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Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 2 Aula 1 - Estado globalizado e cidadania Objetivo do estudo Compreender e analisar a importância entre estado globalizado e cidadania. O termo globalização pode ser caracterizado como processo de aproximação entre os países e pessoas a partir da revolução técnico-científi ca e do avanço do sistema de transportes no globo terrestre. Movimento gerado a partir da necessidade imperiosa desenvolvida pelo sistema econômico neoliberal de aniquilar barreiras para a livre fl u- tuação fi nanceira, intensifi cando o consumo de mercadorias e mão deobra, tornando possível a formação deuma aldeia global (apropriação do conceito criado por McLuhan para caracterizar os sistemas de informação em expansão). Este processo, em seu iní- cio, criou duas possibilidades de autorrealização: globalização por interdependência – na qual a integração das sociedades ocorreria respeitando suas particularidades, tendo como objetivo a integração igualitária supe- rando as desigualdades; e a globalização por competição – na qual a integração ocorreria a partir de um processo de “concorrência” entre as culturas objetivando a massifi cação do modelo melhor adaptado às necessidades sociais. É possível identifi car diversas experiências de globalização com apli- cabilidades distintas: ideológica - ataque às torres gêmeas , símbolo máximo do capitalismo global, inaugurando a fase do terrorismo global; midiática – programas como Conexões Urbanas e Central da Periferia possibilitam a criação de fóruns sociais de discussão sobre as condições de vida no planeta; ativismo - contestação realizada pelo coman- dante Marcos, no México, cooptando apoio com auxílio da internet; política - denúncias de corrupção e as manifestações sociais nas eleições do Irã; denúncia - tentativa de controle da informação realizada pelo governo popular da China, na solicitação de blo- queio à comunicabilidade de computadores, realizado junto às empresas fabricantes; informacional - denúncias de tortura realizadas pelos EUA na prisão de Guantanamo, contrariando todo seu discurso moralista de respeito aos direitos civis ... Inúmeros estudos sobre globalização tentam mapear este fenômeno social: alguns analistas negam seu ineditismo, remontando ao pe- ríodo das grandes navegações (supremacia de Portugal e Espanha, durante a Idade Moderna); outros afi rmam setratar de um período único na história da civilização humana, devido à inexistência de outro modelo capaz de enfrentar ou mesmo sugerir um novo ca- minho; num outro polo, analistas franceses, inicialmente, con- testaram o termo globalização (anglo-saxão) preferindo a expressão mundialização para caracterizar o mesmo processo social; hoje, devido à sua liquidez, o termo globalização tornou-se hegemônico. Independente da discussão sobre seu ineditismo ou da inexistência de outro modelo, a globalização alterou a vida no planeta. Segundo seus críticos, a globalização representa o braço sociocultural da política neoliberal, servindo assim para legitimar a nova ordem social. Para o economista Stiglitz a globalização não vem contribuin- do para a equidade social e a redução dos confl itos, ao contrário, agravou problemas sociais devido à prática neoliberal. Seus defensores alegam que as críticas não devem recair sobre o processo de globalização, pois este intensifi cou as relações comerciais Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 3 descentralizando a oferta de empregos. Os erros no sistema refl etem a permanência das atividades do Estado no que tange ao controle das taxas de juros e à incompetência, ou à falta de interesse, em realizar as reformas ligadas à tributação, comprometendo assim a efi cácia das propostas globalizantes. Pós-modernidade A defi nição de pós-modernidade só estará cristalizada quando deixar de ser o próprio tempo presente, ou seja, vivemos a pós-modernidade e devido à sua contemporaneidade as transformações ainda se encontram em curso. É possível identifi car algumas características deste período: 1º os arcabouços que alicerçaram a modernidade passaram a ser ques- tionados, do discurso moral ao científi co; 2º ocorre uma aceleração da vida cotidiana decorrente das novas tecnologias, oriundas da comuni- cação e dos transportes; 3º existe um processo de desterritorialização (intensa mobilidade que possibilita a formação de hibridismos culturais e processos de desenraizamento dos indivíduos), redefi nindo o global e o local, originando o glocal; 4º há um discurso claramente metalinguístico e ideologizante que não busca explicações e recusa defi nições, tendo como prática o subterfúgio de neologismos para (re)nomear experiências já cristalizadas e assim apagar (deletar) construções históricas. Um rápido mapeamento das análises de diversos cientistas nos propicia o seguinte panorama: Jean-François Lyotard, pioneiro na utilização do termo, apresenta a pós-moder- nidade como fi m dos sistemas explicativos grandiosos e generalistas; FredricJamesona identifi ca como braço cul- tural da lógica neoliberal; Jürgen Habermas atribuiu em sua análise um caráter conservador à pós-modernidade, indicando o ataque direto desta aos ideais iluministas; Zyg- muntBaumansubstituiu o uso da palavra pós-modernidade por modernidade líquida, sintetizando a idéia de fl uidez em relação à modernidade; seguindo a linha de substituição do termo pós-modernidade, Gilles Lipovetskycria a hipermodernidade objetivando demonstrar que determinadas características da mo- dernidade passaram a serexacerbadas. Estado globalizado e cidadania Ideias importam ou o poder (econômico ou político) é tudo?Ideias legitimam o poder, são sua essência, pois dão-lhe o caráter de justiça ou de inevitabilidade que permitem que seja exercido em atos rotineiros, com a assepsia da normalidade - Luiz Carlos Delorme Prado. Neste longo período de implementação da agenda neoliberal no Brasil, a cidadania não se fi rmou seguindo os padrões estabelecidos por Marshall. Desenvolveram alternativas reativas aos problemas sociais que a população passou a atravessar, sendo possível estabelecer múltiplas cidadanias. Todo discurso é ideologizante! O tão propalado ineditismo do mundo pós-moderno neoliberal globalizante se enquadra junto a uma série de discursos que estandartizam o presente, buscando resgatar velhas prá- ticas e apagar outras. O mundo pós-moderno realizou um ataque direto sobre alguns pilares do mundo moderno, ainda que refl etissem ideologias conformizantes (edifi cada sob a construção socrática). Não existe nada de novo ou libertador. Ao contrario, o homem mais uma vez é posto como o senhor de seu destino, sob a égide da igualdade produzida pelo mercado, Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 4 livre para concorrer com outros, tendo como base as capacidades adquiridas ao lon- go de sua vida, logo, aqueles que realizaram as opções corretas em sua formação se tornam potenciais vencedores. Família (laços afetivos de criação: casais heteros/homos, avós/avôs, tias/ tios e outras formas); escola (pública/particular, de excelência ou defi ci- tária); religião (conhecedores e/ou praticantes de algum segmento,ateus ou desconhecedores de qualquer valor); Estado (presente ou ausente, na legitimação da ordem instaurada como agente da violência e negligente de políticas); e a infraestrutura econômica (resignifi candocada um e todos como pertencentes a classes sociais que proporcionam condições mínimas de educação, ou desde sempre, a subsunção (submissão) à lógica do capital presente na indústria da pobreza excludente) são fatores negligenciados da perspectiva histórica de formação do indivíduo, neste teatro social neolibe- ral. Deixamos de ser homens formados por relações sociais que não seguem padrões binários da pseudo-ciência, para nos tornarmos homens-máquinas, convertidos e reduzidos a lógica inebriante e inerente do sistema mercadológico, reproduzindo a dominaçãoem esferas macro e micro sociais, detentores de uma falsa consciência que propala como verdade a ideologia das livres escolhas, onde cada um obedece apenas à lógica de seus desejos e paixões. Neste cenário, o trabalho como uma das categorias fundamentais para constituição do núcleo duro da formação humana vem sofrendo modifi cações. A sociedade pós-moderna fetichizada (seduzida) pelo consumo vem se distanciando da cadeia produtiva, através de um duplo movimento: o fi m dos empregos (trabalho, prestação de serviços, terceirização e mercado informal); e o desejo por tornarem-se turistas, ou seja, alcançarem a condição de espectadores da realidade humana da qual fazem parte. O homem precisa ser redescoberto, precisamos nos reinventar. Hoje exercemos a ci- dadania passiva, dicotomizada (dividida) entre incluídos e excluídos do sistema mer- cadológico. Nesta lógica imperialista do capital pelo capital, ser cidadão é consumir. É a primeira vez que alguns países, entre os quais o Brasil, decidem se alienar completamente, nunca um país decidiu fazer, de maneira tão aberta e escancarada, a alienação à condução de seu próprio destino ... Milton Santos (2002; 143) Para saber um pouco mais sobre o assunto leia: Teorias da Globalização http://books.google.com.br/books?id=p4YQzhJKh-4C&pg=PA273&dq=globaliza%C3%A7%C3%A3 o+octavio Por uma outra globalização http://books.google.com.br/books?id=eBxvwrQXd58C&pg=PA117&dq=globaliza%C3%A7%C3%A3o O Choque de civilizações http://books.google.com.br/books?id=gEqsmM1QebIC&pg=PA260&dq=choque+civiliza%C3%A7% C3%B5es Saiba mais Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 5 Escravidão http://www.youtube.com/watch?v=pUIcocVoS_s Isto é Brasil - Trabalho escravo em pleno século XXI http://www.youtube.com/watch?v=FmP7sDVJ2Ls Trabalho escravo no brasil sec xxi http://www.youtube.com/watch?v=Bm8VUWqm-B8 Analfabetismo: Alexandre Garcia critica sistema educacional do Brasil http://www.youtube.com/watch?v=WjUNUoad7Vg&feature=related Primeiro Jornal - Analfabetismo no Brasil por Fernando Mitre http://www.youtube.com/watch?v=Dn5Yfap_97M “O Analfabeto Político” - Bertolt Brecht http://www.youtube.com/watch?v=2RwJemF_9tY Desigualdade social - A Realidade do nosso País http://www.youtube.com/watch?v=9GHGi2Tmb5o&feature=related Saiba mais Velhas questões Ele [o intelectual] não tem o direito de se calar. Não pode ser inocente útil. Não pode desconsiderar a pesada dívida do século 20 – Fran- cisco de Oliveira Para estudarmos velhas questões da cidadania do Século XX, como, por exemplo, a escravidão, o analfabetismo, a pobreza, o preconceito, entre outras formas de desigual- dade social, precisamos conhecê-las bem, refl etir sobre elas e discuti-las. Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 6 Desafi os globais: novas questões ... mas não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo / pro- curando novas drogas de aluguel, neste vídeo coagido pela paz que não quero seguir admitindo ... Rappa E as novas questões, como enfrentar esse desafi o? Convidamos você para uma análise crítica sobre essas novas questões, que de certa forma comprometem e infl uenciam a formação de um ser humano transformador. Assista ao vídeo Conexões Urbanas – O Ser Humano Transformador(disponível em http://multishow.globo.com/Conexoes-Urbanas/Episodios/Ep--26---O-Ser-Humano-Transformador-- Parte-2-.html) Saiba Mais!Assista ao vídeo Desigualdade Social - A Realidade do Nosso País (disponível emhttp:// www.youtube.com/watch?v=9GHGi2Tmb5o&feature=related). Saiba mais Conexões Urbanas – Desejo de mudar o mundo http://multishow.globo.com/Conexoes-Urbanas/Videos/#widget=SintonizadorEditorial_0/aba=0/ midia=5/pagina=1 Escolas e Inclusão social – Diversidades Culturais http://www.youtube.com/watch?v=0vkTLlG9wro Conexões Urbanas – Mediações de confl ito http://multishow.globo.com/Conexoes-Urbanas/Videos/#widget=SintonizadorEditorial_0/aba=0/ midia=4/pagina=9 Saiba mais Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 7 Aula 2 - Questões Étnico Raciais - Discutindo Conceitos Por Rogério Terra de Oliveira Introdução Falar sobre questões étnico raciais signifi ca, primeiramente, entender alguns conceitos que têm sido comumente utilizados em nossa sociedade quando se trata de relações étnico raciais. Portanto, nesta aula vamos conversar sobre qual o signifi cado que atribuímos aos conceitos de raça, racismo, etnia, preconceito e discriminação. O que eles signifi cam? Prontos para as descobertas?! Então, vamos seguir em frente! Fonte: http://www.plc122.com.br/entenda-plc122/#axzz23daZ5oqs Raça ou Etnia? Etmologicamente falando, a palavra raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio, que signifi ca sorte, categoria, espécie. Já na história das ciências naturais, o conceito de raça foi primeiramente usado na Zoologia e na Botânica para classifi car as espécies animais e vegetais. (MUNANGA, 2003) Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 8 A evolução do conceito de raça. Caixa Latim Medieval No latim medieval, o conceito de raça passou a designar a descendência, a linhagem, ou seja, um grupo de pessoas que têm um ancestral comum e que, ipso facto, possuem algumas características físicas em comum. (MUNANGA, 2003) Caixa Séculos XVI-XVII Nos séculos XVI-XVII, o conceito de raça passa efetivamente a atuar nas re- lações entre classes sociais da França, pois era utilizado pela nobreza local, que se identifi cava como os Francos - de origem germânica, em oposição ao Gauleses - população local identifi cada como a Plebe. (MUNANGA, 2003) Caixa Século XVIII No século XVIII, a cor da pele foi considerada como um critério fundamental e divisor d’água entre as chamadas raças. Por isso, que a espécie humana fi cou dividida em três raças estancas que resistem até hoje no imaginário coletivo e na terminologia científi ca: raça branca, negra e amarela. (MUNANGA, 2003) Caixa Século XIX No século XIX, acrescentou-se ao critério da cor outros critérios morfológicos como a forma do nariz, dos lábios, do queixo, do formato do crânio, o ângulo facial etc. para aperfeiçoar a classifi cação. (MUNANGA, 2003) Caixa Século XX No século XX, descobriu-se, graças aos progressos da Genética Humana, que havia no sangue critérios químicos mais determinantes para consagrar defi - nitivamente a divisão da humanidade em raças estancas. Grupos de sangue, certas doenças hereditárias e outros fatores na hemoglobina eram encontra- dos com mais frequência e incidência em algumas raças do que em outras, podendo confi gurar o que os próprios geneticistas chamaram de marcadores genéticos. Um marcador genético característico de uma raça, pode, embora com menos incidência ser encontrado em outra raça. Estudiosos chegaram a conclusão de que a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um conceito alias cientifi camente inoperante para explicar a diversidade humana e para dividi-la em raças estancas. Ou seja, biológica e cientifi camente, as raças não existem. (MUNANGA, 2003). O conceito de raça ainda hoje é bastante controverso. Pessoas persistem em utilizá-lo apenas para se referir a diferenças fenotípicas (cor da pele, textura dos cabelos, formato do nariz etc.). Como um substituto para o conceito de raça, em decorrência das suas implicações, tem-se optado pelo conceito de etnia. Para saber mais sobre raça, acesse o texto Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia, de Kabengele Munanga. Disponível em: https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59 Saiba mais Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 9 Raça ou Etnia? Alguns pesquisadores fogem do conceito de raça e o substituem pelo conceito de etnia considerado como um lexical mais cômodo que o de raça. Então, falamos em etnias para poder identifi car e diferenciar alemães de italianos, negros de índios e assim sucessivamente. Etnia é: Um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um an- cestral comum; têm uma línguaem comum, uma mesma religião ou cosmo- visão; uma mesma cultura e moram geografi camente num mesmo território. (MUNANGA, 2003) Se percebemos alguma diferença entre um grupo étnico e outro, isto ocorre mais em relação às circunstanciais sociais e históricas nas quais eles se desenvolveram do que propriamente em razão de uma explicação biológica ou genética imutável. A prática de classifi car grupos ou pessoas gera quase sempre confl ito, preconceito e exclusão ao invés de nos ajudar na construção de um mundo mais justo, pacífi co e democrático. Aqui, neste texto, utilizaremos a expressão raça para nos referirmos de fato às dife- rentes etnias. Juntamente com os conceitos raça e etnia, temos outros conceitos que são também cruciais para refl etirmos sobre questões étnico raciais: racismo, preconceito e discri- minação. Quer saber mais a respeito da utilização do conceito de raça no campo dos estudos sobre racismo e sua implicação nas questões de desenvolvimento e democracia no Brasil? Leia o texto Relendo o signifi cado de raça, de Carlos Alberto Figueiredo e Jorge França Motta. Disponível em: http://www.unisuam.edu.br/augustus/index.php?option=com_content&view=article&id=41:relendo-o- signifi cado-de-raca&catid=5:edicao-27&Itemid=62 Saiba mais Racismo Infelizmente as diferenças raciais tiveram forte infl uência em algumas épocas e fi zeram surgir um dos mais terríveis crimes contra a humanidade: o racismo. O racismo é: Crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural. (MUNANGA, 2003) Ele não está relacionado apenas à cor da pele, mas também às raças distintas existentes em uma sociedade. É o caso dos ciganos, chineses, índios. Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 10 Fonte: http://www.c7s.com.br/projetoinformatica/turma-5/ngs/297-racismo-e-um-0-esquerda Foi em nome do racismo que Hitler, na década de 30, declarou a superioridade da raça branca na Alemanha nazista e condenou à morte milhões de judeus. Foi também o racismo que justifi cou a escravização de africanos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. O regime racista da África do Sul, que começou em 1948, condenava a população negra (a grande maioria), a viver separada dos brancos, a não participar da vida política e a não possuir propriedades. O poder e os privilégios eram todos da minoria branca. Somente em 1994, assistimos ao fi m ofi cial do apartheid na África do Sul. Já entendemos o que é racismo. Agora vamos conhecer o que é discriminação e preconceito. Discriminação ou Preconceito? Quem nunca ouviu uma piadinha sobre loiras, sobre mulher no volante, sobre português? As piadas, embora possam parecer discursos neutros, reforçam uma série de preconceitos. Vários tipos de preconceitos, gerados a partir de estereótipos, perpetuam-se em nossa sociedade, criando valores culturais e, consequentemente, valores sociais. Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 11 Preconceito é: Conjunto de valores e crenças estereotipadas que levam um indivíduo ou um grupo a alimentar opiniões negativas a respeito de outro, com base em informações incorretas, incompletas ou por ideias preconcebidas. Alguns tipos de preconceito: • Preconceito à outra cor - denominado de racismo. • Preconceito à outra religião - o maior exemplo deste preconceito são os confl itos no Oriente Médio (luta entre judeus e islâmicos). • Preconceito contra as mulheres - denominado de machismo e existe por causa do antigo papel das mulheres como dona de casa. • Preconceito quanto à classe social – classe média/alta discrimina pessoas de baixa classe social. • Preconceito contra pessoas de outra orientação sexual - homossexuais e bissexuais. • Preconceito contra pessoas de outra nacionalidade - brasileiros sofrem preconceito em outros países, assim como muitos estrangeiros são discriminados no Brasil. Esses preconceitos nascem da repetição irrefl etida de algo que já ouvimos mais de uma vez. Diante de tanta repetição, acabamos por aceitá-los como verdadeiros e os pronunciamos sem nos preocuparmos em verifi car o quão certos são. Discriminação ou Preconceito? Já a palavra discriminação, esta possui diversos signifi cados. “O signifi cado mais comum, no entanto, tem a ver com a discriminação sociológica: social, racial, religio- sa, sexual, por idade, nacionalidade..., que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, eco- nômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.” (Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial – 1965) A Regra de Ouro - Norman Rockwell "Fazei aos outros o que quereis que vos façam” Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 12 Por que será que o artista retratou pessoas tão diferentes umas das outras em sua pintura? Na pintura acima, o artista Rockwell teve a intenção de retratar pessoas diferentes para reforçar a ideia da regra de ouro (“Fazei aos outros o que quereis que vos façam”), mostrando o respeito à diversidade em uma situação em que pessoas de diferentes etnias e culturas estão juntas, dividindo harmonicamente o mesmo espaço e respeitando a religião um do outro, sem nenhuma discriminação. Discriminação é fazer distinção por: • Classe social • Raça • Religião • Sexo • Etnia • Idade • Cor • Estado civil • efi ciência • Doença • Aparência Nesta aula, vimos alguns conceitos indispensáveis para o entendimento das relações étnico raciais. Na aula seguinte, conheceremos como se deu a formação do povo brasileiro, atentando para a exclusão da população negra de espaços importantes da nossa sociedade, ao longo da história. Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 13 CONTEÚDO DE ESTUDO Para saber um pouco mais sobre o assunto assista: Escravidão - http://www.youtube.com/watch?v=pUIcocVoS_s Isto é Brasil - Trabalho escravo em pleno século XXI http://www.youtube.com/watch?v=FmP7sDVJ2Ls TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL SEC XXI http://www.youtube.com/watch?v=Bm8VUWqm-B8 Analfabetismo: Alexandre Garcia critica sistema educacional do Brasil http://www.youtube.com/watch?v=WjUNUoad7Vg&feature=related Primeiro Jornal - Analfabetismo no Brasil por Fernando Mitre http://www.youtube.com/watch?v=Dn5Yfap_97M “O Analfabeto Político” - Bertolt Brecht - http://www.youtube.com/watch?v=2RwJemF_9tY Desigualdade social - A Realidade do nosso País http://www.youtube.com/watch?v=9GHGi2Tmb5o&feature=related Indo além Que tal organizar os conhecimentos que você adquiriu até agora e avaliar o que você, realmente aprendeu? Realize os exercícios on-line disponíveis para este módulo. Para isso, acesse no ambiente Virtual: ACESSÓRIOS Saiba mais Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 14 Aula 3 - Um Panorama Histórico da Exclusão dos Negros Introdução O povo brasileiro é representado por uma diversidade étnico-racial. Somos um povo mestiço, como diria Darcy Ribeiro (1995). Porém, essa diversidade não se traduz em igualdade de condições para os distintos segmentos que integram a população do país. O último Censo de 2010 registrou que a nossa população ultrapassou 190 milhões de pessoas, dentre as quais 47,7% são brancos, 7,6% negros, enquanto o número de pardos atingiu 43,1%. Os dados evidenciam que a população que se autodeclara branca ainda é a maioria no Brasil. Eles também mostram que o número de pessoas que se classifi cam como pardas ou pretas cresceu, enquanto o número de brancos caiu. Porém, mesmo com essa mudança cultural, decorrente de um processo de valorização da raça negra e de um aumento da autoestima dessa população, a questão racial persiste como um problema social a ser enfrentado em várias frentes, sejam elas econômicas, sociais, políticas ou culturais. Historicamente, as contribuições culturais europeiasforam supervalorizadas e culturas socialmente consideradas menos importantes, como a negra e a indígena, foram excluídas. Nesta aula, faremos um exame da história da formação da sociedade brasileira, a fi m de mostrar como a exclusão da contribuição negra ajudou a construir negros e negras como “outros”. Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 15 Perspectiva Histórica Vamos começar este tópico com algu- mas perguntas: Você já observou o seu rosto? E as suas fotos? O que se pode perceber da sua nacionalidade e do seu pertencimento étnico racial? Provavelmente você identifi cou alguns traços comuns de semelhança físi- ca, cultural e histórica que o façam reconhecer-se como pertencente a um determinado povo, não é mesmo? É a nossa identidade étnica. Vamos conhe- cer melhor essa nossa herança étnica! As teorias sobre a formação étnica do povo brasileiro são relativamente recentes. Durante o período colonial a refl exão acerca das relações entre negros e brancos não existia. Enquanto colônia, nós não possuíamos uma representação da nossa imagem, senão como continuidade de Portugal. Em outras palavras, o Brasil não existia como país e não fazia sentido tentar entender quem era o brasileiro. Éramos colônia. A ordem escravocrata existente no período era tida como natural e não despertava nenhum tipo de questionamento. Nesse sentido, os quilombos representavam muito mais uma resistência regional resultante de uma situação de opressão do que um movimento político de âmbito nacional. Logo, tinha um caráter mais prático e reativo do que ideológico. Hoje sim, reconhecemos aqueles acontecimentos como movimen- to de luta pela liberdade, resgatando sua memória para pensarmos a identidade e o valor cultura negra para o Brasil, mas na época os objetivos eram bem mais simples e imediatistas. Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 16 Será que temos uma única identidade nacional? Muitos “cientistas” da época (séc. XIX) con- denavam a junção das raças, pois a mistura entre elas, segundo eles, defi nharia as ca- racterísticas de cada uma, principalmente a do branco evoluído superior. Portanto, a miscigenação degeneraria as sociedades porque iria piorar as supostas limitações das raças inferiores (as não-brancas). O “cientista” ideólogo Conde de Gobine- au, Consul da França no Brasil e amigo do Imperador Dom Pedro II, publica em 1856 o livro intitulado Diversidade Moral e Intelectual das Raças no qual defende a superioridade da raça branca em relação ao negro e ao índio. Para ele, cada etnia tinha uma qualidade o que resultava em atribu- tos de superioridade física para o negro e superioridade intelectual para o branco. Gobineau defendia que a ordem social se mantinha organizada, harmônica e próspera se cada uma delas soubesse seu lugar dentro do modelo que defendia. Nessa perspec- tiva, o futuro do Brasil estaria comprometido, uma vez que o nosso povo era mestiço. A mistura de raças levaria a uma desorganização da sociedade e teria como consequ- ência o enfraquecimento das virtudes existente em cada uma delas (DA MATTA, 1993). O sistema vigente no Brasil colônia era extremamente desigual. Naquela época, a maioria absoluta da população, por ser escrava ou afrodescentente (com ascendência parcial ou totalmente africana), era excluída dos benefícios políticos, econômicos e sociais. Da Matta (1993) ressalta que nesse “sistema não há a necessidade de segregar o mes- tiço, o mulato, o índio e o negro porque as hierarquias asseguram a superioridade do branco como grupo dominante”, foi por isso que os escravos e senhores interagiam livremente, porque cada qual sabia o seu papel na sociedade. Operários — 1933, de Tarsila 1933” Col. do Gov. do Estado de São Paulo Fonte: http://pigscreamo.blogspot.com.br/2010/06/oque-seria-o-new-metal.html Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 17 O Brasil criou uma espécie de triângulo das raças composta por brancos, índios e negros. Acreditar nesse triângulo é aceitar a ideia de que brancos, índios e negros se encontravam numa espécie de carnaval social e biológico, o que não era verdade. A mistura de raças serve apenas para esconder uma profunda injustiça social, porque é mais fácil dizer que o Brasil foi formado por um triângulo de raças, o que nos conduz ao mito da democracia racial, do que assumir que existe uma sociedade hierarquizada. Democracia Racial Segundo Damatta (1987) as teorias da democracia racial embasadas na fábula da relação harmônica das três raças serviram para camufl ar o preconceito e o racismo existente no Brasil. Para o autor, o racismo brasileiro não se dá apenas pela cor da pele, mas dentro de um contexto relacional, aonde a amizade, a beleza e o dinheiro tornam-se algumas das variáveis que utilizamos para agir de maneira preconceituosa ou não. Ou seja, o amigo negro ou a mulata bonita não são discriminados, mas o pobre feio sim. Nessa perspectiva o preconceito que praticamos pode ser até mais cruel por ser disfarçado e de difícil combate. O discurso da democracia racial parece nos convencer de que o pro- blema racial no Brasil é assunto sem importância ou da imaginação das pessoas. O grau de naturalização e de conformismo com os problemas da nossa sociedade tornam-se barreiras intransponíveis. É a partir da independência do Brasil e mais intensa- mente com a abolição da escravidão que surge, de forma consistente e estruturada, um discurso racial sobre o Brasil. A vida política nacional, as pressões internacionais e as questões econômicas levam a um intenso debate sobre a formação do povo brasileiro, suas características e perspectivas. Porém, mesmo após a abolição da escravidão e a proclamação da República o negro permanecia sendo percebido como um elemento negativo. Ele era tido como um ob- jeto. As teses do embranquecimento racial justifi cavam o abandono que se seguiu a abolição dos escravos sem nenhum tipo de indenização ou políticas compensatórias. Ao contrário, imputavam a eles os males que impediam o nosso desenvolvimento en- quanto país e nação. Pelo que podemos perceber nem a abolição da escravatura, nem a proclamação da república com todo seu cosmopolitismo se preocuparam com a situação excludente que a sociedade moderna delegava aos ex-escravos e aos afrodescendentes. Ou seja, não colocou em prática uma política social que viesse amenizar a concorrência desleal que foi imposta aos ex-escravos e afrodescendentes. Teses fundamentadas em determinismos biológicos, como as de Gobineau, continuaram infl uenciando o pensamento social brasileiro com a proclamação da República. Elas foram reinterpretadas para se adaptar a nova realidade social e a expectativa que se cria em torno do novo regime. A aceitação da perspectiva de existência de uma hierarquia racial e o reconhecimento dos problemas imanentes a uma sociedade multirracial somaram-se à ideia de que a miscigenação permitiria alcançar a predomi- nância da raça branca. A tese do branqueamento como projeto nacional Estado globalizado e cidadania - Módulo 4 Cidadania 18 surgiu, assim, no Brasil, como uma forma de conciliar a crença na supe- rioridade branca com a busca do progressivo desaparecimento do negro, cuja presença era interpretada como um mal para o país[...] O projeto de um país moderno era, então, diretamente associado ao projeto de uma nação progressivamente mais branca. A entrada dos imigrantes europeus e a miscigenação permitiriam a diminuição do peso relativo da população negra e a aceleração do processo de modernização do país. (JACCOUD, 2008, p.49) Somente a partir de 1930 as teses racistas começam a ser desacreditadas, apesar de persistirem até hoje no imaginário e nas falas das pessoas. Em contrapartida, desen- volveram-se as teorias da democracia racial que enalteciam a mestiçagem e percebiam de maneira positiva a formação étnica brasileira. Elas defendiam um passado de con- vivência pacífi ca que existia entre negros, brancos e índios quepermitiu superarmos os problemas raciais observados em outros países. Fizemos aqui, nesta aula, uma volta à história e à cultura afro-brasileira, desde o perí- odo colonial, para analisar como se deu o processo de exclusão da população negra em nosso país. Na próxima aula, conheceremos algumas iniciativas governamentais e da sociedade civil que têm contribuído para a redução das desigualdades raciais. Até lá! Para saber mais sobre a construção do cidadão afrodescendente a partir do pós-abolição, leia o texto Relações étnico-raciais e cidadania: História e Cultura Afro-brasileira como fatores fundamentais para construção do cidadão afrodescendente a partir do pós-abolição de Leonardo Santana da Silva e Adriana Patricia Ronco. Disponível em Material para Impressão Saiba mais
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