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Curso de Fisioterapia Aplicada a Cardiologia MÓDULO II CARDIOPATIAS CONGÊNITAS E DOENÇAS VALVARES Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 47 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II A - Cardiopatias Congênitas (CC) A Cardiopatia congênita é definida como uma doença na qual ocorre anormalidades tanto na estrutura como na função cardiocirculatória ao nascimento. Pode ser identificada muito tempo depois. A causa não é definida e há Interação entre sistemas multifatorial genético e ambiental (alterações cromossômicas, rubéola materna, drogas teratogênicas e etilismo). Atualmente é possível o diagnóstico precoce, por avaliação ecocardiográfica do coração fetal. A prevalência de cardiopatia congênita varia entre 0,8% a 1,2% dos nascidos vivos. Fisiopatologia geral Vamos inicialmente compreender os principais defeitos anatômicos e a fisiologia cardiopulmonar normal e anormal. Os fatores que regulam o débito cardíaco são: Pré-carga: é o volume de sangue no final da diástole que deve ser ejetado. Representa o retorno venoso. Pós-carga: é a resistência à ejeção ventricular. É representada pela resistência vascular sistêmica ou pulmonar. Contratilidade: responsabilidade do músculo cardíaco em alterar a estrutura geométrica necessária à ejeção. Freqüência cardíaca: determinada por estímulos humorais e neurológicos sobrepostos. As alterações nestes fatores podem influenciar o débito cardíaco. 48 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Manifestação clínica geral As principais manifestações clínicas em recém-nascidos com cardiopatias congênitas são: Cianose: coloração azulada da pele. As CC que cursam com cianose são as que apresentam shunt de direita para esquerda, ou são cardiopatias com diminuição de fluxo sanguíneo pulmonar, devido a anormalidades do fluxo para o ventrículo direito (VD), (atresia tricúspide) ou obstrução do fluxo de saída do VD (atresia ou estenose de valva pulmonar). Este grupo de CC apresenta comunicação interatrial. Insuficiência cardíaca congestiva (ICC): os sinais clínicos da ICC são: taquicardia, hepatoesplenomegalia, pulsos finos e crepitações pulmonares. As CC com ICC produzem aumento da pós-carga e sobrecarga da bomba cardíaca (coarctação da aorta, estenose aórtica). Sopro: sua detecção representa a existência de fluxo sanguíneo turbulento onde não deveria existir. Pode estar presente nas estenoses valvares, comunicação interatrial e interventricular e persistência do canal arterial. Existem várias classificações das CC, adotaremos a seguinte: 1- Acianóticas. Comunicações anormais entre as circulações sistêmicas e pulmonares sem cianose: comunicação interatrial, comunicação interventricular, persistência do canal arterial, coarctação da aorta. 2- Cianóticas. Lesões obstrutivas valvulares e vasculares abrangendo as derivações da direita para a esquerda e as anomalias puramente obstrutivas: Tetralogia de fallot, atresia tricúspide, estenose pulmonar, estenose e atresia aórticas. 3- Transposições das grandes artérias e veias. Comunicação Interatrial (CIA) É a anomalia congênita mais comum primeiramente reconhecida em adultos, pois passa despercebida. Manifesta com cianose ou insuficiência cardíaca direita. No período fetal essa comunicação atrial é indispensável à vida. Após o nascimento, com a redução da resistência pulmonar, inverte-se o sentido do fluxo e as válvulas são fechadas nas primeiras horas de vida. O fechamento anatômico dessa comunicação ocorrerá até o primeiro ano de vida. FIGURA 1 Fonte: http://www.cmsmedical.com.br/img/cora_1.gif Existem três tipos de CIA: 1- Ostium primum: comunicação próxima às válvulas atrioventriculares 2- Ostium secundum: no forame oval. 3- Seio venoso: próximo à entrada da veia cava superior. Antes do nascimento a pressão no átrio direito é mais elevada do que a do átrio esquerdo, e o sangue oxigenado passa do átrio direito para o esquerdo. Entretanto, com o nascimento e a abertura da circulação pulmonar, invertem-se as pressões, mas é evitado o fluxo da esquerda para a direita pela válvula que cobre o forame oval. Os fechamentos das membranas falham e a CIA acontece. Quando pequenos eles são bem-tolerados. Aos três ou quatro anos de vida, a complacência 49 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores ventricular direita diminui, permitindo um maior shunt esquerdo-direito pelas CIA. Neste momento, aparecerão os sintomas clínicos mais importantes. O aumento do fluxo sanguíneo pela cavidade direita promoverá um aumento do átrio direito (AD) e VD e dilatação da artéria pulmonar. Manifestações clínicas Dispnéia, palpitações, fadiga, infecções respiratórias, déficit ponderal, raramente insuficiência cardíaca. O sopro sistólico mais audível é no terceiro espaço intercostal esquerdo, quando a CIA é grande o sopro diastólico, tipo ruflar, é audível em área tricúspide. Diagnóstico Na radiologia o paciente apresenta: aumento da área cardíaca; aumento da trama vascular, tronco da pulmonar abaulado e convexo à esquerda, com marcada dilatação do ramo direito. FIGURA 2 Fonte: WILLERSON, J T; et al. Cardiovascular Medicine. Third edition. Springer- Verlag London, 2007. 50 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 51 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Ao ecocardiograma haverá aumento de VD e movimento paradoxal do septo interventricular. Ao ECG haverá ritmo sinusal com onda P morfologicamente normal (maioria dos pacientes); complexo QRS aumentado, configurando o bloqueio incompleto do ramo direito. Tratamento A cirurgia eletiva é geralmente realizada na idade pré-escolar (4-5 anos de idade). É indicada em pacientes sintomáticos e para aqueles sem sintomas que apresentem relação fluxo pulmonar (Qp)-sistêmico (Qs) de 2:1. Pacientes com pequenos defeitos do tipo ostium secundum não devem ser operados, apesar de alguns autores recomendarem a cirurgia, devido ao risco de embolias paradoxais. Comunicação interventricular (CIV) Anomalia cardíaca congênita mais comum está geralmente associada a outros defeitos estruturais como a tetralogia de fallot, a estenose pulmonar, a coarctação da aorta e a transposição dos grandes vasos. As CIV de tamanho médio ou pequeno podem evoluir com redução do seu diâmetro e fechamento espontâneo nos primeiros dois anos de vida. A CIV é classificada de acordo com a sua localização anatômica em relação à crista supraventricular (estrutura muscular que separaa porção principal do ventrículo direito (VD) da porção infundibular). CIVs acima desta crista são chamadas infundibulares. As que estão abaixo da crista são chamadas infracristais e são localizadas nas regiões do septo membranoso (mais comum), ou na porção muscular do septo (chamadas "queijo suíço"). FIGURA 3 Fonte: http://www.lhmbrasil.com.br/cardiociv_clip_image004.jpg As CIVs variam em tamanho e localização, oscilam desde permeabilidades ligeiras até lesões suficientemente grandes que podem criar virtualmente um ventrículo único. Os pequenos defeitos são bem-tolerados durante anos e podem fechar-se espontaneamente. Entretanto, podem produzir um sopro sistólico com frêmito sistólico. Os defeitos maiores que 1 cm de diâmetro concursam com aumento do VD e hipertensão pulmonar, com inversão do fluxo, cianose tardia, baqueteamento digital e policetemia. Neste defeito o fluxo pulmonar é o dobro do sistêmico, podendo até se igualar e levar a quadros de insuficiência cardíaca. Manifestações Clínicas CIVs pequenas geralmente são assintomáticas e reveladas em exame físico de rotina. A ausculta mostra um sopro holossistólico em borda paraesternal esquerda inferior, acompanhado de frêmito, como dito anteriormente. No período neonatal imediato, o sopro pode não ser audível devido às pressões pulmonares altas que diminuem a intensidade do shunt. Nas CIV grandes, que apresentam desvio esquerdo-direito grande, encontramos crianças com hiperfluxo e hipertensão pulmonar, dispnéia, taquicardia e sudorese, dificuldade para mamar, infecções respiratórias e insuficiência cardíaca. 52 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diagnósticos O raio-x em CIVs pequenas pode ser normal. Por outro lado, nas comunicações grandes, ocorrerá cardiomegalia, artéria pulmonar aumentada e intensificação da trama vascular por edema pulmonar. FIGURA 4 Fonte: WILLERSON, J T; et al. Cardiovascular Medicine. Third edition. Springer- Verlag London, 2007. Ao ecocardiograma estará demonstrada a anatomia precisa do defeito. Também deve ser possível avaliar os componentes hemodinâmicos através do ecocardiograma com Doppler. Nos pequenos defeitos, o diagnóstico é dado através do emprego do color Doppler. O ECG é normal quando o CIV é pequeno e sem sobrecarga ventricular. Nos defeitos grandes não complicados, poderá ser observado padrão de sobrecarga 53 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 54 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores biventricular ou predomínio de ventrículo esquerdo com crescimento atrial associado; Onda T invertida em VI sugere ausência de hipertensão pulmonar, enquanto onda T ascendente indica sua presença. O cateterismo pode estar indicado quando houver casos de dúvidas persistentes quanto à magnitude do shunt, suspeita de associação com outros defeitos ou estudo da pressão pulmonar. Tratamento Com exceção dos pequenos defeitos, todas as CIV devem ser operadas e de preferência nos dois primeiros anos de vida. Em geral espera-se a correção espontânea até a idade adulta para decidir a cirurgia. Em crianças com grandes defeitos, a operação realizada durante o primeiro ano de vida previne, na maior parte dos casos a doença da vasculatura pulmonar. A endocardite infecciosa superposta é um risco particular dos defeitos pequenos Persistência do Canal Arterial (PCA) O canal arterial (ducto arterioso) é um canal vascular normal durante a vida intra-uterina, que corre entre a bifurcação da artéria pulmonar e a aorta, distal à artéria subclávia esquerda. Seu fechamento funcional ocorre em tomo de 12 horas de vida, enquanto o fechamento anatômico se completa dentro de 14 a 21 dias após o nascimento. Entretanto, a PCA é ocorrência comum em recém-nascido pré-termo, principalmente com idade gestacional inferior a 30 semanas. Durante a vida fetal a direção do shunt da direita para a esquerda deve-se a elevada resistência vascular pulmonar e a baixa resistência vascular sistêmica. Na primeira respiração, ocorre aumento do fluxo sanguíneo pulmonar de 10% para 100% do débito do VD, devido à diminuição da resistência vascular pulmonar. Com a respiração o oxigênio aumenta, com isso ocorre vasodilatação pulmonar. Assim as pressões pulmonares e sistêmicas equilibram-se, deixando de haver shunt. A constrição do canal arterial determina a separação das duas circulações. Certos mecanismos influem neste fechamento: elevação da pressão arterial de oxigênio e diminuição das prostraglandinas. O oxigênio atua como constritor do canal arterial e sem as prostraglandinas não haverá efeito relaxante. Quando há um canal arterial patente, o fluxo desvia-se da aorta para a artéria pulmonar. A PCA é mais comum em mulheres e possui uma associação com rubéola congênita. Ao contrário do prematuro, um recém-nascido a termo quando apresenta PCA, geralmente possui esta estrutura com alterações em sua anatomia. Desta forma, uma PCA persistindo mais do que uma semana em neonatos a termo, raramente fechará espontaneamente ou com medidas farmacológicas. Por outro lado, a PCA no prematuro responde melhor a esta terapêutica e, em alguns casos, fecha espontaneamente. A quantidade do desvio de sangue da aorta para a artéria pulmonar vai depender do comprimento e do diâmetro do conduto e das diferenças de pressão entre as duas circulações. A imaturidade está diretamente relacionada à incidência de PCA. Em PCAs de pequeno tamanho, as pressões em AD, VD e artéria pulmonar são normais. Por outro lado, em ductos grandes, cerca de 70% do débito cardíaco (DC) do VE pode atingir a circulação pulmonar. Quando o canal mantém-se aberto, ocorre shunt da aorta para a artéria pulmonar, podendo diminuir a perfusão de vários órgãos. Além de aumento do retorno sanguíneo para o AE, podendo levar a uma congestão pulmonar e edema. FIGURA 5 Fonte: http://www.santalucia.com.br/cardiologia/canal/ligaçao2.jpg 55 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores FIGURA 6 Fonte: http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/images/23_254_b.jpg Manifestações Clínicas No PCA amplo encontraremos: pulsos rápidos e de amplitude aumentada; pressão arterial divergente à custa de diastólica, que será baixa. Ao exame físico encontraremos: precórdio hiperdinâmico; sopro sistólico principalmente em região infraclavicular esquerda com irradiação para o dorso; Tardiamente o sopro torna-se contínuo e mais intenso – sopro em maquinaria; Com a resistência pulmonar maior que a sistêmica ocorrerá uma reversão do fluxo pelo ducto, com surgimento de cianose nos membros inferiores. Diagnóstico Ao raio-x encontraremos, nos shunts maiores, aumento das câmaras esquerdas, da trama vascular pulmonar e da aorta ascendente. Ao ecocardiograma veremos alteração da relação átrio esquerdo/raiz da aorta. Quando esse valor for superior a 1,5/1 é reflexo de um aumento atrial esquerdo secundário a um shunt esquerdo-direito importante. 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dadosaos seus respectivos autores 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores No ECG, quando existir um shunt importante, mostrará sobrecarga biventricular ou com predomínio de VD. Tratamento A conduta sempre visa o fechamento do canal arterial, ou cirurgicamente ou por meio de cateterismo. Mesmo os pequenos canais arteriais devem ser fechados para prevenção de endarterite infecciosa, uma complicação grave que se encontra associada à trombose e êmbolos pulmonares e sistêmicos. A insuficiência cardíaca deve ser controlada farmacologicamente. A mortalidade operatória é muito baixa. A indicação cirúrgica é para todo paciente, antes de seu primeiro ano de vida. A presença de hipertensão pulmonar não é uma contra-indicação caso fique provado, ao cateterismo, que o desvio, esquerdo-direita ainda se mantém. A indometacina (inibidor da prostaglandina El) pode ser empregada em prematuros, reduzindo a vasodilatação. Caso esta terapêutica não obtenha sucesso, é recomendado o fechamento cirúrgico. Coarctação da Aorta (CoAo) A coarctação, estreitamento ou constrição da aorta tem grande freqüência entre as anomalias estruturais comuns. Atinge mais os homens e na infância, em 75% dos casos está acompanhada de outras anomalias. O estreitamento da aorta pode ocorrer em qualquer local ao longo do seu percurso. Na maioria (98%) das coarctações o estreitamento está abaixo da emergência da artéria subclávia esquerda na origem do ducto arterioso. A CoAo pode também se apresentar como uma hipoplasia tubular da aorta, que se inicia na altura dos vasos para a cabeça e pescoço e se estende até o dueto. FIGURA 7 Fonte: http://www.rbci.org.br/imagens/13-03-03-figura1.jpg As coarctações podem ser pré-canaliculares (canal arterial aberto) ou pós- canaliculares (canal arterial fechado), significando que o estreitamento está antes ou após o canal arterial. FIGURA 8 Fonte: http://www.santalucia.com.br/cardiologia/canal/sexta2.jpg As pré-canaliculares manifestam logo após o nascimento, depende da permeabilidade e da capacidade de fornecer sangue para a parte inferior do corpo. 58 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 59 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Neste caso, desenvolve-se hipertrofia ventricular in útero com conseqüente ICC precoce. O fornecimento de sangue insaturado pelo canal arterial produz cianose na parte inferior do corpo. Na pós-canalicular o prognóstico é mais favorável e pode passar despercebida. Acomete a parte superior do corpo com hipertensão e impede a transmissão da onda de pulso para a parte inferior do organismo, causando insuficiência arterial nos membros inferiores. O sangue passará para a parte inferior do corpo pelas artérias mamárias internas e intercostais vindas das subclávias, além das frênicas e das vertebrais. Manifestações Clínicas Crianças e adultos jovens podem ser assintomáticos. Sintomas e sinais mais comuns estão relacionados à hipertensão (cefaléia, epistaxe, tonturas e palpitações) e alterações dos pulsos. Os sintomas de insuficiência cardíaca poderão estar presentes. Os recém-nascidos (RN) poderão desenvolver insuficiência cardíaca congestiva (ICC) logo após o nascimento. No exame físico de pacientes com coarctação ocorre um precórdio pulsátil associado a frêmito, melhor palpado na fúrcula e região subclávia. Em crianças maiores os pulsos referentes à circulação colateral também podem ser palpados. Na ausculta cardíaca encontramos uma primeira bulha aumentada em área mitral e componente aórtico da segunda bulha reforçada, bem como um estalido protossistólico aórtico. Na presença de válvula bicúspide, é comum um sopro de ejeção na área aórtica irradiando-se para cervical. Na região da coarctação (hemitórax esquerdo e borda esternal esquerda baixa) ouve-se um sopro sistólico. Poderá ser ouvido um sopro diastólico aspirativo, no foco aórtico acessório, quando CoAo está associada à malformação valvar aórtica. A presença de sopro contínuo pode indicar a presença de PCA. Diagnóstico Na radiologia, quando em pacientes sintomáticos, ocorre cardiomegalia global; Acima dos seis anos de idade notam-se erosões costais (vasos colaterais); Imagem provocada pela dilatação pré e pós-estenótica na região da coarctação. 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores No ECG ocorrem anormalidades importantes no segmento S-T; Ondas T negativas em V5 e V6; Sobrecarga ventricular esquerda. Ao ecocardiograma há área de estreitamento aórtico; Presença de anomalias associadas. Tratamento Em pacientes neonatais com coarctação grave, o canal arterial deve se tornar patente. Assim é utilizada a prostaglandina EJ em infusão contínua para permitir a perfusão das extremidades inferiores. O tratamento da Coarctação é cirúrgico. A angioplastia por balão tem demonstrado resultados controversos. Crianças sintomáticas com insuficiência cardíaca devem ser estabilizadas antes do procedimento operatório. Tetralogia de Fallot (T4F) Quatro distúrbios caracterizam esta patologia: 1- Defeito do septo ventricular. 2- Uma aorta que superpõe ao defeito ventricular. 3- Obstrução do fluxo ventricular direito. 4- Hipertrofia ventricular direita. É a cardiopatia congênita cianótica mais comum, e que mesmo não tratada permite uma sobrevida de alguns anos. A gravidade do quadro clínico está relacionada com o grau de obstrução para o fluxo ventricular direito. A obstrução ao fluxo sangüíneo arterial pulmonar está ao nível do infundíbulo ventricular e próximo a válvula pulmonar. A artéria pulmonar principal é normalmente pequena e está associada estenose de seus ramos em vários graus. Quando a obstrução do trato de saída de VD é completa, ela é classificada como uma forma grave de tetralogia de Fallot. Se a estenose infundibular valvar for discreta, haverá um predomínio do shunt esquerdo – direita (através do defeito do septo interventricular) e poderá não haver cianose. O retomo venoso para o AD e VD será normal. Porém, quando o VD se contrai, o sangue mal oxigenado é desviado, para as cavidades esquerdas e para a aorta, gerando cianose. O fluxo pulmonar reduzido pela obstrução do VD poderá ser complementado por vasos colaterais provenientes da circulação brônquica, e, no neonato, pelo canal arterial patente. Em alguns casos, a cianose não é uma manifestação precoce da tetralogia, porque a persistência do canal arterial permitirá um fluxo pulmonar adequado. Posteriormente, com o seu fechamento associado ao aumento da atividade física e hipertrofia progressiva do infundíbulo, ocorrerá cianose. FIGURA 9 Fonte: http://www.scielo.br/pdf/cr/v33n6/a29v33n6.pdf 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores FIGURA 10 Fonte: http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/mm_sec23_254.htm Manifestações clínicas A cianose aparece precocemente e é acompanhada de dispnéia, hipodesenvolvimentopôndero-estatural, baqueteamento digital e policetemia. Crianças com obstruções pequenas do trato de saída de VD podem ao nascimento, apresentar insuficiência cardíaca, devido a CIV (shunt esquerdo-direita) e não apresentar cianose. À medida que a criança cresce, a cianose aparece durante o término do primeiro ano de vida. Ela é evidente nas membranas mucosas da boca e lábios, extremidades digitais e ponta do nariz. Nas crianças mais velhas, as queixas são de cansaço e surgimento de cianose após atividade física, que costuma regredir 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores com o repouso e posição de cócoras. Esta posição aumenta a resistência sistêmica, reduzindo o shunt pela CIV e "forçando" a um aumento do fluxo pulmonar. Podem ocorrer crises hipercianóticas paroxísticas. Estas se constituem em um sério problema e ocorrem nos primeiros dois anos de vida; têm como características: hiperpnéia, agitação, piora acentuada da cianose, engasgos e síncope. As crises graves podem estar acompanhadas de hemiparesia. Os ataques ocorrem pela manhã ou após choro, são imprevisíveis e espontâneos. A piora da crise está relacionada ao aumento da resistência ao fluxo de saída de VD (choro, movimentos intestinais, digitálicos...), ou a diminuição da resistência vascular sistêmica (calor, hipotensão, drogas ou exercícios). Na ausculta cardíaca encontraremos: Sopro protossistólico próximo à borda esternal esquerda, estalido protossistólico audível junto à borda esternal esquerda, de origem aórtica. A intensidade e duração do sopro são inversamente proporcional ao grau da estenose infundibular; A segunda bulha é praticamente única, aumentando de intensidade na área de tricúspide, correspondendo ao fechamento da válvula aórtica. Diagnóstico Na radiologia observaremos: área cardíaca normal ou pouco aumentada; botão aórtico saliente; arco médio escavado; ponta cardíaca acima do diafragma; vasos pulmonares pouco desenvolvidos, hilos pouco expressivos. Estes achados radiológicos são ditos em aspecto de tamanco holandês. Ao ECG encontraremos: hipertrofia ventricular direita; onda T ascendente em VI com onda R pura, sem onda S. O ecocardiograma é importante para ressaltar aspectos anatômicos do defeito valvar, o tamanho do CIV, a dextroposição da aorta e o diâmetro do tronco e ramos pulmonares. O cateterismo irá complementar o diagnóstico e definir os aspectos da hemodinâmica e da oximetria. 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Tratamento Os recém-nascidos, com obstrução importante do trato de saída de VD, são mantidos até a cirurgia, com prostaglandina El. Crianças abaixo de seis meses de idade, com más condições clínicas ou com a anatomia da lesão desfavorável, indica- se a correção paliativa com o shunt de Blalock-Taussig modificado (conduto que liga a artéria subclávia a um ramo homolateral da artéria pulmonar). A cirurgia pode complicar para quilotórax, síndrome de Homer e paralisia diafragmática. A correção total é indicada em crianças entre os seis meses e um ano de idade, que possuam anatomia favorável. Esta consiste de alívio da obstrução do trato de saída de VD, removendo as faixas de músculo aí localizadas e fechamento da CIV. Quando houver valva pulmonar estenótica, é realizada uma valvotomia. De qualquer forma a cirurgia deve ser realizada o mais precocemente possível porque o estreitamento infundibular aumenta com o tempo. Complicações As causas de óbito são geralmente a hipóxia e a insuficiência cardíaca, às vezes, agravada por infecções respiratórias. A Trombose cerebral pode ocorrer em crianças abaixo de dois anos, policitêmicas e desidratadas. Ocorre mais comumente nos seios durais e, ocasionalmente, nas artérias cerebrais. O Abscesso cerebral é menos comum do que a trombose e acomete crianças maiores de dois anos. O início é insidioso com febre baixa e alteração do comportamento. O quadro inicial pode ser abrupto com convulsões associadas, náuseas e vômitos. O diagnóstico requer tomografia computadorizada e ressonância magnética. A antibioticoterapia e a drenagem cirúrgica são necessárias. A Endocardite bacteriana pode ocorrer no infundíbulo ventricular direito, nas valvas tricúspide, pulmonar ou aórtica. A Insuficiência cardíaca pode estar presente ao nascimento pela CIV. Com a hipertrofia do infundíbulo e obstrução ao trato de saída de VD, ela regride para dar lugar à cianose. Atresia tricúspide A atresia é conhecida como a ausência completa da válvula tricúspide. É uma cardiopatia cianótica com hipofluxo pulmonar. Está, na maioria das vezes, associada ao mau desenvolvimento do ventrículo direito ou a um defeito do septo atrial ou a hipoplasia da artéria pulmonar ou estenose da valva pulmonar. A circulação é mantida com a derivação da direita para a esquerda pela CIA. FIGURA 11 Fonte: http://www.heartandcoeur.com/images/heart/atresie_tricuspide.jpg Manifesta-se com cianose desde o nascimento. A mortalidade é elevada desde as primeiras semanas de vida. O tratamento cirúrgico paliativo pode ser realizado dependendo da gravidade e do número de anomalias associadas. 65 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Estenose ou atresia pulmonar É uma cardiopatia congênita rara, quando a válvula pulmonar está ausente o ventrículo direito fica hipoplásico e ocorre defeito no septo atrial. Não haverá comunicação entre o ventrículo direito e os pulmões, assim o fluxo desvia do VD pelo defeito interatrial, penetrando nos pulmões por um canal permeável. Quando ocorre só a estenose da válvula pulmonar, geralmente ocasionada pela fusão das cúspides, o quadro pode ser assintomático e compatível com uma vida longa. O prognóstico vai depender do estreitamento valvar e malformações associadas. FIGURA 12 Fonte: http://prematuros.cl/webfebrero06/cardiopatiacongenita/cardiopatias_congenitas_parenas.htm A cirurgia corrige facilmente a estenose, mas a atresia tem prognóstico ruim. 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 67 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Estenose ou atresia aórtica A atresia aórtica é incompatível com a vida e a estenose depende da sua intensidade. Existem dois tipos: valvular e subvalvular. Na estenose valvular ocorre um mau desenvolvimento das cúspides, criando um diafragma fibroso e espessado. Na subvalvular ocorre um anel fibroso espessado abaixo das cúspides. A estenose aórtica congênita pode ser classificada também como: valva unicúspide, bicúspide ou tricúspide. A valva unicúspide causa obstrução severa, sendo fatal em pacientes abaixo de um ano. A valva bicúspide raramente leva a obstrução significativa durante a infância. Suas alterações geram turbulência que leva a calcificação e rigidez da valva, que manifestará com sinais de estenose na vida adulta (discutiremosesse assunto no módulo IV: doenças valvares). A valva bicúspide pode levar a endocardite infecciosa. Na valava tricúspide ocorre desigualdade de tamanho entre as cúspides e certo grau de fusão comissural. Como na valva bicúspide, normalmente não ocorre distúrbio hemodinâmico significativo na infância, mas sua estrutura alterada irá causar sua degeneração com o passar dos anos. Esta cardiopatia manifesta-se clinicamente com hipertrofia ventricular esquerda, podendo ou não aparecer uma dilatação pós-estenótica da raiz da aorta. Pode-se notar nesta cardiopatia um sopro sistólico e algum frêmito. As estenoses leves podem ser tratadas de forma conservadora com profilaxia antibiótica e evitando exercícios que podem levar à morte súbita. A cirurgia é indicada tanto nas estenoses leves quanto nas intensas. FIGURA 13 Fonte: http://www.medicinageriatrica.com.br/wp-content/uploads/2007/01/aortica.jpg Transposições das grandes artérias e veias ou dos grandes vasos (TGA) As transposições representam um grupo complexo de malformações nas quais pode haver inversão da aorta e da artéria pulmonar em relação aos ventrículos, inversão ventricular em relação aos átrios ou origem dos grandes vasos de um ventrículo único. A mais comum é a aorta originar do VD. Haverá duas circulações em paralelo. O retomo venoso sistêmico flui do AD para o VD e então para a aorta. Independente deste trajeto, o sangue venoso pulmonar que retoma ao AE vai ao VE, sendo ejetado nas artérias pulmonares. A sobrevida pós-natal exige uma "mistura" contínua entre as duas circulações, caso contrário existirão duas circulações independentes, com a aorta recebendo sangue não oxigenado do retorno sistêmico e a artéria pulmonar reciclando sangue oxigenado. A presença de anomalias associadas (CIV, CIA, PCA) aumenta a sobrevida destes pacientes. 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores FIGURA 14 Fonte: http://www.incl.rj.saude.gov.br/incl/imagens/transposicao.gif Manifestações Clínicas Os sintomas aparecerão, dependendo, em grande parte, da integridade do septo interventricular. Se o septo estiver íntegro, a cianose surgirá nas primeiras horas de vida. Apresentará como acrocianose, ocorrendo piora com 12 a 24 horas de cianose coincidente com o fechamento do ducto arterioso. Mesmo na presença de cianose discreta, os sinais e sintomas da ICC aparecer. As outras manifestações dependerão das anomalias associadas. Com freqüência a segunda bulha é desdobrada ou única, podendo haver sopro sistólico por hiperfluxo ou estenose do trato de saída de VE. É importante lembrar que a TGA é a principal causa de cianose nas primeiras horas de vida. 69 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 70 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diagnóstico Na radiologia haverá um mediastino superior estreito e a aparência da sombra cardíaca é descrita como um "ovo deitado". O aumento da trama vascular é comum. O ECG raramente auxilia o diagnóstico. Na presença de defeitos do septo ventricular associado, demonstra ondas P proeminentes ou hipertrofia biventricular. Na ausência de defeitos do septo ventricular, o ECG demonstra o padrão normal do neonato que é de dominância ventricular direita. O ecocardiograma é essencial para definir conexões anormais e alterações associadas. Tratamento Para o neonato cianótico, a mistura de sangue saturado e dessaturado devem ser aumentadas, pela infusão de prostaglandina El, com intuito de mantermos o canal arterial pérvio. A manutenção do RN aquecido (hipotermia provoca acidose metabólica) e o controle da glicemia (evitando hipoglicemia) são elementos fundamentais no manejo pré-operatório destes pacientes. Os recém- nascidos que permanecem cianóticos, mesmo com a infusão de prostaglandinas, devem ser submetidos à atrioseptostomia de Rashkind por balão. Deverá ser realizado nas primeiras duas semanas de vida, para se preservar a massa do VE, pois este estará bombeando sangue para uma circulação pulmonar de baixa resistência. 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II B - DOENÇAS VALVARES As anomalias valvulares podem ser produzidas por distúrbios congênitos, vistos no item A deste módulo, ou por uma variedade de doenças adquiridas, que veremos a seguir. Estenose Aórtica (EA) A causa desta estenose em adultos pode ocorrer devido à calcificação degenerativa das cúspides, secundária a inflamação reumática. Porém a grande maioria dos casos não tem origem reumática: idade e fator congênito agravado. Estudos realizados na América do Norte e Europa ocidental mostram que 30% dos indivíduos com mais de 65 anos apresentam EA. No exame histológico as valvas apresentam alterações inflamatórias parecidas com as que acontecem nos vasos arteroscleróticos. Assim os fatores de risco para a arteriosclerose são os mesmos para EA degenerativa senil. No caso da válvula afetada de forma congênita ela pode estar estenótica ao nascimento e tornar-se progressivamente mais fibrosada, calcificada e estenótica. Essa deformidade congênita, geralmente é bicúspide sem apresentar estreitamento do óstio na infância, e com esforços diários e sobrecarga hemodinâmica ocorre o espessamento da valva com calcificações, rigidez e estreitamento do óstio. Na endocardite reumática das cúspides aórticas, ocorre a fusão das comissuras, resultando, às vezes, em uma válvula bicúspide. Isso torna as cúspides mais susceptíveis a traumatismos levando a fibrose, calcificação e estreitamento. A obstrução ao esvaziamento do VE, com o tempo, causa graves limitações clínicas. Ela está geralmente associada a problemas na valva mitral e a Insuficiência Aórtica grave. A miocardiopatia hipertrófica também pode levar a EA por causa da hipertrofia do VE. A obstrução ao fluxo ventricular esquerdo leva a um gradiente de pressão entre o VE e a aorta durante a ejeção sistólica, causando uma sobrecarga pressórica que piora com o passar dos anos. O débito ventricular esquerdo permanece normal pela hipertrofia ventricular esquerda. À medida que aumenta a intensidade da estenose, a pressão sistólica ventricular esquerda continua a elevar-se, sobrecarregando o miocárdio. Porém quando os sintomas iniciam o prognóstico é mau, com sobrevida pequena. A obstrução grave é aquela que reduz dois terços da área da válvula. A insuficiência cardíaca será uma conseqüência final. Manifestações clínicas Quando sintomáticos os principais sintomas são: dispnéia aos esforços, angina do peito, síncope aos esforços. O ritmo cardíaco estará regular até muito tarde na doença. Haverá aparecimento de fibrilação atrial se houver patologia mitral associada. O frêmito sistólico está presente. FIGURA 15 Fonte: http://www.rbci.org.br/imagens/13-02-02-figura4.jpg 72 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivosautores 73 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diagnóstico Na radiografia haverá hipertrofia cardíaca sem dilatação, podendo haver dilatamento da aorta ascendente. Nos casos graves haverá aumento de VE, congestão pulmonar, aumento do AE. Ao ECG ocorrerá em casos avançados, depressão do segmento ST, inversão da onda T nas derivações D1 e a VL e nas derivações precordiais esquerdas. No ecocardiograma haverá hipertrofia do VE e nos pacientes com calcificação valvar ocorrerá ecos múltiplos, brilhantes, indistintos vindos da raiz da aorta. O ecocardiograma transesofágico mostra com nitidez o óstio obstruído. O ecocardiograma com Doppler estima o gradiente transvalvar aórtico. Tratamento As atividades físicas extenuantes devem ser evitadas mesmo na fase assintomática, deve-se restringir o uso de sódio. Os diuréticos e glicosídicos devem ser utilizados com critério para evitar a depleção de volume evitando a redução do débito cardíaco. A Nitroglicerina é usada para aliviar a angina no peito. O uso de estatinas em pacientes com EA degenerativa calcificada pode levar a uma progressão mais lenta da calcificação valvar. A cirurgia é sempre indicada na estenose grave. Insuficiência Mitral (IM) Dentre as causas da insuficiência mitral estão: 1) Doença Reumática; 2) Endocardite infecciosa; 3) Doença vascular do colágeno; 4) Miocardiopatias; 5) Doença Isquêmica do coração; 6) Prolapso da valva mitral; 7) Uma causa rara é a relacionada ao uso de supressores do apetite; 74 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 8) Anormalidade estrutural valvar. A doença reumática é uma doença inflamatória aguda acompanhada geralmente por infecção estreptocócica. Ela desencadeia a cardiopatia reumática crônica que é marcada principalmente pela doença valvar deformante e fibrocálcia que produz uma disfunção permanente e insuficiência cardíaca grave. A endocardite infecciosa é a mais grave das infecções. Caracteriza-se por uma colonização de agentes microbiológicos no endocárdio mural ou valvular, com formação de vegetações repleta de microorganismos. Este tipo de patologia atinge mais a pacientes com cardiopatias congênitas e disfunções valvulares. Dentre as anormalidades estruturais podemos citar: a) Anormalidades dos folhetos valvulares: Este tipo predomina na IM de origem reumática. A insuficiência será conseqüente da rigidez, do encurtamento, da retração e da deformidade de um ou ambos os folhetos mitrais e estará associada às alterações de fusão e encurtamento das cordoalhas e do músculo papilar. A endocardite infecciosa poderá resultar em IM por perfuração direta de um dos folhetos valvares, por interposição da vegetação na coaptação dos folhetos ou retração cicatricial na fase de cura. b) Anormalidade do anel mitral: Qualquer miocardiopatia com dilatação do VE pode levar a dilatação do anel mitral. Sua calcificação é um achado comum em autópsias, mas não leva geralmente a IM. No entanto, pode ser um componente importante para a insuficiência quando o comprometimento for severo, sendo nesse caso mais comum em mulheres que em homens. c) Anormalidade das cordas tendíneas: O alongamento e ruptura das cordoalhas é característica do Prolapso de Válvula Mitral (PVM). A ruptura de cordas tendíneas pode ocorrer de forma idiopática, na febre reumática e na endocardite infecciosa entre outros. d) Envolvimento primário do músculo papilar: Ocorrerá nas doenças isquêmicas, principalmente como complicação do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). FIGURA 16 Fonte: http://www.portalesmedicos.com/images/publicaciones/0907valvulopatias/insuficiencia_mitral.jpg Quando ocorre insuficiência mitral, a impedância ao esvaziamento ventricular ficará diminuída. Quase metade do volume de refluxo ocorre durante o que seria a fase isovolúmica do ciclo, ou seja, antes da abertura da valva aórtica. O grau de refluxo varia de acordo com o tamanho do orifício, com o nível do gradiente pressórico do VE para o AE e com a resistência vascular periférica. Haverá aumentos da pré e pós-cargas. A redução da contratilidade aumenta o volume do VE e por conseqüência do orifício mitral, aumentando o refluxo. A dilatação ventricular vai piorar o refluxo, que por sua vez gera maior volume ventricular, gerando um ciclo vicioso. A insuficiência mitral gerará uma hipertrofia muscular cardíaca compensatória. Causando uma compensação hemodinâmica que pode ser mantida por anos, antes que ocorra falência ventricular. Os índices sistólicos (fração de ejeção e fração de encurtamento) estarão inicialmente aumentados, passando a níveis normais ou abaixo do normal quando o paciente fica extremamente sintomático. Assim pacientes com IM aguda apresentam função ventricular normal ao Ecocardiograma, mas na verdade já apresentam déficit da função miocárdica. 75 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Assim disfunções leves ao ECO, devem ser consideradas como comprometimento grave da função miocárdica. Na insuficiência mitral severa haverá aumento do débito cardíaco total. No entanto, o débito efetivo que passa pela valva aórtica está diminuída. A capacidade funcional do paciente depende deste débito efetivo durante o exercício e não do volume regurgitante. As ondas de o pulso jugular venoso (vide anexo) estarão modificadas: A onda "a" atrial não é tão proeminente quanto à da estenose mitral. A onda "v" no entanto é muito importante. A onda "y" é de descida rápida na insuficiência mitral pura, sendo gradual com gradiente persistente durante a diástole quando existe estenose mitral concomitante. FIGURA 17 Fonte: http://www.medicinageriatrica.com.br/2007/10/09/ A crônica e contínua dilatação do VE acontece na IM grave, levando à elevação do estresse sistólico com conseqüente elevação dos volumes ventriculares e queda da Fração de Ejeção (FE). A função do VE é o mais importante preditor de 76 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 77 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores sobrevida nos pacientes portadores de IM grave, que se submeteram à correção valvar mitral. Os pacientes com FE maior que 60%, têm sobrevida de dez anos, em torno de 72,4%. Em contraste a sobrevida cai para 53,9% e 32,12% em pacientes com FE entre 50% e 59% e menor que 50% respectivamente. Além da FE, a idade avançada, a insuficiência renal, a hipertensão arterial sistêmica, e a doença coronária, são também preditores de mortalidade. Como a avaliação da função ventricular na IM é dificultada, por ser uma doença carga-dependente que facilita a ejeção ventricular e aumenta a FE, vários índices têm sido descritos como de utilidade para detecção precoce da disfunção cardíaca: o Volume Sistólico Final de VE e o diâmetro sistólico final VE. Estes dados isolados ou relacionados ao estresse sistólico de parede são largamente usados por serem independentes da pré-carga. Outro índice não invasivo, usado no acompanhamento de pacientes com IM, é a medida depressão do VE, feita pela dP/dt realizada pelo ecocardiograma. Uma dP/dt maior que 1.343 mmHg/s está relacionada com uma FE maior que 50% no pós-operatório, enquanto que se for menor que 900mmHg/s, estima-se uma FE menor que 50%. O átrio esquerdo também sofre alterações. Ele se dilata de acordo com a severidade do refluxo e com o grau de complacência e ainda consegue manter sua pressão e da artéria pulmonar normais. Como o VE, o diâmetro do AE também pode diminuir após a correção cirúrgica, desde que não se tenha dilatado exageradamente. O AE maior que 55 mm (medido pelo ecocardiograma) tem menos chance de se normalizar no pós-operatório e maior risco de desenvolver fibrilação atrial. Manifestações clínicas Ocorrerá evidente insuficiência cardíaca. O frêmito sistólico será palpável na região da ponta cardíaca. Na ausculta a primeira bulha estará inaudível ou acentuadamente hipofonética no foco mitral; haverá também sopro holossistólico no foco mitral e a segunda bulha estará hiperfonética no foco pulmonar com 78 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores desdobramento amplo e constante. Ocorrerá insuficiência mitral aguda associada ou não a processo isquêmico. Diagnóstico Ao ECG haverá sinais progressivos de sobrecarga atrial e ventricular esquerdas, com alterações da repolarização ventricular e fibrilação atrial. Na radiografia de tórax ocorrerá aumento acentuado da área cardíaca, com predominância das cavidades esquerdas, sinais de congestão venocapilar pulmonar e sinais de hipertensão pulmonar. Ao ecocardiograma ocorrerá: presença de jato regurgitante de grande magnitude; comprometimento progressivo da função ventricular sistólica; aumento significativo do diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo; inversão do fluxo sistólico em veia pulmonar; sinais de hipertensão pulmonar. O teste ergométrico pode avaliar a tolerância ao exercício e a função ventricular quando associado ao ecocardiograma e à medicina nuclear. O cateterismo cardíaco pode ser utilizado para afastar doença coronária e para fazer o diagnóstico quando houver discordância entre os achados clínicos e ecocardiográficos. Tratamento Em pacientes reumáticos deve ser feita profilaxia para doença reumática e para endocardite infecciosa, como em qualquer doença valvar. O uso de vasodilatadores irá diminuir a pré e pós-cargas e aumentar o inotropismo, reduzindo o fluxo regurgitante. A cirurgia deve ser indicada quando houver sinais de disfunção ventricular, porque se sabe que quanto maior a duração da disfunção, pior será o prognóstico. Quando a disfunção ventricular for grave, com FE menor que 40%, mas ainda com importante regurgitação mitral, pode ser que a correção valvar com plastia traga 79 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores algum benefício. Caso a tentativa de plastia seja descartada, levar em consideração o transplante cardíaco. É importante salientar que a cirurgia deve visar à melhora da qualidade de vida mais do que seu prolongamento, devendo ser indicada se o paciente tem sintomas. Os tipos de cirurgia que são usados até o momento são: A troca valvar mitral com e sem preservação do aparelho subvalvar, e a plastia mitral (técnica de escolha, pela menor mortalidade cirúrgica e pela não necessidade de anticoagulação). O sucesso cirúrgico do reparo valvar será maior nas valvas sem cálcio e com acometimento do folheto posterior. A escolha da prótese valvar nos casos de substituição depende de paciente para paciente, e deve seguir os critérios gerais usados para decisão entre metálica e biológica. Fatores como idade, sexo, fatores de risco para tromboembolismo e condições socioeconômico-culturais serão levados em consideração. As próteses metálicas são indicadas para os jovens, inclusive crianças, e nos pacientes que necessitam anticoagulação permanente devido à presença de fatores de risco para tromboembolismo, como FA crônica, átrio esquerdo muito aumentado e antecedente de fenômeno embólico. As próteses biológicas são indicadas para os idosos acima de 75 anos, nos pacientes sem fator de risco para tromboembolismo e nas mulheres em fase reprodutiva. FIGURA 18 Colocação de prótese valvar. Fonte: http://www.scielo.br/img/fbpe/rbccv/v14n2/n2a04f3.gif 80 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Prolapso da Válvula Mitral (PVM) Valvulopatia em que os folhetos mitrais frouxos e aumentados de volume prolabam ou distendem-se para trás e para dentro do átrio esquerdo durante a sístole. Essa doença valvular prevalece em 2,4% da população, sendo mais comum em mulheres na razão de 2:1. A insuficiência mitral grave, no entanto, é menos comum e atinge mais o homem idoso. Sua causa é desconhecida. Associações com outras síndromes são descritas: Síndrome de Marfan, S. de Ehlers-Danlos, Osteogêneses imperfeita, pseudoxantoma elástico, poliarterite nodosa, distrofia miotônica, S. de Von Willebrand, Hipertireoidismo, Doença de Ebstein, CIA tipo osteo secundum, Miocardiopatia hipertrófica. Há também um componente hereditário, manifestado por traço autossômico dominante. Está relacionada à pacientes com baixo peso corporal e baixa pressão arterial. FIGURA 19 A seta vermelha mostra o refluxo causado pelo prolapso valvar. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/02/Mitral_Regurgitation_scheme1.png/250px- Mitral_Regurgitation_scheme1.png 81 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 82 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Manifestações clínicas A maioria dos pacientes é assintomática, diversos sintomas inespecíficos como fadiga, palpitações e alterações posturais podem ocorrer, mas a correlação direta desses sintomas com o PVM não é clara. Queixas de síncope, pré-síncope, palpitações e desconforto torácico atípico podem acompanhar a sintomatologia. Na ausculta haverá um click, distinguível do ruído de abertura aórtico ao fonocardiograma por ocorrer após o pico do pulso carotídeo. Os clicks podem ser múltiplos, devido a uma distensão das cordoalhas da válvula prolapsada. O click pode ser seguido de um sopro telessistólico. Em geral a duração do sopro é proporcional ao grau de severidade do refluxo mitral, sendo tão mais grave quanto mais precoce o seu início. A taquicardia, a inalação de nitrato de amilo, a elevação do tronco e a fase de esforço da manobra de valsalva antecipam o click que fica menos audível e antecipam o sopro que fica mais audível. Já a bradicardia, a posição deitada, a elevação dos membros inferiores e após a manobra de valsalva o click é retardado ficando melhor audível e o sopro se reduz. Essas manobras servem para diferenciar este sopro. A endocardite infecciosa e a embolia são complicações desta cardiopatia. Diagnóstico O ecocardiograma fará o diagnóstico do prolapso e de sua gravidade. Tratamento A maioria dos pacientes não precisa de tratamento. Os sintomáticos tratam os sintomas com medidas farmacológicas e devemestar precavidos com possíveis infecções. Estenose Mitral (EM) Ela é o estreitamento da abertura da válvula mitral causando resistência a saída do fluxo sanguíneo. Sua principal causa é a doença reumática do coração. FIGURA 20 Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/abc/v83n3/21432f3.jpg Na estenose mitral reumática ocorre comprometimento das cúspides mitrais, com fusão das comissuras, por envolvimento das cordoalhas ou por um processo combinado entre essas três partes da estrutura valvar. As cúspides se fundem em suas bordas e a fusão das cordoalhas leva a espessamento e encurtamento das mesmas. Os folhetos vão apresentar espessamento fibroso e depósitos de cálcio. O espessamento e a rigidez dos folhetos poderão levar ao impedimento do fechamento da valva, diminuindo a 1º bulha e levando a insuficiência mitral conjugada. Acometendo as cordoalhas de forma importante pode haver insuficiência mitral. 83 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 84 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na estenose leve (redução de área até 2 cm2) o enchimento ventricular ocorre com um pequeno gradiente. Áreas inferiores a 1 cm2 são consideradas estenoses importantes, gerando gradientes de 20 mmHg e pressões médias de 25 mmHg no átrio esquerdo, para manter um enchimento ventricular normal em repouso. O aumento da pressão atrial esquerda leva ao aumento da pressão venocapilar pulmonar, que produz dispnéia aos esforços. As primeiras crises são ocasionadas por exercícios, stress emocional, atividade sexual, infecção ou surto de fibrilação atrial. Quando há taquicardia haverá diminuição do tempo de diástole, assim diminui o tempo de enchimento ventricular. Como conseqüência, ela vai elevar o gradiente atrioventricular e a pressão atrial esquerda. Isto prova a súbita descompensação de um paciente previamente assintomático durante um surto de fibrilação atrial aguda com alta resposta ventricular. Também prova a melhora clínica após a redução da freqüência cardíaca com uso de digital, beta-bloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio, mesmo que o fluxo mitral se mantenha constante. Pacientes com EM e ritmo sinusal apresentam a pressão média do AE aumentada e a curva apresenta uma onda "a" elevada e uma onda "y" com um declínio gradual. Nos casos de leve a moderado a pressão da artéria pulmonar (PAP) pode estar normal ou apenas pouco elevada. Em pacientes com EM grave ocorre aumento da resistência vascular pulmonar e aumento da PAP mesmo em repouso. A pressão diastólica de VE pode estar normal, mas pode estar elevada quando se associa com IM, Insuficiência Aórtica (IAo) ou Estenose Aórtica (EAo), doença miocárdica isquêmica, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) ou miocardiopatia. A hipertensão pulmonar será conseqüência da transmissão retrógrada passiva do aumento de pressão intra-atrial, da constrição arteriolar reativa e da obliteração do leito vascular pulmonar (complicação tardia da hipertensão). FIGURA 21 Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/2f/Mitral_stenosis,_gross_pathology_20G001 5_lores.jpg/190px-Mitral_stenosis,_gross_pathology_20G0015_lores.jpg Manifestações clínicas A dispnéia de esforço é um dos sintomas mais importantes, acompanhado por tosse e sibilos. A capacidade vital pulmonar estará reduzida, devido o engurgitamento dos vasos pulmonares e pelo edema intersticial. Pacientes com quadro mais grave, geralmente se queixam de ortopnéia e podem desenvolver episódios de edema agudo de pulmão. Em pacientes em que há elevação importante da pressão pulmonar, geralmente ocorre disfunção ventricular direita. A hemoptise poderá também ocorrer, a dor torácica do tipo anginosa não é freqüente, mas pode ocorrer em até 15% dos pacientes com EM. A embolia sistêmica é uma complicação importante, relacionada com 25% dos óbitos nos pacientes com EM. Pode haver êmbolos múltiplos ou recorrentes em pacientes com embolia sistêmica. A endocardite infecciosa tende a desenvolver em pacientes com estenoses mais leves e válvulas mais flexíveis e menos calcificadas. O pulso arterial pode estar reduzido em pacientes mais graves com volume sistólico já reduzido. O pulso venoso mostra uma onda a proeminente quando o ritmo é sinusal. Nos pacientes em fibrilação atrial o colapso x é substituído por um platô. Não há ictus proeminente. O choque da primeira bulha é sentido na presença de um folheto anterior ainda móvel. A segunda bulha pode se tornar única, na 85 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 86 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores estenose mitral pura não há terceira bulha. A ausculta pode apresentar também um ruído de abertura mitral, seguido de um ruflar diastólico, que é um sopro audível no ápice, de baixa freqüência e melhor audível na posição de decúbito lateral esquerdo. A intensidade do sopro não se relaciona com o grau de estenose, mas a duração é diretamente proporcional ao gradiente. Durante a contração atrial o sopro aumenta de intensidade imediatamente antes da primeira bulha. A inspiração reduz a intensidade tanto do estalido de abertura quanto do sopro. Ele aumentará de intensidade durante a expiração, ao se inalar nitrito de amilo e com a tosse. Sinais de insuficiência cardíaca grave surgem entre 5 e 10 anos do curso da doença. Diagnóstico Na radiografia torácica haverá aumento do átrio esquerdo que pode não estar diretamente relacionado à severidade da lesão. Geralmente, átrios esquerdos gigantes não estão associados à estenose mitral pura. Na lesão severa ocorrerão aumentos da artéria pulmonar, ventrículo e átrio direitos. Alterações pulmonares geralmente refletem a gravidade da lesão. Inversão do padrão de circulação pulmonar com edema intersticial e linhas B de Kerley significa obstrução grave. No ecocardiograma as novas técnicas propiciam avaliação não invasiva com grande segurança, excluindo o estudo hemodinâmico num percentual elevado de casos. O ecocardiograma transesofágico, permite melhor visualização e avaliação dos componentes morfológicos da válvula. O Doppler avalia a medida de gradiente, área valvar e pressão pulmonar. Alguns dados também podem ser analisados como: função ventricular, presença de trombo em átrio esquerdo, regurgitação mitral associada, lesões em outras válvulas cardíacas, assim como defeitos congênitos associados. O cateterismo é utilizado principalmente em homens com idade superior a 35 anos e às mulheres com mais de 40 anos ou em pacientes com suspeita clínica ou fatores de risco para doença coronária. Está indicado também quando houver discordância entre os achados clínicos e exames não invasivos e em alguns casos de hipertensão arterial pulmonar severa. 87 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Com o teste ergométrico avalia-se a capacidade funcional durante o exercício. Associa-se o ecodoppler ao teste ergométrico fazendo-se medidas em repouso e no pico do exercício. A estenose é severa se ocorrer aumento dogradiente transmitral acima de l5mmHg, da pressão sistólica da artéria pulmonar acima de 60mmHg e de média da pressão sistólica pulmonar acima de 30mmHg. Tratamento Devem-se evitar esforços extenuantes nos pacientes sintomáticos. A orientação quanto à profilaxia da endocardite bacteriana e profilaxia da doença reumática deve ser enfatizada. Anemia ou infecções devem receber tratamento agressivo. Os diuréticos vão ter excelente resposta para os pacientes sintomáticos. O digital não irá melhorar a hemodinâmica e não possui efeito benéfico no paciente em ritmo sinusal. Os beta-bloqueadores e antagonistas do cálcio irão reduzir a freqüência cardíaca, aumentando o tempo de enchimento diastólico, tanto em pacientes em ritmo sinusal quanto nos pacientes em fibrilação. Tratamento com anticoagulantes deve ser feito nos pacientes com passado de embolia sistêmica, fibrilação atrial, idosos, passado ou grande risco de Trombo Embolismo Pulmonar (TEP). A fibrilação atrial geralmente não consegue ser revertida ao ritmo sinusal somente com a medicação, sendo necessária a cardioversão elétrica. A cirurgia de escolha é a comissurotomia mitral a céu aberto, com o auxílio da circulação extracorpórea. Ela pode ser realizada por meio de incisão médio- esternal ou toracotomia ântero-lateral direita no quarto espaço intercostal direito. Durante o procedimento deve-se testar a valva quanto à presença de insuficiência pela injeção de solução salina no ventrículo esquerdo, com o coração batendo ou por meio da ecocardiografia transesofágica. O tratamento cirúrgico da estenose mitral tem sido muito satisfatório, com baixa morbimortalidade. A valvoplastia por balão é outra técnica de escolha em que um balão é colocado via transeptal no orifício mitral e inflado sob pressão. 88 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Pacientes com fibrilação atrial crônica, mesmo na ausência de trombo em átrio esquerdo, deverão obrigatoriamente receber anticoagulação oral pelo período de dois a três meses. Grávidas portadoras de estenose mitral com importante repercussão hemodinâmica têm indicação cirúrgica também. A incidência de morbimortalidade materno-fetal é menor que a do tratamento cirúrgico nesse grupo. A valvotomia mitral percutânea deverá ser realizada após a 12ª semana de gestação, devido ao risco de malformação fetal pela exposição aos raios X. Nas gestantes, devido à hipervolemia própria da gravidez, pacientes com área valvar variando de 1,3 a 1,4 cm2 podem estar com estenose mitral "relativa". O escore ecocardiográfico também não deve ser fator de contra-indicação porque o que se deseja neste grupo de pacientes é levar a gravidez a termo, de preferência até a 38ª semana. Pode acontecer uma complicação tardia que é a reestenose. Nos pacientes com idade igual ou inferior a 18 anos, a incidência de reestenose, é maior provavelmente devido a surtos de doença reumática repetitiva e na maioria das vezes subclínicos. A reestenose será mais precoce no grupo de pacientes com idade igual ou acima de 60 anos. Insuficiência Aórtica (IAo) Este tipo de patologia pode ter origem na válvula ou na artéria. Quando a origem é valvar a causa pode ser a doença reumática do coração. Neste caso as cúspides estarão infiltradas de material fibroso e com retração, havendo um encurtamento que impede sua coaptação completa durante a diástole. Quando houver fusão comissural associada haverá dupla lesão com estenose. O comprometimento mitral também pode estar associado. Outra causa é a calcificação aórtica senil no idoso que leva a estenose aórtica. Na endocardite bacteriana também pode ocorrer destruição das cúspides ou interferência na coaptação por uma vegetação, causando insuficiência valvar. No caso de trauma com lesão da aorta ascendente pode causar insuficiência aórtica por perda da sustentação das cúspides. 89 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Pacientes com comunicações interventriculares importantes e com estenose subaórtica membranosa pode ocorrer insuficiência aórtica progressiva. No caso de acometimento arterial as causas de dilatação da aorta ascendente, levando a insuficiência aórtica incluem: alterações degenerativas, necrose cística da média seja de forma isolada ou associada à síndrome de Marfan, dissecção aórtica, aortite sifilítica, osteogênese imperfecta, Espondilite anquilosante, Síndrome de Behcet, Artrite Psoriática, Artrite associada à colite ulcerativa, Policondrite recidivante, Síndrome de Reiter, Arterite de células gigantes e hipertensão arterial sistêmica, bem como algumas drogas anorexígenas. O aumento da pré e da pós-carga ocorre concomitante com a insuficiência, o que a diferencia da insuficiência mitral, onde basicamente ocorre aumento exclusivamente da pré-carga. Este aumento simultâneo, afeta a remodelação da câmara de VE com hipertrofia de componentes concêntricos e excêntricos. O refluxo aórtico será proporcional ao prolapso dos folhetos aórticos. Porém, quanto maior for à pré-carga e maior a freqüência cardíaca, menor será o refluxo, por redução da diferença de pressão e por redução da diástole respectivamente. Na crise aguda não a tempo para adaptação do músculo cardíaco ocorrendo aumento súbito da pré-carga. A taquicardia na descompensação aguda irá mascarar o sopro diastólico. A doença crônica e grave produzirá aumentos de massa cardíaca e de volume diastólico final, além de qualquer outra patologia que produza insuficiência cardíaca. FIGURA 22 A-Aortografia pré-operatória mostrando insuficiência da válvula aórtica. B- Pós-operatório. Fonte: http://www.rbccv.org.br/imagensRBCCV/01a05fig02.gif Manifestações clínicas A evolução clínica da insuficiência aórtica crônica irá depender da causa e do grau de refluxo da aorta para o ventrículo esquerdo. Na IAo crônica o paciente se mantém assintomático por longo tempo. Após a cardiomegalia e perda da função ventricular os sintomas desenvolvem-se. A dispnéia aos esforços, a ortopnéia e a dispnéia paroxística noturna desenvolvem-se gradualmente. A angina ocorre muito mais tardiamente. Antes do desenvolvimento da disfunção ventricular ocorre taquicardia ao stress ou esforço e desconforto relacionado aos batimentos cardíacos, especialmente após extra-sístoles. O movimento da cabeça relacionado com o pulso dos batimentos cardíacos é chamado de "sinal de Musset". O batimento cardíaco é audível nas artérias, levando a dificuldade na medição da pressão diastólica que deve ser marcada pelo apagamento do som de Korotchkov. A Pressão sistólica estará elevada, enquanto a diastólica estará bastante reduzida. Podem ocorrer vários sinais como: Müller - batimento da úvula; Duroziez - sopro audível na femoral, sendo sistólico se a artéria é comprimida proximalmente e 90 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 91 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores diastólico se a compressão for distal. ; Quincke - pulsação capilar visível ou na ponta dos dedos com auxílio de luz, ou nos lábios com auxílio de uma lâmina de vidro. O Ictus cardíaco estará difuso e hiperdinâmico, lateralizadoa esquerda e inferiormente. Na ausculta cardíaca a 1º bulha estará discreta e a 2º bulha pode estar inaudível. Um sopro causado pela ejeção pode estar presente devido o volume sistólico aumentado. A 3º bulha acontecerá, pois ela se relaciona com o aumento do volume diastólico final. Um sopro é audível por causa do refluxo e quanto maior a duração deste sopro mais grave é o refluxo. Este é melhor audível com o diafragma do estetoscópio e aumenta com o paciente sentado e expiração forçada. O sopro se reduz em situações que reduzem a pressão sistólica como na inalação de nitrito de amilo e na fase de esforço da manobra de valsalva. Ao contrário da Insuficiência Aórtica crônica a aguda, causa um quadro clínico catastrófico e exige tratamento rápido. Diagnóstico Ao ECG, na insuficiência aórtica aguda não há modificações, mas na crônica, encontra-se sobrecarga ventricular esquerda com desvio do eixo de QRS para a esquerda e alteração da onda T. A análise pode ser dificultada pelas modificações da onda T relacionadas ao uso de digital e de diurético. A onda P costuma estar normal, e em casos mais graves podemos observar sinais de sobrecarga atrial esquerda. Na radiologia, a insuficiência aórtica aguda tem área cardíaca normal. Dependendo da causa, são visualizados sinais de congestão pulmonar, pela baixa capacidade de adaptação do ventrículo esquerdo. Já na insuficiência aórtica crônica importante, encontra-se cardiomegalia à custa do ventrículo esquerdo. Há dilatação da aorta sugerindo aortopatia. Aumento do átrio esquerdo e retificação do arco médio podem indicar lesão mitral associada. O ecocardiograma é importante para identificar o grau de insuficiência aórtica e se a lesão está ao nível da valva ou na raiz da aorta. Os aspectos morfológicos da valva, presença ou não de vegetação facilitam o reconhecimento da 92 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores endocardite infecciosa, da dissecção da aorta, de prolapso com degeneração mixomatosa. A função ventricular também é avaliada com este equipamento. O eco transesofágico complementa em casos duvidosos. Outros exames de utilidade diagnóstica incluem: ventriculografia radioisotópica, ressonância magnética e a tomografia computadorizada. O cateterismo estará indicado na avaliação pré-operatória das artérias coronárias ou quando os exames clínicos e laboratoriais deixarem dúvidas quanto ao diagnóstico e ao grau de regurgitação da aorta para o ventrículo esquerdo. A aortografia permite o diagnóstico de aortopatia, principalmente quando há suspeita de aneurisma ou dissecção. Tratamento Quando há aumento da cavidade ventricular ocorre rápida progressão da doença e aparecimento de sintomas, então haverá indicação cirúrgica. É importante salientar que uma vez ultrapassada a fase ideal de correção anatômica da insuficiência aórtica, quando, à sobrecarga hemodinâmica, ultrapassará o dano causado ao miocárdio, ficará limitado o benefício que o paciente poderá ter com o tratamento cirúrgico. Lesões da Valva Pulmonar Estenose Pulmonar Causada pelo estreitamento da válvula ou do canal que vai do lado direito do coração até os pulmões. Sua forma mais comum é a congênita, vista no item A deste módulo. Quando há acometimento reumático este não chegará a levar a uma deformidade importante e este nunca acontecerá sem o envolvimento de outras valvas. Outra causa da estenose nesta válvula são depósitos de placas carcinóides na via de saída do VD, similares as que acometem a valva tricúspide, levando a estenose pulmonar ou a estenose como refluxo. No aneurisma do seio de valsalva e na presença de tumores cardíacos pode ocorrer obstrução extrínseca do aparelho valvar levando a estenose pulmonar. FIGURA 23 Fonte: http://www.scielo.br/img/fbpe/abc/v69n3/3721f5.jpg Insuficiência Pulmonar A dilatação do anel valvar devido à hipertensão pulmonar de qualquer causa ou secundária a dilatação da artéria pulmonar seja idiopática, ou seja, como conseqüência de distúrbios do tecido conjuntivo como na Síndrome de Marfan são as principais causas da insuficiência pulmonar. A segunda causa mais comum é a endocardite infecciosa. Ela também pode ter origem iatrogênica, como conseqüência do tratamento da estenose pulmonar ou da tetralogia de Fallot. Malformações congênitas podem ocorrer levando a insuficiência pulmonar por ausência da valva, fenestração ou por válvulas supranumerárias. A insuficiência pode vir isolada ou associada de outras más formações, como a tetralogia de Fallot, a CIV e a Estenose 93 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 94 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Pulmonar. Outras causas, mas menos comuns, são: doença reumática, carcinóide, trauma sífilis e acidentes de cateter. A patologia isolada pode ser assintomática por muito tempo ou até o surgimento de uma complicação ou o aparecimento de hipertensão pulmonar. Os digitálicos são indicados no controle da Insuficiência Ventricular Direita. Trata-se a condição primária, pois o tratamento direto da valva pulmonar insuficiente é raramente necessário. Lesões da Valva Tricúspide Estenose Tricúspide Sua causa, na maioria das vezes, tem origem reumática. Outras causas são: atresia tricúspide, tumores atriais e síndrome carcinóide, que mais freqüentemente causa insuficiência tricúspide. Causas menos comuns de estenose tricúspide são: endomiocardiofibrose, vegetações da tricúspide ou tumores extracardíacos. Quando a causa é reumática ela estará acompanhada da estenose mitral, sendo muito raro ocorrer de forma isolada. Normalmente a valva aórtica também estará envolvida, este tipo de doença valvar é raro e a maioria das vezes, é acompanhada de regurgitação tricúspide. A congestão venosa sistêmica é capaz de causar um pequeno aumento no gradiente transvalvar, distensão jugular, edema e ascite. Em pacientes com ritmo sinusal a onda "a" do pulso atrial está elevada, chegando ao nível da pressão ventricular. FIGURA 24 Fonte: http://www.rbccv.org.br/imagensRBCCV/21-3-05-figura2b.jpg Manifestações clínicas Os sintomas mais comuns são: dispnéia aos esforços e sinais de anasarca (sinais de congestão venosa e edema). Alguns pacientes apresentam queixa de sensação de batimentos no pescoço causada pela onda “a” aumentada do pulso venoso jugular. Se houver sinais clínicos de estenose mitral, estes estarão mascarados pela redução do fluxo pulmonar. Então a ausência de sinais e sintomas de congestão pulmonar num portador de estenose mitral leva a suspeita da presença de estenose tricúspide. A ausculta será semelhante à ausculta da estenose mitral, fica difícil seu diagnóstico. 95 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Anexo: Explicação do significado de Pulso Jugular Venoso Todo o fluxo sangüíneo que chega ao átrio direito transmitirá sua pressão de forma retrógrada sobre as veias do pescoço. Na veia jugular interna percebemos a curva de onda venosa, por esta ser calibrosa e não possuir válvulas. Alterações cardiorrespiratórias
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