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Conflitos socioambientais

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Conflitos socioambientais, resistência, lutas e o movimento dos atingidos por barragens
	Os impactos sociais, culturais, econômicos e ambientais das hidrelétricas sobre populações locais, a resistência dessas populações na forma de organização em movimentos sociais e a interação desses grupos com assessores de segmentos progressistas das igrejas e universidades e de órgãos ambientais governamentais mostram a complexidade da questão.
	A abordagem de Acselrad, Zhouri e colaboradores sobre conflitos socioambientais explica o porquê dos conflitos sobre projetos de hidrelétricas.
	Acselrad salienta que
ao longo do processo de liberalização da economia brasileira, verificou-se uma forte ofensiva contra a responsabilidade ambiental do Estado. Ao mesmo tempo em que partidários da 	liberalização exigiam um Estado mínimo e “enxuto”, atacavam o sistema de licenciamento ambiental por ser “lento”, atribuindo-lhe a responsabilidade pela falta de empregos no país... Por sua vez, atores sociais preocupados com a dinâmica predatória do modelo 	de desenvolvimento e da desregulamentação sustentavam que o licenciamento é não só necessário mas também insuficiente, acusando a falta de fiscalização como uma das causas da proliferação de conflitos ambientais no país.
	Acelsrad aponta, ainda, que
	...a categoria do “meio ambiente” não pode ser vista apenas como um objeto de cooperação mas também de contestação e conflito... o ambiente não é composto de puros objetos materiais ameaçados de esgotamento. Ele é atravessado por sentidos socioculturais e interesses diferenciados...
	Trata-se de um espaço comum de recursos, sim. Só que exposto a distintos projetos, interesses, formas de apropriação e uso material. Os conflitos ambientais ocorrem, assim, quando há um desacordo no interior do arranjo espacial de atividades de uma localidade região ou país.
	O licenciamento ambiental é um dos principais instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, que “não somente deveria garantir o cumprimento de legislação, como também possibilitar a participação da sociedade civil nas decisões através da Audiência Pública Obrigatória”. No entanto, vários autores têm chamado a atenção para os problemas e as limitações desse instrumento e de ameaças de a privatização do Setor Elétrico levar ao retrocesso nas conquistas no processo de tomada de decisões pela sociedade civil.
	O trabalho de Zhouri e colaboradores enfoca os “problemas estruturais e procedimentais do licenciamento ambiental”. Esses autores analisam como esses problemas “resultam no controle territorial por uma pequena elite econômica em detrimento de uma diversidade de formas de se conceber e utilizar o meio ambiente”.
	Na análise dos problemas político-estruturais do licenciamento em Minas Gerais, os autores enfocam o Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais – COPAM. Eles contestam a imagem pública do COPAM como espaço democrático e participativo, uma vez que os consultores contratados para a elaboração dos EIA (Estudo de Impacto Ambiental) – financeiramente dependentes dos empreendedores – tendem a elaborar estudos que concluem pela viabilidade ambiental dos projetos.
	O conflito ambiental provocado pela construção de hidrelétricas ameaça pequenos ribeirinhos com o chamado “reassentamento involuntário”. De acordo com Oliver-Smith, 	a natureza involuntária da migração envolve a perda quase total de controle de sua vida e, de modo geral, os processos de reassentamento fornecem informação insuficiente para permitir que a população afetada reassuma controle satisfatório e compreensão da ameaça ou reais mudanças das circunstâncias de suas vidas. Como conseqüência, quando compreensão e controle são diminuídos, o processo é geralmente caracterizado por conflito, tensão e, às vezes, resistência ativa.
	Os trabalhos de Rothman( 1993, 1996, 2001) tem mostrado que quando a desinformação e as promessas vazias das empresas, produzem as decepções e desilusões das populações atingidas e quando essas decepções se mostram uma repetição da experiências de outras populações atingidas, isso produz um sentimento de indignação, que é um passo fundamental para o início da mobilização e resistência organizada.
	Observa-se nos trabalhos de Rothman, que, em Minas Gerais, o processo de licenciamento ambiental de barragens em particular audiências públicas, tem sido a arena principal de enfrentamento entre grupos de pessoas atingidos e empresas privadas. Nessa arena de conflito, algumas campanhas locais têm usado estratégias envolvendo ora denúncias públicas ou ações diretas de pressão políticas ora negociação para conquistar indenizações mais justas ou terras para reassentamento.

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