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Dança no Protestantismo atual

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 
CAMPUS GOIÂNIA - ESEFFEGO 
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
 
 
DÉRYK ARAÚJO FARIA 
 
 
 
 
 
 
 
CAMINHOS DA ADORAÇÃO: UMA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA NA 
RELAÇÃO DA DANÇA COM DEUS NO CRISTIANISMO PROTESTANTE NA 
CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Goiânia 
2016 
 
 
1 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 
CAMPUS GOIÂNIA - ESEFFEGO 
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
 
 
DÉRYK ARAÚJO FARIA 
 
 
 
 
 
CAMINHOS DA ADORAÇÃO: UMA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA NA 
RELAÇÃO DA DANÇA COM DEUS NO CRISTIANISMO PROTESTANTE NA 
CONTEMPORANEIDADE 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado ao curso de Licenciatura em 
Educação Física da Universidade 
Estadual de Goiás, Campus 
Goiânia/ESEFFEGO como requisito 
parcial a obtenção do título graduado sob 
orientação da Profª. Dra. Maria Cristina de 
Freitas Bonetti. 
 
 
 
Goiânia 
2016 
2 
 
DÉRYK ARAÚJO FARIA 
 
 
 
 
 
CAMINHOS DA ADORAÇÃO: UMA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA NA 
RELAÇÃO DA DANÇA COM DEUS NO CRISTIANISMO PROTESTANTE NA 
CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
Trabalho Final de Curso apresentado em______ de janeiro de 2017, aprovado pela Banca 
Examinadora constituída pelos membros: 
 
 
 
 
 
 
Prof. Drª. Maria Cristina de Freitas Bonetti - Orientadora 
 
 
 
 
 
 
Prof. Esp. Lariza Zanini – Parecerista 1 
 
 
 
 
 
 
Profº Dr. Leandro Duclos – Parecerista 2 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Num mundo dominado pela tecnologia e pela 
ciência, as linguagens simbólicas da arte e da 
religião falam do que não é percebido pelo olhar 
distraído e apressado do homem moderno: falam 
ao coração, à alma, aos sentimentos, à fé. 
Convidam para a dimensão interior, profunda, 
para a contemplação, levam a pessoa a se 
transcender de sua realidade e a perceber o que 
é oculto. São revelativas, pois trazem à tona o 
que estava escondido atrás das aparências (Luigi 
Schiavo). 
4 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus pelas bênçãos concedidas a mais uma etapa de 
minha vida, o que possibilitou a concretização deste trabalho e pela força espiritual nos 
momentos de dificuldades causadas pelo desânimo e pelo cansaço durante o processo. 
Pela dádiva que me foi dada ao entrar nesta universidade e me acompanha até que eu 
saia. 
Agradeço de forma especial aos meus pais, meus irmãos, cunhados e todos os 
“agregados” dessa minha Grande Família, minha gratidão e homenagens. 
Agradeço também a minha orientadora, Prof. Dra. Maria Cristina de Freitas 
Bonetti pela amizade, companheirismo, compreensão, paciência e compromisso 
profissional na orientação deste trabalho, a ela minha admiração. 
Agradeço a todos os colegas do curso e aos professores que, de alguma forma, 
direta ou indiretamente, deram suas contribuições para a realização desta monografia, 
por meio de discussões, aulas, conversas informais e outros meios. 
Agradeço às pessoas que se prestaram a serem os atores desta pesquisa, 
anônimos que constituem a concretude deste trabalho, sem os quais nada do aqui 
sistematizado teria sido possível; a todos, meu respeito e minha gratidão. 
Agradeço finalmente e de forma carinhosa à minha esposa Brenda Marques que 
me acompanhou nos momentos difíceis, me incentivando a prosseguir na busca desta 
conquista; com muito amor, paciência e apoio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
RESUMO: A Dança continua bastante explorada dentro do contexto religioso na busca 
do Sagrado. Isto não tem sido diferente no meio Cristão. Desse modo, a forma de 
entender e lidar com o ‘Corpo Dançante’ vem apresentando influência dessas inúmeras 
variações e interpretações da relação do humano com o Divino. Este estudo trata-se de 
uma pesquisa fenomenológica com o objetivo compreender o papel da dança no 
cristianismo protestante atual no que tange sua relação com o Divino. Concluímos que 
diversas mudanças no entendimento de corpo e da liturgia do culto cristão influenciaram 
no entendimento do lugar da dança no relacionamento pessoal, intrínseco à adoração e 
relacionamento com Deus. E que a dança pode ser vista como instrumento de adoração 
e devoção a Deus no momento que não se sustenta somente no ato de dançar, mas em 
uma vida voltada para os princípios bíblicos de santidade e purificação diários. 
 
Palavras-chave: Dança e Deus; Dança e Sagrado; Dança Adoração; Dança e 
Cristianismo Protestante; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
ABSTRACT: The Dance still is very explored inside the religious context in the search 
of Sacred. In the christian environment this is not different. Thereby, the way for 
understand and deal with the Dancing Body has been showing influence of these 
innumerable variations and interpretations of relationship between human and Divine. 
This study is a phenomenological research which objective is comprehend the dance’s 
paper in the current Protestant Christianity in reference of the relationship with the 
Divine. We conclude that diverse changes about the understanding of the body and the 
liturgy of Christian Cult had influence in the comprehension of dance’s place in the 
personal relationship, intrinsic to worship and relationship with God. Also that the 
dance can be seen like a instrument for worship and devotion to God, in a moment that 
does not only support itself in the act of dancing, but also in a life destinated to biblical 
principles of daily holiness and purification. 
 
Keywords: Dance and God; Dance and Sacred; Worship Dance; Dance and Protestant 
Christianity. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...............................................................................................................8 
CAPÍTULO I - A RELIGIÃO, O CORPO E A HISTÓRIA...................................13 
1 CORPO E RELIGIÃO............................................................................................13 
1.1 Corpo: uma conceituação histórica.........................................................................14 
1.1.1 O corpo e o sagrado.............................................................................................19 
1.2 Religião...................................................................................................................20 
1.2.1 A experiência religiosa........................................................................................21 
1.2.2 Linguagens da religião.........................................................................................23 
1.2.3 A dança no pluralismo religioso...........................................................................26 
CAPÍTULO II – CRISTIANISMO PROTESTANTE E A DANÇA CRISTÃ........34 
2 O CRISTIANISMO E A DANÇA..........................................................................34 
2.1 Cristianismo Protestante.........................................................................................35 
2.1.1 Movimentos Protestantes.....................................................................................37 
2.1.2 Pentecostalismo...................................................................................................40 
2.2 A Dança na Igreja .................................................................................................442.2.1 Dança na história judaico-cristã..........................................................................45 
2.2.2 Dança na igreja de hoje.......................................................................................50 
CAPÍTULO III – CAMINHOS DA ADORAÇÃO...................................................54 
3 METODOLOGIA...................................................................................................54 
3.1 Caracterizando os sujeitos da pesquisa.................................................................56 
3.2 Análise e apresentação dos dados..........................................................................57 
3.2.1 A Dança Adoração..............................................................................................57 
3.2.2 Os tipos de Dança................................................................................................61 
3.2.3 Dança na Igreja Cristã Protestante na Contemporaneidade..................................63 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................67 
REFERÊNCIAS.........................................................................................................69 
ANEXOS....................................................................................................................72 
APÊNDICES................................................................................................................74 
 
 
 
8 
 
 
INTRODUÇÃO 
 O movimento é a base das relações, sejam pessoais ou interpessoais. Vivemos 
em mutações. O mundo é mudança. A vida é um fluxo. Esta mobilidade proporciona ao 
organismo mutável à garantia de sobrevivência, numa relação de verdade e de 
existência no insólito e inseguro universo da essência da vida. 
Vivemos em um mundo onde a vida é manifesta no movimento. Quando nos é 
gerado a vida nos é gerado o dom de movimentarmos, seja em nossos pensamentos que 
nos instigam e nos levam em impulsos ao mais elevado e distante das concepções 
físicas e concretas, seja no poder de sermos conduzidos por uma força pessoal, física, 
divina (ou até Santa), de nos permitirmos experimentar os movimentos que podemos 
realizar com o componente mais intrínseco e complexo de nós mesmo, nosso corpo. 
 O movimento humano tem uma relação muito próxima com questões que 
transcendem a vontade e o desejo humano, sobre o assunto Laban (1978) coloca que o 
homem se movimenta para satisfazer uma necessidade, e que lhe é fácil perceber que o 
objetivo de sua movimentação é sempre atingir algo valioso. 
Para além do movimento, Laban (1978) apresenta ainda a analogia entre a sua 
relação e significação se é expressa no momento do feito, como a Dança que se lança ao 
espectador e por vezes não pode ser descrita, exceto em seu movimento. Neste sentido, 
Laban (1978, p. 43) explica: “O desejo que o homem acalenta de orientar-se no labirinto 
de seus impulsos resulta em ritmos de esforço definidos, tais como os praticados na 
dança”. Essas manifestações são uma relação entre a realidade colocada na expressão de 
quem a faz e ao sentimento e interpretações a quem recebe. 
O conjunto de fatores que estimulou esta investigação foi a possibilidade de 
compreender mais uma forma de relacionamento com o Sagrado que vai além das 
orações e percepções no campo do pensamento, mas perpassa pela experiência objetiva 
do corpo físico. Este é o motivo que nos leva a realizar esta pesquisa, buscar legitimar 
mais uma forma de relacionamento com o Sagrado dentro do Cristianismo Protestante. 
Outro fator que levou a esta pesquisa foi o contato com a Dança de Adoração 
dentro da Igreja Evangélica que congreguei desde os 7 anos de idade. Cresci em um 
lugar (tanto na família quanto na igreja) onde era comum a adoração a Deus por meio da 
 
9 
 
Dança e nos cultos. Portanto me interessei a buscar maiores informações e aprofundar 
meus conhecimentos neste campo. 
Ao passo que as diversas ramificações e divisões dentro dessa religião, dividem 
opiniões entre a sacralidade e profanidade da Dança Adoração na liturgia do culto 
buscamos aprofundar a análise para melhor entender e desvelar este processo de 
relacionamento com Divino. 
O objeto deste TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) são, portanto, os nexos 
entre o Cristianismo Protestante, o corpo e a Dança de Adoração. No que tange o 
sentido da dança como uma forma do relacionamento com o Sagrado. 
O principal questionamento é se a dança pode ser considerada temática de 
adoração e relacionamento com o Divino, tendo no corpo a concretização das 
experiências, proporcionadas pela mesma, na relação com Deus. 
 Outro ponto que o TCC leva a refletir é sobre a influência, na atualidade, de 
outras interpretações da dança e da adoração, bem como o desenvolvimento dessas 
representações para e os dias atuais. 
 O propósito deste TCC é, portanto, demonstrar as relações com o Sagrado nas 
formas e conteúdos da Dança de Adoração na contemporaneidade, compreendendo seus 
diálogos com Divino. Pretende-se, ainda, identificar, demonstrar as relações da Dança 
Adoração como manifestação do relacionamento com o Sagrado. 
Para a viabilização da proposta de pensar a relação entre as esferas do Sagrado 
(ou religião), do Corpo e da Dança de Adoração, propõe-se uma revisão das concepções 
a serem analisadas, em diálogo com o corpo reinscrito na história da religião como 
espaço sagrado; a expressão simbólica de sua materialidade estética e física e sua 
relação com alguns movimentos que buscam reviver a força da fé, do sobrenatural, do 
‘Santo’. 
 A Dança Adoração é uma questão atual, está sendo revisitada por estudiosos e 
pesquisadores dos campos da religião e de áreas que buscam entender o corpo como um 
local de adoração, abrangendo o contexto que vai além da caracterização da dança como 
instrumentos de relacionamento com o Sagrado. Por sua vez, Torres (2009) vai ao ponto 
de identificar diversos tipos de dança dentro da congregação e, Teles (2015) que 
caracteriza o lugar da Dança dentro da adoração individual no relacionamento do fiel 
10 
 
com Deus. Outros estudos também são apresentados a fim de estudar o lugar e 
desenvolvimento do corpo na religião cristã como Rigoni (2013) ou Pereira (2003). 
Nesta proposta, busca-se conectar A ‘Dança de Adoração’ de uma maneira 
próxima às obras mais relevantes no que tange ao Sagrado, a Religião e ao Corpo, como 
no Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade 
Católica de Goiás (PPGCR-PUC.GO), no qual contatamos com estudos de teologia, 
artigos e orentações de Dissertações e Teses da Professora Dra. Ivoni Richter Reimer, 
bem como com a Dissertação de Keila Márcia F. Carvalho (2006 e da tese de Maria 
Cristina Bonetti (2013). Entre outras fontes, tais como Revista da Universidade de São 
Paulo, e em Sites de Faculdades de Teologia. 
A respeito da linha metodológica aplicada, como matriz do conhecimento, 
optou-se neste TCC por trabalhar com a concepção Fenomenológica de análise, 
acreditando que esta se aproxima de modo sistemático do processo de interpretação da 
trajetória. 
 Ampliando o conceito, Triviños (1987) afirma, nesse sentido, que este método é 
que a ideia do comportamento humano tem muito mais significado do que efetivamente 
o ato pelo qual se manifesta. Logo, julgamos ser a mais completa para alcançarmos os 
parâmetros propostos neste trabalho. 
 Objetiva-se, neste método, manter um diálogo entre a dança, o corpo e a religião, 
envolvendo as dimensões históricas e simbólicas dos elementos, que possibilita outra 
forma de se compreender a realidade e a relação destes com o Divino. Procuraremosexplorar e entender, por meio do entendimento histórico social, os desdobramentos que 
proporcionaram o que conhecemos como a religião Cristã Protestante na 
contemporaneidade assim como o papel da dança e do corpo no relacionamento com 
Deus dentro dessa concepção religiosa. 
Neste Trabalho de Conclusão de Curso, a reflexão sobre a religião nos atos das 
Danças de Adoração aconteceu a partir de referências teóricas e dados empíricos, 
obtidos em observações e entrevistas da realização desta dança na contemporaneidade, 
registrados em anotações de observações, entrevistas e na literatura especializada que se 
propõe a discutir esse tema. 
 
11 
 
 Acredita-se, portanto, na originalidade da proposta quando se discute os 
aspectos da religião Pentecostal, no qual o Corpo é vivificado pela ‘Dança de 
Adoração’, tornando-se mais um espaço de relacionamento com o ‘Sagrado’. 
A relevância desta proposta é, pois, a sua contribuição tanto em nível social 
como no campo das práticas corporais, visto que, ao se reportar aos principais autores 
do campo das Ciências da Religião e da dança, vincula o Corpo e a Religião de uma 
maneira próxima às obras mais proeminentes no que tange à Educação Física nas 
Danças de Adoração, as quais foram vivificadas nos Cultos das Igrejas Pentecostais que 
discutem o tema na atualidade. 
No primeiro capítulo, apresentam-se os aspectos principais para conceituação e 
entendimento das concepções de corpo, o relacionamento do corpo com o Sagrado, 
assim como aspectos constituintes da Religião e da experiência religiosa. 
No segundo capítulo, investiga-se o desenvolvimento do cristianismo 
protestante, assim como os movimentos que surgiram a partir de seu desenvolvimento 
histórico. Também neste capítulo, busca-se identificar o desenvolvimento histórico da 
dança no meio Judaico-Cristão e as características da dança dentro da Igreja Protestante 
Pentecostal na Contemporaneidade. 
O terceiro capítulo demonstra, num primeiro momento, a metodologia utilizada 
assim como os parâmetros norteadores da pesquisa. Posteriormente, apresenta as 
entrevistas e observações realizadas assim como a análise dos dados. Seguido por 
considerações finais. 
Concluímos, portanto, que o Cristianismo Contemporâneo é resultado do 
desenvolvimento e reformas doutrinárias e litúrgicas que ocorreram do decorrer dos 
tempos. O que influenciou diretamente no entendimento de corpo dentro de cada época 
e, que resultou em diversas interpretações, inclusive a consideração da Dança como 
mais um lugar de adoração e manifestação divina ao fiel. 
Por outro lado, verificamos que a Dança sempre esteve presente na realidade 
judaico-cristã e que foi deixada de lado com o passar do tempo, devido a diversos 
entendimentos sobre o lugar (ou não lugar) dessa manifestação no culto. Sabemos que 
hoje a dança cristã pode ser caracterizada segundo sua objetivação e características 
específicas dos movimentos. 
12 
 
A partir dos relatos, compreendemos que a dança pode ser vista como uma 
forma de adoração a Deus e que no momento em que ela se realiza há uma forte 
presença do Espírito de Deus. Desta forma, percebe-se que a dança não é somente um 
momento litúrgico pontual, mas um reflexo de uma vida voltada diariamente para os 
princípios bíblicos de santidade e purificação. Neste sentido, observamos que existem 
diferentes tipos de dança como, a ‘Apresentação Coreográfica’, a ‘Dança Adoração’, a 
‘Dança Evangelística’ etc. e que a principal diferença entre elas está na intenção e 
motivação pelo qual ela está sendo realizada. 
Por fim, observa-se que o cenário que a Dança se encontra dentro no 
Protestantismo contemporâneo é, segundo os entrevistados, preocupante, pois, apesar de 
ser uma prática legitimadamente conhecida como mais uma forma de adoração a Deus 
existe nesse meio uma prática deste tipo de adoração sem o conhecimento e 
entendimento necessário para que ela se realize. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
CAPÍTULO I - A RELIGIÃO, O CORPO E A HISTÓRIA 
 
Neste capítulo buscamos analisar a visão do corpo, partindo de uma 
conceituação histórica, desde análises das filosofias primeiras como seu 
desenvolvimento com o passar do tempo. A influência da religião Cristã nos períodos 
medievais e a mudança do entendimento desse corpo com uma nova orientação social, 
tanto com o renascentismo e iluminismo como, no capitalismo na contemporaneidade. 
Abrangemos as relações que sustém o corpo físico ao encontro com o Sagrado. 
Expusemos delimitações que são encontradas neste relacionamento e a necessidade do 
corpo para o encontro com a subjetiva condição do relacionamento com o Sagrado. 
Apresentamos ainda uma relação dos aspectos constituintes principais que 
sustentam uma religião, como o mito, o rito, a liturgia, o símbolo, a doutrina e etc. 
Tratamos da linguagem da religião, considerando os aspectos que dialogam com a 
realidade dos fiéis. 
 Trouxemos também a questão da experiência religiosa, assim como os aspectos 
que permeiam essa relação; a subjetividade apresentada e a necessidade da entrega do 
indivíduo ao relacionamento com o sobrenatural. 
Neste capítulo, portanto, vamos delimitar parâmetros gerais para análise do 
corpo enquanto elemento físico/material como elemento indispensável na relação com o 
Sagrado. Iremos relacionar a experiência religiosa com seus aspectos constituintes e 
identificar as linguagens religiosas. 
 
 
1 CORPO E RELIGIÃO 
 
No meio religioso, temos várias manifestações corporais, que se relacionam com 
uma insólita verdade que se configura na “arte” da Fé. Crer no Sobrenatural seja em 
Deus, no Cosmos, ou até numa Força Superior, é mais uma forma de reafirmação entre 
o que nós vemos o que chamamos de material ou físico, e o que nos é (ao menos, 
 
14 
 
concretamente falando) invisível, o que não nos permite menosprezar ou subjugar sua 
existência efetiva. 
 O ponto é que as manifestações corporais, e até a maneira de enxergar e 
entender próprio corpo influencia na relação com aquilo que entendemos por ser nosso 
“eu”, em sua totalidade (humana, física e mental) e o Sobrenatural (Santo, Divino, 
Sagrado). 
 A maneira que se dá essa relação no nosso corpo é expressa também pelo nosso 
corpo. A modo que nos vemos e a forma que podemos nos relacionar com o chamado 
Deus através do nosso corpo, é expresso naquilo que fazemos corporalmente para nos 
aproximar dele. 
Neste momento iremos apresentar o entendimento de corpo que tínhamos e que 
temos e como isso se relaciona com o Sagrado. Iremos buscar o estado do corpo na 
religião suas relações com o sagrado. Caracterizaremos a experiência religiosa e as 
linguagens da religião. 
 
 
1.1 Corpo: uma conceituação histórica 
Na atualidade temos inúmeras análises que definem o corpo segundo várias 
correntes filosóficas, epistemológicas e históricas. 
 
 
O corpo religioso é um vasto domínio de estudo, um campo ainda inculto que 
antropólogos, historiadores das representações e historiadores da arte 
começaram a explorar. Suas contribuições esclarecem as mudanças que se 
operaram no curso dos séculos medievais e modernos; mas o corpo não está 
realmente no centro de suas concepções e, portanto, elas só o atingiram de 
maneira ocasional. A história das representações do corpo no universo 
religioso é hoje um canteiro aberto (GELIS, 2008, p. 22). 
 
Para tanto, trouxemos somente o que consideramos suficiente para dialogarmos 
com este conceito de maneira a sustentar nossa discussão no desvelar deste trabalho. 
Num primeiro momento temos uma visão de corpo colocado pelos filósofos Pré-
Socráticos,que se fundamentava na intensa dicotomia colocada como: corpo e alma. 
Porém apesar de este esboço já ser mencionado na fase mítica do desenvolvimento dos 
primitivos contos de justificação e explicação de tudo, neste momento passa a ser 
elencado uma verdadeira oposição entre espírito e matéria (MEDEIROS, 1998). 
15 
 
Já na visão de Sócrates, temos uma manutenção do conceito dicotômico entre o 
corpo e a alma, porém numa perspectiva de aproximação do corpo a supérfluos bens 
materiais (MEDEIROS, 1998). Talvez pela forma de tratamento do corpo na sociedade 
naqueles tempos, como colocado por Medeiros (1998, p. 38): 
 
O corpo “coisificado”, como fazendo parte da mesma categoria, dos bens 
materiais, talvez refletisse a sociedade escravista da época, uma vez que o 
homem de posses possuía os corpos dos escravos que, por sua vez, nada 
possuíam. 
 
Portanto, o primeiro vislumbre de conhecimento e entendimento do corpo já o 
relaciona com uma característica para além do físico, ou do próprio corpo que, por sinal, 
não era próprio de seu dono (o seu eu) mas daquele a quem o corpo pertencia. 
 Hipócrates houve também um novo desenvolvimento em relação ao que era 
colocado com as crenças do povo e as doenças causadas. Ele não acreditava que o 
sobrenatural poderia intervir a lançar doenças no corpo humano físico (SOARES, 
2006). 
 Ao considerarmos a visão de Platão, temos uma análise um pouco diferente ao 
perceber e colocar o “Mundo das ideias”. Onde aquilo que nós temos acesso de forma 
concreta é um relapso imperfeito do que um dia podemos encontrar neste “Mundo das 
ideias”, colocando o corpo como uma cópia imperfeita e a alma como sua forma ideal 
(MEDEIROS, 1998). 
 Tratando-se do período medieval, temos o surgimento de uma nova concepção 
de corpo. Justamente pelo fato da expansão do Cristianismo e das filosofias que ela 
disseminava. Para tanto, nos é necessário esclarecer, por exemplo algumas de suas 
afirmações de discussão, subjugando o corpo e, trazendo à evidência um diálogo de uma 
filosofia dicotômica que foi privilegiada neste período medieval, a fé e a razão, a alma. 
Sobre isto Mara Medeiros (1998, p. 43) coloca: 
 
Durante a Idade Média, a investigação filosófica encontrou entraves, muitas 
vezes intransponíveis, na Cultura Religiosa, segundo o qual todo 
conhecimento encontra-se nas Sagradas Escrituras onde estão contidas todas 
as verdades. Entretanto o binômio fé e razão oculta um importante ponto em 
comum que é a negação do corpo, na medida em que são privilegiadas a 
razão e a alma. 
 
16 
 
 Portanto, o corpo é subjugado sem possibilidade de discussão, pois a verdade 
estava na Bíblia, e a não crença, ou não aceitação, da interpretação dessas palavras, 
apresentada pela igreja, à sociedade acarretava inclusive risco de morte. 
Mas, com o Cristianismo ocorre uma ruptura entre o mundo terrestre e a cidade 
celeste e vários entendimentos e conceitos engenhados na sociedade passam a ser 
mudados perante essas novas concepções, como em relação a vida social: 
 
O poder espiritual deixa de confundir-se com o poder temporal. O homem 
percebe-se como tendo uma alma cujo destino transcende a cidade terrena e o 
importante passa a ser a salvação dessa alma. O Cristão passa a encarar a sua 
existência como uma peregrinação cuja razão de ser é encontrar a felicidade 
na outra cidade à qual poderá ter acesso após a morte (MEDEIROS, 1998, p. 
43). 
 . 
 O Cristianismo influencia de forma efetiva no entendimento geral do conceito de 
corpo na sociedade, agora o homem não tinha apenas essa vida para se preocupar e sim 
outra vida, após a morte, uma vida eterna. 
 Nesse sentido Gélis (2008, p. 54) apresenta: 
 
 
Para todos aqueles que procuravam audaciosamente assemelhar-se ao Cristo 
das dores para partilhar seus tormentos, o corpo é ao mesmo tempo o maior 
obstáculo, “o maior inimigo”, e o meio de acompanhar o Redentor: o corpo 
que é preciso vencer, o corpo vetor de um procedimento sacrificial. Todas as 
formas de humilhação foram exploradas por essas almas exigentes e 
dilaceradas, governadas pelo princípio de desvalorização, da perda absoluta 
de si mesmo. 
 
 
O homem então passa a enxergar o corpo de maneira diferente, a entender que é 
necessário a negação do corpo e valorização da alma, daquilo que nos aproxima de 
Deus. 
Com essa mudança de pensamento então, a partir do triunfo do Cristianismo 
deixa de estar no cotidiano da vida do homem o teatro, o circo, o estádio e os espaços de 
socialização e de cultura que, de alguma forma, utilizava o corpo (MEDEIROS, 1998). 
Proveniente deste pensamento colocado acima, o corpo foi visto como fonte e 
habitação do pecado na terra, pois, como colocado pela Igreja, Satanás mantinha o 
controle sobre as pessoas por quatro atribuições carne, guerra, ouro e mulher 
(MEDEIROS, 1998). Portanto temos contemplado neste momento que o corpo ou a 
“carne” era uma forma de controle que o “demônio” mantinha sobre os homens, ou seja, 
17 
 
quase a encarnação ou materialização do próprio pecado. Do mesmo modo a mulher. 
Isto posto é evidente a negação do corpo como forma de purificação. 
Com o enfraquecimento da república cristã, temos novamente uma mudança de 
entendimento a respeito do corpo, acarretado por uma transformação dentro da própria 
religião Cristã, a Reforma Protestante. Que influenciou modificações em várias áreas 
sociais que permeia até hoje, como colocado ainda por Medeiros (1998, p. 49): 
 
Outra causa de transformações na visão religiosa, política, social e 
ideológica, foi a Reforma Protestante. Também no desenvolvimento da 
filosofia a sua influência foi grande: contribuiu para redimensionar as 
pretensões metafísicas da razão. Pode-se dizer que a Reforma exerceu 
influência decisiva no pensamento moderno. 
 
 Sobre a influência que o corpo sofreu do Cristianismo, também temos o que o 
próprio Cristo (homem-Deus) trouxe ao considerarmos que Deus se fez em homem, em 
matéria, em corpo. 
 
 
Através da perfeição do corpo do homem-Deus, a tradição cristã dá também 
todo seu peso à dualidade do sentido ligado ao termo “corpo”: corpus, parte 
material da alma animada, mas também, depois da morte, o que resta do 
vivente, seu corpo, seu cadáver – e, por conseguinte, em vida, o corpo, lugar 
desta morte prometida que o pecado introduziu na Criação (ARASSE, 2008, 
p. 535). 
 
 
Após este período temos um enfoque centrado no conhecimento científico, aqui, 
na Idade Moderna, temos uma tentativa de descoberta de caminhos que se constituíssem 
como verdade permanente. Desta maneira temos grandes orientações metodológicas que 
influenciaram este pensamento, como Empirismo e o Racionalismo Moderno. 
 Neste período temos marcado uma veneração à ciência, criando assim um estado 
de formulação da história, ou o também conhecido como paradigma, que resultava 
diretamente em uma maneira de entender e compreender questões antes de maneira não 
tão científica. “Essa linha de pensamento traz a ideia do corpo como máquina capaz de 
produzir trabalho, e também tem grande influência nas abordagens atuais a respeito da 
corporeidade” (MEDEIROS, 1998, p. 59). 
 Na Contemporaneidade fica evidenciada uma nova postura em relação ao corpo, 
um novo entendimento, mostrando um novo resgate do corpo. Porém, 
 
18 
 
É importante ressaltar que argumentar sobre o resgate do corpo na filosofia 
contemporânea não significa forçosamente que este tenha sido resgatado em 
níveis de valores culturais vigentes. É importante se ter claro que o dualismo 
cartesiano e os valores religiosos tradicionais estão largamente impregnados 
na nossa cultura e que, mesmo as áreas de estudo que lidamdiretamente com 
o corpo não assimilaram, de maneira satisfatória, a ideia do homem indiviso e 
concreto e muitas vezes, talvez pela falta de aprofundamento nas doutrinas 
contemporâneas, contam com uma série de dificuldades para admitirem que o 
homem não tem um corpo, mas que o homem é um corpo (MEDEIROS, 
1998, p.61). 
 
 
 Quando a Reforma protestante aboliu o celibato e proclamou o sacerdócio a 
todos os fiéis ela rompeu também com os tabus de pureza impostos ao corpo. A 
concepção de um corpo, outrora pecaminoso e destituído de presença divina, cedeu 
lugar a um corpo que também era “morada do Espírito de Deus” (TORRES, 2009). 
 Para além destas análises temos também concepções de corpo que perpassam 
pela percepção e análise subjetivas dos autores, entendendo não só o corpo como algo a 
ser analisado de maneira extrínseca, mas também como fonte de sensações, desejos, 
emoções etc., como a abordagem Fenomenológica. 
 Da Nobrega (2008) ao tratar as concepções de corpo, percepção e conhecimento 
segundo Merleau-Ponty apresenta que a percepção está relacionada a atitude corpórea, o 
que significa dizer que nossa relação com algo está condicionado a maneira que nosso 
corpo entende e se comunica com isso, o que não diz a respeito somente com uma 
análise objetiva dos limites do corpo, mas compreende toda uma discussão sobre a 
subjetividade do corpo e suas percepções. 
 Ainda segundo Da Nobrega (2008, p. 142) Merleau-Ponty aponta que: “a 
abordagem fenomenológica da percepção identifica-se com os movimentos do corpo e 
redimensiona a compreensão de sujeito no processo de conhecimento”. Portanto, o 
processo de conhecimento a partir da compreensão do sujeito está relacionado a 
percepção da análise que, deste modo, está condicionado aos movimentos do corpo. 
 O próprio Merleau-Ponty (2006, p. 133) aponta que: 
 
 
Quando descrevia o corpo próprio, a psicologia clássica à lhe atribuía 
“caracteres” incompatíveis com estatuto de objeto. Ela dizia, em primeiro 
lugar, que meu corpo se distingue da mesa ou da lâmpada porque ele é 
percebido constantemente, enquanto posso me afastar daqueles. Portanto, ele 
é um objeto que não me deixa. Mas então ele ainda seria um objeto? Se o 
19 
 
objeto é uma estrutura invariável ele não é a despeito da mudança das 
perspectivas, mas nesta mudança ou através dela. 
 
 
Deste modo, ele aponta que o corpo não é mais um objeto que me pertence, 
como na psicologia clássica, logo o autor coloca em cheque se o corpo seria um 
realmente apenas um objeto. 
 Percebemos então que o corpo como entendemos hoje, repleto de interpretações 
e mais uma parte do que “eu sou”, é resultado do desenvolvimento histórico social, e, 
que sofreu pesada influência das filosofias que eram de grande disseminação no 
decorrer dos séculos tanto cosmovisões como Iluminismo e Renascentismo, como a 
própria religião Cristã. 
 
1.1.1 O corpo e o sagrado 
 Pensemos agora em um corpo que já é considerado algo onde se concentra a 
experiência do sagrado, não apenas pela mudança de entendimento da igreja católica 
mas, parte de uma mudança de visão, que se apresenta na sociedade contemporânea. 
 O corpo começa a assumir uma posição de manifestação do sagrado, onde o 
material/físico se configura em mais um instrumento de manifestações sobrenaturais se 
tornando digno de receber a presença Divina. Então, o corpo passa a ser “mais um 
espaço ritualmente construído onde o sagrado se manifestar” (PEREIRA, 2003, p. 89). 
 Na própria religião cristã temos um exemplo de manifestação Divina em um 
corpo humano. Segundo as Escrituras Sagradas o próprio Deus se manifestou na terra 
através de seu Filho, que apareceu encarnado como homem, Jesus Cristo de Nazaré. O 
que nos mostra que o corpo não era considerado apenas uma criação Divina mas, uma 
espaço para manifestação de sua glória (PEREIRA, 2003). 
 Temos ainda que levar em consideração as palavras que ponderam o corpo, 
outrora considerado pela sociedade eclesiástica medieval fonte de todo pecado, como 
morada do Espírito Santo. Que configura não só uma simples mudança no entendimento 
de corpo, mas no relacionamento deste corpo com o Sagrado (PEREIRA, 2003). 
 O corpo, portanto, é considerado um lugar sagrado que por sua vez é 
exemplificado como uma porta, um lugar de passagem, onde não é de forma efetiva o 
sagrado, mas leva ao encontro do sobrenatural consagrando-o como Santo no momento 
20 
 
da manifestação Divina. O que o configura como santo é a crença dos fiéis de que 
naquele momento há uma manifestação divina, no corpo físico (REIMER; SOUZA, 
2009). 
Essa nova perspectiva de análise considera o corpo como mais um elemento de 
adoração a Deus e mais uma possibilidade de relacionamento com Ele. A Dança surge 
como um resgate da cultura cristã esquecida conquistando seu lugar na liturgia do culto 
e na vida dos fiéis. 
“A presença da dança nas igrejas protestantes da atualidade, especialmente nas 
neo-pentecostais, pode significar uma redescoberta do copo como possibilidade do 
encontro deste com Deus” (TORRES, 2009, p.38). Os pontos cruciais para este 
acontecimento possivelmente estão relacionados com a valorização que as Escrituras 
Sagradas, mais especificamente o Novo Testamento, oferece ao corpo humano e com a 
valorização do corpo na nossa sociedade contemporânea. 
Por tanto, o corpo que por sua vez, foi subjugado em uma depredação total, fonte 
de todo o mal e prisão do homem, hoje pode ser mais um instrumento de relação entre o 
Criador e a criação, onde o Deus vivo, o Divino mora. 
 
 
1.2 Religião 
 Religião é algo de divide opiniões. A fé1 no que não podemos comprovar 
cientificamente em algo que supostamente não existe é, por vezes, assustador. O insólito 
solo onde a experiência religiosa se pauta; as percepções subjetivas se mostram em uma 
análise difícil de realizar. 
 O efervescente desenvolvimento das religiões mostra que cada vez mais, as 
pessoas tendem a confiar nesses seguimentos que prometem, em sua doutrina e crença, 
uma experiência que vai além do natural e uma esperança que abrange uma vida futura, 
após a morte. Uma relação para além dos parâmetros científicos ou físicos, mas algo 
invisível e real, por vezes, um Deus eterno e imortal. 
 
1 Fé é uma palavra que significa "confiança", "crença", "credibilidade". A fé é um sentimento de total de 
crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da 
proposição em causa. Fonte: Disponível em: <http://www.significados.com.br/fe/> Acesso em: 04 de 
agosto de 2016. 
21 
 
 Neri e Melo (2011) mostra que, de maneira geral, as pessoas têm se creditado 
mais em uma fé religiosa2. Isso pode ser resultado do desenvolvimento tecnológico e 
globalização, assim como a intensa exposição que todos estamos submetidos na era da 
internet. No sentido de que com isso torna-se possível um maior acesso a conteúdos 
doutrinários, à textos religiosos, às Escrituras Sagradas, dentro de cada religião, 
disseminando assim cada vez mais o “Universo Religioso”. 
 Mas o que chamamos de Religião? Quais são os parâmetros que nos levam a 
considerar uma determinada prática de um grupo como uma experiência religiosa? 
Quais são os aspectos que delimitam para caracterização da linguagem da religião? 
 O mito, o rito, o símbolo, a doutrina, a liturgia faz parte da experiência religiosa, 
que se sustenta nas percepções de um indivíduo ou grupo. Pensar essas características é 
essencial para a garantia do entendimento das relações com o Sagrado que se apresenta 
dentro de uma determinada religião. 
 Vamos então experimentar um pouco mais dosconhecimentos produzidos sobre 
a religião. A partir dos tópicos a seguir, iniciando com uma exposição sobre o que é a 
experiência religiosa e sobre as linguagens da religião. 
 
 
1.2.1 A experiência religiosa 
Grande parte do mérito da disseminação religiosa popular é aquilo que a religião 
oferece. Além de um conjunto de normas e ideais, ela muitas vezes, proporciona uma 
esperança para além do que é físico e imediato. Isso se dá de inúmeras formas, seja por 
textos sagrados, mantras, hinos, ou até por práticas corporais. O fato é que isso se 
resume no que chamamos de experiência religiosa. Falemos, pois, um pouco mais sobre 
o assunto. 
“A experiência religiosa é fundamental para a vida das pessoas em todas as 
culturas e em todos os tempos. Ela faz parte da existência humana na medida em que se 
pergunta pelo sentido das coisas, da vida, do mundo” (REIMER; SOUZA, 2009, p. 15). 
 
2 No âmbito religioso, a fé é um dom daqueles que cumprem genuinamente os conceitos apregoados por 
sua religião ou crença. Ter fé também se aproxima de possuir uma religião ou um culto. Exemplo disso é 
a já conhecida expressão “fé cristã”, “fé islâmica” ou “fé judaica”. Fonte: Disponível em: 
<http://www.significados.com.br/fe/> Acesso em: 04 de agosto de 2016. 
 
22 
 
 A busca por resposta sempre esteve no ideal humano. Essa busca pelo saber 
motivou incansavelmente o homem a acreditar em diversas explicações sobre a origem 
das coisas, primeiramente chamados de mitos, crendices, lendas... Mas, com o tempo e 
desenvolvimento dessas é que surgiu a religião. 
 A questão religiosa é algo complexo e que divide opiniões. Existem aqueles que 
não acreditam nela e que enxergam como algo sem sentido, ou até como 
comercialização da fé, show e exploração daqueles que acreditam, por meio dos seus 
líderes, mas também existem pessoas que acreditam veementemente nela. Basta olhar a 
efervescência religiosa atual: a cada dia surgem novas igrejas, e elas são lotadas em 
peregrinação, há um crescimento no turismo religioso e etc (REIMER; SOUZA, 2009). 
 Existem várias formas de se vivenciar o sagrado: mais espontâneas ou 
organizadas; podem ocorrer em lugares específicos ou em casas, até mesmo ao ar livre. 
Mas o que podemos afirmar é que essa experiência religiosa é algo particular, mas 
também universal, como colocado por Reimer e Souza (2009, p. 15): “Há traços e 
características comuns nas diversas religiões, em várias culturas e em todas as épocas. 
[...] Dentro deste conjunto, as teologias são formuladas vividas e transformadas”. 
 Em relação ao Sagrado e a experiência religiosa Reimer e Souza (2009, p. 17) 
afirmam que: 
 
O sagrado se apresenta na vida e na história como o “totalmente outro”, 
aquele que está além da esfera do cotidiano, do compreensível, do familiar. É 
algo pleno de valor, que ultrapassa toda a capacidade de compreensão; possui 
um valor objetivo que se impõe por si mesmo. 
 
 O sagrado é algo que transcende o mundo natural, mas perpassa pela sensação e 
experiência de um indivíduo, grupo ou sociedade. Não se subsidia no visível, mas 
naquilo que lhe é manifesto em seus sentidos e emoções, o que se constitui a 
experiência religiosa. 
 Ao pensarmos em uma definição para o que seria o Sagrado pensamos logo 
naquilo que se opõe ao profano. E realmente, o sagrado é algo ambíguo que podemos 
analisar sempre de dois polos, pois são físicas e morais, humanas e cósmicas, positivas e 
negativas, propícias e não propícias, atraentes e repugnantes, favoráveis e perigosas para 
as pessoas (REIMER; SOUZA, 2009). 
23 
 
 Reimer e Souza (2009) coloca ainda a Hierofania, isto é, a “manifestação do 
sagrado”, que pode ser dividida em: Hierofania em objetos: quando o objeto se 
transforma em outra coisa, porém sem deixar de ser ele mesmo, onde a qualidade do 
sagrado não é intrínseca ao objeto mas é conferida a ele; Hierofania em espaços físicos: 
para pessoa religiosa há espaços qualitativamente diferentes das outras, como um altar 
por exemplo; Hierofania em espaços temporais: há um espaço temporal que são 
sagrados como uma festa ou evento religioso. 
 O sagrado é a base da experiência religiosa, a partir desta relação surge uma 
experiência transcendente e subjetiva. É neste momento que o indivíduo se sente diante 
da presença de um “mistério tremendo” que leva a força da absoluta magnanimidade do 
divino em seu corpo de criatura (REIMER; SOUZA, 2009). 
 
1.2.2 Linguagens da religião 
Sabemos que dentro de cada religião, e ainda dos movimentos de cada uma 
delas, existe um entendimento específico ao que se refere no trato com o corpo e com o 
Divino. E este entendimento está além das “competências” (ou capacidades) físicas, 
mas, sobre tudo de uma experiência pessoal ou grupal. 
É importante tratar também a questão da liturgia no culto que, em sua origem 
grega, quer dizer “obra pública”. Dentro da religião, o termo além de se referir às 
práticas do grupo religioso para adoração/contato com Deus, também se refere a forma 
que o ser humano responde a este encontro. 
 
 
 
A liturgia tem sido considerada tarefa de especialistas, pelo menos é o que se 
tem ensinado nas faculdades teológicas que, por sua vez, se esmeram em 
proporcionar aos acadêmicos um ensino de qualidade, onde se aprende a 
celebrá-la corretamente segundo cânones e normas estabelecidas. 
Normalmente, é o bispo ou o pastor (dependendo da confissão religiosa) que 
possui o jus liturgicum, e é ele, em última análise, o árbitro da excelência 
litúrgica (SCHALLENBERGER, s/d, p.5). 
 
A linguagem que é utilizada na religião está subsidiada em uma infinidade de 
símbolos e signos, que expressam tanto uma comunicação específica à aqueles que 
entendem, quanto a uma característica peculiar de alguma questão dogmática, 
24 
 
doutrinária ou de fé. Ao nos referirmos a linguagem considero na palavra não só o 
sentido da fala ou comunicação verbal, mas também gestual, escrita e outras. 
 Segundo Duarte (2008, p.89) “O símbolo é a chave da linguagem inteira da 
expressão religiosa”. Por vezes, no caso dos símbolos permanecemos na esfera 
sensorial, sendo possível outorgar nas coisas materiais. Num segundo sentido é 
manifestado no material suas experiências, por isso: “Dois fatos são importantes: a 
segunda realidade não está diretamente nas coisas, mas é particular para cada pessoa. E 
as coisas não são simbólicas por elas mesmas, mas se tornam simbólicas em virtude da 
experiência humana” (DUARTE, 2008, p.89). 
 Assim, os símbolos são coisas concretas que conhecemos que são 
(re)significadas e pode-se remeter a outros tipos de relações. Os símbolos são parte da 
linguagem primária da religião, pois, possibilita a visão (com outras lentes) daquilo que 
normalmente não se vê. E está diretamente relacionada com a experiência do indivíduo 
e por isso pode ser polissêmico e universal ao mesmo tempo (REIMER; SOUZA, 
2009). 
 Podemos notar então um começo de relação entre aquilo que é físico e se vê, e o 
que não se vê. O que está relacionado às questões metafísicas e até às experiências dos 
que acreditam e participam dos ritos religiosos. 
 Ao tratar de rito religioso temos que ter cuidado para não atribuir um significado 
que não lhe traduz, como o de mito, ou o símbolo, por exemplo. Para melhor 
entendimento podemos considerar algumas diferenças: o símbolo manifesta, o rito faz. 
O rito enfatiza a potência sacramental que o mito já tem, e o mito especializa o 
significado do rito e os dois atuam como modelos da ação humana. E rito é coletivo, 
uma vez que atos religiosos são sociais (DUARTE, 2008). 
 
O rito produz um efeito, pois é uma ação dos Deusespara o homem religioso. 
O que foi criado pelos Deuses é recriado na repetição do culto. Desta 
maneira, os ritos são repetições sem modificações e perduram por gerações. 
Mas essa fixação sem mudanças pode gerar o ritualismo, que significa 
sacralizar o próprio rito ao invés de expressar o sagrado de toda a sua ação 
(DUARTE, 2008, p. 93). 
 
 O rito se constitui no gesto da expressão religiosa, não sendo involuntário, ao 
contrário, reafirma o mito. O rito atualiza o mito, buscando contato com o sagrado 
(REIMER; SOUZA, 2009). 
25 
 
 O mito é uma forma de se comunicar um pensamento que reflete a verdade. Ao 
contrário do senso comum que liga o termo a uma ilusão e mentira, dentro da linguagem 
religiosa tem uma lógica própria de dizer o mundo. O mito expressa também uma 
narrativa de algo da origem, ou até a cosmovisão de um determinado grupo (REIMER; 
SOUZA, 2009). 
 Dentro das linguagens da religião temos também as doutrinas que segundo 
Reimer e Souza (2009, p. 29): 
 
É um conjunto de ensinamentos que, em geral, tem origens em textos 
sagrados de determinada religião. Ela pode expressar-se por meio de credos 
(elaboração resumida de elementos centrais para a fé, por exemplo, o Credo 
Apostólico) ou de dogmas (sistematizações consistentes de conteúdos de fé, 
feita por autoridades competentes, por exemplo, o dogma da Imaculada 
Conceição de Maria). 
 
As orientações e guias de um grupo religioso são conferidos pelos líderes que 
atuam como um mediador entre o Divino e o humano, atribuindo assim uma sacralidade 
à pessoa que é representante desta posição, no caso do Cristianismo Protestante, num 
primeiro momento, o Pastor. 
 O estabelecimento dessa figura é muito importante pois, traz do céu a revelação 
da vontade divina e ainda depois de registrada “se constitui uma doutrina normativa das 
ideias, dos ritos e da práxis, segundo o modelo da religião” (DUARTE, 2008, p. 93). 
Estas figuras se mostram fundamentais na conceituação e caracterização de 
doutrinas e dogmas dentro de uma religião. Portanto é “A partir da revelação, da 
composição literária dessa revelação, da sua canonização e constituição como doutrina, 
que instaura-se o reflexo de tudo isso na vida social através de comportamentos éticos 
definidos por essas crenças do grupo” (DUARTE, 2008 p. 94). Nisto que podemos 
perceber o enfoque na visão de dança (dentre outras práticas) dentro de cada seguimento 
religioso. 
Ao se tratar especificamente da relação da religião com o corpo sabemos que: 
 
Cada religião possui crenças e costumes diversos que, no decorrer do tempo, 
“marcam” os corpos dos fiéis, tornando visíveis gestos e comportamentos 
tipicamente religiosos. Dentre as inúmeras religiões existentes, algumas 
direcionam de forma mais direta seus ensinamentos com relação aos “usos do 
corpo” (RIGONI, 2013, p. 228). 
 
26 
 
 Deste modo, cada religião instrui seus membros quais maneiras são as mais 
adequadas de utilizar o corpo sem que ele “caia em tentação” e não “cometa pecados”. 
As denominações pentecostais tradicionais se destacam no que diz respeito à educação 
do ser humano em seus aspectos corporais (RIGONI, 2013), fato a ser tratado no 
próximo tópico. 
 A relação de um povo com Deus em um determinado lugar e hora, o chamado 
culto, está em constantes mudanças em seu caráter litúrgico. Mudanças que são 
influenciadas pelas interpretações dos líderes e pelo contexto histórico em que está 
relacionado, mas de todo modo é caracterizado pela relação daquele povo com Deus: 
 
 
Ao longo dos séculos, o comportamento do ser humano no culto tem se 
alterado. Este fato pode ser fruto das próprias conotações do que seja “culto”. 
Veja por exemplo, Paul J. Hoon que, em sua definição de culto cristão, 
afirma que “o culto é a auto revelação de Deus em Jesus Cristo e a resposta 
do ser humano”. Esta resposta a que Hoon se refere pode ser qualquer ato que 
se segue a um estímulo exterior e a ele está imediatamente ligado, podendo 
ser ou não de ordem ativa. O teólogo luterano Peter Brunner endossa esta 
teoria, ao afirmar que culto é “a conotação do serviço de Deus aos seres 
humanos e da mesma forma o serviço dos seres humanos a Deus” 
(SCHALLENBERGER, s/d, p.4). 
 
 
 Portanto, percebemos que o culto religioso é considerado um rito repleto de 
símbolos que, expressam uma relação direta com o Divino a partir de uma liturgia que 
prediz o comportamento e ações realizadas pelos homens que são aceitas ou não em 
adoração/reverência/relação com Deus. 
 
 
1.2.3 A Dança no Pluralismo religioso 
 A dança como caráter religioso está e esteve presente em grande parte das 
sociedades no decorrer dos séculos. Dançar para adorar deuses em festas, em 
agradecimentos, fazia parte da realidade de vários povos, veremos alguns. 
 No Egito antigo a dança estava presente inicialmente com características 
sagrada, em adoração/louvor a deuses, com o passar dos anos passou a comportar 
também características de diversão. Já na Mesopotâmia a dança era extremamente 
religiosa, e também com características alegóricas, realiza em rituais litúrgicos 
principalmente para deuses como Mabo, Maloch, Baal. Para os gregos a dança era algo 
incorporado em sua cultura de maneira a relatarem que era algo dado diretamente pelos 
27 
 
deuses ao ser humano, uma das danças gregas mais antigas é apresentada em adoração 
ao deus Dionísio, que se realizava durante o ato de se pisar nas uvas. Os romanos já 
apresentavam características diferentes, uma vez que seus valores estavam mais 
relacionados a conquista de guerras (TORRES, 2009). 
 Outro povo que também tinha a dança fortemente disseminada em sua cultura 
era o povo hebreu, onde suas danças apesar de terem peso social muito forte estava 
sempre atrelada a alguma questão religiosa. Este povo se caracterizava por um grande 
número de festas, com algumas que duravam semanas. Sua dança era estritamente de 
caráter religioso e com características ritualísticas, com um certo limite de 
esquematização com rodas, danças em filas, danças giratórias (TORRES, 2009). 
 Movimentos que hoje são usados na Dança Adoração podem ser identificados 
em obras de diversos períodos da história, como: 
 
28 
 
Esta estátua data do período pré-dinástico egípcio e trata-se da representação de 
gestos de adoração que podem ser encontrados até hoje dentro das danças em adoração 
a deuses em diversas religiões (BONETTI, 2013). 
 
Figura 1 "Estatueta com braços erguidos em atitude reverencial. (BONETTI, 
2013, p. 89) 
 
 
 
29 
 
 
Figura 2 Dança de Apolo (BONETTI, 2013, p. 140) 
Dança em roda que apresenta uma inspiração livre e invoca o espírito da arte 
(BONETTI, 2013). 
 
 
Figura 3 Adoradoras de Dionísio (BONETTI, 2013, p. 162) 
Esta figura apresenta um ritual de adoração a Dionísio, que era caracterizado por 
um estado de transe que suas adoradoras se encontravam durante o culto (BONETTI, 
2013). 
30 
 
 
Figura 4 Dança de vindima, época romana (BONETTI, 2013, p. 219) 
Dança de celebração a Dionísio, onde eram cantadas e dançadas canções fálicas3 
em sua honra (BONETTI, 2013). 
 
3 Também conhecidas como dança de fecundidade, as danças Fálicas são ligadas à agricultura, com 
imitações de raios, ventos, relâmpago, estiveram inicialmente relacionadas às mulheres. Só se 
desenvolveram na agricultura quando o homem assumiu o trabalho no campo. 
31 
 
 
Figura 5 Dança circular (BONETTI, 2013, p. 262) 
 Dança circular aberta com tocador de lira. Finais do III período minoico (1400-
1100 a.C.) (BONETTI, 2013). 
 
Distintos significados são atribuídos às danças antigase ritualísticas e estas 
são lidas de acordo com a presença de elementos e percepções estéticas que 
se relacionam com a linguagem, guardando, pois, suas propriedades nas 
formas simbólicas que revelam seus arquétipos expressos na metáfora mítica 
dançada (BONETTI, 2013, p. 262). 
 
 
Portanto, quando analisamos a dança nessas civilizações percebemos que estava 
presente nos rituais e na vida religiosa do povo, mas não só com um caráter 
contemplativo, e nem como uma técnica ou padrão no ato de dançar, mas de modo 
geral, era natural e instintivo. 
Entendemos em relação aos gestos e a dança dentro das religiões a partir do que 
apontou Bonetti (2013, p. 89), ao dizer que: 
 
O gesto sagrado, ao satisfazer as necessidades simbólicas, fica circunscrito ao 
espaço sagrado; no entanto, o gesto profano é considerado como o que não 
tem finalidade e pode desorganizar o espaço simbólico, cujo resultado é o 
espaço profano, ou seja, prosaico. Este é um cansativo e cria um espaço que 
não é referenciado ao sagrado, é um gesto repetitivo, mas sem significado 
simbólico de comunicação com o imaterial ou sobrenatural, não tem código 
sagrado. 
32 
 
 
 Portanto, a dança em adoração ao sagrado está relacionada com o código que ela 
representa, e só faz sentido quando é realizada dentro de uma intenção simbólica ao 
imaterial, caso contrário é apenas uma expressão corporal sem finalidade de conexão 
com o Sagrado. 
 Algumas práticas corporais que foram herdadas de ritos, costumes, festas antigas 
ainda podem ser encontradas hoje de maneiras diferentes. Como é o caso das festas de 
tradições populares, ou folclóricas, por exemplo. 
 Moraes Filho (1979) nos apresenta algumas festas que podemos encontrar até 
hoje em nossa sociedade, como o Carnaval, Os Cucumbis (Rio de Janeiro) e, A Festa da 
Penha (Rio de Janeiro). Estas festas contêm práticas corporais características que se 
sustentam até hoje, ora sendo reinventadas às novas práticas contemporâneas, ora sendo 
preservados como patrimônio histórico cultural. 
 Temos também práticas corporais que na sua origem pode ter servido para 
explicar algum mito, ou rito, ou até uma liturgia de um povo e hoje são mantidos com 
todo respeito às tradições deixadas em sua comunidade. Como é o caso da dança 
presente nos bailes e festas das comunidades quilombolas de Goiás, como mostra Silva 
e Falcão (2011, p. 119): 
 
A festa se configura como um momento onde a comunidade celebra suas 
tradições, ritos, costumes, crenças e, também, é o espaço de festejar os 
encontros, rever pessoas, cantar, prosear, dançar, beber e comer. Sendo 
possível notar que nessas ocasiões sagrado e profano se fazem presentes e 
caminham juntos. [...] as festas são encontros dançantes que celebram com 
muita alegria a confraternização dos corpos, que congregam diferentes 
motivações, sejam elas de cultos religiosos, datas comemorativas do 
calendário da Igreja Católica, pagar promessa a santos, como também para 
celebrar o fim da rotina de trabalho. 
 
 
 É interessante retratarmos especificamente o papel que a dança exerce nesta 
comunidade: 
 
 
O diálogo dançante promove a integração entre o sagrado e o profano, que 
respectivamente trazem para o baile a diversão e o prazer estético. Assim 
como a espiritualidade (êxtase místico), a presença dos corpos que 
representam em sua corporalidade diferentes gerações daquela comunidade, 
contribuindo para a diversidade de histórias, gestos e significados nesse ritual 
(SILVA; FALCÃO, 2011, p. 123). 
33 
 
 
 Outro exemplo da dança em seu caráter de relacionamento com o sagrado na 
atualidade é as Danças Circulares Sagradas, ou Dança Sagrada, que faz uma relação 
com que transcende uma questão meramente física, mas nela “o indivíduo coloca-se em 
contato com o seu corpo em movimento, com o seu ser em expressão e com o grupo, 
estabelecendo e transformando suas relações sociais” (COSTA, 1998, p. 22). A Dança 
Sagrada, ainda se manifesta de uma maneira mais abrangente, como uma forma de 
integração holística, uma celebração à vida, e até como uma forma de cura (COSTA, 
1998). 
 Portanto, percebemos que ainda hoje temos várias manifestações corporais que 
transcendem a capacidade meramente física de dançar, mas reflete uma necessidade de 
se manifestar corporalmente a uma condição metafísica que está ligada com as questões 
histórico-culturais, como também, de crença e fé de um povo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
CAPÍTULO II - CRISTIANISMO PROTESTANTE E A DANÇA CRISTÃ 
 
Neste capítulo busca-se relacionar a dança dentro de sua história, desde os 
primórdios da dança judaico-cristã até as divisões que são apresentadas hoje. Para tanto 
traremos as divisões do Cristianismo protestante até chegarmos em seu último 
movimento, o Pentecostalismo. 
 Num primeiro momento buscamos apresentar o Cristianismo de maneira 
histórica, compreendendo os movimentos que surgiram após a Reforma Protestante e 
com desenvolvimentos de diversas doutrinas e interpretações das Sagradas Escrituras. 
Passamos por movimentos como, Luteranismo, Anabatismo, Metodismo até chegar no 
Pentecostalismo. 
 No Pentecostalismo, aprofundamos de maneira a entender melhor suas nuanças, 
assim como suas principais doutrinas, para que pudéssemos encontrar o lugar do corpo 
na adoração a Deus, uma vez que este movimento é o mais recente dentro do 
Cristianismo Protestante, portanto, o mais atual. 
 Posteriormente buscamos analisar a questão da dança na história judaico-cristã, 
perpassando pela identificação de suas principais festas e comemoração, entenderemos 
que suas festividades eram sinônimos de grandes manifestações corporais com intuito 
de agradecer, louvar e relacionar-se com Deus. 
 Apresentaremos também a visão da dança no Cristianismo Protestante 
Contemporâneo, assim como diversas divisões entre os tipos de danças, que estão 
relacionadas com a finalidade (celebração, adoração, interseção) e os tipos de 
movimentos realizados. Exporemos também o entendimento da dança enquanto espaço 
de adoração e relacionamento com Deus. 
 
 
2 O CRISTIANISMO E A DANÇA 
A dança como expressividade religiosa se deu com o desenvolvimento de 
diversas nuanças sociais, sejam questões ligadas à explicação da origem da vida, seja na 
relação de encontro com o Sagrado ou até como oferta ao Divino. Além de estar 
35 
 
relacionada o ensino dos mais jovens às relações que os circundavam, como colocado 
ainda por Laban (1978, p. 43): “Em tempos bem antigos, [as] danças eram um dos 
meios principais de ensinar ao jovem como adaptar-se aos hábitos e costumes de seu 
antepassado. Neste sentido estão em íntima conexão tanto com a educação quanto com 
o culto e religião”. 
 A partir deste pensamento então temos exposto a nós uma nova maneira de 
pensar e lidar com o Sagrado: Dançando. 
Uma análise desta visão de Corpo e Dança, do rito, dentro das religiões se 
mostram cada vez mais necessária para o entendimento da relação do fiel com seu Deus. 
“Como expressão do fenômeno religioso, as formas rituais aproximam o profano do 
Sagrado, proporcionando uma experiência subjetiva – misterium – e uma experiência 
objetiva compartilhada pelo grupo” (BONETTI, 2004, p. 155). 
Para pensar essa relação com o homem enquanto ser dançante para se relacionar 
com o Santo e Sagrado consideremos Wosien (2000) em seu livro Dança: Caminho para 
a totalidade, que coloca como também citado por Bonetti (2013, p.23): “O homem 
vivencia na dança a transfiguração de sua existência [...]”. 
Vamos, portanto apresentar uma relação específica da dança, dentro da IgrejaCristã protestante, no que tange ao relacionamento desta com Deus. 
 
 
2.1 Cristianismo Protestante 
O Cristianismo tem suas raízes no universo religioso judaico. Reimer e Souza 
(2009, p. 67) trazem a relação entre a fé judaico-cristã expondo suas diferenças: 
 
O ponto de ruptura com a proposta religiosa dos hebreus é representado pelo 
acontecimento Jesus Cristo, isto é, pela pessoa, vida e obras. Para o judaísmo 
Jesus é apenas um profeta. Para os cristãos, Ele é o Messias, o enviado de 
Deus. Ele o Emanuel, Deus feito homem para salvar toda a humanidade. 
Nascido na cidade de Belém, região da Galiléia, na Palestina, Jesus viveu sua 
infância e juventude em Nazaré. Ao 30 anos iniciou sua pregação, marcadas 
por sinais extraordinários, milagres, feitos principalmente para aliviar o 
sofrimento dos pobres e dos pequenos. Poucos anos depois da morte de Jesus 
Cristo, seu seguidores oram além das fronteiras da Palestina da época, para 
pregar a mensagem nos países mais distantes. 
 
 
36 
 
A religião Cristã se baseia na fé em Jesus Cristo e com o passar dos anos houve 
várias modificações e mudanças que constituíram na religião que conhecemos hoje. 
Entendamos agora, um pouco mais sobre o nascimento do Cristianismo Protestante (ou 
Protestantismo). 
A Idade Média foi conhecida por uma intensa relação entre a Igreja Católica e o 
Estado. A história nos mostra que a Igreja também governava e sob o pretexto de 
conhecer e fazer valer a vontade de Deus na Terra. Esse período ficou conhecido 
também como Idade das Trevas. 
 
O colapso da irmandade universal – católica era iminente e daria origem a 
uma “nova” fé, a qual se atribuiria o valor de reformada. À frente dessa 
Reforma estava um monge agostiniano, Martinho Lutero, profundamente 
angustiado e afligido pela consciência de seus pecados, para os quais não via 
a possibilidade de perdão. A tensão espiritual interior de Lutero era, na 
verdade, um sentimento evidente em muitas pessoas. A prática comum, 
todavia, estabelecida pela Igreja para lidar com a questão do pecado e do 
perdão era a venda das indulgências. Quaisquer pessoas poderiam diminuir 
seu tempo de sofrimento no purgatório e encher-se de méritos que 
contrabalanceassem com suas faltas, a ponto de garantir-lhes, por fim, um 
bom lugar nas moradas celestiais (LEMOS; ALVES, 2013, p. 137). 
 
 
É sabido que a Igreja Católica impunha inúmeros dogmas e pressões que regiam 
e ditavam condutas e normas sociais, que iam desde acordos com reinos e nobreza até a 
venda de indulgências, por exemplo. 
Martinho Lutero (1483-1546), estudioso da doutrina cristã, tornou-se padre, mas, 
por não aceitar a maneira que o catolicismo era praticado, não exercia. Em 31 de 
outubro de 1517 Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg95 
teses em protesto as diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana (DE 
MATOS, 2011). 
 
O Protestantismo emerge dando ênfase a três doutrinas principais: a 
justificação pela fé, o sacerdócio universal, a infalibilidade apenas das 
Sagradas Escrituras; a Bíblia. As repercussões dessas pregações seriam tão 
contundentes, que dividiria a Europa entre Protestantes e Católicos (LEMOS; 
ALVES, 2013, p. 138). 
 
Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus iniciando uma 
revolução religiosa. A Igreja Católica Romana respondeu com o que ficou conhecido 
como a Contrarreforma ou Reforma Católica, a partir do Concílio de Trento. Como 
resultado da Reforma Protestante iniciada por Lutero, houve uma divisão entre os 
37 
 
Católicos Romanos e os reformados ou os protestantes, originando o Protestantismo 
(DE MATOS, 2011). 
A partir de então houve um grande desenvolvimento das ideias de pregadas pelo 
Protestantismo, com isso, surgiu também várias interpretações e entendimentos 
doutrinários sobre a verdadeira revelação do cristianismo. Neste momento aparece 
alguns movimentos, doutrinariamente divergentes umas das outras, nascendo ramos, 
também conhecido como denominações, dentro do Cristianismo Protestante que 
encontramos até hoje (DE MATOS, 2011). 
 
2.1.1 Movimentos Protestantes 
As mudanças doutrinárias dentro do Cristianismo provocaram reações que 
impactaram diretamente os pilares sociais da época, deste modo: 
 
 
a sociedade europeia do século XVI fora, forçosamente, retiradas de seu 
universo interior de acomodação cultural e intelectual, e expostas a novos 
valores que iriam produzir efeitos tão profundos que findariam em dividir 
uma Europa que antes estivera, ao menos no aspecto religioso, unida pelos 
laços comuns do cristianismo romano. A dissolução não era o objetivo de 
todos os reformadores, mesmo assim, tornou-se caminho inevitável ante o 
recrudescimento das práticas pouco ou nada espirituais da Igreja Católica 
Romana, evidenciadas nas atitudes de seus clérigos (LEMOS; ALVES, 2013, 
p. 136). 
 
 
A partir da Reforma Protestante algumas denominações surgiram a fim de suprir 
as necessidades encontradas nas falhas da Igreja Católica Romana. Houve, portanto, 
uma grande variação de doutrinas e interpretações que fundaram novas correntes 
religiosas ou denominações dentro do protestantismo. 
Segue um quadro para maior compreensão dessas correntes: 
 
38 
 
 
Imagem 1: Principais ramos dentro do Protestantismo. 
Fonte: Disponível em 
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/97/Protestantbranches_pt.svg/2000px-
Protestantbranches_pt.svg.png. 
 
Essas ramificações surgiram em momentos históricos diferentes, porém algumas 
delas têm congregações remanescentes de suas doutrinas até hoje. Alguns autores 
apresentam essas divisões de forma mais sistemática (LEMOS; ALVES, 2013), outros 
nem tanto (DE MATOS, 2011). Vamos apresentar alguns desses movimentos com 
algumas características específicas. 
 
● Anabatista: não se trata de um grupo ou igreja específica e sim na crença de que 
o Batismo deveria ser feito quando adulto, portanto, as pessoas eram batizadas 
quando adultos, mesmo se já tivesse sido batizada quando criança (SCOTT, 
1995). 
● Calvinismo: Conjunto de ideias e doutrinas de João Calvino. Podem ser 
classificados de Reformados ou Presbiterianos. Sua tese se fundamenta em cinco 
pontos principais, entre eles Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça 
Irresistível, entre outros (VIEIRA; TOLEDO, 2006). 
39 
 
● Luteranismo: Conjunto de ideias e períodos de Martinho Lutero, dentre suas 
principais características está a não crença na Doutrina da Predestinação, que 
prega que cada pessoa já tem um caminho predestinado por Deus (WIRTH, 
2005). 
● Anglicanismo: Se assemelha ao catolicismo no que concerne a crença na 
Escritura Sagrada, e ao sacramento do Batismo e da Eucaristia. Nas diferenças 
caracteriza-se a questão das imagens, não aceitos pelos anglicanos, e o não 
reconhecimento da autoridade papal (LEMOS; ALVES, 2013). 
● Congregacionalismo: Trata-se de um regime onde cada igreja local exerce 
controle sobre suas próprias doutrinas teológicas, a questão sobre o avanço 
missionário e o relacionamento com outras congregações, ou seja, cada igreja 
local era individual autônoma e independente (LEMOS; ALVES, 2013). 
● Movimento Metodista: Criado por John Wesley surgiu no começo do séc. XVIII 
quando um grupo de irmão passou a se encontrar para manutenção da é cristã 
através da leitura da Bíblia, prática da oração e do jejum e visitas aos presos e 
enfermos. Começaram inicialmente com nome de “Clube Santo”, mas devido ao 
método de ortodoxia religiosa foram apelidados de metodistas, nome que 
permanece até hoje. Apoiaram-se fundamentalmente no anglicanismo (DE 
MATOS, 2011). 
● Adventismo: doutrinaprotestante que surge no séc. XIX. Um dos principais 
nomes deste movimento é a Igreja Adventista do Sétimo Dia que se baseia em 
28 doutrinas principais, entre elas: a vinda do milênio para o reinado de Jesus 
Cristo e a necessidade de se guardar o sábado para adoração a Deus (LEMOS; 
ALVES, 2013). 
● Movimento de Santidade: O Holiness Movement foi um movimento no qual se 
baseia que a natureza caída/carnal, a humanidade podia ser purificada através da 
fé em Cristo Jesus (DE MATOS, 2006). 
 
Vimos então, que inúmeros movimentos surgiram no decorrer dos anos. 
Movimentos que se baseavam no cerne da Reforma Protestante, mas que diferenciavam-
se em termos de doutrinas, crenças e organizações. 
40 
 
O movimento Pentecostal surge como mais um destes movimentos. Com 
diferentes interpretações e análises e, altamente influenciado por diversos outros ramos 
advindos com o surgimento do Protestantismo. O pentecostalismo aparece com uma 
nova roupagem à fé cristã e da relação do homem com Deus. Vamos entender um pouco 
mais sobre suas origens e peculiaridades. 
 
 
2.1.2 Pentecostalismo 
Na história do cristianismo protestante temos algumas considerações a começar 
pela ocorrência do que chamamos de Primeiro Grande Despertamento, por volta de 
1730 e 1740. Este fenômeno trouxe uma revitalização das igrejas protestantes, e 
concomitantemente trouxe um tipo diferente de cristianismo, com um peso ao 
emocional maior, mais independente das estruturas e tradições antigas e, além disso, o 
desejo de mais formas de se experimentar o Sagrado (DE MATOS, 2006). 
Decorrente disto, o avivalismo, ou seja, atividades direcionadas à promoção de 
uma vida espiritual mais intensa e fervorosa se tornou uma característica no cenário 
religioso cristão protestante norte americano. Esse poderoso fervor espiritual também se 
culminou em inúmeros novos movimentos religiosos, alguns mais relacionados com o 
protestantismo histórico e outros nem tanto, como mórmons e testemunhas de Jeová, 
por exemplo (DE MATOS, 2006). 
Tratando especificamente do pentecostalismo, entende-se que é resultado de 
alguns desdobramentos doutrinários, durante quase um século, dentro do cenário do 
Cristianismo Protestante. E, apesar de esta nova doutrina religiosa ter sofrido várias 
influências de correntes como o puritanismo4 e o pietismo5, alguns estudiosos apontam 
que as origens básicas do pentecostalismo têm seus pés nas doutrinas de João Wesley 
(1703-1791). Com algumas características como “inteira santificação” ou “perfeição 
cristã” ou ainda em termos como “a mente de Cristo”, “plena devoção a Deus” ou “o 
 
4O puritanismo designa uma concepção da fé cristã desenvolvida na Inglaterra por uma comunidade de 
protestantes radicais depois da Reforma. 
5Movimento de renovação da fé cristã que surgiu na Igreja luterana alemã em fins do sec XVII, 
defendendo a primazia do sentimento e do misticismo na experiência religiosa, em detrimento da 
teologia racionalista. 
41 
 
amor a Deus e ao próximo”, Wesley pregava que esse tipo de experiência era alvo a ser 
alcançado ao longo da vida Cristã (DE MATOS, 2006). 
Durante o Segundo Grande Despertamento, que ocorreu nas primeiras décadas 
do século 19, o metodismo também experimentou um aumento expressivo de membros, 
alcançando uma grande expressão numérica. Fato que fez que as doutrinas metodistas se 
permeassem por outras denominações. Entre suas ideias e práticas podemos citar a 
pregação com forte conteúdo emocional, os apelos insistentes seguidos de assistência 
espiritual aos convertidos, ou até a participação das mulheres falando e orando em 
reunião para ambos os sexos (DE MATOS, 2006). 
Os pastores mais determinantes para o surgimento do pentecostalismo, essa nova 
corrente teológica dentro do cristianismo protestante, foi o pastor metodista Charles Fox 
Parham (1873-1929) que fundou um instituto bíblico no Estado do Kansas, Estados 
Unidos. O que torna Parham tão importante nesta história é que, este pastor foi o 
primeiro a considerar o “falar em línguas” uma a evidência inicial do batismo no 
Espírito Santo. O segundo pastor foi aluno de Parham em sua outra escola bíblica 
fundada em Houston, seu nome era William Joseph Seymour (1870-122). Seymour era 
negro, filho de escravos, tinha pouca cultura considerado com limitados dotes de 
oratória e era cego de um olho. Um avivamento começou no dia 9 de abril de 1906, e 
ficou conhecido como “O Avivamento da Rua Azusa”. A descrição dos cultos era – as 
reuniões eram eletrizantes e barulhentas. Começavam ás 10horas da manhã e iam até 2 
ou 3 horas da madrugada seguinte. Não havia hinários, liturgia ou ordem de culto. Os 
homens gritavam e saltavam através do salão; as mulheres dançavam e cantavam. 
Algumas pessoas entravam em transe e caiam prostradas (DE MATOS, 2006). 
 
 
Portanto, o movimento pentecostal tem dois fundadores: Charles Parham e 
William Seymour. Parham foi o primeiro a fazer a afirmação fundamental de 
que o falar em línguas era a evidência visível e bíblica do batismo com o 
Espírito Santo. A importância de Seymour, o discípulo de Parham, reside no 
fato de que sob sua liderança, através do Avivamento da Rua Azusa, o 
pentecostalismo se tornou um fenômeno internacional e mundial a partir de 
1906 (DE MATOS, 2006, p.33). 
 
 
No decorrer dos anos o Cristianismo Protestante teve grande disseminação em 
todo mundo e, inevitavelmente, teve também algumas variações de acordo com 
interpretações bíblicas e doutrinárias dentro desta mesma corrente religiosa. O 
42 
 
movimento Pentecostal é uma dessas vertentes que se surgiu nos desdobramentos 
religiosos no decorrer do tempo. 
 
 
 
O moderno movimento pentecostal é considerado por muitos estudiosos o 
fenômeno mais revolucionário da história do cristianismo no século 20, e 
talvez um dos mais marcantes de toda a história da igreja. Em relativamente 
poucas décadas, as igrejas pentecostais reuniram uma imensa quantidade de 
pessoas em praticamente todos os continentes, totalizando hoje, segundo 
cálculos de especialistas, cerca de meio bilhão de adeptos ao redor do mundo. 
Mais do que isso, o pentecostalismo acarretou mudanças profundas no 
panorama cristão, rompendo com uma série de padrões que caracterizavam as 
igrejas protestantes há alguns séculos e propondo reinterpretações muitas 
vezes bastante radicais da teologia, do culto e da experiência religiosa. [...] 
Rigorosamente falando, o pentecostalismo como um fenômeno distinto 
surgiu nos últimos anos do século 19 ou nos primeiros do século 20 (DE 
MATOS, 2006, p. 24). 
 
 
O movimento pentecostal foi muito diversificado desde o início, proporcionando 
uma grande variedade de manifestações e ênfases. Isto não é de se admirar, pois o 
pentecostalismo podia a partir de umas doutrinas básicas, assumir grande número de 
configurações, motivadas principalmente pelos muitos líderes independentes que iam 
surgindo (DE MATOS, 2006). 
 O pentecostalismo pode ser analisado em três ramificações principais: 
 
 
“Pentecostalismo Clássico (tradicional)”, estabelecido no país com a 
Congregação Cristã no Brasil (1910) e com a Assembleia de Deus (1911); o 
“Deuteropentecostalismo”, surgido entre 1950 e 1960 no Brasil, e o 
“Neopentecostalismo”, que inicia nos anos de 1970 e tem como seu maior 
exemplo, a Igreja Universal do Reino de Deus (RIGONI, 2013, p. 229). 
 
 
Podemos citar a Igreja do Evangelho Quadrangular como um exemplo 
“pioneiro” do Deuteropentecostalismo (ou Deutero-pestecostalismo) no Brasil, que 
representa a segunda onda do pentecostal, sendo o pentecostalismo tradicional a 
primeira e o Neopentecostalismo a segunda.

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