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Aula 7 – Uma Disputa Secular: Gládio Espiritual e Gládio Temporal
O período medieval foi marcado pela importância adquirida pela igreja católica. Entretanto, essa importância não surge nessa época. Ela é anterior e remonta ao Império Romano. Embora seja de conhecimento geral que após a crucificação de Cristo os cristãos tenham sido perseguidos por Roma, esse tempo de perseguições não só termina, como o cristianismo passa a ser a religião do Império romano. Mas como se dá esse processo?
Roma, a exemplo de outras civilizações da antiguidade era, originariamente, politeísta, ou seja, acreditava em vários deuses. De fato, a mitologia romana é uma herança direta da mitologia grega e os romanos incorporam os deuses gregos, renomeando-os, mas mantendo as mesmas características. Zeus para os gregos é Júpiter para os Romanos, a deusa Hera em Roma assume o nome de Juno e assim por diante.
Após a morte de Cristo, aproximadamente no ano 33, seus seguidores e apóstolos são perseguidos e mortos. Sua crença no Deus único é vista como uma ameaça ao império romano. Entretanto, com a conversão de Paulo de Tarso, o cristianismo entra em uma nova fase, de franca expansão. Com suas pregações e cartas, Paulo divulga e expande o cristianismo para o Ocidente.
No início do século IV, os cristãos obtêm de Roma a liberdade de culto e no final desse mesmo século, o cristianismo se torna a religião oficial do império. Isso ocorre a partir da conversão do imperador Constantino. Não podemos atribuir as razões dessa conversão a algo puramente espiritual. Constantino tinha problemas em impor-se como imperador e alguns grupos romanos questionavam sua legitimidade. O cristianismo expandia-se por todas as partes do império e a conversão do imperador acabou por garantir-lhe o apoio dos numerosos fiéis que aumentavam a cada dia.
De todo modo, foi a consolidação de Roma o primeiro momento de afirmação da fé cristã. Após a crise e o fim do império romano, a igreja católica continua a existir e a aumentar seu poder, confundindo-se cada vez mais com o próprio estado. O fato do cristianismo não ter desaparecido junto com o próprio império romano deu-se, sobretudo, pela conversão dos povos germânicos a essa religião. Quando ocorrem as invasões bárbaras que desagregam o império, os germanos adotam o deus dos cristãos. É interessante perceber um exemplo do que falamos nas aulas passadas, que mesmo o fim de uma era não significa seu completo desaparecimento e as culturas, sejam elas vencidas ou vencedoras, mantêm um diálogo e influenciam-se mutuamente. Mencionamos em outras aulas que, em um mundo fragmentado como é o caso do mundo medieval, a igreja constituiu muito mais que apoio espiritual, mas também a própria identidade política e cultural do continente. Por que isso ocorre? Os diversos feudos que constituíam a estrutura medieval não possuíam características unificadoras. Cada um deles funcionava de maneira autônoma, mantendo seus costumes, seu dialeto, sua economia, enfim, é como se cada unidade feudal fosse um universo em si mesmo.
Nesse contexto, a igreja surge como instituição única. O mesmo livro sagrado, a bíblia, é a base onde quer que ela se estabeleça. As missas são rezadas em latim e a mesma hierarquia é montada em todos os lugares. Assim, um bispo terá seu status garantido, independente da região que esteja. Os cargos eclesiásticos e a legitimidade do Papa são comuns às mais diversas regiões da Europa. Podemos dizer que em um mundo fechado, a igreja é a única constante, sendo a mesma em todos os lugares, por isso o caráter de identidade que ela assume.
Progressivamente, o seu poder econômico será igualmente importante ao lugar que ela já ocupa na mentalidade europeia. Através de compras e doações dos fiéis, a igreja se torna a maior proprietária de terras do continente. Em um momento em que possuir terras é sinal de riqueza, não havia nenhuma instituição que se equiparasse à igreja nesse quesito.
Essa prosperidade era obtida e ampliada através de diversos mecanismos e estratégias. As famílias mais ricas da região pagavam pelo privilégio de serem enterradas no interior dos templos. Quanto mais próxima do altar, mais rica e nobre era a família. Mesmo na morte, era preciso assegurar a posição social e a manutenção da hierarquia. Além disso, a ideologia católica condenava o lucro e a usura, ou seja, o acúmulo primitivo de riqueza. Muitos senhores pagavam uma enorme quantia para que seu nome fosse mencionado nas missas, mesmo após sua morte. Como propriedade de terras a igreja também era uma senhora feudal e possuía os privilégios dessa posição. Suas terras eram arfadas pelos servos e, da mesma forma que ocorria com os demais senhores feudais, recebia uma parte dessas colheitas, além dos impostos da época. Por outro lado, era isenta de pagar impostos, podendo assim acumular riquezas e expandir sua influência.  
Como historiadores, devemos separar o estudo da igreja católica, ou de qualquer outra religião, da fé que professamos individualmente. Como professores, devemos sempre apontar para as diferenças entre estudar um objeto e defender uma ideologia. É comum, quando ministramos aulas, por exemplo, que os alunos, diante da trajetória da igreja católica, assumam um juízo de valor, colocando-a como uma instituição opressora por natureza. O que devemos sempre lembrar é que essa trajetória está inserida em um contexto específico e não nos cabe fazer esse juízo de valor. Podemos analisar a expansão da fé católica e o alcance do seu poder em diversos períodos da história, mas não é produtivo tomarmos partido, atribuindo a essa história adjetivos como boa, má, opressora ou autoritária. Afinal, assim como os homens, as instituições também são fruto de seu tempo. Vimos, em outras aulas, como essa influência religiosa opera no campo da literatura e das mentalidades. Mas ao considerar o campo artístico, em poucas manifestações a mentalidade católica aparece tão bem definida como no campo da arquitetura.
Os templos católicos característicos da idade média possuem dois grandes estilos, o românico e o gótico. As catedrais góticas, além de serem consideradas um triunfo arquitetônico pela sua beleza e grandiosidade, transmitem o que se espera ser o sentimento do homem diante de Deus: humildade e adoração. Essas catedrais possuem um efeito tridimensional, com suas naves em arco, que dão a ideia de que o homem é pequeno diante de Deus. Grande parte das catedrais europeias da idade média foi construída nesse estilo, sendo a catedral de Notre Dame, em Paris, uma das mais famosas.
Notre Dame foi consagrada à Maria, mãe de Cristo, e sua construção remonta ao século XII. Em catedrais como essa, podemos perceber não só o poderio espiritual, mas também material da Igreja católica dessa época. Clique no ícone abaixo e saiba mais sobre a relação entre igreja e nobreza no período medieval.
Podemos perceber a influência católica de maneira diferenciada nos diversos países cujas monarquias estabelecem seus estados nacionais. O caso de Portugal e Espanha é emblemático para compreendermos essa influência para além da esfera religiosa. Por terem se unificado antes dos demais estados europeus, os países ibéricos reuniram as condições para lançar-se na expansão marítima. As descobertas que advieram daí foram reguladas por tratados intermediados pelo papado, dentre os quais o Tratado de Tordesilhas, que dividia as possessões entre Portugal e Espanha. Os reis espanhóis detinham ainda o título de reis católicos, concedidos pela igreja.
Também no momento da colonização da América, o papel da igreja foi fundamental e nele podemos notar a disputa entre os poderes temporais e espirituais, colocando a igreja de um lado e o estado, de outro. No caso de Portugal e da colonização do Brasil, a ordem jesuíta se fez presente desde os primeiros momentos. O primeiro evento formalizado pelo colonizador em terras brasileiras foi a execução de uma missa, que acaba entrando para a história como um dos momentos fundadores do Brasil.
É certo que a igreja moderna nãoé a mesma igreja que vivenciou o período medieval, mas sua presença na configuração dos estados nacionais aponta para uma transformação e adaptação aos novos tempos. Não é possível estudar o período de transição sem levar em consideração o papel da doutrina religiosa – seja católica, seja protestante – nos assuntos de estado. Se é aparentemente mais fácil perceber a religiosidade nos hábitos da população, que mantém seus costumes e crenças, é na esfera do estado que a igreja consolida seu poder.
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