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de seus sentimentos, por que nesta não há nenhuma ameaça sobre o seu eu, o terapeuta o aceita incondicionalmente. Durante a avaliação destes diversos aspectos da experiência, contradições surgirão entre o que se é, o se se sente e o que se mostra. A medida que essas contradições são expostas e trabalhadas, Rogers mostra que há uma evolução de “Sou um eu que é diferente de parte da minha experiência” para “Talvez eu seja muitos eus diferentes, como pedacinhos de cada experiência” e no fim “Meu eu é diferente da minha experiência, mas pode ser um todo desta, uma figura completa”. No fim a meta de todo indivíduo é encontrar-se a si mesmo. No processo terapêutico, ao poucos a pessoa derruba suas máscaras, as máscaras sociais da qual se utiliza e que está consciente de se estar utilizando. O cliente usa a relação terapêutica para explorar e examinar vários aspectos de sua existência e enfrentar as contradições que descobre entre “o que deve-se ser” e “o que se é”. A terapia também leva o indivíduo a sentir plenamente seu sentimento, sentir plenamente sua raiva, desamparo, tristeza, alegria transbordando a si mesmo. A experienciação de vários elementos de si que antes estavam escondidos levam o paciente a cada vez mais tornar-se ele mesmo. No final da terapia o cliente não é “uma pessoa completa”, ele compreende que isto é um processo que durará a vida inteira, um processo de tornar-se, mas que agora pode seguir este processo por si mesmo. Cada pessoa tende a se tornar uma pessoa única, distinta, porém Roges separa algumas características comuns a quem torna-se pessoa: Abertura à experiência – Após a destruição de suas defesas contra ao mundo o indivíduo passa a perceber a realidade como é e não como categorias pré-concebidas. Suas crenças são menos rígidas e ele tende a entender a situação atual como única e não como uma repetição de experiências passadas da qual ele já sabe o resultado e tem pré-concepções. Confiança no próprio organismo – A pessoa passa a ter conhecimento de seus próprios sentimentos e impulsos, consegue perceber as exigências sociais como separadas de si. Ela tem uma percepção mais acurada de sua situação externa e está em maior contato com suas experiências passadas. A ponderação destes fatos levará com que a pessoa tenha maior confiança ao tomar decisões em sua vida, por conseguir compreender e balancear os fatores que a influenciam. No fim passa a ter mais confiança em seus insights e decisões. Foco interno de avaliação – O indivíduo passa a preocupar e olhar cada vez menos para focos de avaliações externos (sociedade, família, amigos...) e se preocupar com a sua avaliação interna, o que ele mesmo pensa sobre os seus comportamentos, se está seguindo um caminho que está de acordo com si mesmo. Tornar-se pessoa também implica em uma responsabilidade por si mesmo: “sou aquele que escolhe”, “sou aquele que determina o valor de uma experiência para mim” e uma consequente busca, um tanto autossuficiente, por aquilo que o seu verdadeiro eu quer realizar no mundo. Ao se aceitar como pessoa o indivíduo também passa a aceitar os outros como pessoas, estabelece contatos mais verdadeiros com as pessoas as sua volta, julga menos suas ações pois entende que cada um possui suas vulnerabilidades e tende também a cooperar com as pessoas a sua volta no seus próprios processos de auto-realização. Hoje, as pesquisas com base na Abordagem Centrada na Pessoa são cada vez menores, e grande parte revisões e artigos teóricos. Psicólogos no mundo inteiro ainda seguem a abordagem centrada na pessoa e há algumas associações espalhadas no mundo, no Brasil há a Associação Paulista de Abordagem Centrada na Pessoa. Rogers se posicionava contra a técnica na terapia, e sua teoria tornou-se uma filosofia, um modo de ser, de se portar na terapia. Hoje pode-se dizer que cada abordagem psicológica aprendeu um pouco com Rogers quanto ao relacionamento terapeuta-paciente. A aceitação do indivíduo, a não indiferença à seu sofrimento, o não julgamento de suas ações são hoje pressupostos básicos de toda a psicologia. Tão básico, tão comuns e tão óbvios que pode-se ter a impressão de que não há muito de novo ali. Mas Rogers mostra que há muito ainda para se aprender na busca pela auto-realização e na sua própria busca inquietante pela melhor forma de ajudar ao próximo continuando a publicar e trabalhar em diversos lugares no mundo até sua morte. Tornar-se pessoa é uma obra humilde, calma, otimista, bonita e com grandes aprendizados para qualquer um que queira ajudar uma pessoa ou ajudar-se a tornar-se pessoa.