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![Apostila Direito das Obrigações - UGF[1]](https://files.passeidireto.com/Thumbnail/2baebbb3-7c68-44b1-ba17-2b0e9fb28ac4/210/1.jpg)
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válido devem-se reunir os requisitos do art. 104 do CC, que na verdade são os próprios requisitos da prestação, isto é, deve esta ser possível, lícita e determinada in verbis. ―Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.‖ A possibilidade deve ser natural e jurídica e o objeto da prestação deve ser por fim determinado ou no mínimo determinável. O credor, para que possa exigir uma prestação, deve saber em que consiste, pelo menos de maneira aproximada; o devedor, por sua vez, para que assuma o compromisso válido, precisa ter consciência de sua natureza e subsistência. c) Relação jurídica Representa este elemento objetivo o elo que liga o credor ao devedor a ponto de possibilitar a exigência da prestação. O vínculo caracteriza a própria obrigação civil, e por isso que o devedor tem sua atividade disciplinada pelo plano da obrigação convencionado com o credor. A compreensão deste elemento diz respeito aos dois lados diversos da relação, um de sujeição e o outro o direito subjetivo de exigir a prestação. Deve-se registrar a existência de doutrina que analisa a relação jurídica obrigacional tomando-se como base a teoria da situação jurídica, de tal modo que: Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 9 ―À luz dessa nova concepção, a expressão situação jurídica deixa de significar uma simples etapa genética na formação de relação jurídica (segundo Kohler), ou mera posição de sujeito como parte dessas relações (conforme Carnelutti), para corresponder a toda e qualquer situação de fato sobre que incida norma de direito.‖1 4. FONTES DAS OBRIGAÇÕES Estudar as fontes significa investigar como elas nascem e se formam, de onde surgem e porque determinada pessoa passa a ter o dever de efetuar determinada prestação para outra. A importância do estudo das fontes das obrigações é eminentemente histórica, porque no passado do enquadramento das obrigações derivavam determinadas conseqüências jurídicas. 4.1. No Direito Romano A mais antiga classificação das fontes no direito romano provém das Institutas de Gaio: omnis obligatio vel ex contractu nascitur, vel ex delicto (as obrigações nascem dos contratos e dos delitos). Num tópico de Res Cotinianae do mesmo Gaio, foi acrescentada uma terceira categoria de fontes: ex variis causarum figuris (várias outras causas de 1 COSTA JÚNIOR, Olímpio. A relação jurídica obrigacional. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 4. Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 10 obrigações). As várias figuras são as fontes que não se enquadram nem nos delitos, nem nos contratos, incluindo-se aí a gestão de negócios. As várias causas de obrigações, que não se consideram nem contratos, nem delitos, foram classificadas sob o título quase-contratos, como não existe o consenso de vontades, característica básica dos contratos, nem existe a violação da lei, os romanos ―assemelhavam‖ as situações aos contratos. Na época bizantina se faz menção a uma quarta fonte: os quase- delitos. O delito traz sempre a noção de dolo, intenção de praticar uma ofensa, enquanto o quase-delito, embora não tenha sido esta noção claramente exposta no direito romano, se inspira na noção de culpa. Os critérios de distinção se resumem na existência ou não de vontade. O Código de Napoleão adotou-a mas sofreu críticas. Porque tal forma de encarar as obrigações não é abrangente, deixando de lado vários fenômenos, como, por exemplo, as obrigações que resultam de declaração unilateral de vontade. O Código francês acrescenta mais uma fonte à classificação quadripartida: a lei. A lei seria fonte de obrigação nos casos onde não há interferência da vontade. Modernamente, esta classificação está abandonada. 4.2. No Direito Moderno Atualmente são muitas as construções doutrinárias e as soluções legislativas a respeito do assunto. A lei é a fonte primeira das obrigações. Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 11 Sílvio Rodrigues (1981, v. 2:11) entende que as obrigações “sempre têm por fonte a lei, sendo que nalguns casos, embora esta apareça como fonte mediata, outros elementos despontam como causadores imediatos do vínculo. Assim, a vontade humana ou o ato ilícito‖. Seguindo o autor há três categorias: a) as que têm por fonte imediata a vontade humana; b) as que têm por fonte imediata o ato ilícito e c) as que têm por fonte imediata a lei. O ato ilícito, por sua vez, constitui fonte de obrigações naquelas situações que provêm de ação ou omissão culposa ou dolosa do agente, que causa dano à vítima, estando sua definição nos artigos 186 e 927 de nosso Código Civil, in verbis: ―Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.‖ ―Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.‖ Caio Mário da Silva Pereira (1972, v. 2:28) menciona que há obrigações que decorrem exclusivamente da lei. Porém, lembra este autor que tais institutos Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 12 não se constituem verdadeiras obrigações no sentido técnico e são apenas deveres jurídicos. Sua conclusão é pela existência de duas fontes obrigacionais, levando em conta a preponderância de um ou outro fator: uma em que a força geratriz é a vontade; outra, em que é a lei. Para o autor, todas obrigações emanam dessas duas fontes. Podemos concluir que a lei é sempre fonte imediata de obrigações. Não pode existir obrigação sem que a lei, ou em síntese, o ordenamento jurídico, a ampare. Todas demais ―várias figuras‖ que podem dar nascimento a uma obrigação são fontes mediatas. São, na realidade, fatos, atos e negócios jurídicos que dão margem ao surgimento de obrigações. 4.3. No Código Civil Nosso Código reconhece, expressamente, três fontes de obrigações: o contrato, a declaração unilateral da vontade e o ato ilícito. A falta de dispositivo específico, como existente no Código italiano, na prática não apresenta dificuldades, pois o trabalho doutrinário se encarrega de fixar as fontes. A par do contrato e do ato ilícito, categorias universalmente aceitas, mesmo em face do nosso direito positivo, não podemos nos afastar das várias outras figuras, provenientes de fatos, atos e negócios jurídicos, reconhecidas pelo ordenamento e presentes constantemente nas relações sociais. Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 13 5. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES Espécies de obrigações, ou modalidades, significam a mesma coisa, e ao tratar delas tem-se que ter em mente os elementos acidentais dos negócios jurídicos: condição, termo e encargo. Como, em geral, os atos e negócios jurídicos admitem a aposição desses elementos, as obrigações também podem ser obrigações condicionais, obrigações a termo e obrigações com encargo. Há, todavia, nas obrigações, caracteres próprios que as distinguem dos demais atos jurídicos. Daí porque o Código