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![Apostila Direito das Obrigações - UGF[1]](https://files.passeidireto.com/Thumbnail/2baebbb3-7c68-44b1-ba17-2b0e9fb28ac4/210/1.jpg)
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deve-se anotar a regra geral de que o credor não pode ser obrigado a receber outra, mesmo mais valiosa (CC, art. 313. ―O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa‖). Isso significa que não é possível a substituição, pelo devedor, da coisa prometida, que importaria em alterar o objeto da prestação, a menos que haja concordância expressa do interessado, destinando-se a satisfazer o interesse do credor, a prestação não pode sofrer alteração, nem mesmo cumprimento por partes, pois somente a entrega da res visada libera o Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 19 devedor do ônus assumido. Importam, em descumprimento, tanto a não entrega da coisa, como a oferta de coisa diversa. Na entrega, a coisa deve ser acompanhada dos acessórios, mesmo não mencionados, salvo se o contrário resultar do título, ou das circunstâncias do caso (―Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.‖). Podem as partes convencionar, por expresso, a exclusão dos acessórios. Em consonância com o sentido da obrigação de dar, ao devedor compete conservar a coisa até a tradição, empregando o zelo e as diligências próprias do titular do bem e defendendo-a de eventuais ações de terceiro. Mas, caso ocorra perda, diferentes soluções encontram-se na lei, à luz da apreciação da conduta do devedor: se com culpa, ou sem culpa, se deu o perecimento. Não havendo culpa, resolve-se a obrigação, se a coisa se perde antes da entrega, ou quando pendente condição suspensiva (art. 234 ―Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.‖). Como o devedor alienante ainda é o proprietário do bem (art. 492, caput ―Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador.‖), sofre as conseqüências de seu desaparecimento, ou da pendência da condição (art. 125 ―Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.‖), pois, inexistindo direito adquirido, o risco da coisa é suportado pelo titular. Havendo culpa do devedor na perda, fica Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 20 ele responsável pelo equivalente, mais as perdas e danos (art. 234, 2a parte, já mencionado). Em consonância com a regra da obrigação de reparar (art. 159, anteriormente citado ou art. 392, conforme decorra de ilícito extracontratual ou contratual), além do valor do bem à ocasião, o devedor arca com a perda sofrida pelo credor pela não recepção da coisa e os lucros que disso deixou de auferir (art. 1.059). ―Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. ―Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.‖ Se, ao invés de perda, ocorrer a deterioração da coisa, também em função da análise da subjetividade do agente se manifesta o regramento existente: se se ocasionar sem culpa do devedor, abre-se ao credor opção de resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu (art. 236. ―Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 21 no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.‖). No caso de culpa do devedor, ao credor compete optar entre exigir o equivalente, ou aceitar a coisa na situação em que se encontre, podendo, ademais, reclamar indenização por danos e perdas (art. 236), em qualquer das hipóteses. Havendo aumento no valor da coisa, como os decorrentes de acréscimos ou melhoramentos (denominados cômodos), pode o devedor exigir aumento do preço, como compensação pelos riscos que suporta até a tradição (arts.1.267. ―A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico‖ e ―Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.‖) (commodum eius essa debet, cuius et periculum). Se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Os frutos percebidos também pertencem ao devedor, ficando com o credor os pendentes. No descumprimento da obrigação, ao credor cabe a ação para execução. Como subespécie da obrigação de dar encontra-se a de restituir, que se caracteriza pela existência de coisa alheia em poder do devedor, a quem cumpre devolvê-la ao titular. A obrigação de restituir consiste na necessidade de Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 22 devolução de algo que, a título contratual, se encontra legitimamente em poder do devedor. A mudança de perspectiva assinalada faz com que, na disciplinação da obrigação de restituir coisa certa (art. 238. ―Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.‖), a perda havida antes da tradição, desde que sem culpa do devedor, seja suportada pelo credor, resolvendo-se a obrigação, ressalvados seus direitos até a data daquela. Se a perda for decorrente de culpa do devedor (art. 239. ―Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.‖), responderá pelo equivalente, mais as perdas e danos. Na deterioração da coisa, sem culpa do devedor (art. 240. ―Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.‖), ao credor caberá recebê-la no estado em que esteja, sem direito a indenização (pois os riscos correm contra o titular). Se houver culpa do devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar o bem no estado correspondente, com direito a indenização por perdas e danos em qualquer hipótese (arts. 240, 2a parte, e 236). 5.3.1.2 Obrigação de dar coisa incerta A obrigação de dar coisa incerta é aquela em que a coisa devida é indicada apenas por suas características gerais. Compreende- Professor Marcio Rodrigues Oliveira – Disciplina: Direito das Obrigações 23 se, pois, em seu contexto, coisa indeterminada, mas possível de determinação à ocasião do cumprimento, que é precedida pela escolha da res.