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Desta forma, Piaget considera a atividade lúdica como berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa. O brincar como instância educativa O jogo ou brincadeira facilita a apreensão da realidade e é muito mais um processo do que um produto. Por meio dele, a criança percebe como se dá a relação humana, explora, desenvolve noções sobre o número físico, estabelecendo novas cadeias de significado e amplia suas percepções do real. Por ser essencialmente dinâmico, o jogo permite comportamentos espontâneos e improvisados, uma vez que os padrões de desempenho e as normas podem ser criados pelos participantes. Há liberdade para tomada de decisões, e a direção que o jogo assume é determinada pelas crianças considerando o grupo e o contexto. Por meio da brincadeira, a criança experimenta, se organiza, constrói normas para si e para o outro, cria e recria o mundo que a cerca. Esta é a forma de linguagem que cada criança usa para compreender e interagir com o mundo, estimulando a ludicidade e contribuindo para uma série de fatores importantes para seu desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social. O desenvolvimento social e a construção do juízo moral 55 Desta forma, é preciso, no interior dos espaços escolares, valorizar a brincadeira como forma de expressão que traduza a construção dos conhecimentos pela criança, vivenciada pela turma, em grupos ou individualmente. Isso requer tempo e espaço, mas garante à criança o direito à infância. A importância do brincar na educação infantil Como vimos, pelo brincar a criança prepara-se para aprender. Brincando ela aprende novos conceitos, adquire informações e interage com o mundo. O brincar torna-se um elemento muito importante para o desenvolvimento da criança, sendo um modelo ativo e formador de sua imaginação. Segundo Moyles (2002, p. 62), o brincar é tão importante para a criança como o trabalhar para o adulto. Isso explica por que encontramos tanta dedicação da criança em relação ao brincar. Brincando ela imita gestos e atitudes do mundo adulto, descobre o mundo, vivencia leis, regras, experimenta sensações. Assim, temos que a brincadeira é uma forma de linguagem que a criança utiliza para tentar compreender o mundo; brincando ela recria os momentos de sua vida, suas experiências e suas expectativas. Enquanto brinca, a criança percebe o outro e aprende que não está sozinha no mundo. O brincar surge então como o espaço da partilha, da cooperação e também da competição, atitudes que surgem e são negociadas naturalmente durante a atividade lúdica. Ao brincar, afeto, motricidade, linguagem e outras funções cognitivas estão profundamente interligadas. A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para o processo de apropriação de signos sociais. Cria condições para uma transformação significativa da consciência infantil, por exigir das crianças formas mais complexas de relacionamento com o mundo (OLIVEIRA, 2002, p. l60). É no momento que a criança deixa de brincar sozinha e passa a perceber o prazer e a interação com o outro que desenvolve também o afeto. O afeto representa a “mola propulsora” de toda e qualquer atividade, o que significa dizer que o afeto contribui para que a criança sinta-se atraída para a aprendizagem. Segundo Sá (2001, p. 99), os aspectos afetivos, cognitivos e sociais são indissociáveis. A principal ferramenta utilizada pelo homem na demonstração de afeto é a linguagem. Também é pela linguagem que a criança se vê inserida no meio em que vive. Podemos perceber que no momento que a criança vê a possibilidade de usar a linguagem como modelo de interação na sociedade em que convive, ela inicia a utilização da linguagem como instrumento de internalização dos papéis sociais, tanto que nas brincadeiras de faz-de-conta interpreta as falas das pessoas de seu convívio. Deste modo, as brincadeiras permitem a exploração do potencial criativo de numa seqüência de ações libertas e naturais em que a imaginação se apresenta como atração principal, o que significa dizer que por meio do brinquedo, a criança reinventa o mundo e libera as suas fantasias. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – Recnei – (BRASIL, l998), para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhe são oferecidas. Para o Recnei (BRASIL, l998): Teorias da Aprendizagem 56 [...] o brincar apresenta-se por meio de várias categorias de experiências que são diferenciadas pelo uso do material ou dos recursos predominantes implicados. Essas categorias de experiências podem ser agrupadas em três modalidades básicas e propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. Deste modo, percebe-se que o brincar é considerado como uma atividade específica e fundamental na educação infantil. E é este pressuposto que nos permite estabelecer a relação da brincadeira infantil com a função pedagógica. Observe crianças em atividades de cooperação e procure identificar em qual momento do processo de formação do juízo moral a criança se encontra (anomia, heteronomia ou autonomia). Para tanto, você pode sugerir brincadeiras e jogos que permitam identificar também de que forma a criança se socializa. Esta atividade pode ser realizada com crianças da sua própria família. Divirta-se! Para a compreensão da noção de regras e da formação do juízo moral das crianças, indicamos a leitura de dois livros de Piaget sobre o tema: O juízo moral na criança (São Paulo: Summus, 1994) e O julgamento moral na criança (São Paulo: Mestre Jou, 1975). A teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento Um primata pode aprender bastante através do treinamento, usando suas habilidades motoras e mentais; no entanto, não se pode fazê-lo mais inteligente, isto é, não se pode ensiná-lo a resolver, de forma independente, problemas mais avançados. Por isso, os animais são incapazes de aprendizado no sentido humano do termo; o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida daqueles que as cercam. Vygotsky História pessoal de Lev Vygotsky L ev Semenovich Vygotsky nasceu na cidade de Orsha, próxima a Minsk, capital de Bielarus, país da hoje extinta União Soviética, em 17 de novembro de 1896. Conviveu no seio de uma família judaica de posses, o que lhe permitiu uma excelente formação cultural e intelectual. Em 1924, casou-se com Roza Smekhova com quem teve duas filhas. Porém, desde 1920 convivia com uma tuberculose que o levaria à morte prematura em 1934, antes de completar 38 anos. Apesar disso, sua produção escrita nesses poucos anos de vida foi intensa. Vygotsky criou um laboratório de Psicologia na Escola de Formação de Professores de Gomel e participou da criação do Instituto de Deficiências, em Moscou. Paralelamente à sua vida profissional propriamente dita, Vygotsky mantinha intensa vida intelectual, fazendo parte de vários grupos de estudo, fundando uma editora e uma revista literária, coordenando o setor de teatro do Departamento de Educação de Gomel e editando a seção de teatro do jornal local. O enorme volume de sua produção intelectual marcou, de certa forma, o estilo de seus textos escritos, que são definidos por alguns estudiosos como sendo textos densos, cheios de idéias, numa mistura de reflexões filosóficas, imagens literárias, proposições gerais e dados de pesquisa que exemplificaram essas proposições gerais. Devido a sua enfermidade, muitos dos textos de Vygotsky não foram originalmente produzidos na forma escrita; foram criados oralmente e ditados à outra pessoa que os copiava, ou anotados taquigraficamente durante suas aulas ou conferências (OLIVEIRA, 1993, p.