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Desafi os Globais Cidadania
2
Desafi os Globais - Aula 1 - Para Superar as Desigualdades Raciais
Por Rogério Terra de Oliveira
Objetivo do estudo
Este módulo tem como objetivo discutir alguns conceitos importantes para o enten-
dimento de questões étnico raciais: raça, racismo, etnia, preconceito e discriminação; 
traçar um panorama histórico da exclusão dos negros no Brasil; e apresentar algumas 
iniciativas governamentais e da sociedade civil que têm contribuído para a redução das 
desigualdades raciais..
Introdução
Na atualidade, inúmeros debates sobre políticas antirracistas têm ocorrido no contexto 
brasileiro. É bem verdade que este debate foi bastante intenso no cenário internacional no 
decorrer das últimas décadas. São debates que servem de tema central para outras tantas 
discussões que trazem em seu bojo a coibição de um racismo institucional e medidas 
compensatórias em virtude de uma população afrodescendente brasileira excluída. 
O debate que versa colocar em prática medidas compensatórias, visa a ressarcir, os 
descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos 
e educacionais sofridos sob o regime da escravidão, bem como em virtude das políticas 
explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios 
exclusivos para grupos com poder de governar e de infl uir na formulação de políticas, 
no pós-abolição. (SECAD, 2006). Desse modo, as medidas compensatórias têm como 
objetivo reverter de fato, um quadro social fundamentado em discriminação racial e 
exclusão social da população negra. 
Nesta aula, conheceremos algumas iniciativas governamentais e da sociedade civil que 
têm contribuído para a redução das desigualdades raciais. 
As Constituições e a Garantia dos Direitos Iguais 
Comecemos, então, por uma análise do construto e da garantia de uma igualdade social 
do ponto de vista da máxima que um Estado pode ter: as Constituições Federais. 
1891 1934 1937 1946 1967 1969 1988
Caixa 1891 
Na Constituições de 1891, veio à primeira afi rmativa de tentar nivelar socialmente todos 
os brasileiros, ainda que permanecemos, todavia, com uma igualdade formal. O artigo 
72, incisos 1º e 2º desta mesma Constituição determina a garantia a brasileiros e a 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, 
à segurança individual e à propriedade, a partir dos seguintes termos: ninguém pode 
ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; todos são 
iguais perante a lei. Mais do que isso, fi ca estabelecido que a República não admite 
privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza e extingue as ordens honorífi cas 
existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como os títulos nobiliárquicos 
e de conselho. 
Desafi os Globais Cidadania
3
Caixa 1934
Na Constituição de 1934, igualmente como a de 1891, dispôs-se em seu capítulo II 
intitulado Dos Direitos e das Garantias Individuais, no seu artigo 113 e parágrafo 1 que 
a Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à 
propriedade, nos termos seguintes: todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, 
nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profi ssões próprias ou dos pais, 
classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas. 
Caixa 1937
A Constituição de 1937 assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o 
direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade. Todos são iguais perante a lei 
e todos os brasileiros gozam do direito de livre circulação em todo o território nacional, 
podendo fi xar-se em qualquer dos seus pontos, aí adquirir imóveis e exercer livremente 
a sua atividade. 
Caixa 1946
A Constituição de 1946, outra vez traz a tona o princípio da igualdade que já fora 
estabelecida na Constituição de 1934. Repelindo a propagada em favor do preconceito 
de classes ou raça, foi, na mesma medida, superfi cialmente tratada na Constituição de 
1937. Neste contexto – o da Constituinte de 1946 – surgiu no cenário jurídico à lei do 
silêncio, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) e a primeira lei penal 
sobre a discriminação instaurada em 1951. Em meio a estas leis publicadas no campo 
sócio jurídico, um aspecto paradoxal continua pairando sobre a cidadania do brasileiro, 
principalmente em particular no cotidiano dos afrodescendentes.
Caixa 1967
Na Constituição de 1967 nada mudou. Permaneceu igualmente o que já havia se 
estabelecido nas Constituições anteriores. Dispôs-se mais uma vez que todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. 
Não obstante a referida Constituição que acabou de ser citada apresenta características 
estagnadas em seu sentido jurídico, não podemos negar que outras conquistas dentro 
deste mesmo período histórico foram alcançadas. 
Caixa 1969
Foi feita uma emenda constitucional nº 1, de outubro de 1969, referente à Constituição 
de 1967 podendo ser considerada uma Constituição de 1969. Nela, o conteúdo referente 
ao caráter de igualdade e discriminação dos cidadãos brasileiros permaneceu igualmente 
ao da Constituição anterior. Foi enfatizado mais uma vez a intolerância de qualquer 
discriminação existente na sociedade brasileira.
Caixa 1988
A Carta Constitucional de 1988 garante direitos civis, políticos, sociais e econômicos, assim 
como direitos dos indígenas, dos negros, dos idosos e das crianças – considerados grupos 
vulneráveis. Esses direitos possuem proteção especial e nem emendas constitucionais 
podem extingui-los. A abertura política que se seguiu ao fi m do regime militar na década 
de 1980 fi rmou na Carta Magna o princípio da igualdade entre todas as pessoas e o 
direito a uma vida digna nos termos do art. 5º, que diz: Todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade. O artigo 5º, incisos XLI e XLII, desta Constituição, estabelece punição a 
qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais, acrescentando 
que a prática do racismo constitui crime inafi ançável e imprescritível, sujeito à pena de 
reclusão, nos termos da lei.
Desafi os Globais Cidadania
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As Constituições seriam um dos principais, se não o principal caminho que talvez pudesse 
ter impedido a instauração do racismo em nosso país. Ao mesmo tempo, a insistência 
inexorável de não se fazer valer o que diz a vigente Constituição brasileira, pode ser 
considerado, do mesmo modo, o entrave que poderia nos levar para a desconstrução e, 
até mesmo, para eliminação do racismo que assola dia a dia as “relações sócias raciais” 
em nossa sociedade, deixando, portanto, de lançar na prática os fundamentos básicos 
para a noção universalista de humanidade independentemente de sexo, cor, condição 
socioeconômica ou credo religioso.
Promulgação de Leis
Nos últimos anos, leis foram promulgadas na direção de combater o racismo e reparar 
as dívidas históricas da sociedade brasileira com sua população afrodescendente.
Lei nº 9.459/1997
Incluiu novos tipos penais, visando principalmente combater os crimes resultantes de 
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Lei nº 10.639/2003 
Inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a 
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. 
Lei n˚ 3.627/2004 
Garante a reserva de vagas nas instituições públicas de educação superior para 
estudantes egressos de escola pública, em especial negros e indígenas.
Lei nº 12.288/2010 
Institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a 
efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, 
coletivose difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
Lei nº 6.067/2011
Dispõe sobre reserva de vagas para negros e índios nos concursos públicos para 
provimento de cargos efetivos e empregos públicos integrantes dos quadros permanentes 
de pessoal do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro e das Entidades de sua 
Administração Indireta. 
A mudança na legislação e as políticas governamentais não são sufi cientes por si só para 
mudar as desigualdades históricas que herdamos das gerações passadas, tampouco 
a inclusão no currículo escolar de novas temáticas modifi ca as práticas educacionais 
vigentes. De qualquer sorte, as conquistas dos movimentos sociais e as iniciativas 
governamentais são avanços signifi cativos que gradativamente transformam a sociedade. 
Atualmente, compreende-se que é preciso mesclar políticas sociais universais e políticas 
afi rmativas específi cas para reverter este quadro histórico. 
Desafi os Globais Cidadania
5
 Lei nº 9.459/1997
http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1997/9459.htm 
Lei nº 10.639/2003 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm 
Lei n˚ 3.627/2004 
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ref_projlei3627.pdf 
Lei nº 12.288/2010 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm 
Lei nº 6.067/2011
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/c8aa0900025feef6032564ec0060dfff/03027007b98a1171
8325793a0059909b
Saiba mais
Para saber mais sobre ações afi rmativas e cotas, acesse Cotas raciais - por que sim?, do IBASE, 
disponível em: http://www.ibase.br/userimages/cart_ibase_cotas_fi nal.pdf
Saiba mais
Implementação de Ações Afi rmativas
Vivemos hoje em um mundo globalizado marcado pela convivência de várias 
culturas, assim como vivemos em uma sociedade plural permeada por diferentes 
etnias e grupos sociais. No caso brasileiro esta realidade se intensifi ca. Darcy Ribeiro 
dizia, como já vimos, que o que nos defi ne como brasileiros é a mestiçagem. Diferente 
do Inglês ou do Italiano o que nos defi ne é a mistura e a diversidade, logo a nossa 
sociedade deve ser capaz de incorporar, incluir, interagir com essa realidade plural.
Percebemos que mudanças efetivas são realmente difíceis de serem obtidas, uma vez 
que encontram barreiras “invisíveis” nas práticas sociais e no pensamento das pessoas 
que ocupam cargos importantes, assim como no cidadão comum.
Por tudo isso, a luta política pode ser um instrumento importante de afi rmação do negro 
e de combate do preconceito e da desigualdade racial. Não uma luta política apenas em 
termos de políticas públicas ou de novas legislações, mas uma luta política de afi rmação 
de direitos nas relações sociais, na dignidade da pessoa humana e no cotidiano.
É nesse contexto de luta que surgem as ações afi rmativas, entendidas como “um conjunto 
de ações privadas e/ou políticas públicas que tem como objetivo reparar os aspectos 
discriminatórios que impedem o acesso de pessoas pertencentes a diversos grupos sociais 
às mais diferentes oportunidades” (IBASE, 2008, p. 7). As leis citadas anteriormente 
são exemplos de ações afi rmativas. Outro exemplo é a política de criação de delegacias 
policiais especializadas no atendimento a mulheres.
Inicialmente, as ações afi rmativas se defi niam como um mero “encorajamento”,
por parte do Estado, a que as pessoas com poder decisório nas áreas pública
e privada levassem em consideração, nas suas decisões relativas a temas sensíveis como 
Desafi os Globais Cidadania
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Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais do Ministério da Educação, por 
meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad). Disponível em: 
http://www.ifrj.edu.br/webfm_send/269
Saiba mais
Leia o complementar: “Relações étinico-raciais e cidadania: História e Cultura Afro-brasileira como 
fatores fundamentais para construção do cidadão afrodescendente a partir do pós-abolição”
Saiba mais
o acesso à educação e ao mercado de trabalho, fatores até então tidos como formalmente 
irrelevantes pela grande maioria dos responsáveis políticos e empresariais, quais sejam: 
a raça, a cor, o sexo e a origem nacional das pessoas (SECAD, 2007).
Posteriormente, as políticas de ação afi rmativa passaram a ser implementadas a partir 
imposição de cotas pré-defi nidas de acesso de “minorias” no mercado de trabalho e em 
instituições educacionais. Vale lembrar que as cotas são apenas uma das formas de 
ação afi rmativa. 
Políticas de ação afi rmativa já foram utilizadas em diversas partes do mundo. O pioneiro 
foram os Estados Unidos. A luta contra a discriminação racial, nesse país, mobilizou a 
comunidade negra elegendo políticos, com a participação de religiosos de personalidades 
negras da vida cultural americana. 
No Brasil, a implementação de ações afi rmativas é entendida como reparação, indenização 
devida pela sociedade brasileira aos negros, ante as injustiças raciais, entre outras, de que 
estes foram e ainda são vítimas (SECAD, 2007), garantindo, dessa forma, o que é proposto 
pela Constituição de que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
Conclusão
Neste módulo, tivemos a oportunidade de conhecer alguns conceitos indispensáveis 
para o entendimento das relações étnico raciais. Vimos que os discursos sobre as 
relações raciais no Brasil variaram ao longo do tempo, mas que muitos pensamentos e 
práticas preconceituosas se perpetuam até hoje. Se no passado o discurso racial trazia 
uma interpretação negativa sobre nossa formação étnica, atualmente a mestiçagem 
tem sido prestigiada como elemento diferenciador do nosso povo.
Identifi camos algumas políticas adotadas que a partir da década de 1980 buscaram 
diminuir as desigualdades sociais. Observamos que mesmo assim, a desigualdade 
racial ainda permanece como um problema para nossa sociedade. O preconceito no 
Brasil se apresenta de uma maneira velada porque não aponta diretamente para o 
negro, mas para um contexto relacional que se torna ainda mais cruel e desafi ador. 
Portanto, o enfrentamento da questão racial no Brasil aponta a necessidade para 
políticas públicas que diminuam a pobreza e ofereçam melhores serviços de educação 
e cultura para a sociedade em geral, mas também, políticas afi rmativas específi cas 
que permitam ao negro ampliar suas chances no mercado de trabalho.
A luta contra o preconceito racial e a discriminação não é fácil de ser realizada 
porque ela se estabelece no plano ideológico de maneira dissimulada e quase 
imperceptível o que requer uma mobilização constante da sociedade civil e 
principalmente dos negros do movimento negro no sentido da sua afirmação social 
e na defesa dos direitos individuais.
Desafi os Globais Cidadania
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Aula 2 - Identidade Indígena, Direitos e Questão Territorial
Introdução
Prezado aluno,
Nesta aula você irá saber mais sobre a questão do índio no Brasil. Este é um assunto 
vasto, e com muitas informações para que possamos compreender de forma adequada 
todos os detalhes que estão relacionados a sua situação social.
Lembre-se que o fórum de discussão é um ótimo local para debater ideias e tirar
suas dúvidas sobre os temas estudados.
Vamos em frente?
Considerações iniciais: a população indígena
A palavra “índio” é utilizada desde o descobrimento da América para 
designar o nativo, os habitantes originários do continente. Durante 
séculos, o termo também fez referência a pessoas vistas como exóticas, 
que andavam nuas, relacionadas à natureza, ou seja, selvagens sem 
cultura que se organizavam em tribos sem uma identidade e sem 
unidade.
Mesmo na atualidade, predomina ainda na sociedade brasileira em 
termos de senso comum uma conceção do indígena construída a 
partir de rotulações, generalizações e estereótipos, chamada pelos 
antropólogos de índio genérico, onde a riquíssima diversidade 
étnica e cultural das populações indígenas em território brasileiro è 
considerada totalmente em favor de uma ideia preconcebida e irreal 
dos descendentes daspopulações pré-cabralinas. São exemplos 
das generalizações e estereótipos que caracterizam esse índio 
genérico. Ideias como: indígenas não trabalham, são indolentes 
e preguiçosos, por conseguinte, são primitivos, não evoluíram, 
são puros vivem de acordo com a natureza, no passado, não têm 
noção de propriedade e têm muita terra, quando trabalhadores 
não indígenas sem terra alguma.1
Desafi os Globais Cidadania
8
 Associado a esse índio genérico manifesta-se também em nossa sociedade a visão de 
que as populações indígenas no território brasileiro estariam em processo de desapare-
cimento, embora, desde a década de 1980 tenha-se observado que a população indígena 
tem crescido, inclusive com taxas de crescimento superiores à média nacional, não 
correndo, por tanto, em seu todo, risco de extinção, embora existam etnias em processo 
de desaparecimento. É fundamental, contudo, observar que, apesar de esse crescimento, 
as condições de vida dessas populações continuam a ser bastante precárias, demandando 
esforços urgentes de sociedade nacional abrangente e de órgãos governamentais no 
sentido de apoiá-las em sua luta pela sobrevivência e pelo respeito às suas identidades 
e modos de vida.
A população indígena
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), a população indígena brasileira 
era de 294.131 em 1991, tendo em 2000, alcançado 
o quantitativo de 734.127, perfazendo um cresci-
mento populacional de aproximadamente 150% 
(440 mil pessoas) num ritmo de crescimento anual 
de 10,8% no período. Esse incremento populacional 
refl etiria não só as altas taxas de fecundidade entre 
as populações indígena, mas também o aumento 
das pessoas que ao responder no quesito raça ou 
cor, no questionário do censo 2000, declararam-se 
índios, ou seja, passaram a se identifi car como indígenas, deixando-se de identifi car em 
outras categorias. A esse fenômeno chama-se de etnogênese ou reetinização.
(...) povos indígenas que, por pressões políticas, econômicas e religiosas ou por terem sido despojados 
de suas terras e estigmatizados em função de seus costumes tradicionais, foram forçados a esconder 
e a negar suas identidades tribais como estratégia de sobrevivência assim amenizando as agruras de 
preconceito e da discriminação estão reassumindo e recriando as tradições indígenas. (LUCIANO, 
apud, IBGE,2012, p.8)
Saiba mais
Nesse processo, grupos étnicos que haviam, por alguma razão, deixado de assumir suas 
identidades étnicas, conseguem reassumi-las e reafi rmá-las, recuperando aspectos 
importantes de sua cultural tribal tradicional. (IBGE, 2012, p.4).
De acordo com o IBGE, contrastando com a literatura antropológica - que identifi ca 
cerca de 220 etnias indígenas falantes de cerca de 180 línguas no Brasil – no país 
haveria 305 etnias indígenas e seriam faladas 274 línguas, sendo a etnia Tikuna a de 
maior contingente contando com 46.045 integrantes que corresponderiam a 6,8% da 
população indígena total.
Desafi os Globais Cidadania
9
Para saber mais: dados do Censo sobre a população indígena no Brasil
No Censo de 2010, 817.963 indivíduos se autodeclararam indígenas2, marcando um crescimento de 
11,4% (aproximadamente 84 mil pessoas) desde o censo anterior, crescimento menos expressivo do 
que no período de 1991 a 2000, mas ainda superior à média nacional. Somada as 789.900 que no 
último censo residiam em terras indígenas e se declaravam de outra cor ou raça, principalmente pardos, 
mas se consideravam indígenas de acordo com tradições, costumes e antepassados, a população 
indígenas total, segundo o IBGE, chegava em 2010 a 896.900. Analisando a população autodeclarada 
indígena, observa-se que, em termos de distribuição geográfi ca, a região norte concentra a maior 
parcela (37,4%), residindo a maior população indígena no estado do Amazonas (168.700 pessoas ou 
20,6% da população indígena do país) e a menor no Rio Grande do Norte (2.500 indivíduos 0,3%). 
Atualmente, ainda pelos dados do último censo e com base na autodeclaração, 47,7% da população 
consideram-se brancos, 7,6% pretos, 1,1% amarelos, 43,1% pardos e 0,4% indígenas. (IBGE,2012) 
Saiba mais
Contrariamente aos dados obtidos pelo Censo de 2010, o Instituto Socioambiental, em 
levantamento divulgado em 2006, identifi ca a existência no Brasil de 225 etnias ou povos 
indígenas, com uma população de 600 mil indivíduos, ocupando aproximadamente 1,08 
milhões de km2, o que corresponde a 12,7% do território nacional. Essas etnias, segundo 
o mesmo instituto, falam cerca de 180 línguas. A maioria desses povos é composta por 
populações de até 500 pessoas, sendo que somente 9% dos povos indígenas têm contin-
gentes de até 5 a 20 mil indivíduos. Cumpre observar que esses dados dizem respeito às 
populações indígenas vivendo em aldeias. (GOHN, 2010, pp. 112-113)
Um dado relevante è a presença na sociedade brasileira atual de índios citadinos que 
correspondem, também de acordo com o IBGE, a 315.180 pessoas e normalmente não 
estão associados a grupos étnicos específi cos, embora se assumam como índios, mesmo 
não sendo capazes de identifi car sua etnia de origem. Com esse fenômeno, surge e é 
vivenciada uma identidade indígena não mais baseada na ideia de pertencimento a uma 
etnia indígena específi ca, mas ao sentimento de pertencimento a uma “raça” indígena. 
Essa situação se manifesta particularmente entre os índios chamados urbanos. São 
índios urbanos aqueles que, pressionados pelas precárias condições de vida no meio 
rural, migram para os centros urbanos neles se estabelecendo à procura de melhores 
meios de sobrevivência. O censo de 2000 já identifi cava os efeitos desse fenômeno: das 
734.131 pessoas que se identifi caram como indígenas àquela época, quase 50% viviam 
em cidades e não em aldeias rurais. A sobrevivência de esse segmento da população é 
particularmente precária, habitando geralmente bairros periféricos, em pobreza extrema 
e discriminados pelos moradores das cidades. Isto se refl etiria, inclusive, no campo dos 
estudos acadêmicos sobre as populações indígenas, nos quais predominariam ainda 
os trabalhos sobre os índios “tradicionais”, “étnicos”, ou seja, aqueles vivendo em suas 
aldeias e comunidades originais.
Com o passar do tempo foi sendo construído o discurso da indianidade que reivindica os 
direitos da população indígena ao longo dos séculos e denuncia as injustiças cometidas 
contra ela. A identidade das comunidades indígenas foi negada ou reestruturada de 
acordo com a conveniência dos Estados Nacionais ou o próprio capitalismo fundiário que 
historicamente vem ocupando as terras que originariamente pertencem aos indígenas.
Desafi os Globais Cidadania
10
Os Direitos indígenas
Em 1537, o Papa Paulo III produziu um Breve no qual afi rmava serem os índios “verda-
deiros homens e livres”, “entes humanos como os demais homens”, opondo-se, portanto, 
aqueles que os consideravam não dotados de alma e no discurso que os tratava como 
“negros da terra”3, ou seja, nativos passíveis de escravização e abrindo campo para o 
projeto catequético. No período Colonial brasileiro, a Coroa 
portuguesa proibia a escravidão indígena, escravidão essa 
que não era aceita pela Igreja Católica, mas a autorizava 
basicamente em duas situações, a “guerra justa” e o “resgate”. 
Assim, como afi rma Perrone-Moisés (1992): 
(...) a liberdade era garantida aos índios aliados dos coloniza-
dores e aqueles na condição de aldeãos, enquanto a escravidão 
era o destino dos inimigos, sendo a “guerra Justa” a principal 
causa de escravidão legal no Brasil Colônia. Por “guerra justa” 
entendia-se o combate aos grupos indígenas considerados 
insubmissos tendo como causas principais (...) a recusa à 
conversão ou o impedimento da propagação da Fé, a pratica 
de hostilidades contra vassalos e aliados dos portugueses 
(...) e a quebra de pactos celebrados. (PERRONE-MOISÉS, 
1992, p.123)
Já o “resgate” era a situação na qual era permitida a escravi-
zação de índios cativos de outros nativos. Portanto, na Colônia 
“a escravidãonão é lícita apenas para os bárbaros hostis. 
Também podem ser escravos homens que não são inimigos, 
mas sendo cativos dos índios forem comprados, ou “resgatados”, para serem salvos” 
(PERRONE-MOISÉS, 1992, p.127)
No processo de reconhecimento e, principalmente, de construção de uma identidade 
indígena pela sociedade nacional abrangente devemos destacar o século XIX quando, 
com o advento do Império e com o processo de formação do Estado brasileiro, os índios 
passam a ser associados à identidade nacional que se preconizava construir enquanto 
símbolos de essa identidade. Assim, na busca da legitimidade como nação, legitimidade 
essa que tinha como uma de suas dimensões, de acordo com CUNHA (2012) a procura de 
títulos que fossem contrastantes com aqueles que a Coroa portuguesa podia reivindicar,
(...) a pretensão de uma continuidade genealógica com os indígenas 
foi o mecanismo simbólico de maior força nos anos que se seguiram à 
Independência. O índio passou a representar o Brasil como um todo e a 
população brasileira passou a enfatizar raízes – sobretudo imaginárias 
- indígenas. Nas caricaturas da primeira metade do século XIX, nos 
monumentos públicos celebrando a Independência, era o índio que 
simbolizava a nova nação. (CUNHA, 2012, p. 107) (...) contrastando 
com os negros vistos como obstáculos à constituição de uma nação 
homogênea “mameluca”, os índios, graças a seu status simbólico 
privilegiado (que era o reverso de seu status concreto), entravam como 
conquistados no projeto de uma nação homogênea evidentemente no 
plano ideológico. (CUNHA, 2012, p. 110)
Desafi os Globais Cidadania
11
Discursos e obras políticas, literárias, históricas, científi cas e artísticas desse período caracterizavam-
se pela idealização dos indos no passado, enquanto tornavam invisíveis ou demonizavam os grupos 
ou indivíduos indígenas ainda muito presentes no território brasileiro. (ALMEIDA, 2010, p. 137)
Saiba mais
Almeida (2010) alerta que, no contexto da In-
dependência e da formação do Estado nacional 
brasileiro, buscava-se “instituir no país uma uni-
dade territorial, política e ideológica, criando uma 
memória coletiva que unifi casse as populações em 
torno de uma única identidade história e cultural” 
(ALMEIDA, 2010, p.135). Nesse processo de cons-
trução, diferentemente do que tende a acontecer na 
atualidade, a pluralidade étnica e cultural não era 
valorizada, sendo mesmo considerada um entrave 
para a construção de uma nação composta por um 
território, um povo, uma língua, uma cultura e uma 
história únicas.
Com isso, a grande diversidade das populações indígenas no território nacional obs-
taculizava “a construção de uma única imagem de índio condizente com os ideais da 
nova nação” (ALMEIDA, 2010, p.136) e, assim, será uma imagem idealizada do índio 
que possibilitará transformá-lo em símbolo nacional, imagem que pouco ou nada tinha 
a ver com os verdadeiros indígenas, e:
Relacionado ao acima exposto, a política indigenista, também sofrerá transformações 
no período imperial. Em esse momento acontece:
(...) o estreitamento da arena em que se discute e decide a política 
indigenista. Se durante quase três séculos ela oscilava em função de 
três interesses básicos, o dos moradores, o da Coroa e o dos jesuítas, 
com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, a distância 
ideológica entre o poder central e o local encontra-se na proporção da 
distância física. (CUNHA, 2012, p. 133)
Embora o primeiro projeto de Constituição brasileira fi zesse referência à criação de 
estabelecimentos para a catequese e civilização dos índios e o constituinte José Bonifácio 
de Andrada e Silva houvesse elaborado um anteprojeto tratando da “civilização dos índios 
bravios” no qual apontava a necessidade de integrá-los “ a nascente nação brasileira”, 
a Constituição outorgada em 1824 não fazia referência aos indígenas uma vez que 
seria mais conveniente aos legisladores negar a existência deles. Já o Ato Adicional de 
1834 transferiu a competência para promover “a catequese e a civilização do indígena 
e o estabelecimento de colônias as Assembleias Provinciais (Artículo 11, Parágrafo 5. 
SANTOS, 1998, p.94). Santos (1998) observa que a preocupação dos legisladores era, 
todavia, com o estabelecimento de colônias de imigrantes europeus e não com os índios, 
uma vez que essa colonização seria realizada por médio da expropriação das terras 
indígenas, notadamente na região sul do território nacional.
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Com a proclamação da República, surgiu uma proposta de Constituição em 1890 que, 
reconhecia a existência dos povos indígenas e procurava-se com a proteção dessas 
populações e com a não violação de seus territórios. Apesar disso, a Constituição de 1891, 
a primeira Carta republicana, não fez qualquer menção aos indígenas. Sob a inspiração 
positivista, foi criado em 1910 o Serviço de Proteção Indígena (SPI), órgão governamental 
através do qual o Estado brasileiro tomou como sua responsabilidade a proteção e a tutela 
dos indígenas. Em 1911, seguindo essas diretrizes, o exercício da tutela foi concedido aos 
funcionários do SPI, mas essa instituição enfrentou uma série de problemas, perdendo 
sucessivamente sua efi cácia. O estatuto da tutela foi regulamentado por vários decretos 
no longo do período republicano, inclusive a Lei 6.001 (1973), conhecida como Estatuto 
do Índio, que em seu Art.3º considera: 
“Índio ou Silvícola a todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se 
identifi ca e é identifi cado como pertencente a um grupo étnico cujas características 
culturais o distinguem da sociedade nacional e Comunidade Indígena ou Grupo Tribal 
a um conjunto de famílias ou comunidades índias, quer vivendo em estado de completo 
isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer em contatos 
intermitentes ou permanentes, sem contudo estarem neles integrados.
Conheça o estatuto do Índio - .Lei 6001. 19/12 /1973 (LINK)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm
Saiba mais
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O regime de tutela4 imposto aos índios como instrumento de proteção seria positivo, 
não estivesse associado à proposta de integração das sociedades indígenas à “comunhão 
nacional”, o que implicava o projeto de levar os povos indígenas ao desaparecimento por 
intermédio de sua incorporação à sociedade nacional abrangente, isto é, o estatuto de 
tutela estabelecido pela legislação indigenista tinha como base as teses de aculturação e 
assimilação, não mais aceitas na atualidade. Nessa medida, segundo Santos, “o indivíduo 
que na condição de funcionário do SPI e, depois, da Fundação Nacional do Índio, exercia 
o papel de tutor acaba efetivamente cerceando os direitos de seu tutelado e esbulhando 
o patrimônio da comunidade indígena, sob sua guarda” (SANTOS, 1998, p.94).
A tutela não impediria o exercício dos direitos do cidadão; como 
brasileiros natos, os índios têm direitos políticos, podendo votar e 
ser votados, ter propriedade, administrar seus próprios negócios, 
participar da administração do patrimônio indígena que è gerido pela 
FUNAI e de organizar associações. Todavia, na pratica, nem sempre 
esses direitos eram respeitados sob a alegação de que a FUNAI como 
tutora dos índios devia autorizar determinadas ações destes, como o 
que ocorreu quando da visita do cacique Mário Juruna à Holanda, 
que a referida instituição não queria autorizar. Convém lembrar 
que o mesmo líder indígena, valendo-se de interpretação positiva da 
lei, conseguiu candidatar-se e se eleger deputado federal em 1982. 
Atualmente, vários indígenas exercem mandato de vereador em vários 
municípios, tendo alguns chegado ao cargo de prefeitos.
A Constituição promulgada em 1934 estabelecia a competência privativa da União em 
legislar sobre a “incorporação dos silvícolas à comunhão nacional” (Art.5), estipulando, 
ainda, que “Será permitida a posse de terra dos silvícolas que neles se achem perma-
nentemente localizados, sendo-lhes, no entanto,vedado aliená-los” (Art. 129). A carta 
outorgada em 1937 por Getúlio Vargas manteve na integra esse último artigo.
Na Constituição de 1946, inserida no processo de democratização do país que se segue 
ao término do Estado Novo (1937-1945), foi mantida a proposta de incorporação dos 
indígenas à “comunhão nacional”, reconhecendo-lhes o direito de posse “sobre as terras 
onde se achem permanentemente localizados, com a condição de não as transferirem” 
(Art. 216).
Em 1967, a nova Carta reafi rmou o propósito de incorporação dos indígenas à sociedade 
nacional, estabelecendo que: “É assegurada aos silvícolas a posse permanente das terras 
que habitavam, e reconhecido o seu direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais 
e todas as utilidades nela existentes” (Art.186). Em 1969, a Constituição de 1967 sofreu 
alterações e fi cou defi nido que “as terras habitadas pelos silvícolas são inalienáveis 
nos termos que a lei federal determinar, a eles cabendo a sua posse permanente e 
fi cando reconhecido seu direito de usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas 
as utilidades nelas existentes” (Art. 198). Faz-se mister observar que a questão das 
terras indígenas, como observado por Santos (1998), aparece na maioria das Cartas 
constitucionais brasileiras, inclusive reconhecendo, como as Constituições de 1937 e 
1967, os direitos dos índios sobre suas terras.
A Constituição Federal de 1988, a primeira Carta brasileira a incluir um capítulo inteiro 
tratando especifi camente sobre as populações indígenas- Capítulo VIII, intitulado Dos 
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Índios- estabelece a competência do Estado em demarcar as terras dessas populações 
e de garantir os seus direitos básicos, contudo, não estabelecendo critérios sobre a 
identidade indígena5. No entanto, em 2004, o governo brasileiro incorporou à legislação 
a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estipula que a 
consciência da identidade indígena ou tribal defi ne quem são os indígenas.
Reconhecendo aos índios o direito histórico às terras que ocupam e de serem respei-
tados como comunidades nações dotadas de história e cultura própria, a atual Carta 
constitucional pode, em tese, ser entendida como um passo importante em direção a 
um Estado pluricultural e à superação do conceito tutelar dos índios como objetos de 
políticas governamentais para reconhecê-los como sujeitos políticos. 
Nesse sentido, ela procura estabelecer uma ruptura com a legislação 
indigenista anterior, baseada em conceitos assimilacionistas tendo 
como fundamentação políticas de caráter integracionistas, defensoras 
da ideia de que os indígenas deviam ser assimilados à “comunhão 
nacional”, ao considerar os indígenas como um segmento social 
transitório, e consequentemente destinado ao desaparecimento, como 
preconiza, por exemplo, o Estatuto do Índio (1973), legislação muito 
claramente alinhada à ideologia do governo militar que vigorava no 
país época de sua promulgação. Historicamente, essa legislação e as 
políticas integracionistas e assimilacionistas vigentes no país pelo 
menos até a promulgação da Carta de 1988 se explicam pelo processo 
de formação e expansão do Estado- nação brasileiro, no qual não era 
admitida a existência de grupos com identidades e culturas particulares, pois só deveria 
existir no país uma identidade nacional única e genérica onde só caberia uma cultura 
nacional única e homogeneizada, abrindo espaço para e justifi cando diversas violações 
à integridade social e cultural dos grupos indígenas em nosso território.
A atual Constituição foi elaborada e promulgada no período imediatamente após o governo 
militar (1964-1985), ou seja, dentro de um contexto de redemocratização da nação. 
Aproveitando positivamente dessa ambivalência, lideranças indígenas de diferentes etnias 
atuaram no sentido de pressionar a Assembleia Constituinte a reconhecer e incorporar 
ao texto constitucional os direitos que deveriam garantir a continuidade histórica e 
cultural dessas etnias, reivindicações essas que tiveram o apoio de diversos segmentos da 
sociedade brasileira, como indigenistas, jurídicos, antropológicos e religiosos articulados 
ou não em associações e organização não governamentais. (SANTOS, 1998, p. 87)
Explicitando de forma bem mais clara que as legislações anteriores a relação entre o 
Estado e as sociedades indígenas e reconhecendo a legitimidade das reivindicações 
das populações indígenas e dos setores da sociedade civil que as apoiavam, a Carta de 
1988 inicia, então, uma nova fase desse relacionamento Estado / populações indígenas, 
procurando garantir a elas o direito à diferença cultural e étnica, uma vez que lhes 
reconhece o direito à educação bilíngue e aos processos indígenas de aprendizagem. Por 
conseguinte, pela primeira vez na legislação brasileira, os povos indígenas passaram a 
ter reconhecidos seus direitos enquanto sociedades diferenciadas inseridas na sociedade 
nacional abrangente.
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Direitos indígenas sobre as terras
Ao reconhecer os direitos originários dos índios às terras por eles tradicionalmente 
ocupadas, a Constituição reconheceu que existem relações jurídicas entre os povos 
indígenas e essas terras que são anteriores formação do Estado nacional brasileiro. 
Além disso, a mesma Carta garantiu por parte das comunidades indígenas o usufruto 
exclusivo das riquezas existentes nas terras tradicionalmente por elas ocupadas e, com 
isso, estipulou, também, ser preciso a prévia anuência das comunidades indígenas à 
exploração dos recursos hídricos e minerais existentes nos territórios indígenas. Com 
isso, de forma inovadora, reconher-se-ia a autonomia relativa dessas comunidades lhes 
reconhecendo o poder de vetar projetos de exploração 
desses recursos, fi cando o Estado impossibilitado de 
simplesmente impor tais projetos, como era possível pela 
legislação anterior. Contudo, os índios não são proprietá-
rios das terras que ocupam no sentido tradicionalmente 
dado à propriedade, pois não podem usar as terras que 
ocupam para, individual ou coletivamente, vendê-las ou 
realizar transações comerciais a elas relacionadas.
O Estatuto das Sociedades Indígenas, que revê e substitui 
o antigo Estatuto do Índio (1973), e que, embora aprovado 
pela Câmara dos Deputados desde 1994, ainda não 
sancionada, marca uma evolução na situação jurídica dos 
índios, substituindo a tutela vigente desde o Código Civil 
de (1916) “por um conjunto de instrumentos que tem como base o princípio de que a 
proteção da União deve ser exercida a partir dos direitos e bens coletivos das sociedades 
e comunidades indígenas”. Essa evolução se confi gura na medida em que “eles deixam de 
serem indivíduos ‘relativamente incapazes’ que devem ter a proteção do Estado até que 
se integrem à ‘comunhão nacional’, para assumir a condição de membros de sociedades 
distintas e diferenciadas que possuem direitos especiais, os quais devem ser protegidos nas 
relações com o Estado e com a sociedade brasileira”. (Lidia Luz, apud, SANTOS, 1998,p.93)
O Estatuto das Sociedades Indígenas, proposto para 
garantir e execução da atual Constituição no que tange 
aos direitos indígenas, e que, como acima observado, ainda 
se encontra em tramitação no Congresso, reconhece e 
garante novos direitos às populações indígenas, Contudo, 
os interesses dessas populações entram em choque com os 
interesses econômicos e políticos de diversos segmentos da 
sociedade brasileira como os dos representantes das ma-
deireiras, dos mineradores e do agronegócio. A difi culdade 
na aprovação do documento em questão pelo Congresso 
Nacional expressa, portanto, esses confl itos de interesses.
Isso posto, verifi camos que, atualmente, apesar das grandes conquistas que as populações 
obtiveram especialmente a partir da promulgação da Constituição de 1988, verifi ca-se 
que, ainda há uma grande distância entre o que estabelece a legislação e o que de fato 
ocorre na sociedade brasileira onde se observa, lamentavelmenteuma grande distância 
entre legislação e prática com o não cumprimento do que as leis indigenistas estabelecem 
e na precariedade na defi nição das políticas públicas a elas relacionadas.
Desafi os Globais Cidadania
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Ao mesmo tempo que essa distância entre a legislação e sua efetivação continua ocorrendo 
no tocante à questão indígena, os povos indígenas se tornam cada vez mais visíveis na 
sociedade e essas populações, respaldadas pela legislação vigente, vem-se organizado 
de forma a lutar pela defesa de seus direitos e procurando, dentre eles, destacar sua 
identidade. Assim sendo, desde as últimas décadas do século passado, os movimentos 
sociais indígenas têm destacado como ponto central a 
vigência de reconhecimento e respeito a seus direitos 
enquanto sociedades etnicamente diferenciadas inseridos 
na sociedade nacional abrangente e, por conseguinte, o 
reconhecimento de suas identidades étnicas e culturais.
Analisando a atuação dos movimentos sociais indígenas 
no Brasil Contemporâneo, Gohn (2010)6 observa que esses 
movimentos diferem das mobilizações que ocorrem em 
outros países da América Latina uma vez que, no passado, 
a maioria da população indígena foi ou eliminada ou confi -
nada em áreas afastadas do território brasileiro, diferindo, 
então, do que acontece nos países latino-americanos onde 
não ocorreu ou ocorreu de forma reduzida a escravidão 
africana, nos quais, por conta disso, a maioria da população pobre tanto rural quanto 
urbana é indígena ou descendente direta de índios, populações essa que vem promovendo 
rebelião em vários desses países. Para a autora, no Brasil, em que pese a mobilização 
ascendente dos índios, suas demandas ainda se centralizam na questão da terra. (GOHN, 
2012, p. 113).6
A questão das difi culdades relativas à inserção e sobrevivência das populações indíge-
nas na sociedade brasileira è um fenômeno percebido por todos que refl etem sobre o 
segmento indígena do país. Como tal essa questão è tratada e percebida co “problema 
indígena”. Analisando-a, Oliveira (1998) concorda com Darcy Ribeiro, afi rmando que 
essa problemática não existe em si mesma, mas surge do contato entre etnias indígenas 
e sociedade nacional abrangente. Em relação a ela, o antropólogo observa também que, 
diferentemente de outros problemas sociais, não è consequência da existência do índio 
em si mesmo, mas sim do dito homem branco que promove e determina sua intenção com 
as populações tribais de maneira que ela ocorra de forma confl ituosa, caracterizando-se 
como um choque entre culturas, choque esse caracterizado por Roberto Cardoso de 
Oliveira (1978) como um processo de fricção interétnica. Sendo assim, a solução desse 
“problema indígena”, ainda de acordo com Oliveira (1998), passaria forçosamente pela 
resolução de graves problemas nacionais, a saber, a alteração da estrutura agrária 
calcada no latifúndio, a questão da necessidade de proteção ambiental, a corrupção, a 
impunidade e a falta de “vontade política” das autoridades” ( OLIVEIRA, 1998, p. 64)
Considerações fi nais
Para fi nalizar, convém lembrar que garantir o cumprimento da legislação indigenista 
possibilitando que as comunidades exerçam integralmente o direito que o texto cons-
titucional lhes reconhece, especialmente o direito de posse e usufruto da terra que 
historicamente ocupam, é condição essencial para a sobrevivência física e cultural das 
sociedades indígenas no Brasil. Embora garantido pela atual constituição, esse direito e 
muito questionado mediante o pequeno percentual da população nacional representado 
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pelos povos indígenas mesmo ocorrendo nas últimas décadas um grande crescimento 
no número de indivíduos que se autodeclaram índios, como observamos no presente 
artigo-, particularmente reduzido em relação às terras para eles ocupadas. Por conta 
dessa visão e dos interesses políticos e econômicos sobre os territórios tribais, direito à 
terra e um dos mais contestados dos direitos indígenas e, assim, a alegações de que há 
“muita terra para pouco índio” ainda é muito freqüente e costumeiramente associada 
á ideia distorcida de que a demarcação e a homologação desses territórios seriam um 
empecilho para o desenvolvimento econômico rural.
 
Todavia, é preciso observar que as terras ocupadas pelos índios são uma pequena 
parcela de território nacional – cerca de 12% - , havendo, portanto, muita terra no Brasil 
para ser utilizada e, deste modo, as terras indígenas não ameaçam de maneira alguma 
a necessária reforma agrária e o desenvolvimento rural. Ou seja, o problema está na 
estrutura fundiária do país, caracterizada pelo latifúndio e pela concentração fundiária 
e não no acesso dos indígenas a suas terras, às quais, segundo a Constituição em vigor 
têm direito histórico.
Assim sendo, é necessário que se tenha clareza de que o governo, ao demarcar as terras 
indígenas e ao garantir o direito dos índios a elas, não está realizando nenhuma concessão 
ou favor, mas garantindo aos povos indígenas um direito original seu, anterior mesmo 
à formação jurídico-política do Estado Brasileiro, e não 
permitindo que eles sejam espoliados do que lhes é seu. 
Alem disso, não basta só demarcar esses territórios, cabe 
ao governo assegurar aos índios a garantir de manterem a 
integralidade e a integridade de suas terras, para que não 
ocorra o que acontece em muitas comunidades indígenas, 
que têm seu território legalizado, mas, contudo, não 
conseguem impedir a invasão e a exploração sistemática 
dessas terras por garimpos, madeireiras, por exemplo.
Enfi m, em palavras do cacique pataxó hã-hãe Wilson de 
Jesus de Souza, proferidas por ocasião dos 500 anos do 
“descobrimento” do Brasil:
A história diz que o Brasil foi descoberto, mas os índios já estavam aqui. A gente tem 500 
anos de sofrimento, tempo em que eles tentaram exterminar os povos e dominar. Mas, 
apesar disso, nós queremos resistir mais quinhentos anos, e depois mas quinhentos e 
mais quinhentos, e assim, por toda a vida.
A questão da sobrevivência das nações indígenas è uma questão de toda a sociedade 
brasileira porquanto garantia à alteridade. Defender os direitos dos índios, inclusive 
o de não se assimilarem, mantendo suas identidades tanto no sentido étnico quanto 
“social”, isto é, não perdendo ou tendo que abdicar de suas culturas e modos de vida, è 
defender o direito mas amplo de todas as minorias presentes na sociedade brasileira a 
continuarem mantendo sua integridade física e cultural.
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Chegamos ao fi m deste módulo. No link “referências bibliográfi cas você entrará os artigos 
e materiais utilizados para a elaboração deste material. Leia ainda o texto complementar 
a seguir, para encerramento de estudo.
Referências Bibliográfi cas
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FGV, 2010
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contemporâneo – Petrópolis: Vozes, 2010
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Acesso em agosto de 2012
- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/16001.htm
1 - Para melhor conhecer essas generalizações e como elas podem e devem ser desconstruídas, ver, por exemplo, OLIVEIRA 
(2010), onde estas são exemplifi cadas de forma didática e questionadas.
2 - Cabe observar que, nos censos de 1991 e 2000, a categoria cor ou raça aparecia apenas na Amostra; por conseguinte, 
o contingente indígena da população brasileira só passou a ser investigado no quesito cor ou raça do questionário básico 
no último censo.
3 - No Período Colonial, o termo negro tinha, pelo senso comum da época, um signifi cado aproximado a escravo.
4 - Diferentemente da tutela comum: “No regime de tutela especial estabelecido para os índios há intervenção judicial, 
pois apropria lei já indicou o tutor, que é um órgão vinculado ao Poder Executivo Federal e cuja responsabilidade também 
escapa ao controle judicial (...) Desse modo, o exercício da tutela fi ca, inevitavelmente, condicionado à política indigenista 
do Poder Federal”. (DALLARI, apud SANTOS, 1998, p.98)
5 - “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários 
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, cabendo à União demarcá-los, proteger e fazer respeitar todos os seus 
bens,” (Constituição da República Federativa do Brasil)
6 - No trabalho citado, Gohn faz uma interessante síntese do processo de mobilização e organização das populações 
indígenas no Brasil contemporâneo, relacionando esse processo à legislação indigenista.

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