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Livro Semântica - Paulo Mosânio

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Prévia do material em texto

Paulo Mosânio Teixeira Duarte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO À SEMÂNTICA 
 
 
2ª. edição 
 
Revista e Ampliada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO 
 
CAPÍTULO I 
A SEMÂNTICA NOS PRIMÓRDIOS: A ABORDAGEM DIACRÔNICA 
1 O INÍCIO: A CONTRIBUIÇÃO DE MICHEL BRÉAL 
2 OUTROS AUTORES 
3 CONCLUSÃO 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO II 
 PARA UMA TEORIA SEMÂNTICA: DOS OBJETIVOS 
4 OS IMPASSES PARA A ELABORAÇÃO TEÓRICA 
5 QUE TEORIA DO SIGNIFICADO ADOTAR? 
5.1 Uma Teoria Mentalista: O Imagismo 
5.2 Teorias Não-Mentalistas 
5.2.1 A teoria behaviorista 
5.2.2 A teoria extensionalista 
5.2.3 Outras propostas: a instrumental e a contextual 
6 ELEMENTOS PARA UMA TEORIA SEMÂNTICA: A PROPOSTA DE KATZ 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO III 
 PARA UMA TEORIA SEMÂNTICA: DA NOÇÃO DE SIGNO 
7 INTRODUÇÃO 
8 DA ESTRUTURA DO SIGNO 
8.1 A Concepção de Ferdinand de Saussure 
8.2 A Concepção de Hjelmslev 
9 DAS RELAÇÕES ENTRE SIGNOS 
9.1 A Perspectiva de Hjelmslev 
9.2 A Perspectiva de Eco 
10 DAS CONDIÇÕES EXTERNAS PARA O FUNCIONAMENTO DO SIGNO 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO IV 
 A SINONÍMIA LÉXICA 
11 INTRODUÇÃO 
12 A SINONÍMIA NA PERSPECTIVA DE ULLMANN 
13 A PROPOSTA DE LYONS 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO V 
 SINONÍMIA FRASAL: A PARÁFRASE 
14 INTRODUÇÃO 
15 A PARÁFRASE: ASPECTOS DEFINIDORES 
16 PARÁFRASE E CORRESPONDÊNCIA 
17 CONCLUSÃO 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO VI 
 OPOSIÇÕES E CONTRASTES 
18 INTRODUÇÃO 
19 OPOSIÇÕES ANTONÍMICA, COMPLEMENTAR E CONVERSA 
20 OPOSIÇÕES DIRECIONAIS, ORTOGONAIS, ATIPODAIS E CONTRASTES NÃO-BINÁRIOS 
21 A OPOSIÇÃO E O CONTEXTO DISCURSIVO 
22 CONCLUSÃO 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO VII 
 HIPONÍMIA E HIPERONÍMIA 
23 INTRODUÇÃO 
24 RELAÇÕES DE INCLUSÃO: HIPONÍMIA E HIPERONÍMIA 
25 CONCLUSÃO 
 Exercícios de reflexão 
 
 
CAPÍTULO VIII 
 POLISSEMIA E HOMONÍMIA 
26 INTRODUÇÃO 
27 A HOMONÍMIA E A POLISSEMIA: A VISÃO TRADICIONAL 
28 A HOMONÍMIA E A POLISSEMIA: A PROPOSTA DE BARBOSA 
29 CONCLUSÃO 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO IX 
 RELAÇÕES DE SIGNIFICADO NA FRASE: A VALÊNCIA SEMÂNTICA 
30 INTRODUÇÃO 
31 PROPOSTA DE FILLMORE 
32 A PROPOSTA DE CHAFE 
33 CONCLUSÃO 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO X 
 O CAMPO LÉXICO 
34 INTRODUÇÃO: OS PRECURSORES 
35 A MODERNA TEORIA DOS CAMPOS LÉXICOS 
35.1 Pottier 
35.2 Greimas 
35.3 Coseriu 
35.3.1 Das distinções de base 
35.3.2 Das relações paradigmáticas do léxico 
35.3.3 Das relações sintagmáticas do léxico 
 
 CAPÍTULO XI 
 ADITAMENTOS AO CAMPO LÉXICO 
36 A TEORIA KATZ-FODOR 
37 BALANÇO CRÍTICO 
 Exercícios de reflexão 
 
 CAPÍTULO XII 
 O CONTEXTO NA DETERMINAÇÃO DO SENTIDO – PARTE I 
38 INTRODUÇÃO 
39 A DÊIXIS 
39.1 A Pessoa 
39.2 O Espaço e o Tempo 
39.2.1 O espaço 
39.2.2 O tempo 
39.3 Síntese 
40 A FORMULAÇÃO MODAL 
40.1 Da Modalidade 
40.2 Da Asserção 
40.3 Do Desenvolvimento e da Determinação 
41 CONCLUSÃO 
 
 CAPÍTULO XIII 
 O CONTEXTO NA DETERMINAÇÃO DO SENTIDO – PARTE II 
42 RELAÇÕES DE ACARRETAMENTO 
42.1 Implicação/Pressuposição 
42.2 Pressuposição/Implicatura 
43 A ESCALARIDADE 
 Exercícios de reflexão 
 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço a Claudete Lima, minha dileta mulher, 
graças a cujo companheiril e psicológico, e ao 
empenho devotado na digitação, na revisão técnica, 
conteudística e textual, veio a lume esta 2ª. edição, 
sem as imperfeições da primeira. 
Agradeço também ao Diretor da Imprensa 
Universitário Luiz Falcão, pelo perfeccionismo e 
empenho de natureza interpessoal com que 
conduziu o percurso desta 2ª. edição. Por fim, 
agradeço à equipe técnica, Luiz Carlos, Dorinha, 
Roberto Cunha Lima e Socorro Azevedo, que 
contribuiu para a estética, para os aspectos técnicos 
e a revisão vernácula deste trabalho. 
 
PREFÁCIO 
 
Este trabalho fez parte de uma pesquisa intitulada “Projeto de Melhoria 
da Qualidade do Ensino”. Destina-se a estudiosos de Lingüística e Língua 
Portuguesa. Visa a suprir carências de obras sobre Semântica, a maior parte 
das quais de difícil acesso ou relegada ao esquecimento. Conseqüentemente a 
isto, o professor se vê obrigado a juntar material teórico das mais diversas 
fontes. 
Esta segunda edição, revista e ampliada, passou por correções 
vernáculas de pontos obscuros que, algumas vezes, comprometiam a 
legibilidade do texto. Os objetivos foram reformulados de modo a tratar outros 
assuntos não presentes na primeira edição, do que decorria uma visão de 
Semântica tradicional. 
Nos assuntos já existentes, acrescentamos conteúdos importantes. Por 
exemplo, no capítulo de oposições e contrastes, referimo-nos aos jogos de 
oposição instaurados pelo discurso. No capítulo sobre hiponímia e hiperonímia, 
aludimos ao papel destes fenômenos na coesão textual e, naquele dedicado à 
polissemia e homonímia, estendemo-nos mais sobre a contribuição de Maria 
Aparecida Barbosa e acrescentamos mais pistas a serem investigadas no 
estudo sobre a polissemia lato sensu e a polissemia stricto sensu. O capítulo, 
referente ao campo léxico, foi divido em dois, devido à grande extensão do 
mesmo. Até aí, houve estilização e ampliação de assuntos já tratados na 
primeira edição. No mais, mantivemos assuntos já tratados sem alterações: as 
origens da Semântica, os objetivos de uma teoria semântica, sinonímia léxica e 
relações de significado na frase. 
Novos capítulos foram inseridos para que o livro fizesse jus ao caráter 
genérico que pretende. Abrimos um capítulo teórico e geral para a noção 
essencial de signo, baseando-nos na Lingüística e na Semiótica. Outro 
capítulo, de caráter específico, trata da sinonímia frasal ou paráfrase. 
Abordamos também, em mais dois capítulos, o papel do contexto e sua relação 
com o sentido: no primeiro, da dêixis e da formulação modal, e no segundo, 
das relações de acarretamento e da escalaridade. 
Com estes acréscimos e revisões, este livro pretende fazer o leitor 
familiarizar-se com a tradição e com a novidade. 
 
 
 
O Autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
A SEMÂNTICA NOS PRIMÓRDIOS: A ABORDAGEM DIACRÔNICA 
 
1 O INÍCIO: A CONTRIBUIÇÃO DE MICHEL BRÉAL 
 
A Semântica tem suas raízes na obra de Bréal, Ensaio de Semântica 
(1992). A obra consta de três partes: uma dedicada ao que ele chama “as leis 
intelectuais da linguagem”, outra dedicada ao “como se fixou o sentido das 
palavras” e, por fim, outra voltada para o “como se formou a sintaxe”. 
O Ensaio tem como base a diacronia. À primeira vista, pode parecer que 
o lingüista francês era um dentre outros que adotavam a perspectiva histórica e 
mecanicista, bastante em voga no século XIX. 
Esta impressão se deve, em primeiro lugar, ao fato de a primeira parte 
intitular-se “As leis intelectuais da linguagem”. Porém, o autor matiza a palavra 
lei nos termos abaixo, expurgando-a de possíveis interpretações deterministas: 
 
(...) se a gramática de uma língua tende de um modo constante a se 
simplificar, podemos dizer que a simplificação é a lei da gramática 
dessa língua. E, para chegar ao nosso assunto, se certas 
modificações do pensamento, expressas inicialmente por todas as 
palavras, são pouco a pouco reservadas a um pequeno número de 
palavras, ou mesmo a uma única palavra, que assume a função 
somente para si, dizemos que a especialidade é a lei que presidiu 
essas mudanças. Não se trata de uma lei previamente estabelecida, 
menos ainda de uma lei imposta em nome de uma autoridade 
superior (1992, p.24). 
 
Em segundo lugar, à semelhança de muitos autores de tendência 
historicista,estuda os fenômenos semânticos sob ótica diacrônica. Assim, 
ilustrando a chamada lei da especialidade, que se relaciona com um objetivo 
geral da linguagem, o de se fazer compreender com o mínimo de dificuldade e 
com o menor esforço possível, refere-se ao grau. Por exemplo, nas línguas 
antigas, entre as quais o latim, o adjetivo exprime gradação por meio de 
sufixos. No comparativo, o latim vulgar generalizou o emprego do advérbio 
magis (que deriva mais), tendência que já havia no latim clássico com os 
adjetivos terminados em –uus e –eus, como contiguus e idoneus. O português, 
como regra, continuando a deriva para o analitismo, forma o comparativo com 
mais, resultado desta simplificação em latim vulgar. 
Além da lei da especialidade, Bréal se reporta à lei da repartição, sendo 
esta “a ordem intencional em virtude da qual as palavras que deveriam ser 
sinônimas, e que o eram efetivamente, tomaram, entretanto, sentidos 
diferentes e não podem mais ser empregadas por uma outra” (1992, p. 33). 
Com isso, sustenta a sinonímia integral como fenômeno que atenta contra a 
economia da linguagem. 
Bréal se refere também à irradiação, fenômeno que ele não define 
precisamente e que decorre de uma ação analógica lenta e gradual sobre um 
determinado número de lexemas ou morfemas e que se estende 
posteriormente na língua. Para não darmos exemplos de línguas clássicas, 
podemos exemplificar com o português, em que o sufixo –dor, confundido com 
–douro (bebedouro, matadouro) tem o sentido locativo: bebedor, provador. 
O lingüista francês, como muitos dos seus contemporâneos, estudou os 
fenômenos da restrição e da ampliação semânticas, bem como a metáfora e o 
espessamento de sentido. No que diz respeito ao primeiro fenômeno, 
exemplifica com a palvra latina adulterare, formada a partir do prefiro ad-e da 
base alterare. Dizia-se adulterare colores, “mudar as cores”, adulterare 
nummos “falsificar as moedas”, adulterare jus, “falsificar o direito”. Como se 
dizia também adulterare matrimonium, daí saiu um sentido especial que passou 
aos derivados adulterium e adulter. No que tange ao segundo fenômeno, a 
ampliação de sentido, Bréal ilustra com a palavra spatium, de onde veio a 
palavra portuguesa espaço, que significava originalmente “espaço onde 
corriam os cavalos”. Depois a palavra tomou o significado de qualquer 
extensão espacial. 
Quanto à metáfora, calcada, segundo Bréal, na similaridade entre dois 
objetos, o autor cita numerosos exemplos. Assim pensar é “calcular”: daí em 
português o verbo pesar (<pensare). “Um caráter simples é comparado a uma 
roupa que não tem uma ruga sequer (simplex): os motivos tidos como falsos 
são bordas que dissimulam o defeito do tecido (praetextum)” (BRÉAL, 1992, 
P.91). 
Por fim, o espessamento de sentido consiste na subsistência da 
significação material de uma palavra, sendo esquecida a idéia abstrata. Deste 
modo, a palavra vestis, pelo sufixo –tis, significava “ação de vestir” e dessa 
significação geral passou a ser objeto que serve para este uso. Em português, 
temos ornamento e aterro, que, embora se liguem a verbos, apresentam 
sentidos concretos. 
A despeito das incursões na diacronia, ressalte-se que Bréal enfatiza o 
papel do homem na evolução da fala. Repudiava a redução da Lingüística ao 
mero estudo das mudanças de vogais e consoantes ao longo do tempo. 
Citemos, a título de exemplo, esta passagem. 
 
O abuso das abstrações e das metáforas tal foi e ainda é o perigo de 
nossos estudos. Vimos as línguas serem tratadas como seres vivos: 
disseram-nos que as palavras nasciam, venciam os combates, se 
propagavam e morriam. Não haveria inconveniente algum nesse 
modo de dizer, se não houvesse pessoas que o tomassem no 
sentido literal. Mas exatamente porque elas existem é que é preciso 
não deixar de protestar contra uma terminologia que, entre outros 
inconvenientes, tem o de nos dispensar de buscar as causas 
verdadeiras (1992, p. 17-8). 
 
Em suma, para Bréal, que adotava uma concepção sociológica no seu 
trabalho, a linguagem é um instrumento de civilização. Nela não impera o 
caráter necessário das leis fonéticas, porque existe a ação da vontade humana. 
A propósito disso, ilustremos uma vez mais com esta passagem do Ensaio. 
 
Fazer intervir a vontade na história da linguagem, isso parece quase 
uma histeria, já que, durante cinqüenta anos, tantos cuidados se 
tomou para bani-la. Mas, se teve razão em renunciar às 
ingenuidades da ciência de outrora, por outro lado contentou-se, ao 
entregar-se ao extremo oposto, com uma psicologia 
verdadeiramente muito simples. Entre os atos de uma vontade 
consciente, refletida, e o puro fenômeno instintivo, há uma distância 
que deixa lugar para muitos estágios intermediários, e nossos 
lingüistas teriam aproveitado mal as lições da filosofia 
contemporânea se continuassem a nos impor a escolha entre as 
duas alternativas desse dilema. É preciso fechar os olhos à 
evidência para não ver que uma vontade obscura, mas perseverante, 
preside às mudanças da linguagem (1992, p. 19). 
 
Bréal representa essa vontade sob a forma de tentativas e erros, por 
parte do falante, que acabam por determinar uma dada direção, cuja finalidade 
é ser compreendido. Exemplo disso são as construções gramaticais, a princípio 
confusas e obscuras na infância, até que, com o passar do tempo, se tornam 
expressão suficiente do pensamento. 
Bréal não negligenciou o elemento subjetivo na linguagem, na qual 
somos, ao mesmo tempo, espectador interessado e autor dos acontecimentos. 
Este aspectos subjetivo é representado: 
 
a) por palavras ou membros de frases; 
b) por formas gramaticais; 
c) pelo plano geral de nossas línguas. 
 
Assim, para marcar maior ou menor certeza de seu próprio discurso, o 
falante se vale de advérbios como sem dúvida, talvez, provavelmente, 
seguramente etc. Para expressar desejo, o falante vale-se do subjuntivo, de 
valor optativo, como em “Deus te abençoe”. Bréal resume desta maneira seu 
ponto de vista: 
 
deve-se começar a ver de que ponto de vista o homem agenciou sua 
linguagem. A fala não foi feita para a descrição, para a narrativa, 
para as considerações desinteressadas. Expressar um desejo, dar 
uma ordem, demonstrar a posse sobre as pessoas ou sobre as 
coisas – esses empregos da linguagem foram os primeiros. Para 
muitos homens, eles são ainda quase os únicos ... Se descêssemos 
um ou vários degraus, e se procurássemos o início da linguagem 
humana na linguagem dos animais, veríamos que neles o elemento 
subjetivo reina sozinho, que ele é o único expresso, o único 
compreendido, que ele esgota sua faculdade de entendimento e toda 
a matéria de seus pensamentos (1992, p. 161). 
 
Bréal investigou o fenômeno da analogia em bases psicológicas. 
Reconheceu-lhe quatro funções: 
 
a) evitar qualquer dificuldade; 
b) obter mais clareza; 
c) sublinhar uma oposição ou uma semelhança; 
d) ajustar-se a uma regra antiga ou nova. 
 
No entanto, recusa-se a apresentar a analogia como uma causa, muito 
menos como uma força cega. Pondera: 
 
levada ao extremo, a analogia tornaria as línguas muito uniformes e, 
por conseqüência, monótonas e pobres. O filólogo, o escritor estarão 
sempre, tanto por gosto como por profissão, do lado dos vencidos, 
isto é, das formas que a analogia ameaça absorver. Mas é graças à 
analogia que a criança, sem aprender uma após outra todas as 
palavras da língua, sem ser obrigada a tentá-las uma a uma, as 
domina num tempo relativamente curto. É graças a ela que estamos 
certos de sermos entendidos, certos de sermos compreendidos, 
mesmo se chegamos a criar uma palavra nova. É preciso olhar a 
analogia como uma condição primordial de toda linguagem. Se ela 
foi uma fonte de clareza e de fecundidade, ou se foi uma causa de 
uniformidade estéril, é o que somente a história individual de cada 
línguapode nos ensinar (1992, p. 62). 
 
 
 
 
 
2 OUTROS AUTORES 
 
O especial relevo conferido a Bréal, e m nosso trabalho, não se deve 
apenas ao fato de ter sido ele que se consagrou como pai da disciplina a que 
hoje chamamos Semântica, mas por ter se oposto tenazmente às concepções 
mecanicistas da época, enfatizando o papel da cultura e chamando atenção 
para a presença do elemento subjetivo. Houve, todavia, outros autores que, 
mesmo numa concepção historicista, fizeram referência à Semântica. 
Hermann Pall (s.d.) foi um desses autores. Ele dedicou o IV capítulo de 
sua conhecida obra ao que chamou mutação semântica. Reconheceu, à 
semelhança de Bréal, os mais diversos tipos de mudanças semânticas, a 
saber: 
 
a) especialização da significação: 
por exemplo, a palavra alemã Fass designou a princípio todas as 
espécies de recipientes e hoje designa um só tipo, o barril. Em 
português, palavras como acidente, fatalidade, fortuna, sorte, 
apresentaram originalmente o significado “acontecimento de 
natureza casual”. Acidente e fatalidade tendem, mais tarde, a serem 
usadas com restrição de significação ao valor negativo 
“acontecimento casual desastroso, que pode destruir”. Fortuna, sorte, 
sucesso tendem a ocorrer com restrição de sentido ao valor positivo 
“acontecimento casual bem-sucedido, que tem resultado feliz, que 
traz riqueza, prestígio, prêmio.” (MARQUES, 1990, P. 34). 
 
b) extensão da significação: 
a palavra alemã fertig significava a princípio “preparado para um 
trajeto de carro, a cavalo ou a pé” e hoje significa apenas 
“preparado”. Em português, a palavra brilhar procede do castelhano 
billar, etimologicamente “brilhar como berílio”. Destino, além do 
significado original “acontecimento decorrente do acaso”, revela 
extensão ou ampliação de significados, com acréscimo de outras 
noções: “futuro”, “direção”, “objetivo”, “tipo de aplicação”, “caminho”, 
“endereço”. 
 
c) transferência, que se dá por contigüidade semântica, no plano 
espacial ou temporal. Exemplo disto é o emprego de vela em lugar 
de barco e de alma em vez de homem(ex.: fui à aldeia e não 
encontrei viva alma). 
 
d) similaridade: 
explicar etimologicamente “abrir as dobras”, por oposição a complicar 
“juntar as dobras,” e destas acepções originais decorrem as noções 
de “explicar” e “complicar”. Para maior exemplificação, conviria que o 
leitor pesquisasse os compostos de que participa o lexema pé, a 
exemplo de pé de meia e pé de galinha. 
 
e) sinestesia: é um tipo de metáfora em que a palavra passa a se 
aplicar a uma área sensorial diversa. Horrível, por exemplo, não tem 
relação só com o visual, mas também com o gustativo (gosto 
horrível), olfativo (cheiro horrível) e auditivo (som horrível). 
 
Hermann Paul reconheceu ainda o papel dos exageros e dos 
eufemismos na mudança de significado e não se limitou apenas à 
apresentação de nomenclaturas e exemplos. Procurava também a explicação 
em termos lingüísticos, embora um tanto sumários, como que bons vislumbres 
seguidos não raro de farta lista de exemplos. Explicitou deste modo que a 
restrição semântica ocorre porque a palavra se enriquece quanto a seus 
conteúdos, embora tenha sua extensão diminuída, ao contrário do que 
acontece com a extensão semântica. 
Meillet (1965, p. 231-71), outro lingüista de formação historicista, 
reconhece também as mudanças semânticas, estabelecendo, para as mesmas, 
condições dos seguintes tipos: 
 
a) lingüísticas: a exemplo do caráter negativo das palavras pás, rien e 
personne, que decorre da ação de ne (não), que tem caráter negativo 
(ne...rien, ne...pas, ne...personne). Illari (1992, p. 124) explica este 
fenômeno aludido por Meillet de forma mais sistemática. Afirma que 
a palavra pas, que significa ainda hoje “passo”, era habitualmente 
usada depois de verbos intransitivos de movimento, como reforço da 
negação, semelhantemente ao que ocorre com outras expressões, 
estendendo-se posteriormente este reforço como morfema de 
negação para outros tipos de verbos. 
 
(01) ne bouger pas “não mexer-se nem mesmo um passo” 
(02) ne manger mie “não comer nem mesmo uma migalha” 
(03) ne boire goutte “não beber nem mesmo uma gota” 
(04) ne voir point “não ver nem mesmo um ponto” 
 
b) ligadas aos objetos ou coisas, que sofrem mudanças: papel provém 
do latim papyrum, nome dado a uma cana do Egito com a qual se 
fabricava uma folha que os antigos usavam para escrever; mantém-
se o nome papel, embora o objeto não seja mais feito a partir do 
papiro. Podemos citar também como exemplos as palavras latinas 
gladius e ensis, dois tipos de arma branca mais usados pelos 
soldados romanos: a espada curta que feria com a ponta e o corte, e 
a espada longa que feria principalmente com o corte. Porém, o termo 
corrente para essas armas em língua vulgar era spatha, de onde veio 
o português espada. 
 
A spatha era, na origem, a tábua longa, larga e alongada com que os 
tecelões romanos comprimiam as tramas para obter um tecido mais 
encorpado nos teares verticais da época (é a função que nos teares 
mecânicos modernos é reservada ao pente). Quando apareceram 
em Roma espadas longas e largas, o termo a que se recorreu para 
denominá-las foi naturalmente o do antigo instrumento de tecelagem. 
A extensão metafórica de sentido e criação metafórica de sentidos 
novos para preencher um vazio do léxico correspondem a uma figura 
de linguagem cuja importância já era reconhecida por Aristóteles – a 
catacrese (ILARI, 1992, P. 127). 
 
c) sociais, em razão das quais uma palavra se alarga ou se restringe 
semanticamente conforme ela passe para um círculo social mais 
amplo ou mais restrito, a exemplo da palavra operação que tem 
diversos matizes de significados, quando aparece na Matemática, na 
Medicina, nas Ciências Contábeis ou na Silvicultura. Nem sempre é 
possível separar as razões sociais das históricas. Prova disso é o 
estudo feito por Cristina Mohrmann, em seu livro sobre o latim vulgar 
dos cristãos (C.f. ELIA, 1979, P. 53-9). Mohrmann identificou três 
processos no latim cristão para veicular idéias novas: empréstimo 
puro e simples ao grego, a exemplo de evangelium, angelus, 
anathema, diaconus; formação de neologismos latinos, a exemplo 
de salvator, que traduz o grego sotér, e revelatio, que traduz o termo 
grego apokálypsis, e de verbum correspondente ao grego lógos; 
transferência de significado como fides (fé e não lealdade), 
lavacrum (batismo e não banho), spiritus (espírito e não sopro), 
peccare (pecar e não errar), virtus, utis (virtude e não valor) etc. 
 
Meillet confere maior saliência às condições sociais, influenciado que 
era pela doutrina de Durkheim, sociólogo que atribuía ao fato social o caráter 
de exterioridade e coercitividade em relação aos indivíduos. 
Ullmann (1951) prefere um enfoque mais amplo da transferência. 
Reconhece dois grandes tipos: a do nome e a do sentido, que comportam 
subdivisões como descritas abaixo: 
 
a) transferência do nome: 
- por similaridade entre os nomes, motivada pelo contágio fonético e 
pela etimologia popular, a exemplo da passagem de fors-bourg (fora 
do burgo) para faubourg (falso burgo), em francês; 
 
- por contigüidade do nome: derivada da elipse, como se vê na 
passagem de cidade capital para capital, de frate germanu para 
irmão, de mala mattiana para maçã, de hora maneana para manhã. 
 
b) transferência do sentido, já exemplificadas: 
- por similaridade entre os sentidos, que se dá por metáfora; 
 
- por contigüidade entre os sentidos, a metonímia. 
 
A classificação de Ullmann é mais racional e simples. Evita a 
multiplicação de nomenclaturas e coloca os fenômenos de mudança lexical sob 
o fenômeno geral da transferência. Vale-se das contribuições da Lingüística 
moderna, ao opor similaridade, no eixo paradigmático, à contigüidade, no eixo 
sintagmático.Interpreta a metáfora e a metonímia, da antiga retórica, em 
termos lingüísticos, para finalidades não estético-literárias. 
 
3 CONCLUSÃO 
 
É possível aludir a outros autores insignes como Vendryés (1950), mas 
julgamos dispensável fazê-lo para nossos propósitos. Para os que desejarem 
maior detalhamento, aconselhamos a leitura de Guiraud (1980) e Marques 
(1990). 
Quaisquer detalhes sobre a Semântica diacrônica não constituirão mais 
que meras ilustrações adicionais e essencialmente repetitivas. Sinalizam que a 
Semântica diacrônica, para se consolidar, precisa apoiar-se em uma teoria 
geral das mudanças, que explicite em que condições existe a implementação 
das mesmas. Para atingir um nível satisfatório nas explicações, é necessário 
ultrapassar o plano lexical, que é dominante, para adentrar a sintaxe e o 
discurso. Isto sem falar da necessidade de reconstituir-se as etapas 
intermediárias entre uma forma em seu estádio inicial e seu estádio final. 
Cumpre acrescentar que é também possível, no plano sincrônico, 
construir uma teorização. Todavia, muitos têm sido os obstáculos para a 
consolidação de um projeto consistente em termos de uma teoria semântica. A 
delimitação do objeto, pelo menos em versão preliminar, foi algo tardio. Dizer 
que a Semântica é ciência do significado em pouco ajuda, simplesmente 
porque significado é, entre os muitos termos empregados em Lingüística, de 
caráter polissêmico. 
As devidas considerações em torno de uma teoria semântica serão 
postas em relevo nos capítulos seguintes. 
 
Exercícios de reflexão 
 
1. Procure outros exemplos, em português, de restrição e extensão de 
significado. 
 
2. Dê exemplos de metáfora, em português. Comente-os. 
 
3. Mostre que a metonímia é igualmente importante como fenômeno 
semântico. Exemplifique. 
 
4. Procure a diferença classicamente estabelecida entre metonímia e 
sinédoque. Exemplifique. Em seguida, comente até que ponto se sustenta tal 
diferença. 
 
5. Tente definir o fenômeno da catacrese, relacionando-o com a metáfora. 
Procure ilustrações para o mesmo. 
 
6. Verifique a possibilidade de reunir sinestesia e metáfora sob o mesmo 
fenômeno. 
 
7. Estude a proposta de Hermann Paull apresentada neste capítulo. Verifique 
se as classificações para as “causas” das mudanças semânticas podem ser 
descritas de forma mais enxuta. 
 
 
CAPÍTULO II 
PARA UMA TEORIA SEMÂNTICA: DOS OBJETIVOS 
 
4 OS IMPASSES PARA A ELABORAÇÃO TEÓRICA 
 
Nascida no domínio diacrônico e tendo sido objeto de abalizados 
estudos feitos por eminentes lingüistas, a Semântica, em um momento 
posterior, passou um período de declínio e descrédito. Lançaram-se os 
alicerces da Fonologia, através da escola de Praga, mas ainda estava distante 
a elaboração de uma teoria semântica consistente. O motivo disto, como bem 
assinalou Greimas (1973), é que se pôs em dúvida o objeto da Semântica, pois 
se negava a ela o caráter de disciplina autônoma. Isto sem falar no atraso 
histórico dos estudos semânticos e na onda de formalismo vigente há algum 
tempo. 
Acrescente-se também que o próprio termo significado é fortemente 
marcado pela polissemia. Ogden e Richards (1972, p. 194) apresentam uma 
lista das 16 principais definições vigentes entre os estudiosos do significado, 
entre as quais: a) uma propriedade intrínseca; b) as outras palavras anexadas 
a uma palavra no dicionário; c) a conotação de uma palavra; d) emoção 
suscitada por qualquer coisa; e) aquilo a que o usuário de um símbolo 
realmente se refere. 
Por estes motivos acima, houve muita dificuldade em constituir-se uma 
teoria semântica. O mais poderoso adversário de uma teoria do significado foi, 
sem dúvida, o mecanicismo bloomfieldiano, que, estribado no materialismo 
behaviorista, difundia opiniões desalentadoras sobre uma pretensa teorização 
sobre o significado. 
Bloomfield (1933, p. 140) afirmava categoricamente que o estatuto do 
sentido é o ponto fraco da ciência da linguagem e que continuaria assim até 
que o conhecimento humano avançasse para além do atual estádio. Bloomfield 
nutria a dupla ilusão de que o sentido se confundia com os dados da situação 
extralingüística e que a metalinguagem, em termos de Semântica, deveria ser 
construída a partir de dados de ciências, como a Física ou a Química. Por isto, 
palavras como amor e ódio, “que concernem a situações que não tem sido 
classificadas acuradamente” (1933, p. 139), constituiriam sérios entraves à 
descrição semântica. 
Por sua natureza intrinsecamente complexa, o significado não foi 
apenas alvo de teorias behavioristas como a de Bloomfield. Outras teorias 
vieram à baila, como a imagística e a conceptualista, sem que se tenha 
chegado a nenhum resultado conclusivo. 
Para não sobrecarregarmos esta secção, trataremos em separado das 
diversas teorias do significado, inclusive a bloomfieldiana. A separação entre as 
teorias, mormente as não-mentalistas, é de cunho didático. Na prática, há 
intersecção entre elas. 
Após a exposição das teorias do significado, nos referiremos à proposta 
de Katz (in: DASCAL, 1982, p. 43-62), que contribuiu para o assentamento da 
Semântica em termos lingüísticos. 
 
5 QUE TEORIA DO SIGNIFICADO ADOTAR? 
 
5.1. Uma Teoria Mentalista: O Imagismo 
Esta teoria postula haver no cérebro uma imagem correspondente a 
uma dada expressão. Não sabemos, todavia, o que é e nem como se estrutura 
semelhante imagem. Que forma imagística existe quando nos referimos a um 
item lexical genérico, como o destacado na frase: o homem é um animal 
racional? Que imagem se constitui a partir dos diversos morfemas gramaticais, 
como as preposições e as conjunções? Isto sem falar de nomes designadores 
de emoções e sentimentos, a exemplo de amor e ódio. 
Kempson (1980, p. 26) alude a outros problemas: 
 
a) pode-se ter mais de uma imagem para uma mesma expressão. 
b) duas expressões podem ter a mesma imagem. 
 
Acrescentamos a isto o problema da variação de cada falante. 
 
As imagens que temos do possível referente de uma palavra não só 
podem variar segundo a ocasião, mas como dependem de nossa 
experiência, certamente terão muitas variações de detalhes, e talvez 
radicalmente de substâncias de pessoa para pessoa (1980, p. 26). 
 
Além do problema relativo à natureza da imagem e às configurações 
imagísticas assumidas de acordo com a forma lingüística e com as ocasiões de 
enunciação, há o problema adicional respeitante à questão dos universais. 
Seria lícito afirmar que, ante a figura de três espécies de triângulo, isósceles, 
escaleno e eqüilátero, o cérebro forma um triângulo universal, indiferente a 
aspectos particulares de representação geométrica? 
 
5.2 Teorias Não-Mentalistas 
 
5.2.1 A teoria behaviorista 
 
Existe uma tentativa de explicar o significado sem necessidade de 
recorrer-se a entidades tidas como metafísicas: mente, consciência, 
pensamento. Estamos nos referindo à teoria behaviorista, à qual Lyons (s.d., p. 
103-105) atribui quatro características, que não são necessariamente 
indissociáveis: 
 
a) rejeição ao mentalismo: o que implica o afastamento de noções 
como mente e consciência, atribuindo-se ao pensamento o caráter 
de discurso inaudível; 
b) identificação essencial entre o comportamento humano e animal: o 
que conduz à biologização da psicologia; 
c) empirismo: que leva à ênfase na experiência como meio primordial 
de conhecimento; 
d) determinismo mecanicista: segundo o qual os fenômenos que 
acontecem no universo, inclusive as ações humanas, são 
determinados conforme as mesmas leis físicas. 
 
Entre os lingüistas de tendência behaviorista, cabe especial menção a 
Bloomfield (1933), que analisou o significado em função de três fatores: 
 
a) situação do falante; 
b) o enunciado; 
c) a resposta do ouvinte; 
 
o exemplo clássico de Bloomfield para um acontecimentode fala é este: 
Jack e Jill passeiam e Jill vê uma maçã numa árvore. Como está com fome, 
solicita a Jack que a apanhe. Este sobe na árvore, dá a maçã a Jill, que a 
come. Interpretando: 
 
a) o fato de Jill ter fome constitui o estímulo (S); 
b) ao invés de dar resposta mais direta (R), subindo ela própria na 
árvore para pegar a maçã, produz uma resposta substitua (r), que é 
um enunciado; 
c) ao agir sobre Jack, o enunciado tem status de estímulo substituto (s); 
d) o estímulo-substituto provoca em Jack uma resposta (R); 
 
Bloomfield simboliza a cadeia estímulo-resposta do seguinte modo: 
 
S → r...s → R 
 
A descrição do evento peca pelo excesso de mecanicismo. Assim, a 
fome de Jill é descrita em termos de contrações musculares e fluidos 
secretados no estômago dela. As ondas luminosas provenientes da maçã 
vermelha atingiam os olhos de Jill, que, em vez de ter ido apanhar, preferiu 
recorrer a um enunciado verbal, através do qual estimulou vicariamente Jack a 
apanhar a maçã. Mas nem sempre as explicações são claras em Bloomfield. 
São por vezes vagas como os fatores predisponentes (predisposing factors), 
que ocorrem para explicar “acidentes” no percurso estímulo-resposta. 
Bloomfield assim se expressa: “a ocorrência de um discurso (e, como veremos, 
a verbalização dele) e toda história dos eventos práticos antes e depois dele 
dependem da história de vida inteira do falante e do ouvinte” (1933, p. 23). 
É esta variável que determina os fatores predisponentes e fogem ao 
controle de qualquer observador, dadas as inúmeras particularidades que 
envolveriam cada caso. 
Portanto, não estamos perante idéias, mas eventos práticos, 
supostamente aferíveis na situação extralingüística, conforme atesta o excerto 
abaixo. 
 
As situações que nos preparam para enunciar qualquer forma 
lingüística são muito variadas; os filósofos nos dizem, com efeito, 
que não há jamais duas situações idênticas. Cada um de nós usa a 
palavra maçã, no curso de alguns meses, referindo-se a diversas 
frutas individuais, que diferem em tamanho, forma, cor, cheiro, gosto 
etc. Em um caso favorável, tal como aquele da palavra maçã, todos 
os membros da comunidade de fala têm sido treinados, desde a 
infância, a usar a forma lingüística sempre que a situação (neste 
caso, o objeto) apresente certas características relativamente 
definíveis. Mesmo em casos como estes, nosso uso não é nunca 
muito uniforme e a maior parte das formas lingüísticas têm menos 
significados facilmente discrimináveis. Todavia, é claro que devemos 
diferenciar entre traços não distintivos da situação, tais como 
tamanho, forma, cor etc. de qualquer maçã particular, e o significado 
lingüístico, distintivo (os trações semânticos que são comuns a todas 
as situações que emergem a partir da enunciação da forma 
lingüística), tais como os traços que são comuns a todos os objetos 
para os quais o povo de língua inglesa usa a palavra maçã (1933, p. 
140-41). 
 
Eis a explicação mecanicista e materialista para o significado, em termos 
de eventos práticos. Trata-se de uma falácia, pois recorrendo a termos 
fisiológicos, a fim de evitar alusões a processos não-físicos, como pensamento, 
conceito, imagem, sentimento, ato de vontade, a teoria behaviorista na verdade 
pouco explica. Usa o aparato da fisiologia para dar um aspecto de cientificidade 
às suas pretensas explicações. Bloomfield reconhece que há muito por 
explicar, de modo que as suas teses fisicistas ainda padecem de obscuridade. 
Ele mesmo o reconhece: 
 
mesmo se tivéssemos uma definição acurada do significado que é 
vinculado a cada uma das formas de língua, teríamos ainda de 
enfrentar uma dificuldade de outra espécie. Uma parte muito 
importante de toda situação é o estado do corpo do falante. Isto 
inclui, é óbvio, a predisposição do seu sistema nervoso, que resulta 
de todas as suas experiências, lingüísticas ou não, até exato 
momento. Isto sem falar nos fatores hereditários e pré-natais. Se 
pudéssemos manter uma situação externa idealmente uniforme e 
nela inserir diferentes falantes, ainda assim seríamos incapazes de 
mensurar o equipamento que cada falante trouxe consigo (1933, p. 
141). 
 
Como vemos, as dificuldades são inúmeras no âmbito de uma teoria 
behaviorista do significado. Tal como está posta por Bloomfield, ela é 
impraticável. 
O autor reconhece que, em muitas circunstâncias de fala, as pessoas, 
muito freqüentemente, enunciam uma palavra como maçã, quando nenhuma 
maçã está presente. Uma criança, na hora de dormir pode muito bem dizer I’m 
hungry (estou com fome), para evitar que sua mãe a leve para a cama, ao que 
ela não aquiesce. Bloomfield trata ambas as situações como discurso 
deslocado (displaced speech), porque num caso e noutro não ocorreram 
estímulos efetivos: a maçã não está presente e a criança não está de fato 
sentindo fome. Ora, tratar um e outro evento como ilustrativos de discurso 
deslocado nada explica, muito menos em termos de behaviorismo. Apenas é 
uma questão de rótulo. 
Parece bastante simples, senão ingênua a afirmação de que “os usos 
deslocados do discurso são derivados, de maneira razoavelmente uniformes, a 
partir do seu valor primário estabelecido em dicionário” (1933, p. 142). Não 
convence a asserção de que tão logo saibamos o significado dicionarial de uma 
forma, estamos plenamente aptos a usá-la em um discurso deslocado. Este 
simples rótulo está longe de explicar a mentira, a ironia, a poesia, a ficção 
narrativa, entre outros fenômenos de linguagem. 
Na ilusão de definir o significado das formas lingüísticas, recorrendo aos 
diversos campos do saber humano, como a Química, a Botânica, a Zoologia, 
Bloomfield reconhece, no entanto, que “não temos meios precisos de definir 
palavras como amor e ódio, concernentes a situações que não têm sido ainda 
perfeitamente classificadas”. 
Acrescente-se o arrazoamento de Câmara Jr. (1978), a propósito do 
signo lingüístico enquanto portador de um significado representativo, fora do 
domínio da abordagem científica. 
 
Um valor representativo desses nem sempre é bem delimitado e 
nítido, pois as palavras da língua, com os seus significados, não 
resultam de um raciocínio consciente sobre o mundo das coisas, 
mas de uma atividade da inteligência intuitiva, procurando 
consubstanciar experiências parceladas sem a visão de um conjunto. 
Daí o conflito entre o léxico usual e a terminologia científica, onde 
entrou a linha diretriz de um pensamento racional. Para a língua 
comum, a aranha é um inseto; a espiral e a hélice são equivalente e 
assim “o fumo sobe em espirais”, e a baleia pode perfeitamente ser 
um peixe, como ressaltou Greenough e Kittredge a propósito do 
correspondente inglês whale, lembrando que para o alemão a 
formação do vocábulo selou até esta classificação para todo o 
sempre (1978, p. 49). 
 
A questão crucial que se põe não é, portanto, a língua como mera 
representação da realidade. A descrição estrutural dos significados é possível 
adotando-se uma versão matizada do relativismo lingüístico para o qual um 
dado sistema lingüístico revela, tanto no seu léxico como na sua gramática, 
uma classificação e uma ordenação dos dados da realidade, típicas deste 
sistema (cf. BIDERMAN, 1978, p. 80-93). 
 
5.2.2 A teoria extensionalista 
 
Lingüistas há, assim como filósofos, que tratam do significado de uma 
palavra em termos de relação entre ela e os objetos a que ela remete, relação 
esta a que se dá o nome de referência. A tal concepção de significado 
chamamos de extensionalista. 
Expliquemos o que foi dito acima em termos do conhecido triângulo de 
Ogden e Richards (1972, p. 32), abaixo apresentado: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Expliquemos agora detalhes conceituais importantes sobre a figura. 
O símbolo equivale aproximadamente ao significante saussureano. 
Mantém com a referênciaou significado, na terminologia de Saussure, uma 
relação direta. Ou em termos do mestre genebrino: “o signo não une um nome 
a uma coisa mas um conceito a uma imagem acústica” (1977, p. 80). 
Por sua vez, entre o símbolo e o referente (ou coisa, na nomenclatura de 
Saussure) estabelece-se uma relação indireta. Diz-se então que há, entre um e 
outro, uma conexão arbitrária ou, mais propriamente, imotivada. 
CORRETO 
Simboliza 
(uma relação causal) 
PENSAMENTO OU REFERÊNCIA 
ADEQUADO 
Refere-se a 
(outras relações causais) 
SÍMBOLO Representa REFERENTE 
(Uma relação imputada) 
 
VERDADEIRO 
Aqui preferimos empregar referente em vez de coisa porque o primeiro 
termo sugere uma acepção mais ampla que aquela sugerida pelo segundo. Se 
empregarmos, por exemplo, um nome próprio, dizemos que ele se refere a um 
dado indivíduo. Se utilizarmos um substantivo comum, ele poderá designar um 
só indivíduo (ex.: este livro) ou uma classe deles (ex.: o livro, em sentido 
genérico). Caso usemos um adjetivo como vermelho, podemos defini-lo em 
termos de propriedade observáveis, por exemplo, em objetos que ostentam a 
referida cor. Até mesmo advérbios podem definir-se referencialmente: o 
significado de devagar pode ser apreendido através de ações que exibem a 
propriedade da lentidão. 
Esclarecida a noção de referente, podemos estabelecer uma condição 
para que a referência tenha êxito: a expressão referencial, em termos de 
nomes próprios, substantivo comum, adjetivo ou advérbios (ou qualquer 
entidade lingüística passível de ancorar-se no referente, a exemplo e verbos 
como andar e ler), deve permitir que o interlocutor identifique o “indivíduo”. 
À primeira vista, parece simples, até mesmo primário, definir o 
significado de uma palavra em função do “objeto” (“coisa” ou “indivíduo”) a que 
ela remete. Contudo, há situações embaraçosas para uma teoria da referência. 
No continuum das cores, por exemplo, quais os limites precisos, numa situação 
comum de intercâmbio verbal, para delimitar onde começa e termina o 
vermelho? O mesmo se diga com relação aos limites entre monte e montanha, 
entre andar e correr. 
Outras objeções se põem: que significado atribuir aos instrumentos 
gramaticais, preposições e conjunções, e, em termos de referente, a entidades 
históricas, como Napoleão e César, e a entidades míticas, como unicórnio e 
duende? 
Tomemos, por fim, estes exemplos extraídos de Kempson (1980, p. 25). 
 
(01) Iguanas não são muito comuns. 
(02) Estão extintas as iguanas? 
(03) O professor Branestawn está procurando iguanas. 
 
A partir da primeira frase, em que se predica algo a respeito das 
iguanas, pressupomos que elas existem. Na segunda frase, por sua vez, em 
virtude do caráter interrogativo da mesma, não está implicada necessariamente 
a existência das iguanas. Isto depende do sim ou do não dados à pergunta. Na 
terceira frase, há um problema mais complexo, dependendo da interpretação 
que cabe a ela: se existe pelo menos duas iguanas específicas ou se não 
existe necessariamente o objeto. 
Maiores problemas surgem quando aparecem verbos que não refletem a 
existência de objetos, mas apenas crenças, julgamentos, opiniões ou 
expectativas. 
 
(04) Creio que o livro está aqui. 
(05) Julgo que as iguanas existem. 
(06) Acho que o prédio se localiza na outra rua. 
(07) Espero que apareça um candidato ao cargo. 
 
Isto sem falar na possibilidade de modalizar predicados existenciais. 
 
(08) É certo que Deus existe. 
(09) É possível que Deus exista. 
(10) É impossível que Deus exista. 
 
Não se podem fazer considerações sobre os enunciados acima sem 
levar em conta os aspectos subjetivos inerentes aos adjetivos subseqüentes à 
cópula. 
Devido a todas essas questões, Eco (1974) assim se expressa sobre o 
que denomina o equívoco do referente: 
 
comumente falamos numa coisa chamada /Alpha Centauri/, mas 
sem jamais tê-la experimentado. Com algum estranho aparelho, um 
astrônomo passou alguma vez por essa experiência. Mas nós não 
conhecemos esse astrônomo. Conhecemos apenas uma unidade 
cultural que nos foi comunicada através de palavras, desenhos, ou 
de outros meios. Em defesa ou pela destruição dessas unidades 
culturais (como de outras, tais como /liberdade/, /transubstanciação/ 
ou /mundo livre/, estamos dispostos até mesmo a enfrentar a morte. 
Quando a morte chega, e só depois, ela é o único referente, o único 
evento não-semiotizável (um semiótico morto não mais comunica 
teorias semióticas). Mas até um instante atrás é ela usada quando 
muito como unidade cultural (1974, p. 15). 
 
5.2.3 Outras propostas: a instrumental e a contextual 
 
Existem outras tentativas de definir-se o significado em bases tangíveis. 
Uma delas é de Wittgenstein, que adota uma abordagem operacional nas 
Investigações Filosóficas. Nesta obra, a língua e seus conceitos são vistos 
como instrumentos, sendo as palavras comparáveis a ferramentas. As funções 
das palavras são tão diversas quanto as destas últimas. 
Decorrente desta visão instrumentalista, o sentido de uma palavra é o 
seu uso na linguagem. Só podemos compreender a linguagem humana, 
considerando os contextos, lingüístico e extralingüístico, de comunicação entre 
os homens. 
Ullmann (s.d., p. 138-41) assim comenta a proposta de Wittgenstein: 
 
a) se nos limitarmos a reunir e analisar contextos nos quais ocorra a 
palavra, então a tarefa é não só ingrata como inconseqüente; 
b) poderíamos pensar em testes de substituição como, por exemplo, em 
o ____ apanhou o rato, comprei peixe para o meu ____, e afirmar 
que o privilégio de palavras aparecerem em tais contextos com uma 
certa distribuição de freqüência entre as ocorrências é o significado 
lingüístico de gato (!); 
c) desta forma, uso e significado se aproximam. 
 
Outra observação: já que significado e uso se confundem e o valor 
semântico de uma palavra está em função do contexto lingüístico ou 
extralingüístico, como justificar a prática lexicológica de uma palavra em campo 
semântico? 
No âmbito da Lingüística, existem outras teorias contextualistas como as 
de Firth (cf. PALMER, s.d., p. 63-6), que explicitando melhor a noção de 
contexto empregada pelo antropólogo polonês Malinowsky, sugeriu o seguinte 
roteiro para a análise lingüística: 
 
1. as características relevantes dos intervenientes: pessoas, 
personalidades 
1.1. a ação verbal dos intervenientes 
1.2 a ação não-verbal dos intervenientes 
 
 2. os objetos relevantes 
 3. os efeitos da ação verbal 
 
Teceram-se críticas a Firth. Uma delas diz respeito ao uso equivocado 
da palavra significado, tanto para referir-se à relação entre linguagem e mundo 
quanto para reportar-se a relações gramaticais. 
 
6 ELEMENTOS PARA UMA TEORIA SEMÂNTICA: A PROPOSTA DE 
KATZ 
 
Como demos a conhecer, responder à pergunta “o que é significado?” 
não é tarefa fácil, porque não há consenso entre filósofos e psicólogos a 
respeito da natureza do mesmo. Isto sem mencionar as diversas abordagens 
teóricas sobre o assunto, 
Objetando contra o modo de conduzir a questão do significado em 
termos tradicionais, voltados para a identificação de sua natureza, Katz (1982) 
argumenta: 
 
o equívoco, parece-me, está na suposição de que a questão “O que 
é o significado?” pode ser respondida de modo direto e conclusivo. A 
questão é geralmente tratada como “Qual é a capital da França?”, 
para a qual uma resposta direta e conclusiva, “Paris”, pode ser dada. 
Supõe-se que pode ser obtida uma resposta da forma “Significado é 
isto ou aquilo.” Mas a questão “O que é o significado?” não admite 
uma resposta direta, “isto ou aquilo;” sua resposta é ao contrário 
uma teoria toda. Não é uma questão como “Qual é a capital da 
França?”, “Quando Einstein se aposentou?”, “Onde é a Tasmânia?”. 
Por que não é simplesmente uma pergunta feita sobre um fatoisolado, uma pergunta que pode ser respondida simples e 
diretamente. Ao contrário, é uma questão teórica, como “o que é a 
matéria?”, “o que é a luz?” (KATZ, 1982, P. 46). 
 
Katz tece uma analogia. Da mesma maneira que os físicos não podem 
dizer o que é a matéria mas somente identificar um vasto número de 
fenômenos manifestos no comportamento da mesma, somente através das 
manifestações dos significados é que se pode construir uma teoria semântica. 
Assim, em vez de perguntarmos “o que é o significado”, podemos 
estudar os seguintes fenômenos: 
 
a) sinonímia e paráfrase, relação de igualdade que se dá 
respectivamente entre palavras (garoto e menino) ou entre frases 
(João ama Maria ou Maria é amada por João); 
b) similaridade semântica, que ocorre entre conjuntos de lexemas que 
têm em comum um traço semântico (exemplo tia, vaca, freira, irmã, 
mulher, égua, atriz com o traço comum fêmea) e sua diferença 
semântica em relação a outros conjuntos de lexemas; 
c) antonímia, que se estabelece a partir de diferença semântica devido 
à incompatibilidade de componentes (amor/ódio, aberto/fechado); 
d) hiperonímia e seu inverso, hiponímia, em que palavras 
superordenadas e subordenadas se relacionam (flor/tulipa); 
e) significatividade e anomalia semântica, que se deve ao fato de 
sintagmas ou sentenças terem significado e outros não apresentarem 
significado (cócega mal cheirosa); 
f) ambigüidade semântica, isto é, a multiplicidade de sentidos de 
palavras ou sentenças (é o que acontece com palavras como botão 
ou pé e com a sentença vi o rapaz da janela); 
g) redundância semântica, que acontece quando os componentes de 
significado dos modificadores se incluem nos constituintes centrais 
(um nu despido); 
h) verdade analítica, que ocorre quando o significado do sujeito contém 
a propriedade expressa pelo predicado (reis são monarcas); 
i) contradição, que se estabelece em virtude de o significado do sujeito 
conter informação incompatível com a que é atribuída a ele pelo 
predicado (bebês são adultos); 
j) sinteticidade, em que a verdade ou a falsidade de uma sentença não 
é determinada pela linguagem, mas pelo que ocorre na realidade 
(reis são generosos); 
k) inconsistência, em que é impossível atribuir simultaneamente 
verdade ou falsidade a sentenças como João está vivo e João está 
morto, pelo fato de a verdade de uma implicar a falsidade da outra; 
l) implicação, que é a relação entre duas sentenças pela qual uma se 
segue necessariamente da outra em virtude de uma certa relação 
semântica entre elas (monarcas são pródigos implica rainhas são 
pródigas); 
m) pressuposição, em que uma sentença só apresenta sentido de 
verdade lógica, se decorre de outra sentença implícita verdadeira 
(Onde está a chave? pressupõe a chave está em algum lugar); 
n) resposta possível, que pressupõe uma compatibilidade entre 
sentenças interrogativas e sentenças afirmativas (João chegou ao 
meio-dia, João chegou terça-feira são respostas possíveis a quando 
João chegou?); 
o) questão auto-respondida, em que, por implicação semântica, a 
resposta está incluída na própria pergunta (Qual é a cor do meu 
carro vermelho?). 
 
Em virtude dos amplos objetivos atribuídos por Katz à Semântica, 
segue-se que há espaço para várias abordagens semânticas e não apenas 
para uma. O sentido, convém destacar, se presentifica desde as formas 
mínimas, os morfemas. Presentifica-se também nas categorias pronominais e 
verbais e complexifica-se se consideramos o contexto discursivo. Dada a 
amplitude da entidade sentido quanto a suas manifestações, limitamo-nos, 
neste livro, aos seguintes aspectos: sinonímia (léxica e frasal), oposições e 
contrastes, hiperonímia e hiponímia, polissemia e homonímia, campo léxico, 
relações de sentido na frase, influência do contexto na produção do sentido, 
referindo-nos aqui à dêixis, à formulação modal, às relações de acarretamento 
e à escalaridade. 
Antes de passarmos a estes tópicos específicos, julgamos por bem tecer 
mais uma consideração teórica geral: a noção de signo, a ser tratada no 
próximo capítulo. 
 
Exercícios de reflexão 
 
1. Analise os pontos comuns e diferenciais entre as teorias behaviorista, 
extensional, instrumentalista e contextual. 
 
2. Examine o triângulo de Ogden e Richards. Interprete a extensão e a 
restrição de significados em termos de referência e de referente. Exemplifique. 
 
3. Leia o sétimo capítulo de Lyons (s.d.) sobre referência, sentido e denotação 
e responda aos itens seguintes. 
 
a) Diz o autor: “o termo ‘referência’, tal como o definiremos adiante, tem a 
ver com a relação existente entre uma expressão e aquilo que essa 
expressão designa ou representa em ocasiões particulares de sua 
enunciação.” (s.d., p. 145). Em que medida o significado do termo 
referência se aproxima ou diverge do mesmo termo empregado por 
Ogden e Richards? 
b) Lyons reconhece três tipos principais de expressões singulares 
definidas: 
- sintagmas nominais definidos; 
- nomes próprios; 
- pronomes pessoais. 
 
Distinga cada um deles com exemplos. 
 
4. Mostre a ambigüidade dos sintagmas nominais nas sentenças abaixo. 
 
a) Aquelas pastas custam cem reais. 
b) Os professores têm o direito de escolher uma linha teórica. 
c) Todas as noites, às seis horas uma cegonha sobrevoa a nossa casa. 
d) João quer casar com uma moça de cabelos louros. 
e) O senhor Ferreira procura o prefeito. 
f) O leão é um animal pacífico. 
 
5. Procure, em dicionários técnicos apropriados, a definição dos lexemas: 
denotação; conotação; extensão; intensão. Verifique até que ponto existe a 
equivalência denotação/extensão; conotação/intensão. 
 
 
CAPÍTULO III 
PARA UMA TEORIA SEMÂNTICA: DA NOÇÃO DE SIGNO 
 
7 INTRODUÇÃO 
 
A finalidade deste capítulo é fornecer informações básicas sobre uma 
noção importante em Semântica e em teoria lingüística em geral: a de signo. 
Como ela envolve muitos aspectos: estrutura sígnica, o signo na cadeia de 
produção de significados, teoria dos códigos e condições de produção do 
signo, achamos por bem limitar nosso trabalho ao essencial num livro 
introdutório. 
Tratamos, em primeiro lugar, do signo como estrutura, para, em seguida, 
mostrarmos como ocorrem as relações entre signos. Só em passant nos 
referiremos às condições de produção. 
Comecemos, pois, pela estrutura do signo. 
 
8 DA ESTRUTURA DO SIGNO 
 
8.1 A Concepção de Ferdinand de Saussure 
 
Foi Saussure (1977) que enfeixou reconhecidamente valiosas 
contribuições da tradição sobre o signo lingüístico, objeto de estudo desde a 
tradição clássica. O lingüista genebrino, como se sabe, reconhecia duas faces 
na entidade signo: significado e significante. Ou, em outros termos, conceito e 
imagem acústica. O uso do termo conceito já induz o leitor de Saussure a 
constatar que o autor, pelo menos neste ponto, tinha tendências mentalistas, 
uma vez que não associa o significado de uma palavra à situação 
extralingüística: “o signo lingüístico une não uma coisa e uma palavra, mas um 
conceito e uma imagem acústica” (1977, p. 80). Mas o que dizer da imagem 
acústica? Sobre ela, assim se exprime o mestre de Genebra: 
 
esta não é o som matéria, coisa puramente física, mas a impressão 
(empreinte) psíquica desse som, a representação que dele nos dá o 
testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se 
chegamos a chamá-la “material”, é somente neste sentido, e por 
oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais 
abstrato (1977, p. 80). 
 
Como vemos, é apenas por comodidade que caracterizamos o 
significante como físico. Se o fazemos, isto se deve à oposição que se 
estabelece com o conceito, “geralmente mais abstrato”, como bem assevera 
Saussure, que, na realidade, tem o signo lingüístico como entidade de duas 
faces, ambas de natureza psíquica. 
O lingüistaadvoga, em favor da tese do caráter psíquico da imagem 
acústica, o fato de, “sem movermos os lábios nem a língua, podermos falar ou 
recitar mentalmente um poema” (1977, p. 80). Sendo o significante imagem 
acústica, de natureza psíquica, é despropositado mencionar os fonemas que o 
compõem. Fonema traz implicada uma idéia de ação vocal e só é aplicável aos 
sons e às sílabas de uma palavra. 
O signo lingüístico exibe duas características essenciais: a 
arbitrariedade do signo e o caráter linear do significante. Saussure defende a 
arbitrariedade em termos de relação imotivada entre significante e significado, 
não entre significante e coisa. Fiel à tradição sociológica, deixa bem claro que 
não se deve pensar que arbitrariedade implica livre escolha do falante. Insiste 
na ausência de laços naturais na realidade. A propósito, vale destacar que o 
adjunto adverbal na realidade introduz, talvez pó um lapso de Saussure, o 
referente, que o lingüista afasta tanto quanto pode de suas considerações 
sobre o signo lingüístico. 
O segundo princípio referente ao significante, diz respeito ao seu caráter 
linear, o que implica que “o significante, sendo de natureza auditiva, 
desenvolve-se no tempo unicamente e tem as características que toma do 
tempo: a) representa uma extensão, e b) esta extensão é mensurável numa só 
dimensão: é uma linha” (1977, p. 84). 
As conseqüências da linearidade do significante são valiosas, a despeito 
da obviedade do princípio. O conceito de distribuição, por exemplo, depende do 
da linearidade do significante. Esta característica distingue o signo lingüístico 
de outros signos, como os marítimos, em que os significantes visuais co-
ocorrem e em várias dimensões. Registre-se que a escrita, devido à sua 
disposição espacial, reflete a linearidade do significante. 
A doutrina de Ferdinand de Saussure sobre o signo lingüístico nos 
parece mais ambiciosa do que pode parecer à primeira vista. A idéia desta 
entidade persiste ao longo do Curso, sinal de sua importância. Não é o caso 
aqui de avaliarmos a amplitude desta noção. Podemos, todavia, ilustrar. 
Saussure não parecia interessado apenas em lançar as bases da 
Lingüística que se convencionou estrutural. Seu projeto ia além e tinha a noção 
de signo como carro-chefe. Visava a fundação de uma Semiologia, como se 
pode atestar no Curso. 
 
Pode-se, então, conceber uma ciência que estude a vida dos signos 
no seio da vida social; ela constituiria uma parte da Psicologia social 
e, por conseguinte, da Psicologia geral; chamá-la-emos de 
Semiologia (do grego sêmeion, “signo”). Ela nos ensinará em que 
consistem os signos, que leis os regem. Como tal ciência não existe 
ainda, não se pode dizer o que será; ela tem direito, porém, à 
existência; seu lugar está determinado de antemão. A Lingüística 
não é senão uma parte dessa ciência geral; as leis que a Semiologia 
descobrir serão aplicáveis à Lingüística e esta se achará dessarte 
vinculada a um domínio bem definido no conjunto dos fatos humanos 
(1977, p. 24). 
 
8.2 A Concepção de Hjelmslev 
 
A concepção de signo de Hjelmslev (1975) se prende à tradição 
saussuriana. A nós parece que juntou concepções e vislumbres que se 
encontram no Curso de Lingüística Geral, para daí extrair uma doutrina 
“coesa”. Antes de nos reportarmos ao lingüista dinamarquês, vale a pena citar 
esta passagem do Curso, em que fica clara a noção de signo como entidade 
relacional entre duas massas amorfas, a do pensamento e a do som, e se 
estabelece a referida noção como forma e objeto em Lingüística. 
 
O papel característico da língua, frente ao pensamento não é criar 
um meio fônico material para a expressão das idéias, mas servir de 
intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais que 
uma união conduza necessariamente a delimitações recíprocas de 
unidades. O pensamento, caótico por natureza, é forçado a precisar-
se ao se decompor. Não há, pois, nem materialização de 
pensamento, nem espiritualização de sons; trata-se, antes, do fato, 
de certo modo misterioso, de o “pensamento-som” implicar divisões 
e de a língua elaborar suas unidades constituindo-se entre duas 
massas amorfas (1977, p. 131). 
 
Como arremate da concepção acima exposta, o autor conclui 
naturalmente que “a Lingüística trabalha, pois, no terreno limítrofe, onde os 
elementos das duas ordens se combinam; esta combinação produz uma forma 
não uma substância” (1977, p. 131) 
Hjelmslev opera, como ponto de partida, com as seguintes noções: 
significante/significado; forma/substância. No que diz respeito ao primeiro par, 
muda a nomenclatura: expressão/conteúdo. Como juntar este par ao outro, 
forma/substância? Definamos antes o que Hjelmslev entende por substância e 
forma. 
A substância incide tanto sobre a expressão quanto sobre o conteúdo. 
Num caso, é o continuum sonoro, a gama ilimitada de sons, capazes de serem 
articulados, ainda inespecíficos porque não se distribuem nem se opõem numa 
dada língua. No outro caso, constitui a realidade extralingüística, tal como 
percebida ou pensada, ainda sem forma e sem organização no sistema 
gramatical de uma língua. Em outras palavras, numa perspectiva meramente 
aproximativa: ainda estamos nos dois pólos extremos do som e do 
pensamento, matérias amorfas para Ferdinand Saussure. 
Quando a língua organiza o continuum sonoro, temos a forma da 
expressão, e, quando organiza o continuum do pensamento e das percepções, 
temos a forma do conteúdo. Legitima-se assim a fonologia (para o autor, 
chamada cenemática) e a gramática (para o autor, pleremática). 
O esquema hjelmsleviano para o signo, em que conjuga, de um lado, as 
noções de expressão e conteúdo e, de outro, as de forma e substância, é o 
exposto abaixo (retirado de LOPES, s.d., p. 95). 
 
 
PLANO DO 
 
Substância do conteúdo – (SC) 
 
(= designatum) 
 
CONTEÚDO 
 
Forma do Conteúdo – (FC) 
 
(= significado) 
 
PLANO DA 
 
Forma da expressão – (FE) 
 
(= significante) 
 
EXPRESSÃO 
 
Substância da Expressão – (SE) 
 
(= som) 
 
 
Hjelmslev sofistica um pouco mais a noção saussuriana de signo com a 
noção de função, em um sentido próximo do da Matemática. “Uma 
dependência que preenche as condições de uma análise será denominada 
função” (1975, p. 39). Dependência e função são termos que se pressupõem. 
Por exemplo, existe função entre o predicado e o sujeito de uma frase, sendo o 
primeiro constante, já que aparece sempre para configurar uma oração, e o 
segundo variável, já que nem sempre ocorre como nas orações sem sujeito. 
Existe também função entre raízes e afixos, nos mesmos termos em que há 
função entre sujeito e predicado. 
Os membros de uma função são functivos. Deste modo, forma da 
expressão e forma do conteúdo são functivos da função signo. Como a função 
signo pressupõe uma relação recíproca entre forma da expressão e forma do 
conteúdo, isto é, uma pressupõe a outra e vice-versa, afirmamos que existe 
solidariedade nesta função. 
 
SIGNO 
Em alguns outros pontos, Hjelmslev assume posição própria que destoa 
da de Saussure. Para o lingüista dinamarquês, a forma tem primazia sobre a 
substância. “A forma é independente da substância, mas a recíproca não é 
verdadeira: uma forma lingüística pode não se manifestar por uma substância 
lingüística (caso do morfema zero), mas uma substância lingüística, em 
contrapartida, manifesta necessariamente uma forma lingüística.” (DUBOIS et 
al., 1978, s.v. substância). 
 
9 DAS RELAÇÕES ENTRE SIGNOS 
 
9.1 A Perspectiva de Hjelmslev 
 
Hjelmslev parte da noção de signo para mostrar os mecanismos de 
denotação, da conotação e da metalinguagem. Comecemos com a conotação. 
Esta tem como significante um signo anterior, numa definição um tanto inexata. 
Dados os objetivos didáticos deste livro, preferimos ilustrar com o quadro 
abaixo, baseadoem Eco (s.d., p. 89), em vez de definir com rigor o processo 
citado. 
 
significante 
 
significado 
significante 
 
significado 
 
Eco (s.d.) exemplifica o mecanismo denotação/conotação nestes 
termos: 
 
quando atravesso um cruzamento com semáforo sei que /vermelho/ 
significa “não-passagem” e /verde/ significa “passagem”. Mas sei 
também que a ordem de /não-passagem/ significa “obrigação”, 
enquanto a permissão /passagem/ significa “livre escolha” (posso 
também não passar). Além disso, sei que /obrigação/ significa 
“castigo pecuniário”, enquanto a /livre escolha/ significa, digamos, 
“apressar-se a decidir” (s.d., p. 89). 
 
Tudo que foi dito acima pode ser ilustrado por este quadro, extraído de 
Eco (s.d., p. 90), em que os termos significante e significado correspondem, 
respectivamente, a expressão e conteúdo. 
 
 
punição ← significante de significante de→ decisão 
 
 obrigação ← significante de significante de→ livre 
 escolha 
 
não vermelho verde passagem 
passagem 
 
S← s S→ s 
 
Resumindo: denotação e conotação são termos relativos. Na cadeia de 
produção interna de significados, podemos ter teoricamente sucessivas 
denotações e conotações. Isto depende de um ponto de partia. “O primeiro 
nível de significantes-significados constitui uma semiótica denotativa. O 
segundo nível é uma semiótica conotativa cujos significantes são signos 
(significantes + significados) de uma semiótica denotativa. O terceiro nível é 
uma semiótica conotativa de segunda potência, cujos significantes são signos 
de uma semiótica que é denotativa em relação em nível mais alto, mas 
conotativa segundo um nível mais baixo” (ECO, s.d., p. 90). 
É claro que a parelha denotação/conotação reflete no exemplo e em 
outros congêneres aquilo que já está codificado na cultura. Por isto, ganha uma 
dimensão essencialmente descritiva. 
Hjelmslev também define a noção de metalinguagem. Esta acontece 
quando, por exemplo, usamos a língua para falar da própria língua, tanto no 
discurso ordinário, quanto no discurso científico. Também acontece quando um 
determinado código remete a outro. Em outras palavras, a metalinguagem 
pode ser resumida conforme o quadro abaixo. 
 
significante Significado 
 
significante Significado 
 
 
Como vemos, Hjelmslev não se preocupa apenas com o signo enquanto 
estrutura, mas também enquanto funcionamento interno, de modo a garantir a 
circulação teoricamente ilimitada de signos. Dava mostras de compreender o 
espírito do Curso, no qual se esboçava uma nova ciência que daria conta da 
vida dos signos no seio da vida social, a Semiologia, que difere da Semiótica. A 
primeira tem inspiração lingüística, enquanto a segunda, fundada por Peirce, se 
baseia em noções filosóficas. Mas Semiologia e Semiótica dependem da noção 
de signo, embora com dimensões distintas: o signo semiológico é o signo 
apenas da cultura, do universo humano; o signo semiótico ultrapassa a cultura 
e pode ser aplicado ao domínio da natureza. Daí poder falar-se de processos 
sígnicos na Botânica e na Zoologia. 
 
9.2 A Perspectiva de Eco 
 
Eco (1980) tenta agregar a noção de signo de Hjelmslev e a noção de 
signo de um filósofo, Peirce. Vale-se das noções já referidas de denotação e 
conotação, bem como de metalinguagem, mas introduz um conceito, o de 
interpretante, inspirado em Peirce. Percebemos, na obra de Eco, já citada, bem 
como em outras, uma grandiosa tentativa de conciliar perspectivas filosóficas e 
perspectivas lingüísticas, de modo a situar-se no limite entre a Semiologia e a 
Semiótica. 
Para Eco, o interpretante é um signo de signo. Deste modo, a noção é 
relativa. Na produção interna do significado, um signo se deixa traduzir por 
outro signo, que, por sua vez, já exige outro, e assim sucessivamente. Há, 
assim, uma cadeia de interpretantes, que leva ao processo de semiose 
ilimitada, que “é a única garantia de um sistema semiótico capaz de explicar-se 
a si próprio, em seus próprios termos. A soma das várias linguagens seria um 
sistema auto-explicativo, ou um sistema que se explica por sucessivos 
sistemas de convenções a se esclarecerem entre si.” (ECO, 1980, p. 58). Não 
vãos nos deter na noção de interpretante, porque seu domínio vai além do 
lingüístico. A noção se aplica multiformemente, por exemplo, na tradução de 
uma linguagem para outra ou até mesmo numa associação emotiva (ex.: o 
lexema cão se associa à noção de fidelidade). Se pedimos a definição de 
cadeira e alguém aponta para um objeto que represente o conceito, a indicação 
sobre o objeto cadeira é interpretante das cadeiras em geral. 
Em suma, podemos resumir assim, com Rector & Yunes (1980), a 
doutrina dos interpretantes. 
 
O interpretante é um “mediador” – serve de intermediário entre o 
signo antecedente e o objeto que tem em comum com este último. 
Pode-se dizer também que todo signo é um interpretante. O signo é 
atado novamente ao seu objeto por meio de um outro signo que o 
interpreta. As definições signo, objeto, interpretante são, pois, 
circulares: para todo signo há um signo antecedente para o qual ele 
é intérprete, e um signo conseqüente que é seu interpretante. Assim, 
o termo interpretante é um termo relativo (1980, p. 38). 
 
O esquema do que acabamos de afirmar pode ser sintetizado na cadeia 
abaixo. 
 
OBJETO SIGNO INTERPRETANTE 
 (signo antecedente) (interpretante) (signo conseqüente) 
 
A teoria dos interpretantes (que não devem ser confundidos com os 
intérpretes, pois podem existir na ausência destes) leva a concepções 
arrojadas. É tentador verificar de que modo a doutrina de Hjelmslev sobre 
conotação e metalinguagem pode-se assujeitar a uma doutrina mais geral dos 
interpretantes, mas isto é objeto de um trabalho especializado. 
 
10 DAS CONDIÇÕES EXTERNAS PARA O FUNCIONAMENTO DO 
SIGNO 
 
Pelo último esquema apresentado na seção acima, não temos limites 
para que a cadeia de interpretantes deixe de funcionar incessantemente. No 
plano estritamente teórico, nenhum interpretante de um objeto é o primeiro ou o 
último. Na prática, todavia, a semiose deve chegar a um termo, respeitadas as 
condições externas de tempo e espaço, isto sem falar dos participantes 
(estamos falando aqui do signo lingüístico). 
Quando pronunciamos palavras ou frases, devemos primeiro pensar em 
termos de aceitabilidade e compreensiblidade das mesmas. Tais emissões 
verbais são utilizadas para referir-se a um estado de coisas no mundo, para 
afirmar sobre a organização de um dado código, para interrogar ou pedir. Ao 
mandar ou receber mensagens, emissor e receptor têm individualizadas suas 
pressuposições e as possíveis conseqüências lógicas das mesmas. 
Compartilham crenças em variados graus. 
O receptor não é passivo: não participa apenas de um jogo comunicativo 
como que em corrente alternada com o emissor. A mensagem produz sobre ele 
efeitos, pode até modificar em diversos graus seu sistema de crenças sobre o 
mundo. O ato de recepção não se resume a uma mera decodificação 
lingüística stricto sensu do conteúdo veiculado pela expressão. O signo, além 
disso, pressupõe a situação, o entorno, no qual se situam o falante e o ouvinte, 
de modo que o discurso está circunscrito ao espaço e ao tempo. Neste sentido, 
a despeito de sujeitar-se a condições gerais de funcionamento, cada emissão 
discursiva tem seu aqui e seu agora, de modo que se configura como um 
acontecimento, um evento irrepetível. Como bem sintetiza Eco (1980), que, 
após tratar do signo numa teoria dos códigos em geral, admite a intervenção do 
fator extra-sígnico na moldagem do significado do próprio signo. 
 
O trabalho desenvolvido para manipular o continuum expressivo, 
onde produz ocorrências concretas de dadossignificantes, traz como 
evidência imediata o fato de que existem diversos tipos de signos. 
Se a teoria dos códigos, no seu esforço de oferecer uma definição 
unificada da função sígnica, havia voluntariamente obliterado essas 
diferenças, a teoria da produção sígnica, considerando o trabalho 
efeito e material necessário para a produção dos significantes, é 
obrigada a reconhecer que existem diversos modos de produção, 
decorrentes de um processo tríplice: (i) o processo de 
MANIPULAÇÃO do continuum expressivo; (ii) o processo de 
CORREÇÃO da expressão formada por um conteúdo; (iii) o 
processo de CONEXÃO entre estes signos e eventos reais, coisas 
ou estados do mundo. Estes três processos estão estreitamente 
inter-relacionados: uma vez colocado o problema da formação do 
continuum expressivo, nasce o da sua relação com o conteúdo e 
com o mundo. Ao mesmo tempo, porém, compreende-se que 
aqueles que eram comumente chamados de “tipos de signos” não 
são o resultado claro e inequívoco dessas operações, mas da sua 
inter-relação complexa (1980, p. 136). 
 
Assim entendido, o discurso, contempladas suas condições de 
produção, é um ato, um trabalho, um trabalho produtivo. É trabalho porque 
envolve produção de sinal e também porque envolve escolha (tanto dentro do 
sistema de signos como também entre sistema de signos) dos sinais 
apropriados para se combinarem uns com os outros. 
Não basta, pois, uma definição de signo enquanto tal. Tampouco basta a 
listagem dos diversos signos. Num determinado estádio de investigação, deve-
se passar de uma teoria dos códigos para uma teoria da produção do signo. 
Logicamente, isto se aplica aos signos verbais, uma vez que estamos nos 
reportando aos signos sociais em geral. 
Não podemos aqui nos estender nos detalhes da produção de sentido, 
tendo em vista a variedade de fatores implicados. O objetivo desta secção final 
é simplesmente indicar que o signo vai além de uma mera estrutura, de um 
simples funcionamento interno, porque isto implicaria uma cadeia ininterrupta 
de interpretantes, sem nunca chegar ao interpretante final. Deste modo, o signo 
não teria uma dimensão social que se define por regras de uso. 
 
Exercícios de reflexão 
 
1. Mostre que a relação entre significante e significado, como assevera 
Saussure, é imotivada. Para tanto investigue sobre isso em manuais 
especializados de Lingüística. 
 
2. Em que medida as onomatopéias interferem na arbitrariedade do signo 
lingüístico? Em que medida elas fazem intervir o referente e a cultura na 
questão da arbitrariedade? 
 
3. Procure verificar se há relação entre mudança e arbitrariedade do signo. 
Consulte o Curso de Lingüística Geral sobre este assunto. 
 
4. neste capítulo, há duas idéias sobre o signo, que, embora compartilhem 
traços, diferem em alguns pontos. 
 
a) Quais os traços comuns? 
b) Quais os traços diferenciais? 
 
5. Além da noção de signo, existe a noção de semiose ilimitaa, que garante a 
estrutura da cadeia de signos e seu funcionamento interno. 
 
a) Em que consiste essa semiose? 
b) Para você, qual noção prevalece como central na produção do sentido: a 
de signo ou a de semiose? 
 
6. Mostre que a noção de denotação/conotação garante a cadeia de signos na 
produção de sentido. 
 
7. Relacione denotação/conotação com a noção de interpretante. 
 
8. Na teoria da produção sígnica, são essenciais: os participantes, o tempo e o 
espaço. 
 
a) De que modo os participantes particularizam seus papéis? 
b) Como o espaço e o tempo condicionam a produção de sentido? 
Responda com base em situações hipotética, criadas por você. 
 
9. Relacione produção de sentido e trabalho e mostre que a relação entre duas 
noções confere ao signo sua mais ampla dimensão social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO IV 
A SINONÍMIA LÉXICA 
 
11 INTRODUÇÃO 
 
Um dos assuntos mais controversos em teoria semântica é a sinonímia, 
em virtude de uma grande variedade de fatores que interferem no fenômeno, 
acerca dos quais falaremos oportunamente. 
Há lingüistas que negam a sinonímia, como Bloomfield (1933). A 
respeito dela, assevera: “nosso pressuposto fundamental implica que cada 
forma lingüística tem um significado constante e específico. Se as formas são 
foneticamente diferentes, supomos que os significados das mesmas também 
são diferentes” (1933, p. 145) (tradução nossa). 
Bréal (1992), num capítulo intitulado “A Lei da Repartição”, coloca em 
dúvida a existência da sinonímia. Bréal chama de repartição “a ordem 
intencional em virtude da qual as palavras que deveriam ser sinônimas, e que o 
eram efetivamente, tomaram, entretando sentidos diferentes e não podem mais 
ser empregadas uma por outra” (1992, p. 33). 
Afirma o autor, argumentando, que, para o povo, a linguagem se presta 
à troca de idéias, à expressão dos sentimentos, à discussão dos interesses e, 
por isso, ele se recusa a aceitar uma sinonímia que seria inútil e perigosa. Ou 
os termos sinônimos se diferenciam ou um deles desaparece. 
Vários fatores interferem na não-existência da sinonímia. Um deles: 
quando duas línguas, ou mesmo dois dialetos, entram em contato, opera-se um 
trabalho de classificação que consiste em atribuir valores às expressões 
sinônimas. Se um idioma é considerado superior ou inferior, seus termos 
podem aumentar de prestígio ou ficar desprestigiados. Na Bretanha, por 
exemplo, segundo Bréal, os jardins eram denominados courtils. Uma vez 
conhecida a palavra jardin, um sentimento de desprezo ligou-se à 
denominação rústica. 
A influência das ciências, da filosofia e da literatura pode também ser 
decisiva. Por exemplo: Platão, no domínio filosófico, sentiu necessidade de 
distinguir dois termos que antes eram sinônimos: archai (dos princípios) e os 
stoicheia (os elementos: fogo, terra, ar). 
Outro fator a ser considerado é a evolução conceitual na psicologia dos 
povos. Um exemplo é a raiz man, que parece ter servido no princípio para 
denominar as operações mentais em sua totalidade, o pensamento ou a 
paixão. Com o passar do tempo, estabeleceram-se distinções, em nível verbal, 
entre as duas citadas operações. 
Além dos autores que negam a sinonímia, há aqueles que, como Perini 
(1995), mostram descrença quanto a uma definição precisa do fenômeno. Para 
Perini, “a noção de sinonímia permanece intuitiva e bastante nebulosa” (1995, 
p. 249). Afirma o autor que os chamados dicionários de sinônimos apresentam 
na verdade palavras de significados muito próximos, sendo, de fato, dicionários 
de idéias afins. 
O autor tenta estabelecer um critério para a sinonímia, com base no 
conceito de implicação mútua: dadas duas palavras A e B, se A implica B e B 
implica A, haveria sinonímia. Contra-argumenta com duas palavras, costume e 
hábito, cujos significados se implicam reciprocamente. Todavia, a língua impõe 
restrições de emprego a uma e outra. Por exemplo: é lícito falar de usos e 
costumes da nossa tribo, mas não usos e hábitos da nossa tribo. 
No entanto, apesar de todas as objeções supra contra a existência da 
sinonímia, existem autores que optam por enfoque menos radical sobre o 
assunto, embora admitam que são muitos os fatores interferentes, que limitam 
a sinonímia e põem em xeque o fenômeno enquanto pura identidade de 
significados. Vejamos algumas destas posições. 
 
12 A SINONÍMIA NA PERSPECTIVA DE ULLMANN 
 
Ullmann (s.d.) reconhece que há uma grande dose de verdade nas 
afirmações contrárias à possibilidade de uma completa sinonímia. Admite, 
porém, que não é verdade absoluta. Exemplifica com a linguagem técnica. Dá 
como exemplos os termos da Fonética espirantes e fricativas, que o mesmo 
autor pode usar indiferentemente. Ilustra também com os termos da 
Lingüística: semântica e semasiologia, e da Medicina: cecitus e typhlites 
(inflamação do intestino cego). Em alemão, temos:

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