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Estudos Sociais I

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Prévia do material em texto

Estudos Sociais 
e Ambientais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Material teórico 
 
Responsável pelo Conteúdo: 
Prof. Ms. Marcello Alves 
 
Revisão Textual: 
Profa. Dra. Patrícia Leite 
Introdução e Contextualização 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução e Contextualização 
A nossa disciplina tem como objetivo compreender a relação 
entre a Arquitetura e Urbanismo e as demais ciências sociais e 
ambientais. Compreender que os problemas urbanos ou o 
modo de vida urbano, a evolução tecnológica, cientifica e 
ambiental reflete na obra arquitetônica e na cidade e assim, 
podemos observar nos edifícios vestígios de determinados 
tempos históricos em que foram construídos. 
 
Atenção 
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar 
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 
 
 
 
 
 
 
O que é meio ambiente? 
A forma como uma sociedade ou comunidade se relaciona com o meio ambiente 
revela seu modo de pensar, seus valores e princípios. Esta relação é definida de um modo 
cíclico: o meio ambiente influencia a sociedade ao mesmo tempo que a sociedade influencia o 
meio ambiente. Desde o início da civilização, cada sociedade de cada época desenvolveu uma 
forma particular de se relacionar com o meio ambiente. 
Um dos pressupostos no estabelecimento desta relação é a compreensão que cada 
sociedade possui sobre o que é o meio ambiente. Por exemplo, um índio que vive em sua 
tribo numa floresta e um profissional liberal que vive numa grande cidade, necessariamente, 
têm compreensões diferentes do que é “meio ambiente”. Essas diferenças se revelam não 
apenas nos modos de pensar, de viver e de se organizar em sociedade, mas também nos 
modos de interferir na base física que sustenta todas essas ações. 
Apesar das diferenças, há algo que unifica a compreensão do índio e a compreensão 
do cidadão urbano. Ainda que índios de algumas tribos classifiquem de “manifestação 
sobrenatural” aquilo que o cidadão urbano chama de “tempestade”, há um dado comum 
entre essas duas compreensões. Este elemento comum é o próprio fato: o céu cada vez mais 
repleto de nuvens escuras, o som dos trovões, a luminosidade dos relâmpagos e a água que 
desce do céu. 
No nosso caso, o que buscamos é o fato ou objeto que corresponde àquilo que 
experimentamos e que chamamos de “meio ambiente” e que se apresenta em igual medida 
para todos os povos do mundo. Que fato é esse? Para começar a empreender essa busca, 
olhemos por alguns instantes as definições mais comuns, encontradas em dicionários e 
legislações diversas: 
• Conjunto de fatores físicos, biológicos e químicos que cerca os seres vivos, influenciando-os e 
sendo influenciado por eles. (Dicionário Houaiss, versão eletrônica, 2007) 
• The complex of physical, chemical, and biotic factors that act upon an organism or an ecological 
community and ultimately determine its form and survival. (Encyclopædia Britannica, versão 
online, 2010) 
Contextualização 
 
 
• Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que 
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, (...) o meio ambiente é um patrimônio 
público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo. (Política 
Nacional do Meio Ambiente, artigos 2 e 3 da Lei Federal 6.938/81) 
• Compõem o meio ambiente, os recursos hídricos, a atmosfera, o solo, o subsolo, a flora e a 
fauna, sem exclusão do ser humano. (Legislação Estadual de Alagoas, artigo 3 Lei 4.090/79) 
• Meio ambiente é o espaço onde se desenvolvem as atividades humanas e a vida dos animais e 
vegetais. (Legislação Estadual de Minas Gerais, artigo 1, parágrafo único, Lei 7.772/80) 
• Determinado espaço onde ocorre a interação dos componentes bióticos (fauna e flora), 
abióticos (água, rocha e ar) e biótico-abiótico (solo). Em decorrência da ação humana, 
caracteriza-se também o componente cultural. (ABNT, 1989) 
Embora haja variações, é possível notar alguns elementos comuns a todas as definições 
aqui apresentadas para o termo “meio ambiente”. A imagem abaixo é uma síntese da última 
definição, da ABNT, que usaremos como referência nesta e nas unidades seguintes desta 
disciplina. 
 
A partir desta definição, tente imaginar os diversos povos e comunidades que ocupam 
as mais diferentes regiões do mundo: esquimós na Groenlândia, habitantes de cidades como 
Buenos Aires ou Hong Kong, tribos das savanas africanas, beduínos que vivem sob a 
severidade dos desertos, agroempresários do interior dos EUA ou do Brasil. Cada um desses 
grupos vive sob a influência de elementos físicos, biológicos e culturais e ao mesmo tempo 
influenciam esses elementos. 
Podemos deduzir, a partir do que foi dito, que meio ambiente não existe como algo 
abstrato, tampouco como algo alheio ao indivíduo. Nós somos parte do meio ambiente tanto 
quanto rios, árvores e montanhas. Mesmo os espaços artificialmente construídos, como 
edifícios residenciais, indústrias e shopping centers também são parte do meio ambiente. 
 
 
Nas últimas décadas, tornou-se popular a expressão “retorno à natureza” e vocês 
certamente já a ouviram. Notem que ela implica uma relação dualista que jamais existiu 
realmente: o homem não está no meio ambiente, ele é um dos elementos que compõem o 
meio ambiente. 
Imaginem, por exemplo, um indivíduo urbano que jamais viu uma floresta e que vive e 
trabalha num arranha-céu, de onde nunca sai. O que é o “meio ambiente” para essa pessoa? 
É exatamente o lugar em que ele está, incluída a presença desse próprio indivíduo, com toda 
sua bagagem sócio-cultural: trabalho, hábitos etc. A dificuldade que algumas pessoas têm para 
reconhecer um espaço artificial como “meio ambiente” deve-se à escassa presença de alguns 
elementos naturais contidos na definição que expusemos acima. Porém, o fato de um lugar 
não possuir árvores e pássaros (meio biológico) não garante que estes elementos não tenham 
alguma influência sobre aquele lugar ou que não sejam importantes. 
Em atividades de grande impacto sobre o meio ambiente, como a Arquitetura e a 
Engenharia, é fundamental reconhecer os elementos que compõem o meio ambiente e em 
que medida eles estão presentes ou ausentes. Estes conhecimentos são necessários para 
pautar qualquer ação humana e é a partir deles que se torna possível falar em 
desenvolvimento sustentável e soluções alternativas para energia, transporte e habitação. 
 
Impacto ambiental 
É fundamental compreender o caráter unitário do meio ambiente para compreender 
também a noção de impacto ambiental, que vamos definir agora e que abordaremos com 
mais detalhes nas unidades seguintes. 
O CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) assim define impacto ambiental 
na Resolução nº 001/86: 
qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio 
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das 
atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a saúde, a 
segurança, e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a 
biota [conjunto de todos os seres vivos de uma região]; as condições estéticas 
e sanitárias ambientais; a qualidade dos recursos ambientais. 
 
 
Quando falamos de impacto ambiental precisamos ter em mente que todas as ações 
humanas causam alguma alteração no meio ambiente e que essa alteração pode ser de 
diversos tipos. É claro que ações simples como ter uma horta no quintal ou reformar uma casa 
causarão alteraçõesinsignificantes. O mesmo não pode ser dito da instalação de uma 
indústria, da duplicação de uma rodovia e da criação de uma área de preservação 
permanente, que interferem substancialmente no meio ambiente. 
Em seu manual para elaboração de estudos e relatórios de impacto ambiental 
(EIA/RIMA) a Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo estabelece que os impactos 
ambientais devem ser classificados de seis formas: 
• Diretos ou indiretos; 
• Temporários ou permanentes; 
• Benéficos ou adversos; 
• Imediato ou a médio ou longo prazos; 
• Reversíveis ou irreversíveis; 
• Locais, regionais ou estratégicos. 
Expressões que costumamos usar no dia-a-dia, como “pequeno impacto ambiental” ou 
“grande impacto ambiental”, só fazem sentido se observadas tendo em vista cada um destes 
seis parâmetros. Para que estes itens fiquem mais claros, vamos usar como exemplo a 
construção de um grande conjunto habitacional numa pequena cidade interiorana e analisá-lo 
com base nos itens expostos acima. Esse empreendimento trará diversos impactos ambientais 
desde a sua idealização até suas fases finais, de acabamento da obra e ocupação pelos 
moradores: 
 
• Impacto direto sobre o solo, que será ocupado com construções de grande 
porte. Impacto indireto decorrente do provável aumento da população na 
região em que o empreendimento será realizado. 
• Impacto temporário decorrente da movimentação de pessoas e máquinas 
durante as obras de construção do conjunto habitacional. Impacto permanente 
sobre a paisagem original pela presença do conjunto habitacional naquela 
região da cidade. 
 
 
• Impacto benéfico pela redução da carência de moradias. Impacto adverso como 
poluição ambiental e aumento da demanda por infra-estrutura urbana, como 
água, luz e saneamento. 
• Impacto imediato com a instalação do canteiro de obras para a construção do 
conjunto. Impacto a médio e longo prazo, com a dinamização urbana nessa 
região da cidade. 
• Impacto reversível no caso do corte de árvores e supressão de outras coberturas 
vegetais. Impacto irreversível no caso da impermeabilização do solo, para a 
construção dos edifícios do conjunto habitacional, estacionamentos etc. 
• Impacto local no caso das alterações que o conjunto habitacional traz para a 
rotina daquela cidade. Impacto regional ou mesmo estratégico caso o conjunto 
habitacional venha a suprir carência de moradias em cidades vizinhas. 
A tendência de preservação ambiental difundida nas últimas décadas, principalmente 
pela mídia não-especializada e por formadores de opinião, nos leva a compreender “impacto 
ambiental” como algo negativo. É evidente que esta é uma visão limitada; cabe-nos observar 
atentamente a realidade e fazer uma avaliação adequada das atividades e dos 
empreendimentos humanos. Como vimos no exemplo acima, um empreendimento pode 
trazer impactos positivos (benéficos) ou negativos (adversos) e o mesmo ocorre com cada um 
dos elementos que o compõem, desde a decisão política/comercial pela instalação do 
empreendimento, até o seu uso, depois de pronto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Há poucos anos os jornais divulgaram um fato importante: no Brasil a população 
urbana ultrapassou a população das zonas rurais. O que isto significa? Significa que as 
atividades econômicas predominantes passaram a ser aquelas associadas à vida nas cidades, 
como a indústria e os serviços, não mais a agricultura e a pecuária. Significa também que as 
cidades passaram a ser o centro das transformações ambientais que uma sociedade pode 
causar. Deixamos de ser uma nação agrícola e passamos a ser uma nação urbana. 
 
Fig. 1: Gravura de época: Londres em 1865, quando as cidades davam seus primeiros passos rumo àquilo que hoje 
chamamos de “caos urbano”. Fonte: http://www.cqout.com/item.asp?id=4892438 
 
O deslocamento de populações inteiras para as cidades começa na Europa com as 
primeiras sociedades industriais, no séc. XIX. A tecnologia aumentou a demanda por mão de 
obra, aumentou a produção e aumentou significativamente a circulação de capital nas 
cidades, que cada vez mais passaram a ser vistas como os centros das ações e decisões 
importantes para um país (fig.1). 
Outra consequência inevitável da tecnologia foi a aceleração das transformações sociais 
e ambientais. A inserção das máquinas nas atividades econômicas e na forma de construir as 
Material Teórico 
 
 
cidades em meados do séc. XIX foi apenas o início de um processo que prossegue até os dias 
de hoje. O aço e o concreto armado, por exemplo, marcariam definitivamente a paisagem das 
cidades. 
Este processo não se limitou à Europa, é claro. Embora no Brasil os efeitos da 
industrialização e o êxodo do campo tenham demorado a surgir, as cidades brasileiras 
também sentiram seus efeitos. Um dos símbolos deste primeiro período de industrialização e 
de intensa urbanização do país é o edifício Martinelli, no centro da capital paulista (fig. 2). 
 
Fig.2: Edifício Martinelli e o centro de São Paulo em 1933. Uma capital resumida em uma imagem. 
Fonte: http://www.topblog.com.br/2011/blogs/metropole/o-edificio-martinelli/ 
 
O que se torna evidente quando observamos com mais atenção as principais cidades 
do Brasil e do mundo é que elas dizem algo sobre o modo como as sociedades se 
organizaram, se desenvolveram e modificaram o ambiente natural. Se no passado remoto 
havia sociedades hidráulicas, isto é, comunidades que se instalavam nas proximidades de rios 
e outras fontes de água (fundamentais para suas atividades agrícolas), a partir do séc. XIX, 
surge a sociedade industrial, cujo centro são os processos de transformação de matérias-
primas e de produção de bens de consumo. As cidades passaram a crescer verticalmente, com 
 
 
os arranha-céus, e horizontalmente, com os automóveis e os sistemas de transportes. Na 
Europa, isto significou a eliminação definitiva de seus limites antigos. Cidades como Paris e 
Barcelona ainda possuíam muros que remontavam à Idade Média; foram derrubados e deram 
lugar a amplas avenidas. 
As primeiras preocupações com as questões ambientais remontam a essa época. Na 
Europa, teóricos como o urbanista Ebenezer Howard desenvolveram planos como o das 
cidades-jardim, que tentavam conciliar o funcionalismo das cidades com as qualidades das 
paisagens rurais. Nas primeiras décadas do séc. XX arquitetos e urbanistas, apoiados na 
crescente presença da engenharia e da tecnologia nas vidas das pessoas, desenvolveram a 
ideia da cidade como máquina, cujas funções principais eram habitação, trabalho, circulação 
e lazer. 
Posteriormente, sobretudo a partir do final da Segunda Guerra Mundial, a tecnologia 
passou a fazer cada vez mais parte do cotidiano das pessoas e o próprio consumo tornou-se 
um elemento estratégico. Tal processo, iniciado ao longo das décadas de 1950 e 1960, trouxe 
novas transformações sociais e ambientais. Se antes a sociedade era industrial, ela passa então 
a ser uma pós-industrial ou, conforme alguns estudiosos, uma sociedade do conhecimento. 
Entre suas principais características estão a transferência de grande parte do trabalho para 
máquinas e computadores e a ênfase na informação, na comunicação, no conhecimento e na 
criatividade (fig.3). 
 
Fig. 3: Las Vegas em 1972: um dos emblemas da Sociedade Pós-Industrial. 
Fonte: http://www.dr5.org/if-you-want-to-see-how-far-america-has-come-since-the-1970s/ 
 
 
Surge nesse período a noção da finitude dos recursos naturais e as questões sociais e 
ambientais ganham nova dimensão com o estabelecimento de novos paradigmas nas ciências, 
na filosofia e na cultura de um modo geral. A aceleração do desenvolvimento tecnológico 
impulsionou a comunicação e o consumo,reduziu distâncias e permitiu o surgimento do que 
hoje chamamos de globalização. 
Todas essas transformações podem ser lidas nas cidades. As cidades são a expressão 
de todos os movimentos que aconteceram desde o séc. XIX, quando elas se tornaram o centro 
das decisões na maioria dos países. Mais do que isso, as cidades são construídas com o 
objetivo declarado de expressar essas transformações. Por exemplo, o edifício Martinelli (fig. 
2) expressa um momento particular do desenvolvimento social, tecnológico, econômico e 
urbano da cidade de São Paulo e do Brasil de um modo geral: o concreto armado e as 
grandes construções, a industrialização, a verticalização, o crescimento urbano, a 
transformação intensa da paisagem e a forte submissão do ambiente natural à força 
transformadora do homem – todos estes elementos podem ser lidos através de uma 
observação atenta de um edifício como o Martinelli. A cidade de Las Vegas (fig. 3), nos EUA, 
com sua profusão de elementos decorativos, é a síntese da pós-modernidade: paisagens 
artificiais, construídas em pleno deserto (novamente graças à tecnologia) para causar 
impressões específicas nos habitantes e visitantes. 
O mesmo exercício de leitura do meio ambiente pode ser empreendido em qualquer 
cidade, pois todas as cidades são a expressão e o resultado das forças que as originaram e que 
as modificam todos os dias. Cada rua, cada esquina, cada edifício diz algo sobre os interesses, 
princípios, forças e ações que compõem as cidades. 
Em razão disso, outra marca importante da sociedade pós-industrial é a complexidade. 
Se nas sociedades industriais o funcionalismo determinava a divisão do espaço e da própria 
sociedade com base em parâmetros predominantemente técnicos, nas sociedades pós-
industriais este fator somou-se a vários outros. 
Por exemplo, o crescimento da população numa determinada cidade leva ao aumento 
da demanda por alimentos e outros bens de consumo. Se antes os alimentos que abasteciam 
essa cidade eram produzidos em seu entorno imediato, é possível que o limite da capacidade 
de produção de alimentos dessa região seja ultrapassado pela demanda crescente, o que força 
a importação de alimentos. A importação de alimentos exige um sistema de transportes 
 
 
estruturado, uma logística que conecte o produtor e o consumidor, que gerencie custos, que 
preveja ou até crie o aumento ou a queda dessas demandas. 
É exatamente isso que vemos hoje em dia numa cidade como São Paulo, que é 
abastecida com alimentos e bens de consumo provenientes de diversas partes do país e do 
mundo. Grosso modo, conforme o vocabulário utilizado atualmente, podemos dizer que São 
Paulo não é uma cidade sustentável, pois não consegue produzir tudo aquilo que consome. 
Essa complexidade nos convida a fazer esse mesmo exercício não apenas para as 
cidades e aquilo que elas nos mostram, mas para cada objeto que nos rodeia. Através deste 
exercício podemos traçar o caminho de um determinado objeto desde sua origem até o 
momento presente, quando fazemos uso dele. Por exemplo, uma caneta: ela teve de ser 
produzida por alguém em algum lugar distante de onde o dono da caneta vive, com matérias-
primas que foram extraídas ou produzidas talvez por outra pessoa em um terceiro lugar. 
Depois de finalizada, ela foi transportada até uma papelaria e lá ela foi comprada pelo usuário 
final, isto é, trocada por dinheiro. Até que chegasse às mãos do usuário, uma simples caneta 
passou por diversos processos (produção das matérias-primas, produção da caneta, 
transporte, comercialização etc.). Cada um desses processos também tem ramificações 
importantes: o dinheiro usado para comprar uma caneta veio de algum lugar; decerto o 
usuário realizou um trabalho e foi pago por isso e, assim, teve o dinheiro para adquirir a 
caneta. O conhecimento para realizar esse trabalho não nasceu com a pessoa; ao invés, foi 
transmitido a ela por um sistema de ensino e profissionalização etc. 
Essa noção de complexidade das relações humanas remete à ideia de sistema. A 
própria definição de meio ambiente, como vimos na contextualização, traz em si a ideia de 
uma unidade ou totalidade composta de partes e da influência de cada parte sobre essa 
unidade e da própria unidade sobre as partes que a compõem. Isto é o que se chama de 
concepção sistêmica. FRANCO (1994) resume isto da seguinte forma: 
Estamos diante de uma abordagem sistêmica do mundo, no qual todos 
os elementos, incluindo as sociedades humanas, interagem numa 
gigantesca rede de relações. Natureza e sociedade fundem-se numa 
totalidade organizada. Essa apreensão da natureza dissocia-se das 
concepções mecanicistas e busca sua identidade nos modelos biológicos 
mais do que nas construções físicas. 
 
 
Surge então um paradoxo: a constatação da complexidade das relações sociais e 
ambientais levou ao aumento da quantidade de áreas do conhecimento. Novas disciplinas 
científicas foram criadas e as ciências até então existentes especializaram-se e se dividiram em 
várias áreas. Exemplos disso são as diversas áreas de aplicação da Engenharia (Civil, Naval, 
Metalúrgica etc.) e a Informática, que só passou a existir realmente na década de 1960 e que 
recentemente também tem dado origem a diversas especializações. Isto só foi possível com o 
recorte de uma realidade que tem se mostrado cada vez maior e mais complexa. 
Diante disso, a tarefa que tem sido colocada aos profissionais é, ao mesmo tempo, 
cumprir as particularidades de suas áreas de conhecimento e reconhecer as complexidades 
que inevitavelmente fogem do campo de ação dessas áreas. Isso reforça o que vimos acima: a 
sociedade pós-industrial, em que nos encontramos hoje, privilegia o conhecimento, a 
criatividade, a capacidade de compreender a realidade. Neste sentido, o profissional 
contemporâneo é também um pensador e articulador das diversas disciplinas que convergem 
para a realização de um projeto ou obra. 
 
 
 
 
Vamos tentar resumir o que foi apresentado até aqui: 
1) O meio ambiente é uma totalidade, composta de partes que são interdependentes e 
que influenciam umas às outras. O ser humano está permanente e inevitavelmente 
inserido nessa totalidade. 
2) Impacto ambiental não é um acidente, mas a condição de existência de qualquer 
objeto natural ou artificial e de qualquer ser de qualquer dimensão ou porte. 
3) Todas as atividades humanas causam algum impacto no meio ambiente e, 
consequentemente, sobre a sociedade como um todo. 
4) As cidades são o lugar em que as interações entre os objetos e seres que compõem 
o meio ambiente acontecem com maior velocidade e intensidade. Em razão disso, 
as cidades são também o reflexo dessas interações. E, claro, as cidades podem ser 
“lidas” e compreendidas com base nisso. 
5) Ao profissional contemporâneo impõe-se a tarefa de resolver as questões 
particulares de sua área de conhecimento à luz da multidisciplinaridade e das 
complexidades indicadas pela definição de meio ambiente e de cidade. 
Com base nisso, recomendo como leitura complementar o texto «O arquiteto e o 
planejamento ambiental e os riscos da falta de discussão», de Ângelo Marcos Arruda. Embora 
o autor tome como ponto de partida a condição atual do arquiteto frente às questões sociais e 
ambientais atuais, vocês notarão que o artigo se aplica igualmente a qualquer área que esteja 
hoje diretamente relacionada a essas questões. 
Boa leitura a todos. 
 
Acesse aqui o artigo recomendado: 
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/42/860 
 
 
 
Material Complementar 
 
 
 
 
 
 
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Anotações

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