Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pró-reitoria de EaD e CCDD 1 Teorias do Jornalismo Aula 3 Prof. Guilherme Carvalho Pró-reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa Inicial Olá! Bem-vindo a mais uma aula. Espero que você tenha a oportunidade de desenvolver ainda mais os seus conhecimentos sobre jornalismo também por um olhar teórico. Esse é o nosso objetivo com o conteúdo que apresentamos aqui. Fique atento e boa aula. Contextualizando Com estas aulas queremos que você desenvolva sua compreensão a respeito das principais teorias do jornalismo. Aqui, você poderá ter contato com estudos e maneiras de pensar problemas relacionados ao campo da academia e da prática cotidiana do jornalismo, entendendo que não é possível desenvolvê- lo na prática sem que haja também o desenvolvimento teórico dessa área. Do mesmo modo, entendemos que um bom jornalista precisa conhecer a prática e a teoria ao mesmo tempo e relacionar esses dois aspectos da experiência profissional para uma formação completa. Você verá teorias clássicas, verificando um pouco do que diz cada uma delas, as suas aplicações e limitações e alguns dos principais teóricos que contribuíram para o seu desenvolvimento. Como questão inicial, procure refletir sobre como cada uma delas poderia ser aplicada em estudos sobre o jornalismo atual, como no estudo de um tema que esteve bastante presente na imprensa nos últimos dias. Nesta aula, nós veremos cinco das principais teorias do jornalismo. Confira quais são: 1. A Teoria do Espelho 2. A Teoria do Newsmaking 3. A Teoria do Gatekeeper Pró-reitoria de EaD e CCDD 3 4. A Teoria Organizacional 5. A Teoria do Agendamento Tema 1: A Teoria do Espelho Essa teoria diz que o jornalismo é capaz de “refletir” com precisão a própria realidade. Assim, o jornalismo ou o produto jornalístico seria um espelho do real. “Por essa teoria, o jornalista é um mediador desinteressado, cuja missão é observar a realidade e emitir um relato equilibrado e honesto sobre as suas observações, com o cuidado de não apresentar opiniões pessoais.” (Pena, 2013, p. 125) Parte-se do princípio, portanto, que o jornalista é um sujeito que consegue fazer distinção entre os seus interesses e os da sociedade. Por essa teoria, o jornalista seria alguém imparcial. Muitos meios de comunicação reivindicam essa teoria para garantir credibilidade para os seus negócios, dizendo que o jornalismo produzido naquela empresa é um “espelho da realidade”. Uma fotografia, por exemplo, tende a ser apresentada em um jornal como um instante registrado da realidade, tal como ela se apresenta. A Teoria do Espelho é a primeira teoria do jornalismo. Surgida nos anos 1850, ela se desenvolveu a partir da própria expansão do jornalismo como negócio, quando valores, como verdade e objetividade, passaram a fazer parte do cotidiano profissional. Saiba mais: dentre os principais pensadores da Teoria do Espelho, estão o jornalista Walter Lippmann, que atuou em diversos veículos dos Estados Unidos. Ele escreveu um artigo em 1922 chamado Public Opinion, no qual aponta de que maneira o jornalismo deveria ser praticado de modo que fosse Pró-reitoria de EaD e CCDD 4 assegurado aos veículos de comunicação maior credibilidade, entendendo esse item como fundamental para a durabilidade dos negócios. Essa teoria tinha por princípio a defesa da busca pela precisão. O jornalismo seria mais relevante quanto mais próximo da realidade ele estivesse. Quando a narrativa conseguisse reproduzir fielmente os acontecimentos, então se atingiria a verdade sobre os fatos. Tema 2: A Teoria do Newsmaking A Teoria do Newsmaking compreende que o jornalismo é como é devido a sua forma de fazer. News significa notícia em inglês e making, fabricação. Portanto, o jornalismo pode ser explicado por essa teoria a partir das suas rotinas ou dos seus processos de produção. Ela refuta a Teoria do Espelho, pois compreende que a realidade é construída pelo jornalismo para os indivíduos, entendendo que muito do que sabemos sobre o mundo vem daquilo que o jornalismo nos apresenta, seja direta, seja indiretamente. Podemos entender essa teoria a partir da sua proposta de pensamento no qual “o método construtivista apenas enfatiza o caráter convencional das notícias, admitindo que elas informam e têm referência na realidade. Entretanto, também ajudam a construir essa mesma realidade e possuem uma lógica interna de constituição que influencia todo o processo de construção” (Pena, 2013, p. 129). A partir do estudo da prática jornalística, a Teoria do Newsmaking define o jornalismo a partir de três elementos: Noticiabilidade: critérios que escolhem, entre inúmeros fatos, uma quantidade limitada de notícias. Pró-reitoria de EaD e CCDD 5 Sistematização: rotina de divisão das ações que envolvem a pauta, a reportagem e a edição. Valores-notícia: senso comum das redações. Qualquer jornalista sabe dizer o que é notícia e o que não é de acordo com o senso comum. Essa teoria surgiu nos anos 70, quando cresceu o interesse por compreender os aspectos que influenciavam a produção jornalística e que não eram explicados apenas por questões comerciais ou políticas. É possivelmente uma das teorias mais utilizadas atualmente e também uma das que mais têm se fortalecido nos estudos de jornalismo, devido a sua capacidade de explicar os fatos da realidade. Nela é comum o pesquisador se apropriar de procedimentos de pesquisas etnográficas, isto é, que estudam grupos sociais. Quem estuda jornalismo a partir da Teoria do Newsmaking geralmente deve ingressar na pesquisa de campo acompanhando o processo de produção in loco (no local). Para isso, ele “assimila a maneira de agir, de pensar e de avaliar dos jornalistas e transforma- se em ‘um deles’, modificando o seu papel na situação. Embora não sendo um participante, em sentido restrito, no processo de produção das notícias, deixa de ser apenas um observador” (Wolf, 1995, p. 168). Saiba mais: dentre os principais pensadores dessa teoria, estão Peter Golding e Phillip Elliott, que escreveram o livro Making the News, em 1979, entre outros trabalhos em que eles relatam os estudos realizados com jornalistas em veículos de comunicação. Gaye Tuchman e Pamela Shoemaker também estão entre os pesquisadores expoentes que ajudaram a desenvolver os estudos na Teoria do Newsmaking. Pró-reitoria de EaD e CCDD 6 Tema 3: A Teoria do Gatekeeper Gatekeeper é uma palavra inglesa que significa “porteiro”. Seria algo como uma pessoa que tem o poder de permitir que alguns entrem e outros não. Essa teoria entende que no jornalismo algumas pessoas são capazes de definir o que pode ser transformado em notícia e o que não pode, a partir da gama infinita de acontecimentos do cotidiano e que poderiam ser noticiados, mas não são devido a uma série de fatores, mas principalmente pela falta de gente e tempo suficiente para produzir todas as notícias. Trata-se de uma teoria que procura explicar o que é jornalismo a partir dos mecanismos desenvolvidos internamente nas redações jornalísticas e que têm relação com quem atua nelas. Também conhecida como Teoria da Ação Pessoal, é uma das que primeiro se ateve ao estudo dos processos de produção jornalísticos e que depois deram origem à Teoria do Newsmaking. Todos os dias os jornalistas recebem um bombardeio de informações. São releases, notícias publicadas em outros veículos e de agências de notícias nacionais e internacionais, sugestões de pauta do público, entre outros meiosde se saber o que pode estar acontecendo no ambiente profissional das redações. Escolher o que deve ser noticiado e o que não deve é uma tarefa complicada. Nos estudos da Teoria do Gatekeeper, [...] o processo de produção da informação é concebido como uma série de escolhas em que o fluxo de notícias tem de passar por diversos gates, isto é, “portões” que não são mais do que áreas de decisão em relação às quais o jornalista, isto é, o gatekeeper, tem de decidir se vai escolher essa notícia ou não. Se a decisão for positiva, a notícia acaba por passar pelo “portão”; se não for, a sua progressão é impedida, o que na prática significa a sua “morte” porque significa que a notícia não será publicada, pelo menos nesse órgão de informação. (Traquina, 2012, p. 152) Saiba mais: dentre os principais estudiosos dessa teoria, estão David Manning White, que publicou o livro The Gatekeeper: a case study in the selection of News, em 1950. Nesse estudo, ele pesquisou redações jornalísticas Pró-reitoria de EaD e CCDD 7 para identificar os fluxos de informação e o que incidia sobre a seleção ou não dos fatos que seriam noticiados. Tema 4: A Teoria Organizacional Essa teoria diz que a maneira como estão organizadas as empresas de comunicação e como se gerencia o seu trabalho são determinantes sobre como o jornalismo será desenvolvido e, portanto, sobre como as notícias serão construídas, considerando desde a filtragem de temas que serão pautados, passando pela escolha e prioridade de fontes e informações até o espaço que determinada reportagem ganhará no suporte de publicação. A essas características do jornalismo feito em empresas classificam-se os sentimentos de obrigação e de respeito aos superiores, a ambição dos jornalistas, a fidelidade do grupo à empresa ou aos donos da empresa e uma satisfação natural do jornalista com a própria profissão como fatores que estabelecem mecanismos de controle nas redações que não estão explícitos, mas se desenvolvem a partir da autoridade institucional e de sanções. A Teoria Organizacional contribui para explicar porque questões da organização se impõem sobre os valores éticos e ideais da profissão, aprofundando a distância entre o que se espera do profissional e o que de fato se materializa como produção jornalística. Nesse sentido, os fatores econômicos são colocados em primeiro lugar, reforçando o distanciamento do jornalismo daquilo que se constitui como um polo ideológico, segundo Traquina (2012), ou seja, com a perspectiva de uma atividade que pode ser reconhecida como de interesse público, uma vez que sobressaem os interesses particulares dos donos dos meios de comunicação. Quando o jornalismo explicita os interesses particulares ou faz com que transpareçam, o que está em jogo é a credibilidade. O público deixa de “consumir” informações de determinado veículo quando é convencido de que a Pró-reitoria de EaD e CCDD 8 sua linha editorial não está a serviço do bem comum. Considerando que, portanto, os veículos jornalísticos comerciais são empresas cuja lógica de funcionamento é a do lucro e que há um esforço nesse sentido para negar essa natureza, pode-se dizer que o jornalismo, em sua grande parte, constitui-se como atividade ideológica. E, como tal, deve incorporar uma dinâmica que aparente não apenas aquilo que é publicado, mas uma razão pública. Ele deve compor os modos de fazer, os procedimentos e as atividades cotidianas daqueles que fazem jornalismo, estabelecendo relações de trabalho que transpareçam o respeito a valores, como liberdade e verdade. Os estudos relacionados à Teoria Organizacional, como pode ser percebido, em geral são aqueles que estabelecem uma perspectiva mais crítica para o jornalismo, questionando o funcionamento das organizações e sobre como se exercem as relações internas de poder. Saiba mais: a Teoria Organizacional, nominada inicialmente por Warren Breed no livro Controle social na redação: uma análise funcional, é resultado de um estudo baseado em observação e entrevistas com jornalistas de diversas redações dos Estados Unidos. O estudo foi publicado em 1955. Tema 5: A Teoria do Agendamento Essa teoria está interessada em compreender de que maneira os meios de comunicação “agendam” os assuntos e pensamentos do público. Ou seja, busca compreender qual o poder de influência dos meios de comunicação sobre as pessoas. Por esse motivo, a Teoria do Agendamento, também chamada de Teoria do Agenda-setting, não desenvolve estudos no ambiente interno das redações, mas no externo, onde se concentram os efeitos dos meios de comunicação. A Teoria do Agendamento surgiu nos anos 70 e desenvolveu uma hipótese que aponta que, Pró-reitoria de EaD e CCDD 9 [...] em consequência da ação de jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presa atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem no seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos meios de comunicação de massa aos acontecimentos, aos problemas e às pessoas. (Shaw apud Wolf, 1995, p. 130) O desenvolvimento dos estudos sobre a Agenda-setting possibilitou duas conclusões a respeito dessa teoria: 1. Os meios de comunicação têm diferentes poderes de influência sobre o público, o que pode variar entre suportes ou entre o prestígio do meio e a sua capacidade de audiência. 2. Temas mais polêmicos tendem a ganhar maior relevância do que outras questões mais importantes, pois suscitam um questionamento entre o público. Também se observou limites para a teoria. Percebeu-se, por exemplo, que a agenda do público não depende apenas do que dizem os meios de comunicação. É preciso considerar a existência de outros campos que também incidem sobre ela, como o campo político, as ações de outros agentes sociais e os próprios acontecimentos do mundo real, além da diversidade de informações e de conteúdos divulgados pelos diversos meios de comunicação. É preciso considerar, por exemplo, que nos últimos anos tem ganhado força o relacionamento interpessoal por meio do uso de tecnologias, como a internet, que tem possibilitado às pessoas trocarem informação e publicarem conteúdos para uma grande quantidade de pessoas. Alguns pensadores, inclusive, observam uma inversão desse processo de agendamento no qual os meios de comunicação passam a ser agendados pelo público, quando se pautam por assuntos que estão em redes sociais e que ganham grande relevância, por exemplo. Pró-reitoria de EaD e CCDD 10 Saiba mais: a Teoria do Agendamento desenvolveu-se a partir dos anos 70 por meio dos estudos de Maxwell McCombs e Donald Shaw, no livro The emergence of american political issues: the agenda setting function of the press, publicado em 1972. Trocando Ideias Espero que nessa aula você tenha feito uma reflexão, conseguindo relacionar a teoria à prática jornalística. Apesar de ser um esforço inicial, é fundamental que o jornalista consiga relacionar aquilo que estuda na teoria com o que deverá aplicar no seu cotidiano. Síntese Vimos que as teorias tratadas aqui são aquelas que de algum modo ajudam a explicar de que maneira o jornalismo é feito e como se pode observar os seus resultados. Nesse sentido, podemos dizer que as teorias que se firmaram ao longo dos anos e se desenvolveram são aquelas que podem ser observadas também na prática do cotidiano. ReferênciasPENA, F. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005. TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2005. v. 1 WOLF. M. Teorias da comunicação de massa. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Compartilhar