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Mecânica das Rochas Beatriz Yanagi Resenha do artigo “Putting numbers to geology – an engineer’s viewpoint” de Evert Hoek, The Second Glossop Lecture – presented to the Geological Society, London. Published in the Quarterly Journal of Engineering Geology, Vol. 32, No. 1, 1999, pages 1 – 19. Segundo Hoek, para conferir números a geologia é preciso levar em conta que nem todas as grandezas físicas podem ser retratadass em termos matemáticos precisos, e sendo assim, a experiência do engenheiro geotécnico e alguns fundamentos lógicos devem ser levados em consideração. Além disso, a evolução dos programas computacionais voltados a geologia facilitaram tanto o trabalho que o profissional deve se atentar para não deixar ser levado por imagens chamativas geradas pelos softwares que não seguem a lógica rigorosa da engenharia geotécnica. O professor Peter Fookes, no First Glossop lecture (Fookes, 1997), citado pelo autor, dá uma ótima definição dos passos requeridos no andamento de um modelo geológico. Esse modelo, embora teórico, desenhado a mão, ou gerado por computadores em formato 3D é sobretudo uma construção de blocos no qual o projeto deve ser fundado. Para Hoek, um bom modelo geológico qualifica geólogos e engenheiros a entender as interações dos vários componentes existentes na crosta da terra e com esse conhecimento, tomar decisões racionais. Já nos projetos em que não existem modelos geológicos adequados, as decisões podem ser feitas com base em redes ad hoc, porém, problemas durante a formação devido as condições geológicas imprevistas serão maiores. O autor descreve o ponto de vista de Fookes, citando que muito geólogos se sentem incomodados em conferir números à geologia pois acham que materiais geológicos não podem ser quantificados, quando na verdade, designs de engenharia demandam números na forma de tensões in situ, poro pressão da água, forças de massa de rocha e módulos de deformação que são números fundamentais para o cálculo da estabilidade de pistas, capacidade de suporte de fundações, capacidade de suporte para escavações subterrâneas e de movimento de contaminantes da água subterrânea. As interações de componentes diferentes de uma massa de rocha podem ser muito difíceis de quantificar pois não devem ser muito pequenos nem muito grandes, já que dessa forma podem apresentar resultados ineficientes. Logo, um bom engenheiro geotécnico faz sugestões realísticas para cada um dos parâmetros necessários para uma análise de engenharia em especial. O autor enfatiza que as interpretações geológicas felizmente não são definidas pela capacidade artística do geólogo mas sim pela boa apresentação dos desenhos, com adição de legendas e escalas adequadas. Para os geólogos artisticamente inábeis, há programas que geram modelos sólidos 3D, que inicialmente foram criados para fins de exploração, que antes faziam uso de técnicas estatísticas e analise de superfície de tendência para interpolar e extrapolar intersecções de sondagens. Um exemplo citado no artigo, é o modelo 3D construído pelo grupo de Chiquicamata, em uma mina de cobre no norte do Chile. Neste caso, os operadores do programa são os próprios geólogos, que voltam do campo e em seguida plotam as informações coletadas no modelo. Isso Mecânica das Rochas Beatriz Yanagi assegura que o modelo retrate o conhecimento e a interpretação dos geólogos e que não seja apenas uma ilustração qualquer. O modelo em questão pode ser rotacionado e visto a partir de qualquer direção, ampliado, seccionado, e permite a remoção ou adição de componentes, dessa forma, as interpolações ou extrapolações entre furos podem ser ajustadas de acordo com o entendimento do geólogo dos processos tectônicos envolvidos. Este modelo está agora em curso para ser utilizado em analises de estabilidade de taludes ou analises numéricas de condições de tensão e fratura em escavações subterrâneas. Os projetos de engenharia necessitam tomar medidas para satisfazer os requisitos de segurança e estabilidade, isso é possível de ser feito utilizando uma análise semi-quantitativa muito simples, a fim de concluir que não existem condições que possam levar à instabilidade. Por outro lado, nos casos em que as condições estruturais são muito desfavoráveis ou em que a resistência de massa de rocha é muito baixa comparada a tensões in situ, pode ser vantajoso um diagnostico numérico muito mais detalhado. Em casos mais difíceis, pode ser necessário executar a análise numérica no decorrer da construção e adaptar os sistemas de sequência de escavação e de suporte para atender as condições de concepção definidos por analises posteriores do desempenho notado na escavação. O modelo geológico é uma ferramenta dinâmica, que muda conforme mais dados são apresentados durante o processo de escavação. apenas para ambientes geológicos muito simples o modelo geológico pode ser deixado inalterado para o restante do projeto desde início do local em investigação e desenvolvimento do design. Geralmente, o modelo é constantemente refinado ao longo do projeto através das várias fases de concepção e de formulação. Durante os primeiros estágios de avaliação do projeto e design, quando praticamente não há quase nenhuma informação em mãos e quando o modelo geológico está no inicio, o processo de design baseia-se em experiências anteriores e regras muito gerais. O autor cita o exemplo da avaliação de três vias rodoviárias alternativas através de um terreno montanhoso, o engenheiro geotécnico procuraria rotas com o número mínimo de acidentes geográficos instáveis, deslizamentos de terra antigas, travessias de rios difíceis e o número mínimo de túneis. É uma escolha logica porém muitas vezes uma rodovia será construída com mais atenção para linhas de visão e raios de curvas do que com as condições geológicas que acontecem ao longo do percurso. Segundo Hoek, experiência posterior também é relevante no estágio do desenvolvimento de design. Ao mensurar os potenciais impasses ao longo de um túnel/rota proposta é de grande ajuda visitar e conversar com engenheiros e construtores que trabalharam em rotas em condições geológicas semelhantes em um raio de algumas dezenas de quilômetros do local em questão. O cuidado deve ser tomado na forma como a experiência anterior é entendida e aplicada. No decurso do projeto preliminar cabe ao geólogo, a partir do modelo geológico fornecer as avaliações quantitativas e se estas condições podem ser alcançadas ou se seria melhor procurar um outro lugar. Uma vez que o processo qualitativo relatado acima foi finalizado e as opções foram reduzidas a um ou dois, pode ser vantajoso mudar para um processo mais quantitativo em que o Mecânica das Rochas Beatriz Yanagi engenheiro começa a assumir o papel de liderança no processo de design. É nesta fase no processo de design, na opinião do autor, que os processos de classificação realizam um papel importante. As classificações, com base na experiência e na análise de um grande número de casos, tornam possivel quantificar as disposições gerais do maciço rochoso em termos de classificações numéricas relativamente simples. O resultado definido é então usado para viabilizar a orientação do suporte do tunel, a estabilidade do talude, os problemas das massas de rocha escavação ou a fluidez com que uma massa de rocha será cavada. Um sistema de classificação que é, certamente, quase completamente ignorado no Reino Unido, mas que, para o autor , incorporaos elementos fundamentais do bom sistema de classificação para o projeto preliminar de engenharia é o 'Rockfall Hazard Rating System'. Este sistema foi criado pelo Federal Highway Administration nos Estados Unidos para a avaliação prévia dos riscos de queda de rochas e à valencia de prioridades para o trabalho de reparação (Pierson e van Vickle 1993). As instruções e exemplos sobre a avaliação de cada um dos nove constituintes do sistema são dadas no manual FHWA. Hoek explica que gosta dessa classificação, porque se fundamenta em um conjunto de notas visuais simples. O sistema também possui todos os itens necessários para uma avaliação dos riscos para o público e incluem fatores de projeto de rodovias, como fatores geométricos e geotécnicos, todos retratados em termos claros e explícitos. Quanto a questão da avaliação preliminar de um projeto, o proposito deve ser o de decompor os problemas em uma série de categorias, a depender da gravidade de cada caso. Seja qual for o processo numérico usado, essas categorias devem ser aludidas como linhas aproximadas em vez de valores absolutos de design. O objetivo da avaliação preliminar é decidir quais itens justificam investigações, análises e estudos adicionais no local. Tendo diferenciado os componentes de um projeto de construção que necessitam de uma análise detalhada, o próximo passo é escolher o método adequado de análise e os dados de entrada necessários para esta análise. Neste artigo, o autor dá ênfase a apenas um caso, o projeto de escavações subterrâneas e cita exemplos práticos no seu decorrer. Neste contexto, o GSI (índice geológico de força) é um exemplo de situação em que se aplica números na geologia. Ele foi criado ao longo de muitos anos de discussões com geólogos de engenharia com quem Hoek diz ter trabalhado. Este índice leva em consideração a formulação em cada caso e atribui pesos a cada associação de condições estruturais e de superfície, isso é importante pois se uma dada tendência é coerente com uma ampla gama de situações, pode apontar que alguma lei básica esta em curso, e se essa lei pode ser apartada, é viável descreve-la em termos matemáticos. Em suma, isso é relevante no processo de aplicar números na geologia. Segundo Hoek, atualmente a tecnologia para calcular a probabilidade de falha, como relatado acima, só pode ser utilizada para problemas relativamente simples para os quais uma solução definitiva pode ser obtida. Como o uso dos computadores, tornar-se a possível a aplicação destes métodos a casos mais complexos, como a estabilidade das escavações subterrâneas. Citando Nielsen et al (1994), o autor escreve que essas técnicas são aplicadas em Mecânica das Rochas Beatriz Yanagi casos como avaliações de segurança de barragens, e menciona Anon (1998), ao explicar que em decorrência do impacto social e econômico que os desastres de barragens podem causar, os pesquisadores voltaram sua atenção para o campo da analise de riscos. Este artigo aponta alguns dos meios que podem ser utilizados por geólogos de engenharia e engenheiros geotécnicos para estudar os impactos que os fatores geológicos podem causar em um projeto. Hoek conclui que apesar de ser mais fácil constatar que não há um número satisfatório de dados e que sendo assim o projeto não é confiável, este artigo procurou mostrar que, com trabalho conjunto, utilização de bom senso e pesquisa, é viável chegar a valores aproveitáveis para um design geológico. Em suma, a atribuição de números a geologia é de imensurável importância pois aponta situações desfavoráveis que podem ser evitadas no decorrer de um projeto, além de impactar tanto no quesito de segurança da população quanto no quesito econômico, ao fazer escolhas mais acessíveis e poupar trabalho.
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