Buscar

Quilombos na Terra de Ninguém. UM Estudo Etnologico sobre os Pretos da Amazonia Setentrional

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA (CEFET)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Thiago de Barros Espíndola Amaral
Elementos Iniciais da Pesquisa: 
Protestantismo Quilombola: Magia, Secularismo e Racionalização – Um estudo Etnometodológico
Trabalho apresentado ao programa de Mestrado de Ciências da Religião a Profª Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
São Paulo
2016
Objetivo Geral:
Descrever e analisar através de um estudo Etnometodológico as implicações da inserção do Protestantismo na comunidade quilombola do Quilombo do Mel da Pedreira. 
Objetivos Específicos:
Primeiramente fazer um levantamento bibliográfico sobre a Etnometodologia e sua contribuição como método de pesquisa sobre determinada sociedade. Após essa análise e adoção do método a ser adotado com o material de campo, discorrer sobre a história do negro no estado do Amapá e a inserção do protestantismo em meio a comunidades de remanescentes quilombolas e se com isso poderíamos observar o Paradigma da Secularização proposto por Max Weber dentro deste, o Desencantamento do Mundo, usando como referencial bibliográfico as obras de Max Weber, Antônio Flávio Pierucci, Marcelo Camurça, Wolfgang Schluchter, Gabriel Cohn e Carlos Sell. 
Também brevemente será apresentado a pesquisa sobre as comunidades quilombolas brasileiras, para que o leitor seja apresentado ao conceito acadêmico das comunidades quilombolas. 
Somado a este ponto, será realizada visitas e pesquisas in loco para que seja estabelecido um panorama entre da religiosidade do quilombo do mel, com o propósito de contrastar a religiosidade anterior a inserção do protestantismo com religiosidade desenvolvida após a inserção do protestantismo. 
Problematização:
Primeiramente é necessário estar no campo a ser pesquisado, conviver e observar os valores e símbolos adotados pelo povo a ser estudado. A etnometodologia fornece as ferramentas e materiais, rústicos, rudes e muitas vezes intuitivos entregues ao pesquisador para que este os refine e os faça práticos. 
Segundo ponto a ser compreendido é a necessidade de se registrar as percepções obtidas, a fim de que academicamente sua hipótese possa ser tida como viável ou não. A descrição do campo de pesquisa e da religiosidade ali compreendida pode em seu arcabouço, nem que seja mesenquimático, os paradigmas propostos neste campo de estudo. 
Uma reflexão para esclarecer como Entzauberung der Welt é usado por Weber na construção do conceito. “O fato é que Max Weber construiu um conceito muito mais que um simples termo. Melhor seria Desenfeitiçamento do mundo. Melhor traduzido por mecanismo de desendivinamento do mundo. (PIERUCCI, 2005, p.31)”
Percebe-se que por desencantamento pela religião tem se tomado como um termo absoluto, amplo e definitivo. Dificilmente pode-se esperar encontrar na comunidade do Quilombo do Mel uma religiosidade completamente desencantada pela religião e uma sociedade completamente racionalizada. 
Para tanto, devemos adicionar o trabalho de campo, onde a observação e as entrevistas com alguns membros da comunidade permite estabelecer os traços etnográficos necessários para a conclusão do assunto. 
Assim sendo a princípio é necessário observar se podemos perceber algum traço que indique que o mecanismo de desencantamento foi acionado nesse grupo e se algum elemento de sua religiosidade protestante entrou em confronto com a anterior. 
 
Hipótese:
Analisar se o Desencantamento pela Religião como fator associado ao protestantismo Ético é percebido na Religiosidade Protestante inserida no Quilombo do Mel. Se a religiosidade mágica e a presença dos feiticeiros foram suprimidas dessa comunidade de maneira que o mecanismo de desencantamento possa ser percebido em algum estágio nessa comunidade. 
 Relevância:
O estudo de comunidades minoritárias é uma causa urgente. Com a abrangência global do conhecimento, cultura de massa e da tecnologia essas comunidades podem perder suas características principais dentro de pouco tempo. 
A possibilidade de pesquisar uma comunidade que até recentemente era isolada e praticava a religiosidade mágica por séculos e após isso tem o protestantismo ascético inserido de maneira imediata é um campo precioso e necessário para a hipótese do desencantamento da religião, uma vez que se pressupõe que o desencantamento pela ciência não antecedeu a aquele. 
Referencial Teórico:
O Referencial Teórico adotado será as obras de Max Weber no que se referem ao Desencantamento e Religião. Seus principais estudiosos brasileiros também serão utilizados seus estudiosos como Antônio Flávio Pierucci, Marcelo Camurça, Wolfgang Schluchter, Gabriel Cohn e Carlos Sell. 	Comment by Thiago Amaral: Preciso melhorar e atualizar isso.
Metodologia:
Basicamente a linha metodológica será a Etnometodologia, permitindo compor um retrato do Quilombo do Mel da Pedreira. Em um primeiro seguirá o levantamento e pesquisa bibliográfica sobre a Etnometodologia, o Desencantamento nas obras de Weber e também sobre a identidade Quilombola. 
Revisão de Literatura:
O Desencantamento do Mundo é um assunto um tanto quanto controverso. Parte desta controvérsia se deve a dificuldade na própria compreensão do termo proposto por Weber. Antônio Flávio Pierucci em seu trabalho de livre docência posteriormente publicado faz um competente trabalho de elucidação. Parte da dificuldade se deve ao conhecimento parco das obras de Weber na academia brasileira, que aparentemente demonstra maior interesse aos textos de Durkheim. 
Também nos textos abordados, como O Pensamento de João Calvino e a Ética Protestante escrito por Antônio Araújo Maspoli é outra ruptura com o senso comum que atribui a teologia de Calvino a origem do texto de Weber mas conhecido popularmente no Brasil. 
Há de se considerar os trabalhos que não reconhecem ou questionam o processo de racionalização e defendem a criação de um protestantismo mágico a brasileira, descrevendo a presença de elementos mágicos na fé protestante como a obra Protestantismo Rural – Magia e Religião convivendo pela fé de Lídice Meyer Pinto Ribeiro. 
Um importante trabalho sobre o Quilombo do Mel, ainda não publicado é a Tese de Mestrado apresentado nesta universidade por Ana Kelly de Vasconcelos Franklim de Souza com o título Mel da Pedreira: um quilombo protestante na Amazônia Brasileira. Neste trabalho é feito um competente trabalho etnográfico sobre o Quilombo do Mel.
Roteiro Provisório: 
Protestantismo Quilombola:
Magia, Secularismo e Racionalização – Um estudo Etnometodológico. 
Introdução:
O campo religioso brasileiro é vasto. Tal vastidão pode pressupor uma aparente pluralidade mas essa pluralidade não se reflete nos dados do questionado censo de 2000. Embora questionado, demonstra que a esmagadora maioria dos que se declararam religiosos se declararam cristãos. Portanto é melhor falar em diversidade em meio ao cristianismo brasileiro. 
Parte da pluralidade brasileira é percebida na existência das comunidades quilombolas. Grupos de pessoas geralmente de ancestralidade africana que vivem em comunidade rurais de subsistência. A característica que interessa a essa pesquisa é o traço cultural ligado a religiosidade do Quilombo do Mel. Tal comunidade tem sido objeto de pesquisa ultimamente devido ao fato de até o momento ser a única comunidade que aderiu ao protestantismo da Igreja Presbiteriana do Brasil. 
Sabemos que o Presbiterianismo brasileiro foi implantado por missionários americanos influenciados pelo movimento puritano decorrente da reforma protestante. 
Sobre essa ética puritana e seu ascetismo é que Max Weber lança seu olhar sobre o que em nosso idioma foi traduzido como Desencantamento do mundo e sua consequente secularização. 
Responder se com a assimilação do presbiterianismo a visão mágica de mundo do africano herdada pelos quilombolas foi racionalizada e deste estudo etnográfico poderíamos demonstrar queascetismo puritano pode ser percebido na religiosidade quilombola.
Capítulo I: Etnologia do Protestantismo Quilombola. 
I.I Considerações Gerais. 
O primeiro contato com a selva amazônica é indescritível. Para um pesquisador que sai em uma madrugada fria do interior de São Paulo, durante o voo começa a relembrar as aulas de Estudos Sociais da longínqua infância. O professor mostrava o mapa do nosso país e dizia que a região sudeste tinha o relevo mais acidentado, depois passava-se pelas planícies da região Centro-Oeste e indo ao noroeste encontrava-se a floresta amazônica. 
Não por poucas vezes chamada de inferno verde, pulmão do mundo e fronteira agrícola nos anos politicamente incorretos da década de 80 do século passado. 
O senso comum é de que a floresta abre espaço para a civilização. Ainda da janela do avião e no próprio aeroporto de Belém, a primeira escala, vemos uma mata fechada que foi rasgada para que ali se formasse uma cidade. 
I.I Considerações sobre a Etnologia. 
O uso da etnologia é uma das marcas do interacionismo simbólico e da sociologia de Weber. Ao propor uma análise etnográfica, parte-se do aspecto fenomenológico já adotados na cultura analisada em questão e os valores já socialmente aceitos e pertencentes ao senso comum. Ao pesquisador, não cabe emitir valores ou colocar os valores da sociedade observada em juízo. Observamos isso quando vemos a definição “é um estudo de significado da "vida diária". É uma postura/posição metodológica que se opõe aos modos tradicionais de manipular os problemas de ordem social (essência vista "de fora"), colocando que ela se cria na própria interação, sendo uma forma nova de apreender a realidade, sabendo que nenhuma delas consegue apreendê-la totalmente” (BRAGA, 1988).[1: BRAGA, C. M. L. A etnometodologia como recurso metodológico na análise sociológica. Ci. Cult., v. 40, n. 10, p. 957-66, out. 1988.]
Durante esse processo de investigação, deve-se analisar não somente o que é apresentado, mas também os aspectos a princípio não apresentados de maneira que o convívio e observação permita o pesquisador elaborar respostas satisfatórias as indagações. Há um universo explicitado e um universo a ser conhecido. 
O pesquisador deve levar em consideração como já dito anteriormente o universo cultural e a simbologia e sistema de valores do locus da pesquisa e não atribuir sobre sua pesquisa uma segunda cultura como referencial sobre a analisada. A história de vida e as narrativas orais e valores simbólicos, devem ser consideradas sobre este prisma e tão somente este. 
A construção desta metodologia, obrigatoriamente nos leva a compreender a cultura segundo propõe a chamada Escola de Chicago e por conseguinte a definição de Robert Ezra Park ““consiste naqueles hábitos, em indivíduos, que se tornam costumeiros, convencionais e aceitos na comunidade”. [2: Cherrington Hughes, Everrett (1950). Race and Culture - The Collected Works of Robert Ezra Park (New York: The Free Press). p. 3. ]
Embora Park se debruce sobre o homem urbano do sec. XX ele introduz o conceito de atores sociais como fonte objetivas e primárias da pesquisa. O palco pode ser considerado o mesmo, mas são esses atores que conseguem traduzir em suas narrativas os dramas e dilemas de sua sobrevivência, o que é ou não socialmente aceito. 
É certo também que o mundo hoje globalizado impõe ontologias sobre o indivíduo que em determinadas ocasiões pode produzir um segundo personagem, ou personagem de transição, de maneira e modo que a cultura que este está inserida pode em um movimento fagocitário inserir elementos de culturas distintas, porém, mantendo o valor simbólico conferido pela sociedade em que está inserido. 
Dessas considerações, embora o “ator social” objeto e depoente da pesquisa sejam alguns indivíduos oferecidos pela sociedade em análise, neste caso o Quilombo do Mel da Pedreira e mais especificamente o o sr. Manoel Alexandre de Souza Ramos e o sr. Osvaldino (COLOCAR O NOME COMPLETO) há o elemento de coletividade sobre a construção e fator determinante da cultura e da própria narrativa compartilhada. Nisto vemos por exemplo a definição de Bernardi: "o anthropos, ou seja, o homem na sua realidade individual e pessoal; o ethnos, comunidade ou povo entendido como associação estruturada de indivíduos; o oikos, o ambiente natural e cósmico dentro do qual o homem se encontra a atuar; o chronos, o tempo, condição ao longo do qual, em continuidade de sucessão, se desenvolve a atividade humana". (BERNARDI 1974) [3: BERNARDI, B. Introdução aos estudos etno-antropologicos: perspectivas do homem. São Paulo: Edições 70, 1974. p. 50-61. ]
Estes aspectos apresentados denunciam que a etnografia, ou etnometodologia não consegue abranger todos os aspectos de uma determinada cultura, pois a formação da cultura é viva, dinâmica e o que obtemos da pesquisa de campo é um retrato, um quadro de uma grande película já em andamento e que continua a percorrer e modificar seu curso ainda quando o pesquisador começa a fazer seus primeiros rabiscos em seu caderno de anotações. Sempre é descrevida a imagem do que já se passou. 
Desta maneira devemos salientar que embora empiricamente a etnografia se construa ela não toma as proporções de um experimento exato, passível de colaborações e postulações de teoremas ou formulas pois enfrenta a barreira da realidade. 
Realidade no escopo deste trabalho, termo que não será usado no sentido da realidade nas disciplinas associadas a ética, sim no aspecto da construção do que é a realidade para o indivíduo e sua sociedade. 
Este debate abrange diferentes meandros como percepção de riscos, metas de resultados entre outros que não são o mérito desta pesquisa. Aqui entenderemos e nos aproximaremos do conceito que a realidade é a manifestação cultural de determinado grupo, tende mais ao conceito algo selvagem, instintivo em que se tenta domesticar, e a percepção deste aspecto como propõe Malinowsky em seu estudo sobre a sexualidade. [4: MALINOWSKY, B. Sex and repression in a savage society. London: Routledge e Kegon, 1953.]
Deste conceito, embora a sexualidade não seja assunto desta pesquisa, mas deste conceito de “domesticar o selvagem” (caro orientador usar este termo pode soar pejorativo ou dificultar a compreensão?) é que constrói-se a etnografia, observando uma comunidade, entrevistando indivíduos específicos, que construíram como cultura sua compreensão da realidade.
I.III O Pesquisador e o Campo.
O campo de pesquisa é fascinante e este fascínio pode prejudicar a mesma. Como proceder e o que fazer no campo são dúvidas em que aparentemente como solução e proposta metodológica da Antropologia Cultural. A observação segundo postula Herskovits parece ser o maneira de melhor alcançar o objetivo da pesquisa. [5: HERSKOVITS, M. J. Antropologia cultural: o homem e seu trabalho. São Paulo: Mestre Jou, 1963.]
O trabalho de campo é uma condição necessária para que em primeira pessoa seja construída a relação entre a cultura estudada e a cultura dominante. Em um primeiro momento o pesquisador sempre é tido como um visitante um estranho em meio a tribo e para superar tal barreira é preciso ser “permitido” ao grupo, assim, ao conduzir sua pesquisa, “por este facto, e no âmbito de uma investigação educativa, o comportamento deve ser contextualizado, pois as características únicas dos fenómenos em estudo tornam-nos impossíveis de repetir (Arnal et al., 1994).” [6: ]
Para que o grupo permita a figura do pesquisador é preciso que este não seja assimilado por aquele como avaliador ou inquisidor da cultura. É preciso, novamente segundo Herskovits tato para conquistar a confiança do grupo.[7: HERSKOVITS, M. J. Antropologia cultural: o homem e seu trabalho. São Paulo: Mestre Jou, 1963. p. 104.]
Cabe primariamente, como já mencionado, ao pesquisador elaborar e conceituar o sistema de valores da cultura estudada, sempre estratificada e assim, assumir a responsabilidade de compor registros em linguagem acadêmica em alguns casosde grupos minoritários, talvez em via de extinção.
O pesquisador cônscio de que faz parte do fenômeno por, nunca é alheio a este. Vemos esta tese, embora em âmbito educacional, melhor elaborada nas palavras de Santos: “A captação desta realidade complexa, dinâmica, interactiva, é um desafio para qualquer investigação educacional (Santos, 1999, 2002).” [8: ]
Parte deste trabalho é atribuir pela observação e convívio com o grupo pesquisado elementos informação capazes de serem destilados em um elemento de compreensão para cultura hegemônica. 
I.IV Metodologia.
Compor um estudo Etnográfico estende-se além da composição de um diário de viagem. A observação de uma determinada cultura ou grupo sempre nasce de uma questão ou de uma hipótese a ser comprovada. A formulação de um relatório etnográfico envolve a redescoberta do problema, ou a reelaboração da hipótese.
Quando dirigimos ao campo da pesquisa, ainda desconhecido, a problematização estende aos limites dos dados já coletados por outros pesquisadores. Há de se considerar neste trabalho, como referência a pesquisa da colega Ana Kelly de Vasconcelos Franklim de Souza – “Mel da Pedreira: Um Quilombo Protestante na Amazônia Brasileira”, os textos do Dr. Antonio Máspoli de Araújo Gomes além de suas importantes pesquisas em andamento. 
O campo de pesquisa é surpreendente e ao pesquisador como já dito anteriormente é necessário “tato”, para poder coletar seu material e também não ferir os costumes locais. Um hábito de não tirar os calçados antes de entrar em alguma casa é no campo considerado uma falta de zelo com a manutenção da higiene do local.
Embora rudes e em muitos aspectos primitivos, a etnometodologia fornece os equipamentos necessários para se compor a etnografia de determinado povo. Encontra-se metodologias mais refinadas como a de SPRADLEY porém esse refinamento não é absorto, antes detém as impurezas, confere polimento e brilho sobre equipamentos ideológicos. [9: SPRADLEY, J. The ethnographic interview. Forth Worth: Hancourt Brace Jovanovich College, 1979.]
Assim deste aspecto, preferimos o método Qualitativo, como proposto por LÜDKE & ANDRÉ (1986) conhecido como método qualitativo tem sido em muitos aspectos utilizado erroneamente como sinônimo de etnografia, porém não o é, na realidade é um instrumento para composição desta.  Conveniente seria explicitar que algumas dificuldades que encontramos neste método, até por sua aparente rusticidade e as elaborações incorretas sobre os substantivos e conceitos por ele utilizado além da presença do pesquisador sine qua non.[10: LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. - Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, E.P.U., 1986.]
Devemos ter em mente que a “pesquisa qualitativa é multimetodológica quanto ao seu foco, envolvendo abordagens interpretativas e naturalísticas dos assuntos. Isto significa que o pesquisador qualitativo estuda coisas em seu ambiente natural, tentando dar sentido ou interpretar os fenômenos, segundo o significado que as pessoas lhe atribuem (DENZIN & LINCOLN, 1994, p.2).” Simploriamente, não no sentido pejorativo do termo, devemos seguir os passos propostos por Ludke & André: Exploração, Decisão e Descoberta. [11: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. - Handbook of qualitative research. London, Sage Publication, 1994. 643p]
Considerando que que a comunidade que se dirige essa pesquisa, não possui vasta documentação para análise, é necessário que se siga a entrevista dos indivíduos, pois somente a observação também não consegue fornecer sustentáculo para composição deste estudo etnográfico. Haguette (1997) define entrevista como “um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”[12: ]
O que deve ser perguntado é umas das indagações do pesquisador. Compor um estudo Etnometodológico após a etapa da Exploração com as definições do que quer ser analisado, os contatos para entrada no campo e a busca de melhor conhecer os fenômenos e como isso conduzirá as novas indagações há de se considerar a pessoa a ser entrevistada. 
Bourdieu (1999), sugere zelo ao elaborar as perguntas, para que estas não sejam absurdas, arbitrárias, ambíguas, deslocadas ou tendenciosas. Ouvir e respeitar o raciocínio e a lógica do entrevistado, com perguntas oportunas a este método, farão que este relembre parte da sua vida e compartilhe suas memórias. Destas narrativas novas hipóteses podem surgir e algumas podem ser descartadas. [13: ]
Passada tal etapa surge a da Decisão. A pesquisa deve ser elabora sobre que critérios e se o material documental oferecido é suficiente ou não. Como proceder com os dados obtidos em entrevista – indagações que requerem como resposta o modelo de Entrevista Aberta. O mérito da Decisão não reside apenas na metodologia, mas na relevância conferida a interação verbal e não verbal entre as partes envolvidas. Assim, de maneira sistematizada, confere relevância a “forma e conteúdo da interação verbal dos participantes; Forma e conteúdo da interação verbal com o pesquisador; Comportamento não verbal e padrões de ação e não ação”. Wilson (1977)[14: ]
Assim partimos para o complexo processo entre ouvir, racionalizar e escrever. A vivência junto ao grupo pesquisado permite a orientação, a princípio rude, mas com o passar adquire mais refinamento. 
Em tempos de precisão digital e de amplas informações e escassas formações um dualismo cultural e diacrônico instalado e perpetuado pela dialética marxista e engleliana a luta do negro nas narrativas observadas se mistura em muito com os discursos de classe como se a escravidão fosse restrita a uma condição econômica apenas. 
A luta Quilombola envolve muito mais do que os arquétipos “palmarianos” da resistência de classe oprimida. O Quilombola não é o negro descendente de escravo apenas. Hoje ele é um cidadão com as garantias constitucionais e amparado pelos projetos de auxílio a grupos minoritários. 
O escopo desta pesquisa é a religiosidade deste grupo, e decidir o que é ou não religiosidade na construção da visão de mundo de um remanescente quilombola que ultrapassa o animismo da religiosidade afro-brasileira para o ascetismo protestante é uma tarefa muito grata. 
Falamos de um grupo que não construiu suas bases na história do cristianismo ocidental, desconheceu o estado laico, o racionalismo, iluminismo e outros grandes movimentos que levaram a sociedade ocidental ao curso que toma hoje mesmo no fim do mundo, nossa américa não tão americana, latino-americana termo cunhado pela diplomacia francesa.
 A difusão cultural pulou algumas ondas, como os antigos discos de vinil faziam, e o protestantismo foi abraçado e assimilado com o mesmo afinco que os aborígenes abraçam instrumentos metálicos oferecidos em seu primeiro contato com a civilização ocidental. Em ambos os casos se oferece simplesmente de maneira instantânea a evolução humana de séculos, da idade da pedra para era do metal, do animismo para protestantismo.
Disto percebe-se a incapacidade de um modelo de pesquisa com entrevistas fechadas. Há mais nuances que não se encaixam em respostas objetivas ou direcionadas. Entrevistas abertas são mais capazes de se abordar o fenômeno pesquisado. Porém o Modelo Qualitativo aqui apresenta sua primeira limitação, se tomado como molde mecânico. 
Neste ponto deve-se observar a proposta de Martins e Bicudo (1989) no que diverge da concepção de Ludke e André. Para aquele o pesquisador lida com fenômenos, que assim os define:[15: MARTINS, J., BICUDO, M.A.V. A pesquisa qualitativa em Psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Educ/Moraes, 1989]
O significado de fenômeno vem da expressão grega fainomenon e deriva-se do verbo fainestai que quer dizer mostrar-se a si mesmo. Assim, fainomenon significa aquilo que se mostra, que se manifesta. Fainestai é uma forma reduzida que provém de faino, que significa trazer à luz do dia. Faino provém da raiz Fa, entendida como fos, quequer dizer luz, aquilo que é brilhante. Em outros termos, significa aquilo onde algo pode tornar-se manifesto, visível em si mesmo. (...) Fainomena ou fenomena são o que se situa à luz do dia ou o que pode ser trazido à luz. Os gregos identificavam os fainomena simplesmente como ta onta que quer dizer entidades. Uma entidade, porém, pode mostrar-se a si mesma de várias formas, dependendo, em cada caso, do acesso que se tem a ela. (Martins e Bicudo, 1989; p.21-2)
Quando se entrevista, a decisão de lidar com fatos se amparar que não há fatos concretos e nem realidade concreta. Isso não pode ser encarado como demérito para o entrevistado pois o que ele compartilha é um fenômeno que ele percebeu dentro de uma “realidade” que já passou por várias outras “realidades” ao longo de sua vida. 
Aqui não há um princípio que confronta a outro, embora nas academias se formam escolas sobre esses expoentes cremos neste trabalho ser melhor uso das ciências para composição de um registro mais digno e viável. 
Neste momento, o fenômeno abordado é ruminado, para após isso ser tematizado. Tematizar seria “por de forma estabelecida, localizada, um assunto ou tópico sobre o qual se vai discursar, dissertar ou falar seriamente." (Martins e Bicudo, 1989; p.76)[16: ]
Um estudo Etnográfico impõe novamente o princípio da incerteza. Poder-se-ia relembrar metaforicamente do Princípio da Incerteza de Heisenberg e em uma rustica analogia observar que o método apenas “desenha” em traços subatômicos a trajetória desta energia. Sendo este um estudo direcionado a religiosidade, como dito anteriormente, ainda nessa metáfora iremos dedicar maiores detalhes neste aspecto. 
Nisto se resume o corpo da Decisão diante de vasto campo, selecionar sobre essa direção elementos da pesquisa que permitam compor a hipótese levantada. 
Surge a etapa da Descoberta. Esta é a etapa que não seguiremos estritamente o método qualitativo. O método qualitativo precisa aqui ser considerado em partes com um olhar diferenciado sobre o mesmo e não aplica em seu conceito para pesquisa na Educação.
Não podemos esquecer que os próprios autores já afirmaram, supracitado que o modelo qualitativo não é sinônimo de Etnometodologia. Sobre a Etnometodologia a descoberta pode ser alcançada de diferentes formas. 
Nenhum dos Métodos consegue chegar a dados empíricos e objetivados com precisão. A descoberta acontece de maneira que a os fenômenos são tematizados. É conseguir alcançar a precisão sem tirar ou colocar nada do que necessário, é fazer uso correto do conceito "Zu den Sachen selbst."
MOURA (1989) elabora o raciocínio amparado na necessidade da investigação, como vemos:[17: ]
"O zu den Sachen selbst significa zu der Erkenntnis selbst, nem mais nem menos. E as Investigações não deixam dúvida quanto a isso, quando indicavam que a desejada 'claridade filosófica' em relação às proposições lógicas era obtida através da evidência sobre a essência dos modos de conhecimento (Erkenntinisweise), que desempenham um papel na efetuação dessas proposições. O 'retorno aos objetos' não é assim senão o retorno aos atos através dos quais se tem um conhecimento dos objetos."(Moura, 1989; p.22)
Imediatamente não conseguimos chegar ao objeto. Conhecemos o acidente, mas o objeto claramente não. Para alcançar alguma descoberta há a necessidade de se ponderar como o conhecimento é estabelecido. Tradições orais são neste ponto consideradas modo de se chegar ao conhecimento em sua essência. 
Portanto tais narrativas devem obter uma lógica aceitável. Essa lógica se dá através do axioma “começo, meio e fim”. A narrativa em um estudo etnográfico deve se balizar neste pressuposto para que a descoberta possa ser plausível. 
Dados estatísticos são válidos, porém nesta pesquisa há de se ponderar com maior dedicação sobre a verossimilhança entre o material obtido. 
As entrevistas embora abertas possuem a mesma direção e buscam as mesmas proposições. Estas proposições compreendidas no sentido lato do termo de maneira que possamos descobrir o processo como se deu o fenômeno.
Não pretendemos burlescamente adentrar no mérito psicológico do fenômeno e seus processos e objetos. Porém há de se considerar “o como, quando, e para o quê” os atos conduziram ao objeto, assim compreende-se a melhor maneira de se tratar o material coletado e neste trato há pinceladas de subjetividade por aquele que registra e escreve o que foi dito conforme:
(...) pode-se dizer que só haverá Ciência Humana se se visar à maneira pela qual as pessoas, ou grupos delas, representam as palavras para si mesmas, utilizando suas formas de significados; como elas compõem discursos reais; como revelam ou ocultam neles o que estão pensando ou dizendo, talvez porque o que dizem seja desconhecido para elas mesmas; como revelam mais ou menos o que desejam. Mas, de qualquer maneira, as pessoas ou o grupo de pessoas deixam um conjunto de traços verbais dos pensamentos que devem ser decifrados, tanto quanto possível, na sua vivacidade representativa, se se quiser fazer Ciência Humana. Assim, os conceitos sobre os quais as Ciências Humanas se fundamentam, em um plano de pesquisa qualitativa, são elaborados pelas descrições. (Martins e Bicudo, 1989; p.43)[18: MARTINS, J., BICUDO, M.A.V. A pesquisa qualitativa em Psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Educ/Moraes, 1989.]
Tomamos por empréstimo do campo da psicologia uma dilatada, porém não ao ponto de delgada e translúcida compreensão desses termos. As entrevistas não nos levam ao que deve ser decifrado, mas sim sobre o que deve ser relatado. 
Ainda primitivamente tentamos chegar ao estado menor e mais simples das versões. Novamente tomamos a química e conceituação primitiva de átomo. Tenta-se descobrir aqui não como as moléculas se estruturam e as energias envoltas neste processo, mas sim quais os átomos envolvidos nessa molécula. Qual seria o ponto mínimo indivisível das narrativas de diferentes pessoas. Objetivamos os elementos que compõe o todo e não o todo que compõe um elemento.
O que compõe o indivíduo e como ele interpreta e aborda suas narrativas e como ele se constitui não é mérito deste trabalho e nem a intenção da pesquisa. 
Talvez isto pressuponha uma fragilidade, e de fato frágil seria se a pesquisa qualitativa não tivesse diferentes nuances e formas. Também é conveniente lembrar que não fazemos aqui uma pesquisa qualitativa e sim um estudo Etnometodológico para compor uma Etnografia do campo. 
II. Conclusão.
Nesta primeira etapa da pesquisa foram abordados elementos metodológicos que permitem compor os primeiros aspectos que envolvem estudos etnologia. 
Há uma necessidade de que as próximas etapas desta pesquisa abordem os dados coletados e observados considerando os elementos fundamentais de uma Etnologia. 
Considerar as limitações dos estudos Etnologia e principalmente do modelo qualitativo e as dificuldades para lidar com as pesquisas de “entrevistas abertas” e para superar essa limitação lidaremos com esses dados segundo uma abordagem Fenomenológica no sentido da construção gramatical dos relatos. 
Assim chegamos ao destino do trabalho, compor um estudo Etnológico do Quilombo do Mel da Pedreira, desde suas matrizes africanas, a inserção do protestantismo de missão com seu ascetismo e secularização e os aspectos mágicos ainda existente nas vivencias dos remanescentes quilombolas. 
II – Etnologia, não Etnografia. 
Uma breve elaboração sobre o Etnologia devemos recorrer a Malinowsky em seu trabalho intitulado “Argonautas do Pacífico Ocidental”. As balizas deste trabalho é a observação sem modelos avaliativos ou estatísticos. 
O Quilombo do Mel da Pedreira é com seu peculiar Protestantismo já em profunda decadência (por vários motivos) demonstrado com a inserção da vila urbana e do pentecostalismo. 
Desamarrando destas amarraras acadêmicas, propõe-se ignorar o marxismo cultural nos estudos realizados em nosso país. Não é por objetivo combater o que já foi escrito, apenas recorrer aos autores clássicospara tentar fazer uma descrição justa ao que foi observado. 
Foram muitas leituras sobre a luta Quilombola que por vezes a impressão foi de utilizar um Quilombo para construir uma estética e uma mitologia.
Arquétipos são difíceis de lidar. Um quilombo na Amazônia equatorial se imagina tudo, menos uma discreta e poderosa revolução: digital. Enquanto se imagina quilombolas em marabaixos e tambores, percebemos uma silenciosa atividade em torno dos “smartphones” em democráticas redes de dados. 
Quilombo deixou de ser uma luta por identidade e passa a ser a uma luta por identidade. Quem são os quilombolas do século XXI e como será sua religiosidade caberá a um segundo trabalho. 
Rio Amazonas – Uma Travessia do Atlântico. 
Poeticamente poderíamos dizer que o Amapá seria um país do continente africano. Talvez primeiramente por sua população e arquitetura da capital. 
Um rio, um Forte do século XVI e muitos negros em todos os estratos sociais. Macapá é Negra como as rochas cravadas no forte na margem setentrional do rio Amazonas. 
Pedras retiradas por escravos em uma grande pedreira, que seria o núcleo e o objetivo da inserção do negro no território amazônico. “Quilombo do Mel da Pedreira”. Por isso a inserção da palavra Pedreira nos quilombos da região. Posso inferir que os primeiros assentamentos na região foram motivados pela pedreira. Pessoas em fuga, pessoas em busca de sobrevivência, (citar o evento do NEGRO NO AMAPA) e os feitores que buscavam a sobrevivência em meio ao tênue mundo sem a presença estatal. Equilíbrios de forças eram frágeis no longínquo século XVI mas deixou normas perenes como os igarapés do da Amazônia. O quilombo existe desde não se sabe quando, parte foi adquirida, parte reivindicada e devolvida pelo governo Federal há poucos anos. 
“Kilombo” ou Quilombo é uma importação de uma conjectura nascida na África e de toda uma ancestralidade metafísica complexa construída no continente africano entre indivíduos com “status quo” diferente dos indivíduos importados e registrados como “mercadoria” primeiro pelos seus conterrâneos e depois pelo império lusitano. 
Quilombo é uma construção de uma dinastia organizada e sofisticada, envolvendo nesta dinastia os ancestrais e sua força vital. Os remanescentes quilombolas em território brasileiro possuem características distintas. 
A construção da identidade do negro em nosso país sofre traumas e reconciliações ancestrais extirpadas ao longo da história. A resistência molda o caráter de um grupo sobrevivente. A sobrevivência também leva indivíduos em seu contexto negociar seus valores e crença. Negociar envolve a reconfigurar o espaço e também o indivíduo. O indivíduo busca seus pares para se reorganizar assim se formam os grupos minoritários. Os grupos minoritários organizam de forma a serem tolerados pelo grupo majoritário, ou elites estabelecidas. 
Desta organização é que estabelece os espaços. São grandes as forças que podemos tomar emprestadas do rio amazonas, da pedreira, do forte, do império lusitano, da religião e das forças humanas.
 A coerção é atributo humano das dores das instituições. Instituições fracas delegam ao braço militar e humano sua imposição de valores. Aí consideramos a autocracia do império lusitano. 
A plebe fornecia humanos para a colonização de seus territórios, quando não a plebe portuguesa e seus aristocratas rotos vezes e havidos por fortuna compravam os braços que a plebe não conseguia. O império recrutava compulsoriamente jovens para sua armada imperial.
Complementamos desta instituição seu peso sem o fator humano. Fator humano surpreendente e assustador. Sequestrador de ares e de espíritos, como Montesquieu demonstra no seu clássico. Foram ventos inoportunos ao império lusitano, soprados na direção noroeste de Lisboa, vindos de Paris. Liberté, égualité, fraternité. Mesmos ventos que empurraram a corte lusitana em direção ao Rio de Janeiro no século posterior em Caravelas agora puídas.
Voltamos nosso olhar para o objeto de nossa observação. O estado do Amapá e seus rios. Os quilombos no Amapá foram construídos pela força dos Argonautas Núbios em canoas e balsas pelos igarapés e ribeiros amazônicos. Desta maneira surge o modelo estrutural dos remanescentes quilombolas. 
 
Uma Pedreira, Abelhas e um Quilombo. 
Melhor do que o céu só o mel. Uma frase, uma identidade e um slogan. Durante essa breve observação muito se ouviu esta frase. Algumas vezes em tom de triunfo, outras em resignação diante das dificuldades. 
Interessante e necessário é compreender e refletir sobre a dificuldade. Há um trauma trans-geracional competentemente abordado no trabalho recém-publicado pelo Dr. Antônio Maspoli. Voltamos à dificuldade. O adágio popular confere a ela ou a sua resultante necessidade a maternidade de todas as invenções. Se Durkheim atribui a religião a resposta desta necessidade a religião e os sacerdotes. Malinowski descreve o Kula e a aparente promiscuidade entre religião, ideais e interesses pessoais e grupais. 
Já Weber aborda uma economia entre estes interesses. A religião seria um princípio regulador e metafísico. A Ética é a metafísica das relações pessoais. Desencantamento Metafísico pela “desdivinação” do mundo pela ciência. 
O Mel como fonte de Renda. 
Uma das necessidades do nascente império agora luso-brasileiro era de velas. Velas eram usadas para trazer luz, conforto, segurança equilíbrio na balança comercial e conforto aos moribundos, agarrados em um pedaço da luz que esperam após a morte. 
A princípio conhecemos as velas confeccionadas em parafina. Mas ainda no começo do século passado a cera produzida pelas abelhas era utilizada na confecção das velas. 
Nativamente as abelhas encontradas na colônia não conseguiam atender a demanda. A solução foi importar abelhas africanas. Ironicamente trabalhador africano agora de outra espécie era quem atendia a demanda brasileira. Mais agressivas que as nativas logo suas colônias superaram as nativas, forçando as abelhas nativas a se refugiarem e buscassem seus próprios “quilombos”. 
Na pedreira tem mel. Mel de qualidade superior e de grande valor comercial. Abelhas nativas encontraram no Quilombo um refúgio e os quilombolas uma fonte de sustento desde o passado. Não é difícil de imaginar na fatigante pedreira o sabor de um favo de mel e a doçura em meio ao ardor da vida. 
Quilombo com Mel é o diferencial. Abelhas trabalhadoras e trabalhadores africanos refugiados e acuados por um povo mais agressivo. Uma empatia natural e comum. Fortalecimento de uma etnia nasce de quem observa e de quem se reconhece neste grupo. 
Como relatado abelhas em questão, são nativas, seletivas e melíponas. Essas características incluem uma peculiar na anatomia das abelhas em questão. Não possuem ferrão, e necessitam de uma vasta área para coletar o pólen. Sobrevivem pela habilidade de fuga e a força de selecionar as flores de suas espécies preferidas. 
Sobreviver envolve também a busca de encontrar a paz para satisfazer seus extintos. Assim são abelhas e animais e destes animais ecce homo. Quilombo é uma associação de homens. Seletivos e sobreviventes. Seleciona o locus, o habitat para sua família, seus filhos, sua ancestralidade e seu modus vivendi. 
Modus vivendi. 
Quando começa o dia e termina a noite, as convenções sociais do mundo estabelecem a meia noite. Uma forma arbitrária, necessária e laica para encerrar o dia. No Mel da Pedreira o dia termina com o fim das atividades. Porém para um pequeno grupo começa de madrugada. As 5H30 da manhã de fronte a um lago um pequeno grupo se reúne nas dependências de um templo presbiteriano. Antes da alvorada estão reunidos silenciosamente em oração. O silêncio rompe com o barulho do motor a diesel da van escolar que busca as crianças para seu dia de estudo.
Este grupo ancião se orgulha, pois finalmente contemplam a os primeiros graduados de sua descendência. Antes resignados à alfabetização e rudimentos matemáticos agora selecionam mais. Não estão mais no Quilombo porque devem estar ali.Ali estão, pois querem e podem ficar e contam com o favor divino para isso. 
Não apenas o favor divino, mas também a interesses sociais. Remanescentes de um tempo superado, não esquecido. Remanescente que vislumbram as telas de seus aparelhos celulares com conectados ao mundo digital. Dados estatísticos do IBGE apontam que a região que mais houve novos acessos à rede mundial, a internet é justo a região norte e a maioria destes acessos são via aparelhos celulares. 
Por enquanto esse contato se dá assim, casual. Apenas alguns lugares do Quilombo recebem a cobertura da rede de dados celular. Os marcos são árvores, curvas da estrada. De marinheiros a motoristas. Não se vive mais utilizando os canais e lagos da região. Pelo menos durante o período da estiagem o transporte se dá em automóveis. Vive-se em revoluções por minutos, como os motores a combustão interna que invadem o silencio das orações antes dos animais anunciarem a alvorada. 
Alvorada convida os demais habitantes para o labor em suas roças e tanques de piscicultura. Uma vida com as características mais próximas de uma vila rural todos se preocupam com o ganhar o próprio pão. 
A princípio iremos seguir o cronograma proposto:
I Semestre de 2015: Elaboração do Projeto de Pesquisa. 
II Semestre de 2015: Estudo e Pesquisa sobre Etnometodologia. 
I Semestre de 2016: Preparação do Trabalho para Qualificação/ Viagem ao Quilombo do Mel. 
II Semestre de 2016: Apresentação do Projeto de Qualificação.
			Composição do Restante da Tese. 
Referencial Bibliográfico.
 
COHN, Gabriel (Org.); FERNANDES, Florestan (Coord.). Max Weber: sociologia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2002. 167 p. (Coleção grandes cientistas sociais 13)
DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. - Handbook of qualitative research. London, Sage Publication, 1994. 
GOMES, Antônio Maspoli de Araújo. O pensamento de João Calvino e a Ética de Protestante de Max Weber. Fides Reformata Ed. 7- 2002. 
HERSKOVITS, M. J. Antropologia cultural: o homem e seu trabalho. São Paulo: Mestre Jou, 1963.
LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. - Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, E.P.U., 1986.
PIERUCCI, Antônio Flávio. O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2005. 
MALINOWSKY, B. Sex and repression in a savage society. London: Routledge e Kegon, 1953.
MARTINS, J., BICUDO, M.A.V. A pesquisa qualitativa em Psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Educ/Moraes, 1989
RIBEIRO, Lídice Meyer Pinto. Protestantismo Rural: Magia e Religião Convivendo pela Fé. Editora Reflexão, 2014.
RODRIGUES, Cátia Cilene Lima. Aproximações e divergências na concepção do capitalismo e sua relação com a religião: diálogo entre Weber e Marx. Ciências da Religião: História e Sociedade, São Paulo.
SCHLUCHTER, Wolfgang. O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber. UFRJ, 2014. 
SOUSA, Ana Kelly Vasconcelos Franklin de; PEREIRA, João Baptista Borges (Orient.). Mel da pedreira: um quilombo protestante na Amazônia brasileira. 2014. 74 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Religião) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Ano, 2014.
SPRADLEY, J. The ethnographic interview. Forth Worth: Hancourt Brace Jovanovich College, 1979.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1967. 
_________. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasilia: Ed. UnB, 2000. 580 p. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasilia: Ed. UnB, 2000. 
_________. Ensaios de sociologia: e outros escritos. São Paulo: Abril, 1974.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes