intensa e curiosa. Agora, convido você a buscar mais informações sobre o universo cultural das vilas coloniais e ler mais sobre o assunto. Certamente, você se impressionará com as diversidades cultural e religiosa que caracterizou esse período da história do Brasil.
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